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Fichamento do Texto sobre Frame Analisys de Erving Goffman (comentador)

 O autor aponta que Goffman se posicionava de forma crítica em relação aos elementos
contidos na literatura de William James e Alfred Schutz em relação as concepções destes
sobre os elementos estruturais que inferem sobre a vida cotidiana, que, aliás, é
apontado como o grande problema da fenomenologia e, consequentemente, da
fenomenologia sociológica.
 Para Goffman, os atores, em situações cotidianas, avaliam a realidade, ou a literalidade,
de sequências de atividade a partir de quadros de referências primários (primary
frameworks).
 Estes quadros podem ser naturais ou sociais, baseando-se nos elementos de
causalidades para os fenômenos ou ações; porém estas atribuições podem variar de
acordo com cada contexto social.
 Um quadro primário se constitui de uma reserva de conhecimento acerca da realidade
e literalidade de um determinado tipo de atividade;
 O conceito de transformação é o elemento basilar para se entender a literalidade;
 Transformação é um processo que torna uma atividade associada a um quadro primário
como modelo, produzindo cópias que podem ser de dois tipos: modalizações e
fabricações.
 Modalizações: no caso das modalizações, uma atividade é submetida é reconhecida por
seu caráter transformado e aderem ao seu domínio próprio da realidade dentro de
limites estabelecidos pelo processo de transformação; é possível produzir
remodalizações através de transformações sucessivas.
 As fabricações implicam que um ou mais participantes ignorem o carácter fabricado da
situação em que se encontram. As fabricações também podem ser benignas, como
partidas em que se pregam a um amigo, ou a festa-surpresa.
 As transformações são possíveis devido a vulnerabilidades específicas dos diferentes
quadros primários; no entanto, estas transformações são difíceis de se manter por um
longo tempo; pode-se, portanto, tornarem-se atividade literal (os meios midiáticos são
um ótimo caminho para consolidação da literalidade destas ações).
 Cada transformação implicação a adição de uma laminação que remove a atividade
transformada da atividade literal em que se baseia.
 Pode-se verificar desacordos entre os participantes acerca do enquadramento da
situação, não em respeito de sua literalidade, mas sem relação a atribuição de sentido,
ou da definição de sua natureza;
 Desta confusão, ou disputa acerca de um quadro de referência aceitável para todos –
ou, pelo menos, pela maioria – que ocorrem os erros de enquadramento. Que geram
situações embaraçosas ou o que Goffman classifica como experiência negativa.
 A experiência negativa: se refere a situação em que o ator/participante fica a saber
apenas o que esta não era, sem dispor de condições ou recursos que lhe permitam
reenquadrá-la de modo adequado.
 Os participantes conduzem sua participação em função de duas questões: o que está a
passar aqui?; e Em que circunstâncias pensamos que o que se está a passar é real?
 O objetivo é da análise de quadros é articular a dimensão cognitiva da participação em
situações sociais com a experiência dos participantes.
 É neste plano que a natureza da situação e o conteúdo da interação são articulados e
tornados acessíveis à observação e descrição;
 Em situações de observação/participação, o sociólogo é obrigado a manter
simultaneamente vários quadros, de modo a poder conservar a sua posição de
observador sem comprometer a de participante competente da situação.
 Goffman afirma que a interação face-a-face não é mais real ou menos sujeita a constituir
como uma abstração arbitrária do que qualquer outro domínio da pesquisa sociológica.
 No entanto, pela sua repetitividade, pela necessidades de referências seguras que os
atores sociais com características heterogêneas de chegar a um compromisso de
trabalho que viabilize as situações da vida cotidiana, pela “ancoragem” da interação em
sentimentos subjetivos que fornecem uma base para a empatia e mesmo por situações
no tempo e no espaço dos episódios de interação é possível uma observação e registro
detalhados destes episódios;
 Porém, diferentes investigadores, verão coisas diferentes nos mesmos episódios e que
os fenômenos elementares para uns serão considerados extremamente complexos por
outros.
 Toda a produção de informações é uma forma de processar experiências, suscetíveis de
serem reenquadradas. Estes edited replays de relatos, narrativas ou descrições que os
atores constroem sobre as suas experiências possuem relevância fundamental no
trabalho como sociólogo. Estes, no trabalho dentro e fora do campo são separados por
uma ou mais laminações. (Goffman, 1986, 502-506).
 O conteúdo dos edited replays deve ser analisado tendo em conta a sua associação a
uma situação particilar, e não, simplesmente tratando-a como uma forma de
informação sobre experiências, acontecimentos, processos ou crenças avaliável a partir
da consistência interna ou na consistência com outros elementos de informação,
independente do contexto particular da sua produção.
 Este conteúdo deve ser submetido a uma segunda abordagem que reenquadre o
discurso e trate o conteúdo como, por sua vez, a drescição/narração de uma situação.
 A análise de quadros implica um conjunto de procedimentos de observação/descrição
e análise das situações, baseados na especificação de dimensões identificáveis em
qualquer sequência de atividade ou episódio de interação.
