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Universidade do Algarve

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


Licenciatura em Património Cultural

INTRODUÇÃO À ANTROPOLOGIA

A Morte

AUTORES
Helder Rodrigues Aluno: 40116
Graciete Bernardo Aluno: 40294
Ana Maria Morais Aluno: 40564

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Índice

A morte ................................................................................2
Imagens da morte na Arte....................................................5
Crucificação e Morte de Jesus Cristo................................6
Espectáculo
As Carpideiras ..............................................................13
Cemitérios
As transformações sofridas pelo Cemitério ao longo da

História………………………………………………………………

A vida após a morte ...........................................................17


Introdução à Antropologia...............................................................................................1
Autores............................................................................................................................1
Índice..............................................................................................................................2
As transformações sofridas pelo cemitério ao longo da história....................................16
As lápides.......................................................................................................19
O método de cremação regressa...................................................................20
Bibliografia....................................................................................................................31

1. A morte

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Podemos brincar com a morte e dizer que ela é «deixar de


pecar repentinamente», ou que «o medo da morte é o mais
injustificado de todos os medos, porque não há qualquer risco de
acidente para quem está morto» (Einstein).

Podemos afirmar para nós mesmos, como Epicuro, que a morte


não nos deve preocupar. Enquanto existirmos, ela está ausente. E
quando nos abranger não nos pode incomodar, porque já não
existiremos. Ou concordar com Sócrates, quando ele diz «se a morte
não envolve sensações, então ela é como um sono, e é um
maravilhoso presente». (Cook, 1996)

Mas, contra toda a lógica dos nossos argumentos, a morte não


deixará nunca de nos angustiar. Não podemos verdadeiramente
ignorar esse «tigre escondido, emboscado e pronto a matar os
incautos», de que falam as escrituras budistas.

A morte revolta-nos, e é causa de «loucura», diz-se na Bíblia,


no Eclesiástico: «Eis o pior mal, no meio de tudo o que se realiza
debaixo do sol: que haja para todos um mesmo destino. Por isso, o
espírito dos homens transborda de malícia, e a loucura habita no seu
coração». Ela é o elemento central da crueldade da vida, ela destrói
em absoluto o «nosso único e precioso tesouro, o nosso eu» (Morin,
1991-1992). Ela é injusta.

Tememos a morte, ainda que não seja exactamente pelas


razões que Shakespeare enuncia no seu Hamlet: «Quem suportaria
tais fardos, gemendo e suando sob uma vida gasta, se não fosse o

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medo do que há depois da monte, o medo desse país desconhecido,


de cujas regiões nenhum viajante regressou, a perturbar-lhe a
vontade e a fazê-lo penar por estes campos, em vez de voar para
outros que desconhecemos?»

Podemos evitar pronunciar palavras a seu propósito, como diz


Montaigne. Podemos tratá-la como um acidente, «revelando por essa
via a nossa clara tendência para despojar a morte de todo o seu
elemento necessário», como diz Freud. Ou podemos recorrer à
religião, a Deus, minimizando por essa via os seus efeitos sobre nós:
Quem crê em Deus não morre (S. João). Mas não podemos
verdadeiramente esquecê-la.

Podemos argumentar, como Santo Agostinho, que a morte é


um passaporte para uma vida melhor, junto de Deus, e que por isso
não devemos chorar a morte dos que nos são queridos. Foi o que ele
tentou fazer, ao recusar lágrimas públicas pela morte da mãe e do
filho Adeodato. Mas não terá ele derramado lágrimas interiores? Não
foi ele próprio a dizer que não «podemos esquecer e ignorar a
morte»?

O medo da morte é, de facto, uma questão existencial


incontornável. Ele está na base de muitas das nossas interrogações
sobre o sentido da vida. Ele associa-se à nossa inteligência, da nossa
consciência, da nossa condição existencial.

A nossa memória superior, a nossa consciência, e a nossa


capacidade de inteligentemente vermos a vida, e o significado do

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passado, do presente e do futuro, são também uma fonte de


tragédia humana.

