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º ANO
INTRODUÇÃO
O mundo mantém-se unido, mesmo que precariamente, pela visão, liderança e esforço
dos líderes que estão comprometidos com um mundo de justiça e igualdade e com o
estado de direito.
O maior destes líderes é o secretário-geral das Nações Unidas, cuja serena decisão tem
nos últimos anos ajudado a impedir a queda do mundo no abismo.
Muitas das ideias específicas sobre como acabar com a pobreza global surgiram do
trabalho do Projecto Milénio da ONU, que tenho a honra de dirigir e a partir do qual
baseei, em grande parte, este livro.
O assombroso poder que a nossa geração tem nas mãos para acabar com o sofrimento
em massa dos extremamente pobres, e com isso tornar as nossas vidas mais seguras.
O essencial não é prever o que irá acontecer, mas ajudar a dar forma ao futuro. Ainda
que os manuais de Introdução à Economia preguem o individualismo e os mercados
descentralizados, a nossa segurança e prosperidade dependem, pelo menos na mesma
medida, de decisões colectivas para combater as doenças, promover uma boa ciência e
uma educação alargada, fornecer as infra-estruturas fundamentais e actuar em uníssono
para ajudar os mais pobres entre pobres.
Teremos o discernimento para usar a nossa riqueza de forma sábia, para curar um
planeta dividido, para acabar com o sofrimento daqueles ainda presos às malhas da
pobreza e forjar uma fronteira comum de humanidade, segurança e objectivos
partilhados em todas as culturas e regiões?
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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO
Mais de um milhão de crianças africanas, talvez até três milhões, sucumbem anualmente
de malária. Esta catástrofe horrível ocorre apesar de a doença ser em parte passível de
prevenção – através da utilização de mosquiteiros de cama e outras medidas de controlo
ambiental que não chegam às empobrecidas aldeias do Malavi e da maior parte do
continente – e completamente tratável. Não há simplesmente desculpa para o facto de a
doença ceifar milhões de vidas em cada ano.
As oficinas do suor são o primeiro degrau na escada que permite sair da pobreza
extrema e mostram o falhanço da previsão do Departamento de Estado de Kissinger,
que dizia que o Bangladesh estava condenado à pobreza extrema.
Para elas, as fábricas oferecem não apenas oportunidades para terem liberdade pessoal,
mas também o primeiro degrau na elevação das competências e do rendimento delas
próprias e, dentro de alguns anos, dos seus filhos. Praticamente todos os países pobres
que se desenvolveram com sucesso passaram por estas primeiras fases de
industrialização. Estas mulheres do Bangladesh vivem a mesma experiência por que
passaram muitas gerações de imigrantes no sector têxtil de Nova Iorque e em centenas
de outros lugares em que a migração para trabalhar em fábricas de vestuário foi um
passo para um futuro de afluência urbana nas gerações seguintes.
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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO
consciência e o poder das mulheres numa sociedade que há muito tem realizado uma
discriminação ilimitada contra as suas possibilidades de vida.
As áreas agrícolas que estas mulheres deixaram estão também a mudar rapidamente, em
parte devido ao dinheiro e às ideias que estas jovens reenviam para as suas comunidades
rurais, e em parte por causa do cada vez maior número de viagens e migrações
temporárias entre áreas rurais e urbanas, à medida que as famílias diversificam as suas
bases económicas entre agricultura rural, a indústria e os serviços urbanos.
Uma nova empresa indiana de tecnologia da informação (TI) que opera na capital do
estado de Tamil Nadu, no Sul do país. Chennai é um dos centros da revolução indiana
em TI, que começa a alimentar um crescimento económicos sem precedentes neste
vasto país de 1000 milhões de pessoas. A revolução das TI está a criar empregos
desconhecidos no Malavi e em grande parte impensáveis no Bangladesh, mas que se
estão a tornar a norma para as mulheres jovens com educação na Índia.
