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Editora Poisson

Educação no Século XXI


Volume 2

1ª Edição

Belo Horizonte
Poisson
2018
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade

Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Dra. Cacilda Nacur Lorentz – Universidade do Estado de Minas Gerais
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


E24
Educação no Século XXI – Volume 2/
Organização Editora Poisson – Belo
Horizonte - MG : Poisson, 2018
250p

Formato: PDF
ISBN: 978-85-93729-48-5
DOI: 10.5935/978-85-93729-48-5.2018B001

Modo de acesso: World Wide Web


Inclui bibliografia

1. Educação 2. Tecnologia. I. Título

CDD-370

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CAPÍTULO 1 ..................................................................................................................................................................................................................9
A AQUISIÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO: UM CAMINHO
ATRAVÉS DA TEORIA SÓCIO INTERACIONISTA
MARIA BEATRIZ DE FARIAS DOS SANTOS
ÉRIKA PALOMA DANTAS DE SOUSA TORRES
EDNILSON MEDEIROS DE BRITO FILHO
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................................................................................................... 18
A FORMAÇÃO MATEMÁTICA DO PROFESSOR POLIVALENTE: UMA EXPERIÊNCIA COM GRANDEZAS
GEOMÉTRICAS
AMANDA BARBOSA DA SILVA
ANA PAULA NUNES BRAZ FIGUEIREDO
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................................................................................................................. 25
AS RELAÇÕES ENTRE O SABER E O FAZER DA JUVENTUDE RURAL NO CHACO PARAGUAIO E NO SERTÃO DE
PERNAMBUCO
DINABEL ALVES CIRNE VILAS-BOAS DOS SANTOS
MARTA AYALA MOLAS
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................................................................................................................. 34
COMO CONCILIAR LIMITES E POSSIBILIDADES NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS NA EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS DE PERNAMBUCO?
JOÃO PAULO DA SILVA SANTOS
MARILENE MONTEIRO ALVES DA SILVA
CLÁUDIA RENATA DA SILVA SANTOS
LUCIANA BRAINER DE LIMA SILVA
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................................................................................................... 41
COMUNICAÇÃO ENTRE TODOS E PARA TODOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA
ADRIJANE ALVES DE AMORIM
IVÂNIA TIBÚRCIO CAVALCANTI
MANUEL AUGUSTO DE OLIVEIRA AGUIAR
CAPÍTULO 6 ............................................................................................................................................................................................................... 47
CONTRIBUIÇÕES DE UM JOGO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE DOENÇA DE CHAGAS NO ENSINO MÉDIO
LUCIANA APARECIDA SIQUEIRA SILVA
AMANDA SANTANA VIEIRA
CHRISTINA VARGAS MIRANDA E CARVALHO
CAPÍTULO 7 ............................................................................................................................................................................................................... 54
DESENVOLVIMENTO DE JOGOS PARA ESTIMULAR A APRENDIZAGEM DE ALGORITMOS: RELATO DE
EXPERIÊNCIA NO INSTITUTO FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL CAMPUS PONTA PORÃ
RICARDO AUGUSTO LINS DO NASCIMENTO
CAPÍTULO 8 ....................................................................................................................................................................................... 59
ENSINO DE BIOLOGIA COM RECURSOS DIDÁTICOS TÁTEIS: UM PLANO DE AÇÃO COLABORATIVA NO
INSTITUTO DE CEGOS DO RECIFE
LÍGIA MARIA PEREIRA LIMA
SYLLAS NASCIMENTO DE MELO
MICHELINE BARBOSA DA MOTTA
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................................................................................................................. 66
ENSINO DE CIÊNCIAS: A UTILIZAÇÃO DA PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA POR ESTUDANTES DO FUNDAMENTAL II,
PARA REGISTROS ENTOMOLÓGICOS
EMMELYNE KETLLEN SOARES LUZ DA COSTA
ELLEN SOARES LUZ DA COSTA
ALLEN KINSEN SOARES LUZ DA COSTA
TÁCIA GRACIELE DE ALBUQUERQUE SILVA
CAPÍTULO 10 ............................................................................................................................................................................................................. 74
ENTRE O RATO, O MOUSE E UMA PROFISSÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
CLAUDIO PEREIRA DA SILVA
ANGÉLICA VIER MUNHOZ
IEDA MARIA GIONGO
SUZANA FELDENS SCHWERTNER
CAPÍTULO 11 ..................................................................................................................................................... 78
ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PERCEPÇÕES ACERCA DA PRÁTICA DOCENTE EM CURSOS DE LICENCIATURA
CHRISTINA VARGAS MIRANDA E CARVALHO
JULIENY BATISTA DE MESQUITA
LUCIANA APARECIDA SIQUEIRA SILVA
DÉBORA ASTONI MOREIRA
JOSÉ ANTONIO RODRIGUES DE SOUZA
CAPÍTULO 12 ............................................................................................................................................................................................................ 85
FACEBOOK, PROFESSORES E APRENDIZAGEM: INSTANTES DE UMA PESQUISA EM CURSO
JOELCI MORA SILVA
SÔNIA DA CUNHA URT
CAPÍTULO 13 ............................................................................................................................................................................................................ 92
MODALIDADES DIDÁTICAS DIFERENCIADAS COMO ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS ÀO TRADICIONAL ENSINO
DE BIOLOGIA
ROSANA FERREIRA DE ALENCAR
MARIA EUNICE DINIZ PEREIRA
ANTONIA ARISDÉLIA FONSCECA MATIAS AGUIAR FEITOSA
CAPÍTULO 14 ........................................................................................................................................................................................................... 99
NÚCLEO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA FUNESA: A PERSISTÊNCIA DE TRABALHADORES COMPROMETIDOS
COM O FAZER
TÂNIA SANTOS DE JESUS
KENYA IDAMARA MENDONÇA DA NÓBREGA
JOSÉ FRANCISCO DE SANTANA
FLÁVIA PRISCILA SOUZA TENÓRIO
CAPÍTULO 15 .......................................................................................................................................................................................................... 104
O GEOGEBRA COMO FERRAMENTA TECNOLÓGICA PARA O ENSINO DE CÔNICAS
ANA PAULA NUNES BRAZ FIGUEIREDO
AMANDA BARBOSA DA SILVA
CAPÍTULO 16 .......................................................................................................................................................................................................... 109
O USO DE UM QUEBRA-CABEÇA PODE MELHORAR O APRENDIZADO DE ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR,
SOBRE A FISIOLOGIA DO CORAÇÃO
FERNANDA KLEIN MARCONDES
LAIS TONO CARDOZO
KELLY CRISTINA GAVIÃO LUCHI
CAPÍTULO 17 ............................................................................................................................................................................................................ 117
PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO: ESTRATÉGIAS INOVADORAS PARA AULAS DE YOGA
SILVIA DEUTSCH
LAISSA PIEROTTI AVALLONE
MARCELA PEDERSEN
AMANDA CRISTINA FARIA
JULIANA LODDER MARTINS DOS SANTOS
CAPÍTULO 18 .......................................................................................................................................................................................................... 123
RODAS COMUNITÁRIAS, ESPAÇO DE PALAVRA, ESCUTA E CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS: A TECNOLOGIA
SOCIAL NO TRABALHO EDUCATIVO COM VÍTIMAS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
AKISTENIA ELZA SANTOS FERREIRA
FABIANA DE OLIVEIRA ANDRADE
ALESSANDRA CONCEIÇÃO MONTEIRO ALVES
SANDRA COSTA PINTO HOENTSCH ALVARENGA
EMERSON DOS SANTOS LIMA
CAPÍTULO 19 .......................................................................................................................................................................................................... 129
TDICS E MEDIAÇÃO NO PROCESSO EDUCATIVO
MARIA ANGELA LIMA ASSUNÇÃO
CAPÍTULO 20.......................................................................................................................................................................................................... 136
USO DE TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO: PERSPECTIVAS E DESAFIOS PARA O ENSINO
FRANCISCA NEIRILAND TURBANO DOS SANTOS
LUIZ ALBERTO RIBEIRO RODRIGUES
CAPÍTULO 21 .......................................................................................................................................................................................................... 144
UMA PROPOSTA PARA MEDIR O ÍNDICE DE INFLUÊNCIA DO ALUNO DENTRO DO AMBIENTE ESCOLAR
WESLLEY MOURA
ISABELA ALEXANDRE SOUZA
IZABELLA SOCI
LUIS FERNANDO ARAUJO
MILENA BASSO
WELLINGTON OLIVEIRA
CAPÍTULO 22 .......................................................................................................................................................................................................... 152
O USO DAS MÍDIAS DIGITAIS NO ENSINO NA ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS DA EJA DA EEM LICEU DE
ITAREMA VALDO DE VASCONCELOS RIOS: UMA FERRAMENTA PEDAGÓGICA E INSTRUMENTO DE COMBATE À
EVASÃO ESCOLAR
ROBSON OLIVEIRA DA SILVA
ANA RAQUEL DOS SANTOS SOUZA
FRANCISCO RICARDO MIRANDA PINTO
CAPÍTULO 23.......................................................................................................................................................................................................... 159
A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DOCENTES
AÍRES DA SILVA BAROZA
EMANUELLA PEDROSA DE LIMA E SILVA
ODOLINA FRANCELINA DE CARVALHO
CAPÍTULO 24 .......................................................................................................................................................................................................... 164
DESCONTINUIDADE DO APRENDER: UMA ABORDAGEM NO ENSINO DE FILOSOFIA
RAMIRES FONSECA SILVA
CAPÍTULO 25.......................................................................................................................................................................................................... 169
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ONG NO SEMIÁRIDO - A EXPRESSÃO DA EDUCAÇÃO PLANETÁRIA
ANTONIA ARISDELIA FONSECA MATIAS AGUIAR FEITOSA
FRANCISCO JOSÉ PEGADO ABÍLIO
CAPÍTULO 26........................................................................................................................................................................................................... 178
O TELEFONE MÓVEL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: POSSIBILIDADES?
JOSENILDA MARTINS DE SOUZA
RICARDO JOSÉ ROCHA AMORIM
CAPÍTULO 27 .......................................................................................................................................................................................................... 185
A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA NO ENSINO DA GEOGRAFIA: UMA EXPERIÊNCIA INCLUINDO ALUNOS SURDOS
LUCAS LOBATO FERREIRA
SOLANGE FERNANDES SOARES COUTINHO
CAPÍTULO 28.......................................................................................................................................................................................................... 193
A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
DOS ALUNOS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DO IFS
EMERSON DOS SANTOS LIMA
ANDRÉA KARLA FERREIRA NUNES
AKISTENIA ELZA SANTOS FERREIRA
ALESSANDRA CONCEIÇÃO MONTEIRO ALVES
SANDRA COSTA PINTO HOENTSCH ALVARENGA
CAPÍTULO 29.......................................................................................................................................................................................................... 201
A INCLUSÃO DE ALUNOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIAS VISUAIS NO ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA:
CONFECÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE CITOLOGIA
MARTHA MENIN
LUCIANA BOROWSKI PIETRICOSKI
CAPÍTULO 30 ......................................................................................................................................................................................................... 207
BONECA DE LUXO: UM PROJETO QUE UNE HISTÓRIA, CONHECIMENTOS E HUMANIZAÇÃO NUM PROJETO
SOCIAL LUXURY DOLL: A PROJECT THAT UNITES HISTORY, KNOWLEDGE AND HUMANIZATION IN A SOCIAL
PROJECT
DANIELLE S. SIMÕES-BORGIANI
ANETE SALES DA PAZ RAMOS DA SILVA
DARIO BRITO ROCHA JÚNIOR
KARINA CARLA DE ARAÚJO FERNANDES
PAAVA DE BARROS DE ALENCAR CARVALHO FILGUEIRA
CAPÍTULO 31 .......................................................................................................................................................................................................... 214
FORMANDO GESTORES EM UMA METODOLOGIA PÓS-INDUSTRIAL: INOVANDO A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
NOS FUNDAMENTOS ÉTICO- PROFISSIONAIS NO SENAI PE
JOSÉ PAULO DE SOUSA
GLEIKA RODRIGUES BARBOSA DE AGUIAR
CAPÍTULO 32..........................................................................................................................................................................................................222
LEVANTAMENTO DAS TECNOLOGIAS E MÍDIAS UTILIZADAS, POR ESTUDANTES DO FUNDAMENTAL II, NO
ESTUDO DA ENTOMOLOGIA
EMMELYNE KETLLEN SOARES LUZ DA COSTA
ELLEN SOARES LUZ DA COSTA
ALLEN KINSEN SOARES LUZ DA COSTA
TÁCIA GRACIELE DE ALBUQUERQUE SILVA
CAPÍTULO 33.......................................................................................................................................................................................................... 227
YOGA NA ESCOLA: A EXPERIÊNCIA SEGUNDO OS ALUNOS DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
DA UNESP RIO CLARO-SP
AMANDA CRISTINA FARIA
JULIANA LODDER MARTINS DOS SANTOS
MARCELA PEDERSEN
LAISSA PIEROTTI AVALLONE
SILVIA DEUTSCH
AUTORES ................................................................................................................................................................................................................ 232
CAPÍTULO 1

Maria Beatriz de Farias dos Santos


Érika Paloma Dantas de Sousa Torres
Ednilson Medeiros de Brito Filho

Resumo: O presente artigo tem como objetivo descrever as contribuições e


reflexões a cerca das metodologias de alfabetização e de teorias pedagógicas que
as embasam, apresentando considerações referentes a cerca da teoria sócio
interacionista para o processo de aquisição do SEA no contexto contemporâneo.
Dessa forma expõe e comparar os modelos de ensino utilizados e 2014 e 2015,
relatando experiências em turmas do 1º ano do ensino fundamental, baseadas em
didáticas com vertentes teóricas divergentes.

