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O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS

Etnografia de movimentos
e durações no norte de Goiás
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André Dumans Guedes

O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS


Etnografia de movimentos
e durações no norte de Goiás

Prêmio de Melhor Tese de Doutorado no


“Concurso ANPOCS de Obras Científicas e Teses
Universitárias em Ciências Sociais – 2012”
Copyright © 2013, André Dumans Guedes
Direitos cedidos para esta edição à
Editora Garamond Ltda.
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Editoração Eletrônica
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Capa
Estúdio Garamond / Anderson Leal
sobre foto de Dimas Dario Guedes

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

G957t

Guedes, André Dumans


O trecho, as mães e os papéis : etnografia de movimentos e durações no norte
de Goiás / André Dumans Guedes. – 1. ed. – São Paulo : Garamond, 2013.
456 p. : il. ; 21 cm. (Cultura e economia)
Inclui bibliografia

ISBN 978-85-7617-302-1

1. Etnologia – Brasil. 2. Igualdade. 3. Mobilidade social. 4. Qualidade de


vida. 5. Política social. I. Título. II. Série.

13-04283 CDD: 306.01


CDU: 316

20/08/2013 21/08/2013

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, por


qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei nº 9.610/98.
…de-moram-se na beira da estrada…

Zé Ramalho –
Admirável gado novo.
Dedico este trabalho às valentes e
batalhadeiras mães de Minaçu.
AGRADECIMENTOS

Antes de mais ninguém, agradeço à professora Lygia Sigaud, com


quem tive o privilégio de conviver durante meus primeiros dois anos
de doutorado. Após o falecimento dela, José Sérgio Leite Lopes aceitou
me orientar, e por isso e por todo o apoio também lhe sou muito grato.
Agradeço também aos outros membros da banca examinadora da tese
que deu origem a este livro: Moacir Palmeira, Luiz Fernando Dias
Duarte, Carlos Vainer e Hélion Póvoa Neto. No Museu Nacional,
agradeço a todos os professores de quem fui aluno e às diversas ajudas
prestadas por Federico Neiburg, Márcio Goldman e John Comerford.
Meu irmão João Dumans e os amigos Kleyton Rattes, Cecília Mello
e Pedro Braum leram versões preliminares dos capítulos aqui apre-
sentados, e a eles agradeço de modo especial pelas críticas e sugestões.
Fernando Rabossi, Christina Toren e João de Pina Cabral me lembra-
ram de qual é o mapa da mina: escrever sobre algo que me apaixonasse.
O CNPq e o SECYT argentino forneceram-me bolsas de pesquisa
fundamentais para que este trabalho fosse concluído, e a estas institui-
ções agradeço também. Via o Prêmio ANPOCS na categoria melhor tese
de doutorado, esta última organização tornou possível esta publicação.
No Museu Nacional e suas adjacências, inúmeros amigos me
fizeram feliz e satisfeito por ser um antropólogo e poder conviver com
antropólogos; em nome deles todos, mando um abraço especial para
Raphael Bispo, Beatriz Matos, Letícia Carvalho, Felipe Evangelista,
Ana Carneiro e Rogério Brittes (e também para Virna, Zoy, Bruno,
Indira, Graziele, João, Marina, Gabriel, Levindo, Débora…). Em
nome do ETTERN e do IPPUR, faço uma menção toda especial ao
mestre Henri Acselrad e a Daniele Carvalho, incrível companheira
de aventuras pelo país por inúmeros anos.
Ao meu pai e minha mãe, grandes amigos e companheiros incon-
dicionais, mais uma vez obrigado por tudo. Para Pedro, Joana, Mateus
e Alice, outros abraços. A estas outras “mães” que sempre cuidaram
de mim, todo o meu amor: Aparecida, Fatinha, Pilar, Izete, Regina
e Ivani. A estes tantos amigos do peito, beijos sem fim: para os dois
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Brunos, Raquel, Bia, Marcelo, Wagner, Guilherme, Juninho, Silvério,


Patrícia, Carol, Fernanda, Vivianne, Mazinho, Breno, Régis, Guga,
Lívia, Helga, Diogo, Brenda, Gavazza, Ana Pri, Juliano, Carla, Paola e
mais todo o pessoal da Praça Imunda/Pavilhão/Celga/Camisa de Força.
Em Goiás, agradeço aos bravos companheiros ligados ao
Movimento dos Atingidos por Barragens através da pessoa de Agenor
Costa. Na casa dos Castilho, mando um imenso abraço para Tiana,
Domingos, Teinha e Jefferson. Paula, Maria e Sidnei são outros grandes
amigos de quem nunca me esquecerei. Agradeço ainda a Abi, Japão,
Paulo Lúcio, Seu Alcides, Seu Clemente, Boiadeiro, Ilakstan, Ana
Alice e Fiderico. Agradeço por fim a todos os militantes do MAB do
sul do país, e aos colegas da turma Haydée Santamaría, do Curso da
Energia.
SUMÁRIO

