Você está na página 1de 66
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIENCIAS NATURAIS E EXATAS CURSO DE CIENCIAS BIOLOGICAS Caderno Diddtico de Biologia Celular (6LG 138) Elgion Loreto Departamento de Biologia -2005 Sumario: Introdugao Primeira Parte Uma breve revisio de Biologia Celular A logica da composigo molecular dos seres vivos Estruturas supra-moleculares e a emergéncia de novas propriedades A organizagao celular: 0 conceito de célula minima Da célula procariética para a célula eucaridtica Segunda Parte Recomendagées de ordem geral a serem observadas no uso do Laboratério, © uso do microscépio éptico (mo) Observando células de epitélio de escamas de cebola Propriedades fisico-quimicas dos componentes da membrana plasmatica, Comparando células procariotas e eucariotas. Um pouco de fisico-quimica: pH Estudando a passagem de solutos e solventes pela membrana plasmatica. Fracionamento celular centrifugagao. cromatografia eletroforese Observacdo de ciclose e cloroplastos em células de Elodea ‘Observando cilios e sistema de endomembranas Preparagao de laminas permanentes Observagao de complexo de Golgi em laminas permanentes de epididimo Observago de células musculares estriadas Observagdo de mitose em ponta de raiz de cebola Atividades de praticas de biologia como componente de formacao pedagégica. atividade 1 — Biologia na cozinha. atividade 2 - 0 uso de modelos didaticos e simulagées Pagina 2 16 24 ar 29 40 4 42 44 47 49 51 53 54 87 59 60 61 62 65 65 INTRODUCAO Biologia Celular (BLG 138) 6 uma disciplina do primeiro semestre, ¢ ministrada com duas horas/aula (h/a) teéricas e duas hia préticas semanais s principais objetivos da disciplina so 0 dar ao aluno = uma visdo atual da organizagao e funcionamento celular, assim como © dominio dos conceitos basicos dessa érea do conhecimento; - uma visio histérica sobre as principais descobertas que levaram aos paradigmas atuais dessas cléncias; - _instrumentalizagao para busca de informagao e atualizagdo, de forma auténoma nessa 4rea do conhecimento; = Instrumentalizagao para o desenvolvimento de atividades didaticas de Biologia Celular, para todos 0s niveis de ensino, incluindo as atividades praticas. © presente Cademo Didatico foi escrito para auxiliar a atingir os objetivos descritos acima. Para tal, ele consta de duas parte: 1") Uma breve rey texto ser o teérica atualizada, porém escrita em nivel de ensino médio. Este de base para as primeiras semanas de aula teérica que consistira de uma re geral de Biologia Celular. 2°) Protocols das aulas praticas, Estas atividades sordo executadas durante as aulas préticas e cabe ao aluno fazer o registro solicitado nos protocolos, Pensamos ser este material uma posterior fonte de consulta para a execugao de atividades didaticas. © aprofundamento teérico, que se seguiré @ revisdo apresentada na primeira parte deste Cadero Didatico sera feito a partir da seguinte bibliogratia’ CARVALHO, H.F. e RECCO-PIMENTEL, S.M. A célula 2001. Barueri,SP, Ed. Manole, 2001 JUNQUEIRA , L.C. @ CARNEIRO, J. Biologia Celular e Molecular. 7* Ed. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2000, DeROBERTIS, E.D.P. ¢ DeROBERTIS, E.M.F. Bases da Biologia Celular ¢ Molecular. 14 ed, Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 2003. COOPER, G.M. A célula, uma abordagem molecular. 2 ed P. Alegre, Artes Médicas, 2001, ALBERTS, B. e colaboradores. Fundamentos da Biologia Celular. P. Alegre, Artes Médicas, 1999. ALBERTS, B. e colaboradores. Biologia Molecular da Célula. 4 ed. P. Alegre, Artes Médicas, 2004. Uma breve revisao de Biologia Celular Unidade | A légica da composi¢do molecular dos seres vivos: DE QUE SAO FEITAS AS CELULAS? Os conceitos primordiais para o entendimento dos seres vivos sao aqueles relacionados aos tipos de moléculas que os compdem, Os seres vivos sao formados por células € todas as células so constituldas pelos mesmos componentes quimicos, organizados em uma “légica" muito simples: tomes se agrupam para formar moléculas, estas, nos seres vivos sao as vezes muito grandes, @ por isto chamadas de macromoléculas, que se associam para formar as organelas © demals partes da célula, (Figura 1). - ho “3° Be Atomos Moléculas: \ serge Macromoléculas Varlas macrornoléculas se unem para formar as organelas celulares Figura 1, Organizacao das estruturas 1.A agua e suas propriedades especiais ‘A dgua é a molécula mais abundante nos sistemas vivos e perfaz 70%, ou mais, do peso da maioria das formas de vida. Sempre admitimos a agua como um liquido inerte, suave, conveniente para muitos propésitos praticos, Embora seja quimicamente estavel, ela & uma substancia com propriedades incomuns. Na verdade, a agua e seus produtos de ionizagao, os ions H+ e OH-, influenciam profundamente nas propriedades de muitos componentes importantes das células, como as enzimas, as proteinas, os Acidos nuciéicos e os lipidios. A molécula da Agua ¢ eletricamente neutra, mas arranjo dos atomos de hidrogénio e oxigénio em forma de V torna essa molécula um dipolo elétrico. Pela presenga dos dois pdlos (+ e -) a agua é dita um solvente polar. ‘A agua é melhor solvente do que @ maioria dos liquidos comuns. Quase todos os sais minerais, podem ser dissolvides na agua sob forma de ions, como por exemplo, os ions de Na’, Cl’, K’, Mg"’ . Estes fons, em especial, séo de fundamental importancia no controle da quantidade de Agua nas células (presséo osmética), atvam