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‘do pregador JOHN STOTT o perfil Os VIDANOVA c pyvight © 1961 Wm. B. Becdmans Publishing Co, “Titulo do original: Poe Preachers Portrait (ISBN 0-8028-1191-4) Taduzido da eieto publicada pela |Win. B. Berdmane Publishing Co, (Grand Rapids, Michigan, BUA) 1, ego: 2005 Reiopressto 2007 Publicado no Brasil com a devida autorizagto ‘coma todos os direitos eeservados por Sociemape Riticiosa Epicors Vipa Nowa, Cain Postal 21266, Sao Paulo-SP 4602-970 swovovidanows.corabe Probida«zeprodusio por quaisquer rmeios (eecinicos,eletronicos,xerogeficos, Forogeifcos, gravagao, estocagem ern bane de alos ete.) nto ser mm eitagbes reves ‘com indieagao de fone. ISBN 978.-85-275-0332-7 ost S427 (publieada ancerlormence) Tmpresio ne Brasil / Printed in Brazil Coonpenacto Eprrowat Robinson Malkomes Revisio Cia Paizo Beth Fernandes (CoonpExacto Dx PRonucko Roger Liz Mallomes Dinceacio Sémgio Siqueira Moura conteudo DESPENSEIRO ARAUTO TESTEMUNHA Pal SERVO ROGERS A MOMVARAD OO PREGADOR 44 5S 25 6 autoridade, o cariter da proclamagiio que ele € chamado a fazer, a necessidade vital de sua experiéncia pessoal com o evangelho, @ natureza de sua motivasto, a fonte de sua autoridade ¢ as qualidades morais que devem caracteriz4-lo, principalmente humildade, mansidio e amor. Isso constitui, na minha opinifo, o perfil do pregador, um perfil desenhado pela mao de Deus na tela do Novo Testamento. E com hesitagio que escrevo sobre esse assunto. Nao quero passar por especialista; estou longe disso. Estou s6 comesando a aprender os rudimentos da pregacio. Mas como Deus, em sua graca, me chamou a ministrar a Palavra, tenho um profundo desejo de moldar meu ministério segundo o padtiio perfeito que cle nos dex nessa Palavra. 10 | © perfil do pregacon despenseiro | A MENSAGEM & A AUTORIDADE 00 PREGADOR | primeira pergunta importante que preocipa o pregador € “Que irei dizer e onde obterei minha mensagem?”. Algumas respostas erradas foram propostas para essa perguunta fundamental sobre a origem eo contetido da mensagem do pregadosse é necessrio comegar com elas, declarandoo que o pregador Nao um profete Em primeiro lugar, o pregador cristio nao é um profeta. Ou seja, ele iio recebe sua mensagem de Deus como revelacio original edireta. E verdade que algumas pessoas usam a palavra“profeta’ de maneira incorreta hoje em dia. Nao é raro ouvir um homem gue prega com fervor ser descrito como alguém que tem “ungio profética’; sobre 0 pregador que sabe discerir of sinais dos tempos, que vé a mio de Deus nos fatos do dia-a-dia e procura interpretar o significado das tendéncias sociais e politicas, diz-se 2s vezes que € profeta ou tem intuigio de profeta. Mas estou afirmando que esse uso do titulo “profeta’ ¢ inadequadbo. ‘Mas 0 que é um profeta? No Antigo Testamento, era 0 ins- trumento pelo qual Deus falava dizetamente. Quando Deus esco- Ihen Ario para dizer as palavras de Moisés ao fara, a situacao foi cexplicada da seguinte mancira: “Vé que te constitui como Deus sobre Farad, e Aro, teu irmio, seri teu profeta” (Bx7.1-2)."Tu the falaras e lhe poris na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com adele, evos ensinarei o que deveis fazer. Ele falara por ti ao povos le te sera porboca, tu Ihe sers por Deus” (Fxc4.10-17). Isto mostra claramente que o profeta era a “boca” de Deus, através da qual Deus falava dire~ tamente aos homens as suas palavras. Assim também, Deus fala de ‘um profeta semelhante a Moisés, que ira surgir, em cuja boca poret as minhas palavras, ¢ ele Ihes falani tudo o que eu Ihes ordenar.[...] [Ele falar] em meu nome” (Dr 18.18-19). profeta nfo falava suas prépriae palaveas, nem falava em cen prdpri nome, mas falava as palavras de Deus, em nome de Deus. Essa conviesto de que Deus falava com ele e revelava-Ihe seus segredos (Am 3.7-8) explica as conhecidas firmulas de introdugio do discurso profético (‘veio a mim a palavra do Senhor”, “assim diz 0 Senhor”, “ouvi a palavra do Senhor”, “a boca do Senhor o disse”, ete) ‘A caracteristica essencial do profeta nao era prevero fsturo nem interpretaraativicade presente de Deus, mas falaras palavras de Deus. Como Pedro explicou, “nunca jamais qualquer profecia [ou sea, profecin verdadeira, em oposigio as mentiras das falsos profetas que ele descreve ‘aseguir] foi dada por vontade humana, entretanto homens filaram da parte de Deus movidos pelo Espirito Santo” (2Pe 1.21). Portanto, o pregador cristio nfo é um profeta. Ele nio recebe nenhuma revelagio original; sua tarefa & expor a revelago que ji definitivamente dada. E embora pregue no poder do Espirito Santo, cle nao é “inspizado” pelo Espizito no sentido em que os profetas 0 foram. Certo, “se alguém fila”, deve falar “de acordo com os oriculos de Deus’, ou “como se pronunciasse palavras de Deus"(LPe 4.11). Mas isso no ocorze porque tenha recebido algum ordeulo divino 12 | © perfil do pregador especial, mas porque € um despenseiro (1Pe 4.10), como veremos depois, a quem foram confiadas as Escrituras Sagradas, os “oraculos de Deus” (Rm3.2).A tiltima vez.na Biblia em que aparece a expresso “veio a Palavra de Deus”, € com relagdo a Joao Batista (Le 3.2). Ele foi um verdadeiro profeta. Também havia profetas na 6poca do Novo ‘Testamento, como Agabo (At 21.10), e a profecia é mencionada como dom espiritual (Rm 12.6; 1Co 12.10, 29; Ef 4.11), mas esse dom niio é mais concedido a pessoas na igreja. Agora que a Palavra de Deus escrita est4& disposi¢ao de todos nés, a Palavra de Deus no discurso profético nio é mais necessiia. A Palavra de Deus nfo vem ‘mais aos homens hoje. Ela jéveio a todos os homens; agora os homens é que precisam ir a ela Nao um spéstolo Em segundo lugar, o pregador cristio nfo ¢ apéstolo, Claro, a igreja “apostélica”, por ter sido fundada sobre a doutrina dos apéstolos ¢ enviada ao mundo para pregar 0 evangelho, Mas os missionérios que plantar igrejas nao devem ser chamados "apostolos”. £ incorreto falar de “Hudson Taylor, apéstolo da China”, ou “Judson, apéstolo da Bimainia” comose estivéssemos falando de*Paulo, apdstolo aos gentios”. (Os estudos mais recentes confirmam 0 cariter tinico dos apéstolos. Karl Heinrich Rengstorf, em seu artigo sobre apostolado no famoso vocabuliio teolégico de Gerhard Kittel” defende que os apdstolos de Jesus equivaliam aos shaliachimn judaicos, mensageisos especiais enviados ‘a0s judeus da Dispersio de tal maneira que, diziam eles, “é como se 0 tenviado fosse a prépria pessoa que o envia”. Segundo Rengstorf, * cenquanto os outros verbos transinitem simplesmente a idéia de envi apustellein possui os aspectos de um propésito, missio (ou comissio), autoridade e responsabilidade especiais”.* Apdstolos — diz cele—"é sempre a descrigio de alguém enviado como embaixador, ¢ um embaixador investide de autoridade. A palavra grega apostolos é simplesmente a forma pela qual se transmitem o contetido ¢ a idéia que temos no shaliach do judaismo rabinico” ? ‘Noval Geldenhuys tira do artigo de Rengstorf uma conclusio logica, O apéstolo do Novo Testamento é“alguém escolhido ¢ enviado Gespenseiro 13 > 14 por comissio especial como representante plenamente autorizado de quem 0 enviou’.* Quando Jesus nomeou “apéstolos” seus doze dis- cipulos escolhidos, indicou que eles seriam “seus delegados, que ele enviaria comissionados a ensinar e agir em seu nome ¢ autoridade”,* Ele thes conceden uma autoridade especial (p. ex.: Le 9.1-2, 10) ‘que eles mais tarde afirmaram ¢ excrceram, Paulo se considerava apéstolo também, tanto quanto os Doze, por indicagao direta do Jesus ressurreto.“A tinica base para o apostolado era a comissio pes- soal’,* & qual devemos acrescentar um encontro com Jesus apés a ressurreigo, Geldenhuys conclu: “Nunca mais haveri ou poderé haver pessoas que possuam todas essas qualificagBes para serem shaliachina de Jesus". Mesmo Rengstorf, que diz. que “no sabemos quantos apéstolos havia no principio, mas deviam ser bem numerosos",* acres centa que 0 apostolado “Timitou-se & primeira geracio c no se tornou tum cargo eclesidstico”. E declara que “todo apéstolo é discipulo, mas. nem todo diseipulo € apéstolo””’ Geldenhuys cita o artigo de Alfred Plummer sobre “Apéstolo” no Dictionary of the Apostolic Church, de Hastings: *... éimpossivel qualquer tipo de transmissio de um cargo ‘to excepcional”.” . Essasevidencias sugerem que hd um paralelismo estreito entre os profetas do Antigo Testamento e os apéstolos do Novo, ¢ Rengstort chama atengao paraiso: “A ligagio entre a consciéncia doapostolado ea do ministério profético [...] enfatiza de forma absoluta 0 fato de ele regarestritamenteo que é revelado, guardando-se de qualquer tipo de alteragio que puclesse ser provocada por sua natureza humana”. “Como os profes, Pauloé servo de sua mensagem.”" “O paralelo entre apéstolos «e proferas ¢ justficado porque ambos sio transmissores da revelagao.”