Palavras-chave: Metodologias de alfabetização. Teorias pedagógicas. Sistema de


escrita alfabética – SEA.

Educação no século XXI - Volume 2


10

1 INTRODUÇÃO
Durante décadas o debate sobre as conceitual quanto ao processo de ensino e
metodologias para se alfabetizar tem se aprendizagem na alfabetização, trazendo à
tornado o centro de atenções e pesquisas em tona a “reinvenção da alfabetização” com os
salas de aula de todo o Brasil. Essas estudos de Ana Teberosky e Emília Ferreiro,
discussões trazem à reflexão, o fato de não com a publicação da Psicogênese da Língua
haver uma fórmula mágica para se alfabetizar, Escrita, que vieram contribuir não somente
ou o melhor método para fazer isso acontecer, para uma perspectiva teórica de ensino e de
mas por outro lado, é sabido que temos ao aprendizagem da língua escrita (o
nosso alcance uma diversidade de teorias construtivismo) – mas que também influenciou
pedagógicas que podem contribuir nessa nos questionamentos sobre os métodos que
tarefa tão escolar e sistemática que é o ensino até então eram utilizados para se alfabetizar.
da leitura e da escrita.
Até então, o modelo tradicional era o
Entretanto, é importante salientar que por trás determinado para um contexto de Pós
de qualquer método de ensino e Segunda Guerra Mundial, no processo de
aprendizagem, existe uma teoria sobre o que alfabetização. Pautado numa perspectiva
é o objeto de conhecimento a ser aprendida, associacionista /empirista, revelava que a
no nosso caso, a escrita alfabética, e há um aquisição da linguagem escrita se constituía
sujeito que busca a aquisição desse de imitativo e adultocêntrico. Ou seja, o adulto
conhecimento e se propõe a solucionar selecionava o que para ele era o correto e a
criando estratégias próprias. Essa perspectiva criança imitava. Baseado na soletração de
nos instiga a ideia de encontrar uma proposta sílabas, o intuito é que a criança ao aprender
didática de ensino da escrita alfabética que falar pequenos pedaços e juntá-los de forma
seja eficaz e norteie a prática pedagógica correta, iria ler e escrever facilmente e
docente, que possibilite alcançar as corretamente. Esse modelo de ensino divide-
expectativas previstas para o primeiro ano do se em: analíticos e sintéticos, sendo que o
ensino fundamental. grupo dos sintéticos a ênfase era partir das
partes para o todo, enquanto que o grupo dos
Quanto a isso, a década de 80 se constituiu
analíticos a ênfase seria partir do todo para as
numa época de avanços e de revolução
partes.

Sintéticos Analíticos
 Alfabéticos: o aprendiz já compreendendo  Palavração: o aprendiz é levado a
que as letras substituem sons, memorizariam os nomes identificar e copiar um repertório de palavras para
das letras, podendo ler sílabas, para formar palavras e só depois decompô-las e sílabas, letras e fonemas.
um dia ler textos;  Sentenciação: o aprendiz memoria
 Silábicos: o aprendiz decorando as sílabas e sentenças completas, para depois isoladamente
juntando-as, chegaria a ler palavras e um dia leria tratar as palavras em unidades menores (sílaba,
textos; letra, fonema).
 Fônico: Fonemas são unidades que existem  Global: a partir de narrativas artificiais,
na mente do aprendiz, que seria treinado a pronunciar trabalho isolado com frases, seleção de palavras
fonemas isolados e decorar as letras que a eles para a ênfase nas relações grafo-fonêmicas.
equivalem, para juntar correspondências fonema-
grafema, para ler palavras e um dia ler textos.
Fonte: morais, (2012, p. 28).

Com o surgimento do construtivismo de o professor e a linguagem são mediadores do


Piaget e o interacionismo de Vygotsky surgem processo. Assim,
questionamentos que se fazem contrários ao
Essa interação entre os alunos com as
método tradicional e sobre a real necessidade
mediações entre eles e a professora é um
do uso de cartilhas para se alfabetizar. Hoje
grande instrumento no processo de
em dia as teorias de aprendizagem Piagetiana
aprendizagem. Segundo Vygotsky, existem
e Vygotskyana tem ganhado força pautando
dois níveis evolutivos: um nível real que indica
algumas práticas em salas de aula, pois
aquilo que o individuo é capaz de fazer
valorizaram a interação entre o sujeito e o
sozinho e um nível potencial abrangendo tudo
objeto de estudo. Nessa prática de interação,
aquilo que o individuo realiza ajudado ou
mediado por outro. A partir desses dois

Educação no século XXI - Volume 2


11

conceitos, Vygotsky define o que se chama todo o momento em intensa relação de


de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) interação com o sujeito.
que vem a ser a distância entre esses dois
níveis de evolução da criança. Em tese (ZDP)
é o potencial para uma aprendizagem 2. METODOLOGIA
posterior. (GRADOLI, 1998 apud CARMO,
A experiência como docente em turmas do
CHAVES, 2001, p.10)
primeiro ano do ensino fundamental, permitiu
Enfim, as teorias de aprendizagem são
algumas reflexões a cerca das metodologias
diversas e se propõem a explicar como a
e as teorias de aprendizagem no campo
criança aprende; seja numa perspectiva
alfabetização, direcionando uma
associacionista (estímulo-resposta) de
ressignificação da práxis, que atrelada a
Skinner, seja pela ação do sujeito sobre o
conflitos divergentes da “querela dos
objeto de conhecimento (construtivismo) de
métodos” contribuiu na percepção e
Piaget, ou pela interação do aprendiz com o
levantamento de questionamentos a cerca da
objeto do conhecimento intermediado por
eficácia dos métodos para se alfabetizar de
outros sujeitos (sociointeracionismo) de
acordo com o contexto em que se insere.
Vygotsky.
Portanto, caracterizam-se nessa pesquisa,
No Brasil, Soares (2001) demonstrou que,
duas turmas do 1o ano do ensino
nas décadas de 1970 e 1980, a produção de
fundamental, ambas heterogêneas quanto aos
conhecimento teórico-prático relativo às
níveis de escrita, porém divergentes quanto
metodologias foi decrescendo
ao processo de evolução da aquisição da
paulatinamente, embora fossem produzidos
escrita alfabética, haja vista, a utilização de
alguns trabalhos sobre propostas didáticas
métodos opostos.
alternativas. De acordo com Borges (1998)
apud CARVALHO (2014, p.19): A primeira turma, aqui definida como (A) e a
segunda como (B) foram postas a um estudo
Há duas explicações plausíveis para o
sistemático numa relação dialógica com duas
desinteresse científico e relação às
teorias de aprendizagem:
metodologias: e um lado, os métodos
tradicionais (fossem analíticos ou sintéticos)  Turma A - Teoria tradicional /
não deram conta de alfabetizar os grandes Construtivista (Método Fônico)
contingentes de alunos que acorriam às
 Turma B - Teoria Sócio interacionista
escolas; por outro lado, a intensa divulgação
(Método Global)
e o prestígio acadêmico de Emília Ferreiro
fizeram com que o interesse sobre como o Em ambas as turmas foram aplicadas um
professor ensina se deslocasse para a ditado como atividade diagnóstica, que
questão como a criança aprende o que gerou contribuiu para a identificação dos níveis de
mudanças importantes nos paradigmas de escrita. Para coletar um material que
pesquisa e nos temas tratados pelos teóricos. demonstrasse a reflexão da escrita de
palavras, teve-se o cuidado ao relacionar as
Contudo, vale ressaltar que as
palavras que seriam ditadas, para que fosse
aprendizagens significativas são perceptíveis
possível analisar o nível de escrita dos
através da proposta sociointeracionista de
aprendizes. Assim, as palavras que foram
Vygotsky, que considera a escrita como um
pedidas aos alunos que escrevessem, deviam
processo de transformação. Dessa forma,
ser conhecidas, mas não memorizadas, ou
(SMOLKA, 2003, p.53) relata: “A linguagem é
seja, não deveriam ser palavras que puderam,
uma atividade criadora e constitutiva de
com certa frequência ser lidas, escritas ou
conhecimento, por isso mesmo,
que ficassem expostas na sala. Além disso,
transformadora. Nesse sentido, a aquisição e
deveria variar quanto ao numero de silabas, e
o domínio da escrita como forma de
ao ditar as palavras, pronunciar naturalmente
linguagem acarreta uma critica mudança em
sem artificializar a pronuncia de certas
todo o desenvolvimento cultural da criança”.
sílabas, e querer ajudar os alunos a evitar
Para tanto, objetiva-se demonstrar as erros ortográficos. Outra dica era pedir às
contribuições da teoria sociointeracionista crianças silábico-alfabéticas e alfabéticas que
relacionada às metodologias de lessem após escrever, apontando com o dedo
alfabetização, e sua significância num o que escreveram.
contexto de contemporaneidade, onde a
Segundo MORAIS (2012) só pudemos saber
linguagem escrita está por todos os lados, a
se eles relacionam as “partes faladas” as

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“partes escritas” de uma palavra (e, caso sim comum com a de Vygotsky. Um dos aspectos
como faz tal relação), e se observarem a em que coincide é a consideração da escrita
interpretação, ou seja, a leitura que realiza do como um sistema de representação da
que escreve. Além disso, realidade e do processo de alfabetização
como o domínio progressivo do sistema (e
Ao aplicarmos os ditados de palavras para
não como aquisição de uma habilidade
avaliar o nível de escrita, devemos buscar
mecânica de correspondência (letra-som)).
detectar o que a criança tem como resposta
Dessa forma Emília Ferreiro e Ana Teberosky
para nossas duas perguntas básicas: 1- O
(1999) descrevem o processo de construção
que a escrita representa? Como a escrita cria
da escrita pela criança, afirmando que há
representações? Portanto ao olhar o que o
uma psicogênese desse domínio e que, para
menino ou a menina escreve; devemos
a criança compreender o sistema de escrita
descobrir que respostas ele (a) está adotando
alfabética, deve resolver problemas de
por essas questões. (MORAIS, 2012, p. 167)
natureza lógica.
A seguir podemos observar os avanços Assim, a linha de evolução da escrita pelas
apresentados nas duas turmas durante o crianças, pode ser identificada em quatro
mesmo espaço de tempo, utilizando didáticas níveis distintos entre si e em cada um desses
diferentes pautadas em duas vertentes momentos, revela-se a hipótese da criança
teóricas.
diante da escrita, constatando-se que a
aprendizagem da criança é uma construção
progressiva que não se dá de fora linear,
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO conforme descrito abaixo:
A teoria de Emília Ferreiro e de seus
colaboradores sobre a escrita tem pontos e

Produção Hipótese pré-silábica


Ao tentar escrever, a criança respeita
duas exigências: a quantidade de letras
e a variedade entre elas. O nome próprio
é um dos modelos mais importantes
nesse processo com uso de critérios de
diferenciação intrafigural e interfigural.

