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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.

º ANO

INTRODUÇÃO

O mundo mantém-se unido, mesmo que precariamente, pela visão, liderança e esforço
dos líderes que estão comprometidos com um mundo de justiça e igualdade e com o
estado de direito.

O maior destes líderes é o secretário-geral das Nações Unidas, cuja serena decisão tem
nos últimos anos ajudado a impedir a queda do mundo no abismo.

Muitas das ideias específicas sobre como acabar com a pobreza global surgiram do
trabalho do Projecto Milénio da ONU, que tenho a honra de dirigir e a partir do qual
baseei, em grande parte, este livro.

Os líderes da Comissão do Projecto Milénio, e os cientistas e peritos em política


associados, são os meus professores e guias através, de campos interligados como a
agronomia, a gestão da água, o clima, os sistemas de energia, o controlo de doenças e
outras áreas centrais para a redução da pobreza e o desenvolvimento de longo prazo.

O assombroso poder que a nossa geração tem nas mãos para acabar com o sofrimento
em massa dos extremamente pobres, e com isso tornar as nossas vidas mais seguras.

Todas as áreas do mundo têm a possibilidade de se associar a uma época de


prosperidade sem precedentes, construída com base na ciência, na tecnologia e em
mercados globais. Mas também verá que determinadas áreas do mundo estão presas a
uma espiral descendente de empobrecimento, fome e doença.

O essencial não é prever o que irá acontecer, mas ajudar a dar forma ao futuro. Ainda
que os manuais de Introdução à Economia preguem o individualismo e os mercados
descentralizados, a nossa segurança e prosperidade dependem, pelo menos na mesma
medida, de decisões colectivas para combater as doenças, promover uma boa ciência e
uma educação alargada, fornecer as infra-estruturas fundamentais e actuar em uníssono
para ajudar os mais pobres entre pobres.

Quando as pré-condições das infra-estruturas básicas (estradas, electricidade e portos) e


o capital humano (saúde e educação) estão garantidos, os mercados são poderosos
motores do desenvolvimento.

Sem estas pré-condições, os mercados podem cruelmente passar ao lado de grandes


áreas do mundo, deixando-as pobres e e em permanente sofrimento. A acção colectiva,
através de uma efectiva provisão de saúde, educação, infra-estruturas por parte dos
governos, bem como assistência externa, quando necessária, está na base do êxito
económico.

Teremos o discernimento para usar a nossa riqueza de forma sábia, para curar um
planeta dividido, para acabar com o sofrimento daqueles ainda presos às malhas da
pobreza e forjar uma fronteira comum de humanidade, segurança e objectivos
partilhados em todas as culturas e regiões?

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UM RETRATO DE FAMÍLIA GLOBAL

MALAVI: A TEMPESTADE PERFEITA

Mais de um milhão de crianças africanas, talvez até três milhões, sucumbem anualmente
de malária. Esta catástrofe horrível ocorre apesar de a doença ser em parte passível de
prevenção – através da utilização de mosquiteiros de cama e outras medidas de controlo
ambiental que não chegam às empobrecidas aldeias do Malavi e da maior parte do
continente – e completamente tratável. Não há simplesmente desculpa para o facto de a
doença ceifar milhões de vidas em cada ano.

Carol Bellamy, da UNICEF, descreveu de forma acertada a situação no Malavi como a


tempestade perfeita, uma tempestade que traz simultaneamente desastres climáticos,
empobrecido, a pandemia da SIDA e o peso duradouro da malária, da chistossomíase e
de outras doenças. Face a este horrível torvelinho, a comunidade internacional tem até
agora mostrado uma razoável dose de preocupação e até alguma retórica bem-
intencionada, mas pouca da tão preciosa acção.

BANGLADESH: NA ESCALA DO DESENVOLVIMENTO

O Bangladesh mostra que, mesmo em condições que parecem as mais desesperadas,


existem sempre caminhos de futuro quando se aplicam as estratégias certas e se realiza a
combinação correcta de investimentos.

As oficinas do suor são o primeiro degrau na escada que permite sair da pobreza
extrema e mostram o falhanço da previsão do Departamento de Estado de Kissinger,
que dizia que o Bangladesh estava condenado à pobreza extrema.

O mais surpreendente e inesperado era a repetida afirmação de que aquele trabalho


constituía a maior oportunidade que estas mulheres alguma vez poderiam ter imaginado,
e o que aquele emprego tinha mudado as suas vidas para melhor.

As mulheres do Bangladesh contavam como eram capazes de poupar algum excedente


dos seus magros salários, gerir o seu próprio dinheiro, ter os seus próprios quartos,
escolher quando e com quem namorar e casar, só ter crianças quando se sentem
preparadas, usar as suas poupanças para melhorar as suas condições de vida e,
especialmente, para regressar à escola de forma a ampliar as suas habilitações literárias
e as suas competências profissionais.

Para elas, as fábricas oferecem não apenas oportunidades para terem liberdade pessoal,
mas também o primeiro degrau na elevação das competências e do rendimento delas
próprias e, dentro de alguns anos, dos seus filhos. Praticamente todos os países pobres
que se desenvolveram com sucesso passaram por estas primeiras fases de
industrialização. Estas mulheres do Bangladesh vivem a mesma experiência por que
passaram muitas gerações de imigrantes no sector têxtil de Nova Iorque e em centenas
de outros lugares em que a migração para trabalhar em fábricas de vestuário foi um
passo para um futuro de afluência urbana nas gerações seguintes.

Não só o sector do vestuário está a alimentar o crescimento económico de mais de cinco


por cento ao ano do Bangladesh nos anos mais recentes, como também desperta a

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consciência e o poder das mulheres numa sociedade que há muito tem realizado uma
discriminação ilimitada contra as suas possibilidades de vida.

As áreas agrícolas que estas mulheres deixaram estão também a mudar rapidamente, em
parte devido ao dinheiro e às ideias que estas jovens reenviam para as suas comunidades
rurais, e em parte por causa do cada vez maior número de viagens e migrações
temporárias entre áreas rurais e urbanas, à medida que as famílias diversificam as suas
bases económicas entre agricultura rural, a indústria e os serviços urbanos.

O Bangladesh foi capaz de colocar o seu pé no primeiro degrau da escada do


desenvolvimento, conseguindo alcançar crescimento económico e melhorias na saúde e
na educação em parte através dos seus próprios heróicos esforços, em parte por meio do
engenho de ONG como BRAC e o Banco Grameen, e em parte através de investimentos
que têm sido realizados, com frequência numa dimensão significativa, por vários
governos doadores que acertadamente olharam para o Bangladesh não apenas como um
inválido sem esperança, mas como um país merecedor de atenção, cuidado e assistência
ao desenvolvimento.

ÍNDIA: CENTRO DE UMA REVOLUÇÃO DE EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS

Uma nova empresa indiana de tecnologia da informação (TI) que opera na capital do
estado de Tamil Nadu, no Sul do país. Chennai é um dos centros da revolução indiana
em TI, que começa a alimentar um crescimento económicos sem precedentes neste
vasto país de 1000 milhões de pessoas. A revolução das TI está a criar empregos
desconhecidos no Malavi e em grande parte impensáveis no Bangladesh, mas que se
estão a tornar a norma para as mulheres jovens com educação na Índia.

Esta empresa realizou um inovador acordo com um hospital de Chicago, através da qual
os médicos ditam os registos dos seus pacientes e os transmitem por satélite para a
Índia, sob a forma de ficheiros de voz, no final de cada dia de trabalho em Chicago.

Devido à diferença horária de dez horas e meia, o final de cada dia de trabalho em
Chicago é o começo de outro em Chennai. Quando os ficheiros de voz são recebidos,
dezenas de mulheres jovens que fizeram um curso especial em transcrição de dados
médicos sentam-se em frente a ecrãs de computadores com auscultadores nos ouvidos e
rapidamente digitam os registos médicos de doentes que se encontram quase a 16 000
quilómetros de distância. Tive a oportunidade de ouvir, durante um breve período, a
transcrição. Aqueles trabalhadores conhecem a gíria médica muito melhor do que eu
devido à sua formação intensiva e à sua experiência.

Ganham entre 250 e 500 dólares por mês, dependendo do nível de experiência, entre um
décimo e um terço do que um transcritor de dados médicos pode ganhar nos Estados
Unidos. O seu rendimento é mais do dobro do que ganha um trabalhador industrial não
especializado na Índia, e possivelmente oito vezes o que ganha um trabalhador agrícola.

O empreendedor que fundou esta empresa tem parentes próximos nos Estados Unidos
que realizaram os contactos comerciais naquele país.

Hoje em dia, o negócio próspera, a empresa está a passar da transcrição de dados para o
registo de dados financeiros, e em breve entrará em consultoria financeira e

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aconselhamento para empresas americanas, assim como operações de processamento


interno da empresa, ou BPO na nova gíria da economia global. Os seus empregadores
trabalham em edifícios modernos com acesso à internet de banda larga, ligações por
satélite e videoconferência para os directores operacionais, que têm de estar em contacto
face a face com as suas contrapartes nos Estados Unidos. Têm acesso a instalações
sanitárias. São mulheres cujas mães foram geralmente as primeiras da família a saberem
ler e escrever e a ganhar uma posição na economia urbana (possivelmente como
costureiras nas oficinas de suor) e cujas avós foram na maior parte dos casos
trabalhadoras rurais na cruel economia da aldeia, duas gerações atrás.