Muitas espécies animais podem ignorar a morte. Podem «não


ter consciência de si senão como ser sem fim», como diz
Schopenhauer. Algumas, poucas, poderão intui-la e temê-la. Mas
somos nós que temos dela uma apreensão profunda, com a
consequente dor e medo, irremediavelmente angustiantes.

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2. Imagens da morte na Arte

Sendo a morte, sem dúvida uma das questões que mais


afecta o ser humano, foi a sua imagem representada de forma
intensa, na Arte, ao longo dos tempos.

A representação criativa da morte, fruto da reflexão que o


artista faz ao observá-la no seu contexto, vai sempre somar
alguma coisa ao seu significado, levando a que as obras criadas -
sejam estátuas, quadros ou outras - nos dêem uma ideia do
desenvolvimento da história do pensamento humano.

Muitos nomes importantes que marcaram as artes ao longo


da História dedicaram-se ao tema, ao seu estudo, à sua
representação: na música; na escultura; na escrita, na pintura e
mais recentemente na fotografia.

Destas artes daremos maior importância neste trabalho à


escrita e à pintura por, em nossa opinião, serem as mais
acessíveis e abrangentes, antes do aparecimento, no século XX,
da fotografia.

 Na escrita destacamos três exemplos bem separados no


tempo:

 Epicuro, filósofo grego (341 a.C. – 270 a.C.), de quem


aqui deixamos dois pequenos textos da sua Carta a
Heródoto

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“ A Morte nada é para nós, pois quando nós existimos, ela


não está presente, quando ela está presente, nós já não
existimos”

“Todo o bem e todo o mal residem na sensação, ora a morte


é a privação de sensações. “

 Dante Alighieri, Florença (1265-1321), destacamos a


Divina Comédia;

 John Milton, Inglaterra, Século XVII, salientamos O


Paraíso Perdido.

Raro é o romance que não descreve uma ou várias imagens


de morte. A própria Bíblia, “uma fonte original de reflexão
humana” (História da Morte, pag. 126), durante a narração, vai-
nos descrevendo sucessivas mortes. É, no entanto, no Novo
Testamento, que a morte adquire um papel mais importante,
transformando a morte de Jesus, no facto central da narrativa.

Esta morte viria a ser a que mais inspirou os artistas ao


longo destes dois mil anos nas diversas vertentes da arte, sendo
talvez na pintura onde mais se tem reflectido.

– Crucificação e Morte de Jesus Cristo

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Imagens da crucificação e morte de Cristo foram sendo


sucessivamente apresentadas, difundidas a partir da Itália,
principalmente a partir do século XIII, até aos dias de hoje.

No seguimento do que atrás dizemos, para imagens da


Morte na Arte escolhemos na pintura a crucificação e morte de
Jesus Cristo, pelo seu impacto marcante na arte e apresentamos
aqui vários exemplos de trabalhos, que alguns artistas - dos que
mais se destacaram, no espaço que nos que nos separa dos factos
narrados na Bíblia - nos deixaram deste acontecimento.

As primeiras duas imagens que se seguem são um pequeno


apontamento, excepcional. Não sendo pintura, são aqui
apresentadas, a primeira por curiosidade e pela antiguidade que
lhe é atribuída, e a segunda pela originalidade. Seguem-se depois
várias pinturas, de artistas variados, por ordem cronológica.

É apresentada no livro “O Rosto de Cristo: A Formação do


Imaginário e da Arte Cristã” como sendo a primeira representação
conhecida, da crucificação de Cristo. Já na Infópedia, Editora é
assim referida - “Esta representação iconográfica de um tema
muito glosado pela arte cristã constitui um dos mais antigos
exemplos conhecidos para este período. Nas portas da basílica
trabalhadas em madeira, Cristo aparece com a cabeça direita e os
olhos abertos, sem demonstrar sofrimento ou agonia, sentimentos
amplamente explorados pela arte barroca da Época Moderna.”
(422-432 a.C.)

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Escultura que representa


Jesus Cristo morto numa cadeira
elétrica, esteve exposta na
catedral de Gap (sudeste da
França) para “celebrar” a Semana
Santa, em 2009, causando
alguma polémica.

Com o nome de “Pietá”, a


escultura de Paul Fryer
representa a paixão de Cristo.

