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RIS 020: ox wrincn ‘se um quarto dos meninos ¢ meninas esta abrigado por caréncia de recursos materiais (Unicef, 2006), Hoje se prevém auxilioe orientagdo para a familia c, em segunda hipdtese, a localizacio dentro da rede de pareéntesco ~avés, tios — de aleuém que possa Se responsabilizar ¢ cuidar desta erianga, o que se viabiliza parcialmente com o Bolsa Familia. Dessa forma, o sistema vai sendo estruturado gradualmente, apos haver sido. aos poucos, construido um primeiro alicerce de dircitos, que oferece a sustentacdo normatiya, A questdo da mortalidade infantil também retrata de maneira contundente como a prioridade na erianga transcende os direitos especificos, exiginde a ado Gao de ages politicas coma finalidade de promover a melhoria das condigdes de vida de criancas ¢ adolescentes, como, por exemplo, o acesso a Jima potavel ¢ a0 saneamento, Entre 1994 € 2004, taxa de mortalidade infantil caiu de 39.5 para 26,6 dbites por mil nascidos vivos. Contdo, somente em 2004, 0 pais registrow ‘go mil mortes de menores de ano, parte das quais poderiam ser evitadas. Para se equacionar o desafio de reduzir a mortalidade para niveis aceiti veis, diminuindo fortementeo percentual eujas causas advém da pabrera eda violéacia, devem-se observar questies relativas a habitagio, ao saneamento, a0 emprego, A renda as quais diem respeito a dimensio politica, em suas {és esferas: municipal, estadual ¢ federal. Ocorre, porém, que as agendas politieas possuem uma temporalidade propria, o que pode levar ao enten- dimento de que um periodo de quatro anos ¢ curto; entretanto os resultados de apenas um ano de precariedade ¢ vulnerabilidade tendem a ser deci vos. ou até mesmo fatais, na vida de uma crianga. Fim 36 meses se conclui o ciclo referente a etapa fundamental de desenvolvimento de uma crianga, Entdo, é necessirio trabalhar segundo um sentimento de urgéncia, que diz respeito lanto ao primeiro quanto an segundo ¢ terceiro setores, indice de Desenvolvimento Infantil Para impulsionar 0 avanco ¢ freilitar adeterminagaa de metas a serem cum pridas, o Unicef construiu o IDI (indice de Desenvolvimento Infantil): cada municipio brasileiro tem seu proprio indieador relative ao periodo 1999 2004. 0 indiee é resultado de uma equacie matemdtica que expressa uma média ponderada entre um conjunto de indieadores: percentual de erian entual de criangas menores de 6 anos cujos pais tém escalaridade preciria, acessn a cas menores de 6 anos cujas mies tém escolaridade precaria, per NDICE DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL BRASIL POR MUNICIPIOS - 1999 IDL I Abaixo de 0,50 HE oco,s000,20 BE Acimade 0,80 Fonte: UNICEF SIA servigos de sade materno infantil (representados pelo pré-natal, vacina triplice ¢ taxa de escolarizacdo bruta na pré escola). QO indice varia de o a1, sendo 1 o melhor nivel de desenvolvimento infan- til. Este é 0 retrate do Brasil nos dois anos em que se caleulowo indice: Numa leitura geral do mapa do 1D1, percebe-se que importantes con- quistas tém acontecido, mas muito hd ainda a ser feito. Segundo os dados de 2004+: 3.580 municipios (64.4%) estavam na faixa intermediaria, 1.405 4 Ainda que estejamas utilizando para efeitos itustrativos, o mapa de 1999 (ultimo disponiret?, achamas pesti- ‘ente tecer estas consideracdes fazendo referencia aps dodos mais recentes. O argumente geral, porém, +2 mantém em ym oy outro casa. (2a Dineir0s pa InFANCIA (25,39) no grupo abaixo de 0,5 ¢ apenas $72 (10,3%) acima de 0,8, 0 melhor segmento, Ametodologia pode também impulsionar outras iniciativas, como aque la levada a frente em parceria do Unicef com o Instituto Ethos de