Produção Hipótese Silábica com e sem valor


sonoro
São feitas tentativas de dar um valor
sonoro a cada uma das letras que
compõe a palavra. Cada grafia traçada
corresponde a uma sílaba pronunciada.

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13

Produção Hipótese Silábico-Alfabética


Escrever é representar,
progressivamente as partes sonoras das
palavras, ainda que não o faça
corretamente. Há a necessidade de fazer
uma análise que vá além da sílaba.

Produção Hipótese Alfabética


Compreensão de que a cada um dos
caracteres da escrita corresponde a
valores menores que a sílaba.
Caracteriza-se pela correspondência
, sistemática entre letras e fonemas.

Fonte: Imagens da evolução de uma criança do 1o ano, coletadas entre Fevereiro e Abril de 2015 / Escola SESC
Barreiras.

É, pois, com base na teoria da psicogênese sessenta e cinco dias, sobre a prática de
que se analisa os gráficos que comparam os duas metodologias diferentes.
avanços das duas turmas em um período de

Evolução da Escrita - A
Quantidade de Crianças por

11
12 9
10 7 7 7
Nível-Mês

8 6 6
5 5
6 4
3
4 2 Fevereiro
1 1
2 0
0 Março
alfabetico silabico silábico c silabico s pré Abril
alfabetico valor valor
sonoro sonoro

Níveis de Escrita

Fonte: Dados coletados entre Fevereiro e Abril de 2015 / Escola SESC Barreiras

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14

Evolução da Escrita - B

15
alfabético 8
0

4
silábico alfabético 9
0
Níveis de Escrita

4
silábico c valor sonoro 4
10 Abril
Março
0
silábico iniciando a correspondencia 0 Fevereiro
sonora 6

0
silabico s valor sonoro 1
0

1
pré silábico 1
7

0 5 10 15

Fonte: Dados coletados entre Fevereiro e Abril de 2015 / Escola SESC Barreiras.

De acordo com os gráficos acima, foi possível Dessa forma, observou-se que a vertente
perceber a diferença nos avanços de níveis tradicional aplicada à turma A, embora
de escrita que ocorreu nas duas turmas frente estivesse respaldado à algumas práticas da
a opostas metodologias de ensino. teoria construtivista, trouxe resultados, mas
não apresentou avanços tão satisfatórios, com
Temos na turma A, até o final do primeiro
relação à turma B. Contudo, a proposta
bimestre, no mês de Abril, um quantitativo de:
conhecida como método fônico, o qual se
11/00 pré-silábico, 05/09 silábicos com valor
estuda as sílabas por sequência, para só
sonoro, 06/02 silábicos sem valor sonoro,
então, começar a ler textos, consistia num
00/00 iniciando uma correspondência sonora,
processo lento e que limitava a turma
01/07 silábico-alfabéticos e 01/07 alfabéticos.
conhecer mais do que a sua capacidade
A turma B, no espaço de tempo demostrou os
pretendia.
seguintes resultados: 07/01 pré-silábicos, 10/
04 silábicos com valor sonoro, 00/00 silábicos Outro aspecto a ser revelado, seria o fato de
sem valor sonoro, 06/00 iniciando uma ao final do ao letivo, algumas crianças
correspondência sonora, 00/04 silábico- apresentar-se na fase silábica, não
alfabéticos e 00/15 alfabéticos conseguindo alcançar de maneira progressiva
correspondência sonora. como os demais o sistema de escrita
alfabética.
Podemos perceber que no mesmo espaço de
tempo, a turma B, embora iniciado o ano letivo O que se percebe é que o principio do
num quadro de evolução mais avançado que método fônico é justamente ensinar um par de
a turma A, demonstrou uma aprendizagem fonemas por vez, e só avançar quando este
com relação ao SEA mais significativa, estiver fixado. Dessa forma a prática da leitura
apresentando um ganho de 50% no final do e da escrita faz-se mecanizada, onde,
bimestre, comparado à turma A. portanto ler é decodificar o escrito em som e

Educação no século XXI - Volume 2


15

para tanto é preciso técnica para decifrar o Sabe-se que muito antes de chegar à escola,
texto. Esse tipo de ênfase do método fônico a criança procura entender as situações de
não permite à criança pensar sobre as escrita a sua volta, observando sinais,
diversas formações de palavras com letreiros, nomes de lojas, de brinquedos,
estruturas diversas de sílabas (CV, CCV, CVV, marcas de produtos, ou seja, ela está inserida
CVC, V, VC, VCC, CCVCC) e limita-a a espontaneamente em um universo no qual a
conhecer muito além do que é proposto linguagem escrita é utilizada constantemente
ensinar em sequências gradativas, salientado e este contato possibilita-lhe efetuar uma
que não concebe que o aprendiz poderá ler e “pseudo leitura”.
produzir textos reais, com todas as palavras
de que precise.
Segundo Vygotsky, todo aprendizado é
O método fônico é de base empirista /
necessariamente mediado – e isso torna o
associacionista e por muito tempo foi aplicado
papel do ensino e do professor mais ativo do
e escolas de todo país. Esteve muito válida no
que o previsto por Piaget. Logo, o foco da sua
período de Pós Segunda Guerra Mundial,
teoria é a interação que se dá entre aluno-
quando o foco era a alfabetização de jovens e
professor e aluno-aluno, e é nessa relação
adultos que migraram do campo para a
que se produz o conhecimento.
cidade. O governo federal criou várias
campanhas de alfabetização para jovens e O processo de desenvolvimento cognitivo
adultos cujo objetivo maior era ensinar e está baseado na possibilidade do sujeito ser,
decifrar palavras e frases simples. provocado constantemente, posto a desafios
(CARVALHO, 2007) que influenciem a construção do
conhecimento e de conceitos. Ou seja, a
Sessenta e cinco anos depois é ainda uma
criança precisa usar seus conhecimentos já
metodologia muito utilizada, inclusive por
consolidados, para se desestabilizar por
programas de erradicação do analfabetismo
novas informações, que serão processadas,
no país, porém não abarca mais a sociedade
reconstruídas na relação com os outros
que atualmente que é tecnológica
conhecimentos de outros sujeitos, para então
computadorizada e midiática, com sujeitos
se consolidar um novo conhecimento. É um
interativos que necessitam da leitura e da
processo dinâmico onde a ação do outro irá
escrita para interagir com e dialogar essas
interferir na forma de pensar e agir
informações que são velozes e estão
contribuindo na elaboração e apropriação do
disponíveis por todo lado.
conhecimento a ser consolidado.
Como a literatura psicolinguística tem
Portanto, para que tudo isso aconteça é
demostrado (cf. HEATH, 1982; MOREIRA,
preciso traçar metas. Cada professor precisa
1988; REGO, 1988; COLOMBER, 2003),
se perguntar, qual a meta para o primeiro
sabemos que, antes mesmo de terem se
ano? Somente delineando objetivos, e
apropriado do sistema alfabético, se as
conhecendo quais as metas são previstas
crianças têm a oportunidade de participar de
para uma criança dessa turma é que se
práticas de leitura e de produção de textos,
conseguirá que a totalidade da turma tenha
aprendem uma série de características dos
compreendido o funcionamento do SEA,
gêneros textuais escritos (não só relativas à
chegado à hipótese alfabética e iniciado a
estrutura ou organização composicional dos
compreensão das convenções entre letra-
mesmos, as também sobre suas finalidades,
som.
usos sociais e esferas de circulação).
(MORAIS, 2012, p. 119). CONCLUSÃO
Enfim, a busca pelos métodos para se
alfabetizar são incansáveis, porém é
Saber quem são as crianças concretas que
importante salientar que não é nossa intenção
pretendemos alfabetizar permite propor
apresentar uma fórmula mágica ou criticar e
atividades com SENTIDO, com SIGNIFICADO,
desmerecer outros métodos, que deem conta
para professores e alunos, de tal modo que
dessa tarefa tão sistemática que é o ensino da
não fiquemos restritos a valorizar as diferentes
escrita alfabética, mas demonstrar as teorias
manifestações das crianças, mas busquemos
que apresentam resultados mais significativos
ampliar progressivamente seus
e coerentes com o contexto histórico atual no
conhecimentos e garantir a aquisição da
qual estamos inseridos.
leitura e da escrita, com significado.

Educação no século XXI - Volume 2


16

Percebe-se que o que antes consistia apenas experimentando escrever, ousando escrever,
no domínio do código escrito, hoje perpassa fazendo uso de seus conhecimentos prévios
esse limite, para uma prática mais usual e sobre a escrita, levantando e testando
significativa para o sujeito, ou seja, o uso hipóteses sobre as correspondências entre o
social desse instrumento que é hoje interativo oral e o escrito, independente de uma
e que está em intensa relação com o sujeito sequência e progressão dessas
onde quer que ele esteja. Nessa perspectiva, correspondências que até então eram
se encontra o letramento, que no contexto de impostas a ela, como controle do que podia
contemporaneidade é aprendizagem escrever, porque só podia escrever depois de
essencial e está intrinsicamente aliada ao já ter “aprendido”.
processo de alfabetização, sendo, portanto o
Portanto, não importa como, mas é necessário
uso de didáticas que estejam baseadas na
que o professor ensine. Que não oculte
teoria sócio interacionista as que estão mais
informações, e saiba usar os conhecimentos
próximas das propostas de alfabetizar
que as crianças trazem consigo a favor da
letrando.
sua prática em sala de aula, em atividades
Aprender a ler e a escrever é apropriar-se do interativas e reflexivas. Que, sobretudo não
código linguístico gráfico para tornar-se, de espere para ensinar o que for necessário para
fato, um usuário da leitura e da escrita, essas o aluno avançar e se tornar o quanto mais
práticas são instrumentos básicos para o rápido e de forma significativa um leitor e
ingresso e a participação na sociedade escritor. Sabe-se, porém que os caminhos
letrada; são ferramentas para a compreensão para se chegar à resultados satisfatórios e às
da sociedade e para a comunicação entre as expectativas de aprendizagem de uma turma
pessoas, enfim, é a chave para a apropriação de 1 ano são vários, por isso faz-se
dos saberes já conquistado pela humanidade. necessário optar pela metodologia que mais
Essa aprendizagem abrange dois grandes se aproximar do ritmo das crianças que serão
aspectos: conhecimentos a cerca do o publico.
funcionamento do sistema de representação
Ressalta-se, ainda, que a conquista da
alfabética e conhecimentos sobre a
escrita alfabética não garante que o aluno
linguagem que se usa para escrever. Ou seja,
esteja alfabetizado. A alfabetização envolve a
para aprender a escrever, os alunos precisam
possibilidade de compreender e produzir
compreender o que escreverão e como o
textos em linguagem escrita. Portanto, para a
farão.
concepção de ensino sócio interacionista, a
Desse modo, é importante que, durante as alfabetização é considerada, um processo de
atividades, no cotidiano escolar, os alunos construção de hipóteses sobre o
interajam uns com os outros e com o funcionamento e as regras de geração do
professor: conversem, brinquem, joguem e SEA; por isso, a estratégia necessária para os
cantem, pois será através dessas interações alunos se alfabetizarem é a reflexão sobre a
que o conhecimento será construído e a escrita – suas características e seu
aprendizagem terá avanços. Contudo, essas funcionamento.
vivências não podem privilegiar meramente o
exercício da coordenação motora, da Dessa forma, à medida que forem
discriminação visual, da memória auditiva, e convidados á escrever e refletir sobre a
serem desenvolvidas por meio de copias de escrita, pensarão como escrever seus textos e
vogais e consoantes umas de cada vez, para como criar estratégias para ler textos e outros
que os alunos relacionem som e escrita, materiais disponíveis, constituindo-se numa
levando-os a memorizarem as associações proposta de processo de ensino e
realizadas, esses exercícios não levam a aprendizagem focados no sujeito do ato de
criança a compreender o que a escrita aprender (alunos), o objeto a ser aprendido
representa e como é representada. Ou seja, (SEA) e o sujeito do ato de ensinar (o
essa forma de encaminhamento didático não professor).
oferece elementos suficientes e necessários Contudo, novas metodologias surgem para
para garantir a construção de leitores e aprimorar antigas práticas e torna-las
escritores. Segundo Magda Soares (2001, análogas ao contexto e que estamos inseridos
p.53) para que se possam desenvolver habilidades
A criança aprende a escrever agindo e que serão necessárias e calcadas às
interagido com a língua escrita, exigências da sociedade atual.