também no funcionamento de muitas enzimas e na excitabilidade das oélulas ‘As moléculas organicas, que $80 as moléculas mais importantes na constituigao e funcionamento dos seres vives, podem apresentar trés diferentes comportamentos com relagéo a agua; a) sto solivels (se solubilizam totalmente na agua, como a maioria dos glicidios); b) so insoliveis (por exemplo, as gorduras neutras), ou e) so anfipaticos, isto 6, possuem uma parte da molécula que se dissolve na agua e outra que € insolavel. Temos,como exemplo dese iltimo tipo, 0s lipidios e proteinas que compéem as membranas. ‘A forma e propriedades funcionais que as macromoléculas vao apresentar so profundamente influenciadas pelo modo com que elas interagem com a agua. Sendo assim, esse liquido “inodoro, incolor e sem gosto”. desempenha, no funcionamento celular, um papel muito importante. 2. As moléculas organicas Em uma primeira observago, Podemos constatar que os seres vivos so quimicamente muito complexos. Suas moléculas organicas so “gigantescas’ quando comparadas as moléculas “dos seres brutos’ e, além disso, so extremamente varidveis. Por exemplo, um organismo bem simples como uma bactéria, pode ter mais de 2.000 proteinas diferentes. Um ser humano deve ter em toro de 100.000 tipos de proteinas. Como poderemos_—estudar quimicamente estes seres, se, considerando somente as proteinas, temos uma diversidade tdo grande ? Esta tarefa, que aparentemente € impossivel, toma-se faciltada pelo fato de que as moléculas biolégicas podem ser organizadas em apenas 4 classes. Além disso, deve-se levar em conta que as moléculas organicas so formadas por, aproximadamente, 30 componentes basicos. Entender esta classificago & fundamental para a compreensao da quimica da vida. AS quatro classes de moléculas orgénicas que estéo presentes nas células séo as seguintes: A) Glicidios (também chamados de agdcares ou carboidratos) B) Acidos nuci C) Proteinas D) Lipiios (gorduras) As rs. primeiras. classes. formam MOLECULAS POLIMERICAS, isto é , so moléculas compostas por “unidades que se repetem’, denominadas MONOMEROS. ° MONOMERO icos 00 oO POLIMERO Figura 2, Formagio de polimeros Podemos resumir a composigao das macromoléculas organicas dos seres vivos na Figura 3, em que encontramos os atomos que compéem cada classe de macromolécula, os monémeros de cada ero formado, classe @ 0 p Devemos lembrar que na Figura 3 as moléculas poliméricas aparecem formadas por poucos monémeros, mas na realidade, geralmente, elas so formadas por milhares doles, domos moles rea marinero pelmaro cho = @ rmonosscarso (ese: goose pelsacaricen (een: ic cho og Nes : erinoido ra prora exe we YYYYYYs Fucleoticoo Acidos nucleons (exempi= ON) 5 riotoman Heo sides gras polieros ‘rigleerideos Figura 3. Glasses de moléculas presentes ‘Como podemos ver na Figura 3, seis principais tipos de étomos vao formar todas as moléculas orgénicas dos seres vivos. Estes seis elementos se organizam em aproximadamente 30-40 tipos de moléculas (os monémeros) que podem ser classificados por sua estrutura quimica em 4 grupos. No grupo dos glicidios, 0 principal monémero é a glicose. Nas proteinas, os monémeros so 20 diferentes aminoacidos fe, nos dcidos nuciéicos, séo "basicamente” 8 nucleotideos. Somando-se a estes alguns tipos predominantes de lipideos, teremos entao, aproximadamente os 30- 40 componentes quimicos basicos, @ suas variagdes, que sdo predominantes nos seres vivos. 2.4 PROTEINAS As proteinas séo as moléculas responséveis pelo funcionamento da célula, Praticamente todas as atividades da célula , portanto, de um organismo séo executadas por proteinas. © transporte de substancias é realizado por proteinas, como por exemplo, a HEMOGLOBINA que transporta oxigénio. movimento das organelas no interior da célula, e mesmo o movimento proporcionado pelos misculos, como um todo, 6 resultado da interagao de proteinas como @ TUBULINA @ DINEIRA; a ACTINA @ a MIOSINA. A protegdo do nosso corpo contra os microrganismos que causam doengas & dada pela agdo de ANTICORPOS, que séo proteinas. Todas as reagdes quimicas que, constantemente, esto ocorrendo em nosso organismo, so realizadas por proteinas especiais chamadas de ENZIMAS. Enfim, todo o funcionamento do nosso organismo se gragas @ atividade das PROTEINAS. Cada uma dessas fungoes 6 realizada por uma proteina diferente. Existe, no corpo humano, cerca de 100.000 tipos. diferentes de proteinas, cada uma sendo ‘especialista em uma funcao. As protei de 20 tipos de aminodcidos, que diferem entre si através de uma parte da molécula, chamada de radical. 5 sd currstiuldas a partir ee AE Pk Hye an ‘coon coon Ee A BOO OE | am nn re Sf St ane ODE sae Sat me Figura 4 = 0s 20 aminokeidos quo eamaie as rteinas ‘AS proteins sao formadas pela Unido de 100 ou mais aminodicidos. O que vai diferenciar uma proteina de outra é a seqiiéncia dos aminoacidos que a compoem. ‘Como existem 20 diferentes tipos desses aminodcidos eas varias proteinas podem ter comprimentos diferentes, temos uma diversidade muito grande nessa classe de macromoléculas (figura 4). Por exemplo, a enzima ribonuclease bovina é formada por 124 aminoacidos, ja a albumina do sore humano é formada por 528 aminoacidos. ‘A seqiéncia de aminodcides que compée uma proteina, recebe 0 nome de estrutura priméria . A substituiggo de um Unico aminodcido em uma cadeia protéica, provoca uma alterago na estrutura primaria dessa prot modificagéo