Empresas. e Responsabilidade Social para a produgao do IDIE (indice de Desenvolvi- mento Infantil Empresarial), por meio do qual a empresa pode medir os in- dicadores relatives aos filhos de seus funciondrios e de seus terceirizados. Quando se compara o grau de escolaridade dos pais destes dois grupos, por exemplo, fica evidente uma diserepancia enorme, que realimenta a desi- gualdade. Um instrumento de andlise como este pode tornar-se um impor- tante indutor de mudancas empresariais ¢ governamentais. Papel da imprensa Arealidade dos direitos da crianga edo adolescente ainda tem muito a avangar no Brasil—e é neste contexto que a midia, comunicadores ¢ jarnalistas desem- penkam um papel fundamental. Alguns exemplos relacionados 4 implementa- gao do proprio sistema de garantia de direitos s4o bastante ilustrativos. Ha mu nicipios que nao contam ainda com o seu Fundo da Infancia e da Adolescéncia ¢ ha outros em que um au os dois eonselhos (Tutelar e de Direitos) no foram implementados. Isto para nio falar daqueles onde o colegiado existe, mas nao funciona ~ afinal, apés ser criado por lei, o Conselho precisa atuar na prati~ ca, assumindo um valor politico: as pessoas precisam conhecé-lo, saber de sua funcdo enquanto instincia fundamental para a promocio e defesa das direitos. Nesse sentido, a demanda social é indispensavel. Todos devem questio nar, caso 0 sistema n3o funcione ou nao responda come deveria. Neste cir~ cuito, conhecimento ¢ informacao atuam fortemente. Jornalistas e comuni- cadores agem como divulgadores tanto daquilo que € previsto na lei quanto do processo politico de sua implementacao; tanto da importaneia da exigibilida- de como das responsabilidades das pessoas e de cada institui¢io. O papel da midia é de parceria na quebra de uma situagao de impoténcia civil. tipiea da época em que a responsabilidade cabia exclusivamente ao Estado. A opiniao pitblica faz parte da exigibilidade cidada. O pleno sucesso do ECA depende, sob um certo ponto de vista, da capa~ cidade em se fazer conhecer nio apenas a legislagio em si, mas também tedo o aparato previsto para transforma-la em realidade, o que contribui para dar perenidadade a uma nova atitude perante a infincia e adolescéncia. A isso oneros nrc, soma-se o fato de que a propria imprensa, por definigdo, pode e deve assumir um papel ativo no processo de monitoramento, fiscalizagio e cobranga quan. to Adefiniedo, gestio e avaliagio das politicas piblicas. A informagio qualificada permite que @ direito seja exigido ¢ também desfaz equivocos ¢ mas interpretagées que acabam por resistir 4 sua justa implementagdo. Como exemplo, vale mencionar a falsa idéia sobre 0 teor da protecao que a lei garante aos adolescentes que cometem atos infracionais, como se estes nao fossem responsdveis por suas agdes. Aqui, de novo ha um importante espaco para a contribuicdo da imprensa. Na verdade, o ECA ¢ bastante rigoroso: uma menina ou um menino com mais de 12.anos jaresponde pelo que faz. Se houver uma grave ameaca contra pes- ‘s0a, ele pode ser privado de liberdade. Esta privacdo foi denominada inter- nagio, ¢ inclui um carter socioeducativo adequado a alguém em fase de for mac! . condiglo peculiar de desenvolvimento caracteristica da adolescéncia. Existe wma justica juvenil, com previsae do direito-a advogado, promotor, juiz da Infancia ¢ da Juventude, com todas as regras do direito ~ 0 contraditério, a materialidade, a confrontacdo com testemunhas etc. Analisando as medidas socioeducativas torna-se evidente que, no funda, sao muito proximas daquelas previstas no Codigo Penal —reparacao de dana, prestagdo de servigo 4 comunidade, privagio de liberdade, semiliberdade, li berdade