Educação no século XXI - Volume 2


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REFERÊNCIAS
[1]. CARMO, Elisabete do. CHAVES, Maria [6]. MORAIS, Artur Gomes de. Sistema de
Eneida. Análise das Concepções de Escrita Alfabética. São Paulo: Ed. Melhoramentos,
Aprendizagem de uma alfabetizadora bem 2012.
sucedida. Caderno Ceres. São Paulo, n. 114, p. [7]. SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A
121-136 nov./2011. criança na fase inicial da escrita: a alfabetização
[2]. CARVALHO, Marlene. Guia prático do como processo discursivo. 6ª ed. São Paulo:
alfabetizador: Um diálogo entre a teoria e a prática. Cortez, 1993.
5a ed. São Paulo: Ática, 2007. [8]. SOARES, Magda Becker. Alfabetização e
[3]. CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e Letrar: letramento. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2001.
Um diálogo entre a teoria e a prática. 11a ed. Rio [9]. VYGOTSKI, L.S. A formação social da
de Janeiro: Vozes, 2014. mente. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[4]. FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana. [10]. __________. LEONTIEV, A.N. LURIA, A.R.
Psicogênese da Língua Escrita. São Paulo: Artmed, Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 7ª
1999. ed. São Paulo: Ícone, 2001.
[5]. KRAMER, Sonia. Alfabetização, leitura e
escrita: formação de professores em curso. São
Paulo: Ática, 2010.

Educação no século XXI - Volume 2


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CAPÍTULO 2
Amanda Barbosa da Silva
Ana Paula Nunes Braz Figueiredo

Resumo: O presente texto é resultado de uma pesquisa realizada com estudantes


do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na
ocasião, os alunos estavam cursando a disciplina de Fundamentos do Ensino de
Matemática II, ofertada como disciplina obrigatória no quinto período e um dos
objetivos da referida disciplina é o estudo da Geometria e das Grandezas e
Medidas, tendo como foco as técnicas de ensino e de aprendizagem desses
conteúdos para os anos iniciais do ensino fundamental. O campo das Grandezas e
Medidas e o campo da Geometria são de fundamental importância para formação
matemática do estudante e devem ser trabalhados desde os anos iniciais, ou seja,
do 1º ao 5º anos. Uma das maneiras de associar esses dois campos da Matemática
é o estudo das grandezas geométricas, que recebem esse nome justamente por
representar uma ligação entre a Geometria e as Grandezas e Medidas.
Considerando as orientações curriculares para o ensino de Matemática nos anos
iniciais, aplicamos uma atividade com 24 alunos de licenciatura em Pedagogia, a
atividade consistiu em cinco questões de grandezas geométricas. Os resultados
indicam que a maioria dos estudantes não apresentou compreensão acerca do
conteúdo, principalmente quanto ao conceito de comprimento e de sua variante
perímetro, em relação a outras grandezas estudadas (área, volume e ângulo), o que
representa um resultado preocupante, já que serão futuros professores e mesmo
assim apresentaram dificuldades em resolver questões do 4º e 5º anos do ensino
fundamental. Os resultados satisfatórios para grandezas como área e volume dão
relevância ao ensino dessas grandezas utilizando representações como a malha
quadriculada, no caso do cálculo da área de figuras e, no caso do cálculo de
volume, utilizando cubos.

Palavras – chave: Professor. Matemática. Grandezas. Formação.

Educação no século XXI - Volume 2


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1 INTRODUÇÃO e volume dos objetos, são situações que


envolvem as grandezas e medidas.
O presente relato é resultado de uma
pesquisa realizada com estudantes do quinto Atualmente é possível encontrar orientações
período do curso de licenciatura em para o ensino de grandezas geométricas em
Pedagogia da Universidade Federal de documentos curriculares, tais como o
Pernambuco (UFPE). O relato tem como Parâmetro Curricular Nacional de Matemática
principal objetivo discutir os resultados da (PCN) e o Parâmetro Curricular de Matemática
aplicação de uma atividade referente ao de Pernambuco (PCPE), ambos são
conteúdo de grandezas geométricas, nosso documentos norteadores importantes para o
intuito com a atividade foi de verificar a ensino de Matemática. Além disso, as
compreensão dos licenciandos diante de grandezas geométricas estão presentes nos
cinco questões que abordam as cinco livros didáticos dos anos iniciais do ensino
grandezas geométricas (área, perímetro, fundamental. O presente relato utilizou dois
comprimento, ângulo e volume), de modo que livros didáticos de uma coleção dos anos
cada questão se refere a uma grandeza iniciais do ensino fundamental que foi
geométrica. aprovada no Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD) de 2013, foram utilizados os
A atividade foi realizada com vinte e quatro
volume do 4º ano e do 5º ano para selecionar
estudantes de licenciatura em Pedagogia,
as cinco questões de grandezas geométricas.
todos matriculados no quinto período do
curso no turno da noite. É importante destacar 2 REFERENCIAL TEÓRICO
que alguns alunos já lecionam na rede
De acordo com o Parâmetro Curricular de
particular ou pública e a maioria afirmou ter
Matemática de Pernambuco (PCPE), “o
dificuldades com o ensino de Matemática e
trabalho com as grandezas geométricas
também com sua própria aprendizagem.
(comprimentos, áreas etc.) deve merecer
Diante dessa realidade, elaboramos a
especial atenção nesse momento de
atividade sobre grandezas geométricas como
escolarização” (PERNAMBUCO, 2012, p.69).
uma forma de colaborar na formação superior
O documento enfatiza a importância do
dos estudantes e também de favorecer a
trabalho com as grandezas geométricas
aprendizagem matemática, tornando-a mais
desde os anos iniciais. Portanto, é muito
interessante e acessível, pois consideramos
importante que os licenciandos em Pedagogia
preocupante que futuros professores dos
saibam esse conteúdo e também direcionem
anos iniciais demonstrem tanta insegurança e
adequadamente o processo de ensino e de
dificuldade em lidar com os conteúdos da
aprendizagem de grandezas geométricas. A
matemática, mesmo quando esses conteúdos
atividade aplicada, além de favorecer a
são dos anos iniciais do ensino fundamental.
aprendizagem de grandezas geométricas,
Na Matemática, as grandezas geométricas
também é um exemplo de questões que
representam uma ligação entre o campo da
podem ser aplicadas com as turmas dos anos
Geometria e o campo das Grandezas e
iniciais.
Medidas, são grandezas que ora
encontramos nos tópicos referentes à A atividade foi elaborada de modo a
Geometria e ora encontramos nos tópicos contemplar as orientações curriculares para o
referente a Grandezas e Medidas, porém os trabalho com grandezas geométricas nos
livros didáticos atuais e os documentos anos iniciais do ensino fundamental. Há
curriculares para ensino de Matemática questões propostas na atividade que utilizam
apresentam o estudo dessas grandezas no a malha quadriculada, para resolver a
campo das Grandezas e Medidas. atividade não é preciso uso de fórmulas e as
questões valorizam a interpretação de
O conteúdo de Grandezas e Medidas é de
situação de problema. O Parâmetro Curricular
fundamental importância para a formação
Nacional de Matemática salienta que é
matemática dos alunos e deve ser trabalhado
importante para o ensino nos anos iniciais, “o
desde os anos iniciais. As Grandezas e
cálculo de perímetro e de área de figuras
Medidas estão presentes no cotidiano dos
desenhadas em malhas quadriculadas e
alunos em diversos momentos, como por
comparação de perímetros e áreas de duas
exemplo, ao medir o colega mais alto, o
figuras sem uso de fórmulas” (BRASIL, 1997,
caminho mais curto, a pessoa mais pesada
p. 61). Ainda segundo o PCPE:
(massa), o tempo gasto, ao comparar e
estimar distâncias, estimar idade das pessoas Embora a criança nesta faixa de
escolarização já chegue à escola com algum

Educação no século XXI - Volume 2


20

conhecimento sobre grandezas, ela ainda não forma individual. As cinco questões presentes
apresenta, principalmente nos primeiros anos, na atividade contemplam cinco grandezas
uma compreensão de seu significado. São geométricas (área, comprimento, perímetro,
comuns as confusões, quando se considera ângulo e volume), a primeira questão se refere
um objeto, entre seus diversos “tamanhos”, ao cálculo de área e apresenta o recurso da
que ora é o comprimento, ora é a área ou até malha quadriculada. Segundo Lima e
mesmo o volume. (PERNAMBUCO, 2012, Bellemain (2010) “trabalho com malhas é um
p.67) excelente contexto para o estudo do conceito
de área e está muito presente nos livros
didáticos”. Na questão sobre área foi
Com base no trecho acima, observamos que
considerado como unidade de medida o
o trabalho com grandezas nos anos iniciais do quadrado da malha, daí é possível contar
ensino fundamental, além de ser de
unidades inteiras e meias unidades para obter
fundamental importância para a formação dos
a área, sem o uso de fórmulas, pois não é
alunos, recomendado para o trabalho com área nos
também exige do professor(a) uma formação anos iniciais. Além disso, conforme
adequada para evitar possíveis confusões constatamos no PCPE (2012), o uso em
conceituais sobre o conteúdo. excesso de conversão de unidades e o ensino
de grandezas apenas limitado ao uso de
3 METODOLOGIA unidades padronizadas, como metro
É importante salientar que a atividade foi quadrado (m2), quilometro quadrado (Km2),
realizada quando os estudantes ainda não não são suficientes e não favorecem a
tinham estudado o tópico de grandezas aprendizagem das grandezas. A figura 1
geométricas na disciplina. Para iniciar a abaixo apresenta a questão sobre área
atividade foi explicado o que são grandezas proposta na atividade e foi resolvida
geométricas, em seguida a atividade foi corretamente pela aluna A12.
distribuída para cada aluno, sendo feita de
Figura 1: Grandeza Geométrica - área.

Fonte: GAY, Maria Regina Garcia. Projeto Buriti, Matemática. 5º ano, p. 236. Ed. Moderna, 2011.

A grandeza comprimento está presente em contorno de uma região”, ou seja, quando


diferentes situações: na altura, nas distâncias, calculamos o comprimento de uma região
entre outras situações como na matemática, o fechada, ou seja, seu contorno, estamos
comprimento aparece em diversos momentos, trabalhando com a noção de perímetro, que
nos diâmetros das circunferências, nos pode ser poligonal, por exemplo, retângulos,
segmentos, quanto às figuras podemos quadrados, triângulos, ou não poligonal, como
pensar no comprimento dos lados e das uma curva fechada, isto é, contornos que não
diagonais dos polígonos, no comprimento das tem lados.
bases, o comprimento é uma grandeza
Apesar da questão de perímetro também
frequente em nosso cotidiano dentro e fora da
utilizar a malha quadriculada, o cálculo do
sala de aula.
perímetro é bem diferente do cálculo de área,
Podemos afirmar que perímetro e a questão sobre perímetro pode ser resolvida
comprimento são a mesma grandeza em utilizando o lado do quadrado como unidade
contextos diferentes, pois segundo Lima e de comprimento verificando o contorno da
Bellemain (2010, p. 186) “podemos também figura, já no cálculo de área consideramos o
dizer que o perímetro é o comprimento do quadrado como unidade de área. Quando

Educação no século XXI - Volume 2


21

trabalhamos com perímetro podemos utilizar o perímetro é um fator importante na formação


metro (m) como unidade padrão, ou matemática dos estudantes e com o uso da
centímetros (cm), decímetros (dm), malha na questão 1 e na questão 2, pudemos
quilômetros (Km). Segundo Lima e Carvalho observar nas respostas se houve essa
(2010, p. 157) “ao tratarmos do perímetro do distinção ou se houve confusão entre os
polígono, o que está em jogo é o comprimento conceitos. A figura 2 abaixo mostra a segunda
total de seus lados. Quando falamos de área questão que foi resolvida de maneira errada
do polígono, estamos nos referindo ao pela aluna A19, a mesma considerou como
polígono como uma região plana.” perímetro como sendo todos os lados do
quadrado e não apenas o contorno da figura.
A questão de perímetro foi escolhida com o
Para o ensino da grandeza perímetro nos
objetivo de incentivar o uso da malha
anos iniciais, assim como no ensino de área, o
quadriculada para o ensino dessa grandeza e
uso da malha é recomendo, pois favorece o
de mostrar aos licenciados que é um recurso
cálculo do perímetro sem exigir conversão de
eficiente, de baixo custo e de fácil acesso,
unidades, fórmulas ou unidades
estando presente também nos livros
padronizadas.
didáticos. Além disso, a distinção entre área e

Figura 2: Grandeza Geométrica – Perímetro

Fonte: GAY, Maria Regina Garcia. Projeto Buriti, Matemática. 4º ano, p. 161. Ed. Moderna, 2011

As grandezas geométricas comprimento e medição de um comprimento. Para solucionar


perímetro, como mencionamos, podem ser a questão são utilizadas partes do corpo
consideradas como a mesma grandeza em como unidades de medida não padronizadas,
contextos diferentes, portanto a questão essa prática favorece a construção da ideia
abaixo na figura 3, apresenta essa grandeza de comprimento, além de ser recomendada
em uma situação que envolve a ideia de pelos documentos curriculares.