pode ser grave, resultando em uma nova proteina que no funcione corretamente dentro da célula. ja. A conseqiiéncia da Chamamos de estrutura secundaria a interagao entre 0s aminodcidos vizinhos um uma cadeia polipeptidica. A interagao entre radicaic + © — ou hidrofébicos © hidrofiicos fazem com que parte da cadeia se organize fem « hélice ou pregas (folhas) p. Na Figura 6, esta representada a ‘estrutura primaria da ribonuclease bovina, que uma enzima que degrada o RNA. Na estrutura priméria, esta explicito apenas qual € ‘a.ordem dos aminodcidos que compe uma protelna, ou seja, qual é 0 primeiro, o segundo, o tercelto... até 0 ultimo aminodcido. Figura 5. Estrutura primaria da ribonuclease bovina A estrutura terciéria. de uma proteina, por sua vez, 6 aquela que representa como @ a sua torma tridimensional. formato da mioglobina, ou seja, sua estrutura tercidria @ representada na da Figura 6. A estrutura tercidria das proteinas depende da seqliéncia de aminodcidos (estrutura priméria). ‘ectrutura estratura ‘secundaria Figura 6. Estrutura secundaria © lterciaria da mioglobina, Forma e Fungao das Proteinas Para todo o lado que olhamos, podemos observar que a forma dos objetos & que ditam a sua fungao. Na Figura 7, temos a representagao de uma tesoura ¢ de uma colher, E muito dificil cortar um pano com uma colher, ou comer sopa com uma tesoura. A forma desses objetos ¢ que permite sua fungéo. COLHER Figura 7- Relagao entre forma e funglo © modo como uma proteina ira desempenhar a sua atividade dependerd de sua forma tridimensional, ou seja, depende de sua estrutura tercidria, que em ultima andlise depende da seqiiéncia de aminodcidos que compée a proteina (estrutura priméria). Atroca, acréscimo ou retirada de um aminoacido PODE ocasionar alteragdes na estrutura dessa proteina, alterando sua forma fe, portanto, sua fungdo. A troca de um aminodcido na proteina ribonuclease, por exemplo, a substituigéo do terceiro aminoacid (treonina) por uma glicina resultaraé em uma proteina com outra forma tridimensional e incapaz de executar sua fungao. Somos formados por aproximadamente 100 trilhdes de células. As células so estruturas muito organizadas cujo funcionamento é, essencialmente, realizado por uma classe de moléculas, as proteinas. Sao as proteinas, que iréo dar forma as estruturas celulares, transportar substancias, realizar as reagées quimicas necessérias a sobrevivéncia crescimento da célula, enfim séo elas que iro pér as células a funcionar. Existem milhares de proteinas diferentes em cada célula, Cada proteina esta envolvida em uma fungao ou atividade especifica. Diferentes células apresentam proteinas diferentes, o que explica as variagdes nas formas e funges observadas em cada tipo celular Portanto, para entender o funcionamento celular temos que olhar com atengao para as proteinas. As proteinas so cadelas de aminodcidos. Imagine uma proteina como um colar de pérolas, cada aminoacid sendo uma pérola. Existem 20 diferentes tipos de aminodcidos, 0 que poderia ser representado em nosso colar por pérolas de 20 cores diferentes. O nlimero de pérolas e a seqiléncia nas cores das pérolas, (aminoacidos) variam de proteina para proteina, como nos dois "colares" vistos na Figura 8. Figura 8: Diferentes proteinas podem possuir diferentes nimeros de aminodcidos (como no exemplo aqui temos um "colar" com 11 e outro com 9 contas). AS proteinas diferem também com relagao a seqiéncia de cores das conlas do colar (seqiiéncia de aminodcidos), © niimero de aminodcidos varia de uma proteina para outra, as menores tem em torno de 50 aminoacidos e as maiores perto de 20.000. As proteinas se dobram formando uma —_estrutura tridimensional tipica, ou seja cada proteina tem uma forma definida que depende da seqiiéncia de aminodcidos que possui. E essa forma que vai ser responsavel pela fungao da proteina. Observe a sua volta diferentes objetos @ veja como a fungao de cada um deles esta relacionada a sua forma E a estrutura tridimensional que permitiré a uma enzima (proteina que ativa reagées perfeitamente ao seu substrato e alterd- quimicas) _encaixar-se lo. Vamos a um exemplo: o fator Vill & uma proteina de 2.531 aminoacidos e esté envolvida na coagulagao sanguinea. A auséncia ou a redugdo da atividade dessa proteina no sangue causa a hemofilia cléssica (hemofilia A), condicéo em que a pessoa pode morrer devido & hemorragia intensa e de longa duragao, desencadeada por qualquer pequeno ferimento. Hé casos em que os hemofilicos tém o fator Vill no sangue, porém, essa proteina apresenta alguns dos seus aminodcidos trocados ou faltando, e isso causa uma alteragéo no formato tridimensional dessa proteina, impedindo que ela se ligue com as outras proteinas envolvidas na coagulagao sanguinea, ou dificultando essa ligago Sabe-se também que algumas substituigdes de aminoacidos na proteina podem ter efeitos menos drasticos, provocando apenas uma pequena alteragao de forma do fator VIII, sem comprometer 0 funcionamento de modo muito intenso. Neste caso, a pessoa pode ter um tempo de coagulacéo um pouco maior do que a maioria dos individuos, sendo, no entanto, normal e nao hemofilica, Enzimas ‘As enzimas formam uma classe especial de proteinas que tem como fungaio catalisar (acelerar) as reagdes quimicas. Cada enzima é especializada em acelerar uma reago especifica. Por exemplo, a enzima amilase age sobre 0 amido ¢ o degrada até glicose. O amido, que 6a