No entanto, as novas tendências são tão poderosas, não apenas nas TI mas também em
vestuário, produtos farmacêuticos, componentes automóveis e outros sectores, que o
crescimento económico global se situa agora firmemente nos seis por cento ao ano, ou
mais acima.

É difícil que o progresso não seja percebido como um perigo. Uma das ironias do
recente sucesso da Índia e da China é o medo que tomou conta dos Estados Unidos, de
que o êxito naqueles países seja alcançado à sua custa.

GRAUS DE POBREZA

Partindo das definições, é útil distinguir entre três graus de pobreza: Pobreza Extrema
(ou absoluta); Pobreza Moderada e Pobreza relativa.

A Pobreza Extrema: significa que as famílias não conseguem satisfazer as


necessidades básicas de sobrevivência. Têm fome crónica, não dispõem de acesso a
cuidados de saúde, carecem de água potável e saneamento, não podem pagar educação a
alguns dos seus filhos ou mesmo a todos eles e possivelmente falta-lhes um abrigo
rudimentar – um telhado que proteja da chuva, uma chaminé para fazer sair o fumo do
fogão – e artigos básicos como vestuário e calçado. A pobreza extrema ocorre apenas
em países em desenvolvimento. Julga-se que quase metade da população africana vive
em pobreza extrema, e essa proporção subiu ligeiramente ao longo do período de 2001.

A Pobreza Moderada: refere-se geralmente a condições de vida em que as


necessidades básicas estão satisfeitas, mas por uma pequena margem. O Leste asiático,
a Ásia do Sul e a África Subsariana continuam a dominar, com 87 por cento dos 1600
milhões de moderadamente podres do mundo.

A Pobreza Relativa: é geralmente definida como um nível de rendimento familiar


abaixo de uma determinada proporção do rendimento nacional médio. Os relativamente
pobres, em países de elevado rendimento, carecem de acesso a bens culturais,
entretenimento, recreio, cuidados de saúde de qualidade, educação e outros pré-
requisitos à mobilidade social ascendente.

Os mais pobres dos pobres vivem principalmente em áreas rurais, ainda que com uma
população crescente nas cidades. Enfrentam desafios praticamente desconhecidos no
mundo rico de hoje – malária, secas graves, falta de estradas e de veículos motorizados,
grandes distâncias aos mercados regionais e mundiais, falta de electricidade e
combustíveis modernos para cozinhar – desafios que são numa primeira análise

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dolorosos de enfrentar, mas num segundo momento encorajadores, precisamente porque


também se prestam a soluções práticas.

O DESAFIO DA NOSSA GERAÇÃO

O desafio da nossa geração é ajudar os mais pobres entre pobres a escapar da miséria da
pobreza extrema para que possam começar a sua ascensão na escala do
desenvolvimento económico. O fim da pobreza, neste sentido, não é apenas o fim do
sofrimento extremo, mas também o começo do progresso económico e a esperança e a
segurança que acompanham o desenvolvimento económico.

Quando falo do “fim da pobreza”, portanto, estou a falar de dois objectivo intimamente
relacionados. O primeiro é acabar a situação do sexto da humanidade que vive na
pobreza extrema e luta diariamente pela sobrevivência. Todas as pessoas no planeta
Terra devem e podem usufruir de níveis básicos de nutrição, saúde, água e saneamento,
alojamento e outras necessidades mínimas de sobrevivência, bem como bem-estar e
participação na sociedade.

O segundo é assegurar que todos os pobres do mundo, incluindo aqueles que vivem em
pobreza moderada, tenham hipótese de escalar a escala do desenvolvimento. Como
sociedade global, devemos assegurar que regras internacionais do jogo económico não
coloquem armadilhas nos degraus inferiores da escada, advertida ou inadvertidamente,
sob a forma de assistências ao desenvolvimento inadequada, barreiras comerciais
proteccionistas, práticas financeiras globais desestabilizadoras, regras mal concebidas
de propriedade intelectual e obstáculos semelhantes, impedindo o mundo de baixo
rendimento de subir os degraus do desenvolvimento.

O fim da pobreza extrema está ao alcance da mão – no tempo da nossa geração - mas
apenas se agarrarmos a oportunidade histórica que temos á frente de nós. Já existe um
ambicioso conjunto de compromissos que se encontra a meio caminho desse fim: trata-
se dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), os oito objectivos com que
os 191 Estados-membros da ONU concordaram por unanimidade, em 2002, ao
assinarem a Declaração do Milénio das Nações Unidas.

Estes objectivos são importantes instrumentos de redução pobreza para metade pelo ano
2015, em relação a 1990. São ambiciosos mas exequíveis, mesmo se dezenas de países
não estão no caminho certo. Representam uma etapa intermédia fundamental no
caminho para acabar com a pobreza extrema até 2025. E os países ricos têm
repetidamente prometido ajudar os países pobres a atingi-los por meio de uma
assistência ao desenvolvimento cada vez maior e de melhores regras de jogo globais.

Estas são, assim os Objectivos económicos do nosso tempo:

I) Cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio em 2015.


II) Acabar coma pobreza extrema em 2025.
III) Assegurar bastante antes de 2025 que todos os países pobres conseguem
realizar um progresso seguro na escala do desenvolvimento económico.
IV) Conseguir tudo isto com uma ajuda financeira modesta dos países ricos,
superiores à que actualmente concedida, mas dentro dos limites daquilo que
há muito têm vindo a prometer.

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No entanto, a verdadeira história do crescimento económico moderno tem sido a


capacidade de algumas regiões atingirem aumentos de longo prazo sem precedentes,
conduzindo a níveis de produção total nunca antes vistos no mundo, enquanto outras
estagnaram, pelo menos em termos comparativos. Tem sido a tecnologia a principal
força por detrás dos aumentos de longo prazo no rendimento do mundo rico, não a
exploração dos pobres.

O desenvolvimento económico não é um jogo de soma zero em que os ganhos de uns


são inevitavelmente reflectidos nas perdas de outros. Este é um jogo em que toda a
gente pode ganhar.

As falhas dos governos acontecem quando os governos não são capazes de desempenhar
as funções mais básicas que é suposto desempenharem, podemos falar de “colapsos do
Estado”, que se caracterizam por guerras, revoluções, golpes de Estado, anarquia e
situações semelhantes. Os colapsos do Estado e os colapsos económicos podem
perseguir-se uns aos outros numa estonteante e terrível espiral de instabilidade.

ULTRAPASSAR O DESAFIO DA POBREZA

Os países ricos não têm de investir nos países pobres o suficiente para os tornar ricos,
necessita é de investir o suficiente para que esses países coloquem um pé na escada.
Depois disso, o fantástico dinamismo do crescimento económico auto-sustentado pode
tomar conta desses países.

ONDE A PRÁTICA DO DESENVOLVIMENTO CORREU MAL

Nem todos os problemas que o mundo empobrecido enfrenta têm origem interna, e nem
todas as soluções estarão numa boa governação, no aperto de cinto e no aprofundamento
das reformas do mercado. As verdadeiras soluções irão requerer um maior alívio de
dívida, uma maior assistência ao desenvolvimento, mais comércio aberto com os países
ricos e outras medidas semelhantes.

Qualquer oficial do FMI ou do Banco Mundial, assim como qualquer académico que
esteja envolvido na prática do desenvolvimento, tem a responsabilidade de dizer a
verdade, não apenas às pessoas que elaboram as políticas dentro do país empobrecido,
mas também às que definem as políticas nos países ricos e poderosos.

Os programas do FMI e do Banco Mundial e a era do ajustamento estrutural foram


concebidos para tratar as quatro doenças que se julgava estarem subjacentes em todos os
males económicos: má governação, excessiva intervenção governamental nos mercados,
gastos governamentais excessivos e demasiada propriedade estatal. O aperto de cinto, a
privatização, a liberalização e a boa governação tornaram-se a ordem do dia.

Muitas nações africanas têm vindo a ouvir um sermão do Banco Mundial nas últimas
duas décadas sobre a necessidade de privatizar os seus serviços de saúde ou de cobras
taxas de utilização pelos serviços de saúde e educação. No entanto, a maior parte dos
accionistas do Banco Mundial, países de rendimento elevado, têm sistemas de saúde que
garantem o acesso à educação pública.

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OS MORIBUNDOS SEM VOZ: ÁFRICA E AS DOENÇAS

Uma década de trabalho em África ensinou-me consideravelmente sobre a pobreza, o


poder e os limites da globalização e a indomável força do espírito humano face à
adversidade.

O mundo exterior tem respostas convenientes sobre a prolongada crise africana. Tudo se
reduz agora e sempre, a corrupção e má governação. A África é um continente corrupto,
é um continente no caos.

Durante os anos 80 e 90, o FMI e o Banco Mundial foram virtualmente os gestores das
políticas económicas do continente africano afogando em dívidas, recomendando
regimes de aperto de cinto orçamental, conhecidos tecnicamente como programas de
ajustamento estrutural. Estes programas tinham pouco mérito científico e produziram
resultados ainda piores. No início do séc. XXI, a África estava mais pobre do que nos
anos 60, aquando da chegada do FMI e do Banco Mundial ao continente, com as
doenças, o crescimento da população e a degradação ambiental a saírem fora de
controlo.

Houve mão da CIA no sangrento derrube do Presidente do Gana, Kwame Nkrumah, em


1966. De facto, quase todas as crises políticas africanas – Sudão, Somália e uma mão-
cheia de outros países – têm uma longa história de intromissão ocidental entre as suas
inúmeras causas.