Pinturas

Pormenor da
Capela Degli
Strovegni

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Gioto (1303-1310)

“Crucificação” – Rafael Sanzio


1502-1503

Tombeamento”- Rafael
Sanzio - 1507

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Cristo Crucificado -Velásquez


1632

Cristo na Coluna –
Caravaggio 1667

Pietá - William
Bouguereau -1876

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Cristo Crucificado - Marc


Chagal século XIX

Ascensão - Salvador Dali - Século


XX

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Cristo Crucificado - Salvador Dali - Século XX

3. Espectáculo

As Carpideiras – senhoras da vida e da morte

A morte é o grande enigma da existência humana, dando-se, por


isso, desde os primeiros povos da humanidade, enorme importância às
cerimónias fúnebres. Já o Homem de Neanderthal (Homo
Neanderthalensis) fazia aos defuntos covas
cuidadosamente escavadas, decoradas
com flores e outros motivos simbólicos,
evidenciando a antiga crença na vida após
a morte.
Um dos povos que mais importância
deu à mitologia da morte foi a civilização
egípcia, erguendo túmulos imponentes em
devoção aos mortos, (as célebres
Pirâmides), que ainda hoje estão entre as
grandes maravilhas do mundo.
Os funerais sempre tiveram grande
importância para o homem, o qual

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manifestou diversos comportamentos interiores e exteriores perante a


perda.
Herdeiras de uma arte milenar, míticas e respeitadas ao longo de
vários séculos, uma vez que guardavam os segredos da cura e louvação
dos mortos, as Carpideiras foram indispensáveis nos rituais fúnebres até
aos finais do século XIX.
Embora não saibamos as suas origens, temos conhecimento que,
no Antigo Egipto, o enterro era um acontecimento lúgubre e pitoresco ao
mesmo tempo, que quantas mais carpideiras tivessem, mais elevado era
a posição social do morto. Os familiares do defunto faziam questão de
oferecer um verdadeiro espectáculo por onde passava o velório. Iam
gesticulando e soluçando durante todo o trajecto. Para que a dor que
todos sentiam ficasse ainda mais patenteada e ninguém tivesse dúvidas
a esse respeito, as carpideiras profissionais eram devidamente
contratadas. De vestes desalinhadas, peito desnudo, rosto pintado com
lama, cabelos despenteados, chegando mesmo a arrancá-los e a simular
desmaios, não cessavam de gemer e de bater nas próprias cabeças em
patético gesto de desespero. Criavam, assim, um impacto incrível
perante os presentes durante todo o ritual. Possuíam um diversificado
leque de textos e cânticos, nos quais suplicavam a ressurreição
espiritual do morto, ao longo de todo o cortejo fúnebre.
Também, na civilização romana, divulgaram oficialmente a
necessidade ritual das carpideiras, dividindo-as em duas classes: a
Prefica, paga para cantar os louvores do morto, e a Bustuária, que
acompanhava o cadáver ao local da incineração, pranteando-o
estridentemente, segundo a tabela dos preços. Estas mulheres vertiam

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as lágrimas em pequenos vasos tubulares de vidro. Conforme a


quantidade de líquido contido no tubo, assim recebiam o pagamento da
família do morto.
Actualmente esta profissão já perdeu todo o seu fulgor, deixando
de ser essencial, embora em algumas sociedades actuais ainda exista o
ritual de contratarem estas mulheres para as cerimónias fúnebres.
As carpideiras eram a bem dizer “choradeiras profissionais”, que
lacrimejavam pelo defunto alheio. Mediante um pagamento, que nem
sempre seria em dinheiro, estas mulheres animavam no velório com
uma mágoa colaborante e incrivelmente ruidosa.
Diante do cadáver, excitando as lágrimas da família com frases
exaltadas e gesticulações inimitáveis e dramáticas, tinham também
como função fazer: o quarto ao defunto, a guarda, a sentinela, o velório.
Eram as iniciadoras do canto na missa, entoando louvores com a voz
sinistra e apavorante, logo causando impressão inesquecível para a
assistência.
Eram normalmente várias mulheres trajadas inteiramente de
negro, de longas saias, blusas e xailes compridos sobre a cabeça, que
tratavam de toda a cerimónia fúnebre, desde os primeiros preparativos
em casa até ao enterro, entoando sempre um pranto teatral e
constantes incentivos ao choro dos familiares e amigos.
No início do século XX, o costume de contratar carpideiras perdeu-
se por completo, pelo menos, deixou de ter a importância de outrora.