Esta empresa realizou um inovador acordo com um hospital de Chicago, através da qual
os médicos ditam os registos dos seus pacientes e os transmitem por satélite para a
Índia, sob a forma de ficheiros de voz, no final de cada dia de trabalho em Chicago.
Devido à diferença horária de dez horas e meia, o final de cada dia de trabalho em
Chicago é o começo de outro em Chennai. Quando os ficheiros de voz são recebidos,
dezenas de mulheres jovens que fizeram um curso especial em transcrição de dados
médicos sentam-se em frente a ecrãs de computadores com auscultadores nos ouvidos e
rapidamente digitam os registos médicos de doentes que se encontram quase a 16 000
quilómetros de distância. Tive a oportunidade de ouvir, durante um breve período, a
transcrição. Aqueles trabalhadores conhecem a gíria médica muito melhor do que eu
devido à sua formação intensiva e à sua experiência.
Ganham entre 250 e 500 dólares por mês, dependendo do nível de experiência, entre um
décimo e um terço do que um transcritor de dados médicos pode ganhar nos Estados
Unidos. O seu rendimento é mais do dobro do que ganha um trabalhador industrial não
especializado na Índia, e possivelmente oito vezes o que ganha um trabalhador agrícola.
O empreendedor que fundou esta empresa tem parentes próximos nos Estados Unidos
que realizaram os contactos comerciais naquele país.
Hoje em dia, o negócio próspera, a empresa está a passar da transcrição de dados para o
registo de dados financeiros, e em breve entrará em consultoria financeira e
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No entanto, as novas tendências são tão poderosas, não apenas nas TI mas também em
vestuário, produtos farmacêuticos, componentes automóveis e outros sectores, que o
crescimento económico global se situa agora firmemente nos seis por cento ao ano, ou
mais acima.
É difícil que o progresso não seja percebido como um perigo. Uma das ironias do
recente sucesso da Índia e da China é o medo que tomou conta dos Estados Unidos, de
que o êxito naqueles países seja alcançado à sua custa.
GRAUS DE POBREZA
Partindo das definições, é útil distinguir entre três graus de pobreza: Pobreza Extrema
(ou absoluta); Pobreza Moderada e Pobreza relativa.
Os mais pobres dos pobres vivem principalmente em áreas rurais, ainda que com uma
população crescente nas cidades. Enfrentam desafios praticamente desconhecidos no
mundo rico de hoje – malária, secas graves, falta de estradas e de veículos motorizados,
grandes distâncias aos mercados regionais e mundiais, falta de electricidade e
combustíveis modernos para cozinhar – desafios que são numa primeira análise
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O desafio da nossa geração é ajudar os mais pobres entre pobres a escapar da miséria da
pobreza extrema para que possam começar a sua ascensão na escala do
desenvolvimento económico. O fim da pobreza, neste sentido, não é apenas o fim do
sofrimento extremo, mas também o começo do progresso económico e a esperança e a
segurança que acompanham o desenvolvimento económico.
Quando falo do “fim da pobreza”, portanto, estou a falar de dois objectivo intimamente
relacionados. O primeiro é acabar a situação do sexto da humanidade que vive na
pobreza extrema e luta diariamente pela sobrevivência. Todas as pessoas no planeta
Terra devem e podem usufruir de níveis básicos de nutrição, saúde, água e saneamento,
alojamento e outras necessidades mínimas de sobrevivência, bem como bem-estar e
participação na sociedade.
O segundo é assegurar que todos os pobres do mundo, incluindo aqueles que vivem em
pobreza moderada, tenham hipótese de escalar a escala do desenvolvimento. Como
sociedade global, devemos assegurar que regras internacionais do jogo económico não
coloquem armadilhas nos degraus inferiores da escada, advertida ou inadvertidamente,
sob a forma de assistências ao desenvolvimento inadequada, barreiras comerciais
proteccionistas, práticas financeiras globais desestabilizadoras, regras mal concebidas
de propriedade intelectual e obstáculos semelhantes, impedindo o mundo de baixo
rendimento de subir os degraus do desenvolvimento.