A afirmação de que a corrupção é a fonte fundamental dos problemas do continente não


resiste à experiência da prática ou a uma avaliação séria.

Parte da resposta, na verdade, reside nas escolhas de governação feitas pelos regimes
africanos. No entanto, quanto mais observava, mais dava conta que, ainda que a
governação predatória possa prejudicar profundamente o desenvolvimento económico, a
boa governação e as reformas de mercado não são suficientes para garantir o
crescimento, se o país estiver preso na armadilha da pobreza.

O que se poderia então fazer por estes lugares em que a luta contra a pobreza e a doença
era mais fundamental do que as escolhas acerca das privatizações, do défice orçamental
ou da política de comércio? Para compreender – e ultrapassar – aquela crise, seria
necessário desvendar as interligações entre a pobreza extrema, doença desenfreadas,
condições climáticas instáveis e difíceis, custos de transporte elevados, fome crónica e
produção de alimentos inadequada. A minha primeira incursão nesta complexa
combinação foi por via das doenças – principalmente a SIDA e a malária -, que comecei
a estudar em pormenor em 1997. Mais recentemente, e especialmente no contexto do
Projecto do Milénio da ONU, centrei também a minha atenção em assuntos
relacionados com as infra-estruturas e o aumento da produção alimentar.

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O MISTÉRIO DA MALÁRIA

Sem dúvida, a pobreza exacerba a malária ao empobrecer as famílias e os governos, que


ficam sem meios financeiros para combater a doença. Ainda hoje a malária pode deter
um bom projecto de investimento, seja uma nova mina, um empreendimento agrícola ou
um investimento turístico. Se as crianças das regiões com malária conseguem
sobreviver, tornam-se adultos sem a educação necessária para ter êxito.
A África é realmente infeliz no que se refere à malária: altas temperaturas, abundância
de locais de reprodução e mosquitos que preferem os humanos ao gado.

No entanto, a malária prepara a armadilha perfeita: empobrece um país, tornando


demasiado cara a prevenção e o tratamento da doença. Assim, esta permanece e a
pobreza aprofunda-se, num círculo verdadeiramente vicioso.

A malária não se encontrava nos radares da política de ajuda externa. O FMI e o Banco
Mundial estavam aparentemente demasiado ocupados a discutir cortes nos orçamentos e
privatizações de fábricas de açúcar, não tendo tempo para lidar com a malária.

Até hoje não existe uma explicação sólida sobre a razão pela qual a prevalência da
SIDA em África é pelo menos de uma ordem de magnitude superior a qualquer outro
lugar do mundo.

A resposta mais simples é a convicção generalizada de que em África há mais


actividade sexual fora de relações estáveis de longo prazo, ou porque os preservativos
são menos frequentemente usados em relações sexuais ocasionais.

A verdade é que ninguém tem certeza da prevalência desta doença em África, a única é
que o HIV/SIDA é uma tragédia absoluta e um desastre em termos de desenvolvimento
por toda a África, muito especialmente nas regiões mais fortemente atingidas do Oriente
e do Sul.

ALGUMAS LIÇÕES

Muitos governos africanos estão desesperadamente a tentar fazer o melhor, mas


enfrentam os enormes obstáculos da pobreza, das doenças, da crise ecológica, da
negligência geopolítica ou obstáculos ainda piores.

Tenho vindo a compreender que os problemas da África são especialmente difíceis, mas
que podem ser solucionados por meio de tecnologias práticas e provadas. As doenças
podem ser controladas, a produtividade agrícola rapidamente aumentada e infra-
estruturas básicas, como estradas pavimentadas e electricidade, podem ser estendidas às
aldeias. Um cabaz de investimentos bem adaptado às necessidades e condições locais
poderá permitir às economias africanas escaparem da armadilha da pobreza.

Estas intervenções têm de ser realizadas de forma sistemática, diligente e conjunta, uma
vez que se reforçam mutuamente. A atenção focalizada dos países africanos e da
comunidade internacional poderá permitir que a África tenha em breve a sua Revolução
Verde, e que atinja a fase de arranque económico em que o crescimento é conduzido

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pela agricultura, poupando assim à próxima geração de africanos as continuadas


misérias da fome originada pela seca.

O MILÉNIO, O 11 DE SETEMBRO E AS NAÇÕES UNIDAS

O documento tornou-se a base de uma importante tomada de posição global, a


Declaração do Milénio, adoptada pelos líderes ali reunidos. É uma leitura
proveitosa e importante para todos nós.

Apesar das nossas dificuldades nos últimos anos, a Declaração do Milénio ainda inspira
a esperança de que o mundo, complicado e dividido como está, possa juntar-se para
assumir grandes desafios.

O documento, assim como o relatório de Secretário-geral, trata de assuntos como guerra


e paz, saúde e doença, riqueza e pobreza, comprometendo o mundo num conjunto
de tarefas para melhorar a condição humana. Especificamente, apresenta uma série
de objectivos quantificados e calendarizados para reduzir a pobreza extrema, as
doenças e a privação. Estes objectivos foram posteriormente extraídos da
Declaração do Milénio para se tornarem os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio, ou ODM.

Afinal, um dos famosos compromissos do século anterior foi a promessa da comunidade


internacional, em 1978, de “Saúde para Todos no Ano 2000”. No entanto, o mundo
chegou ao ano 2000 com a pandemia da SIDA, o ressurgimento da tuberculose e da
malária e 1000 milhões de pobres sem acesso fiável, muitas vezes sem qualquer
acesso, a serviço de saúde essenciais.

Na Conferência Mundial para as Crianças, em 1990 e, o mundo prometeu acesso


universal à educação primária no ano 2000 e, no entanto, 130 milhões ou mais
crianças em idade de escolaridade primária não estavam nesse ano na escola.

O mundo rico tinha assumido o famoso compromisso de dedicar 0,7%, ajuda financeira
directa aos países pobres e, no entanto, a percentagem de ajuda financeira no PIB
dos países ricos declinou na verdade de 0,3% para 0,2% durante os anos 90.

Ainda assim, quando os líderes do mundo desenvolvidos adoptaram a Declaração do


Milénio e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio juntamente com a
Declaração, havia uma sensação palpável de que desta vez – sim, desta vez – talvez
pudessem ser cumpridos. O mundo sentia que, com a força do crescimento
económico explosivo da época, o enorme novo poder das tecnologias modernas e a
natureza especial da nossa interligação global, desta vez conseguiríamos ir para a
frente.

Como esse optimismo foi rapidamente despedaçado! Houve pequenas coisas que
afundaram o optimismo – o trauma de uma eleição nacional empatada nos EUA, o
fim da explosão do mercado accionistas e um dilúvio de escândalos empresariais ao
mais alto nível – embora tudo isto pareça insignificante à sombra do 11 de
Setembro. Muita coisa mudou naquele dia, em parte devido às formas insensatas
através das quais o governo dos EUA reagiu. Mais do que nunca, necessitamos de

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regressar aos propósitos e à esperança dos Objectivos de Desenvolvimento do


Milénio.

O 11 de Setembro era o início da Terceira Guerra Mundial, uma ideia que encontrou
ressonância alargada entre a horrorizada população americana. De facto, o 11 de
Setembro marcou o início da autoproclamada guerra da administração Bush contra
o terrorismo.

O terrorismo é um flagelo que pode ser combatido, mas difícil de ser inteiramente
eliminado, assim como o mundo não poderá eliminar o flagelo das doenças
infecciosas. Também nós necessitamos de tratar as fraquezas subjacentes às
sociedades nas quais o terrorismo se esconde – pobreza extrema; grandes carências
em termos de emprego, rendimento e dignidade; e a instabilidade económica e
política que resulta de condições humanas cada vez mais degradadas.

Mais importante ainda, a Cimeira do Rio havia adoptado a Convenção-Quadro das


Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, na qual os governos do mundo se
tinham comprometido a dar passos para travar a emissão dos gases com efeito de
estufa que contribuem para o aquecimento global de longo prazo e outras mudanças
climáticas ameaçadoras. A Convenção-Quadro foi a base de negociação do
Protocolo de Quito para limitar as emissões de gases com efeito de estufa.

A deliberação analítica – o processo de encontrar uma abordagem cooperativa para


problemas complexos por meio da construção de consensos em torno de uma visão
e uma compreensão partilhada dos desafios – está no centro do Projecto Milénio da
ONU. A Comissão de Macroeconomia e Saúde tinha juntado à mesa líderes e
peritos com perspectivas muito diferentes e, através de um processo de debate,
discussão, recolha de factos e pesquisa chegara a um consenso.

Um dos extraordinários e profundamente encorajadores aspectos associados às tarefas


de direcção deste instituto tem sido o entusiasmo com que os cientistas se têm
reunido em torno da causa do combate à pobreza extrema É inspirador o seu
entusiasmo na utilização de conhecimento científico de ponta para resolver alguns
dos problemas mais perniciosos que as pessoas mais vulneráveis do planeta
enfrentam.

SOLUÇÕES NO TERRENO PARA ACABAR COM A POBREZA

A maior parte das sociedades com bons portos, contactos próximos com o mundo rico,
climas favoráveis, recursos energéticos adequados e ausência de doenças
epidémicas tem escapado à pobreza.

Compreender a situação de comunidades como as de Sauri, e trabalhar com os


habitantes locais para identificar formas de ajudar essas comunidades, por todo o
mundo, a atingirem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, que consistem
na redução da pobreza extrema, da fome, das doenças e da falta de acesso a água
potável e a saneamento de meio.

