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Percepção exegética
Quem escuta uma pessoa amada, presta atenção para captar mais do que o
significado superficial do que ela diz. O conteúdo importa, há desejo de captar a atitude
de quem fala, o que suas palavras deixam subentendido sobre o relacionamento pessoal
com ela, o que é relevante para ela, o que ela enfatiza e assim sucessivamente. Em relação
ao estudo do Novo Testamento, elementos de significado semelhantes podem ser
buscados. Tal capítulo fala de uma combinação fascinante usada pela língua grega para
mostrar ênfase, a saber, o uso dos dois negativos ouv mh, com um verbo no subjuntivo, para
indicar uma negação forte quanto ao futuro. Quem fala usa o verbo no subjuntivo para
sugerir uma possibilidade futura, mas, na mesma locução, nega enfaticamente, por meio
do duplo negativo, que algo semelhante pudesse chegar a acontecer. Tal combinação
ocorre oitenta e cinco vezes no Novo Testamento, frequentemente em promessas ou
reafirmações tranquilizadoras sobre o futuro.
Na descrição de Jesus sobre si como bom pastor (Jo 10), ele oferece uma das mais
valiosas destas promessas: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas
me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão [ouv mh. avpo,lwntai] [...]” (Jo
10.27-28). Seria suficiente colocar ouv com um verbo no futuro do indicativo, mas Jesus é
mais enfático. A combinação com o subjuntivo repudia enfaticamente a possibilidade de
alguma ovelha de jesus vir a perecer: certamente não perecerão, não perecerão de
maneira alguma, é o sentido da afirmação de Cristo. A promessa é reforçada pelo
acréscimo dos termos eivj to.n aivw/na, jamais (literalmente, para todo o sempre). A
promessa enfática de Jesus é o alicerce sólido da confiança certeira e da motivação para
cada uma das ovelhas dele, afirma Buist M. Fanning.
Visão geral
Português
Se um verbo faz uma declaração ou postula uma pergunta sobre fatos, ele está no
indicativo, que, normalmente, é o modo da realidade, declara o que realmente é.
O livro é vermelho.
O grego é divertido.
O hebraico não é difícil demais.
Por que estou procrastinando?
O subjuntivo não descreve aquilo que realmente é, mas o que pode ou poderia ser.
O modo não é de realidade, mas de possibilidade ou probabilidade. Talvez haja uma
distinção sutil entre pode e poderia, mas para os propósitos de estudo atuais poderão ser
considerados idênticos1.
1
A distinção técnica é que, se o verbo principal estiver no tempo presente ou futuro, usa-se pode; se o verbo
principal estiver em um tempo passado, usa-se poderia.
fato, e o modo seria da realidade. Não sendo rico, o falante usa a forma subjuntiva fosse:
se eu fosse rico.
Por a ação descrita por um verbo no subjuntivo não ser realizada, frequentemente
se refere a um evento futuro.
Grego
2
Na verdade, há poucos exemplos de subjuntivo perfeito (cf. informações avançadas).
3
O termo ousi(n) passa a ser wsi(n), mas o h| permanece.
Presente (contínuo) subjuntivo. O presente subjuntivo usa a raiz do tempo verbal
presente, mas alonga a vogal conectiva. O termo lu,omen, no indicativo, vira lu,wmen, no
subjuntivo.
A seguir, há o subjuntivo ativo de eivmi,. Não possui passivo (cf. apêndice para
formas dos verbos contraídos no subjuntivo).
Médio/passivo
1ª singular lu,wmai lu,omai
2ª singular lu,h| lu,h|
3ª singular lu,htai lu,etai
4
Não confundir esta forma com termos semelhantes (cf. apêndice).
indicativo usa terminações ativas, o aoristo passivo subjuntivo também usa terminações
ativas. O indício principal que demonstra a diferença entre os tempos é que o aoristo do
subjuntivo é formado da raiz do aoristo (e do formativo do tempo, se houver) do verbo.
TABELA: Aoristo.
SUBJUNTIVO INDICATIVO
1º aoristo 2º aoristo 1º aoristo 2º aoristo
Ativo
1ª singular lu,sw la,bw e;lusa e;labon
2ª singular lu,sh|j la,bh|j e;lusaj e;labej
3ª singular lu,sh| la,bh| e;luse(n) e;labe(n)
Médio
1ª singular lu,swmai ge,nwmai e;lusa,mhn evgeno,mhn
2ª singular lu,sh| ge,nh| e;lusw evge,nou
3ª singular lu,shtai ge,nhtai e;lu,sato evge,neto
Passivo
1ª singular luqw/ grafw/ e;lu,qhn evgra,fhn
2ª singular luqh/|j grafh//|j e;lu,qhj evgra,fhj
3ª singular luqh/| grafh/| e;lu,qh evgra,fh
Ao notar i[na, o leitor deve começar a procurar pelo subjuntivo. Eis alguns termos
que, geralmente, mas nem sempre, são seguidos pelo subjuntivo:
Empregos do subjuntivo
Mh. ou=n merimnh,shte le,gontej\ ti, fa,gwmenÈ h;\ ti, pi,wmenÈ h;\ ti, peribalw,meqaÈ (Mt
6.31)6
Portanto, não se preocupem dizendo: que vamos comer? ou que vamos beber? ou que
vamos vestir?