! Portanto, assim como a palavra “profeta” deve ser reservada para as pessoas no AntigoTestamento e no Novo, a quem a palavra de Deus veio direramente, quer sua mensagem tenha chegado até nés, quer no, caracterizagao de alguém como “apéstolo” deve ser reser vada as Doze ¢ Paulo, pois foram especialmente comissionados investidos de autoridade por Jesus como seus shalebim. Bsses homens eram tinicos. Nao deixaram sucessores. 14 | © perfil do pragacor Nao um falso profeta ou falso apéstolo Em terceiro lugar, o pregador cristio nfo é (nem deve ser) um falso profeta ou vam filsoapoatolo.™ Ambos apareeem na Biblia, x diferenga entre o verdadeizo ¢ o éspiirio & claramente definida em Jeremias 23. Overdadeiro profeta éalguém que “esteve no conselho do Senor, ¢viu c ouviu a sua palavra” (v. 18, 22).}40s falsos profetas “alam as visdes do seu corago, nfo 0 que vem da boca do Senhor”(v. 16). Eles “proclamam $6 0 engano do seu proprio coragio” (v. 26) Proclamam mentiras em nome de Deus (x. 25). contraste aparece com toda forca no versiculo 28: "... 0 profeta que tem sonho conte © como apenas sonho; mas agquele em quem esti a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha como teigo? diz ‘Senhor”. A opgio é entre ouvir “cada um a sua prépria palavra” “ouvir as palavras do Deus vivo” (v. 36). Embora nio existam mais hoje profetas e apéstolos, temo que haaja falsos profetas ¢ filsos apéstolos, Gente que fala as préprias palavras endo « Palavra de Deus. A nucnsagesn vein de suas mentes, Gente que gosta de ventilar suas opinides sobre religito, étca, teologia e politica. Elas podem até seguir a tradigto de iniciar seus sermoes com um texto biblico, mas o texto tem pouca ou nenhuma relagio com a mensagem que se segue, ¢ no h4 nenbuma tentativa de inter- pretar o texto dentro de seu contexto proprio. Alem disso, com muita freqiiéncia esses pregadores, a exemplo dos falsos profetas do Antigo Testamento, usam palavras agradaveis, “dizendo: Paz, paz; quando nao ha paz” (Jr 6.14, 8.11, cf. 23.17). E nem tocam nos pontos menos “agradiveis” do evangelho, para nio ofender o gosto dos ou- vintes (Jr 5.30-31). Néo um tagarela Em quarto lugar, o pregador cristao nao é um “tagarela’. Essa foi a palavra usada pelos filésofos atenienses no Arespago para descrever Paulo. “Que quer dizer este tagatela2” — perguntavam entre si com escarnio (Ar 17.18). A palavra grega € spermalagos, um “catador de despenseira 16 el sementes”. Era usada no sentido literal para descrever passaros que comiam sementes, ¢ especialmente por Aristéfanes e Aristoteles (ereio cu) para referir-se a gralha. Metaforicamente, a palavra passou a ser aplicada a mendigos e moleques de rua, “pessoas que vivem de recalher sobras, catadores de lixo”. Dai, passou a indicaro tagarcla ou fofoqueizo, pessoa que recolhe fagmentos de informacio aqui e acola’."© © “tagarela” repassa idéias como mercadoria de segunda ‘milo, colhendo fragmentos e detalhes onde os encontra. Seus sermoes siouma verdadeira colcha de retalhos. E bom dizer que nao hi nada de errado cm citar no sermio.as palavras ou escritos de outra pessoa. O pregador sibio retine mesmo citagdes memoriveis e esclarecedoras que, usadas com juizo e hones tidade, citando-sea fonte, sio capazes de dar luz, importancia e forya ao assunto em questio. Se o leitor me permite, coloco em pritica imediatamente o que estou ensinando e fago uma citago (embora 1ndo possa mencionar a fonte, pois nfo sei quem foi o primeiro a fizer este jogo de palavras):“Copiar de uma pessoa chama-se phigio, copiar de mil chama-se pesquisa”! ‘Mas citacto cuidadosa nao é necessariamente “thgarelice”. A ccaracteristica essencial do tagarela é que ele nio 6 capaz de pe por si. Sua opinido em dado momento € certamente a da iiltima pessoa que ele ouviu. Ele depende das idéias dos outros, sem peneir- las nem pesi-las, nem apropriar-se delas para si, Como 08 falsos profetas criticados por Jeremias, ele usa apenas a “lingua”, e niio a mente ou 0 coragio, ¢ & culpado de “furtar” a mensagem de outras pessoas (Jr 23.30, 31). Um despenseiro O que 6, entio, 0 pregador? Ele é um despenseiro. “Importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus" (1Co 4.1, 2). O despenseiro é 0 empregado de confianga que zela pela correta utilizagtio dos bens de outra pessoa. Assim, o pregador um despenseiro dos mistérios de Deus, ou seja, da auto-revelagio que Deus confiou aos homens e é preservada nas Escrituras, Portanto, a mensagem do pregador cristo nao vem 16 | © perfil do pregador diretamente da boca de Deus — como se ele fosse profeta ou apéstolo —nem de sua prépria eabeca — como os falsos profetas — nem das bbocase mentes de outras pessoas, sem reflexio— como o tagarela— mas da Palavea de Deus, uma ver revelada e para sempre registrada, da qual ele tem a honra de ser despenseiro, ‘O conceito de despenseiro ou mordomo era mais familiar no mundo antigo do que no moderno, Hoje em dia, palavra ‘mordomia” Hos associagSes com campanhas pam levantardinheiro para a igreja. E“mordomo” para nés € um personagem restrito as grandes mansdes ¢ aos contos policiais. Mas, nos tempos biblicos, todo homem bem-sucedido tinha um mozdomo que controkwva seus negécios domésticos, suas terras, suas plantages, seu dinheizo ¢ seus eseravos. Encontramos esse personagem diversas vezes no Antigo ‘Testamento.1” Nio ha uma palavra hebraica especifica para designé- Jo, masa fingio que ele exercia pode ser reconhecida através de vizias palavras, especialmente dentre a nobreza eas cortes reais de Juda, do Egitoe da Babilonia, José tinha um mordomo no Egito. © “despen= seiro dle su casa” cuiddava dos haspertes de José, pravidencianla Aga para lavar scus pés, forragem para os animais e supervis preparo das refeicées. Aparentemente, ele também erao intermedisrio jjunto ds pessoas que compravam alimentos de José. Ele tinha eseravos ‘a seu servigo (Gn 43.16-25; 44.1-13). Os reis de Juda também tinham mordomos encarregados da casa real."* No reinado de Eze- quias, 0 mordomo era Sebna (Is 22.15). Ele parece ter sido homem ambicioso, que enriqueceu ¢ adquiriu “carros de gléria” (“earruagens gloriosas"), talvez a custa do dinheiro de seu patrao. Mas Deus diz.a Sebna que ele seri deposto e substituido por Eliaquim, filho de Hil- quias: “Vesti-lo-ei da sua tiinica, cingi-lo-ei com a tua faixa, e the entregarei nas mos o teu poder, ¢ ele seri como pai paraos moradores de Jerusalém e para a casa de Jud. Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi (Is 22.21, 22). Fica evidente nessa passagem que 0 despensciro era homem de autoridade na casa em que servia, que exercia supervisio maternal sobre as pessoas da casa, e que o simbolo de seu cargo era uma chave (sem dtivida, a da despensa). ‘Na corte babilénica do rei Naducodonosor, 0 chefe dos eunucos colocou Daniel e seus trés eompanheiros sob o cuidado do “Melzar”. rovoca nos crist nando o despeneeina 17 ‘Essa palavra € provavelmente o nome de um cargo, no deuma pessoa, A Edligio Revistae Atualizada traduz.o termo por “cozinheiro-chefe”, ‘ea Biblia de Jerusalém, por “despenseiro”. Esse homem tina o dever de dar treinamento aos servidores da corte, dando-Ihes também as porgdes didrias de comida. E ele tinha autoridade para decidir se as “finas iguarias do rei” ou os legumes pedidos por Daniel (Dn 18-16), Hiexemplos paralelos no Novo Testamento. Herodes Antipas tinha um mordomo (ou “procurador”), cuja esposa era diseipula de Jesus, “prestando-lhe assisténcia com os seus bens” (Le 8.3). Eno cenario de diversas paribolas de nosso Senor aparece um mordomo em posigao de responsabilidad. Na paribola dos trabalhadores na vinha, 0 mordomo (‘administrador’) recebe a ordem de pagar salrio dos trabalhadores (Mr 20.8). Eo mordomo (“administrador”) infiel foi acusado de “defraudar os bens” de seu rico patrio. Evidentemente, cera alguém investido de grande responsabilidade, que administrava as provisdes ¢ pagava as contas, pois foi capaz de fraudar a contabi~ lidade ¢ reduzir, impunemente a0 que parece, as dividas dos clientes de seu patrao (Le 16.1-9). Acesta altura, estamos em condigdes de reconstruir o ambiente ‘de uma casa de familia rica nos tempos biblicos. Faremos isso analisando 4s palavras relacionadas com o verbo aif, babitar. Ha cinco palavras importantes. Primeiramente, ota ou sites, casa propriamente dita.” segundo lugar, oiieioi, os habitantes da casa. O tinico uso secular desta palavra no Novo Testamento esti em 1Timéteo 5.8, onde