A comunidade não possui dinheiro para fertilizantes, medicamentos, propinas escolares


ou outras necessidades básicas que têm de ser adquiridas fora da aldeia. O governo

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queniano já fez ao mundo um apelo de ajuda de emergência para combater a fome


iminente em diversas províncias, incluindo Nyanza.

A comunidade internacional de desenvolvimento deveria falar das cinco grandes


intervenções que podiam fazer a diferença entre a fome, as doenças e a morte, de
um lado, e saúde e o desenvolvimento económico, do outro. Essas cinco grandes
intervenções, identificadas tanto pelos aldeões como pelo Projecto Milénio da
ONU, são:

I. FACTORES PRODUTIVOS AGRÍCOLAS


Com fertilizantes, terras de pousio melhoradas (com as tecnologias já provadas do
CAM), adubação verde, ou seja folhagem enterrada no solo para melhorar a fertilidade e
cobertos vegetais, ou seja utilizados para reduzir a erosão e produzir adubos verdes,
recolha de água, irrigação em pequena escala e sementes melhoradas, os agricultores de
Sauri poderiam triplicar a produção de alimentos por hectares e acabar rapidamente com
a fome crónica. Além disso, novas instalações de armazenagem permitiriam à aldeia
vender os cereais ao longo do ano, em vez de fazer de uma só vez, conseguindo assim
preços mais favoráveis. Os cereais poderiam ser protegidos em bidões produzidos
localmente e usando folhas da espécie de tephosia, utilizada para pousio, que tem
propriedades insecticidas. Estas melhorias seriam especialmente vantajosas para as
mulheres, que fazem a parte de leão da agricultura africana e do trabalho doméstico.

II. INVESTIMENTOS EM SAÚDE BÁSICA


Um posto médico de aldeia com um médico e uma enfermeira para 5000 residentes
forneceria gratuitamente: mosquiteiros antimalária; medicamentos anti-malária eficazes;
tratamentos para as infecções oportunistas que surgem na presença da SIDA (incluindo
o Bactrium, altamente eficaz e de baixo custo); terapia anti-retrovial para as fases
avançadas da doença; e um conjunto de outros serviços de saúde essenciais, incluindo
parteiras competentes e serviços de planeamento familiar.

III. INVESTIMENTOS EM EDUCAÇÃO


O fornecimento de refeições para todas as crianças na escola primária poderia melhorar
a saúde dos alunos, a qualidade da educação e a frequências às aulas. A expansão da
formação profissional para os estudantes poderia transmitir-lhes competências da
agricultura moderna (por exemplo, utilização de terras de pousio melhoradas e
fertilizantes), literacia informática e manutenção básica de infra-estruturas (ligações
eléctricas, utilização e manutenção de um gerador diesel, recolha de água, construção e
manutenção de furos de captação de água, carpintaria e conhecimentos semelhantes).
Com apenas 1000 famílias em Sauri, um programa de aulas mensais para toda a gente
poderia dar formação aos adultos sobre higiene, SIDA, controlo de malária, utilização
de computadores e telemóveis, e uma miríade de outros tópicos técnicos muito urgentes.
A aldeia está, sem dúvida, preparada e ansiosa para ser capacitada com maior
informação e conhecimentos técnicos.

IV. SERVIÇOS DE ELECTRICIDADE, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES


A electricidade poderia ser disponibilizada às aldeias, fosse através de uma linha de
tensão (de Yata até Nyanminia) ou de um gerador diesel autónomo.

A electricidade permitia a existência de luz eléctrica e possivelmente um computador


para a escola; bombas para água potável; energia para moer os cereais e outros tipos de

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

processamento de alimentos, refrigeração e carpintaria; carga para as baterias das


famílias (que poderiam ser usadas para iluminação das casas); e outros necessidades. Os
aldeões sublinharam que os alunos gostariam de estudar depois do pôr do Sol, mas que
não podiam fazê-lo sem luz eléctrica.

Um camião de propriedade comum da aldeia poderia trazer fertilizantes, outros factores


produtivos agrícolas e combustíveis modernos para cozinhar (por exemplo, botijas de
gás líquido de petróleo (GLP), habituais nos churrascos dos pátios do Estados Unidos),
além de levar as colheitas ao mercado, transportar os bens perecíveis e o leite que se
vendem em Kisumu e aumentar as oportunidades de emprego fora da agricultura para os
jovens. O camião poderia levar com urgência mulheres com complicações de parto e
crianças com complicações agudas de anemia ao hospital.

Um ou mais telemóveis partilhados pela aldeia poderiam ser usados nas emergências,
para obter informação de mercado e, em geral, para ligar Sauri ao mundo exterior.

V. ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO


Com pontos de água suficientes e latrinas servindo com segurança e conveniência toda a
aldeia, as mulheres e as crianças poupariam incontáveis horas de esforço todos os dias
em busca de água, que poderia ser fornecida através de uma combinação de fontes
protegidas, furos de captação, recolha das chuvas e outras tecnologias básicas. Existem
mesmo a possibilidade de se estabelecerem ligações com um tanque de armazenamento
em larga escala e uma estação de bombagem a alguns quilómetros.

A ironia é que os custos destes serviços para os 5000 residentes em Sauri seriam muito
baixos. Ao fim de algum tempo estes investimentos pagar-se-iam a si mesmos, não
apenas no número de vidas salvas, nas crianças educadas, nas comunidades preservadas,
mas também em retornos comerciais directos.

Nos primeiros anos, os fertilizantes e terras de pousio melhoradas seriam


disponibilizadas em grande parte de forma gratuita à aldeia para fazer subir
exponencialmente os níveis de nutrição e saúde, e para construir uma pequena almofada
financeira. Mais tarde seria possível partilhar os custos com a comunidade e, por fim,
talvez ao fim de uma década, fornecer os fertilizantes e as terras de pousio melhoradas
de forma totalmente comercial.

DOADORES INTERNACIONAIS E ALDEIAS COMO SAURI

O Projecto Milénio da ONU está a trabalhar com o governo do Quénia para assegurar
que os esforços de redução da pobreza que este está a empreender são
suficientemente corajosos para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio. A estratégia irá exigir uma assistência ao desenvolvimento muito maior e
um cancelamento mais ambicioso da dívida por parte dos países ricos, de forma a
permitir ao país investir nos cinco grandes objectivos – agricultura, saúde e
educação, electricidade, transportes e comunicações e água potável – não apenas
nas aldeias Sauri, mas por todo o Quénia rural – não apenas nas aldeias Sauri, mas
por todo o Quénia rural empobrecido.

Vamos, em conjunto, o governo queniano e os doadores, conceber um sistema


orçamental e de gestão que possa chegar às aldeias e que assegure por todo o país

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

um conjunto de intervenções que se possa fiscalizar e gerir, e cuja escala se possa ir


alargando. Estamos preparados para pagar se os senhores estiverem preparados para
assegurar uma boa governação neste projecto histórico. As empresas privadas
internacionais de consultoria poderiam ser chamadas para ajudar a desenhar estes
sistemas e para dar credibilidade à sua implementação e desempenho.

Os doadores e o governo do Quénia podem e devem entrar em acordo em relação a uma


estratégia corajosa e adequada. A jovem democracia, desde o governo nacional até
às aldeias, está preparada para gerir a utilização da ajuda internacional com
transparência, eficiência e equidade, se conseguirmos criar os mecanismos de
entrega apropriados e investir na informação de suporte e nas tecnologias de
acompanhamento.

O PROBLEMA DA ESCALA

Os pontos de partida dessa cadeia são os próprios pobres. Eles estão dispostos a agir,
tanto individual como colectivamente. Já se encontram a trabalhar duramente,
preparados para lutar de forma a permanecer à tona e seguir em frente. Têm uma
ideia muito realista sobre a sua situação e sobre como a podem melhorar, não uma
aceitação mística do seu destino. Estão também preparados para se governarem a si
próprios de forma responsável, garantindo que toda a ajuda que receberem será
usada para benefício do grupo em vez de ir para o bolso de indivíduos poderosos.

A questão pode ser respondida mostrando como é possível funcionarem lado a lado
redes de responsabilização mútua e redes de financiamento.

Em resumo, precisamos de uma estratégia para aumentar a escala dos investimentos que
permita acabar com a pobreza, incluindo um sistema de administração que dê
capacidade aos pobres ao mesmo tempo que os responsabiliza. É hora, em cada um
dos países de baixo rendimento, de desenhar uma estratégia de redução da pobreza
que possa ultrapassar este desafio.

FAZER OS INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS PARA ACABAR COM A


POBREZA

Ao nível mais básico, a chave para acabar com a pobreza extrema consiste em dar a
possibilidade aos mais pobres entre os pobres de colocarem um pé na escada do
desenvolvimento suspensa acima deles. Para isso carecem do montante de capital
mínimo para chegar ao primeiro degrau e, portanto, necessitam de um impulso para o
atingir. Aos extremamente pobres faltam-lhes seis tipos de capital:

 Capital Humano: saúde, nutrição e capacidade necessárias para que cada


pessoa seja economicamente produtiva.
 Capital Para Realizar Negócios: maquinaria, instalações, utilização de
transporte motorizado na agricultura, indústria e serviços.
 Infra-estruturas: electricidade, água e saneamento, portos e aeroportos, e
sistemas de telecomunicações, críticos na produtividade empresarial.
 Capital Natural: terra arável, solos saudáveis, biodiversidade e ecossistemas a
funcionarem bem, proporcionando os serviços ambientais necessários à
sociedade humana.