O fim da pobreza extrema está ao alcance da mão – no tempo da nossa geração - mas
apenas se agarrarmos a oportunidade histórica que temos á frente de nós. Já existe um
ambicioso conjunto de compromissos que se encontra a meio caminho desse fim: trata-
se dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), os oito objectivos com que
os 191 Estados-membros da ONU concordaram por unanimidade, em 2002, ao
assinarem a Declaração do Milénio das Nações Unidas.
Estes objectivos são importantes instrumentos de redução pobreza para metade pelo ano
2015, em relação a 1990. São ambiciosos mas exequíveis, mesmo se dezenas de países
não estão no caminho certo. Representam uma etapa intermédia fundamental no
caminho para acabar com a pobreza extrema até 2025. E os países ricos têm
repetidamente prometido ajudar os países pobres a atingi-los por meio de uma
assistência ao desenvolvimento cada vez maior e de melhores regras de jogo globais.
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As falhas dos governos acontecem quando os governos não são capazes de desempenhar
as funções mais básicas que é suposto desempenharem, podemos falar de “colapsos do
Estado”, que se caracterizam por guerras, revoluções, golpes de Estado, anarquia e
situações semelhantes. Os colapsos do Estado e os colapsos económicos podem
perseguir-se uns aos outros numa estonteante e terrível espiral de instabilidade.
Os países ricos não têm de investir nos países pobres o suficiente para os tornar ricos,
necessita é de investir o suficiente para que esses países coloquem um pé na escada.
Depois disso, o fantástico dinamismo do crescimento económico auto-sustentado pode
tomar conta desses países.
Nem todos os problemas que o mundo empobrecido enfrenta têm origem interna, e nem
todas as soluções estarão numa boa governação, no aperto de cinto e no aprofundamento
das reformas do mercado. As verdadeiras soluções irão requerer um maior alívio de
dívida, uma maior assistência ao desenvolvimento, mais comércio aberto com os países
ricos e outras medidas semelhantes.
Qualquer oficial do FMI ou do Banco Mundial, assim como qualquer académico que
esteja envolvido na prática do desenvolvimento, tem a responsabilidade de dizer a
verdade, não apenas às pessoas que elaboram as políticas dentro do país empobrecido,
mas também às que definem as políticas nos países ricos e poderosos.
Muitas nações africanas têm vindo a ouvir um sermão do Banco Mundial nas últimas
duas décadas sobre a necessidade de privatizar os seus serviços de saúde ou de cobras
taxas de utilização pelos serviços de saúde e educação. No entanto, a maior parte dos
accionistas do Banco Mundial, países de rendimento elevado, têm sistemas de saúde que
garantem o acesso à educação pública.
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O mundo exterior tem respostas convenientes sobre a prolongada crise africana. Tudo se
reduz agora e sempre, a corrupção e má governação. A África é um continente corrupto,
é um continente no caos.
Durante os anos 80 e 90, o FMI e o Banco Mundial foram virtualmente os gestores das
políticas económicas do continente africano afogando em dívidas, recomendando
regimes de aperto de cinto orçamental, conhecidos tecnicamente como programas de
ajustamento estrutural. Estes programas tinham pouco mérito científico e produziram
resultados ainda piores. No início do séc. XXI, a África estava mais pobre do que nos
anos 60, aquando da chegada do FMI e do Banco Mundial ao continente, com as
doenças, o crescimento da população e a degradação ambiental a saírem fora de
controlo.
Parte da resposta, na verdade, reside nas escolhas de governação feitas pelos regimes
africanos. No entanto, quanto mais observava, mais dava conta que, ainda que a
governação predatória possa prejudicar profundamente o desenvolvimento económico, a
boa governação e as reformas de mercado não são suficientes para garantir o
crescimento, se o país estiver preso na armadilha da pobreza.