Figura 3: Grandeza Geométrica – comprimento

Fonte: GAY, Maria Regina Garcia. Projeto Buriti, Matemática. 4º ano, p. 155. Ed. Moderna, 2011.

Educação no século XXI - Volume 2


22

A ilustração na figura 3 é acompanhada de problema a partir da imagem. É preciso


duas perguntas: salientar que volume e capacidade são a
- A medida do comprimento do muro da casa mesma grandeza, em contextos diferentes,
de Gabriela corresponde a quantos passos pois segundo Lima e Bellemain (2010, p. 192)
de Vitor? “ quando o objeto considerado é um
recipiente – objeto com espaço interno
- A medida do comprimento do muro da casa
disponível – surge o conceito de capacidade,
de Gabriela corresponde à largura de quantos
que nada mais é do que o volume da parte
polegares de Bia?
interna de tal objeto”. A figura 4 apresenta a
A questão referente à grandeza volume resolução da aluna A12, a mesma utilizou
trabalha a noção de perspectiva, pois exige estratégia adequada de contagem e acertou a
habilidade espacial para interpretar o questão.

Figura 4: Grandeza Geométrica – volume

Fonte: GAY, Maria Regina Garcia. Projeto Buriti, Matemática. 5º ano, p. 245. Ed. Moderna, 2011.

Em relação a grandeza ângulo, Segundo Lima discussão com ideia de giros e foi com essa
e Bellemain (2010), o uso do grau como ideia que trabalhamos a questão de ângulo na
unidade de medida de ângulo geralmente não atividade. A figura 5 abaixo apresenta a
é facilmente percebido pelos alunos dos anos grandeza geométrica ângulo com a resolução
iniciais. Por isso, uma das recomendações correta da aluna A2.
para o trabalho com ângulos é iniciar a

Educação no século XXI - Volume 2


23

Figura 5: Grandeza Geométrica – ângulo

Fonte: GAY, Maria Regina Garcia. Projeto Buriti, Matemática. 5º ano, p. 72. Ed. Moderna,2011
RESULTADOS unidade de medida de ângulo e mesmo não
sendo solicitado na questão, cinco alunos
Os resultados apontam que dos vinte e quatro
usaram o grau na resposta. Em relação à
alunos apenas dois acertaram as cinco
grandeza comprimento, é importante salientar
questões. Em relação à grandeza área, quatro
que as respostas erradas são aquelas que
alunos erraram a contagem dos quadrados,
apresentaram erro na resposta da letra a e/ou
mas a maioria conseguiu resolver a questão.
na resposta da letra b. Foi constatado que o
A grandeza perímetro apresentou erro em
aluno A17 errou apenas a letra a, o aluno A24
treze atividades, a figura 2 acima demonstra o
errou os dois itens e os demais onze
erro que esses alunos cometeram, eles
licenciandos erraram apenas a letra b e
consideram como contorno todos os lados do
usaram a estratégia apresentada na figura 6
quadrado, o que leva a respostas erradas e
abaixo.
demonstra a falta de compreensão sobre a
ideia de perímetro. A questão sobre ângulo, A aluna A2 não relacionou corretamente as
figura 5, não apresentou erro em nenhum dos unidades de medida palmo e polegadas, a
protocolos, mas é interessante observar que estratégia seria multiplicar 96 por 8 e obter
os alunos optaram por responder a questão 768 como resposta na letra b, a aluna
escrevendo a resposta usando representação resolveu corretamente o item a.
fracionária e não usando o grau como

Figura 6: Resolução da aluna A2

Fonte: as autoras

Sobre a grandeza volume, a figura 4 representa a estratégia que os alunos usaram para acertar a
questão. As seis respostas erradas foram relacionada à contagem errada dos cubos. A tabela
abaixo apresenta um resumo das respostas certas, erradas e não respondidas, após a análise dos
vinte e quatro protocolos.

Educação no século XXI - Volume 2


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Tabela 1: Respostas das atividades analisadas


Respostas Área Perímetro Ãngulo Comprimento Volume

Certas 20 9 22 11 16

Erradas 4 13 0 13 6

Não respondeu 0 2 2 0 2

CONSIDERAÇÕES FINAIS para o seu cálculo; porém a maioria das


pessoas erraram questões que envolviam o
Com a análise dos resultados, observamos
conceito de comprimento, mesmo sendo o
que a questão que mais obteve resultados
comprimento uma grandeza unidimensional,
positivos, com maior índice de acertos, foi a
entretanto, duas respostas certas para
que envolvia o conceito de ângulos, apenas
comprimento a mais em relação à questão
dois alunos não responderam, o que pode ter
que envolvia perímetro, o que dá indícios da
sido pela falta de interpretação do enunciado.
não compreensão de perímetro como sendo
Apenas quatro pessoas erraram a área das
um comprimento de contorno. Tal trabalho
figuras, por isso tal questão que envolvia área
evidencia a importância de se trabalhar com
foi uma das de melhor índice de acertos, o
grandezas geométricas nas turmas de
que evidencia a importância de se trabalhar o
pedagogia, pela dificuldade apresentada
conceito de área com o uso da malha
diante dos resultados obtidos neste estudo.
anteriormente à representação de fórmulas

REFERÊNCIAS
[1]. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros [4]. PERNAMBUCO. Secretaria Estadual de
Curriculares Nacionais. Matemática, 1997. Educação. Parâmetro Curricular de
[2]. LIMA, Paulo Figueiredo.; CARVALHO, João Matemática (PCPE). 2012.
Bosco Pitombeira Fernandes de Coleção [5]. GAY, Maria Regina Garcia. Projeto Buriti:
Explorando ensino. Geometria, 2010, p. 135- Matemática. 5º ano. Ed. Moderna, 2011.
166. [6]. _______. Projeto Buriti: Matemática. 4º ano. Ed.
[3]. LIMA, Paulo Figueiredo.; BELLEMAIN, Paula Moderna, 2011.
Moreira Baltar. Coleção Explorando ensino.
Grandezas e Medidas, 2010, p. 167-200.

Educação no século XXI - Volume 2


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CAPÍTULO 3

Dinabel Alves Cirne Vilas-Boas dos Santos


Marta Ayala Molas

Resumo: Este artigo enfoca a pesquisa de Doutorado, Redes para Sustentabilidade


Socioambiental: estudo de Caso da Juventude Rural em Cerrito-Chaco/Paraguai e
em Ibimirim, Sertão de Pernambuco/Brasil. O recorte deste trabalho consiste no
estudo sobre as possibilidades de aprendizagens acerca da sustentabilidade,
tendo como ponto de partida as dificuldades enfrentadas pelos estudantes na
produção agrícola. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualiquantitativa,
sobre a experiência vivenciada pelos estudantes na construção e aplicação dos
saberes construídos a partir da realidade do seu ambiente. O caminho trilhado
apoia-se na importância do compartilhamento de saberes e da valorização dos
sujeitos nas oportunidades de ensinar e aprender, com base nas intervenções
propostas pelos estudantes e orientadas pelos professores. As aprendizagens
acerca da sustentabilidade se concretizam nos espaços de discussão e de
construção individual e coletiva, na busca de soluções às dificuldades
apresentadas pelas questões ambientais. O estímulo à capacidade de analisar,
refletir e perceber a interdependência entre os elementos do ambiente e sua
conexão com os padrões de organização adotados, reafirmam a importância da
Educação Ambiental na construção de comunidades sustentáveis.

Palavras Chave: Sustentabilidade. Educação Ambiental. Meio Ambiente

Educação no século XXI - Volume 2


26

1 INTRODUÇÃO construção de aprendizagens capazes de


fortalecer a capacidade de reflexão da
As desigualdades sociais se refletem na
juventude, estimulando a competência para
degradação dos bens ambientais e
formulação de possíveis soluções.
desequilíbrio dos ciclos naturais, resultado
dos modelos insustentáveis nos quais ainda Alcançar uma sociedade sustentável agrega
estamos inseridos, requerendo para sua um conjunto de investimentos educacionais e
mudança, o investimento na educação e na estruturais a serem perseguidos e defendidos,
construção de uma nova cultura, bem como a compreende esforços na construção de uma
capacidade criativa e tecnológica para propor nova cultura. Nesse contexto, a juventude
novas possibilidades de se relacionar com o ocupa espaço privilegiado, tanto pela sua
meio. capacidade de participação, como por
constituir o segmento da sociedade mais apto
A sustentabilidade traz como desafio a luta
e capaz de engajar-se nessa busca.
contra a pobreza e, exploração humana e
ambiental. Nesse sentido, os Programas das
Nações Unidas para o Meio ambiente e para
2 JUVENTUDE E SUSTENTABILIDADE
o Desenvolvimento (PNUMA) e PNUD
consideram que a sustentabilidade requer A juventude apresenta diversos grupos
uma sociedade capaz de transformar os bens juvenis formados a partir das situações
da biosfera no atendimento às necessidades heterogêneas das conjunturas, originadas
humanas e de todos os povos. pelas questões sócio políticas que emergem
dos padrões de organização da sociedade.
Esse cenário da pobreza também se reflete
em grande parte da juventude em Para Groppo (2000), a juventude é uma
vulnerabilidade nos centros urbanos. Esses representação simbólica construída pelos
jovens, em sua maioria, são provenientes de grupos sociais ou pelos próprios jovens, que
áreas rurais, onde as oportunidades são mais evidencia um conjunto de comportamentos e
escassas e a pobreza se tornou grande atitudes a eles atribuídos. Essa compreensão
preocupação. da juventude como conjunto social com uma
ampla diversidade das formas de reprodução
Questões dessa natureza foram discutidas na
social e cultural é defendida pelos
Agenda 21, que em seu capítulo 14 aborda o
pesquisadores da área da sociologia como
desenvolvimento rural sustentável,
juventudes, no plural, para definir os diversos
recomendando a análise das políticas
grupos sociais.
agrícolas e de segurança alimentar e, ainda, a
implementação de políticas de incentivo à O contexto de luta na demarcação de seu
ocupação da terra, levando em conta as território de identificação no âmbito social,
tendências demográficas, os movimentos político, econômico, cultural e afetivo, reflete
populacionais e as áreas críticas para sobremaneira nas particularidades da
produção agrícola. juventude. Essa complexidade que os
caracteriza é resultante como afirmam Ozella
Este artigo aborda sobre os desafios
e Aguiar (2008), da inserção dos jovens nas
socioambientais vivenciados pela juventude
circunstâncias de desafios impostos pelas
rural e como as aprendizagens sobre
dificuldades econômicas e suas repercussões
sustentabilidade são construídas, no contexto
sobre sua inserção social e profissional; pela
de duas Escolas agrícolas, situadas em
baixa oportunidade de acesso a uma
regiões de extremos climáticos, localizadas
educação profissional e de orientação
no Chaco Paraguaio, Cerrito e em Ibimirim,
vocacional.
sertão de Moxotó no Estado de Pernambuco,
Brasil. Estratégias para inclusão e valorização da
juventude, elaboração de políticas sociais
As necessidades da juventude brasileira e
transversais, participativas, voltadas
juventude paraguaia se aproximam muito,
principalmente para os setores mais
pois se inserem em um contexto de
vulneráveis, são apontadas por Jiménez
adversidades e da necessidade de formação
(2004), como condições essenciais para o
técnica que possibilite aos jovens o estímulo à
desenvolvimento integral da juventude,
capacidade empreendedora e criativa de
demandando decisões e ações políticas que
atuar em sua realidade.
promovam suas potencialidades.
O cotidiano das escolas investigadas
apresenta um conjunto de oportunidades para

