Salvador
2018
LÚCIA MARIA DA SILVA BARBOSA
Salvador
2018
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
2. A ABORDAGEM JUNGUIANA 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS 10
REFERÊNCIAS 11
3
INTRODUÇÃO
No último século, as internações, uma forma de tratamento muito utilizada com o objetivo
de se atingir a abstinência monitorada, foram sendo substituídas por tratamentos que colocam o
paciente como parte ativa nessas mudanças, motivando-o a buscar outras maneiras de se
relacionar com o mundo à sua volta, a fim de descobrir as razões que o levaram a consumir tais
substâncias e fazendo com que esse indivíduo desenvolva outras formas de lidar com os seus
problemas.
O indivíduo que passa à condição de dependente químico busca nessas substâncias uma
solução para seus problemas. Aos poucos, vai acumulando perdas e limitações que advém do
vício, o que dificulta o acesso a questões mais inconscientes e profundas de sua vida. O desafio,
para o profissional que trata desses tipos de paciente, é definir o melhor tratamento em cada caso,
buscando uma abordagem que vá além dos sintomas ocasionados pelo uso ou pela abstinência.
1
Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/saude-para-voce/saude-do-adolescente-e-do-jovem/uso-de-alcool-e-
outras-drogas. Acesso em: 25/05/2018.
4
A psicologia analítica, no que diz respeito às dependências, de maneira geral, propõe uma
investigação de fatores emocionais preponderantes, que levem o sujeito a ter o seu psiquismo
afetado pela própria condição de dependência, capaz de influenciar a sua vontade. Pode ocorrer,
por conta disso, uma ruptura que leva os elementos subjetivos a sofrerem repressão (ARAÚJO,
2014).
A leitura e compreensão dos arquétipos, como o herói negativo, por outro exemplo,
também permitem perceber o comportamento do indivíduo no sentido de conquistar espaço em
uma sociedade competitiva e excludente. A dependência química é uma das faces dessa sociedade
e compreender as suas causas é uma das formas mais eficientes de superá-la.
Ainda que a dependência química seja identificada apenas quando o indivíduo apresente
dificuldades ao lidar com o consumo de drogas legais ou ilegais, o seu comportamento em
relação ao uso de substâncias pode permitir que tal consumo seja, de fato, identificado como uma
psicopatologia. Essas substâncias sempre estiveram presentes na história da humanidade e na
relação do homem com o mundo a sua volta, com o propósito de alterar o funcionamento do
5
sistema nervoso central. A diferença é a forma como o uso de psicotrópicos foi vista pela
sociedade em determinado momento histórico.
O benefício inicial que a droga proporciona leva o indivíduo a buscar doses maiores e a
partir daí ela passa a ser um problema ainda pior, visto que a abstinência traz outros sintomas
fisiológicos e psicológicos. Por esse motivo, o consumo da droga não pode ser retirado de
maneira imediata, sob pena de trazer ainda mais danos. Desse modo, o tratamento da dependência
química deve ser realizado de maneira articulada e as causas do consumo compreendidas junto ao
paciente.
2
Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/estatsticas/tabelas-cid-10/. Acesso em: 25/05/2018.
6
Há que ressaltar, contudo, que, ainda que um indivíduo se enquadre em uma das
classificações descritas, a droga tem efeitos distintos em cada organismo. É preciso considerar
outros fatores, que não apenas o seu uso constante, como o significado que é dado ao uso da
droga bem como sua motivação, além dos prejuízos causados pelo seu consumo e os efeitos
causados pela falta do uso. Assim, em determinado momento o consumo passa a ser, de fato, um
transtorno de dependência de substâncias psicoativas. Palomo e Silveira (2006) indicam o século
XX como o momento em que:
Essa necessidade de realizar “viagens” indica uma habilidade autônoma da psique para
buscar respostas para os mistérios da vida que não são alcançadas normalmente. A droga, por sua
vez, do ponto de vista da psicologia analítica, atua como “facilitadora dessa vivência anímica,
como mensageira e condutora, para esse mundo desconhecido, para tudo aquilo que não é
possível denominar ego” (PALOMO E SILVEIRA, 2006, p. 202).
dependência, nesse sentido, é muito mais que fuga, ela se transforma em uma necessidade vital
de combater os sintomas que o próprio consumo produziu.
2. A ABORDAGEM JUNGUIANA
entendem que o caso da dependência química é análogo à figura de um herói inflado que, “na
tentativa de impulsionar o ego no sentido da transformação, aprisiona-se quando do contato com
o numinoso”. Essa experiência do numinoso, segundo os autores supracitados, se efetiva através
da religiosidade, que adquire potências, transcendendo a figura do ego. O uso de substâncias
químicas facilita e impulsiona tais vivências, como uma ampliação do campo vivencial.