13
LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

 Capital Público Institucional: códigos comerciais, sistemas judiciais,


policiamento e outros serviços públicos, base de uma divisão do trabalho
pacífica e próspera.
 Capital de Conhecimento: saber-fazer científico e tecnológico que aumenta a
produtividade dos negócios e promove o capital físico e natural.

COMO FUNCIONA A ARMADILHA DA POBREZA E COMO A AJUDA


EXTERNA PODE AJUDAR A SAIR DELA

A solução é apresentada, na qual a ajuda externa, sob a forma da Assistência Oficial ao


desenvolvimento (AOD), contribui para dar início ao processo de acumulação de
capital, crescimento económico e rendimentos familiares crescentes. A ajuda
externa alimenta três canais:

i.) Uma pequena parte vai directamente para as famílias, principalmente para
emergência humanitárias; Como, por exemplo, o envio de alimentos num momento de
seca;
ii.) Um montante muito maior segue logo para o orçamento do Estado, para financiar
investimentos públicos;
iii.) Uma terceira parte é também directamente aplicada em actividade económicas
privadas (por exemplo, na agricultura) por meio de programas de microfinanciamento e
outros esquemas nos quais financia de imediato pequenos negócios privados e
melhorias agrícolas.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E ACUMULAÇÃO DE CAPITAL

O sector público deverá estar principalmente centrado em cinco tipos de investimento:


1. Capital Humano (saúde, educação e nutrição;
2. Infra-estruturas (estradas, electricidade, água e saneamento, conservação ambiental);
3. Capital Natural (conservação da biodiversidade e dos ecossistemas);
4. Capital Institucional Público (uma administração pública, em sistema judicial e uma
força policial bem geridas);
5. Capital de Conhecimento (pesquisa científica nas áreas da saúde, energia, agricultura,
clima, ecologia).

O sector privado (financiando em grande parte por meio de poupanças privadas) deverá
ser principalmente responsável por investimentos empresariais, seja na agricultura,
indústria ou serviços, e em capital de conhecimento (novos produtos e tecnologias
baseados nos avanços científicos), assim como pelas contribuições das famílias para a
saúde, a educação e a nutrição, complementando os investimentos públicos em capital
humano.

Ocasionalmente, o sector público desejará fornecer financiamento directo a algumas


actividades do sector privado, por exemplo, ajudar agricultores a adoptarem novas
tecnologias, auxiliar famílias rurais empobrecidas a iniciar pequenos negócios ou a
adquirir factores produtivos críticos para a exploração agrícola, ou encorajar o começo
de novas indústrias urbanas.

14
LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

Determinadas acções privadas – poluição, corte de madeira, pesca em excesso e


actividade semelhantes – podem levar à extinção de espécies, desflorestação e outros
tipos de degradação ambiental, ou mesmo para o mundo.

Os direitos a este tipo de bens não são apenas um compromisso informal dos governos
do mundo, estão também garantidos na lei internacional, sobretudo na Declaração
Universal dos Direitos do Homem:

 Toda a gente tem direito a um nível de vida adequado à saúde e ao bem-estar de


si próprio e da sua família, incluindo alimentação, vestuário, alojamento,
cuidados médicos e serviços sociais, e o direito a segurança caso ocorra
desemprego, doença, incapacidade, viuvez, velhice ou outra falta de meio de
vida em circunstâncias que esteja para lá do seu controlo.
 Toda a gente tem direito à educação. A educação será livre, pelo menos nas
fases primárias e secundária. A educação primária será obrigatória. A educação
técnica e profissional será disponibilizada de forma generalizada e a educação
superior igualmente acessível a todos com base no mérito.

A experiência tem mostrado que os empreendedores privados são melhores do que os


governos a gerir negócios, pois os governos tendem a fazê-los por razões políticas e
não económicas.

Combater a fome, as doenças, as carências em educação, a degradação do ambiente e os


bairros de lata urbanos requer pacotes de investimentos para atacar estes males a
partir de diversas direcções.

EXEMPLOS DE AUMENTO DE ESCALA NO COMBATE À POBREZA

A REVOLUÇÃO VERDE NA ÁSIA


A Revolução verde é um dos triunfos mais importantes de uma aplicação específica da
ciência no século passado. A reprodução científica, usando cruzamentos de variedades
trazidas do Japão depois da Segunda Guerra Mundial, provocou uma enorme
reviravolta.

A CAMPANHA CONTRA MALÁRIA


Mais de metade da população mundial que vivia em regiões endémicas nos anos 40
ficou em grande parte livre da transmissão de malária e da mortalidade associada, em
resultado dos esforços concentrados da OMS, principalmente nas áreas em que a
ecologia das doenças favoreceu as medidas de controlo. A África, infelizmente, não era
parte do programa naquela época, nem beneficiou dos resultados até hoje.

UMA ALIANÇA GLOBAL PARA ACABAR COM A POBREZA

A falta crónica de financiamento por parte dos doadores retira aos países pobres o zelo
em combater a pobreza.

Os discursos habituais do FMI e do Banco Mundial é que nem todos os recursos de que
necessita da parte dos doadores, não poderia absorver mais recursos, a corrupção e a má
gestão iriam minar um maior esforço de assistências. Esta é a ladainha habitual de
desculpa usada para justificar o status quo, mas, em privado, virtualmente toda a

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

comunidade de pessoas dedicadas ao desenvolvimento sabe que a Etiópia está a


necessitar de dinheiro como o pão para a boca.

PLANIFICAR PARA TER ÊXITO

Os programas são muitas vezes inteligentes, mas estão todos cronicamente


subfinanciados em comparação com o que é necessário para alcançar os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio. Em resultado, esses países são frequentemente obrigados
a faltar totalmente à palavra nalgumas áreas de investimento público (como saúde).
Cinco planos de redução da pobreza, de notável qualidade, em África são:

 A Estratégia de Redução de Pobreza do Gana.


 O Programa de Desenvolvimento Sustentável e de Redução da Pobreza da
Etiópia.
 A Estratégia de Recuperação Económica para a Saúde e o Emprego do Quénia.
 O Documento sobre Estratégia de Redução da Pobreza do Senegal.
 O Plano de Acção de Erradicação doa Pobreza do Uganda.

PORQUE É INCOERENTE O SISTEMA ACTUAL?


Infelizmente, a abordagem da comunidade internacional permanece, na prática,
incoerente. De um lado, anuncia objectivos corajosos, como os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio, e até formas por meio das quais os objectivos podem ser
atingidos, como o compromisso de maior assistência por parte dos doadores, tomado no
Consenso de Monterey.

No entanto, quando se trata da prática real dos planos de desenvolvimento – na hora H –


os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio são expressos apenas sob forma de vagas
aspirações, em vez de matas operacionais.

O primeiro passo deveria ser saber o que o país realmente necessita em termos de
assistência externa e depois disso, o FMI e o Banco Mundial deveriam ir recolher o
montante necessário junto dos doadores!

Para mostrar quão linear seria a adopção desta abordagem, deixem-me apresentar outro
exemplo recente, o plano de redução da pobreza do Gana, que é um dos países mais
bem governados e geridos de África. É uma democracia multipartidária estável com
uma literacia relativamente elevada (92% do jovens entre os 15 e os 24 anos) e níveis
modestos de corrupção, comparados com os países de rendimento semelhante. Sofre de
considerável pobreza extrema.

Tal como outros países africanos, tem sido incapaz de diversificar a sua base de
exportações para além de um leque restrito de matérias-primas, principalmente cacau.
Faltam-lhe os recursos domésticos necessários para financiar investimentos em sectores
críticos como em saúde, educação, estradas, electricidade e outras infra-estruturas.
Trata-se de um país que caiu numa crise financeira e de dívida aguda no início dos anos
80, e desde então o governo tem vindo a ser fortemente pressionado para pagar as suas
contas mensais e não para expandir os níveis de investimento público.

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

UMA ESTRATÉGIA DE REDUÇÃO DE POBREZA BASEADA NOS


OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÉNIO

Na sopa de letras da ajuda dos doadores, o novo programa de doação ao Gana chama-se
política de Apoio Multidoador ao Orçamento (AMO). No âmbito deste novo esquema,
os doadores concordaram em dar a seu dinheiro directamente ao orçamento do Gana,
para que o governo possa levar por diante os investimentos públicos que identificou
como as maiores prioridades na redução da pobreza. Assim sendo, um plano de
desenvolvimento viável e a canalização financeira para o suportar estão agora criados.
O que o Gana agora necessita é de um fluxo de dinheiro apropriado.

Uma verdadeira estratégia de redução da pobreza baseada nos Objectivos de


Desenvolvimento de Milénio teria cinco partes:
 Um Diagnóstico Diferencial: capaz de identificar as políticas e os
investimentos de que o país necessita para atingir os Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio.
 Um Plano de Investimento: que apresente o tamanho, a calendarização e os
custos dos financiamentos necessários.
 Um Plano Financeiro: para sustentar o plano de investimento, incluindo um
cálculo do défice financeiro dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio,
ou seja, a proporção das necessidades monetárias que os doadores deverão
preencher.
 Um Plano doador: que apresente os compromissos dos doadores ao longo de
vários anos, no preenchimento défice financeiro dos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio.
 Um Plano de Gestão Pública: que defina os mecanismos de governação e de
administração pública, os quais ajudarão a implementar a estratégia de maior
investimento público.

