Você está na página 1de 5

REFLEXÕES SOBRE O LIVRO "CUIDE DE SUA

ALMA" de THOMAS MOORE

Mens sana in corpore sano; a palavra sanidade deriva do latim


"sanus" que significa "sadio, saudável". A frase latina "mens sana in
corpore sano" significa simplesmente "uma mente sadia num corpo
sadio", integração que deveria ser feita pela alma, é o que nos propõe
Thomas Moore, autor do livro "Cuide de sua alma". "Podemos cultivar,
tratar, desfrutar das coisas da alma, mas não podemos enganá-la ou
moldá-la sob os desígnios de um ego voluntarioso".

Neste livro, ele nos alerta para o grande mal do século XX, a perda
da alma, baseando-se nos ensinamentos de antigos psicólogos, em
deuses mitológicos, em autores de livros auto-ajuda como Marcílio
Ficino em seu livro "The book of life" escrito há 500 anos, que dava
ênfase em uma cuidadosa escolha de temperos, óleos, lugares por
onde caminhar, países a se visitar, etc.
Desafiando a psicoterapia contemporânea e sua incansável busca por
mudanças, Thomas Moore sugere como conciliar espiritualidade e
vida moderna.
Cuide de sua alma oferece ao leitor um novo modo de encarar a vida
e seus problemas, incentivando-o a procurar pela realidade de um
modo diferente, mais significativo e amplo. Trata-se de um livro sobre
a vida do espírito, que ajudará o leitor a cuidar de sua alma, dando
sugestões concretas como: dar atenção especial a todas as emoções,
boas ou más; elevar a espiritualidade e trazê-la aos relacionamentos;
criar e procurar por beleza no mundo; parar de ver seu corpo como
uma máquina e reconhecer os muitos modos pelos quais expressa a
condição da alma; optar por um trabalho que satisfaça a alma.

Esta sabedoria antiga enfocada pelo olhar de Thomas Moore nos


revela que a alma é uma essência que esta contida em todas as
coisas da natureza, em todos os seres, objetos, nas artes, e que se
aprendermos a dar mais atenção e sermos mais cuidadoso a esse
respeito, teremos então encontrado o caminho para uma melhor
qualidade de vida. Thomas Moore nos diz que a alma humana não é
para ser entendida; em vez disso, porém, tentar entender como a
nossa vida tomou forma, de que maneira chegamos até aqui e o que
estamos fazendo com ela é o que importa. "Quando as pessoas
observam as maneiras pelas quais a alma se manifesta, elas se
enriquecem, e quando se observa a alma com a mente aberta,
começa-se a entender as mensagens que se encontram nas doenças,
as correções que podem ser descobertas no remorso, e mudanças
necessárias exigidas pela depressão e ansiedade".

Não raro nas terapias, espera-se mudanças para atingir a normalidade


e esquece-se justamente do ponto mais importante que é
propriamente o alimentar, o cuidar da alma.

A observância terapêutica básica, antes de qualquer coisa consiste


em ouvir e perceber ao outro homeopaticamente, tudo o que esta
sendo revelado consciente e inconscientemente. O autor ressalta que
observar a alma pode ser mais simples do que se espera, e com
respeito a cuidar dela, "gestos simples não parecem ter importância
porem são fundamentais à alma".
A curiosidade aguçada sobre as maneiras de como a psique se
manifesta nos outros e em nós mesmos, é uma forma de cuidarmos
da nossa alma. O amor por ela pede que fiquemos atentos para a
complexidade da vida humana, e segundo Epicuro, filósofo que
enfatizava os prazeres simples como meta de vida disse que "nunca é
cedo demais ou tarde demais para cuidar do bem estar da alma".

Um outro ponto que o autor considera importante é o respeito que


devemos ter aos nossos ancestrais, pais, avós, etc. Se alimentarmos
algum tipo de mágoa relacionadas a essas pessoas, estaremos
prejudicando a nós próprios, e devemos fazer alguma coisa para
eliminá-las, pois isso seria essencialmente importante no cuidado com
a nossa alma. A família é a matriz de tudo o que é moldado na alma,
alegria, amor, ódio, companheirismo, etc.

Não raro, começamos a imitar sem nos darmos conta, os mesmos


gestos e ações praticados por uma pessoa que admiramos ou que
temos um grande carinho, pelo resto da existência, mesmo depois de
perdermos contato com essa pessoa. O cuidado constante com a
alma consiste em perceber a origem destes gestos em nossa
personalidade, para extirpa-los ou não, pois muitas vezes são
benéficos a todos, porém o terapêutico estaria em tão somente
reconhecer o porque de agirmos assim.

Parece-me que o autor Thomas Moore pretendeu com muita


preocupação nos alertar que, para cuidar do outro, necessitamos
antes de tudo, libertar a nossa própria alma, compreendendo melhor
os seus conteúdos de ideologias, pressões da sociedade, governo,
mídia, amigos, inimigos, das instituições, de signos, de mitos, de
paradigmas, auto-estima, egocentrismo, religião, opiniões, ciúmes,
elogios, raivas, alegrias, etc, etc, etc...Ninguém nunca nos falou como
funcionamos, de dentro para fora, porque temos vícios, defeitos,
qualidades, etc. Em geral a psiquiatria não permite muita liberdade de
ação e muitos problemas são rotulados como psicológicos, e também
dizem que as escolhas não são boas e instruem para que façam
outras escolhas. Devemos sair das áreas do cérebro que tem a ver
com a personalidade, associação com coisas, pessoas, etc; deixar de
existir nos centros associativos do cérebro.

Pessoas que acham que a vida é entediante, nunca procuraram ouvir


suas almas, entendê-la; estão hipnotizadas por seus ambientes, pela
mídia, televisões, pessoas que ditam ideais. Rendendo-se a isso,
seguem suas vidas com mediocridades, e nessa ilusão suas
almas nunca aparecem, nunca se mostram para que possam mudar.
Porém, se a alma vier à tona, a vida começa a tomar outro sentido; a
conexão com a alma provoca mudanças místicas.

O ser humano tem uma complexidade que esta muito presente na


construção da personalidade, as religiões e a idéia de Deus, por
exemplo; não se pode saber o que é Deus, mas é forte a influência em
nossas vidas, queiramos ou não, e pedir para alguém explicar Deus
seria como pedir a um pássaro explicar o ar em que voa, porém temos
que reconhecer o abstrato.

Para estar bem consigo mesmo, as pessoas deveriam não cuidar do


corpo, mas da alma. Penso que o cuidar da alma implica em constante
vigília, e isto não fará com que resolvamos a complexidade dos
habitantes de nosso próprio ser, porém talvez consigamos melhorar os
relacionamentos entre eles.

Por isso, a escuta terapêutica é tão importante e para poder praticá-la,


tem que se estar muito preparado.

Um artigo na internet dizia que em certa ocasião estava um senhor


muito rico observando madre Tereza a cuidar de doentes, miseráveis
e pobres com muito carinho, e lhe disse: - "eu não faria isso por
dinheiro algum do mundo!", ao que ela respondeu: - "eu também não,
meu caro amigo".

Parece-me que madre Tereza, ao praticar a caridade, encontrou uma


maneira de cuidar um pouco da sua própria alma, pois como diz o
poeta, nos caminhos desta vida, a plantação é livre, porém a colheita
é infalível e obrigatória....

por Gerson Cavalieri

Você também pode gostar