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Informativo 621-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CIVIL
DIREITO À IMAGEM
A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da imagem de pessoa como coadjuvante em documentário
que tem por objeto a história profissional de terceiro.
EVICÇÃO
É dever do alienante transmitir ao adquirente o direito sem vícios, de forma que se caracteriza a evicção se existir
um gravame que impede a transferência do bem.
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
É possível a aplicação do art. 528, § 7º do CPC/2015 para execuções iniciadas na vigência do antigo CPC.
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Plano de saúde coletivo que mais se assemelha a um contrato individual e impossibilidade de rescisão unilateral
imotivada.
DIREITO PENAL
LEI MARIA DA PENHA
Fixação do valor mínimo para reparação dos danos prevista no art. 387, IV, do CPP.
DIREITO TRIBUTÁRIO
PIS/COFINS
O valor pago a título de ICMS não deve ser incluído na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS.
DIREITO INTERNACIONAL
HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA
A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual na homologação de
provimento estrangeiro.
Não cabe renúncia em processo de homologação de sentença estrangeira.
DIREITO CIVIL
DIREITO À IMAGEM
A Súmula 403 do STJ é inaplicável para representação da imagem de pessoa como coadjuvante
em documentário que tem por objeto a história profissional de terceiro
O debate, portanto, é saber se a utilização da imagem do indivíduo, ainda que realizada por meio de um
ator (dublê), sem a devida autorização, em filme, serve de suporte ao pedido de reparação de danos
materiais e compensação de danos morais, independentemente da comprovação de prejuízo.
EVICÇÃO
É dever do alienante transmitir ao adquirente o direito sem vícios, de forma que se caracteriza a
evicção se existir um gravame que impede a transferência do bem
Evicção
A evicção ocorre quando:
- a pessoa que adquiriu um bem
- perde a posse ou a propriedade desta coisa
- em razão de uma decisão judicial ou de um ato administrativo
- que reconhece que um terceiro possuía direitos anteriores sobre este bem
- de modo que ele não poderia ter sido alienado.
Após perder a posse ou a propriedade do bem, o adquirente (evicto) deverá ser indenizado pelo alienante
por conta deste prejuízo. O fundamento desta indenização está no princípio da garantia. Logo, não
interessa discutir se o alienante estava ou não de boa-fé quando vendeu o bem. Mesmo de boa-fé, ele
terá a obrigação de indenizar o evicto.
Evicção vem do latim evincere ou evictio, que significa algo como “ser vencido”. Na língua portuguesa
existe o verbo “evencer”, que significa “promover a evicção de alguém”.
Exemplo
João comprou um terreno de Bartolomeu. De repente, aparece Gilberto ajuizando uma ação
reivindicatória contra João e afirmando que Bartolomeu não poderia ter vendido o terreno porque não
lhe pertencia. A ação é julgada procedente e João perde o terreno.
Personagens
Na evicção, temos os seguintes personagens:
• evictor: é o terceiro reivindicante do bem (ex: Gilberto);
• evicto: é o adquirente do bem, que perdeu a ação movida pelo evictor (ex: João);
• alienante: é o que transferiu o bem ao evicto, e por isso, deve responder pela evicção, indenizando-o
(ex: Bartolomeu).
O valor do preço do bem é calculado segundo a data da evicção (e não com base no dia da aquisição):
Art. 450 (...)
Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que
se evenceu (no momento da perda e não na data da alienação), e proporcional ao desfalque
sofrido, no caso de evicção parcial.
Assim, por exemplo, se a pessoa comprou o bem por 200 mil reais, mas na data da evicção (anos mais
tarde), a coisa valia 300 mil reais, este último valor é que deverá ser devolvido ao evicto.
A ação deverá ser julgada procedente? A empresa tem direito de ser ressarcida? Houve evicção neste caso?
SIM.
Caracteriza-se evicção a inclusão de gravame capaz de impedir a transferência livre e desembaraçada
de veículo objeto de negócio jurídico de compra e venda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.713.096-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2018 (Info 621).
Neste caso, é possível falar em evicção mesmo não tendo havido “perda da coisa”?
SIM. Tradicionalmente, fala-se que a evicção é a perda da coisa.
No entanto, a Min. Nancy Andrigui explica que a evicção não se configura apenas com a “perda da coisa”
em si, mas sim com a privação de um direito que incide sobre a coisa. Esse direito pode ser não apenas
sobre a propriedade, mas também sobre a posse.