substancia que vai ser alterada durante a reagao quimica, recebe o nome de SUBSTRATO. Na enzima, existe uma regido que se liga especificamente ao substrato e a esta regio chamamos de SITIO ATIVO. Assim, apés a interago do substrato com o sitio. ative, ocorre a reagdo quimica, sendo liberado 0 PRODUTO da reagao, que no caso da amilase, é a glicose. As enzimas nao se alteram com a reagéo quimica que promovem, saindo intactas do processo, podendo ir localizar mais substrato para catalisar nova reagio (Ver Figura 9) A site ave => 2 SupstRATO PRODUTO Figura ® Esquema de uma reagao enzimalica As Proteinas na Nossa Dieta As proteinas, ——enquanto macromoléculas, nao sao essenciais na dicta humana. Alguns monémeros que formam as proteinas € que so considerados essenciais para nutrigdo humana Os aminodcidos chamados de essenciais so aqueles que nossas células nao conseguem produzir. AAs proteinas presentes nos alimentos so degradadas no aparelho digestivo. Essa degradagdo corresponde a separagao da cadeia polipeptidica em monémeros. Os aminodcidos liberados so, entio, levados através do sangue para todas as células do nosso corpo. Uma vez no interior de nossas células, esses aminodcidos serao utlizados para compor as nossas proteinas e fazer funcionar o nosso organism. As proteinas de um bife eram importantes no misculo da vaca. As proteinas do ovo seriam importantes para 0 pintinho que iria se desenvolver naquele ovo. Se essas proteinas entrassem intactas em nossa circulagao, de nada adiantaria, pois no estariam aptas a desempenhar as funges que as nossas células devem executar. Além do mais, como sabemos, toda proteina estranha serve como antigeno, ¢ provavelmente, a absorgéo de uma proteina de vaca ou de galinha provocaria uma reagao alérgica, Nosso sistema imune reconheceria esas proteinas como estranhas a0 organismo e criaria anticorpos contra elas. ‘As proteinas so moléculas muito grandes. Por exemplo, 0 colégeno é composto por aproximadamente 3.000 aminoacides. Essa proteina fibrosa é 0 principal componente da matriz extracelular e do tet io conjuntivo. Se considerarmos que a molécula da agua (que & bem menor que a de um aminodcido) tem dificuldade de atravessar a pele, como poderia ser absorvida uma molécula de 3.000 aminoacidos? Mas muitos cremes “vendem” a idéia de que podemos “repor’ o colégeno que esta faltando em nossa derme, usando colégeno de galinha. Na verdade essa proteina nao consegue atravessar a pele & chegar na derme, onde normalmente est depositada. Caso isso _acontecesse, provocaria uma reagéo alérgica (seria um antigeno) Os aminoacidos sao divididos em essenciais, isto é, aqueles que precisam fazer parte de nossa dieta, pois nao temos a capacidade de sintetizé-los e nao essencials (aqueles que podemos sintetizar) ‘A quantidade de proteinas. necessérias na dieta varia conforme a idade © 0 estado fisiolégico. Criangas, gestantes & lactantes necessitam mais proteinas do que adultos, Um adulto jovem, com intensa atividade fisica, deve consumir em torno de 56g didria de proteinas. Os alimentos de corigem animal, como came, leite © ovos so ricos em proteinas. Os vegetais também tém proteinas porém em quantidades menores, Por exemplo, uma fatia de po de trigo integral possul 2 gramas de proteina, mas como essa é uma proteina de baixa qualidade, um adulto jovem precisaria comer 72 fatias didrias para obter as 56. g de proteinas. Resumindo o que foi apresentado sobre proteinas, podemos dizer que’ O funcionamento de um organismo depende de suas proteinas. O funcionamento de cada proteina depende de sua forma. ‘A forma de uma proteina depende da segiténcia dos aminodcidos que a compéem. A questo agora & explicar: Como 0 organismo estabelece sequéncia de aminoacidos que deve estar presente em cada proteina? A seqiiéncia de aminodcidos das proteinas “esté escrita” (codificada) nos genes. Os genes so compostos de outro tipo de molécula organica, os Acidos nuciéicos. 2.2.ACIDOS NUCLEICOS Os Acidos nuciéicos também s4o macromoléculas poliméricas, formadas. por monémeros chamados de nucleotideos. Cada nucleotides 6 formado por uma base nitrogenada, um aglicar (tibose ou desoxirribose) e fosfato (Figura 10) base nitrog. facucay footate Figura 10, Nucleotides Estes monémeros se unem para formar dois tipos de polimeros, o DNA (acido desoxirribonucléico) e@ 0 RNA (acido ribucléico). Os Acidos nuciéicos so formados pela unido de nucleotideos (Figura 11). OOO fo PILLS Figura 11- Molécula de Acido nucléico Na molécula de DNA encontramos as seguintes bases: adenina (A); citosina (C); guanina (G) e timina (T) e so chamados de desoxiribonucleotideos, porque 0 agucar é a desoxiribose. A molécula de DNA é formada por uma cadeia dupla, tendo algumas caracteristicas importantes. Sempre que existir uma adenina em um lado da cadela, teremos uma timina no outro e sempre que cocorrer uma citosina em um lado da cadela, teremos uma guanina no outro. Chamamos isto de complementariedade das bases, ou seja, as timinas sempre fazem par com as adeninas ¢ as citosinas sempre pareiam com as guaninas ode e ire SEEESSESEI IS. IFigura 12. Estrutura da molécula de DNA| Imostrando a complementariedade das bases A=T;| Ic=o, Duas propriedades importantes resultam da estrutura do DNA: 1) Capacidade de replicago. Com 0 auxilio de enzimas, a dupla hélice de DNA se abre, formando fita simples e pode ser duplicada, originando cépias exatamente iguais a molécula