PREFÁCIO 15

INTRODUÇÃO 21
Regina e seus dilemas 22
A pesquisa e sua trajetória 24
Formas de pensar e pesquisar a mobilidade 29
Definindo objetos, grupos, áreas e estratégias analíticas 37

CAPÍTULO 1 – AS FEBRES E A MÃE 51


Parte 1 – Minaçu e sua mãe 51
Chegada em Minaçu 51
A Sama 58
Cidades que acabam 67
Parte 2 – Febre da castelita, do ouro, das barragens 70
O garimpo, o dinheiro maldito e as pepitas 70
Uma, duas, três barragens 83
Febres no tempo e no espaço 89
As mães e as febres 96

CAPÍTULO 2 – OS LISOS E OS CATIVOS 101


Parte 1 – Os cativos: passado e presente 101
Primeira situação: o trabalho nas barragens 107
Segunda situação: da firma para o garimpo 115
1) Ascensão social e igualitarismo 127
2) A generosidade do patrão 129
3) Mobilidade, autonomia e independência 134
Terceira situação: lembranças das boiadas 137
Quarta situação: correr atrás da casa própria 142
Quinta situação: o meio ambiente e a sujeição à lei 150
Sexta situação: as espanholas 152
A duração da relação e o valor do que é próprio 155
Parte 2 – Os lisos: o presente basta 161
Jovens a rodar 161
Instabilidade e rotatividade no trabalho 166
Em defesa da sociedade 172

CAPÍTULO 3 – O TRECHO E A FAMÍLIA 177


Parte 1 – O trecho e os peões 177
O trecho na literatura 179
Peões para todo lado 185
Parte 2 – Socialização na e para a mobilidade 189
Homens no trecho, pés-de-pano e barraginhos 191
Encontros e desencontros 203
Andar ou correr? Os pés e suas diferentes velocidades 211
Parte 3 – O mundo e o trecho 219
A família e a mobilidade enquanto valores 219
Do mundo ao trecho 233

CAPÍTULO 4 – CORRIDOS E LIDOS 241


Parte 1 – Os corridos 241
Os corridos lendo (e contando histórias) 241
Os corridos correndo (e aventurando-se) 259
Parte 2 – Os lidos 273
Pesquisadores e detetives 273
Aviões e o fim do mundo 283
Papéis e gravatas 300
Parte 3 – Lidos e corridos no mundo e na fronteira 323
A fronteira e o mundo 323
Um livro e dois ou três bandeirantismos 327

CAPÍTULO 5 – O MOVIMENTO E O SOCIAL 339


Parte 1 – O movimento 339
Direitos, projetos e cestas 340
Andanças com o movimento 343
Da revolta à chegada dos militantes 353
Cursos e aprendizados com os militantes 358
Os documentos e a reparação dos atingidos 373
Parte 2 – O social 384
De cabaré a secretaria 384
As cestas, os cadastros, o cativeiro da ajuda 388
O curso e o curral 397
A ação social e a sociedade 408

CONCLUSÃO 423
Fugir do mundo e fugir no mundo:
o sossego, o trecho e o milenarismo 423
O trecho, as mães e os papéis – palavras e durações 431
Do que vai e volta às metanarrativas da modernidade 436

