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Disponibilizada a terceira versão da Base

Nacional Comum Curricular pelo MEC – abril


2017
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Por admin / 6 de abril de 2017 / Índice / Deixar comentário

A terceira versão do documento Base Nacional Comum Curricular possui um problema em sua
forma e conteúdo: os fundamentos que são explicitados no início do documento não se mantêm no
momento em que são descritos os objetivos e conhecimentos que seriam abordados nas salas de
aulas. Há uma rigidez excessiva na descrição dos critérios e objetivos de conhecimentos a eles
correspondentes. Essa rigidez contradiz até mesmo as “competências” que estão definidas no
documento. Por exemplo: “Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o
mundo físico, social e cultural para entender e explicar a realidade” exigiria maior interlocução com
as vivências e realidades de cada estudante/escola. Como fazer isso se professores e professoras
terão uma lista extremamente rígida para seguir? Além disso, é muito importante lembrar que a
organização curricular com base na definição de “competências e habilidades” é uma retomada dos
antigos Parâmetros Curriculares Nacionais, da década de 1990, portanto, uma política curricular que
o Brasil vivenciou há mais de 20 anos e que causou grande confusão nas escolas, pela
desvalorização do conhecimento escolar, que foi substituído pelo “aprender a aprender”.

A BNCC em sua terceira versão traz uma concepção “etapista” do desenvolvimento infantil. Por
exemplo, na página 24 do documento, que exemplifica toda a estrutura da Base, quando se busca
explicar a composição do código alfanumérico correspondente a cada um dos objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento está escrito: “Segundo esse critério, o código EI02TS01 refere-se
ao primeiro objetivo de aprendizagem e desenvolvimento proposto no campo de experiências
Traços, sons, cores e formas para as crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses”. A imensa
bibliografia sobre o tema do desenvolvimento humano já superou essa visão reducionista que
“encaixa” as crianças em um comportamento “esperado”, em uma etapa fixa e rígida
correspondente à sua idade cronológica. Se pegarmos, por exemplo, até mesmo no espaço restrito
de uma sala-de-aula todas as crianças da faixa etária incluída no critério estabelecido pela BNCC
veremos que elas não responderão de maneira uniforme ao objetivo esperado, e isso poderá ser
interpretado como uma dificuldade pessoal. Essa criança poderá não corresponder ao esperado,
sendo mal avaliada por isso. Porém, o problema não está nela, mas sim, na formulação presente na
BNCC.

O documento traz uma visão restrita de currículo. A descrição de listas de objetivos é uma retomada
do modelo curricular chamado de “tecnicista” e que o Brasil experimentou nos anos 70. Uma
listagem supostamente neutra de conhecimentos e tecnicamente organizada. Mas o currículo escolar
nada tem de neutro, já que ele é uma seleção a partir de um conjunto de possibilidades. A decisão
sobre o que e como ensinar que orienta essa seleção é também uma decisão sobre que tipo de pessoa
se pretende formar, sendo mais do que uma decisão técnica, uma decisão de natureza política que a
suposta neutralidade esconde. Por essa razão o modelo tecnicista foi amplamente criticado.

Monica Ribeiro da Silva

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