original 2) Capacidade de conter a informagao da seqiiéncia de aminoacidos que compée as proteinas. As seqiiéncias de nucleotideos do DNA determinam a estrutura primaria das proteinas. Figura 13- Replicagao da molécula de DNA © RNA 6 uma molécula formada por uma Gnica cadeia, ou seja, 6 fita simples. Os nucleotides do RNA sao chamados de Ribonucleotideos porque o agiicar é a ribose. No RNA a base uracila (U) substitul a Timina do DNA. Os diferentes tipos de RNAs sao extremamente importantes para fazer com que a informagao genética contida no DNA seja traduzida em uma seqiiéncia de aminodcidos, originando as proteinas (sera visto adiante), 2.3. GLICIDIOS Os glicidios, também chamados de carboidratos ou agiicares so polidis de aldeidos ou cetonas, divididos em: a) Monossacarideos - como por exemplo a glicose e a frutose. Os monossacarideos podem unir-se formando dissacarideos. Por exemplo, a sacarose (aguicar de cana) ¢ a uniao de uma frutose © uma glicose, A maltose 6 formada pela uniéo de duas moléculas de glicose e a lactose (agticar do leite) & formada pela uniéo de galactose & glicose. “argon ribose wo—d—n pon w—c—on “oxeon alicose frutose Figura 14 -Exemplo de alguns. monossacarideos b) Polissacarideos - séo formados pela unio de varios monossacarideos (so POLIMEROS DE GLICOSE) Os tes polissacarideos mais importantes so 0 AMIDO (reserva de energia dos vegetais), 0 GLICOGENIO (reserva de energia dos animais) e a CELULOSE (constituinte da parede das células vegetais). A diferenca entre esses polissacarideos esté na ligagao quimica que une as glicoses, As principais funcées desempenhadas pelos glicidios sao: -ENERGETICA: séo fonte de energia para a célula (ou reserva de energia) - ESTRUTURAL: formam as paredes das células vegetais, -RECONHECIMENTO: esto envolvides no processo de reconhecimento célula-célula nos tecidos dos animais pluricelulares, através do glicocalix. 2.4, LIPIDIOS Os ipidios. ou gorduras desempenham importante papel na estrutura e fungao celular. lipidios e cada uma possui fungdes biolégicas especiticas, Os dcidos graxos so a unidade fundamental da maioria dos lipidios junto com 05 trigliceridios constituem as principals gorduras neutras que funcionam como reservas energéticas Hé varias classes de idios $80 lipidios derivados dos trigliceridios. Nesses lipidios, uma das cadelas de dcido graxo 6 substitulda por uma estrutura quimica POLAR. Desta forma, estas moléculas teréo uma parte polar (hidrofilica) e uma parte apolar (hidrofébica) Os fosfolipidios e esfingolipidios sto componentes fundamentais das membranas biolégicas (sera visto adiante). Outra classe de lipidio é a dos esterdides que podem ter fungao estrutural, como 0 colesterol que é um componente da plasmatica. Outrafungao desempenhada pelos esterdis 6 a hormonal, como por exemplo a _testosterona, progesterona, membrana ESTRUTURAS SUPRA-MOLECULA- RES E A EMERGENCIA DE NOVAS PROPRIEDADES Um conceito importante para o entendimento dos seres vivos é 0 de “propriedades emergentes". Vejamos um exemplo bem simples: um professor demonstra a aco enzimética da amilase salivar, através de um experimento muito comum, que pode (e deve) ser realizado em sala de aula, Nesse experimento, uma solugao de Maizena ¢ fervida e distribuida em dois frascos. Em apenas um dos frascos adiciona-se um pouco de saliva e depois, uma gota de lugol (ou solugdo de iodo) 6 acrescentada em ambos 0s frascos. Neste caso, a alleragao de cor que se observa no frasco é explicada pelo fato da enzima presente na saliva ter a PROPRIEDADE de degradar 0 amido da Maizena, Essa é uma propriedade catalitica muito especifica, a amilase desdobra o amido em glicose. Se a0 invés de acrescentar saliva na mistura, acrescentassemos os aminodcidos que comptem a amilase, iria ocorer a reagio de degradagao do amido? E claro que nao. Uma pilka de tjolos nao é 0 mesmo que uma casa. Uma mistura de aminodcidos isolados, n&o possui as propriedades da proteina que poderia ser formada pela unio desses aminodcidos. Para que uma proteina desempenhe uma fungéo definida, & necessério que ela tenha uma forma especifica, A estrutura tridimensional de uma proteina é resultado da unio de aminodcidos em uma seqiéncia também especifica. Portanto, é a ligagéo sucessiva de um aminodcido a0 outro que ird determinar a forma final de uma proteina e sua capacidade funcional ‘As macromoléculas apresentam propriedades novas que nao estao presentes nos seus components isolades. A amilase, or exemplo, tem a capacidade de degradar © amido, porém esta propriedade no esté presente em nenhum dos aminodcidos que compéem a amilase. Quando, pela unio de aminodcidos em uma seqiiéncia especifica, a macromolécula amilase se forma, EMERGE uma nova propriedade (capacidade de degradar a amido) que nao esta presente nos seus componentes. AAs propriedades emergentes séo um aiuto da forma esterioquimica da macromolécula. Do mesmo modo que a forma da tesoura confere a esse instrumento uma propriedade nova (capacidade de cortar), a forma da proteina amilase he permite catalisar a reagao amido-Pglicose. Muito do funcionamento celular depende das propriedade emergentes de suas macromoléculas. Mas as células no so formadas apenas de macromoléculas, elas possuem também ESTRUTURAS. ‘SUPRAMOLECULARES. Estruturas supramoleculares sao estruturas. macromoléculas. Um exemplo de estrutura supramolecular 6 0 ribossomo (Figura 16), Cada sub-unidade do