o apdstolo diz que “se alguém nao tem cuidado dos seus, ¢ especialmente dos de sua propria casa [oiticion/” ele “€ pior do que o descrente” "Em terceiro lugas, citedespétes, o dono da casa, o lider da familia (p. ex. Me 14.14). Ele governa ou controla a failia, € 0 vetbo corres- pondente (oikedespetéo) aparece em 1Timéteo 5.14, Em quarto hugas, hi o oitetes,o servigal da casa. Dowlos (pronuncia-se dills) & 0 termo normalmente traduzido por eseravo, mas oiketes descrevia past larmente o servo que trabalhava na casa, Em latin o equivalente & domesticus, ermo que em sua origem incluia todos os que vivian sob © mesmo teto, no mesmo domus, mas posteriormente passou ater 0 sentido de servo, ou, como dizemos, “doméstico” 48 0 Berfil do pregedor Por fim, temos cikonémas,o despenseiro ou mordome, cujo cango chama-se oikonomia: mordomia.” Estas palavras vm de dikes, casa, € nemo, administrar ou dirigir, e delas, claro, vém diversas palavras nossas, como economia, economista e economizar. A defi~ de aitondmos no livro de Grimm & Thayer merece citagio: “.. ditigente de uma casa, ou dos negécios de uma casa; espe~ Gialmente um mordomo, despenseito ou administrador (...] aquem o dono da casa ou o proprietario confiou a diregao de seus negécios, seus gastos e receitas, eo dever de cuidar de cada um de seus servos, e até dos filhos menores de idade”.* Fosse ele homem livre, fosse escravo, ocupava uma posigio de responsabilidade entre o dono da casa e os negscios desta.” A palavea & usada até mesmo em relago a Frasto (Rm 16.23), que era aparentemente “tesoureiro” da cidade de Corinto. Em Gilatas 4.2, diz-se que a crianga esta sob epitrepi € vikendmoi os primeiros, seus guardiies legaise professores, en~ quanto os segundos tomam conta de suas propriedades até que ele atinja a maturidade Juntas, essas cinco palavras descrevem o ambiente social de ‘uma fui sica. A eikia (casa) era habitada pelos oieiai, compostos dos familiares mais os escravos. © Iider da casa era o vikodespates (dono da casa), que tinha as suas ordens alguns oikétai (escravos domésticos) e um sitondmes (despenseiro ou mordomo) para super- visiond-los, cuidarda alimentagio de todas essas pessoas, administrar os negécios e finangas da casa e as terra. Nio é de supreender que os antigos nessa estrutura social um retrato da igreja crista. © nome especial ue eles aplicavura a Deus era "Pai", € como um pai normalmente era odono da casa, era natural pensar na igreja como “casa” ou “famifia de Deus. Mas isso nao se aplica em todos os detalhes, ¢ 0 Nevo sa figura sempre do mesmo jeito. Embora istfios tenham visto ‘Testamento nao usa Deus seja sempre o pai, a igreja ora éa casa em que ele habita,” ora 6 a sua funilia, a “familia da fé",” ora os servos domésticos, res- ponsaveis pelo trabalho que lhe devem (Rm 14.4). ‘Toclos os ctistios sio também despenseizos de Deus, que administraram seus “bens”, nio para proveito pessoal, masem beneficio da familia toda. A pardbola dos talentos ¢ a das minas jlustram a despenserre 15 responsabilidade eristd de aperfeigoar-se no uso dos dons e opor tunidades que Cristo concedeu (Mt 25.14-30, Le 19.19-28). O despenseiso niio deve esconder nem desperdisar os bens que seu mestre the confiou. Ele deve administrar sua distribuigo aos membros da familia, Nos, cristios, somos todos “despenseiros da multiforme [lite~ ralmente, variada, multicolorida] graga de Deus” (Pe 1.10), ‘cada tum? deve usar seus dons para “servir uns aos outros". Fle diem seguida dois exemplos: falar c servir;¢ € principalmente o primeiro exemplo que nos interessa aqui. (O ministério cristio é uma mordomia sagrada. Paulo descreve © presbitero/bispo como “despenseiro de Deus” (T' 1.7). Ele consi- derava a si préprioe a Apolo “despenseiros dos mistérios de Deus” (1Co 4.1) e, embora tenha sido encarregado da dispensagao de um “mistério” especial revelado pessoalmente a ele (EF 3.1-3,7-9), essa designagio nito ¢ apenas para os apéstolos, pois aplica-se a Apolo também, e este nao era apdstolo como Paulo. “Despenseiro” é um titulo que descreve todo aquele que tem ¢ privilégio de pregar a Palavra de Deus, especialmente no ministério pastoral. Como veremos no capitulo 5, 0s corfntios estavam valorizando exagerada~ mente seus lideres. Paulo repreende-os por esse superpersonalismo, “E assim que os homens devem nos tratar — diz ele — “somos apenas empregudos subaltemos de Crist, ainistaores de bens alheios”. F-essa posigio subordinada que ocupamos. Os “bens” que © pregador cristio administra sto chamados “mistérios de Deus” Mysterion, no Novo Testamento, nao é um enigma, alguma coisa ‘obscura, mas sim uma verdade revelada, que s6 pode ser conhecida porque Deus a expés, que estava oculta mas agora foi revelada, e na qual pessoas sao iniciadas por Deus . Assim, 0s “mistérios de Deus” so 08 “segredos publicos” de Deus, a soma de sua auto-revelagio contida nas 2 Desses “mistérios” revelados, o pregador inseiro, encarregado de tor intermédio” (v.20). Realmente, ele, que atuou "por meio de Cristo"(v. 18) para realizar a reconciliagao, agora atua “por meio de nés”(v. 20) para implorar aos, pecadores que aceitem, Enquanto Cristo foi seuagente no primeira caso, nés somos seus agentes no segundo, E essa a honra indizivel que ele confere a scus embaixadores. E como se ele usasse a procla- ‘magio das boas novas, tanto a proclamagio quanto 0 apelo, para falar diretamente aos homens, para manifestar-se pessoalmente a eles & conduzi-k Precisamos ter cuidado com 0 modo como expressamos essa ssionante verdade. Alguns escritores modernos sentem tanto desejo de chamar atensio para o dito “cariter existencial da prega~ io”, que eu creio estarem arriscando-seairlonge demais. No tltimo capitulo do livro do Dr. Mounce, intitulado The Essential Nature of Preaching, ele afiema: “A proclimagao da eruz. 6, ela mesma, 2 continuagao ou a extensao no tempo do priprio ato redentor”.*”"E, um prolongamento © uma mediagio da atividade redentora de Deus." “Quando ele [o pregador] proclama pela f6 0 grande feito divino, percebe que este fato esti acontecendo de nowo”.* “As bar- reiras do tempo sio de algum modo ultrapassadas, eo supremo fato. ‘por nos do passado estd acontecendo de novo.” Semelhantemente, no pre ficio do livro ele escreve: “No lugar onde o tempo e a eternidade se crwzam, ele [o pregador] tem o alto prvilégio de prolongar no tempo aquele poderoso feito de Deus que, em determinado sentido, fxz parte da histria do Império Romano" Confesso que algumas dessas afirmayoes me soam arriscadas incautas, Em que sentido o arauto, com sua proclamagio, pode “prolongar” ou produzir uma “continuidade” ou “extensio” do ato redentor de Deus na cruz? O Dr. Mounce parece indlicar que, de alguma forma, a cruz es “acontecendo de novo", Pelo menos, ele usa essa expresso duas vezes, Mas eu confio que ele nio esti querendo dizer que hi, ou poderia dhaver, qualquer forma de repetigfo da morte substitutiva do Salvador Cristo morzeu Aapas, uma vez 56, definitivamente, como os escritores do Novo Testamento vez apés vez afirmam, Sua obra foi cone!uida, seu sacrficio foi completo, sua missio foi cumprida na eruze “tendo oferecido, para sempre, um tnico sacrificio pelos pecados” (Hb 10.12), assentou-se 4 destrado Pai. Oqueo Dr. Mounce e outros autores estfo realmente dizendo =e com isso eu concordo alegremente—é que através da pregacio ‘Deus transforma a histéria passada em realidade presente, A cruz foi, € sera para sempre, um evento histérico Gnico no passado. E ermanecers no passado, nos livros, a ndo ser que Deus mesmo a tome real erelevante para as pessoas de hoje. E pela pregacto, em que ele faz 0 seu apelo aos homens através de homens, que Deus realiza este milagre. Ele thes abre os olhos para que percebam 0 verdadeizo significado da cruz, seu valor eterno e sta vilidade pasa hoje. “Pregagiio” — escreve o Dr. Mounce —"é 0 elo atemporal e steno entre o grande ato redentor de Deus ¢ sua apreensfo pelo set humano. E 0 meio pelo qual Deus torna atual sua auto-revelagio ist6rica e oferece ao homem a oportunidade de responder com fe”. E mais do que isso ainda, Deus nao apenas confronta as pessoas através da proclamacio do pregador ele realmente as salva através da pregacio também. Paulo dlizisso de maneira categsrica: “Visto como, na sabedoria de Devs, mundo nio o conheceu por sua prépria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que exéem, pela loucura do erygma” (ICo 1.21). Assim 48 0 perfil do pragador também, o evangelho 6, cle mesmo, “o poder de Deus para asalvagio dle todo aquele que eré” (Rm 1.16). Jesus nfo disse, citando Tsaias 61 nna sinagoga de Nazaré: “O Espirito do Senhor esta sobre