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4. Cemitérios

AS TRANSFORMAÇÕES SOFRIDAS PELO CEMITÉRIO AO LONGO DA HISTÓRIA...

Desde que o primeiro homem anda na terra, mais de cem mil


milhões de pessoas já nasceram.

Cerca de dois milhões de pessoas morrem actualmente, por ano,


nos Estados Unidos da América, assistindo esta a cerca de 5.500
enterros por dia.

O cemitério, mais conhecido hoje em dia como cidade dos mortos,


tem este nome pelo facto de, ao ser observado de cima, a imagem
observável formar pequenas casas dando o aspecto quase como uma
cidade.

Estes, segundo historiadores, são cuidadosamente planeados e


movimentam negócios, denotando-se mesmo a diferença de classes
dentro deles, desde o morto mais rico ao morto mais pobre.

Acima da terra ,a história do cemitério é feita de pedras, abaixo


desta a história é feita por corpos transformados pelo impiedoso
processo de decomposição. Em menos de dez anos a pele do cadáver
começa a soltar-se, cai e transforma-se em substância líquida, logo
depois gasosa. Em outras condições a pele seca formando uma camada
mumificada. Os ossos, mesmo guardados em sítios nas profundezas,
continuam inteiros por milhares de anos.

É bem mais agradável, pensar na morte como um sono profundo,


e no cemitério como um lugar agradável.

No começo da humanidade os mortos eram abandonados após a


morte e o seu destino era a decomposição ou acabavam consumidos

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pelos abutres. Depois os cadáveres eram cobertos com pedras pesadas,


não apenas com a finalidade de formar um túmulo como também para
evitar que se levantassem e andassem entre os vivos. Os mais
supersticiosos temiam o regresso dos mortos à vida.

As pessoas que se encontravam mais doentes, delimitadas, eram


deixadas nas cavernas e lacradas por rochas. Se recuperassem, as
pedras eram retiradas e podiam sair. Caso contrário, onde a doença se
fizesse permanecer, aquele lugar já era o seu próprio túmulo.

Em 50.000 a.C., os Neandertais cavavam túmulos e enterravam


ossos como forma de oferenda. Existem também indícios de que
marcavam as sepulturas com flores.

Em 3200 a.C., os egípcios desenvolveram a arte do


embalsamamento para enterrar os mais nobres, segundo Erudito, o
historiador.

O método egípcio exigia 80 dias, onde primeiramente o cérebro do


morto era arrancado pelas narinas, depois o defunto repousava em
salmoura durante um mês e após a secagem deste mesmo o corpo era
colocado num caixão de madeira, envolvido num sarcófago de pedra. O
resultado obtido dos embalsamadores egípcios era uma pele seca
enegrecida e esticada sobre a carne. Esta civilização acreditava que o
corpo nestas condições atrairia uma entidade astral que levaria o morto
para o além.

Em 800 a.C., o método mais comum de sepultamento na Grécia


era o da cremação, Os gregos criaram a palavra coementerium ou seja
lugar de repouso, do qual deriva a palavra cemitério. O processo chega
a Roma 600 anos a.C.. Uma das razões que levaram os romanos a
adoptar este método foi unicamente por ser uma questão de higiene,
pois estas cidades careciam de higiene e todos receavam a
contaminação associada à decomposição.

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Este método perdeu força por volta de 400 d.C. com a ascensão do
cristianismo. O império Constantino declarou que o método utilizado
anteriormente era pagão, defendendo que o sepultamento em terra
tinha um grande significado para os cristãos,. As igrejas eram agora
construídas sobre túmulos de mártires.

Em Roma, por exemplo, S. Pedro foi sepultado sobre um altar com


a inscrição do nome dele.

As classes altas eram sepultadas no chão consagrado dentro da


igreja.

Os cristãos acreditavam que desta forma o corpo ressuscitaria no


dia do julgamento. Os que não privilegiavam de posses para o funeral
eram enterrados em valas comuns.