BIBLIOGRAFIA 445
PREFÁCIO

Quem abriu o livro que se prepare para uma aventura. André Dumans
Guedes não nos deixa sossegar: abre no mundo, no rumo dos que cir-
culam no trecho, entre Goiás, Minas, Bahia, Maranhão, Tocantins e
por aí afora. E aquilo que tem a dizer coloca em risco maneiras muito
cristalizadas de pensar a mobilidade dessas pessoas.
Paradoxalmente, para desenvolver suas pesquisas sobre mobili-
dade, o pesquisador, após sua chegada por via de um “Movimento”
(o Movimento dos Atingidos por Barragens) a uma pequena cidade
goiana, hoje considerada muito parada por seus habitantes em função da
decadência do garimpo, ficou basicamente “parado”. Permanecendo “à
toa” próximo à sede do Movimento, hoje voltada principalmente para
a distribuição de cestas básicas, andando pela cidade principalmente
a pé – esse modo de deslocamento lento claramente marcado por ali
como feminino – causou estranhamento aos rapazes que valorizam a
velocidade dos carros e motos e narram histórias de farras e andanças
pelo mundo em busca de lugares de muito movimento. Justamente em
função de ter sido tão central na situação de pesquisa esse jogo entre
gênero, modos de permanência, modos de mobilidade e de ausência,
posição social, trabalho, (des)mobilização e velocidades, sobre tudo isso
o livro tem muito a dizer. Mostra que é impossível pensar a mobilidade
e a imobilidade separadamente, ou delimitar entre elas uma relação
unívoca ou totalmente previsível. Aponta polos por onde se movem
essas pessoas, a mãe e o mundo, o sossego e a aventura, o duradouro
e o efêmero, em torno dos quais redesenham seus horizontes, tanto
quanto lhes permita a liberdade e autonomia que possam alcançar.
Tais polos podem ser concebidos e vividos em diferentes modos de
relação, como artifício e realidade, estabilização e fluxo, englobado e
englobante, como complementares, ou ainda como momentos distintos,
alternados ou subsequentes.
Batendo-se contra o senso comum e as interpretações que imagi-
nam e explicam a movimentação incessante de muita gente pelo interior
do país afora como irracionalidade, atavismo, anomia, incapacidade
16 · O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS

de fi xar-se, ou ainda como resultado imediato de imposições exógenas


do capital, do Estado ou do latifúndio, muitas vezes vendo em tais
movimentações a integral sujeição, alienação e ausência de sentido,
Guedes mostra quais as (múltiplas) concepções dessas pessoas a respeito
de uma vida que vale a pena ser vivida e como essas concepções se
relacionam com variadas experiências de movimentação ou estabili-
zação. Mais do que tomar a mobilidade ou a imobilidade em relação
a alguma esfera previamente delimitada, como a família, a economia
ou a religião, ou ainda como decorrência de um momento específico
de ciclos ou estratégias dispostos em referência a coordenadas espaciais
ou econômicas previamente definidas, somos levados a perceber a
polaridade entre movimento e estase, provisoriedade e permanência,
aceleração e desaceleração, perpassando as mais diversas situações
e relações. Nessa polaridade, articulam-se também novos sentidos,
enriquecendo e multiplicando vocabulários relativos à partida e à
chegada, às relações de gênero, à paisagem e aos lugares, gerando
narrativas de saudade, sossego, conforto, casa e mãe, tanto quanto
histórias de fascínio, prazer e temor diante do estranho e dos estranhos,
do imprevisível, dos encontros e dos excessos do mundo. Explorando
maneiras de conceber deslocamentos presentes no universo que es-
tuda, condensadas, por exemplo, em termos como febre (do garimpo,
da cassiterita etc.), Guedes escapa de definições de mobilidade que
sejam externas ao mundo dos que por ali se movem, e faz isso com
uma agilidade que, contrastando com os seus lentos deslocamentos
a pé e sossegadas conversas na pequena cidade, faria inveja àqueles
dentre seus interlocutores mais dispostos a manobras audazes, rápidas
e surpreendentes.
Mas se a atenção ao modo de chegar, de partir e de mover-se,
bem como de narrar chegadas, jornadas e aventuras, permite a Guedes
uma percepção do que constitui uma vida boa e os bons deslocamentos
ou permanências para os diferentes interlocutores que encontra no seu
universo de pesquisa, permite também perceber o que é tido como
uma vida ruim, uma vida que se esvai. E ela pode ser ruim tanto na
permanência como no movimento: na imobilidade do cativeiro, ou na
movimentação que leva a perder-se no mundo; ao ficar preso ou parado
enquanto todos vão adiante, ou ao não encontrar lugar algum para
ANDRÉ DUMANS GUEDES · 17