Assim, ocorre a evicção quando há privação do direito de propriedade ou de posse sobre a coisa. E essa
privação pode ser total ou parcial.
A inclusão de um gravame sobre a coisa é um exemplo de privação parcial que incide sobre o bem.
O fato de ter sido constituído um gravame sobre o bem, tornando necessário o ajuizamento de embargos
de terceiro para que se pudesse obter a respectiva liberação evidencia que houve o rompimento da
sinalagmaticidade das prestações. Isso porque pelo contrato, o alienante deveria ter transmitido o bem
livre de qualquer restrição, sob pena de responder pela evicção. Em palavras mais simples, o alienante
não cumpriu a sua parte da obrigação.
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
É possível a aplicação do art. 528, § 7º do CPC/2015
para execuções iniciadas na vigência do antigo CPC
O devedor impetrou habeas corpus alegando, dentre outros argumentos, que a decisão não poderia ter
aplicado o art. 528, § 7º do CPC/2015 considerando que a execução teve início com o CPC anterior.
O art. 528, §7º, do CPC/2015 apenas positivou o entendimento contido na Súmula 309 do STJ, publicada
em 19/04/2006, de modo que a regra vigente à época do início da execução de alimentos já era a mesma.
Veja o que diz o enunciado do STJ e confira que possui redação semelhante ao art. 528, § 7º do CPC/2015:
Súmula 309-STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.
Desse modo, o art. 528, § 7º do CPC/2015 é uma pseudonovidade normativa (DIDIER JR., Fredie. Eficácia
do novo CPC antes do término do período de vacância da lei in Coleção grandes temas do novo CPC: direito
intertemporal. Vol. 7. Coord.: Flávio Luiz Yarshell e Fábio Guidi Tabosa Pessoa. Salvador: Juspodivm, 2016.
p. 317/323).
Ainda que assim não fosse, a teoria do isolamento dos atos processuais, expressamente adotada nos arts.
14 e 1.046 do CPC/2015, determina que a nova legislação processual deverá ser aplicada imediatamente,
respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas, não havendo, na
hipótese, retroação da lei nova sob qualquer ótica e, assim, inexistente a violação de qualquer regra de
direito intertemporal.
DIREITO DO CONSUMIDOR
PLANO DE SAÚDE
Plano de saúde coletivo que mais se assemelha a um contrato individual
e impossibilidade de rescisão unilateral imotivada
Não é válida a rescisão unilateral imotivada de plano de saúde coletivo empresarial por parte
da operadora em face de microempresa com apenas dois beneficiários.
No caso concreto, havia um contrato coletivo atípico e que, portanto, merecia receber
tratamento como se fosse um contrato de plano de saúde individual. Isso porque a pessoa
jurídica contratante é uma microempresa e são apenas dois os beneficiários do contrato,
sendo eles hipossuficientes frente à operadora do plano de saúde.
No contrato de plano de saúde individual é vedada a rescisão unilateral, salvo por fraude ou
não-pagamento da mensalidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.701.600-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/03/2018 (Info 621).
b) coletivo empresarial e
c) coletivo por adesão.
Nos contratos de plano de saúde coletivo, portanto, a relação jurídica de direito material envolve uma
operadora e uma pessoa jurídica que atua em favor de uma classe (coletivo por adesão) ou em favor de
seus respectivos empregados (coletivo empresarial).
(...)
II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da
mensalidade por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses
de vigência do contrato, desde que o consumidor seja comprovadamente notificado até o
quinquagésimo dia de inadimplência; e
DIREITO PENAL
Importante!!!
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível
a fixação de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido
expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e
independentemente de instrução probatória.
CPP/Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.643.051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018 (recurso
repetitivo) (Info 621).
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos
previstos neste Título:
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
Assim, a vítima (ou seus sucessores), de posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito em
julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.
Desse modo, se o magistrado, na própria sentença, já fixar um valor certo para a reparação dos danos,
não será necessário que a vítima ainda promova a liquidação, bastando que execute este valor caso não
seja pago voluntariamente pelo condenado.
Veja o parágrafo único do art. 63 do CPP, que explicita essa possibilidade:
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada
pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da
liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. (Incluído pela Lei nº 11.719/2008).
O STJ analisou a aplicação do art. 387, IV, do CPP nas sentenças proferidas em casos de violência contra a
mulher praticados no âmbito doméstico e familiar. Vejamos as principais conclusões:
O art. 387, IV, do CPP trata apenas de prejuízos materiais ou ele também poderá ser utilizado para danos
morais? O juiz, na sentença criminal, poderá condenar o réu a pagar indenização à vítima por danos morais?