Mais tarde, como era de se esperar, as igrejas ficaram lotadas de


túmulos.

Em 1374 a nuvem da peste negra pairava sobre a Europa, era


transmitida de diversas formas, principalmente por ratos. Esta doença
veio provocar milhões de mortos em apenas 18 meses. Os cemitérios
encontravam-se lotados e à medida que a doença se espalhava as
igrejas enchiam-se de corpos que acabavam amontoados uns em cima
dos outros, tornando-se a única saída transformar os pátios das igrejas
em cemitérios.

No século XVII o espaço tornou-se insuficiente e os cemitérios mais


uma vez foram deslocados, neste caso para fora dos pátios. O descanso
dos mortos era breve, visto que as instalações fúnebres eram alugadas,
e não compradas, o que significa que o corpo era removido em um ano
para dar lugar a um novo corpo. Actualmente muitos cemitérios
europeus cobram uma taxa por determinado período que pode ser de 20
até 100 anos.

Em 1780 as autoridades parisienses construíram um depósito


subterrâneo chamado de catacumba. O cemitério Père-Lachaise,

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fundado há duzentos, anos ainda oferece sepultamento permanente


dentro das suas criptas.

No interior da América os cemitérios não eram evoluídos


comparados com os europeus. As lápides não passavam de tábuas
escritas à mão que davam informação acerca de mortes violentas
Opostamente aos europeus, os jazigos americanos nunca foram
alugados e o seu tempo de permanência era indeterminado, mas com o
tempo a inevitável falta de espaço passou a ter um valor de imóvel para
quem quisesse garantir o seu lugar.

Em 1831 houve um movimento de vanguarda em Massachusetts


com o objectivo de levar a necrópole para fora da cidade e transformá-la
num lugar atractivo para o público.

Os cemitérios transformaram-se numa atracção turística, pois


foram criadas lindas paisagens nas suas periferias. Serviam como
parques, antes mesmo da existência destes.

No século XIX devido ao pouco conhecimento médico, todas as


pessoas que entrassem em estado de coma, por diversos motivos, eram
consideradas mortas e enterradas prematuramente.

As lápides...

As primeiras lápides eram formadas unicamente por cruzes em


madeira. Estas eram uma representação da morte mesmo antes de
serem um símbolo cristão.

A lápide individual, colocada sobre o túmul, é uma invenção


recente. O seu método de fabricação não mudou muito ao longo dos
séculos. Um martelo e uma talhadeira ainda são os materiais
necessários para a sua execução.

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Na América do século XVIII o granito era esculpido com figuras que


representavam a morte, estando também patentes, alguns símbolos que
representavam aquilo que mais importava para as pessoas de então.
Nos primeiros cemitérios dos Estados Unidos, no período puritano mais
propriamente foram encontrados grande número de símbolos da
mortalidade.

Actualmente as lápides são representações individuais.

Hoje em dia uma estátua que na altura demorava cerca de um ano


para ser construída, agora em três meses já se encontra completa
devido ao avanço da tecnologia das máquinas.

O método de cremação regressa...

Em 1900 funcionavam 20 crematórios espalhados por 7 cidades


dos Estados Unidos da América, 13 anos mais tarde cerca de 52
crematórios realizam mais de 10000 cremações num ano.

Actualmente as câmaras crematórias são controladas por


computador. Ao contrário do avanço destes,os indianos ainda continuam
a presenciar o acto de cremação sem a ajuda de qualquer tipo de
máquinas. Foi graças a estes, que o método já utilizado por antigos
voltou a ganhar força, como forma de ritual também.

As transformações sofridas pelo cemitério ao longo da história


reflectem desejos humanos e questões práticas para abrigar milhões de
cadáveres, embora os rituais de sepultamento fossem padronizados,
hoje em dia as pessoas querem uma despedida mais individual. A
tecnologia parece ajudar a satisfazer todas estas necessidades dantes
não obtidas, tanto a nível dos desenhos nas lápides, como no transporte
dos mortos até aos cemitérios.

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Sejam quais forem as mudanças que aguardam o cemitério do


futuro, a morte sempre será um negócio lucrativo e que fará milhões de
novos clientes anualmente.