O que se poderia então fazer por estes lugares em que a luta contra a pobreza e a doença
era mais fundamental do que as escolhas acerca das privatizações, do défice orçamental
ou da política de comércio? Para compreender – e ultrapassar – aquela crise, seria
necessário desvendar as interligações entre a pobreza extrema, doença desenfreadas,
condições climáticas instáveis e difíceis, custos de transporte elevados, fome crónica e
produção de alimentos inadequada. A minha primeira incursão nesta complexa
combinação foi por via das doenças – principalmente a SIDA e a malária -, que comecei
a estudar em pormenor em 1997. Mais recentemente, e especialmente no contexto do
Projecto do Milénio da ONU, centrei também a minha atenção em assuntos
relacionados com as infra-estruturas e o aumento da produção alimentar.
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O MISTÉRIO DA MALÁRIA
A malária não se encontrava nos radares da política de ajuda externa. O FMI e o Banco
Mundial estavam aparentemente demasiado ocupados a discutir cortes nos orçamentos e
privatizações de fábricas de açúcar, não tendo tempo para lidar com a malária.
Até hoje não existe uma explicação sólida sobre a razão pela qual a prevalência da
SIDA em África é pelo menos de uma ordem de magnitude superior a qualquer outro
lugar do mundo.
A verdade é que ninguém tem certeza da prevalência desta doença em África, a única é
que o HIV/SIDA é uma tragédia absoluta e um desastre em termos de desenvolvimento
por toda a África, muito especialmente nas regiões mais fortemente atingidas do Oriente
e do Sul.
ALGUMAS LIÇÕES
Tenho vindo a compreender que os problemas da África são especialmente difíceis, mas
que podem ser solucionados por meio de tecnologias práticas e provadas. As doenças
podem ser controladas, a produtividade agrícola rapidamente aumentada e infra-
estruturas básicas, como estradas pavimentadas e electricidade, podem ser estendidas às
aldeias. Um cabaz de investimentos bem adaptado às necessidades e condições locais
poderá permitir às economias africanas escaparem da armadilha da pobreza.
Estas intervenções têm de ser realizadas de forma sistemática, diligente e conjunta, uma
vez que se reforçam mutuamente. A atenção focalizada dos países africanos e da
comunidade internacional poderá permitir que a África tenha em breve a sua Revolução
Verde, e que atinja a fase de arranque económico em que o crescimento é conduzido
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Apesar das nossas dificuldades nos últimos anos, a Declaração do Milénio ainda inspira
a esperança de que o mundo, complicado e dividido como está, possa juntar-se para
assumir grandes desafios.
O mundo rico tinha assumido o famoso compromisso de dedicar 0,7%, ajuda financeira
directa aos países pobres e, no entanto, a percentagem de ajuda financeira no PIB
dos países ricos declinou na verdade de 0,3% para 0,2% durante os anos 90.
Como esse optimismo foi rapidamente despedaçado! Houve pequenas coisas que
afundaram o optimismo – o trauma de uma eleição nacional empatada nos EUA, o
fim da explosão do mercado accionistas e um dilúvio de escândalos empresariais ao
mais alto nível – embora tudo isto pareça insignificante à sombra do 11 de
Setembro. Muita coisa mudou naquele dia, em parte devido às formas insensatas
através das quais o governo dos EUA reagiu. Mais do que nunca, necessitamos de
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O 11 de Setembro era o início da Terceira Guerra Mundial, uma ideia que encontrou
ressonância alargada entre a horrorizada população americana. De facto, o 11 de
Setembro marcou o início da autoproclamada guerra da administração Bush contra
o terrorismo.
O terrorismo é um flagelo que pode ser combatido, mas difícil de ser inteiramente
eliminado, assim como o mundo não poderá eliminar o flagelo das doenças
infecciosas. Também nós necessitamos de tratar as fraquezas subjacentes às
sociedades nas quais o terrorismo se esconde – pobreza extrema; grandes carências
em termos de emprego, rendimento e dignidade; e a instabilidade económica e
política que resulta de condições humanas cada vez mais degradadas.