sossegar, construir, criar e descansar. Nesse ponto, o trabalho reencontra


as reflexões elaboradas por antropólogos em torno de concepções cam-
ponesas de cativeiro e de liberdade, e se soma a elas, trazendo à tona o
modo singular pelo qual no universo em foco se articulam horizontes
de autonomia, ou a autonomia como horizonte e como luta.
Cabe também chamar a atenção para a fina análise da complexa
relação entre permanência, provisoriedade, gênero e família. Se o
horizonte de tornar-se mãe puxa consigo concepções e expectativas
de permanência, esse horizonte não compõe imediatamente ou ne-
cessariamente com expectativas e noções de conjugalidade ou pater-
nidade. De modo que a referência básica para o esforço de construir
a permanência e estabelecer o contraponto ao mundo (que contudo
nunca deixa de fazer parte do horizonte da família) é a figura da mãe.
Mas isso não impede que haja momentos em que uma conjunção de
mãe/esposa e pai/marido e filhos se ponha no horizonte e se realize
como experiência, que, todavia, não necessariamente chega a se arti-
cular como estado definitivo ou fi xar-se ao modo de um patrimônio.
Guedes nos apresenta vários homens que já tiveram família, hoje não
têm mais, mas talvez voltem a ter. Ou que, dentre os vários filhos que
têm ou lhes são atribuídos, reconhecem alguns e não outros. Ou um
caso em que a partir das necessidades de trabalho um casal constituiu,
por algum tempo, “uma família”, tendo jovens peões do trecho como
filhos – e isso perdurou em certa medida no tempo e no espaço. As
variações parecem ser muitas, tanto para os homens como para as mu-
lheres. A intensidade dos laços não parece necessariamente associada
à sua duração no tempo, de modo que podem surgir duplas de jovens
que são “como irmãos”, ou turmas que são “como uma família”, mas
que subitamente se dissolvem e cada um toma seu rumo, saindo no
liso, ágil e surpreendentemente. Mas há configurações que perduram,
cristalizam-se e levam a buscar rumo puxando carreta, lenta e planeja-
damente. As vidas dessas pessoas, inclusive ao configurar-se como vida
em família, podem se articular em diferentes velocidades. Percepções
mais estáticas, estatais e estatísticas da família terão dificuldades de
apreender tais modos de familiarização em todas as suas dimensões,
tornando necessário o esforço de descentrá-las, como fez por exemplo
James Ferguson em seu trabalho sobre arranjos domésticos e familiares
18 · O TRECHO, AS MÃES E OS PAPÉIS

na Zâmbia em processos de urbanização e desurbanização e sobre as


leituras feitas em torno desses arranjos, e como o leitor verá acontecer
neste livro.
Mas essa audaciosa reconsideração dos sentidos da mobilidade
e da permanência em populações rurais, feita, na melhor tradição
antropológica, a partir do ponto de vista dos interlocutores, não seria
possível sem outro aspecto central da reflexão de Guedes. Uma das
dimensões da (boa) vida dos corridos, aqueles que correm trecho, é o
seu modo de ler os papéis que o mundo oferece, de lê-los como parte
do mundo e não à parte do mundo. Instigado pelos surpreendentes
diálogos com um velho roceiro em busca de boas conversas (que per-
cebe “pesquisa” como busca e coleta de “provas”), ou pela estranheza
que lhe causa certa maneira de encarar os diversos tipos de cursos que
estão no horizonte dos jovens, Guedes contrasta esse modo de ler
papéis ou acompanhar os cursos com o modo de ler e cursar dos lidos,
os letrados que chegam do Sul, assim como contrasta paralelamente o
modo de correr o mundo de corridos e o de lidos. Verifica que, em certo
sentido, diante dos mesmos papéis, dos mesmos cursos ou dos mesmos
deslocamentos geográficos, lidos e corridos estarão diante de objetos
ou atividades de distinta natureza e percorrerão mundos diferentes,
para fascínio e desconfiança dos corridos, e incômodo e desprezo dos
lidos. Com base na etnografia desse desencontro e da reflexão sobre
ele, que o leva a falar em distintos regimes de signos, o pesquisador
repensa os sentidos e apropriações possíveis tanto da sua atividade de
pesquisa, quanto dos cursos promovidos pelo Movimento por via do
qual chegou ao campo, e explora também nesses termos os sentidos
dos deslocamentos e de suas possíveis apropriações por aqueles que
vivem tendo no trecho um horizonte possível.
Partindo dessa cidadezinha parada, ele mesmo aventureiramen-
te parado, frequentando a sede fi xa de um movimento que hoje ali
pouco “mobiliza”, Guedes nos leva, com o prazer e a curiosidade que
reencontra nos seus interlocutores, aos movimentos incessantes de um
largo mundo sujeito a febres que mobilizam paixões, habitado por gente
saudosa de um sossego que, às vezes, nunca conheceu, e ao mesmo tempo
fascinada por um mundo que nunca cessa de surpreender. Assim, o que
o leitor irá descobrir nessa leitura não serão peões movidos por algum
ANDRÉ DUMANS GUEDES · 19

jogador quase onipotente em um tabuleiro já esquadrinhado, ou gente


incapaz de evitar um nomadismo anômico. Com felicidade, Guedes
apresenta essas pessoas como possíveis companheiros ou companheiras
de aventuras, seus eventuais parceiros ou parceiras de prosas sossegadas
mesmo que meio desencontradas, às vezes militantes, às vezes família,
às vezes na vida, ou perdidos no mundo, mas sempre buscando, com a
devida desconfiança, evitar cativeiros, ainda que nem sempre consigam.

John Comerford
Professor do Programa de Pós-graduação em Antropologia
Social (PPGAS), Museu Nacional – UFRJ

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