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5. A vida após a morte

Existe vida para além da morte? Deixaremos simplesmente de


existir, ao morrermos? Se um homem morre, viverá ele de novo?
(Job 14, 14)

Demócrito e Epicuro são dois dos poucos grandes filósofos


antigos que claramente disseram não existir alma ou vida para a
além da morte. Para eles, e para os materialistas antigos, a alma e
as sensações eram indissociáveis do corpo, e desapareciam com ele.
«A morte, para nós, é um nada; porque quando o corpo se dissolver
nos seus elementos, não haverá mais sensações, e o que é
destituído de sensações nada é, para os seres humanos» (Cook,
1996))

Lucrécio, um discípulo de Demócrito e Epicuro, é


extremamente radical a este nível. Para ele a alma não existe, o
inferno é uma invenção e o medo de punições e dos deuses uma
atitude estúpida. «Tudo o que as fábulas contam sobre a vida pós
morte está aqui, nas nossas vidas. (…) É aqui nas nossas vidas que o
medo irracional aos deuses ameaça os mortais».

Curiosamente, na Bíblia, no Antigo Testamento, existem


também sinais de dúvidas sobre a imortalidade da alma. «Todos
saíram do pó e ao pó hão-de voltar». «Quem sabe se o sopro de vida
dos filhos dos homens subirá às alturas, e o corpo da vida dos
animais descerá ao fundo da terra?», avança-se no Eclesiástico.

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Mas são posições declaradamente marginais, quer a nível


religioso e filosófico, quer a um nível mais geral. A posição
largamente dominante em todas as sociedades e culturas, sempre
foi a da crença da imortalidade da nossa alma. Autores como
Dostoievsky colocaram a hipótese de a vida em sociedade ser
impossível, sem a crença colectiva na imortalidade: «Se destruíres a
crença humana na imortalidade, o amor e todas as forças vivas que
mantêm a vida do mundo ficarão irremediavelmente apagadas».

O cristianismo apenas reforçou e formalizou ainda mais a


crença humana na negação da morte. «Eu sou a Ressurreição e a
Vida. Aqueles que acreditam em mim, mesmo que morram como os
demais, viverão de novo. E todo aquele que vive e crê em mim não
morrerá para sempre», disse Cristo.

Na Idade Média, e no Renascimento, a dúvida não estava tanto


na nossa imortalidade, e na existência de uma vida para além das
nossas vidas de mortais, mas na natureza do céu, das recompensas
e dos castigos que esperavam aqueles que deixavam a existência
terrena.

Alguns místicos superlativaram o que na Carta a Coríntios se


afirmou: «Nenhuns olhos viram, nenhuns ouvidos ouviram, e
nenhuma mente imaginou o que Deus preparou para aqueles que O
amam». É o que faz John Donne, no século XVII: «Os mortos
acordarão como Jacob acordou, (…) e nos portões do céu entrarão, e
nessa casa viverão, lá onde não haverá Nuvem ou Sol, escuridão ou

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claridade, mas luz, lá onde não haverá barulho ou silêncio, mas


música, lá onde não haverá medos ou esperanças, mas fruição, lá
onde não haverá inimigos ou amigos, mas comunhão e identidade,
lá onde não haverá fins ou princípios, mas eternidade».

Subsistem, de qualquer modo, interrogações persistentes, no


plano da vida extra-terrena. Como conceber a vida humana pós-
morte? A Bíblia, na primeira Carta aos Coríntios, coloca esse
problema: «Mas, dir-se-á, como ressuscitam os mortos? Com que
corpos regressam?»

Tornar-se-ão os maus em bons, negando-se e transformando-


se? Será que só os bons ressuscitam e gozam de imortalidade?
Haverá castigo? E inferno?

São perguntas que merecem respostas desencontradas,


mesmo nos meios cristãos. Em relação à questão do inferno, por
exemplo, alguns teólogos mais fundamentalistas consideram-no
inevitável. «A ausência de inferno seria o cúmulo da injustiça,
porque seria conceder o mesmo fim a São Vicente de Paula e a
Marat, Judas, Nero ou Messalina. Os últimos quatro encontram-se lá,
sem dúvida, e substituir o inferno pelo purgatório seria igualmente
muito injusto», considerou um destacado padre francês do século
XIX.