ribossomo 6 formada formadas por—varias por varias macromoléculas, A sub-unidade maior ¢ formada por 3 diferentes RNAS Fiboss6micos: um com 120 nucleotideos (nts), outro com 160 nts e 0 terceiro com 4700 nts. Além dos RNAs a sub-unidade maior apresenta 49 diferentes proteinas (denominadas L1, L2, L3, ... até L49). Na sub-unidade menor temos apenas um rRNA de 1900 nts associado a 33 proteinas (denominadas $1, $2, até $33). ey saw deren AL ‘@. Ff sumunidase y maior Formato por3 direnies | [Formade por 1 aWAe ase Veaeinae Figura 16 .Ribossomo dos eucariontes Os ribossomos so estruturas capazes de auto-montagem, isto 6, basta colocarmos todos os componentes juntos ©, fem condigées fisico-quimicas apropriadas, automaticamente as sub-unidades do ribossomo montam-se. E possivel, portanto, desmontar © remontar 0s ribossomos em tubos de ensaio. E sempre, apés a auto- montagem, uma PROPRIEDADE nova EMERGE : “os ribossomos sao capazes de fazor sintese de proteinas” Todas as. organelas_ intracelulares sdo estruturassupramoleculares. A mitocéndria, por exemplo, ¢ formada por um grande nimero de proteinas, lipidios, DNA, RNA... que formam suas membranas, os seus ribossomas, corpisculos elementares, etc... Eslas macromoléculas, a0 se associarem, formam a mitocéndria que ossui propriedades novas que nio estéo presentes nos componentes isolados. Por exemplo, a sintese quimiosmética do ATP sé 6 possivel gragas & estrutura da mitocéndria que é dada pela totalidade de seus componentes associados, © néo pode ser realizada apenas por um ou outro componente da mitocénéria. Este é outro exemplo de uma propriedade emergente, que 86 se manifesta a partir do surgimento de uma estrutura. com —_organizagéo supramolecular. UNIDADE II A ORGANIZAGAO CELULAR © tema de estudo da Biologia, a VIDA é uma propriedade emergente de uma supraestrutura: a célula, A Vida originou-se na Terra a +/- 3.5 bilhées de anos atras quando "montaram-se” as primeiras células, © CONCEITO DE CELULA MINIMA A definigao mais comum para célula 6 “unidade morfo-fisiolégica dos sores vivos”. Mas 0 que caracteriza uma célula? Quais sao os componentes MINIMOS para que uma estrutura possa ser considerada uma célula? De uma forma geral, quando perguntamos como é constituida e como funciona uma célula, a resposta mais comum é formada por membrana, citoplasma e nucleo. A membrana reveste a célula, fazendo as trocas com o meio, o citoplasma contém as_organelas. responsaveis pelo funcionamento da célula e 0 niicleo controla este funcionamento.” Devemos considerar, entretanto, dois aspectos importantes: 1) As bactérias e demais procariontes so organismos celulares e nao possuem niicleo; 2) Quando dizemos que o niicleo “controla" o funcionamento celular, nao fornecemos nenhuma idéia de como isto ocorre. Esta visio da constituigao ¢ funcionamento celular 6 origindria do fim do século passado e, nessa época, o estudo da estrutura e do funcionamento celular dependia exclusivamente do microscépio 6ptico e de alguns corantes. Neste periodo, 0 que mais chamava a ateng&o, quando se observava uma célula, era a presenga do niicleo, Posteriormente, verificou-se que, no nucleo, estavam os cromossomos e inferiu- se que estes eram depositarios dos genes. Assim, a idéia de que, no niicleo, estava 0 controle do funcionamento celular & relativamente antiga, porém por muito tempo no foi possivel saber exatamente como esse controle era exercido, Figura 17. Aspecto geral da organizagao| CARACTERISTICAS BASICAS DE UMA CELULA (uma concepgao atual) Se a descricéo de uma célula como um conjunto de membrana, citoplasma © niicleo 6 uma viso origindria do fim do século passado, quaisseriam as caracterisicas da organizagao celular em uma viséo contemporanea? Para responder essa questio temos que pensar em caractersticas que sejam comuns a todas as célilas, sejam clas procaridticas e eucaristicas ‘Sao quatro as partes essenciais que podemos encontrar em toda célula: ® Membrana - delimita a célula, separando ‘0s demais elementos celulares do meio ambiente @ regulando as trocas da célula com o meio; ® Maquinaria metabélica — conjunto de enzimas e proteinas capazes de utilizar a matéria © energia do meio ambiente para realizar as fungées celulares; @ Informagao genética - informagao de como, quando e onde montar as proteinas da maquina metabélica & demais proteinas estruturais da célula ® Maquinaria de sintese protéica - 6 constituida por ribossomos, mRNAs e IRNAs capazes de transformar a informagao genética em maquinaria metabéiica Estes componentes celulares podem ser facilmente_reconhecidos nos. Mycoplasma, um tipo de bactéria, que so os seres celulares estruturalmente mais simples que conhecemos (Ver Figura 17). Vamos, a seguir, tratar de cada uma dessas partes que compéem 0 que podemos chamar de uma ¢élula minima. MEMBRANA CELULAR © que delimita a célula do resto do universo @ uma fina membrana LIPO- PROTEICA chamada membrana plasmatica ou membrana celular. A célula no pode se isolar do meio em que se encontra, precisando manter uma constante troca de matéria e energia com 0 ambiente. Estas trocas so controladas pela membrana plasmatica. Por isto a principal caracteristica da membrana a PERMEABILIDADE SELETIVA. Assim, a membrana 6 permedvel porque deixa passar substancias através dela, porém, faz isso seletivamente, ou seja, escolhendo © que deve entrar @ sair da cétula, Para se entender como a membrana realiza esta