A maior parte das sociedades com bons portos, contactos próximos com o mundo rico,
climas favoráveis, recursos energéticos adequados e ausência de doenças
epidémicas tem escapado à pobreza.
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Um ou mais telemóveis partilhados pela aldeia poderiam ser usados nas emergências,
para obter informação de mercado e, em geral, para ligar Sauri ao mundo exterior.
A ironia é que os custos destes serviços para os 5000 residentes em Sauri seriam muito
baixos. Ao fim de algum tempo estes investimentos pagar-se-iam a si mesmos, não
apenas no número de vidas salvas, nas crianças educadas, nas comunidades preservadas,
mas também em retornos comerciais directos.
O Projecto Milénio da ONU está a trabalhar com o governo do Quénia para assegurar
que os esforços de redução da pobreza que este está a empreender são
suficientemente corajosos para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio. A estratégia irá exigir uma assistência ao desenvolvimento muito maior e
um cancelamento mais ambicioso da dívida por parte dos países ricos, de forma a
permitir ao país investir nos cinco grandes objectivos – agricultura, saúde e
educação, electricidade, transportes e comunicações e água potável – não apenas
nas aldeias Sauri, mas por todo o Quénia rural – não apenas nas aldeias Sauri, mas
por todo o Quénia rural empobrecido.
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O PROBLEMA DA ESCALA
Os pontos de partida dessa cadeia são os próprios pobres. Eles estão dispostos a agir,
tanto individual como colectivamente. Já se encontram a trabalhar duramente,
preparados para lutar de forma a permanecer à tona e seguir em frente. Têm uma
ideia muito realista sobre a sua situação e sobre como a podem melhorar, não uma
aceitação mística do seu destino. Estão também preparados para se governarem a si
próprios de forma responsável, garantindo que toda a ajuda que receberem será
usada para benefício do grupo em vez de ir para o bolso de indivíduos poderosos.
A questão pode ser respondida mostrando como é possível funcionarem lado a lado
redes de responsabilização mútua e redes de financiamento.
Em resumo, precisamos de uma estratégia para aumentar a escala dos investimentos que
permita acabar com a pobreza, incluindo um sistema de administração que dê
capacidade aos pobres ao mesmo tempo que os responsabiliza. É hora, em cada um
dos países de baixo rendimento, de desenhar uma estratégia de redução da pobreza
que possa ultrapassar este desafio.
Ao nível mais básico, a chave para acabar com a pobreza extrema consiste em dar a
possibilidade aos mais pobres entre os pobres de colocarem um pé na escada do
desenvolvimento suspensa acima deles. Para isso carecem do montante de capital
mínimo para chegar ao primeiro degrau e, portanto, necessitam de um impulso para o
atingir. Aos extremamente pobres faltam-lhes seis tipos de capital:
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i.) Uma pequena parte vai directamente para as famílias, principalmente para
emergência humanitárias; Como, por exemplo, o envio de alimentos num momento de
seca;
ii.) Um montante muito maior segue logo para o orçamento do Estado, para financiar
investimentos públicos;
iii.) Uma terceira parte é também directamente aplicada em actividade económicas
privadas (por exemplo, na agricultura) por meio de programas de microfinanciamento e
outros esquemas nos quais financia de imediato pequenos negócios privados e
melhorias agrícolas.
O sector privado (financiando em grande parte por meio de poupanças privadas) deverá
ser principalmente responsável por investimentos empresariais, seja na agricultura,
indústria ou serviços, e em capital de conhecimento (novos produtos e tecnologias
baseados nos avanços científicos), assim como pelas contribuições das famílias para a
saúde, a educação e a nutrição, complementando os investimentos públicos em capital
humano.
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Os direitos a este tipo de bens não são apenas um compromisso informal dos governos
do mundo, estão também garantidos na lei internacional, sobretudo na Declaração
Universal dos Direitos do Homem:
A falta crónica de financiamento por parte dos doadores retira aos países pobres o zelo
em combater a pobreza.