Para muitos autores, ao invés, a natureza e a bondade divina,


pressupõe o perdão e a reconciliação. Não pode haver continuidade
e transposição de vícios e situações terrenas. Não tem sentido dar

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excessiva importância à maldade e crime dos homens: «Todos os


crimes merecem, claro está, ser tratados com misericórdia: todos
fazemos o que podemos, e a vida é demasiado dura e demasiado
cruel para condenarmos todas as nossas quedas.» (Comte-Sponville,
1999)

A explicação que o Alcorão dá sobre a necessidade da vida


após a morte é o que a consciência moral do homem demanda. Na
verdade, se não existisse vida após a morte, a própria crença em
Deus se tornaria irrelevante, ou, mesmo que alguém acreditasse em
Deus, seria um Deus injusto e indiferente. Ele teria sido um Deus
que um dia criou o homem, sem se preocupar com o seu destino
depois. Com certeza, Deus é justo. Ele punirá os tiranos cujos
crimes são incontáveis: mataram centenas de pessoas inocentes,
criaram grande corrupção na sociedade, escravizaram inúmeras
pessoas para servirem aos seus caprichos, e assim por diante. O
homem, que tem uma vida muito curta nesse mundo, e como esse
mundo físico também não é eterno, as punições e recompensas para
os maus e nobres actos das pessoas não é possível aqui. O Alcorão
de forma enfática afirma que o Dia do Juízo deve vir e que Deus
decidirá sobre o destino de cada alma de acordo com o registo de
suas acções:

O Dia da Ressurreição será o Dia em que os atributos de Justiça


e Misericórdia de Deus serão plenamente manifestados. Deus
cobrirá com Sua misericórdia aqueles que sofreram por Sua causa

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nessa vida terrena, acreditando que uma bênção eterna os esperava.


Mas aqueles que abusaram dos limites de Deus, não se importando
com a vida que estava por vir, estarão na condição mais miserável

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1. A vida após a morte

Existe vida para além da morte? Deixaremos simplesmente de


existir, ao morrermos? Se um homem morre, viverá ele de novo? (Job
14, 14)

Demócrito e Epicuro são dois dos poucos grandes filósofos


antigos que claramente disseram não existir alma ou vida para a além
da morte. Para eles, e para os materialistas antigos, a alma e as
sensações eram indissociáveis do corpo, e desapareciam com ele. «A
morte, para nós, é um nada; porque quando o corpo se dissolver nos
seus elementos, não haverá mais sensações, e o que é destituído de
sensações nada é, para os seres humanos» (Cook, 1996))

Lucrécio, um discípulo de Demócrito e Epicuro, é extremamente


radical a este nível. Para ele a alma não existe, o inferno é uma
invenção e o medo de punições e dos deuses uma atitude estúpida.
«Tudo o que as fábulas contam sobre a vida pós morte está aqui, nas
nossas vidas. (…) É aqui nas nossas vidas que o medo irracional aos
deuses ameaça os mortais».

Curiosamente, na Bíblia, no Antigo Testamento, existem também


sinais de dúvidas sobre a imortalidade da alma. «Todos saíram do pó e
ao pó hão-de voltar». «Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos
homens subirá às alturas, e o corpo da vida dos animais descerá ao
fundo da terra?», avança-se no Eclesiástico.

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Mas são posições declaradamente marginais, quer a nível


religioso e filosófico, quer a um nível mais geral. A posição largamente
dominante em todas as sociedades e culturas, sempre foi a da crença
da imortalidade da nossa alma. Autores como Dostoievsky colocaram a
hipótese de a vida em sociedade ser impossível, sem a crença
colectiva na imortalidade: «Se destruíres a crença humana na
imortalidade, o amor e todas as forças vivas que mantêm a vida do
mundo ficarão irremediavelmente apagadas».

O cristianismo apenas reforçou e formalizou ainda mais a crença


humana na negação da morte. «Eu sou a Ressurreição e a Vida.
Aqueles que acreditam em mim, mesmo que morram como os demais,
viverão de novo. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá
para sempre», disse Cristo.