O PLANO DE DOAÇÃO
Como parte de qualquer estratégia de redução da pobreza baseada nos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio, exige-se um plano de doação onde se defina de forma
transparente o modo como os compromissos dos doadores serão cumpridos. Um plano
de doação deveria centrar-se em quatro aspectos do fluxo de ajudas:
 Magnitude: a ajuda deve ser suficiente para permitir ao país receptor financiar
o seu plano de investimento.
 Calendarização: a ajuda deve ter um componente de longo prazo, suficiente
para permitir ao país receptor realizar um programa de aumento de escala
durante 10 anos.
 Previsibilidade: a ajuda deve ser suficientemente previsível para que as
paragens e os recomeços nos fluxos de ajuda não prejudiquem o programa de
investimento ou a estabilidade macroeconómica do país receptor.
 Harmonização: a ajuda deve apoiar a estratégia de redução da pobreza
baseada nos OMD e, especificamente, o plano de investimento, em vez dos
projectos “de estimação” das agências de auxílio.

UMA ESTRATÉGIA DE GESTÃO PÚBLICA

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

O dinheiro será desperdiçado ou estará adormecido numa conta bancária se o governo


não for capaz de implementar o seu plano de investimento, o que requer evidentemente
tempo, para planear, construir, educar e melhorar o acompanhamento.
Mas, para além do tempo necessário, um plano de gestão pública sólido deverá ter seis
componentes:
 Descentralização: os investimentos são necessários em centenas de milhares de
aldeias e milhares de cidades. Os detalhes terão de ser decididos no terreno, nas
próprias aldeias e cidades, em vez de nas capitais nacionais ou em Washington.
Uma gestão descentralizada do investimento público é, portanto, uma condição
sine qua non do aumento de escala.
 Formação: todos os níveis do sector público – nacional, regional e das aldeias
– carecem do talento para supervisionar o processo de aumento de escala, mas
isso não é razão para se passar ao lado do sector público, o que não traria bons
resultados, mas para aí melhorar capacidades. Programas de formação (ou de
promoção de capacidade) deveriam ser parte da estratégia global.
 Tecnologias de Informação: se a canalização vai transportar fluxos de ajuda
maiores a cada ano, necessitaremos de melhores contadores, o que significará a
utilização de tecnologias da informação – computadores, correio electrónico,
telemóveis – para aumentar drasticamente o volume de informação transmitido
no sector público e acessível as partes.
 Metas Mensuráveis: o grande aumento das despesas deve ser acompanhado
por metas muito mais claras em relação ao que deve ser alcançado. Cada
estratégia de redução da pobreza com base nos ODM deverá estar suportada por
metas quantitativas adaptadas às condições e às necessidades nacionais e à
disponibilidade de dados.
 Auditorias: vamos ser sinceros: o dinheiro tem de chegar aos receptores.
Nenhum país deveria receber fundos adicionais a não ser que dinheiro pudesse
ser auditado.
 Acompanhamento e Avaliação: desde o início, a estratégia de redução da
pobreza com base nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio deverá estar
preparada para ter os investimentos acompanhamento e avaliação serão partes
essenciais das estratégias.

INFRA-ESTRUTURA REGIONAL
O investimento multipaís tornar-se-ão mais comuns não apenas no que respeita a
estradas e vias-férreas, mas também nos serviços portuários, nas telecomunicações, na
regulação dos mercados financeiros, na conservação da biodiversidade (de florestas e
bacias hidrográficas), no controlo da poluição no ar e na água, no desenvolvimento
energético (incluindo energia hidráulica, geotermal e transporte de electricidade) e
noutras áreas.

Os agrupamentos regionais podem também desempenhar outro papel significativo:


responsabilidade partilhada pela governação. Os países respondem à pressão dos seus
pares e a União Africana está a utilizar esta ideia básica para lançar uma política
conhecida como Mecanismo Africano de Revisão pelos Pares (MARP), no qual os
países subscrevem voluntariamente uma revisão sistemática da sua governação por parte
dos seus pares. Tal como a União Africana o descreve, o propósito principal do MARP
é:

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

 Estimular a adopção de políticas, padrões e práticas que conduzem à


estabilidade política, a um elevado crescimento da economia, ao
desenvolvimento sustentável e a uma integração económica sub-regional e
continental acelerada, por meio da partilha de experiência e do reforço das
melhores e mais frutuosas práticas, incluindo a identificação das deficiências e
a avaliação das necessidades de obtenção de capacidade.

POLÍTICAS GLOBAIS PARA A REDUÇÃO DA POBREZA

Os países pobres têm necessidades críticas que não podem ser resolvidas por
investimentos nacionais ou regionais ou por políticas domésticas de reforma. Existem
preocupações que devem ser tratadas a nível global e quatro delas são muito
importantes:
 A crise da dívida
 A política global de comércio
 A ciência para o desenvolvimento
 A parceria para o ambiente

A CRISE DA DÍVIDA
As dívidas devem simplesmente ser canceladas, mas os credores têm insistido durante
demasiado tempo em que os países mais pobres do mundo continuam a pagar o
respectivo serviço, o que frequentemente implica montantes maiores do que a despesa
nacional em saúde e educação. Na verdade, os países ricos deveriam ter realizado
doações aos países pobres em vez de empréstimos, para que estes não tivessem sequer
chegado a endividar-se.

A CIÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO


Muitos dos avanços centrais no desenvolvimento económico de longo prazo têm sido
devido às novas tecnologias: a Revolução Verde na produção de alimentos, vacinas e
imunizações, mosquiteiros antimalária, terapias de re-hidratação oral, agroflorestação
para reposição de nutrientes no solo, medicamentos anti-retrovirais.

Apresento algumas áreas de especial importância, com base no trabalho de diversos


órgãos científicos que, em anos recentes, têm explorado estes temas:
 Doenças dos Pobres: novas medidas de prevenção, diagnóstico e terapia para
doenças específicas dos países de baixo rendimento, especialmente doenças
tropicais.
 Agricultura Tropical: novas variedades de sementes e técnicas de gestão da
água e de gestão do solo.
 Sistema Energéticos em Áreas Rurais Remotas: tecnologias especiais para
fontes de energia sem ligação a redes, incluindo recursos energéticos renováveis
(por exemplo, células fotovoltaicas), geradores de corrente, melhores baterias e
iluminação de baixa tensão.
 Previsões Climáticas e Ajustamento ao Clima: melhor medição de mudanças
climáticas sazonais, interanuais e de longo prazo, com vista a prever o ajustes às
alterações.
 Gestão da Água: melhores tecnologias para a sua recolha, desalinização,
irrigação em pequena escala e melhor gestão de aquíferos que estejam a ser
esgotados por utilização excessiva. A água será um tema com importância
crescente à medida que as densidades populacionais e as mudanças climáticas
19
LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

interagirem, colocando mais regiões sob sérias pressões no que à água dis
respeito.
 Gestão Sustentável de Ecossistemas: por todo o mundo, ecossistemas frágeis
(recifes de coral, pântanos, bancos de pesca, florestas tropicais, para nomear
apenas alguns) estão a sucumbir a forças antropogénicas, frequentemente com
consequências terríveis. Em muitos casos, as comunidades pobres não têm
capacidade técnica para acompanhar ou para responder de forma eficaz e
sustentável a estes problemas.

QUEM MANDA NO SISTEMA INTERNACIONAL?

Ao contrário da Assembleia Geral da ONU e da maioria dos conselhos de administração


das agências especializadas, onde vigora o princípio de “um país, um voto”, no
FMI e no Banco Mundial o princípio é “um dólar, um voto”. Cada membro do FMI
e do Banco Mundial integra as instituições em função de uma quota atribuída, que
determina os direitos de voto do país e o tamanho da subscrição de capital desse
país.

Desta forma, os países ricos têm mantido maioria de voto, a qual tem levado os Estados
Unidos, em especial, a confiar mais fortemente no FMI e no Banco Mundial,
instituições que controla mais facilmente, em vez das agências da ONU, sobre as
quais tem muito menos influência.

PRÓXIMOS PASSOS
A pobreza extrema é uma armadilha da qual nos podemos libertar por meio de
investimentos direccionados, caso estes sejam testados e provados e caso o programa a
aplicar possa ser implementado como parte de uma aliança global entre os países ricos e
os países pobres, com enfoque numa estratégia de redução de pobreza baseada nos
Objectivos de desenvolvimento do Milénio.

PODEM OS RICOS PAGAR A AJUDA AOS POBRES

O objectivo é acabar com a pobreza extrema, não acabar com toda a pobreza e muito
menos igualizar os rendimentos no mundo ou acabar com a diferença entre os ricos e os
pobres. Isto pode acabar por acontecer, mas para isso estes terão de se tornar abastados
pelos seus próprios esforços. Os ricos podem ajudar, sobretudo, concedendo aos
extremamente pobres assistência para eles se libertarem da armadilha que actualmente
os prende.

O CÁLCULO MAIS SIMPLES


Quanto rendimento teria de ser transferido dos países ricos para os países pobres para
elevar o rendimento dos extremamente pobres de todo o mundo até um nível suficiente
para satisfazer as necessidades básicas.

Assim, uma transferência de 0,6 % do rendimento dos doadores, no montante de


124.000 milhões de dólares elevaria, em teoria, o rendimento dos extremamente pobres
do mundo para o nível de rendimento necessário para satisfazer as necessidades básicas.