Educação no século XXI - Volume 2


27

Na proposição dessas estratégias, as aprendizagem integradas ao seu cotidiano


influências do mundo pós-moderno sobre a pessoal e profissional.
identidade da juventude e seus valores,
3 METODOLOGIA
demanda uma formação que possibilite uma
visão crítica e política. Segundo Szapiro e O universo da pesquisa abrangeu duas
Resende (2010), a juventude contemporânea instituições, o Serviço de Tecnologia
está voltada para o presente, sem objetivos Alternativa (Serta), em Pernambuco – Brasil e
de longo prazo, regidos pela lógica da a Fundação Paraguaia em Cerrito - Chaco, na
sociedade de mercado; em que acredita que Região Ocidental do Paraguai, tendo como
exerce o direito de escolha ao consumir. população a ser investigada os jovens
inscritos nos cursos de formação profissional -
Essa cultura do consumo coopera na
Técnico em Agroecologia do Campus
elaboração da identidade da juventude
Ibimirim/Pernambuco – Serta e os jovens
fragmentando as relações sociais e
inscritos no curso de formação profissional
contribuindo para um cenário de exclusão e
Técnico Agropecuário da Escola San
desigualdades.
Francisco Cerrito - Chaco/Paraguai –
A mudança desse quadro reivindica o Fundação Paraguaia, correspondendo a 61
investimento em processos educativos jovens estudantes das referidas escolas.
emancipatórios, nas políticas de juventude e
O recorte da pesquisa teve como foco a
de meio ambiente. Nesse contexto, a
construção de saberes pautados na
Educação Ambiental pode, segundo Higuchi
sustentabilidade a partir dos desafios
e Azevedo (2004), potencializar as
enfrentados pela comunidade escolar para
possibilidades para uma formação crítica e
produção agrícola.
participativa no que se refere ao uso dos
recursos naturais, transformando saberes e Trata-se de uma pesquisa de abordagem
práticas em oportunidades para a construção qualiquantitativa, com ênfase na abordagem
de sociedades sustentáveis. qualitativa, dado o problema de pesquisa que
se pretendeu conhecer, interpretar e refletir,
A Educação Ambiental, nessa perspectiva,
sobre as vivências e experiências dos jovens
representa importante ferramenta para
em seu processo de formação profissional,
despertar o potencial da juventude para
suas crenças e valores, bem como as
intervenção socioambiental e produção de
aprendizagens possibilitadas na perspectiva
novos conhecimentos.
da sustentabilidade socioambiental.
Capra (1996) destaca que a compreensão
A pesquisa qualitativa abrange uma
sobre interdependência ecológica e seu
diversidade de significados, valores e
padrão não-linear são determinantes nas
crenças, conforme destaca Minayo (2000),
mudanças de percepção e construção de
não se reduzindo à operacionalização de
comunidades humanas sustentáveis.
variáveis, correspondendo a relação entre
Os processos educativos, portanto, devem processos e fenômenos.
provocar a reflexão sobre a vida em sua
Os dados foram levantados através da
totalidade e da interdependência entre todos
observação participante, conversas informais
os sistemas vivos e não-vivos, como
e entrevistas, com o objetivo de entender
oportunidade para revisão da relação entre
como os jovens atuam e constroem
ser humano e ambiente.
aprendizagens pautadas na sustentabilidade
A Educação Ambiental aponta para uma mediante a realidade na qual se inserem.
proposta educativa crítica que incentive a
Os dados utilizados para análise da questão
atuação individual e coletiva na busca de
orientadora desta pesquisa foram coletados
alternativas aos problemas socioambientais, e
nas escolas no período de novembro de 2013
potencialize a participação cidadã.
a abril de 2014. A análise de dados foi
Contemplar a sustentabilidade nos processos realizada por meio da ferramenta
formativos requer a adoção de metodologias Spreadsheets, disponível no “Google Docs” e
que considerem as realidades nas quais os do programa QualiQuantiSoft.
sujeitos se inserem, e promova a elaboração
4 RESULTADOS
de conhecimentos transformadores e
estimuladores da participação na busca de As atividades pedagógicas das escolas estão
soluções a partir de experiências de organizadas em aulas téoricas e práticas, em
sala de aula e no campo, a partir de projetos

Educação no século XXI - Volume 2


28

produtivos que recebem assistência integral consideradas as que mais afetam a produção
dos estudantes ao longo de seu processo agrícola (Gráfico 1).
formativo.
Na análise com os estudantes da Escola
Os projetos produtivos das duas escolas agrícola do Serta, sobre as dificuldades no
possibilitam que os estudantes coloquem em desenvolvimento da agricultura em sua região
prática teorias estudadas e discutidas em sala de origem, foi destacado como principal
de aula, e do mesmo modo, levam suas problema a escassez de água,
experiências práticas para a discussão correspondendo a 88% dos entrevistados, e
teórica. as queimadas como desafio menos citado
(Gráfico 2).
A produção agrícola de ambas as escolas
sofre oscilações em virtude de um conjunto O diálogo acerca dos problemas vivenciados
de adversidades que influenciam pelos estudantes na produção agrícola e a
sobremaneira seus resultados, mobilizando os busca de alternativas e soluções, contribuem
estudantes na busca de alternativas. para valorização do esforço individual e do
espirito colaborativo dos estudantes.
Os espaços para o dialogo acerca dos
problemas vivenciados e a proposição de A busca de alternativas pelos estudantes da
alternativas estimulam relações de cuidado, Escola San Francisco se insere dentro da
responsabilidade, liderança e participação da proposta “aprender fazendo”, em que os
juventude em processos decisórios, refletindo estudantes a partir de suas aprendizagens
em uma experiência acerca da melhoram a qualidade das unidades
sustentabilidade em diferentes perspectivas. produtivas da escola (Quadro 1).
Diegues (2003) considera que a oportunidade Ao longo do seu processo formativo, os
educativa para o envolvimento dos sujeitos na estudantes do Serta têm a oportunidade de
busca de soluções é catalisadora na conhecer, criar e implantar um conjunto de
transformação de saberes e práticas em tecnologias que possibilitem a convivência
experiências concretas na construção de com as dificuldades enfrentadas em sua
comunidades sustentáveis. região (Quadro 2).
Entre as dificuldades vivenciadas no cotidiano As alternativas propostas pela Escola agrícola
da Escola San Francico informadas pelos do Serta se inserem no contexto da
estudantes, as mudanças climáticas, a agroecologia e da permacultura e refletem as
escassez de água e pobreza do solo são atividades desenvolvidas pelos estudantes
nas Unidades Pedagógicas de Produção.

Educação no século XXI - Volume 2


29

Gráfico 1. Dificuldades vivenciadas no cotidiano da Escola San Francisco- Cerrito/Chaco/Paraguai

Fonte: Dados da Pesquisa de Doutorado/2013

Gráfico 2. Dificuldades vivenciadas no cotidiano da Escola Agrícola do Serta- Ibimirim/Pernambuco

Fonte: Dados da Pesquisa de Doutorado/2013

Educação no século XXI - Volume 2


30

Quadro 1 - Atividades desenvolvidas pelos estudantes da Escola San Francisco para mitigação dos
problemas enfrentados na produção agrícola/2013
DIFICULDADES Atividades Desenvolvidas
Uso racional, armazenamento, controle e manutenção dos
Escassez de água
equipamentos de uso da água
Insetos e pragas/ Uso de agrotóxicos Armadilha biológica
Estudo das relações entre os problemas climáticos com a produção
Clima leiteira, agrícola e avícola
Plantio de árvores
Trabalho exaustivo da agricultura Uso de energia solar
Uso de cobertura morta;
Rotação de cultivo e;
Pobreza do solo Reciclagem da matéria orgânica para produção de adubo e de
biofertilizante
Monitoramento da umidade do solo
Plano de negócios,
Recursos materiais Atividades de marketing
Investimento na venda de serviços e produtos
Fonte: Dados da Pesquisa de Doutorado/2013
Quadro 2 - Principais dificuldades enfrentadas e alternativas vivenciadas na escola do Serta –
Campus Ibimirim
DIFICULDADES PROJETOS
Escassez de água Irrigação por gotejamento, lago artificial, cisterna.
Insetos e pragas/Uso de agrotóxicos Armadilhas biológicas.
Defensivos naturais.
Clima Barreiras naturais (cercas vivas com árvores e arvoredos.
Falta de Conhecimento Estudo e análise dos ecossistemas.
Comparação entre um ecossistema e área de cultivo.
Atividades de pesquisa.
Trabalho exaustivo da agricultura Aproveitamento eficiente dos espaços (plantio de espécies
considerando seu tempo de colheita e plantio de espécies
considerando sua diversificação.
Utilização eficiente dos insumos naturais (minhocas, insetos, pedras,
sol, vento, temperatura, entre outros).
Utilização eficiente das energias (gravidade, vento, sol, matéria
orgânica e animais).
Pobreza do solo Barreira natural (fileiras de capim).
Queimadas Aproveitamento máximo da matéria orgânica, reaproveitamento
máximo de materiais não recicláveis.
Fonte: Dados da Pesquisa de Doutorado/2013
Os problemas se tornam oportunidades de A interação com e no ambiente também
aprendizagem para os estudantes na medida reflete sobre as percepções dos sujeitos
em que são estimuladas a propor, elaborar e como afirma, Trajber e Sato (2010) e colabora
executar soluções. para ressignificação dos modos de se
relacionar com o meio e com o outro; e para

Educação no século XXI - Volume 2


31

construção de uma rede de saberes que se desenvolvidas pelos estudantes que


amplia nas oportunidades do diálogo, da contribuem para conservação dos bens
troca e do compartilhamento. naturais e refletem sua capacidade em
desenvolver ações de cuidado ambiental em
As propostas de alternativas aplicadas nas
seus projetos (Gráfico 4).
escolas desencadeiam um conjunto de
práticas voltadas para conservação dos bens Nesse contexto, a Educação Ambiental se
naturais, já que a sustentabilidade implica em concretiza a partir de princípios que regem a
tomadas de decisão que considerem suas escola como espaço educador sustentável. A
implicações e conexões. escola sustentável conforme aponta Trajber e
Sato (2010), considera que o território é o
No desenvolvimento das atividades da Escola
lugar onde se constrói identidade, as relações
San Francisco, os estudantes consideram que
de cuidado, as oportunidades de diálogo e
conservam o meio ambiente e os bens
transformação das realidades, de valorização
naturais, pois evitam a contaminação do solo
dos saberes e da potencial participação dos
e da água, não fazem queimadas de nenhum
sujeitos.
tipo, não desmatam, não usam produtos
químicos, fazem uso de adubo orgânico, O estimulo à capacidade gestora é
biofertilizante e utilizam os recursos do meio interdependente do ambiente com suas
de forma racional (Gráfico 3). adversidades e potencialidades, constituindo
importante espaço de estimulo a capacidade
Na Escola Agrícola do Serta, atividades como
criativa e estratégica, potencializando suas
o plantio de espécies nativas, o
ações a partir das oportunidades de permuta
aproveitamento das sobras de colheita e poda
dos saberes e fazeres, construídos nas
para conservação do solo, banco de
escolas investigadas, nas atividades de
sementes, a coleta e armazenamento de água
pesquisa e nas ações de intervenção e
e o uso de biofertilizantes, são atividades
interação com o meio.