assistida. A forma de se fazer cumprir esta justica juvenil, contudo, € diversa, porque considera a especificidade da eriancac do adolescente, como expresso no Artigo 6 do ECA. La esta a diretriz explicita de como se deve in terpretar o Estatuto: Na interpretagdo desta Lei levar-se~do em conta os fins sociais ea que ele se dirige, as exigéncias do bem comum, os direitos ¢ deveres individuais ¢ coletives, ea condiedo peculiar da crianga-e do adolescente. Ainfancia ¢ a adolescéncia sio a €poca da vida em que aprender é funda mental. O ECA nao diz que o adoleseente deverd aprender sem assimilar 0 fato de que violou as leis. Sua orientacdo, porém. é que. no contexto de priva cao de liberdade, n&o se coloque um adolescente de 12 junto a um de 18 anos ¢ munca um adolescente com um adulto. Aprender deve ser uma prioridade também na execugao da medida destinada aos adolescentes, por isso é uma medida socioedueativa endo uma pena. DIREITOS Da INFANCIA Midia e efetivacao dos direitos E preciso também se avancar na efetivagdo da universalidade dos direitos, outro ponto em que a contribuigo da midia pode ser fundamental, Quando morre de modo violento uma erianca branca, costuma acontecer uma enorme ~ © justificada — comogao social, que motiva forte questionamento sobre o aparato da Justica. Entretanto, todos os dias morrem no Brasil muitos meni nos Negros ~ mortes estas envoltas em total siléncio, Os dados siio impactan- tes: 16 eriancas ¢ adolescentes com esse perfil si mortas diariamente, sem que haja alarde, segundo o Unicef. E um Boeing a cada dez dias. Sio mais de So Boeings por ano, Nesse caso ha claramente um viés, no qual pesa o pre toneeito, a raga do menino, o local onde ele mora, o gran de pobreza de sua familia ~ todos so fatores que contrilmem para que a repereussdo daviolen cia que recai sobre cle seja muito menor. Nas situagdes em que adolescentes sdo assassinados na periferia das grandes cidades, quantos sao esclarecidos? Eum desafio, em um pais com as caracteristicas do nosso, construir uma eul tura em que a violéncia seja sempre considerada inaceitavel. O mesmo tema permnite outras leituras. Caso empilhiissemos o¢ processos envolvendo criancas ¢ adolescentes em dois montes — um para quando sio Vitimas ¢ outro para quando aparecem como autores ~.a primeira pilha seria infinitamente maior. Mas os adultos ficam especialmente mobilizados toda ver que um adolescente comete um delito. Para ele, entio, exige se tade o rigor da lei ¢ até mais. Infelizmente. nao se vé tal exigéncia em relacdo a prioridade, prevista em lei, que a infancia e a adolescéncia deveriam ter nas politicas publicas. Sem pagio de algum jovem, tomam fora os movimentos paraalterara legislacio vigente, em especial no que diz respeito a redueio da maioridade penal, Mas 0 fato & que, conforme pre que existe uma comogdo proyocada por violéncia onde ha partic mos, o FCA ainda no foi suficientemente implementado em seu Conjunto: 0 projeto de lei relative ao Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Sociveducativa) no havia sequer sido vatado quando este artigo foi elaborado, asexperiéncias imovadoras, eapazes de mostrar que o Estatuto é vi vel, siio pon tuais, ¢ a sobrevivéncia das velhas estruturas e procedimentos parece contar com qualquer lacuna de novo paradigma para comandar o retroresso, Se o comunicador entender que estamos diante de uma construgao histé rica, terd a oportu: jade de contextualizar as forgas em jogo, eafrentamen to de dois paradigmas, a implementagio das politicas sociais ¢ as fluuagdes da prépria opiniao publica. = ReFeRENciA BIBLIOGRAFICAS BRASIL. Constituirgo (198). 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