A ABORDAGEM DA AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

O ponto fundamental é a identificação de um pacote central de investimentos sociais e


em infra-estruturas públicas para satisfazer as necessidades básicas e acabar com a
armadilha da pobreza, investimentos esses que incluem estradas, energia, água e
saneamento, cuidados de saúde, educação e outros semelhantes.
Esta abordagem ao cálculo dos custos destes investimentos é composta pelos seguintes
seis passos:
 Identificação do pacote de necessidades básicas.
 Identificação, para cada país, das actuais necessidades não satisfeitas da
população.
 Cálculo dos custos de satisfazer essas necessidades por meio de investimentos,
tendo em conta o crescimento futuro da população.
 Cálculo da proporção dos investimentos que pode ser financiada pelo próprio
país.
 Cálculo do défice financeiro dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio a
ser coberto pelos doadores.
 Avaliação da dimensão das contribuições dos doadores em relação ao seu
rendimento.

O PACOTE DAS NECESSIDADES BÁSICAS


Os padrões de necessidades são mínimos, consistentes com a interpretação de que a
falta de acesso a estas medidas constitui pobreza extrema. Nelas incluem-se, por
exemplo:
 Educação primária para todas as crianças, com estabelecimento de metas
relativas aos rácios entre alunos e professores.
 Programas de nutrição para todas as populações vulneráveis.
 Acesso universal a mosquiteiros antimalária para todas as famílias nas regiões
em que a doença se transmite.
 Acesso a água potável e saneamento.
 Meio quilómetro de estrada pavimentada por cada 1000 pessoas.
 Acesso a combustível modernos para cozinhar e melhores fornos de forma a
reduzir-se o nível de poluição do ar.

PARTILHAR OS CUSTOS DE INVESTIMENTO


Em termos gerais, os países de médio rendimento são capazes de cobrir as suas
necessidades, enquanto os de baixo rendimento precisarão, em princípio, pelo menos de
alguma pequena ajuda externa para ter satisfeito as suas necessidades básicas em 2015.

MITOS E FÓRMULAS MÁGICAS

É triste dizê-lo, mas os seus níveis de educação são tão baixos que mesmo programas
que funcionam noutras áreas falhariam em África, que é corrupta e está enredada em
autoritarismo. Carece de valores modernos e das instituições de uma economia de
mercado necessárias para ter êxito. De facto, a moral em África está tão degradada que
não surpreende que a SIDA tenha saído fora de controlo.

OS PROGRAMAS DE AJUDA FALHARIAM EM ÁFRICA

A CULPADA É A CORRUPÇÃO

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

Hoje, a afirmação eternamente repetida é que a corrupção – ou “má governação” – é o


pecado venal do continente, a origem mais profunda do seu actual mal. Tanto os
próprios africanos como os forasteiros fazem abertamente esta acusação.

A pobreza é produzida pelo homem porque é o resultado das opções políticas que
empobrecem alguns e enriquecem outros. Nessa medida, e dada a sua origem, também
eu acredito que pode ser erradicada. Actualmente, quase todas as descrições da pobreza
africana começam com a mesma afirmação: a má governação é o principal obstáculo.

É difícil garantir os direitos de propriedade, a violência e o crime são elevados, a


corrupção é considerada abrangente. O cerne da questão é que virtualmente todos os
países pobres têm indicadores de governação e de corrupção abaixo dos existentes nos
países de elevado rendimento, mas a verdade é que a boa governação e os rendimentos
elevados caminham a par, não apenas porque a primeira aumenta os segundos, mas
também, e talvez ainda mais importante, porque a situação inversa é também
verdadeira.

Uma sociedade mais afluente pode pagar investimentos em governação de elevada


qualidade. Quando os governos são apoiados por amplas receitas fiscais, os funcionários
públicos têm um nível de educação mais alto, o alargamento da informatização melhora
os fluxos de informação e a administração pública é gerida de forma profissional.

Em África, a governação é má porque o continente é pobre. No entanto, duas outras


coisas são crucialmente verdade. Seja qual for o nível de governação (medido por
indicadores-padrão), os países africanos tendem a crescer menos rapidamente do que os
governados de forma semelhantes noutras partes do mundo.

Os países africanos bem governados são: Benin, Burkina Faso, Gana, Madagáscar,
Malawi, Mali, Mauritânia e Senegal, entanto que os mal governados (cujos índices de
governação são baixos tendo igualmente em conta o seu nível de rendimento) incluem:
Angola, Burundi, República Democrática do Congo, Sudão, Zimbabué, Libéria e
Somália.

FALTA DE VALORES MODERNOS


O mais importante é que a cultura muda com as circunstâncias e os momentos
económicos. O papel da mulher no mercado de trabalho, as escolhas familiares
relativamente à fertilidade, a ida das crianças à escola e outras áreas críticas de
comportamento económico mudam dramaticamente à medida que as sociedades se
deslocam das aldeias para os centros urbanos, da agricultura para a indústria, da
iliteracia para literacia.

SALVAR CRIANÇAS APENAS PARA SE TORNAREM ADULTOS


ESFOMEDAOS?
Quando as crianças morrem em grande número, as famílias tendem a ter muito mais
filhos para compensar o risco de as perder.

UMA MARÉ ENCHENTE FAZ SUBIR TODOS OS BARCOS


As forças da globalização são suficientemente poderosas para beneficiar toda a gente
que souber comportar-se como convém.

22
LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

A SEGURANÇA DOS ESTADOS UNIDOS E A POBREZA GLOBAL

Ao longo da história, têm sido o terreno de cultivo da violência, do terrorismo, da


criminalidade internacional, da migração em massa, de movimentos de refugiados, de
tráfico de droga e de variadas doenças. Se o Estados Unidos, a Europa, o Japão e outros
países de elevado rendimento quiserem gastar menos tempo a responder aos problemas
dos Estados que entraram em colapso, terão de reduzir de forma decisiva o número de
economias colapsadas.

A pesquisa mostrou repetidamente que a probabilidade de um país ser democrático


aumenta significativamente com o seu nível de rendimento per capita.

JUBILEU 2000 (CAMPANHA PARA CANCELAMENTO DA DÍVIDA)

A campanha para cancelamento da dívida é uma iniciativa mais recente, que nasceu da
percepção de que os países mais pobres estavam a sofrer um peso esmagador com os
pagamentos da dívida a credores internacionais e bilaterais.

Á Campanha do Jubileu 2000 deparou-se resistência firme por parte dos países doadores
e das instituições de Bretton Woods, que não partilhavam do mesmo sentido de urgência
em relação ao cancelamento da dívida. O que a visão convencional não conseguiu
compreender foi o apoio alargado ao cancelamento da dívida entre um vasto conjunto
de cidadãos dos Estados Unidos. O Congresso dos Estados Unidos aprovou um
generoso pacote de alívio de dívida, ainda que não tenha sido tudo o que era necessário.

O DESAFIO DA NOSSA GERAÇÃO

Em 1795, Kant defendeu que a paz perpétua entre as nações podia ser alcançada se as
monarquias fossem substituídas por repúblicas auto governadas, associadas através do
comércio internacional.

A educação permitia aos indivíduos valerem-se a si próprio, afastar charlatães,


abandonar superstições inúteis ou nocivas e melhorar a ética, a simpatia humana e a
“bondade moral”.

Condorcet, como Kant, acreditava que a razão poderia conduzir a uma redução da
guerra: “Os povos mais iluminados, reclamando o direito a gastar o seu sangue e a sua
riqueza, irão gradualmente aprender a ver a guerra como um flagelo mortífero e o maior
dos crimes”.

A VEZ DA NOSSA GERAÇÃO

As oportunidades que temos são de cortar a respiração: sermos capazes de fazer avançar
a visão do iluminismo de Jefferson, Smith, Kant e Condorcet: O trabalho da nossa
geração pode ser definido, em termos utilizados pelo iluminismo como:
 Ajudar a estimular sistemas políticos que promovam o bem-estar humano, com
base no consentimento dos governados.
 Ajudar a estimular sistemas de crescimento económico que espalhem os
benefícios da ciência, da tecnologia e da divisão do trabalho a todas as áreas do
mundo.

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LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 4.º ANO

 Ajudar a estimular a cooperação internacional, com base na racionalidade


humana, de forma, a alimentar as perspectivas contínuas de melhoria da
condição humana.

Esta agenda é grande e corajosa, como tem sido durante dois séculos, mas muitos dos
seus mais doces frutos estão ao nosso alcance. A revolução democrática que o
iluminismo pôs em marcha cobre actualmente mais de metade da população mundial; a
visão de Kant sobre uma federação de Estados independente está corporizada nas
Nações Unidas, com os seus 191 Estados-membros; a imagem de Condorcet de uma
revolução científica auto-sustentada tem demonstrado estar acertada, e ciência pode
agora ser utilizada para tratar alguns dos maiores perigos permanentes da humanidade; e
o conceito de Adam Smith relativo à difusão da riqueza económica é o mais imediato
dos triunfos que temos à frente: a eliminação da própria pobreza extrema num período
de apenas duas décadas.

Alguns intelectuais argumentam actualmente que “o progresso é uma ilusão – uma visão
da vida e da história humanas que responde às necessidades do coração, não da razão”.
Estas afirmações estão erradas, perigosamente erradas, na minha opinião, e são
empiricamente falsas porque o progresso, em muitas formas cruciais – no aspecto
científico, no aspecto tecnológico, na satisfação das necessidades humanas -, tem sido
real e sustentado ao longo de dois séculos, não obstante os incontornáveis desastres e os
desafios ainda por superar.