mim, pelo «que me ungiu para evangelizar aos pobres;enviou-me para proclamar libertago aos cativos e restauragio da vista aos cegos, para pér em liberdade os oprimidos"? Sua missto,dizele, éno apenas ‘proclamar libertacéo aos cativos”, mas realmente [pd-los] em liberdade"! "Aqui esti” — comenta 0 Dr. Mounce —"uma earacteristica exchisiva da proclamasio dos arautos do Novo Testamento: ao mesmo tempo qu proclama, ela fiz acontecer o que esti sendo proclamado.A proclamagl0 da liberdade ao mesmo tempo liberta. A proclamagao da restauragio davista abre os olhos dos cegos”- ‘Mas, mesmo levando tudo isso em considera, nao pocemos, dizer que cruz-eapregacio da cruz sto feitos igualmente importantes tn obra divina de redengo, Nem penta! Devs executon a nossa redengio na cruz; a pregagio “comunica de forma efetiva o poder ea uiidadacedeoteende Heul n, leading SGinaiatint =, Lin reconciliou-nos consigo através de Cristo: o que ele faz através de 1nds é apelar aos homens que sejam reconeciliados com ele, levando-os assim a desfrutar dessa reconciliasto. Podemos agora concluir, com urna aplicagio pritica para todas essa informagSes webricas. A grande ligdo que a metifora do arauto nos ensina, no Novo Testamento, é quea proclamagio ¢ oapelo deve ir juntos. Nao podemos separi-los. Ter um destes componentes separado do outro torna impossivel a verdadeira pregacio no sentido mento, Em diversas ocasides podemos que ela tem no Novo Te cencontri-los combinados, Um exernplo sio as primeiras palavras que temos registradas do minisétio piblico de nosso Senhor, ers Marcos 1.15: “O tempo esti cumprido e o reino de Deus esta proximo’ (proclamagio);“arrependei-vos e crede no evangelho” (apelo), Outro «caso € a parabola da grande festa, em que o servo recebe a orcem de diet 208 convidados: “Vinde, porque tudo ji esté preparado” (Le 14.17), "Tudo jf et prepara” x proclamagio,"vinde Eonpelo {que se segue. O mesmo padrio se percebe nos primeiros discursos eens | (alexi aig quem v6s traistes e negastes [...]. Vés [...] matastes o Autor da vida, aquem Deusressuscitou dentr os mortos [J As : < sorts]. Arependei-vos, pois, € convertei-vos” (At 3.13-19). Nés mesmos jé percebemor eo seaiiéncia na segunds epistola de Paulo aos coristos:primene Fnso da econeinao realizado; depois owpelo par esha Primeiro, de fato, “Deus nos reconciliou contigo neamol loons rogamos quevos reoncilciscom Deus, Po Neda de epelo sem proclamagao Dessn unio de proclamagio e apeo, podemos aprender dus ligses ae se complementam: em primeio gas, nunca devemos fuser wa Pepsem eto proclamayse, Multos mals fr tos alae los homens, muita desonru ao nome de Cristo, pelo descunnprimene dessa egrasimples. As pregagdes evanglsticas tm sido vere denene a epics de longo apelo a desisio, sem que auto tenhaerbide nenhuma base substancial para tomar essa deco. Mas o evannelty fandamentalmente nao é um convite aos homens, pelo qual se sare guceles figam alg; oevargetho & uma declasis dao que Devs $3 lzcm Crs race pc say dos homens O coe nao le ser dado com propriedade antes que a declarugi sei fita. Ay prveberaverdade antes de erem desafiads aaecieé. E verdade que a mente humana é fnita e decaida, mas nance slevemos pedir as pessoas que a assassinem. Se alguém vem a Grins com arependimento ef, precisa ser também com pleno assntinente imental, Muitas dis perdas de crentes novos logo ape ns capone cnet escido por pred crn Seder {ue nto podemos lev ema conta aimente humana na pregagaoenhae {ston porque cla ext obscutecida, é poso responder que os apeteos tinham outra opinito, Alguns dos verbos utilizdos por Lees ee Atos para descover a pregagio so decididament intelectsie come Aidasquein (ensinas), dialgesbai angumnentas), suxerean (discus srnguincin (contandis), paratthemi e sumbibacein(provae), dick ‘alighein(sofwear poderosamente). Veja Atos 2031; 17.2 17 ae 4 195 19.8, 95 24.5; 9.29; 9.22; 17.3, 9.29; 18,28. — sea, nflgums ves também, como resultado dessa pregastodialé- ea, nfo lemos que pessoas "se converteram’, mas sim que Foran © Rerfil clo pregador “persuadidas” (At 17.4, 18.45 19.8, 26; 28.23, 24). O que significa isto? Significa que os apéstolos estavam ensinando um corpo de dou- tyinas e argumentando com as pessoas a respeito da conclusio a que deveriam chegar. Eles buscavam uma conquista intelectual, persuadir as pessoas de que a sua mensagemera verdadeira, convencé-las para converté-his, Esse fato interessante € ainda confirmado por duas outras consideracoes: Primeiramente, que Paulo as vezes ficava Iongos pe~ riodos no mesmo lugar. O exemplo mais notivel €sua visita a Beso, na terveira viagem missionsria. Apds um ministério de trés meses na sinagogg, Paulo retirou-se, “passando a discorrer diariamente na escola, deTirano” [alguns manuseritos acrescentam: “da quintaatéa décima hora"] “por espago de dois anos” (At 18.8-11; ef, 14.3; 16.12, 14; 18.11-18). Cinco horas de aula por dia, por dois anos inteiros! Isso da ‘mais de 2500 horas de ensino evangélico! Nao admira que no versiculo, 10, possamos ler que, como resultado, todos os habitantes da Asia puderam ouvira palavra do Senhor, tanto judeus como gregos. Nao ha ddivida de que o antigo kerygma apostélico era cheio de uma sétida didagus$® A segunda confirmayio da fata de qe havia solider inte Jectual na pregagio dos apdstolos é que, no Novo Testamento, a expe- riGncia de conversio é freqgientemente descrita nfo como um encontro com Cristo, mas com a verdade. Converter-se é “acolher a verdade” (27s 2.10-13), “comhecer a verdade” (Jo 8.32; 1Tm 2.4 4.3; 2Tm 2.25;'Tt 1.1) ¢ “obedecer & verdad” (Rm 2.8; 1Pe 1.22; of. G15.7), enquanto a pregacio em si éa “manifestayio da verdade” (2Co 4.2). Paulo chega ao ponto de descrever a conversio dos romanos com as seguintes palavras: “Outzora escravos do pecado, viestes a obedecer de coragio 3 forma de doutrina [4ypon didagués] a que fostes entregucs”! Precisamos, entio, seguir o exemplo dos apéstolos e nfo ter medo de ensinar doutzina solida 4s pessoas ou argumentar racio~ nalmente com elas. F claro que elas nao podem entender nem crer sem a iluminagao do Espirito Santo, mas isso nao significa que tenhamos liberdade de diluir 0 conterido intelectual do evangelho. Como Grescham Machen sabiamente afirmou, precisamos fazer o ‘maximo possivel para dar as pessoas boas razSes para crer, mas € 0 spirito Santo que les abre a mente para que *reconhegam o peso das evidéncias’."” Nada de prociamagéo sem apelo A segunda ligao que precisamos aprender dessa ligacao que a Biblia faz entre proclamacao e apelo € o complemente da primeita: nunca devemos fazer a proclamagio sem completar com um apelo. Se Fosse o.caso de escolher entre os dois, eu daria preferéncia a proclamagio, ‘mas felizmente nao nos cabe essa escolha, Precisamos dar lugar tanto & proclamagio quanto ao apelo em nossa pregagio, se desejamos ser verdudcitos arautos do Rei. Nao tenho a presungio de dizer que forma esse apelo deve assumir. Nem estou defendendo aqui algum método ou técnica especial de evangelismo. Estou apenas afirmando que proclamagao sem apelo nao é pregacio biblica, Nao basta ensinar 0 evangelho; precisamos insistir com os homens para que o recebam. Naturalmente, ha diversos fitores que inibem os pregadores de fazer esse apelo, Fxiste win tipo de ultracalvinismo que considera chi smacloao arrependimento ea fé ura espécie de usupagio das prenrogativas do Espitito Santo. Sim, nés concordamos que o ser humano esti cego, ‘mozto eaprisionado, que arrependimento e fésio dons de Deus eque as [pessoas so inrapazes de debear os seus pecador ee entreggarem a Csisto se nfo houver dio prévia da graca do Espirito Santo. O apéstolo Paulo ensinow essas verdades. Mas isso nao deve nos impedir de rogar aps hamens que se reconciliem com Deus, porque oapéstolo Paulo fez isso também! Outros pregadores tém horror a0 emocionalismo. Eu ‘também, quando se trata de estimular artficialmente as emogSes com antificios de retérica ou outros expedientes. Mas no devemos temer a cemogio genuina. Se conseguimos pregar Cristo ¢ continuamos comple- tamente inabalados, devemos ter um corasio realmente mito end recido, Mais temivel que a emogio é o profissionalismo frio, aexposigio seca, imparcial, de um discurso sem alma nem coragiio. Sera que o risco «que as pessoas esto comendo dese perdes, ea salvagio que Cristo oferece, seri que essas coisas significam tio pouco para nés, que nio sentimos um pouco de emogio quando pensamos nekas? Richard Baxter era muito diferente nesse aspecto, Ele escreveu em seu Livro The Reformed Pastor, «em 1656: Fico impressionado coma mina capacidade de pregarfriae deslocadamente, de deixar as pessoas a s6s com