fungdo de permeabilidade seletiva, temos que estudar como a membrana 6 constituida quimicamente e como estes componentes atuam. Os lipidios da membrana séo diferentes dos lipidios que so usados como reserva de energia (acidos graxos © trigliceridios). Enquanto os _—_lipidios energéticos sao insollveis em agua, os lipidios que compée a membrana (chamados de fostolipidios, estingolipidios e outros) sao ANFIPATICOS, ou seja, tém uma parte da molécula que é eletricamente carregada e hidrofilica (solivel em gua), e outra parte que é Figura 18. Parte Hidroflica Parte Hidrofibica, idrofébica (insolivel em agua) - Figura 18- Estrutura de um Fosfolipidio Tendo esta caracteristica anfipatica, 08 fosfolipidios, quando colocados em agua, vao ter uma organizagao tipica, formando finas membranas em BICAMADAS, conforme representado na Figura 19. pate 0 eats 8 2 ow ae HidcofSbica ES 0 ES 0 oq On LP RARS \ pate 4,0 ELA tice Figura 19 - Formagao de bicamadas lipidicas |quando os fosfalipidios so colocados em agua. Desta forma, sempre que colocarmos lipidios anfipaticos em Agua, formar-se-40 “bolhas" © a Agua estaré tanto do lado de dentro da "botha’, quanto do lado de fora (Figura 19), A agua ¢ todas as substancias hidrossoliveis, como os. aminoacidos, nucleotideos, por néo serem soliveis em lipidios, nao podem passar pela camada hidrofébica da membrana, agticares, Como, entéo, a membrana realiza a sua fungao de permeabilidade seletiva? S6 existe permeabilidade seletiva gragas @ agao do outro componente das membranas: as PROTEINAS, Como sempre, as alividades de funcionamento dos organismos estdo relacionadas as protetnas. ‘As proteinas das membranas também so ANFIPATICAS, ou seja, elas tem uma parte formada por aminodcidos polares (com carga elétrica) e outra parte constituida preponderantemente com aminodcidos apolares. Desta forma, as proteinas da membrana também terdo uma Parte hidrofilica e uma parte hidrofébica, {Regis + hidrofiliea < 10, oF 2 seeuite hidrofebica [Figura 20. Estrutura das proteinas lda membrana Por terem tanto regides hidrofobicas como regiées hidrofllicas, as proteinas anfipaticas vo se intercalar entre os fosfolipidios. (figura 20821) © Modelo do MOSAICO FLUIDO das membranas biolégicas explica como se organizam e funcionam essas membranas. Segundo este modelo, temos uma bicamada de lipidios com proteinas intercaladas nesta bicamada. ‘As partes hidrofilicas dos fosfolipidios © das proteinas ficam voltadas para as superticies intema © externa da membrana em contato com a agua. As partes hidrofébicas dos fosfolipidios e das proteinas ficam na regio interior da membrana (figura 21) = Figura 21 Modelo do MOSAICO FLUIDO da membrana biolégica Este modelo chamado do MOSAICO, porque os componentes da membrana se organizam como um mosaico (associagdo de pequenas pegas que se encaixam ou sobrepde para formar uma estrutura). A denominagéo de Mosaico FLUIDO ¢ justificada pelo faio de seus componentes (fosfolipidios e proteinas) nado serem fixos na membrana, podendo apresentar movimentos laterals. Podemos resumir a atuagéo dos componentes da membrana da seguinte forma: a) OS FOSFOLIPIDIOS atuam como uma barreira, impedindo que as substancias que estéo dentro da célula salam e evitando que as substancias que esto fora da célula entrem. b) AS PROTEINAS funcionam como ‘portées" (tecnicamente chamados de CARREADORES ou POROS), por onde passam as moléculas; so as elas que reconhecem as substincias que devem entrar ou sair da célula, TRANSPORTE DE SUBSTANCIAS PELA MEMBRANA. As substéncias passam pela membrana de trés formas diferentes: 1) Difusdo simples: Algumas substancias como © Oz, CO2, alcool e éter, por serem soliiveis tanto em agua como em gorduras, podem passar diretamente pelos. fosfolipidios. Para estas substancias, a membrana nao constitui uma barreira, e suas moléculas vao difundir de onde elas estéo mais concentradas para aonde estéio menos concentradas (1 na Figura 22) *¥ Aga Ne an gs Ua Js PON 2; + ADP EA g ATP 1 2 3 [Figura 22 — Passagem de subslancias latravés da membrana ‘A maioria das substancias ndo pode atravessar livremente pela membrana precisam passar pelas protefnas. Essa Passagem pode ocorrer de duas maneiras’ 2) Transporte passivo ou difusdo facilitada. O transporte passivo ocorre, quando uma substancia esta_mais. concentrada de um lado da membrana do que do outro, @ ha interesse da célula que esta substncia passe pela membrana. Proteinas especificas, chamadas de CARREADORES, permitem que esas substancias atravessem (geralmente através, de aberturas ou canais nas proprias proteinas). No caso do transporte passive, no ha gasto de energia, porque 6 a favor do gradiente de concentragao ( 2 na Figura 22). 