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08.06.2016
Duração: 2h30m
Hans, com dupla nacionalidade portuguesa e austríaca, residente em Cascais, ao visitar o sítio na
Internet da empresa de automóveis eléctricos Nikola, decide comprar o Nikola Modelo S, crème de la
crème dos veículos eléctricos no mercado, por um valor de € 90.000. Para esse efeito, encomenda o
automóvel através do mencionado sítio na Internet, aceitando as cláusulas contratuais gerais do
contrato proposto e introduzindo os dados do seu cartão de crédito.
Após ser severamente repreendido pelos seus próximos pela despesa dissoluta com a aquisição do
automóvel, Hans arrepende-se da compra e pretende cancelá-la antes que seja tarde demais.
Para esse efeito, contacta de imediato a empresa Nikola, com sede em Nova Iorque, a qual o
informa que, de acordo com o estipulado nas cláusulas contratuais gerais aceites por Hans: a lei
aplicável ao contrato é a Lei do Estado de Nova Iorque, a qual não reconhece o “direito ao
arrependimento” dos consumidores; os eventuais litígios entre as partes deverão ser resolvidos
pelos tribunais do Estado de Nova Iorque, com preterição de quaisquer outros.
Consternado com esta resposta, Hans consulta-o para saber como reagir.
Considerando que:
Que resposta dão a este problema? Conteúdo material das normas que seriam
aplicáveis? Em Portugal recorríamos ao art.10º e nos EUA o direito não é
reconhecido.
Esta regra geral é aplicada neste caso? O problema coloca-se porque podemos ter
um contrato celebrado com consumidor para os efeitos do regulamento de Roma I
porque este regulamento estabelece regras especiais que se aplicam aos contratos
que especificamente esse mesmo regulamento considera merecer da tutela
conflitual que nos aparece aí enunciada. Há certos pressupostos.
Natureza do contrato celebrado: art.6º, nº1 a) e b) e última parte deste número –
a) não se verifica, a al. b) pode se verificar. Importa reter que há indícios que
podemos retirar do caso concreto e podemos abrir subhipóteses, o que significa,
saber se no site está indicada uma lista de países para a qual a empresa está
disponível para fazer entregas, se isto estiver explicitado então temos uma resposta
clara numa determinada direção. Podemos não ter estes indícios, o Tribunal de
Justiça declarou que a simples circunstancia de que existe um site acessível a todo
o mundo só por si não é indicio suficiente de que o profissional está a dirigir a sua
atividade a todos os países do mundo. Ao abrir subhipóteses tínhamos de
densificar o conceito de atividade dirigida. Porque é que esta exigência é
estabelecida? O desvio às regras gerais é para proteção da parte mais fraca, mas a
exigência da al. b) destina-se a assunção de risco.
Duas hipóteses:
- Se se entender que o profissional, empresa, dirigia as suas atividades para o
mercado português qual seria a consequência? Aplica-se o nº2 do art.6º a
escolha não deixa de ser válida mas é limitada no seu alcance pela intervenção das
disposições imperativas vigentes no país da residência habitual do consumidor que
o protejam, ou seja, a aplicação do estado de NI não pode afastar as disposições
imperativas de PT. Logo aplica-se o direito de NI + direito de arrependimento. Ele
tem direito a fazer cessar o contrato dentro do prazo resolução do contrato.
- Admitindo que não era esse o caso: o art.6º não seria aplicável, logo, tínhamos de
aplicar as regras gerais do art.3º - a lei aplicável seria a lei do Estado de NI.
Era ou não possível que o consumidor exercesse o direito de arrependimento? Em
ultima analise a ordem publica internacional; podíamos explorar a hipótese de ser
uma norma de aplicação imediata.
II
“A aplicação de direito estrangeiro por tribunais do foro é uma ficção, porque os nossos juízes não
são versados em outros ordenamentos jurídicos. Daí que o princípio da boa administração da
justiça obrigue a maximizar o âmbito de aplicação do direito português”.
Cotações:
I. a) 8 valores
I. b) 4 valores
I c) 4 valores
II: 4 valores