Gráfico 3 - Atividades desenvolvidas pelos estudantes da Escola San Francisco Cerrito/Paraguai


para conservação do meio ambiente e dos bens naturais /2013

Fonte: Dados da Pesquisa de Doutorado/2013

Educação no século XXI - Volume 2


32

Gráfico 4. Atividades desenvolvidas pelos estudantes da Escola agrícola do Serta-


Ibimirim/Pernambuco para conservação do meio ambiente e dos bens naturais /2013

Fonte: Dados da Pesquisa de Doutorado/2013

CONSIDERAÇÕES FINAIS alternativas propostas e avaliar seus


resultados.
O diálogo acerca das adversidades presentes
no ambiente constitui o lugar de busca de A proposta pedagógica das escolas
alternativas, do compartilhamento dos potencializa a capacidade de analisar, refletir
saberes e produção de tecnologias e perceber a interdependência entre os
alternativas, contribuindo para valorização do elementos do ambiente e sua conexão com os
protagonismo e criatividade dos jovens. padrões de organização que vão sendo
adotados a partir das alternativas lançadas
O processo formativo vivenciado pelos
pelos estudantes e orientada pelos
estudantes é um exemplo vivo de parceria
professores.
com e no ambiente a partir do conhecimento
sobre o funcionamento do meio, seus O desenvolvimento de propostas de formação
elementos e do papel do ser humano como pautadas na construção de comunidades
gestor dos ambientes naturais que se sustentáveis deve ser compartilhado com as
relaciona, desenvolvendo sua capacidade redes de juventude, principalmente,
estratégica para propor alternativas que propostas desenvolvidas com a juventude
resultem na sustentabilidade do meio. rural, dada a importância do
compartilhamento de alternativas como
As escolas são referência de sustentabilidade
possibilidade para a permanência e
pela oportunidade vivenciada pelos docentes
sustentabilidade da juventude em seu
e estudantes de buscar o alinhamento do
território.
conhecimento prático e teórico, testar as

REFERÊNCIAS [3]. GROPPO. Luis Antonio. Juventude:


ensaios sobre sociologia e história das juventudes
[1]. DIEGUES, Antonio Carlos. Sociedades e modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000. 301 p.
comunidades sustentáveis. São Paulo: NUPAUB- [4]. HIGUCHI, Maria Inês Gasparetto;
USP, 2003. Disponível em: AZEVEDO, Genoveva Chagas. Educação como
http://nupaub.fflch.usp.br/sites/nupaub.fflch.usp.br/ processo na construção da cidadania ambiental.
files/color/comsust.pdf Acesso em: 25 mai. 2013. Revista Brasileira de Educação Ambiental, Brasília,
[2]. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova n. 0, p. 63-70, nov. 2004.
compreensão científica dos sistemas vivos. [5]. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O
Tradução Newton Roberval Eichemberg. São desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
Paulo: Cultrix, 1996. saúde. 7. ed. São Paulo: Hucitec, 2000. 269 p.
256 p. [6]. OZELLA, Sérgio; AGUIAR, Wanda Maria
Junqueira. Desmistificando a concepção de

Educação no século XXI - Volume 2


33

adolescência. Cadernos de Pesquisa. Fundação <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v22n1/v22n1a06.pd


Carlos Chagas, v. 38 n. 133. p. 97-125. Jan./abr. f>. Acesso em: 18 jan. 2014.
2008. Disponível em: [8]. TRAJBER, Raquel; SATO, Michéle.
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pdf>. Acesso em: 16 jan. 2014. transformações nas comunidades. Revista
[7]. SZAPIRO, Ana Maria; RESENDE, Camila Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em
Miranda de Amorim. Juventude: etapa da vida ou Educação Ambiental, Rio Grande, v. especial, p.
estilo de vida? Psicologia e Sociedade, v. 22, n. 1, 70-78, set. 2010. Disponível em:
p. 43-49, jan./abr., 2010. Disponível em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vesp2010/art5v
esp2010.pdf>. Acesso em 25 mai/2013.

Educação no século XXI - Volume 2


34

CAPÍTULO 4

João Paulo da Silva Santos


Marilene Monteiro Alves da Silva
Cláudia Renata da Silva Santos
Luciana Brainer de Lima Silva

Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir a realidade da Educação de


Jovens e Adultos no Estado de Pernambuco no que tange ao ensino da Matemática
através da resolução de problemas. Inicialmente discute-se o contexto histórico
brasileiro em que nasceu essa modalidade de ensino, trazendo as leis que
fundamentaram e que serviram de suporte para consolidar a EJA. Em seguida é
trazido para a discursão os Parâmetros Curriculares da EJA que rege o estado de
Pernambuco na educação matemática e discutido a visão desse documento em
relação à resolução de problemas matemáticos. Essa análise mostrou que os
parâmetros contemplam e discutem a importância da resolução de problemas
matemáticos como estratégia. Além disso, preconiza que os limites dos alunos da
EJA podem ser superados pelas possibilidades de se aprender a construir
conhecimento dentro de uma proposta sócio interacionista que contribui para o
aluno refletir sobre sua própria prática dentro de um contexto escolar metacognitivo
que promova o ensino reflexivo na busca de construir soluções mais apropriadas
para os problemas matemáticos do cotidiano do aluno.

Palavras-Chave: Educação de Jovens e adultos. Parâmetros Curriculares


Estaduais. Educação Matemática. Resolução de problemas.

Educação no século XXI - Volume 2


35

1 INTRODUÇÃO alunos é uma delas (FANTINATO, 2004). Mas


nem sempre isso é tarefa fácil.
Segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), no Ensino Médio o aluno já Assim nesse trabalho se discute a perspectiva
possui uma maturidade mais desenvolvida e dessa modalidade de ensino a partir do
nesse sentido, a educação passa a ter uma trajeto histórico até o que diz os parâmetros
maior pretensão formativa, tanto com relação estaduais propostos pelo governo de
às informações tratadas, como em Pernambuco no que tange a resolução de
procedimentos, atitudes e também em termos problemas matemáticos.
de habilidades e competências.
De acordo com os PCN, um dos objetivos do
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ensino no que se refere ao desenvolvimento
de competências, é associar as diversas 2.1 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO
tecnologias presentes nas ciências naturais BRASIL
aos problemas que se propõe a solucionar. É
Boa parte dos estudantes que frequentam
importante que o professor tenha
hoje as escolas públicas pernambucanas no
conhecimento teórico-metodológico de como
horário noturno, são alunos que buscam
trabalhar a resolução de problemas no
corrigir as distorções de idade-série. Esses
contexto em que está inserido.
alunos estão inseridos numa modalidade de
Nessa abordagem o conhecimento é aceleração conhecida como EJA (Educação
construído através de atividades de Jovens e Adultos) que visa corrigir fluxo
desenvolvidas pelos alunos, visando à principalmente em regiões que há uma
compreensão dos princípios pertencentes ao grande incidência de pessoas fora da escola
problema e a resolução do mesmo. Assim, o sem pelo menos ter concluído o ensino médio.
ensino e aprendizagem baseado na resolução
Fonseca (2007) afirma que devemos voltar
de problemas é uma estratégia de ensino
nossa atenção para a compreensão do
inovadora que coloca os alunos na situação
sentido da experiência social e pessoal
não só de aprender ciência, mas também de
vivenciada por sujeitos, marcados pela
aprender a fazer ciência, de aprender a
exclusão escolar, e que, quando jovens ou
aprender, desenvolvendo várias
adultos inserem-se num contexto de ensino e
competências importantes para o cidadão
aprendizagem da Matemática. Mas, de que
comum (LETTE; AFONSO, 2001).
forma a EJA se constituiu como conhecemos
Na modalidade de ensino da Educação de hoje?
Jovens e Adultos (EJA) essa abordagem
De acordo com Araújo (2007), a EJA até se
também tem sido alvo de documentos oficiais
constituir o que é hoje, foi marcada por um
que visam garantir um ensino de Matemática
período de grandes mudanças. Essas
reflexivo. Apesar de alguns estereótipos
mudanças têm cunho maior no período
criados e paradigmas que distorcem a
colonial influenciado por uma educação
realidade do estudante da EJA,
religiosa, época em que a igreja mantém forte
pesquisadores (FAVERO, 2007; STRELHOW, influência sobre a educação da população
2010) têm mostrado que a EJA é um tipo de que tinha acesso à educação. Essa educação
modalidade de ensino complexa, pois envolve era orientada, seguindo o domínio da cultura
situações que transcendem a questão branca, para adolescentes e adultos em
educacional e que por isso deve ser dotada detrimento da massa popular de índios e
de um Projeto Político Pedagógico (PPP) negros, mulheres e analfabetos. Assim se
próprio, com necessidades peculiares. justificava o aumento de escravos nas
colônias. Araújo (2007) ainda cita que com a
Obviamente que o contexto histórico,
expulsão dos jesuítas do Brasil, apenas no
construído ao longo do tempo contribuiu para
império é que novamente aparecem ações
os problemas que temos nesta modalidade de
educativas no campo da educação no Brasil.
ensino e na educação como um todo. Mas,
estratégias de ensino, têm sido levantadas No Brasil, no início do século XX sob a
para garantir a construção de saberes influência da cultura europeia, são aprovados
matemáticos de forma contextualizada, como projetos de leis com intuito de escolarizar a
aponta alguns documentos oficiais. Trabalhar população adulta visando aumentar o
a resolução de problemas levando em contingente eleitoral, já que nessa época a
consideração os conhecimentos prévios dos população analfabeta era muito grande. No

Educação no século XXI - Volume 2


36

governo de Getúlio Vargas, na constituição de modalidade na educação básica de caráter


1934, foi instaurada a obrigatoriedade e permanente, tanto no ensino fundamental
gratuidade do ensino primário a todos. Mas, a quanto no ensino médio.
condição de oferta é aquém da demanda do
Desde então, tem ocorrido uma forte
país. (PARANÁ/SEED, 2005, p.11). Somente a
presença de alunos nessa modalidade.
partir dos anos 60 com as ideias do educador
Alguns fatores para esse marco podem ser
Paulo Freire começam a abrir possibilidades
atribuídos ao desenvolvimento em potencial
de mudanças no ensino supletivo, existente
de algumas regiões do Brasil. Citando
no país ficando conhecido pelas suas
Pernambuco como um exemplo para essa
experiências de alfabetização em Tiriri
discursão, vamos observar que a procura por
(Pernambuco) e Angicos (Rio Grande do
essa modalidade está estritamente ligada ao
Norte), constatando-se nesse período através
desenvolvimento da região.
dos registros da época a diminuição do
analfabetismo no Brasil. Na tabela abaixo apresentamos dados
relativos à quantidade de matrículas em
Com a LDB (Lei 5.692/71) e o parecer 699/72
Pernambuco de 2003 a 2013. Através dela
do Conselho Nacional de Educação (CNE), é
podemos perceber que em 2005 e 2006
atribuído um capítulo específico para o ensino
foram os anos em que mais houve matrículas
de supletivo e regulamenta os cursos de
na modalidade EJA. Em 2005 existiam no
supletivos e os exames de certificação (DI
estado 282.964 alunos matriculados e em
PIERRO, JOIA e RIBEIRO, 2001 apud
2006, 299.304 alunos. Isso representa um
ARAÚJO, 2007). Mas, somente no ano de
aumento de aproximadamente 5,78% de um
1996 com a promulgação da nova LDB (Lei
ano para outro, conforme tabela abaixo:
9394/96), a EJA se consolida como

Tabela 1- Números de matrículas na EJA em Pernambuco de 2003 a 2013.

Ano Nº de matrículas na EJA


2003 280.890
2004 279.135
2005 282.964
2006 299.304
2007 272.742
2008 277.162
2009 259.449
2010 248.213
2011 235.566
2012 232.370
2013 214.615
Fonte: Censo Escolar Secretaria de Educação de Pernambuco SEED/PE (adaptado).

Outro dado importante é que de 2003 a 2013, A seguir veremos a importância dos
a média de matrículas foi de Parâmetros Curriculares Estaduais,
aproximadamente 262.038 matrículas na EJA, documento esse que fundamenta a educação
mostrando que a procura por essa no estado e que orientam a EJA.
modalidade é grande. Nesse período no
Estado de Pernambuco, diversas empresas
começam a se instalar no Porto de Suape e 2.2 OS PARÂMETROS CURRICULARES PARA
na construção da Refinaria Abreu e Lima A EJA EM PERNAMBUCO
sendo exigidas qualificações profissionais dos
Em Pernambuco, vamos observar um forte
candidatos as vagas de emprego ofertadas
impacto nessa modalidade de educação, a
naquele período. Isso pode ter
partir dos parâmetros curriculares estaduais.
influenciado na procura maciça pela escola, Esses parâmetros orientam a educação
principalmente na Região Metropolitana do básica de todo o estado e visam fornecer
Recife. subsídios para agregar esforços na condução
da educação básica.