Os discursos habituais do FMI e do Banco Mundial é que nem todos os recursos de que
necessita da parte dos doadores, não poderia absorver mais recursos, a corrupção e a má
gestão iriam minar um maior esforço de assistências. Esta é a ladainha habitual de
desculpa usada para justificar o status quo, mas, em privado, virtualmente toda a
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O primeiro passo deveria ser saber o que o país realmente necessita em termos de
assistência externa e depois disso, o FMI e o Banco Mundial deveriam ir recolher o
montante necessário junto dos doadores!
Para mostrar quão linear seria a adopção desta abordagem, deixem-me apresentar outro
exemplo recente, o plano de redução da pobreza do Gana, que é um dos países mais
bem governados e geridos de África. É uma democracia multipartidária estável com
uma literacia relativamente elevada (92% do jovens entre os 15 e os 24 anos) e níveis
modestos de corrupção, comparados com os países de rendimento semelhante. Sofre de
considerável pobreza extrema.
Tal como outros países africanos, tem sido incapaz de diversificar a sua base de
exportações para além de um leque restrito de matérias-primas, principalmente cacau.
Faltam-lhe os recursos domésticos necessários para financiar investimentos em sectores
críticos como em saúde, educação, estradas, electricidade e outras infra-estruturas.
Trata-se de um país que caiu numa crise financeira e de dívida aguda no início dos anos
80, e desde então o governo tem vindo a ser fortemente pressionado para pagar as suas
contas mensais e não para expandir os níveis de investimento público.
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Na sopa de letras da ajuda dos doadores, o novo programa de doação ao Gana chama-se
política de Apoio Multidoador ao Orçamento (AMO). No âmbito deste novo esquema,
os doadores concordaram em dar a seu dinheiro directamente ao orçamento do Gana,
para que o governo possa levar por diante os investimentos públicos que identificou
como as maiores prioridades na redução da pobreza. Assim sendo, um plano de
desenvolvimento viável e a canalização financeira para o suportar estão agora criados.
O que o Gana agora necessita é de um fluxo de dinheiro apropriado.
O PLANO DE DOAÇÃO
Como parte de qualquer estratégia de redução da pobreza baseada nos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio, exige-se um plano de doação onde se defina de forma
transparente o modo como os compromissos dos doadores serão cumpridos. Um plano
de doação deveria centrar-se em quatro aspectos do fluxo de ajudas:
Magnitude: a ajuda deve ser suficiente para permitir ao país receptor financiar
o seu plano de investimento.
Calendarização: a ajuda deve ter um componente de longo prazo, suficiente
para permitir ao país receptor realizar um programa de aumento de escala
durante 10 anos.
Previsibilidade: a ajuda deve ser suficientemente previsível para que as
paragens e os recomeços nos fluxos de ajuda não prejudiquem o programa de
investimento ou a estabilidade macroeconómica do país receptor.
Harmonização: a ajuda deve apoiar a estratégia de redução da pobreza
baseada nos OMD e, especificamente, o plano de investimento, em vez dos
projectos “de estimação” das agências de auxílio.
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INFRA-ESTRUTURA REGIONAL
O investimento multipaís tornar-se-ão mais comuns não apenas no que respeita a
estradas e vias-férreas, mas também nos serviços portuários, nas telecomunicações, na
regulação dos mercados financeiros, na conservação da biodiversidade (de florestas e
bacias hidrográficas), no controlo da poluição no ar e na água, no desenvolvimento
energético (incluindo energia hidráulica, geotermal e transporte de electricidade) e
noutras áreas.
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Os países pobres têm necessidades críticas que não podem ser resolvidas por
investimentos nacionais ou regionais ou por políticas domésticas de reforma. Existem
preocupações que devem ser tratadas a nível global e quatro delas são muito
importantes:
A crise da dívida
A política global de comércio
A ciência para o desenvolvimento
A parceria para o ambiente
A CRISE DA DÍVIDA
As dívidas devem simplesmente ser canceladas, mas os credores têm insistido durante
demasiado tempo em que os países mais pobres do mundo continuam a pagar o
respectivo serviço, o que frequentemente implica montantes maiores do que a despesa
nacional em saúde e educação. Na verdade, os países ricos deveriam ter realizado
doações aos países pobres em vez de empréstimos, para que estes não tivessem sequer
chegado a endividar-se.
interagirem, colocando mais regiões sob sérias pressões no que à água dis
respeito.