3) Transporte Ativo: Quando é do interesse da célula transportar substancias contra um gradiente de concentragdo, (ou seja, de onde tem pouco de uma substéncia para aonde jé existe bastante dessas mesmas moléculas) a Célula precisa gastar energia para fazer esse transporte (3 na Figura 22) Como podemos ver, moléculas néo muito grandes podem entrar & sair da célula pelos carreadores. Moléculas grandes como as proteinas, acidos nuciéicos ou polissacarideos, somente em condigées muito especiais podem pasar pela membrana. Moléculas grandes (macromoléculas), assim como estruturas ainda maiores como virus ou células néo somente passam diretamente pela membrana celular, e sé entram na célula através de mecanismos de TRANSPORTE DE MASSA, chamado —endocitose (fagocitose © pinocitose). Mas vale ressaltar que através da fagocitose © pinocitose as substancias ou estruturas entram na célula, mas nao “passam a membrana’ pois _entram envolvidas em membrana. NAINTERNET: Entenda melhor a membrana celular comparando- a com —bolhas. «de. sabi: www.sbbg org britevista/artigo,php?artigoid—41 BRINCAR COM BOLHAS DE SABAO PODE AJUDAR A ENTEDER A. MEMBRANA SEGUNDO © MODELO MOSAICO-FLUIDO 20 MAQUINARIA METABOLICA. © que permite que uma tacto- bactéria (bactéria do logurte) se desenvolva tao bem no leite, transformando-o em iogurte e uma aceto-bactéria se procrie maravilhosamente no vinho, transformando-o ‘em vinagre? Se colocarmos a bactéria do vinho no leite, ela ndo vai se desenvolver, o mesmo acontecendo com a bactéria do ogurte, quando colocada no vinho. Por que isto acontece? Cada célula, mesmo simples como uma bactéria, possui enzimas e outras proteinas que a capacita a desempenhar as fungées para as quals esl4 adaplada. A lacto-bactéria possui enzimas para quebrar a lactose © as proteinas do leite. Ja a aceto- bactéria possui enzimas para transformar 0 Alcool_em Acido acético © usar outros nutrientes encontrados no vinho. Estas duas bactérias possuem diferentes maquinarias metabélicas que as tomam adaptadas para explorar recursos diversos, ‘As diferengas que ocorrem no funcionamento entre células so explicadas pela variagao nas proteinas existentes nelas, Chamamos de. maquinaria metabélica 0 conjunto de enzimas e proteinas que vao ser responsavels pelo funcionamento da célula (ou seja, pelo metabolismo celular). Por exemplo, as proteinas da membrana que captam nutrientes do meio externo e os transportam para o interior da célula; as en: as que vo transformar estes nutrientes, através de complexas rotas bioquimicas, transformando- (os em energia ou em outras moléculas estruturais da célula; as proteinas motoras que produzem movimento dos componentes celulares, ete. No caso especifico do exemplo que estamos trabalhando, a aceto-bactéria ter as proteinas de membrana para retirar do vinho os “nutrientes” apropriados. No interior da célula, enzimas transformaréo estes nutrientes em mais macromoléculas de aceto-bactéria. Enfim, possibilitam o “sonho primordial" de toda aceto-bactéria: “torar-se duas aceto-bactérias. INFORMAGAO GENETICA Porque uma aceto-bactéria colocada no leite no produz as enzimas necessarias para usar o agiicar @ as proteinas do leite como nutrients? Ou, colocando a mesma questo em um outro exemplo: sabemos que a celulose 6 um polissacarideo formado de moléculas de glicose. No entanto, se por um motivo qualquer sé tivéssemos papel (celulose) para comer, acabariamos morrendo de inanigao por falta de energia, ‘embora estivéssemos ingerindo um polimero construldo com “glicose”. Outros organismos, como cavalos, vacas ou baratas sao capazes de aproveitar a glicose presente na celulose do papel. Nos dois exemplos, o que falta é a informagao genética de como fazer as enzimas necessérias para aproveltar uma determinada molécula como fonte de nutriente, ‘A informagao genética est armazenada nas células sob forma de acidos a nucléicos. Para todas as células, (procariéticas ou —eucariéticas), a macromolécula informacional 6 0 DNA. Somente alguns virus apresentam suas informages armazenadas sob forma de RNA. A. informagéo genética total, carregada por um organismo ou célula, 6 denominada de GENOMA. Por exemplo, na nossa espécie, 0 genoma das células somaticas é constituido por 46 moléculas de DNA. Cada uma dessas moléculas se organiza sob forma de um cromossomo, ou seja, cada cromossomo contém uma Unica molécula de DNA que é continua, comegando em uma extremidade do cromossomo interrupgo até a oulra extremidade. Temos também uma 47" molécula de DNA que 6 0 cromossomo mitocondrial prolongando-se sem © genoma de células mais simples, como as bactérias, esté organizado em um nico cromossomo circular. Em torno de 2000 genes estao presentes no genoma de uma bactéria, como a Escherichia coli © cromossomo bacteriano como de E, coli possui aproximadamente 4,2x 10 ° pares de bases. Ou seja, se contéssemos 0 nimero de diferentes ATCCGGTAACC... em uma das flas do nucleotideos DNA, este niimero. seria de, aproximadamente, 4.200.000 nucleotideos. & na seqiiéncia de bases desta imensa molécula de DNA que ‘esté escrito” a informagéo genética, nos genes dessa bacteria, Estudos moleculares recentes tem ampliado 0 conceito de gene: é uma seqiéncia de DNA que é essencial para uma fungao especitica, Trés tipos de genes sao reconhecidos: 1) genes que codificam para proteinas. Sao transcritos para RNA mensageiro (mRNA) e subseqiientemente traduzidos, nos ribossomos, para proteinas. 2) genes que especificam RNAS funcionais, como os RNAs ribossémicos (FRNA); RNAs transportadores (tRNA) e RNAs que desempenham —_fungdes regulatérias na célula como os snoRNA e miRNA. 3) genes nao transcritos. Sao seqiléncias de DNA que, embora nao sejam transoritas, desempenham alguma fungdo. Por exemplo, os genes de replicagao, envolvides na duplicagao do DNA; genes de recombinago, que sao _seqjiéncias. envolvidas no processo de crossing-over, seqiiéncias teloméricas, envolvidas_ na protegio das cromossomes. extremidades dos ‘Assim, 0 genoma contém um grande numero de genes que, quando necessérios, 40 ativados, ou seja, sao copiados em RNA (ver Figura 23)

Você também pode gostar