 A delimitação espacial e temporal de uma situação: trata-se de aplicação de parênteses
e marcadores – diferentes daqueles usados pela fenomenologia para designar a
suspensão natural -.
 Os marcadores externos, que delimitam o episódio interacional, e os marcadores
internos, que o estruturam internamente. (delimitação temporal de um episódio – como
uma peça de teatro.
 Esta delimitação temporal dos episódios está estreitamente associação ás modalidades
de ancoragem da atividade. Esta ancoragem permitem ficar, ou situar, a atividade no
espaço e no tempo em função de elementos que transcendem o episódio particular,
fornecendo os recursos materiais, humanos e simbólicos que tornam a situação viável e
identificável para os participantes.
 Ainda é importante considerar os estatutos de ratificados e não ratificados – os que são
considerados como participantes legítimos e naturais na situação, ou seja, aqueles que
mantem entre si relações de cooperação na situação que não são conhecidas dos outros
participantes; se há constituição de grupos ou equipes entre os participantes,
conduzindo à emergência de participantes coletivos, se há estatutos sobrepostos de
participação, as modificações que se podem verificar nos estatutos de participação ao
longo do desenvolvimento da situação ou do episódio etc.
 Em relação a participação, Goffman afirma que, em primeiro lugar, existe uma relação
entre as pessoas e os papéis que assumem na interação, mas esta relação responde ao
sistema interativo – ou quadro – em que o papel é desempenhado. Sendo, portanto, a
subjetividade (self) é “uma fórmula modificável para a gestão de si próprio” durante a
ocorrência de acontecimentos.
 A subjetividade deve ser concebida como emergindo da relação entre a interação e as
condições estruturais e processuais – o quadro – que a organizam, e não da interação
em si mesma.
 Para Goffman, a interação não toma como objeto de investigação os homens e seus
momentos, mas sobre os momentos e os seus homens, ela não toma como objeto o
indivíduo e sua psicologia, mas as relações entre os atos de diferentes pessoas em
presença mútua.
 As relações e o sentido só podem se identificadas se o quadro a que se referem possa
ser definido.
 As funções que um ator assumem na interação podem ser classificadas como: 1. Figura,
estratega, animador e principal.
 A ultima questão acerca da análise de quadros se refere às pistas e os canais. Em um
episódio interacional ocorrem a mobilização de diversos canais de atividade, associando
diferentes recursos expressivos e dotados de uma visibilidade desigual no decorrer do
desenrolar normal do episódio. Os participantes que seguem e aceitam a definição
literal da situação e da atividade que nela tem lugar se comportam em função dessa
aceitação – restringe-se ao canal principal – que assegura a “main story line” da
sequência principal da atividade realçando por fronteiras evidenciais que permitem
identificar o tipo de atividade que caracteriza o episódio e a natureza da situação.
 Outros canais que tem relação com a viabilidade do episódio, acessórias, mas não
menos importantes. Estes são chamados de canais subordinados, elementos que
organizam boa parte dos aspectos da vida social que Garfinkel designa por “visto mas
não notado”.
 O Canal de desatenção: sustentam os acontecimentos que podem ser ignorados pelos
participantes no decorrer da interação (coçar a cabela, assoar-se, arranjar a roupa ou o
cabelo, etc).
 O Canal direcional: ações indispensáveis ao desenrolar normal do episódio, mas que não
são consideradas como parte da sequência principal de atividade, podendo ser excluídas
dos relatos e descrições da situação sem por em risco a sua definição.
 O canal de sobreposição: permite organizar, sempre comprometer a viabilidade e a
normalidade de qualquer uma delas, a sobreposição de várias sequências de atividade
ocorrendo simultaneamente numa mesma situação, por exemplo, comer e conversar
numa recepção enquanto se está atento a uma entrega de prémios.
 O canal de ocultação: permite a dois participantes, numa situação, manifestarem – de
modo que só eles entendam – o seu enfado, sem dar abertamente sinais dessa enfado
para os outros participantes. Esse canal é essencial à viabilidade das colusões entre
participantes e a sua existência é facilmente identificável numa diversidade de
atividades de rotina da vida cotidiana.
 A fraqueza da análise de quadros é o tratamento insuficiente dos quadros primários,
pois não basta reconhecer o caráter literal ou transformado de um episódio ou
sequência de uma atividade, é também importante reconhecer de que domínio de
atividade se trata (vida familiar, trabalho, política, etc) e de que atividade específica
dentro deste domínio (ex: tipo de trabalho, modalidade desportiva, género dramático,
etc).
 Quando o sociólogo está em condição de observação participante é possível perceber a
atuação de diversos quadros. Nestas condições, o recurso ao que Kenneth Burke designa
por perspectiva por incongruidade (1989) permite que, sobretudo no caso de uma
atividade rotineira ou continuada, o sociólogo possa olhar e interrogar de modos
diferentes essa atividade, focalizando-a a partir de perspectivas distintas baseadas no
seu conhecimento de domínios da vida social. Assim é possível viabilizar a descrição e
análise sociológicas de situações e sequências de atividade sem as reduzir a uma
paráfrase dos relatos e descrições dos próprios atores, mas preservado a riqueza das
abordagens etnográficas.

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