SIM. O art. 387, IV, do CPP abrange tanto danos materiais como morais. Nesse sentido:
O juiz, ao proferir sentença penal condenatória, no momento de fixar o valor mínimo para a reparação
dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP), pode, sentindo-se apto diante de um caso
concreto, quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, desde que
fundamente essa opção.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.585.684-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016 (Info 588).
Isso porque o art. 387, IV, não limita a indenização apenas aos danos materiais e a legislação penal deve
sempre priorizar o ressarcimento da vítima em relação a todos os prejuízos sofridos.
Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do ofendido?
SIM. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima (art.
387, IV, do CPP), é necessário que haja pedido expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a
fim de que seja oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa
(STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1688389/MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/03/2018).
É necessário que o MP ou o ofendido, ao fazer o pedido, apontem o valor líquido e certo pretendido?
NÃO. Não é necessário que o Ministério Público ou a vítima quantifique o valor mínimo que pretende ver
fixado. Basta que seja pedida a fixação de valor mínimo a título de reparação do dano causado pelo crime,
sem necessidade de mencionar uma quantia líquida e certa.
Assim, por exemplo, basta que o MP diga: juiz, fixe a quantia mínima de que trata o art. 387, IV, do CPP.
Não é necessário que diga: Excelência, fixe R$ 20 mil a título de valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração.
Para a fixação do valor da reparação, é necessária a produção de provas dos prejuízos sofridos?
DANOS MATERIAIS: SIM.
Em caso de danos materiais, o juiz somente poderá fixar a indenização se existirem provas nos autos que
demonstrem os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime. Dessa feita, é importante que o
Ministério Público ou eventual assistente de acusação junte comprovantes dos danos causados pela
infração para que o magistrado disponha de elementos para a fixação de que trata o art. 387, IV do CPP.
Vale ressaltar, ainda, que o réu tem direito de se manifestar sobre esses documentos juntados e
contraditar o valor pleiteado como indenização. Nesse sentido:
A fixação da reparação civil mínima também não dispensa a participação do réu, sob pena de frontal
violação ao seu direito de contraditório e ampla defesa, na medida em que o autor da infração faz jus à
manifestação sobre a pretensão indenizatória, que, se procedente, pesará em seu desfavor. (...)
STJ. 5ª Turma. REsp 1236070/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/03/2012.
Resumindo:
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação
de valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação ou
da parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.643.051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018 (Info 621).
EXECUÇÃO PENAL
Unificação das penas não é considerado como sendo a data-base
para a concessão de novos benefícios da execução penal
Importante!!!
Mudança de entendimento!
A alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios, em razão da
unificação das penas, não encontra respaldo legal.
Assim, não se pode desconsiderar o período de cumprimento de pena desde a última prisão
ou desde a última infração disciplinar, seja por delito ocorrido antes do início da execução da
pena, seja por crime praticado depois e já apontado como falta disciplinar grave. Se isso for
desconsiderado, haverá excesso de execução.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.557.461-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
Situação hipotética 1:
Em 04/04/2010, João praticou o crime A.
Em 05/05/2011, João praticou o crime B.
Em 2012, João foi condenado a 6 anos pelo crime A, tendo recebido o regime inicial semiaberto.
Não houve recurso, tendo ocorrido o trânsito em julgado em 06/06/2012, iniciando-se a execução penal.
Em 2013, João, após cumprir 1/6 da pena, foi para o regime aberto.
Ocorre que, em 2014, sobreveio a condenação pelo crime B, tendo ele recebido a pena de 2 anos.
Houve trânsito em julgado em 07/07/2014.
Diante disso, o juiz unificou as duas penas: 4 anos que faltavam para cumprir a pena do crime A + 2 anos
do crime B.
João já estava no regime aberto, mas, como a pena unificada somou 6 anos, ele teve que regredir para o
regime semiaberto.
A data-base para a concessão dos benefícios da execução penal (ex: progressão) era 06/06/2012
(trânsito em julgado do crime A). Indaga-se: com a unificação das penas, essa data-base foi alterada? A
data-base passou a ser o dia do trânsito em julgado do crime B?
NÃO. A unificação das penas não altera a data-base para a concessão de novos benefícios da execução
penal. Isso porque a LEP não prevê essa alteração, devendo ser considerado todo o tempo que o apenado
já cumpriu de pena, ou seja, todo o tempo em que ele já ficou preso.
A alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios, em razão da unificação das
penas, não encontra respaldo legal.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.557.461-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
Assim, no exemplo acima, ao se calcular o prazo para que João obtenha nova progressão de regime, deverá
ser levado em consideração todo o período em que ele está preso, ou seja, desde 06/06/2012. Assim, ele
irá cumprir o requisito objetivo ao completar 1/6 da pena unificada contado desde 06/06/2012.
Situação hipotética 2:
Em 04/04/2010, Pedro praticou o crime A.
Em 2012, Pedro foi condenado a 6 anos pelo crime A, tendo recebido o regime inicial semiaberto.
Não houve recurso, tendo ocorrido o trânsito em julgado em 06/06/2012, iniciando-se a execução penal.
Em 2013, Pedro, após cumprir 1/6 da pena, foi para o regime aberto.
Em 05/05/2014, Pedro praticou o crime B.
O processo pelo segundo delito (crime B) ainda está tramitando. Mesmo assim, isso irá interferir na
execução penal relativa ao crime A. Haverá a regressão do sentenciado, na forma do art. 118, I, da Lei nº
7.210/84:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
Vale ressaltar que, para que haja a regressão com fundamento neste art. 118, I, da LEP não é necessário o
trânsito em julgado quanto ao novo crime cometido, bastando a sua prática. Este é o entendimento
pacífico do STF e do STJ.
Súmula 526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como
crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória
no processo penal instaurado para apuração do fato.
Desse modo, imagine que, em 07/07/2014, mesmo antes de haver condenação pelo crime B, o juiz já
determinou que Pedro sofra a regressão de regime.
Vale ressaltar que, com o cometimento do novo crime, há prática de falta grave, o que significa a
interrupção do prazo para a progressão de regime, nos termos da súmula 534 do STJ:
Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.
Em 08/08/2015, Pedro é condenado pelo crime B a uma pena de 4 anos, havendo trânsito em julgado.
A data-base para a nova progressão em favor de Pedro era 05/05/2014 (data do cometimento da falta
grave). Indaga-se: com a unificação das penas, essa data-base foi alterada? A data-base passou a ser o
dia do trânsito em julgado do crime B (08/08/2015)?
NÃO. A unificação das penas não altera a data-base para a concessão de novos benefícios da execução
penal. A LEP não prevê essa alteração.
A alteração da data-base para concessão de novos benefícios executórios, em razão da unificação das
penas, não encontra respaldo legal.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.557.461-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
O período de cumprimento de pena desde a última prisão ou desde a última infração disciplinar não pode
ser desconsiderado, seja por delito ocorrido antes do início da execução da pena, seja por crime praticado
depois e já apontado como falta grave.
Assim, no exemplo acima, ao se calcular o prazo para que Pedro obtenha nova progressão de regime,
deverá ser levado em consideração todo o período em que ele está preso desde a prática da falta grave
(07/07/2014 – data em que houve a interrupção por força de lei). Assim, ele irá cumprir o requisito
objetivo ao completar 1/6 da pena unificada contado desde 07/07/2014.
Não há alteração na data-base, seja o novo crime anterior ou posterior ao início da execução da pena
Se o crime foi anterior ao início da execução (situação 1), a superveniência do trânsito em julgado da
condenação enseja apenas a adequação da pena e o ajuste do regime, observando-se a detração e a
remição, ou seja, o apenado não perde o tempo de pena cumprido. O tempo de pena efetivamente
cumprido deve ser levado em consideração para a concessão de benefícios da execução, não havendo se
falar, portanto, em novo marco interruptivo.
Assim, caso o crime cometido no curso da execução tenha sido registrado como infração disciplinar, seus
efeitos já repercutiram no bojo do cumprimento da pena, pois, segundo a jurisprudência consolidada do
STJ, a prática de falta grave interrompe a data-base para concessão de novos benefícios executórios, à
exceção do livramento condicional, da comutação de penas e do indulto. Portanto, a superveniência do
trânsito em julgado da sentença condenatória não poderia servir de parâmetro para análise do mérito do
apenado, sob pena de flagrante bis in idem.
De igual forma, se o crime foi praticado após o início da execução (situação 2), a superveniência do trânsito
em julgado da condenação também só pode ensejar a adequação da pena e o ajuste do regime. Isso
porque a prática de crime durante a execução da pena é considerada falta grave, o que acarreta a
regressão de regime de cumprimento da pena e a interrupção do prazo para obtenção dos benefícios da
execução, fixando-se, nesse momento, a nova data-base. A superveniência do trânsito em julgado não
pode ser novo marco interruptivo, sob pena de um mesmo fato repercutir duas vezes sobre a execução,
sem que haja justificativa plausível, em evidente excesso de execução.