seus pecados, sem iraté las ¢ rogar, peloamor de Deus, que se arrependam, no importa como fosse recebido ou quanto trabalho ou dor isso me custasse, Raramente © perfil do pregador desgo do piilpito sem que a minha consciéneia me acuse por no ter ado com mais seriedade ou fervor. Ela no me acusa por falta de io ou de eleganeia humana, ou por deixar de fora alguma palavra dificil; minha consciéncia pergunta: Como pudeste falar de xssuntos de vida ou morte com o cdragio tio fio? Nao deverias chorar por causa dessas pessoas, tua palavra cortada pelo choro? Nao deverias chorar em vozaalta e mostrar-Ihes os seus pecados e rogar como pela vida ou morte?” O verdadeiro arauto de Deus tem euidado primeiramente de fazer uma proclamagao fiel ¢ datalhada do grande ato redentor de Deus na cruz de Cristo, ¢ entio de transmitir um apelo intenso ¢ sincero aos homens para que se arrependam ¢ cream. Nunca uma dlessas coisas sem a outra; sempre as duas juntas! NOTAS verbere “Pregut, do Voeabulirio Bibtivo de J.J. Vor SUE, 1979. Original Feanete se 1986) Ny ‘waduzida segundo a versio inglsa tlizada por Stat) 2. No verhete "Preuching’, ean d Theclegice! Word Beok of the Bibl ed. Alan dion (Londres: SCM Pres, 1950), 5. James 8. Stewart, Herat of Gad (Londres: Hodder 8 Stoughton, 1946), p. 5 EMounce, The Bsential Naoure of New Tstament Preadig (Grand Rapids: Eerdmans, 1960), p52 5. Grek English Leseon of the New Tacoment,2+ edo revista (Edimburg: TSE Clack, 1892) p. 346, 6. Mounee, fits p 5. 7IBid, po AD 8. Did, po 9. Dodd, op. ie (Londres: Willer, 1936) p 7. 10, Maceds 4.23 (ensinando); Marcos 1.59 e Lucas 4.44 (peegundo) 11, Mounce, pct, po 12. Wid, 9. 2, 3B. 18, Dodd, op. it, ps 24, 1 Mounce, ac, p61 15. Ibid, p. 6. 16: Wid, p. 77. 17. Bid, p84 48. bid, 110. 72, Thi, p88, No capita 6, instal Cle oa PrePaaine Keryema CPsts para vom leery pr pauline”), p. S8-109, ele examina especiakmente 1Co 15.3883 Rm 1009; Rim 1.3; 4.24, 25; 8.34, 1Co 11.236se Fp 26-11 Richa 20. Mounee, op cts p. 7B 24. Ibid, p. 90,91. 22 Prints the Concenson of Eglo, Press eu Publiextions Boar ofthe Church Assembly (1945), p 1 23, William Caras, Memoirs ofth Lief the Rew, Chare Sineon(LongtesHatchaed, 1847), p28 24, Grmnon-Phaye, ost p 595 £25. The Voahulary ofthe GreckTistanent (Cand Rapids: Rerdmans),p. 534, 26, Cla relago existent entre nora palais “embaixada’e “delegao™ 27, Les it 28, Predeates,em LMacabeus 13.21, 1421, 22, presieusem IMacabeus9.70, 11.9 etl 29. CL v.15, "9 evagelho da pa" 30. BT: Forth, he Work of Crt (Londres: Hoder 8 Stoughton, 1910),p. 9. 31. Foryth, gp it, p 86. 32, Jumes Deriey, Te Death of Chie (Londres: Tyndale Press, 950, original, 1902), 9.8. 33, Ess ligisto,no pensamentoe no ensinn apostiica, ents aa ndo-pecaminosidade de Jesus su morte por nossos pecados, aparece tambein em Hebreus 7.26, 27; Pe 118, 19; 222, 24 3.48¢ Ifo 35. 34, © Dr. Laon Momis, no capitulo 1V de seu lvno The Apostle Pring of tbe (Grnr(Granl Rapids: Eerdmans, 1955), aficma que principal iia envobiana pala aloo, reconciling, e ans clerivadas, & de mudangs. Ele dé tamhém alguns exeraplos fem erin rahiniens, vot rferéncia em Jove «tea em 2Nacabeus, onde se di uc Deus reconeliou-s corso homes, 35. Bxpositar’s Gresk Testament 8. W. R, Nicoll (Grand Rapids, Eerdmans), “ade, 36, Denney pi, p. 86, 37. 0 mesino incentive aplicado a0 softimenta, em vex de aplcado ao serviga: At 5A; Fp 1.28, 38. Grimin-Thayer, ct, p. 82-489, 39. R. Mounce, of, ai p 153 0 Tid,» 153, 158 i. Tid, p13, 2 bb, 9.159, 6 Thi, p. 160. Bid, 9.7. 5 Hid, pS 46, Bi, p18, Wid, pe 135, 48. Veja Atos 13.2 17-19, onde progusio do evangelho € chamada exatamente de didequs © 54 ¢ 28.31, por expla, onde ensiae ¢ prepasio mito poser sigiticar simplesinenteensino pasos crentse preggo pra os inerellon, 49, J. Grescharn Machen, Christan Frith in tbe Modern World (Grund Rapids Eerdmans), p 630. 50. Richard Buster, Te Refrmea Paar (Londres: Epworth Press, 2 eigio revit, 1950), p. 145, 106. ste lve fo poblicado no Brus pela PES sab o titulo © Paster Apres © perfil do pregadar testemunha A EXPERIENCIA E A HUMILDADE DO PREGADOR a0 pregador cristao é “testemunha”, Para ser exato, & possivel testemunhar do Senhor Jesus Cristo sem ser um pregador, mas, assim mesmo, a atividade da pregagao é algumas vezes chamada de “testemunho" Por exemplo: fulando aos presbiteros da igreja de Efeso em Mileto, Paulo descreve 0 ministério que ele recebeu do Senhor Jesus como “testemunhar o evangelho da graca de Deus’, “testificando tanto a judeus como a gregos o arrepen- dimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21, 24)2 (© que estas palavras, “testemunhar” e “testifieas”, significam para vocé? Para alguns, a idéia transmitida é aguilo que em geral chamamos “dar um testemunho” (que normalmente consiste em narrar ascircunstincias da sua conversfo, As vezes como acréscimo de algunas notas autobiogréficas sobre como tem sido sua peregrinacio espititual A, terceira palavra que Novo Testamento usa em relagio f~ (Cristo diante do mundo, no poder do Espirito Santo, um mundo is vvezes indiferente e apitico na superficie, mas no fundo agressivo e rebelde. Como eles poderio ouvir, entender, arrepender-ce e erer? Como poderao ser convencidos a dar uma sentenga favoravel sobre Jesus, que esta diante deles? $6 hé uma resposta: ateavés do nosso testemunho. E por causa da oposigao que o mundo descrente faz a Cristo que 0 testemunho da igreja por Cristo se faz necessirio, O Filho Em segundo lugar, 0 testemunho cristio é testemanho do Filho. ‘Quando vier o Consolador [...] dant testemunbo de mim”: 0 édio do mundo concentra-se contra Cristo. "Odiaram-me sem motivo.” “Seo mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vés outros, me odiow a mim.” Portanto, é de Cristo o testemunho do Espirito e da igreja. Ele € quem esta sendo julgados por ele nds devemos falat. Assim, por todo 0 Novo Testamento, o evangelho é funda- mentalmente testemunho acerca de Cristo. Apocalipse confirma ess nossa declarasio. O vidente Jojo apresenta-se como um servo de Deus que “atestou" (testemunhou) a palavra de Deus ¢ 0 teste- munho de Jesus Cristo” (Ap 1.2). Semelhantemente, a igreja perse- guida no deserto sio “os que guardam os mandamentos de Deus ¢ ‘tm 0 testemunho de Jesus” (Ap 12.17). Também é esse testemunho acerea de Cristo que une 0 Antigo eo Novo Testamento, porque “0 testemunho de Jesus ¢ 0 espitito da profecia” (Ap 19.10). Certamente, os apéstolos no tinham diivida sobre orientago que seu testemunho deveria ter. Jesus thes dissera antes e depois de sua ressurreigdo que testemunhassem a seu respeito (Jo 15.26, 27; At 1.8), ¢ eles obedeceram a essa comissio. Scus sermOes estavam repletos de Cristo. Eles falaram da vida e do ministério de Cristo, “o qual andou por toda parte, fazenclo 0 bem ¢ cuando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele”; e podiam falar assim por terem sido “testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus € em Jerusalém” (At 10.38, 39). Falavam de sua morte também, como Ihe “tiraram a vida, pendurando-o no madeiro" (At 10.39) Nio havia diivida dessas coisas, porque eles foram, pessoalmente, 53 © perfil do pregedor “testemunhas dos sofrimentos de Cristo” (1Pe 5.1 ). Endo falavarn apenas do fato historieo de sua morte, mas de seu significado redentor. Como Paulo escreveu a'Timéteo, “ha um s6 mediador entre Deus ¢ os homens, Jesus Cristo homem [...], 0 qual asi mesmo se dew em resgate por todos: testemunho cue se deve prestar em tempos oportunos” (1'Tm 2.5,6). Mas acima de tudo, naqueles dias do prin- cipio da igreja, eles davam testemunho da ressurreigio de Cristo: “Aeeste Jesus Deus ressuscitou, do que todos nés somos testemunhas”, clamou Pedro em seu sermio no dia de Pentecostes (At 2.32). Novamente, em seu segundo sermao, cle diz: “... matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nds somos testemunhas”(At 3.155 cf. também At 10.40, 41; 13.30, 31). Nao € toa que Lucas, em um daqueles versiculos de Atos em que cle resume o assunto que esta tratando, descreve assim os antigos pregadores: “Com grande poder os apéstolos davam o testemunho da ressurreigao do Senhor Jesus” (At 4.33). ‘Muito do que se chama hoje “testemunho” é realmente autobio- _grafia, ou até mesmo autopropaganda, Todo testemunho verdadeiro é testemunho de Jesus Cristo, que esti sendo julzado pelo mundo. O Pai Em cerceiro lugar,o testemunho cristo (que € testemunho acerca de Cristo diante do mundo) é dado pelo Pai. O Pai € a testemunha principal. Embora Jesus tenha dito que o Espirito “dard testemunho de mim’, ele enfatiza, por meio de uma solene repeti¢ao, que 0 Pai é ‘quem envia o Espirito para dar testemunho. Jesus estava para enviar, “da parte do Pai, o Espirito da verdade, que dele procede”, Quanto a0 Espirito Santo, tanto a sua eterna existéncia no céu quanto sua inissio temporal neste mundo tém sua origem no Pai. Eternamente, le procede do Pai. Historicamente, veio do Pai. Assim, embora 0 testemunho de Jesus seja dado pelo Espirito, como veremos, esse testemunho originou-se com 0 Pai ‘A principal preocupagio do Pai sempre foi e sera honrar ¢ plorificar o Filho. “Quem me glorifica ¢ meu Pai”, disse Jesus, orando depois com ousadia: “Pai, glorifica a teu Filho” (Jo 8.54, 17.1). E bestemunhe 58 ‘para quea gléria seja dada ao Filho pelos homens o Pai testemunha ‘seu respeito, Para que possamos entender o que o Senhor pensava sobre essas verdades, precisamos examinar evidadosamente as suas palavras registradas em Joao 5.30-41, que passo acitat: “Se eu testifico aarespeito de mim mesmo, o meu testemunho nao € verdadeiro. Outro Eo que testifica a meu respeito, e sei que € verdadeiro o testemunho que cle da de mim. Mandastes mensageiros a Joao, ¢ ele de ‘estemunho da verdade. Bu, porém, nao aceito humano testemunho [...]