III) i;na e o subjuntivo. Quase sempre, i;na é seguido pelo subjuntivo e pode
indicar propósito.
As locuções i;na mh. e o[pwj mh. Podem ser traduzidas por a fim de que não ou algum
equivalente. São locuções idiomáticas.
5
O texto de Romanos 5.1 tem o texto alternativo de e;cwmen ou e;comen. Qual a diferença de significado,
especialmente na medida em que o leitor examina o argumento global de Romanos?
6
A expressão mh. merimnh,shte declara uma proibição. Há outro uso do subjuntivo (cf. capítulo 33).
As frases condicionais são classificadas segundo sua forma e recebem os títulos
primeira classe, segunda classe, terceira classe e quarta classe. As frases condicionais
de terceira classe sempre têm uma prótase introduzida por eva,n e um verbo no subjuntivo.
O verbo na apódose pode estar em qualquer tempo ou modo. Há duas subdivisões das
condições da terceira classe.
i) Futuro mais provável. Uma condição futura diz que, caso algo aconteça, outra
coisa certamente acontecerá.
Este exemplo é igual ao anterior, só que não foi usado pecar na tradução da
prótase, e amar está no tempo presente. Tal fato ilustra um problema nas frases
condicionais. Quanto à parte do tempo do verbo na apódose, só o contexto dirá se quem
fala está fazendo uma declaração específica ou declarando uma verdade geral. Se a frase
estiver fazendo uma declaração geral, talvez seja apropriado usar estiver falando
(subjuntivo futuro imperfeito em português), porque a veracidade da locução com se não
está em questão.
Miscelânea
Negação. A regra básica é que ouv é usado para negar um verbo no indicativo,
enquanto mh, é usado para negar todas as demais coisas, até mesmo o subjuntivo.
Há uma construção específica que usa o subjuntivo e precisa ser ressaltada. A
construção ouv mh, seguida pelo aoristo subjuntivo que precisa ser ressaltada é uma negação
forte de uma situação futura, mais forte do que simplesmente dizer ouv7. Os dois negativos
não negam um ao outro, eles fortalecem a construção no sentido de dizer mais
enfaticamente não! (cf. exemplo em percepção exegética).
Perguntas. Há três maneiras de fazer uma pergunta:
I) Não é dada indicação quanto à resposta esperada por quem fala;
II) Se a pergunta começa com ouv, quem fala espera uma resposta afirmativa8:
Resumo
7
Para enfatizar aos discípulos a clareza com que eles enxergariam seu discipulado no reino de Deus, Jesus
lhes disse: [...] avmh.n le,gw u`mi/n o[ti eivsi,n tinej w-de tw/n e`sthko,twn oi[tinej ouv mh. geu,swntai qana,tou e[wj
a'n i;dwsin th.n basilei,an tou/ qeou/ evlhluqui/an evn duna,mei – [...] garanto-lhes que alguns dos que estão
aqui de modo algum experimentarão a morte (ouv mh. geu,swntai) antes de verem o reino de Deus vindo com
poder (Mc 9.1).
8
Não é só porque uma pergunta tem um ouv que significa que se espera uma resposta negativa: kai. e;rcontai
kai. le,gousin auvtw/|\ dia. ti, oi` maqhtai. VIwa,nnou kai. oi` maqhtai. tw/n Farisai,wn nhsteu,ousin( oi` de. soi.
maqhtai. ouv nhsteu,ousinÈ – vieram a Jesus e lhe perguntaram: por que os discípulos de João e os dos
fariseus jejuam, mas os teus não? (Mc 2.18). Aqui, o ouv antecede imediatamente o verbo e o nega, mas,
quando ouv indica a resposta esperada, tal resposta é sim.
I) O modo subjuntivo é usado quando um verbo expressa uma possibilidade,
probabilidade, exortação ou conceito axiomático;
II) O verbo no subjuntivo não tem relevância temporal. Sua única significância é
de aspecto. O presente subjuntivo é formado da raiz do tempo presente e indica uma ação
contínua. O aoristo subjuntivo é formado da raiz do aoristo, sem aumento, e indica uma
ação indefinida;
III) O sinal do subjuntivo é a vogal conectiva alongada. As terminações são
exatamente iguais no aoristo e no tempo presente;
IV) Entre seus vários usos, o subjuntivo é usado em um comentário hortativo (ao
qual pode ser acrescentada a locução auxiliar vamos), nas locuções que começam com
palavras específicas como i[na, que indicam, entre outras coisas, propósito, e em
declarações condicionais.
Vocabulário
Informações avançadas
9
Litografia é um método de impressão que originalmente usava uma pedra plana, mas que agora usa placas
de metal. Litomancia é adivinhação que emprega pedra.
subjuntivo, mas são todas perifrásticas, denotam uma ação que foi completada, com
resultados permanentes.