O delito praticado antes do início da execução da pena não constitui parâmetro idôneo de avaliação do
mérito do apenado, porquanto evento anterior ao início do resgate das reprimendas impostas não
desmerece hodiernamente o comportamento do sentenciado. As condenações por fatos pretéritos não
se prestam a macular a avaliação do comportamento do sentenciado.
Havendo nova condenação, há unificação das penas, mas sem alteração da data-base para os novos
benefícios
Se o reeducando está cumprindo pena e surge uma nova condenação, haverá a soma ou unificação das
penas. É o que prevê o art. 111, parágrafo único da LEP:
Art. 111 (...)
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á a pena ao restante da
que está sendo cumprida, para determinação do regime.
Não existe, contudo, previsão legal de que o simples fato de ter havido a unificação das penas signifique
que deverá haver alteração da data-base para novos benefícios. Não existe determinação legal nesse
sentido. Assim, haverá a unificação, mas sem nova interrupção do tempo necessário para a obtenção de
progressão de regime, por exemplo.
DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR
COMPETÊNCIA
Civil que furta arma de soldado da Aeronáutica dentro de estabelecimento militar: crime militar
Compete à Justiça Militar processar e julgar o crime de furto, praticado por civil, de patrimônio
que, sob administração militar, encontra-se nas dependências desta.
Caso concreto: civil furtou, dentro de estabelecimento militar, pistola que estava na posse de
soldado da Aeronáutica.
Fundamento: art. 9º, III, “a”, do Código Penal Militar.
STJ. 3ª Seção. CC 145.721-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
Qual foi o crime praticado por João e de quem é a competência para julgá-lo?
João praticou o crime de furto qualificado (art. 240, § 5º, do CPM), devendo ser julgado pela Justiça Militar.
Assim, para verificar se o fato pode ser considerado crime militar, sendo, portanto, de competência da
Justiça Militar, é preciso que ele se amolde em uma das hipóteses previstas nos arts. 9º e 10 do CPM.
Compete à Justiça Militar processar e julgar o crime de furto, praticado por civil, de patrimônio que, sob
administração militar, encontra-se nas dependências desta.
STJ. 3ª Seção. CC 145.721-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/02/2018 (Info 621).
DIREITO TRIBUTÁRIO
PIS/COFINS
O valor pago a título de ICMS não deve ser incluído na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base de cálculo
para a incidência da contribuição para o PIS e a COFINS.
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (repercussão geral)
(Info 857).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.100.739-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/02/2018 (Info 621).
Os chamados PIS e COFINS são duas diferentes “contribuições de seguridade social”, instituídas pela
União. Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP.
PIS/PASEP
O sentido histórico dessas duas siglas é o seguinte:
PIS: Programa de Integração Social.
PASEP: Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público.
O PIS e o PASEP foram criados separadamente, mas desde 1976 foram unificados e passaram a ser
denominados de PIS/PASEP.
Segundo a Lei nº 10.637/2002, a contribuição para o PIS/Pasep incide sobre o total das receitas auferidas
no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil.
COFINS
Significa Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social.
A COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) é uma espécie de tributo instituída pela
Lei Complementar 70/91, nos termos do art. 195, I, “b”, da CF/88.
A COFINS incide sobre o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de
sua denominação ou classificação contábil (art. 1º da Lei nº 10.833/2003).
A inclusão do ICMS na base de cálculo das referidas contribuições sociais leva ao inaceitável entendimento
de que os sujeitos passivos desses tributos faturariam ICMS, o que não ocorre.
O ICMS apenas circula pela contabilidade da empresa, ou seja, tais valores entram no caixa (em razão do
preço total pago pelo consumidor), mas não pertencem ao sujeito passivo, já que ele irá repassar ao Fisco.
Em outras palavras, o montante de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte porque tais
valores são destinados aos cofres públicos dos Estados-Membros ou do DF.
Dessa forma, a parcela correspondente ao ICMS pago não tem natureza de faturamento (nem mesmo de
receita), mas de simples ingresso de caixa. Por essa razão, não pode compor a base de cálculo da
contribuição para o PIS ou a COFINS.
Concursos
Penso que a explicação acima seja suficiente para a grande maioria dos concursos (Juiz, MP, Defensoria,
Procuradoria etc.). No entanto, se você estuda para concursos fiscais, é importante ler o acórdão na
íntegra para se aprofundar no tema.