. Mas cu tenho testemunho maior do que 0 de Jozo porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que cu faco, testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou. Eo Pai que me enviou, este mesmo é que tem dado testemunho de mim [.-J. Examinais as Escritura [..] e slo elas mesmas que testificam de mim”. Nesse discurso tao esclarecedor Jesus aponta para trés possibilidades validas de testemunho a seu respeito: o seu proprio testemunho, o testemunho do homem — representado por Joao Ba- tista — e 0 testemunho do Pai, Ele rejeita os dois primeiros como insutficientes (v.31, 34) e-afirma que o maior tertemunho n ceu reo ppeito que se pode imaginar ja foi dado, a saber, o testermunho do prdprio Pai. E, Jesus acrescenta, “sei que é verdadero o testemunho que ele da de mim” (v.32) ‘Mas permanece a questi: de que mancira o Pai deu teste- munho do Filho? De que consistia esse testemunho? Jesus niio dea livida sobre a resposta: Em primeiro lugar, esse testemunho esti registtado nas Escrituras do Antigo Testamento. Em segundo lugar, pode ser visto ¢ ouvido nas obras e nas palavras do Filho, dentro da histéria, A primeira parte do testemunho do Pai a respeito do Fitho slo as Escrituras do Antigo Testamento, “As Escrituras’— disse Jesus “testificam de mim” (v.39).“Moisés [...] escreveu'a meu sespeito” 46). Jesus confirmou essa verdade apés a ressurrcigio quando, conversando com os dois discfpulos na estrada de Ematis, “eomegando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-thes o que a seu respeito constava em todas.as Escrituras” (Le 24.27), Esse, entio, é © principal objetivo ¢ fingiio das Escrituras do Antigo Testamento: si0 0 divino testemunho acerca do Mesias dos judeus e Salvador do ‘mundo, que estava por vit. Foi “pelo Espirito de Cristo, que nelesestava", Oo perfil do pragador «que 0s proferas deram testemunho “sobre os softimentos referentes Cristo, ¢ sobre as glrias que os seguiram” (LPe 1.10, 11). ‘A segunda parte do testermunho do Pai respeito do Filho foram saquelas mesmas palavras que os contemporineos de Jesus ouviram- no dizer, e aquelas mesmas obras que o viram fizer. Suas palavras e obras nio foram, realmente, testemunho de si proprio, porque nfo cram exatamente suas palavras ¢ obras, mas as do Pai, que flava e aagia através de Jesus. As obras de Jesus foram as obras que 0 Pai Ihe confiara para que ele as realizasse (v.36, cf Jo 10.25). O mesmo acon- tecia com as suas palavras: “O meu ensino no é meu, ¢, sim, daquele ‘que me enviou” (Jo 7.16, ef. 12.49). Ele nfo falava por si proprio, na sua propria autoridade, mas por Deus.* Unindo essas duss coisas, Jesus podia dizer: “Nao crés que eu estou no Pai, ¢ 0 Pai est em mim? As palavras que eu vos digo nao as digo por mim mesmo; mas o Pai que ppermanece em mim, faz as suas obras. Crede-me que estou no Pai,e0 Pai em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras” (Jo 14.10, 11). Assim, as poderosas obras do Messias —“‘sinais” que manifestavam. sasua gléria (Jo 2.11) —e ax claras evidéncias que o reine viera sobre aquela geragio (Mt 12.28; Le 11.20), além das “palavras de graga que Ihe safam dos labios” (Le4.22), deviam-se ao poder do Pai que nele hhabitava, sendo assim o testemunho do Pai a respeito dele. Como essas palavras obras de Jesus encontram-se hoje registradas e intexpretadas no Novo ‘Testamento, podemos dizer que testemunho do Pai a cito do Filho esta preservado nas Escrituras do Antigo edo Novo tamento. A Palavra escrita dé testemunho da Palavra encarnada. ‘Um ditado muito apreciado pelos pregadores de antignmente” — esereveu James Stewart — “era que, assim como de cada vilarejo na Inglaterra strada que, unindo-se a outras, levava finalmente a Londres, assim também de cada texto da Biblia, mesmo os mais improviveis para nds, sai uma estrada que acaba levando a Cristo”? nigio, « Biblia é como aquela antiga brineadeira de “caga ao tesouro”, Cada versiculo é uma pista que, levando a outras pistas, acaba finalmente conduzindo ao tesouro escondido. Realmente, 0 da profecia”, seja nos profetas do Antigo Testamento, seja nos apéstolos do Novo, ¢ “o testemunho de Jesus” (Ap 19.10). Por ‘testemunhas de Jesus, estaremos sempre com a Mudando acom isso, se queremos s vessemunhe | 64 Biblia na mo, pois é ali que se encontra testermunho do Pai a respeito de seu Filho. O Espirito Em quarto lugas,o testemunho cristio é dado (pelo Pai, a respeito do Filho, diante do mundo) através do Espirito Santo, Nao devemos pensar que 0 testemunho divino acerca de Cristo aos homens seja ‘um testemunho morto nas palavras das Escrituras. Pelo contratio, é vivificado através do Espitito. E o Espirito que fila aos homens nas Escrituras e através delas. O testemunho do Pai nao é apenas pelas Escrituras nem apenas pelo Espirito, mas por ambos. Sé quando assimilamos essa maravilhosa progressio trinititia, 0 Pai testemunhando do Filho através do Espirito, é que comegamos a entender a idéia hiblica do testemunho etistio, Voltando ao nosso texto, Jesus diz claramente que 60 Espirito, que procede (eternamente) e veio (historicamente) do Pai, que dari testemunho dele (v.26). © Espirito Santo é executivo da’Trindade. Tudo o que Deus realiza no mundo hoje, ele a fa pelo inetrumento do Espirito. Uma das tarefas principais do Espirito Santo é tornar Cristo conhecido aos homens, ¢ Jesus revela aqui como ele € maravilhosamente capaz para essa obra, Sto ensinadas trés verdades a respeito dele: Em primeiro lugar, ele ¢o Paniclito. Se traduzimos esta palavra por “Consolador”, como a maioria de nossas versées da Bibli também se seguimos os estuediosos que propdem “Consethein importante saber que, a exemplo de “testemunha’, é um termo juridico, Com o significado literal de “chamado para o lado”, para ajudat, confortar ou aconselhar, esse termo passou a denominar 0 advogado de defesa em um julgamento, Além desses versiculos do discurso de Jesus no censicuio, em que o Espirito Santo € chamado Pariclito, a palavra ocorre apenas em Jodo 2.1, onde esta escrito: “Temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”, Jesus Cristo é nosso advogado no céu, enquanto a obra de defesa do Espirito Santo € xealizada na terra. Mas de quem o Espirito Santo é advogado na testa? Qual « causa que ele defende? Para mim, o contexto nos deixa, apenas uma resposta: Jesus Cristo, A palavza pode estar sendo aplicada 62 | © pernl do pregacor nessa passagem com outras nuangas de significado, ¢ certamente o Espirito Santo é o Ajudador e Consolador dos homens, mas a ligasio dessa palavra com o “testemunho” ema Joao 15.26 ¢ 27, com o*con- vencimento” em Joio 16.8, ambos termos juridicos, sugere firmemente que é a causa de Jesus Cristo que o Espirito Santo esta defendendo. Da mesma forma que Cristo é nosso Advogado diante do Pai no céu, 1 Espitito ¢ advogado de Cristo diante de mundo na terra, Ns somos apenas testernunhas no tribunal; a principal responsabilidade nna defesa esti com o préprio Deus Espirito Santo, Em segundo lugar, o Espirito Santo € chamado “Espirito da verdade”. “Quando vier 0 Consolador [...], 0 Espirito da verdade.” A verdade nfo € apenas uma caracteristica dele; & a sua propria natureza. Por isso Jodo escreve, em sua primeira epistola:“O Espirito 0 que da testemunho, porque o Espirito éa verdade” (1Jo 5.6). E inconcebivel que ele aja como testemunha mentirosa, Seu teste- munho é sempre verdadeiro, porque ele é verdadeiro. A terceira qualificagao que © Espirito Santo tem para dar testemunho de Cristo ¢ que ele é 0 Espirito de Cristo, 0 Nown Tes tamento praticamente nao faz diferenga em cham-lo de Espirito de Deus ou Espirito de Cristo, porque cle procede eternamente do Pai € do Filho. Nos versiculos que estamos estudando, no final de Joo 15, Jesus refere-se ao Espirito "que eu vos enviarei da parte do Pai” (of, At 2.33). Seo Espirito Santo é a0 mesmo tempo Pariclito, Espirito da vordade ¢ Espirito de Cristo, podemos entender perfeitamente por que Jesus conclui dizendo “esse dari testemunho de mim”. Ele € singular ¢ perfeitamente qualificado para tal. O propésito de sua vinda foi divulgar Cristo, ‘glorificando-o” diante da jereja (Jo 16.14), ¢ “dando testemunho” dele diante do mundo (Jo 15.26).