Tal necessidade é identificada por Zoja (1992), pela ausência de rituais de passagem na
contemporaneidade. Daí a busca pela iniciação, uma “morte iniciática”, necessária para a entrada
na vida adulta. Trata-se, então, de um ego que se identifica com o arquétipo do herói, e, por isso,
nega-se as fases necessárias e difíceis para a transformação, a busca de si mesmo, o seu processo
de individuação.
A figura de Narciso também conflui, segundo Palomo e Silveira (2006, p. 209), para um
questionamento a respeito de alguns aspectos do processo de individuação “que poderiam
diferenciar o uso não problemático de substâncias modificadoras de consciência do
estabelecimento de uma dependência”.
A intuição e a sensação exercem um grande papel no que diz respeito à sujeição das
drogas, segundo Resende (2014). A partir da leitura dos “Tipos psicológicos” de Jung, o autor
acredita que há uma ligação psíquica entre o indivíduo e as drogas psicotrópicas. Trata-se, para o
9
autor, de uma busca natural do ser humano por novas descobertas e respostas, o que, por vezes, o
leva ao uso dessas substâncias.
Para elaborar sua tese, Resende (2014) evoca Zoja (1992) no que diz respeito a sua visão
quanto à figura do heroi, enfatizando a necessidade do indivíduo de viver experiências heróicas e
identificação com figuras de heróis. Desse modo, “a iniciação às drogas acaba por constituir um
ingênuo e inconsciente empreendimento para se conseguir uma identidade e um papel definido,
ainda que negativamente, através e com referência aos valores sociais” (RESENDE, 2014, p. 9).
Nessa mesma esteira, Fortim e Araújo (2014) abordam o arquétipo do herói para
investigar o comportamento do indivíduo quanto à dependência química, mas acrescentam,
também, o dinamismo arquetípico das consciências apolínea x dionisíaca para entender o
funcionamento psíquico do ser humano diante das dependências. Partindo da leitura de Bauer
(1982), os autores ressaltam que o uso de substâncias funciona como uma via por meio da qual se
atinge um mundo onde tudo pode acontecer. Dessa maneira:
Dioniso é a imagem da libertação, no entanto esse lado de Dioniso vai revelando, aos
poucos, seu lado sombrio, como a “loucura, selvageria e destrutividade” (FORTIM E ARAÚJO,
2014, p. 4). A dualidade vai se acentuando: o indivíduo vive, ao mesmo tempo, uma experiência
que lhe dá a impressão de liberdade, mas que também o aprisiona. Palomo e Silveira (2006)
10
compartilham da mesma interpretação, mas acrescenta que, tanto no mito do herói como no mito
de Dioniso, a figura arquetípica remete não apenas à busca de um sentido para a vida, mas a
própria experiência de estar vivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o consumo abusivo das drogas, surgem inúmeras discussões acerca dos tratamentos
que podem ser oferecidos aos indivíduos que se encontram em situação de dependência de
substâncias psicoativas. A disposição do paciente para ser tratado é essencial como no tratamento
de qualquer tipo de transtorno. No caso da dependência química, no entanto, é preciso fugir da
imagem de que se trata de uma vítima, a fim de dispor de um relacionamento particular que
investigue as razões que o levaram a buscar o uso dessas substâncias para suprir alguma das suas
necessidades que são, em primeira instância, psíquicas.
Outra via fundamental por meio da qual o acompanhamento terapêutico pode ser eficaz é
no sentido de promover a reinserção social do dependente, de modo que ele possa focar em
11
REFERÊNCIAS
BATISTA, J.D. Um paralelo entre o mito de Narciso e a dependência química dentro de uma
abordagem junguiana. São Paulo: Facis/IBEHE, 2002. Disponível em:
https://pt.scribd.com/document/38763880/um-paralelo-entre-o-mito-de-narciso-e-a-dependencia-
quimica-dentro-de-uma-abordagem-junguiana. Acesso em: 25/05/2018.
FORTIM, I.; ARAÚJO, C.A. Psicologia analítica e as dependências: uma revisão. Revista
junguiana, n. 32/2 – Desmedida, falta e excesso, 2014. Disponível em:
http://pesquisa.bvsalud.org/brasil/resource/pt/psi-59390. Acesso em: 25/05/2018.
ZOJA, L. Reflexões sobre o problema. In: Nascer não basta. São Paulo: Axis Mundi, 1992.