DIREITO INTERNACIONAL
A decisão proferida pelo Poder Judiciário de um país produz efeitos em outro Estado soberano?
A princípio não, porque uma das manifestações da soberania é o fato do Poder Judiciário do próprio país
ser o responsável pela resolução dos seus conflitos de interesses.
Assim, a princípio, uma decisão proferida pela Justiça dos EUA ou de Portugal, por exemplo, não tem força
obrigatória no Brasil, considerando que, por sermos um país soberano, a função de dizer o direito é
atribuída ao Poder Judiciário brasileiro.
Pode ser necessário, no entanto, que uma decisão no exterior tenha que ter eficácia no Brasil. Como
proceder para que isso ocorra?
Em regra, para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no Brasil
é necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação” feito pela Justiça brasileira.
A isso chamamos de homologação de sentença estrangeira.
Veja o que diz o CPC/2015 sobre o tema:
Art. 961. A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença
estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido
contrário de lei ou tratado.
Assim, a lei ou tratado internacional poderá facilitar ou dispensar a homologação de sentença estrangeira
ou a concessão do exequatur. Ex: a sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil,
independentemente de homologação pelo STJ (§ 5º do art. 961 do CPC 2015).
Segundo a doutrina:
“O processo de homologação de sentença estrangeira visa aferir a possibilidade de decisões estrangeiras
produzirem efeitos dentro da ordem jurídica nacional” (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel.
Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 489).
“Uma vez homologada, a sentença poderá produzir os mesmos efeitos de uma sentença nacional”
(PORTELA, Paulo. Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 562).
CPC/2015. Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de
decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido contrário prevista em tratado.
Esta sentença estrangeira deverá ser homologada no Brasil? O que decidiu o STJ?
NÃO.
De acordo com o “princípio da efetividade”, todo pedido de homologação de sentença alienígena, por
apresentar elementos transfronteiriços, exige que haja algum ponto de conexão entre o exercício da
jurisdição pelo Estado brasileiro e o caso concreto a ele submetido.
Neste caso concreto, a sentença não envolve partes brasileiras ou domiciliadas no país, tampouco a lide
originária se refere a fatos ocorridos no Brasil, nem a sentença homologanda impôs qualquer obrigação a
ser cumprida em território nacional.
Deste modo, a ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual do
requerente. Isso porque o interesse de agir se encontra vinculado à necessidade e à adequação da
prestação jurisdicional, ou seja, quando a tutela tiver a potencialidade de trazer ao autor alguma utilidade,
que não lhe seria outorgada sem a intervenção estatal, assim também quando for apta a satisfazer
concretamente sua pretensão.
Aplicando tais conceitos ao procedimento homologatório, a doutrina afirma que o interesse de agir estará
presente sempre que “o provimento postulado seja apto e adequado a produzir algum resultado útil ao
autor, proporcionando-lhe determinada vantagem em sua esfera subjetiva de direitos. É sempre bom
lembrar que, em virtude da autonomia de que goza o juízo delibatório, essa utilidade deve ser valorada à
luz do procedimento pedido ao juiz no processo de homologação, não no processo estrangeiro já
encerrado” (ABBUD, André de Albuquerque Cavalcanti. Homologação de sentenças arbitrais estrangeiras.
São Paulo: Atlas, 2008, p. 108).
Em suma:
A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual na
homologação de provimento estrangeiro.
STJ. Corte Especial. SEC 8.542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/11/2017 (Info 621).
A homologação consiste em “ato formal de órgão nacional a que se subordina a aquisição de eficácia pela
sentença estrangeira” (MORAES, Guilherme Peña de. Homologação de sentença estrangeira à luz da
jurisprudência do STF. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 15).
A homologação é, portanto, apenas um pressuposto de eficácia da decisão alienígena (estrangeira) no
território nacional. Homologa-se a decisão estrangeira a fim de permitir a sua posterior execução. Desse
modo, a homologação de sentença estrangeira tem caráter meramente processual, sem correlação direta
com o direito material veiculado na ação original.
A renúncia, ao contrário da desistência, implica a impossibilidade de repropositura da ação, uma vez que
a parte dispõe (abdica) do próprio direito material em que se funda a ação.
Desse modo, não se pode renunciar no procedimento de homologação de sentença estrangeira porque
não se está discutindo a existência do direito material.
EXERCÍCIOS
Gabarito
1. C 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 8. E 9. E 10. C 11. E