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Reforma 21

ARTIGOS 17 DE FEVEREIRO DE 2017

Uma teologia do vinho

por Joe Thorn

O vinho precisa contratar uma nova agência de relações públicas para ajudar com sua imagem
junto às igrejas evangélicas, visto que ele é frequentemente ignorado por muitos cristãos
americanos hoje. Não tenho tempo ou interesse em analisar por que o vinho caiu em maus
lençóis entre muitas igrejas que creem na Bíblia, mas estou interessado em ajudar a pintar um
quadro mais biblicamente fiel dele na esperança de conseguir encorajar meus irmãos e irmãs a
entendê-lo como um dom, uma imagem usada na Escritura para ensinar a verdade sobre Deus
e como um elemento da nossa fé e prática cristãs.

O que é o vinho?

O vinho é o suco fermentado de uvas prensadas; uma bebida alcóolica que pode levar à
embriaguez, caso consumida em excesso. A maioria de nós sabe o que o vinho é, embora
alguns professores tenham tentado explicar que o vinho na Escritura às vezes é vinho e,
outras, suco de uva. A verdade pura é que os melhores estudiosos bíblicos argumentam, de
forma consistente e clara, que não apenas o “vinho” na Bíblia é alcoólico, como também
afirmam que o suco não-fermentado de uva seria praticamente uma impossibilidade. D. F.
Watson declara isso com toda franqueza em The Dictionary of Jesus and the Gospels, em seu
artigo Wine [Vinho], quando ele diz que “todo vinho mencionado na Bíblia é suco de uva
fermentado com teor alcoólico. Nenhuma bebida não-fermentada era chamada de vinho”.

Quem bebia vinho na Bíblia?

Quase todo mundo. Beber vinho era normativo para os judeus (Gn 14.18; Jz 19.19; 1 Sm
16.20), embora os sacerdotes levitas no serviço do templo (Lv 10.8–9), os nazireus (Nm 6.3) e
os recabitas (Jr 35.1–3) se abstivessem dele. No Novo Testamento, João Batista também se
absteve.

A despeito do que alguns alegam hoje, o próprio Jesus bebeu vinho (Lc 22.18; Mt 11.18–19;
26.27–29), e foi acusado de beberrão por seus acusadores.

Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, que
come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!
Mas a sabedoria é justificada por suas obras (Mt 11.18–19).

Como o vinho é descrito na Escritura?


O vinho era a bebida comum dos judeus, usufruído com refeições e compartilhado com amigos
(Gn 14.18; Jo 2.3). Era também uma parte essencial da adoração do povo de Deus em ambos
os Testamentos.

A “oferta de bebida” consistia de vinho (Êx 29.40; LV 23.13), e o povo de Deus trazia vinho por
ocasião dos sacrifícios de oferta (1 Sm 1.24). Os judeus, inclusive, guardavam vinho no templo
(1 Cr 9.29). Em Isaías 62.9, o povo é abençoado pelo Senhor de tal maneira que é descrito
bebendo vinho no santuário diante da presença de Deus. Em Deuteronômio 14.22–27, lemos o
seguinte:

Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se recolher
do campo. E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu
nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das
tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias.
Quando o caminho te for comprido demais, que os não possas levar, por estar longe de ti o
lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR, teu Deus,
te tiver abençoado, então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que o
SENHOR, teu Deus, escolher. Esse dinheiro, dá-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por
vacas, ou ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que te pedir a tua alma; come-
o ali perante o SENHOR, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa; porém não desampararás o
levita que está dentro da tua cidade, pois não tem parte nem herança contigo.

O vinho foi usado na celebração da páscoa e é usado na celebração da Ceia do Senhor no Novo
Testamento (Lc 22.7–23; 1 Co 11.17–32). Para mais informações, leia o meu post Wine or
Welch’s?

Ele também é usado com fins medicinais, para ajudar o fraco e o doente (2 Sm 16.2; Pv 31.6; 1
Tm 5.23).