O facto de terem ocorrido guerras globais e de existir pobreza extrema não invalidade o
longo, persistente e continuado aumento dos níveis de vida globais e a redução da
população mundial que vive na pobreza extrema.

O MOVIMENTO ANTIGLOBALIZAÇÃO

Aplaudo, na generalidade, o movimento pela denúncia das hipocrisias e das evidentes


carências na governação global e por acabar com anos de auto congratulação por parte
dos ricos e dos poderosos.

Na minha opinião, os líderes do movimento antiglobalização possuem o fervor moral e


o ponto de vista ético correctos, mas fazem um diagnóstico errado dos problemas mais
profundos.

Não existe nada no raciocínio económico que justifique deixar as próprias empresas
determinarem essas regras por meio de lóbis, campanhas de financiamento e dominação
das políticas governamentais.

A CAMINHO DE UMA GLOBALIZAÇÃO ILUMINADA


Esse movimento estaria, antes de mais, centrado no comportamento dos governos ricos,
especialmente do mais poderoso e desobediente, o dos Estados Unidos.

Como a guerra do Iraque demonstrou, os americanos podem conquistar, mas não


mandar.

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OS NOSSOS PRÓXIMOS PASSOS

Chegou o momento de acabar coma pobreza, ainda que tenhamos grandes esforços pela
frente. Diagnostiquei as razões para a permanência da pobreza extrema lado a lado com
a grande riqueza, falei dos passos específicos que poderiam atacar e ultrapassar este tipo
de pobreza e mostrei que os custos de agir são pequenos, na verdade uma pequena
fracção dos custos da inacção. Propus também uma calendarização até 2025, incluindo
os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio como a etapa intermédia, e revelei como
instituições internacionais fundamentais podem contribuir para o processo. Ainda assim,
temos de realizar estas tarefas num contexto de inércia global, inclinações para a guerra
e o preconceito, e um cepticismo compreensível por todo o mundo relativamente à
possibilidade de que desta vez vai ser diferente do passado. Sim, desta vez pode ser
diferente, e aqui estão nove passos para atingir o objectivo.

I. COMPROMISSO PARA ACABAR COM A POBREZA


O primeiro passo é a compromisso para com a tarefa. A Oxfam e muitos outros líderes
na sociedade civil abraçaram um objectivo: fazer passar a pobreza à história. O mundo
como um todo necessidade de abraçar este objectivo. Comprometemo-nos a acabar com
ela até 2025.

II. ADOPÇÃO DE UM PLANO DE ACÇÃO


Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio constituem o pagamento do sinal no
processo de eliminação da pobreza. São específicos, quantificados e já estão prometidos
numa Aliança Global de Ricos e Pobres. A comunidade mundial não deveria apenas
comprometer-se com estes objectivos, mas os seus líderes deveriam também adoptar um
plano global específico para cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, da
ONU.

III. FAZER OUVIR MAIS AS VOZ DOS POBRES


Mahatma Ghandi e Martin Luther King Jr., não esperaram até que os ricos e os
poderosos viessem salvá-los. Instiram no seu apelo à justiça e marcaram a sua posição
face à arrogância e à negligência oficiais. Os pobres não podem esperar que os ricos
façam circular o seu apelo á justiça.

O G-8 nunca defenderá o fim da pobreza se os próprios pobres estiverem calados. É


hora de as democracias do mundo pobre – Brasil, Índia, Nigéria, Senegal, África do Sul
e dezenas de outras – se unirem para lançar o apelo à acção. Os pobres estão a começar
a encontrar a sua voz, no G-8 (Brasil, Índia, África do Sul), no G-20 (um grupo de
comércio que negoceia no seio da Objectivo de Desenvolvimento do Milénio) e em
outras instâncias. O mundo necessita de ouvir mais.

IV. REDIMIR O PAPEL DOS ESTADOS UNIDOS NO MUNDO


O país mais rico e poderoso do mundo, há muito o líder e a inspiração no que respeita
aos ideais democráticos, tornou-se o mais temido e o maior promotor de discórdia nos
últimos anos. Uma autoproclamada procura por uma supremacia e liberdade de acção

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incontestadas resultou num desastre, e coloca um dos maiores riscos à estabilidade


global.

A falta de participação dos Estados Unidos em iniciativas multilaterais minou a


segurança global e o progresso na via da justiça social e da protecção ambiental. Os seus
próprios interesses têm sido corrompidos por esta viragem unilateral. Moldados na forja
do iluminismo, os Estados Unidos podem tornar-se os defensores da globalização
iluminada, mas será necessária uma acção política no seu interior e no estrangeiro para
restaurar o seu papel no caminho para a paz e justiça globais.

V. SALVAR O FMI E O BANCO MUNDIAL


As nossas principais instituições financeiras internacionais são necessárias ao
desempenho de um papel decisivo ma eliminação da pobreza global. Possuem a
experiência e a sofisticação técnica suficientes para desempenhar esse importante papel.
No entanto, têm sido mal etilizados, na verdade usados para maus fins, enquanto
agências geridas pelos credores em vez de instituições internacionais representando
todos os seus 182 governos membros. É hora de restaurar o papel internacional destas
agências, para que deixem de ser a criadas dos governos credores, transformando-se nas
defensoras da justiça económica e da globalização iluminada.

VI. FORTALECER AS NAÇOES UNIDAS


É inútil culpar a ONU pelos passos equivocados dos últimos anos, ela tem actuado à
medida da vontade dos países poderosos do mundo, especialmente os Estados Unidos.
Porque são as suas agências menos operacionais do que deveriam ser? Não devido á
burocracia, ainda que ela também existe, mas porque os países poderosos estão
relutantes em ceder mais autoridade às instituições internacionais, receando a redução
da sua própria liberdade de manobra. As agências especializadas da pobreza. É hora de
capacitar a Organização das nações Unidas para as Crianças (UNICEF), a Organização
Mundial de Saúde, o Organismo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação
e muitos outros para realizarem a tarefa – no terreno, país a país – que está, de forma
única, qualificados para liderar, ajudando os mais pobres entre os pobres a utilizarem a
ciência e a tecnologia modernas para ultrapassar a armadilha da pobreza.

VII. REALIZAR O POTENCIAL DA CIÊNCIA GLOBAL


A ciência tem sido a chave do desenvolvimento desde o início da Revolução Industrial,
a alavanca por meio da qual a razão é traduzida em tecnologias de avanço social. Como
Condorcet prévia, a ciência tem estado na base de avanços tecnológicos na produção de
alimentos, na saúde, na gestão ambiental e noutros incontáveis sectores básicos no que
respeita à satisfação das necessidades humanas em geral.

No entanto, a ciência tanto tende a seguir as forças de mercado repetidamente que os


ricos se tornam mais ricos num ciclo contínuo de crescimento endógeno, enquanto os
mais pobres entre os pobres são frequentemente deixados de fora desse círculo virtuoso.
Quando os seus problemas são específicos – por força de doenças, más colheitas ou
condições ecológicas particulares -, os mais pobres são deixados de lado pelo progresso
global.

Assim, deverá haver um esforço especial da ciência mundial, liderado pelos centros de
pesquisa dos governos, do meio académico e da indústria, comprometendo-se

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especificamente a tratar dos desafios não ultrapassados dos pobres. O financiamento


público, as filantropias privadas e as fundações sem fins lucrativos terão de suportar
estes compromissos, precisamente porque as forças de mercado não serão por si só
suficientes.

VIII. PROMOVER O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


Ao mesmo tempo que os investimentos na saúde, educação e infra-estruturas podem
abrir a armadilha da pobreza extrema, a continuada degradação ambiental às escalas
local, regional e planetária ameaça a sustentabilidade de longo prazo de todos os nossos
ganhos sociais. Acabar coma pobreza extrema pode aliviar muitas das pressões sobre o
ambiente. Se as famílias empobrecidas forem mais produtivas nas suas propriedades
agrícolas, enfrentarão menos pressão para derrubar as florestas vizinhas em busca de
novas terras agrícolas e, se a probabilidade de sobrevivência dos seus filhos for elevada,
serão menores os incentivos para que mantenham elevadas taxas de fertilidade,
evitando-se o consequente lado negativo do rápido crescimento da população.

Ainda assim, à medida que a pobreza extrema é eliminada, a degradação ambiental


relacionada com poluição industrial e as mudanças climáticas de longo prazo associadas
à utilização maciça de combustíveis fósseis terá de ser resolvida. Existem formas de
enfrentar estes desafios ambientais sem destruir a prosperidade (por exemplo,
construindo unidades de produção de energia mais inteligentes que capturem e tratem as
suas emissões de carbono, ou aumentando a utilização de fontes de energia renováveis).
Á medida que investimentos na eliminação da pobreza extrema, temos de enfrentar o
desafio permanente de investir na sustentabilidade global dos ecossistemas do mundo.

IX. ASSUMIR UM COMPROMISSO PESSOAL


No final, porém, a solução está em nós enquanto indivíduos. Somos nós, trabalhando
em uníssono, que formamos e modelamos as sociedades. Os compromissos sociais são
compromissos de pessoas.

Vamos fazer com que o futuro diga que a nossa geração produziu poderosas correntes de
esperança e que trabalhámos em conjunto para curar o mundo.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

SACHS, Jeffery, “O Fim da Pobreza” 1.ª Edição, Casa das Letras/Editorial Notícias,
Cruz Quebrada, 2006.

Elaborado por: Ernestino dos Ramos Soares


Discente: 4.º Ano de Direito
Curso: Pós-Laboral

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