Gestão Sustentável de Ecossistemas: por todo o mundo, ecossistemas frágeis
(recifes de coral, pântanos, bancos de pesca, florestas tropicais, para nomear
apenas alguns) estão a sucumbir a forças antropogénicas, frequentemente com
consequências terríveis. Em muitos casos, as comunidades pobres não têm
capacidade técnica para acompanhar ou para responder de forma eficaz e
sustentável a estes problemas.
Desta forma, os países ricos têm mantido maioria de voto, a qual tem levado os Estados
Unidos, em especial, a confiar mais fortemente no FMI e no Banco Mundial,
instituições que controla mais facilmente, em vez das agências da ONU, sobre as
quais tem muito menos influência.
PRÓXIMOS PASSOS
A pobreza extrema é uma armadilha da qual nos podemos libertar por meio de
investimentos direccionados, caso estes sejam testados e provados e caso o programa a
aplicar possa ser implementado como parte de uma aliança global entre os países ricos e
os países pobres, com enfoque numa estratégia de redução de pobreza baseada nos
Objectivos de desenvolvimento do Milénio.
O objectivo é acabar com a pobreza extrema, não acabar com toda a pobreza e muito
menos igualizar os rendimentos no mundo ou acabar com a diferença entre os ricos e os
pobres. Isto pode acabar por acontecer, mas para isso estes terão de se tornar abastados
pelos seus próprios esforços. Os ricos podem ajudar, sobretudo, concedendo aos
extremamente pobres assistência para eles se libertarem da armadilha que actualmente
os prende.
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É triste dizê-lo, mas os seus níveis de educação são tão baixos que mesmo programas
que funcionam noutras áreas falhariam em África, que é corrupta e está enredada em
autoritarismo. Carece de valores modernos e das instituições de uma economia de
mercado necessárias para ter êxito. De facto, a moral em África está tão degradada que
não surpreende que a SIDA tenha saído fora de controlo.
A CULPADA É A CORRUPÇÃO
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A pobreza é produzida pelo homem porque é o resultado das opções políticas que
empobrecem alguns e enriquecem outros. Nessa medida, e dada a sua origem, também
eu acredito que pode ser erradicada. Actualmente, quase todas as descrições da pobreza
africana começam com a mesma afirmação: a má governação é o principal obstáculo.
Os países africanos bem governados são: Benin, Burkina Faso, Gana, Madagáscar,
Malawi, Mali, Mauritânia e Senegal, entanto que os mal governados (cujos índices de
governação são baixos tendo igualmente em conta o seu nível de rendimento) incluem:
Angola, Burundi, República Democrática do Congo, Sudão, Zimbabué, Libéria e
Somália.
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A campanha para cancelamento da dívida é uma iniciativa mais recente, que nasceu da
percepção de que os países mais pobres estavam a sofrer um peso esmagador com os
pagamentos da dívida a credores internacionais e bilaterais.
Á Campanha do Jubileu 2000 deparou-se resistência firme por parte dos países doadores
e das instituições de Bretton Woods, que não partilhavam do mesmo sentido de urgência
em relação ao cancelamento da dívida. O que a visão convencional não conseguiu
compreender foi o apoio alargado ao cancelamento da dívida entre um vasto conjunto
de cidadãos dos Estados Unidos. O Congresso dos Estados Unidos aprovou um
generoso pacote de alívio de dívida, ainda que não tenha sido tudo o que era necessário.
Em 1795, Kant defendeu que a paz perpétua entre as nações podia ser alcançada se as
monarquias fossem substituídas por repúblicas auto governadas, associadas através do
comércio internacional.