Não é forçado dizer que Deus gosta de vinho. Ele estava associado com a vida, as bênçãos
divinas e o reino de Deus. Em Juízes 9.13, lemos que o vinho é aquilo que “agrada a Deus e aos
homens”. O Salmo 104.15 retrata o vinho de modo semelhante, dizendo que ele “alegra o
coração do homem” (Ec 10.19; Is 55.1–2; Zc 10.7). (Ver Walter A. Elwell and Barry J. Beitzel,
Baker Encyclopedia of the Bible). Até mesmo o cumprimento futuro do reino de Deus é
caracterizado pela abundância de vinho (Is 25.6–8; Amós 9.13).

Naturalmente, nem toda referência ao vinho na Bíblia é positiva. A bebedice é condenada, e o


povo de Deus é advertido contra os perigos da embriaguez (Is 28.1–7; Ef 5.18; Is 5.11; Tt 2.3).
Em seu livro What Would Jesus Drink [O que Jesus beberia[1]], Brad Whittington divide as
referências bíblicas ao álcool em três tipos. Ao todo, existem 247 referências ao álcool na
Escritura. 40 são negativas (advertências sobre a bebedice, perigos potenciais do álcool etc.),
145 são positivas (sinal da benção divina, uso no culto etc.) e 62 são neutras (pessoas acusadas
falsamente de estarem bêbadas, votos de abstinência etc.). A Bíblia é tudo, menos silenciosa
sobre a questão do vinho. Ele, como todo álcool, deve ser tratado com cuidado, visto como
uma bênção e recebido com ações de graças entre aqueles que o bebem. Não deve ser
consumido excessivamente.

O vinho na Bíblia era misturado com água?

De acordo com F. S. Fitzsimmonds, em seu artigo “Wine and Strong Drink” [Vinho e bebida
forte] no New Bible Dictionary, a resposta é “não”. Pelo menos, não no Antigo Testamento. No
Novo Testamento, o vinho provavelmente era misturado com duas partes de água para uma
de vinho. Alguns que se opõem ao uso do vinho como uma bebida argumentam que o vinho na
Escritura era tão diluído com água que era difícil ficar bêbado. Parece que o vinho no Novo
Testamento, caso misturado, teria o mesmo teor alcoólico que as cervejas de hoje. (Ver,
também, a Baker Encyclopedia of the Bible).

Qual deve ser a atitude cristã para com o vinho?

É importante que os cristãos entendam o quadro completo. O vinho é visto como uma bênção
divina e como um meio potencial pelo qual as pessoas trazem destruição sobre si mesmas.

Esses dois aspectos do vinho — seu uso e seu abuso, seus benefícios e sua maldição, sua
aceitação à vista de Deus e sua aversão — estão entrelaçados na estrutura do Antigo
Testamento para que possa alegrar o coração do homem (Sl 104.15) ou levar sua mente ao
engano (Is 28.7); ele pode ser associado com o festim (Ec 10.19) ou com a ira (Is 5.11); pode
ser usado para encobrir a vergonha de Noé (Gn 9.21) ou, nas mãos de Melquisedeque, para
honrar Abraão (Gn 14.18).

– F. S. Fitzsimmonds, “Wine and Strong Drink”, no New Bible Dictionary.

Os cristãos devem ser cautelosos com o vinho e a bebida forte, exercendo moderação e
domínio próprio. E em relação ao outro, é importante que levemos em conta a liberdade sem
sermos julgados nem por beber nem por se abster. Pode-se beber para a glória de Deus,
enquanto o outro pode se abster para a glória de Deus.

O que é o vinho?

O vinho é um dom de Deus. Nele vemos o amor de Deus em proporcionar vida e alegria para
todas as pessoas. Mas também enxergamos um sentido mais profundo. No vinho vemos o
amor de Deus no sacrifício de Jesus Cristo, que remove nossa culpa, satisfaz a ira de Deus e
salva a todos os que creem.

Traduzido e gentilmente cedido por Leonardo Bruno Galdino

Notas:

[1] Não confundir com o livro homônimo de Joel McDurmon, publicado em português pela
Editora Monergismo. [Nota do Tradutor.]

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