* A igreja Chegamos finalmente ao quinto aspecto do testemunho cristio, 0 que envolve o pregacor, Percorremos um longo caminho para chegar aqui, mas agora podemos ver a obra do pregador da perspectiva correta. Podemos resumir a idéia biblica do testemunho cristio dizendo vestemunhs 6a que é testemmunho dado diante do mundo pelo Pai acerca do Filho, através do Espirito e da igreja. Se o testemunho vivo do Pai é dado através do Espirito, ele é dado através da igreja também. Por Jesus dizz “O Espirito da verdade [...], esse dara testemunho de ‘mim; e vés também testemunhareis”. Pedro fez uma declaracio semelhante em um de seus sermées diante do Sinédrio, quando disse: "Nos somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espirito Santo” (At 5.32, ef. 1.8), Este testemunho duplo, do Espirito eda igreja, éum fendmeno ‘muito interessante, E um exemplo do fato de que qualquer testemunho, para ser vilido, precisa ser plural. No Antigo’Testamento, aevidéncia ttazida por uma tinice testemunha nao era suficiente para provar qualquer acusagao. “Una 6 testernunha nio selevantari contraalguémn, para o acusar de algum transvio,” “Pelo depoimento de duas ou trés testemunhas sera morto o que houver de morrer; por depoimento de uma 36 testemunha, no morrera” (Dt 19.15; 17.6; ef. Nm 35.30; Hb 10.28). Este principio foi importado para o Novo Testamento, Jesus nos disse bem claramente que se algum irmio que pecou contra ‘nds recusa-se a ouvir quando vamos a 86s confronté-lo com seu erro, precisamos entio levar mais “uma ou duas pessoas, para que pelo depoimento de duas ou trés testemunhas toda palavra se estabelega” (Me 18.15-16, cf. 2Co 13.1; 1Tm 5.19). E mais, este principio nao se aplica somente ao testemunho dos “transvios” de alguém, mas também ao testemunho da verdad, Por isso Jesus enviou os Doze e os Setenta de dois em dois (Me 6.7; Le 10.1). Certamente é por isso também que ele invocou o testemunho do Pai em confirmasao do seu testemmunho a respeito de si. “Na vossa lei est escrito” — disse ele — “que 0 testemunho de duas pessoas € verdadero, Eu testifico denim mesmo, € o Pai, que me enviou, também testifica de mim” (Jo 8.17, 18). E talvez isto lance alguma luz sobre as “duas testemunhias” que em Apocalipse (11.3-17) recehem autoridade para profetizar por eexto period. Tudo isso fala do valor do testemmunho coletivo, das imensas possibilidades de uma igreja inteiramente unida no testemunho acerca de Jesus Cristo diante da comunidade da qual fxz parte. Se pelo depoimento de duas ou trés testemunhas toda palavra se estabelece, quem poder resistir ao impacto da igreja inteira unida no testemunho? 64 © perf do pragadar Experiéncia e humildade Embora seja realmente importante o testemunho da igreja, 0 pre~ sgador tem um papel especial no testemunho de Jesus Cristo, Para cumprir seus deveres de forma adequada, ele precisa de duas qua- lidades especiais: experiéncia e‘humildade. Vamos estudi-las separadamente. A experiéncia “Experiéncia” aqui nao significa experiéncia no ministério de pre- gago, nem experiéncia de vida em geral, embora essas coisas sejam. muito importantes para o pregador, Significa uma experiéncia pessoal com Jesus Cristo mesmo, Essa €a primeira ¢ mais importante carac- teristica do testemunho cristfio. Ele nfo pode falar como alguém que “ouviu dizes”. Dessa forma, nao seria realmente uma “testemunha’. Ele precisa tera capacidacle de falar de sua prépria experiéncia pessoal, ‘Mesmo as associagGes juridicas que a palavra possuii deveriam deixar claro este ponto. Uma das situagdes em que ela é usada é na satificagio formal de transagies legais. Por exemplo, quando Jeremias comproui um campo do seu primo, em Anatote, ele disse: “Assinei a cscritura, fechei-a com selo, chamei as testemunhas e pesei-lhe 0 dinheizo numa balanga’, dando grande énfase ao fato de queo registio da compra foi primeiro assinado e selado, e depois dado a Baruque, “perante as testemunhas” (Jr 32.9-12, cf. v. 25 e 44). Semelhante- mente, Boaz, no lugar piblico em frente as portas, tendo como teste- munhas 0s ancifos da cidade, comproude Noemi um campo e Rute, a moabita, para er sua mulher (Re 4.1-12)2 Essas pessoas so chamadas testemunhas” porque “testemunharam” um acordo, Elas ouviram, pessoalmente as estipulagdes das partes contratantes ¢ viram quandoo documento foi assinado ¢ selado. Talvez isso fique mais claro ainda nas ocasides em que Deus ‘mesmo é chamado como testemunha. Um exemplo do Antigo Testa~ ‘mento basta. Jeremias termina sua carta aos exilados na Babiléniacom as seguintes palavras: “Eu o sei e sou testemunha disso, diz.o Senhor” (Jr29.23).* Deusé a melhor testemunha que existe, porque ele conhece todas as coisas, Seus olhos esto em toda parte. Nada the pode ser testermunhs | 6s ‘oculto. E porisso que o apdstolo Paulo, em suas epistolas, por quatro vezes afirma solenemente, ao declarar alguma verdade acerca de seus atos pessoais, ou seus motivos de foro intimo: “Deus é minha teste- 9; 2Co 1.23; Fp 1.8; 1Ts 2.5). $6 Deus podia conhe- cer 08 seus pensamentos. 84 Deus sabia se os seus motivos eram sinceros ou seu coragio, puro. Portanto, quando ele estava sob acusagio ‘ou suspeita por parte dos homens, 36 Deus podia ser sua testemunha © outro uso juridico que se faz da palavra “testemunha’ per- tence as cortes de justiga, O cidado que comparece ao julgamento de alguém processado por dirigir perigosamente precisa ter visto 0 acidente. O verbo grego martyrdsthai ow martyrcin significa, de acordo com o léxieo de Grimm-Thayer, “ser testemunha, dar teste- munho, tesifica, isto é, afirmar ter visto ou owvido, ou experimentado, algo",’ Eis outra definigao: "A testemunha éa que tem conhecimento direto de certos fatos e que declara diante de uma corte de justia 0 que viu e ouviu, Testemunba aquilo que sabe”.* Essas idéias juridicas associadas a palavra “testemunha” sio aproveitadas pela Biblia no campo do testemunho cristZo. Voltando a0 texto-base deste capitulo, Jesus disse aos seus disefpulos:... v6s também testemunhareis", mas ele fer,uma observacio sobre a cipa- ‘A simplicidade da pregagao comesa com 0 nosso assunto. Vamos precisar gastar a maior parte do tempo expondo os temas centrais do evangelhos as questbes mais esdatoeulas da profiecia e os assuntos de carater polémico ou especulativo, nés bem podemos deixar de lado, Entio, devemos ter um estilo tao simples quanto © assunto de que estamos filando. Sintaxe complexa, com abundancia de oragées suborcinadas, pode ser apropriada para os livos;no pulpito, fica completamente fora de lugar. Pontos Finais funcionam melhor do que virgulas, na linguagem falada. & bom usar muitas pausas. Como disse o Bispo Ryle, ‘pregue como se woes estivesse tendo uma cise de asma’. Valorize o assunto simples, o estilo simples, a palavsa simples. Nao ha por que pregar como quem acabou de engolir um dicionario. Nosso vocabuilirio pose ser rico (pois ha certos chavoes que precisam ser evitados) sem ser estapafiirdio. E precisamos nos afastar do jaro teolbgico. I verdad que:aigreja precisa estarapar do sentido de palavras importantes como “justificasio”e "propiciagic”, mas 0 principio vamos precisar explicar até mesmo que significam na Biblia coisas obvias como “grasa”, fe", “esperanca’ e“amor”. Se formosstbios, nao esperremosnenhum conhecimento prévio. Nos dias de hoje, se pudéssemos realmente ver comoas pessoas esto, eu creio que a ignorincia da grande maioria dos leigos nos deixaria expantados. “Em nenhuma outra época” — escreveu o articulista do Tinesapos a publicagio do Orford Dictionary ofthe Christian Church, pelo Prof. FL. Cross, em 1957 —“houve tantas pessoas cultas com ‘0 pouco conhecimento das coisas do cristianismo”. Eu poderia dizer muito mais sobre a simplicidade na peegagio: sobre o costume de estruturar o sermo em partes (divisbes ficeis de entender) ¢ sobre 0 uso da repeticio e da ilustrapio, mas vou me ‘v > contentarcom apenas mais um ponto, que é 0 uso de linguagem visual. Costumamos usar recursos visuais no ensino para criangas. E, nesse particular, todos sao como eriangas. Aprendemos e memorizamescom muito mais faclidade através dos olhos, mais que com os ouvidos. ‘Mas nfo precisamos realmente usar recursos visuais no ensino de adultos, se conseguiimos ajudi-los a visualizar aquilo sobre © que esta~ mos falancio. As criangas tém uma imaginagio concreta e viva. E felizmente, quando erescem, nao a perdem de todo, Nao devemos ter medo de apelar a capacidade de imaginagao das pessoas. Como diz aquele proveécbio oriental, “o hornem eloggiente transforma os owvidos de seus ouvintes em olhos, de modo que eles conseguem ver o que ele cst falando”,"* Jesus fer. isso constantemente, por meio de suas pparibolas ¢ de sua mancira de falas,edevemos aprendera fazero mesmo. O pai € altemente interessedo Em quarto lugar, o amor paternal nos far verdadeiramente interessados no resultado de nosso apelo. “Mamie” — perguntou 2 garotinha que ‘ouvia Charles Simeon pregar pela primeira vezem Cambridge —"por aque este senhor esté tao emocionado?”