Condorcet, como Kant, acreditava que a razão poderia conduzir a uma redução da
guerra: “Os povos mais iluminados, reclamando o direito a gastar o seu sangue e a sua
riqueza, irão gradualmente aprender a ver a guerra como um flagelo mortífero e o maior
dos crimes”.
As oportunidades que temos são de cortar a respiração: sermos capazes de fazer avançar
a visão do iluminismo de Jefferson, Smith, Kant e Condorcet: O trabalho da nossa
geração pode ser definido, em termos utilizados pelo iluminismo como:
Ajudar a estimular sistemas políticos que promovam o bem-estar humano, com
base no consentimento dos governados.
Ajudar a estimular sistemas de crescimento económico que espalhem os
benefícios da ciência, da tecnologia e da divisão do trabalho a todas as áreas do
mundo.
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Esta agenda é grande e corajosa, como tem sido durante dois séculos, mas muitos dos
seus mais doces frutos estão ao nosso alcance. A revolução democrática que o
iluminismo pôs em marcha cobre actualmente mais de metade da população mundial; a
visão de Kant sobre uma federação de Estados independente está corporizada nas
Nações Unidas, com os seus 191 Estados-membros; a imagem de Condorcet de uma
revolução científica auto-sustentada tem demonstrado estar acertada, e ciência pode
agora ser utilizada para tratar alguns dos maiores perigos permanentes da humanidade; e
o conceito de Adam Smith relativo à difusão da riqueza económica é o mais imediato
dos triunfos que temos à frente: a eliminação da própria pobreza extrema num período
de apenas duas décadas.
Alguns intelectuais argumentam actualmente que “o progresso é uma ilusão – uma visão
da vida e da história humanas que responde às necessidades do coração, não da razão”.
Estas afirmações estão erradas, perigosamente erradas, na minha opinião, e são
empiricamente falsas porque o progresso, em muitas formas cruciais – no aspecto
científico, no aspecto tecnológico, na satisfação das necessidades humanas -, tem sido
real e sustentado ao longo de dois séculos, não obstante os incontornáveis desastres e os
desafios ainda por superar.
O facto de terem ocorrido guerras globais e de existir pobreza extrema não invalidade o
longo, persistente e continuado aumento dos níveis de vida globais e a redução da
população mundial que vive na pobreza extrema.
O MOVIMENTO ANTIGLOBALIZAÇÃO
Não existe nada no raciocínio económico que justifique deixar as próprias empresas
determinarem essas regras por meio de lóbis, campanhas de financiamento e dominação
das políticas governamentais.
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Chegou o momento de acabar coma pobreza, ainda que tenhamos grandes esforços pela
frente. Diagnostiquei as razões para a permanência da pobreza extrema lado a lado com
a grande riqueza, falei dos passos específicos que poderiam atacar e ultrapassar este tipo
de pobreza e mostrei que os custos de agir são pequenos, na verdade uma pequena
fracção dos custos da inacção. Propus também uma calendarização até 2025, incluindo
os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio como a etapa intermédia, e revelei como
instituições internacionais fundamentais podem contribuir para o processo. Ainda assim,
temos de realizar estas tarefas num contexto de inércia global, inclinações para a guerra
e o preconceito, e um cepticismo compreensível por todo o mundo relativamente à
possibilidade de que desta vez vai ser diferente do passado. Sim, desta vez pode ser
diferente, e aqui estão nove passos para atingir o objectivo.
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Assim, deverá haver um esforço especial da ciência mundial, liderado pelos centros de
pesquisa dos governos, do meio académico e da indústria, comprometendo-se
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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO
Vamos fazer com que o futuro diga que a nossa geração produziu poderosas correntes de
esperança e que trabalhámos em conjunto para curar o mundo.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
SACHS, Jeffery, “O Fim da Pobreza” 1.ª Edição, Casa das Letras/Editorial Notícias,
Cruz Quebrada, 2006.
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