Na Idade Média, e no Renascimento, a dúvida não estava tanto


na nossa imortalidade, e na existência de uma vida para além das
nossas vidas de mortais, mas na natureza do céu, das recompensas e
dos castigos que esperavam aqueles que deixavam a existência
terrena.

Alguns místicos superlativaram o que na Carta a Coríntios se


afirmou: «Nenhuns olhos viram, nenhuns ouvidos ouviram, e nenhuma
mente imaginou o que Deus preparou para aqueles que O amam». É o
que faz John Donne, no século XVII: «Os mortos acordarão como Jacob
acordou, (…) e nos portões do céu entrarão, e nessa casa viverão, lá
onde não haverá Nuvem ou Sol, escuridão ou claridade, mas luz, lá

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onde não haverá barulho ou silêncio, mas música, lá onde não haverá
medos ou esperanças, mas fruição, lá onde não haverá inimigos ou
amigos, mas comunhão e identidade, lá onde não haverá fins ou
princípios, mas eternidade».

Subsistem, de qualquer modo, interrogações persistentes, no


plano da vida extra-terrena. Como conceber a vida humana pós-morte?
A Bíblia, na primeira Carta aos Coríntios, coloca esse problema: «Mas,
dir-se-á, como ressuscitam os mortos? Com que corpos regressam?»

Tornar-se-ão os maus em bons, negando-se e transformando-se?


Será que só os bons ressuscitam e gozam de imortalidade? Haverá
castigo? E inferno?

São perguntas que merecem respostas desencontradas, mesmo


nos meios cristãos. Em relação à questão do inferno, por exemplo,
alguns teólogos mais fundamentalistas consideram-no inevitável. «A
ausência de inferno seria o cúmulo da injustiça, porque seria conceder
o mesmo fim a São Vicente de Paula e a Marat, Judas, Nero ou
Messalina. Os últimos quatro encontram-se lá, sem dúvida, e substituir
o inferno pelo purgatório seria igualmente muito injusto», considerou
um destacado padre francês do século XIX.

Para muitos autores, ao invés, a natureza e a bondade divina,


pressupõe o perdão e a reconciliação. Não pode haver continuidade e
transposição de vícios e situações terrenas. Não tem sentido dar
excessiva importância à maldade e crime dos homens: «Todos os
crimes merecem, claro está, ser tratados com misericórdia: todos

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fazemos o que podemos, e a vida é demasiado dura e demasiado cruel


para condenarmos todas as nossas quedas.» (Comte-Sponville, 1999)

A explicação que o Alcorão dá sobre a necessidade da vida após a


morte é o que a consciência moral do homem demanda. Na verdade, se
não existisse vida após a morte, a própria crença em Deus se tornaria
irrelevante, ou, mesmo que alguém acreditasse em Deus, seria um Deus
injusto e indiferente. Ele teria sido um Deus que um dia criou o homem,
sem se preocupar com o seu destino depois. Com certeza, Deus é justo.
Ele punirá os tiranos cujos crimes são incontáveis: mataram centenas de
pessoas inocentes, criaram grande corrupção na sociedade,
escravizaram inúmeras pessoas para servirem aos seus caprichos, e
assim por diante. O homem, que tem uma vida muito curta nesse
mundo, e como esse mundo físico também não é eterno, as punições e
recompensas para os maus e nobres actos das pessoas não é possível
aqui. O Alcorão de forma enfática afirma que o Dia do Juízo deve vir e
que Deus decidirá sobre o destino de cada alma de acordo com o registo
de suas acções:

O Dia da Ressurreição será o Dia em que os atributos de Justiça e


Misericórdia de Deus serão plenamente manifestados. Deus cobrirá
com Sua misericórdia aqueles que sofreram por Sua causa nessa vida
terrena, acreditando que uma bênção eterna os esperava. Mas aqueles
que abusaram dos limites de Deus, não se importando com a vida que
estava por vir, estarão na condição mais miserável

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BIBLIOGRAFIA

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Trevisan, Armindo, O Rosto de Cristo: A Formação do Imaginário e da Arte


Cristã

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