.® Ja eserevi , no capitulo 2, sobre o fervor da proclamasiio do arauto. Este fervor écaracteristico do pai também, Pode ele permanecer fio e indiferente vendo sens filhinhos sedesviarern do caminho? Pode vé-los em perigo no fizer nada para ajudé-los? O pai ama, e por isso tems cuidado com sens filhos. Eo pai «ue cuida de seus flhos nao hesita er usar de todos os seus recursos de convencimento quando sente que ha razio de preocupar-se com eles, Paulo foi um pai de verdade. Durante os txés anos que passou em Efeso, ele diz, nao cessou de “admoestar, com ligrimas,a cada um” (At 20.31). Qual foi altima vez que choramos de anggistia espiritual por alguém?“O Dr. Dale, de Bieminghan, tinha suas reservas quanto 20 ‘evangelista Moody. Mes, apos owvi-lo, sua opiniao mudou, Ele passou stencari-lo com grande respeito, considerando que ele inha direito de pregar o evangelho,‘poisera incapaz.de falar de uma alma perdida sem ligrimas nosolhos”!® Assim como 0 pai avisa seus filhos do perigo, 0 pregador fick também pregaré as vezes sobre 0 pecado, 0 juizo e o inferno. Seu 982 9 perf do pregascr ministério seri equilibrado. Ele procuraré mostrar “a bondade € a scveridade de Deus’ (Rm 11.22), acertera dojulgamentoe a grandera da salvacao, Nao é tipico do amor deixar os homens a 86s com osc petigo. Se perecem ser Cristo, ele precisa avisi-los solenemente do julgamento futuro eexorti-los ardentemente ase refugiar em “Jesus, «que nos livra da ira vindoura? (1Ts 1.10). Sempre gostei da definigio de pregagio dada por Chad Walsh, que escreveu: “A verdadeira fangao do pregador ¢ perturbar os que estio calmos ¢ confortar os perturbados”.* Ja meditamos sobre a necessidade de conforto do ser humano, com tanta coisa a nos perturbar nestes dias. Mas ha outros que nfo estio nem um pouco perturbaclos, mas deveriam estas Sentem-se satisfeitos c antosuficientes. Nio sentem necessidade alguma de Deus, nem pensam no juizo final cem seu destino etemo. Podemos abandona-los em seu paraiso de tolos? Clacamente é nosso dever tentar por todas as maneiras legitimas acordé-los de seu sono perigoso, Sim, se somos do tipo que procura acima de tudo agradas, esc nos importamos com nossa reputago, iremos evitar os assuntos desagradaveis. Seremos como as falsos profetas, que diziam "paz, paz”, quando nao havia paz, e Deus ini requerer de nossas maos o sangue das almas perdidas (ef Ez. 33.1-9). ‘Mas se amamos os outros mais do que Anossa reputao, ire- mos proclamar a ira de Deus sobre © pecado, tanto quanto a stia graca para os pecadores. E pregando por amor, estaremos pregando em amor, pois nao ousaremos pregar sobre essas coisas com a aspeteza de quem esti calejado ou a indiferenca de quem nao da importincia 2 nada. Os filbos nio serio surcos 20s avisos sinceros de seus pais, se tiverem certeza do seu amor. As pessoas ouvito 0 queestamos dizendo, sevirem lagrimas em nossos olhos. Elas dito sobre seu pastor que ele nao apenas “nos compreende”, mas também Snos ama”. E como escreveu 0 Bispo Ryle acerea de George Whitefield: “Eles nfo conseguiam odiar ohomem que choravatanto porsuas almas”. B acrescentou: “Acredite que alguém o ama, e voce ouvird alegremente tudo o que ele tem a dizer”. Permita que o amor coloque esse fervor em nosso apelo! Permita-me citar novamente © grande livro de Richard Baxter, The Reformed Pastor, “Nao importao que voce faga, deine que os outros vejam que voo8 esté realmente pa co dy ? 4 ? interessado. [...] Quito poucos pastores ha que pregam com toda a eloguéncia de que sto capazes. [..] Ai de nds, filamos de maneira ‘G0 mansa ou sonolenta que as pessozs aclormecicias pelo pecado nfo conseguem ouvir. Nossos golpes sto tao leves que os de coragao duro nem 0s sentem. (..) Quantas doutrinas excelentes mortem nas méos dos pastores por falta de aplicagio viva e direts. [..] Oh, senhores, quanta clareza, quanta simplicidade e fervor deveriamos colocar em nossa mensagem, quando a vida ou morte eterna dos homens depen- dem disso! [...] O qué?! Falar friamente por Deus pela salvacao dos homens? [..]Um trabalho como esse de pregar pela calvagio doshomens deve ser feito com nossa forga — para que as pessoas possim sentir nossa pregago quando nos ouvem’ © exemple do pei Em quinto lugar, o amor paternal fari que sejamos coetentes em. nosso exemplo, Este € outro aspecto de nosso tema que ndo €estrita~ mente ligado a homiléticase ainda assim nao podemosisolar 0 pilpito hem separar 0 que o pregador di. dacquilo que ele &. O pai sabio & ccuidacloso e se esforga bastante para deixar para seus filhos um exemplo bom e coerente em tudo, Ele conhece o poder quase assustador do exemplo, para o bem e para o mal, coisa sobre qual a Biblia tem. inuito a dizer. Ele se lembra das severas palavras de Jesus sobre 0 “escindalo”, sobre alguem que fz “tropecar a um destes pequeninos", como “seria melhor que se Ihe pendurasse ao pescogo uma grande pedra de moinho, ¢ fosse afogado na profundeza do mar” (Me18.6- 7). Mas, se o mau exemplo pode corromper, o bom exemplo pode inspirar ¢ sustentar. Paulo sabia disso, Logo apés declarar-se pai daqueles crentes de Corinto, cle diz: “... admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores” (1Co 4.16). E preciso uma boa dose de autoconfiang2, no bom sentide, para convidaralguém a seguir 0 nosso exemplo, mas Paulo o fez diversas vezes em suas epistolas. Claro, a modéstia do pregador nao deixar que ele aja como Paulo, mas, inde pendentemente da forma como isso ¢ comunicado, a igreja vai seguir seu exemplo. Ele é 0 tinico representante oficial da f que muitos deles conhecem, Elescectamente iro seguira sua lideranga, nfioapenas © perfil do preaedor “eg através de seus sermoes, mas da sua vida tambérn. O pregador ni pode se dar ao huxo de ser pego desprevenido; a semelhanca de seu Mestre, ele esté sendo observado 0 tempo toxlo, E muito mais ficil ditaras regrasco pilpito do que exemplificé-las em casa, coma faznf- lia, Achamos mais icil dar aos outros instrugdes sobre o caminho do que gui-1os pelo caminho. Mas as intrugses que Pedro nos deixou sio claras: “Pascoreai o rebanho de Deus que hé entre vis, [..] nao como dominaclores cos que vos foram confiados, antes tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe 5.2-3). Esta é a decisio que temos de tomar: ser *dominadores”, patrdes dogmaticos exigentes, ou "exemplos”, bus cando humildemente mostrar o eaminho. Creio que foi Inge quem primeiro som este jogo de palavras to ilustrative de que o crstianismo € algo que se“pega’, mais do que algo que se aprende. E um contigio, que se di pelo contato com um exemplo destacado; no se aprende, simplesmente nos livros, © maior “recurso visual” que Deus usa para ensinara humildade é uma vida crista coesente, Assim, nossa vida precisa estar deacordo com nossa profissio de {, para que no estejamos pregando oque nao fi pode nos dar bons conselhos sobre isso também, quando descreve sgtande empecilho que ¢ para acbra de Deus quando comesamas a nos contradizer,“quando as suas obras mostram amentira de seus labios, ¢ quando vocé constréi com a boca por uma ou duas horas e passa 0 resto da semanadestruindo coms mes! [...] Quem realmente acredita no que diz, vive de acordo com 0 que diz. [..] Um exto claro dos pastores que sofrem dessa defusagem entre vida e pregacio é que eles, ‘studam a sério para poder pregarbem, mas guase nao estudam como viver bem, Uma semana de estuclo parece pouco para duas horas de setmdes; no entanto, uma hora ji é demais para estudar como ind viver durante o resto da semana. [..] A doutrina pritica precisa ser pregada

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