Educação no século XXI - Volume 2


37

Em seu texto eles reconhecem a importância conhecimentos. (PERNAMBUCO-SEED, 2012,


da Matemática na vida do aluno e procura p.21).
trazer formas diferenciadas de aprendizagem
Despersonalizar pode, portanto, ser
que favoreça a reflexão, a crítica e autonomia
compreendido como alinhar os
do aluno a partir de um currículo próprio.
conhecimentos prévios desses alunos com o
Assim percebemos que:
conhecimento científico necessário para
Construir um currículo implica fazer escolhas ampliar seus horizontes levando-os a resolver
que promovam no sujeito as condições para problemas cada vez mais complexos. Essa
que ele possa interpretar sua realidade e ideia leva-nos a pensar sobre o que é um
intervir nela. Para tanto, é necessário romper problema matemático e sua intencionalidade
com um ensino de Matemática marcado pela conforme será discutido adiante.
concepção de que a aprendizagem de
conteúdos matemáticos leva, de forma
automática, à construção de competências. 2.3 A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS EM
(PERNAMBUCO-SEED, 2012. p.21). MATEMÁTICA
Assim, percebe-se no documento que as A Matemática é uma área onde não é
competências matemáticas não são necessário justificar a importância da
construídas automaticamente, resolução de problemas. Durante muito
descontextualizada da realidade, mas sim, ao tempo, quando um aluno dizia que estava
longo do contato no dia a dia do aluno com tentando solucionar um problema ficava
essa área do conhecimento. A necessidade subentendido que este estava realizando uma
diária de resolver problemas faz o aluno atividade matemática. A relação entre a
pensar de forma complexa, levando em resolução de problemas e a Matemática
consideração o pensar sobre as coisas de parece estar implícita tanto nas crenças
forma a compreender o todo e não somente populares como em algumas teorias
as partes. filosóficas e psicológicas e até em modelos
que possuem finalidades pedagógicas. Dessa
Durante muito tempo a Educação de Jovens e
forma, pode-se dizer que o interesse pela
adultos foi pensada como uma reprodução do
resolução de problemas em Matemática, se
ensino regular, reduzindo assim a sua real
deve não só ao fato de que o pensar nessa
intencionalidade. Dessa forma, o aluno era
área do saber estimula o raciocínio em outras
visto como um “balde vazio” que não
áreas do conhecimento, mas também porque
apreendeu conteúdos matemáticos e não
os diversos procedimentos matemáticos
desenvolveu ferramentas necessárias para
podem contribuir como avanço de outras
resolver problemas (PERNAMBUCO - SEED,
áreas científicas e tecnológicas, até mesmo
2012).
na resolução de problemas mais cotidianos.
Mas, essas ideias foram abandonadas e hoje
É importante que se aprenda como resolver
se entende que o aluno da EJA é dotado de
problemas matemáticos e discutir com
um conhecimento próprio fruto de sua
especialistas e não especialistas que resolver
interação com o meio em que vive. Sendo
determinadas tarefas pode contribuir para um
assim não podemos excluir o conhecimento
aumento do conhecimento científico e
desse aluno em função de um conhecimento
tecnológico. Desse modo, a Matemática se
puramente acadêmico, mas sim, alinhar esses
constitui como uma ferramenta importante
com a vida diária desse aluno para que o
para a resolução de problemas científicos
mesmo possa ampliar seus horizontes na
(POZO & CRESPO, 1998).
resolução de outros problemas. Assim a
função da Matemática na EJA é: A resolução de problemas, portanto, é
fundamental para o ensino de Matemática, já
(...) permitir aos sujeitos dessa modalidade de
que o pensar e o fazer se desenvolvem
ensino a “despersonalização” de seus
quando o indivíduo está enfrentando de
conhecimentos, para que possam enfrentar maneira ativa seus desafios. Essa capacidade
desafios cada vez mais amplos. De forma não se desenvolve quando se é proposto
paradoxal, podemos dizer que, nessa apenas exercícios de aplicação de conceitos
modalidade de ensino, não devemos e de algumas técnicas matemáticas, pois
“ensinar” nada, mas sim permitir que o desse modo estará fazendo uma simples
estudante transforme seus conhecimentos em ação de transposição analógica o que não
ferramentas úteis para a elaboração de novos garante que os estudantes sejam capazes de

Educação no século XXI - Volume 2


38

utilizar seus conhecimentos em situações 2.4 A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NAS


distintas ou mais complexas. SALAS DA EJA SEGUNDO OS PARÂMETROS
Ainda em relação a essa incapacidade dos Grande parte dos estudantes que estão na
alunos em aplicar seus conhecimentos em EJA, são egressos de outras modalidades de
situações diversas temos que, tanto isso é ensino. Outros ainda estavam fora da escola
verdade que sabemos do fracasso dos alunos durante muito tempo (dez, quinze, até trinta
quando propomos a análise de situações anos ou mais). A maioria deles enfrenta uma
onde devem ser relacionados dados ou fatos jornada diária de trabalho de oito horas e
diversos ou quando é necessária a tomada de chegam à sala de aula no horário noturno.
decisão entre diferentes e possíveis caminhos
A realidade vivenciada por esses estudantes,
de resolução. Nesse caso, percebemos que,
numa época em que a visão de
mesmo quando possuem informações e
aprendizagem ainda era motivada em grande
conceitos, os alunos não os mobilizam, não os
parte pela repetição de atividades, foi bem
combinam eficientemente, desanimam,
diferente do que é apresentada hoje. Boa
esperam a explicação do professor, não se
parte dos estudantes da EJA sentem
permitem tentar e errar, não confiam em suas
dificuldades na compreensão de problemas
próprias formas de pensar. Na resolução de
matemáticos e na busca de suas soluções.
problemas, o tratamento de situações
Essas dificuldades apresentadas, quase
complexas e diversificadas oferece ao aluno a
sempre levam ao fracasso escolar desses
oportunidade de pensar por si mesmo,
estudantes.
construir estratégias de resolução e
argumentações, relacionar diferentes Assim os parâmetros curriculares do Estado
conhecimentos e, enfim, perseverar na busca de Pernambuco, orientam os professores a
da solução. E, para isso, os desafios devem utilizar a resolução de problemas como uma
ser reais e fazer sentido (BRASIL, 1998, p. estratégia de ensino e aprendizagem. Os
113). parâmetros dão ênfase maior à resolução de
problemas que exploram:
É importante destacar que alguns professores
acreditam estarem utilizando em suas aulas A perspectiva sócio interacionista da
problemas matemáticos, onde na verdade aprendizagem, baseada, sobretudo, nas
aplicam meros exercícios repetitivos que ideias de Vygotsky, parte do princípio de que
privilegiam mais a técnica do que o raciocínio a aprendizagem implica a construção dos
necessário para a resolução de um problema. conceitos pelo próprio estudante, na medida
Assim, também é verdade que na maioria das em que o aprendiz é desafiado a colocar em
ocasiões o ensino de Matemática tem se confronto antigas concepções e levado à
baseado mais na resolução de exercícios de elaboração dos novos conceitos pretendidos
caráter sintático do que de verdadeiros pela escola. Nesse cenário, cabe ao professor
problemas devido a um currículo muitas vezes o papel de mediador, ou seja, de elemento
rígido, não flexível. Nesse sentido, a solução gerador de situações que propiciem o
de problemas matemáticos constitui, ao confronto de concepções, cabendo ao
mesmo tempo, um método de aprendizagem estudante o papel de construtor de seu
e um objetivo do mesmo (POZO & CRESPO, próprio conhecimento. (PERNAMBUCO –
1998, p. 63). SEED, 2012, p.26).
Diante do exposto, acreditamos que a Segundo os parâmetros, o aluno é sujeito da
resolução de problemas pode não ser uma construção do seu conhecimento, ele é
tarefa fácil de ser aplicada. Dessa forma, corresponsável no processo de construção de
utilizar a resolução de problemas como uma sua aprendizagem, é o principal ator desse
estratégia de ensino é um desafio não só para processo. Sendo assim alunos e professores
o professor de Matemática, mas também para são aliados necessários para que a
os professores de outras áreas do aprendizagem aconteça e esse aluno consiga
conhecimento. Em seguida veremos a luz do superar as dificuldades.
documento oficial que rege essa modalidade,
como é tratado a resolução de problemas Um ponto importante que o documento
matemáticos e quais os desafios que esses chama a atenção do leitor é sobre a
alunos estão enfrentando em sala de aula. concepção daquilo que o professor chama de
problema. Durante muito tempo, entendia-se
por problema um exercício específico que o
aluno utilizava como padrão para resolver

Educação no século XXI - Volume 2


39

outros propostos pelo professor. No entanto, complexos para lidar com uma realidade em
isso não configurava propriamente em que os alunos oriundos da sociedade, não ou
aprendizagem, pois, o aluno tornava-se pouco escolarizada traz consigo um
limitado apenas àquela situação específica, conhecimento prévio que deve ser
sem pensar na solução encontrada e nem contemplado no Projeto Político Pedagógico.
tampouco articulá-la com sua realidade Esses conhecimentos prévios serão úteis para
social. Esses eram o que chamava de construção do conhecimento a partir de uma
problemas fechados. proposta inovadora de trabalhar com a
resolução de problemas principalmente para
O documento aponta para uma forma
quebrar o paradigma da educação totalmente
diferenciada de trabalhar conteúdos, o que
tradicional que ainda existe nas aulas de
ele chama de problemas abertos. Esses
Matemática.
problemas fazem do estudante, um indivíduo
capaz de “realizar tentativas, estabelecer No exemplo apresentado em que é citado o
hipóteses, testar essas hipóteses e validar estado de Pernambuco, percebemos que a
seus resultados, provando que são procura por essa modalidade de ensino de
verdadeiras ou, em caso contrário, mostrando 2003 a 2013 é grande motivada pela
algum contraexemplo” (PERNAMBUCO-SEED, necessidade de qualificação devido ao
2012, p.31). desenvolvimento da região. Essa procura
também está relacionada ao tempo de
Assim mudanças acontecem de forma a
conclusão do curso que é de
propiciar, aos sujeitos envolvidos no processo
aproximadamente 18 meses sendo oferecida
de aprendizagem, alunos e professores, uma
em blocos de disciplinas no horário noturno.
relação mais fraterna, de solidariedade na
Sendo assim oferecendo condições ao aluno
construção do conhecimento. O aluno então
trabalhador de cursá-lo.
deve perceber que o conhecimento
matemático construído é parte integrante da Também se percebe analisando o documento
sociedade, é um elemento natural de seu que rege a educação do estado para essa
ambiente social. Essa ênfase que o modalidade, que há ênfase no ensino de
documento dá a resolução de problemas matemática através de resolução de
abertos faz do estudante um ser social capaz problemas, pois permite ao aluno autonomia,
de conduzir sua própria aprendizagem. colaboração na construção da solução que é
coletiva e faz parte do convívio social do
aluno quebrando assim diversas dificuldades
3 CONCLUSÕES que levariam esse aluno ao fracasso escolar.
Diante do que vimos até agora fica claro que Logo, os limites dos alunos nesta modalidade
a EJA nasce num contexto histórico da podem ser superados pelas possibilidades de
educação brasileira marcada por aprender a construir conhecimento dentro de
necessidades próprias, que consolidaram ao uma proposta sócio interacionista que faz o
longo do tempo o que hoje conhecemos aluno refletir sobre sua própria prática dentro
dessa modalidade. de um contexto escolar metacognitivo que
promova o ensino reflexivo na busca de
Inicialmente, apesar do processo de
construir soluções mais apropriadas para os
marginalização a que essa proposta foi
problemas do dia a dia do aluno.
submetida, tornou-se uma modalidade
consolidada na educação Brasileira que
requer do professor, conhecimentos

REFERÊNCIAS Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio).


Brasília: MEC, 1998.
[1]. ARAÚJO, N.S.R. A educação de jovens e
adultos e a resolução de problemas matemáticos. [4]. FANTINATO, M.C.C.B. A construção de
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Educação no século XXI - Volume 2


40

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Características, organização e supervisão. Boletim Posto Alegre, 1998.
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[8]. PARANÁ. SEED. Documentos Preliminares Educação de Jovens e Adultos. Revista Histedbr
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e Adultos no estado do Paraná. Curitiba, 2007.

Educação no século XXI - Volume 2


41

CAPÍTULO 5
Adrijane Alves de Amorim
Ivânia Tibúrcio Cavalcanti
Manuel Augusto de Oliveira Aguiar

Resumo: Com o objetivo de desenvolver reflexões para mudança de pensamentos,


paradigmas e atitudes com vistas à inclusão social pela comunicação, realizou-se
uma roda de conversa, no III Fórum Mundial de Educação Profissional e
Tecnológica, proposta como uma atividade autogestionada por uma Instituição de
Ensino Superior, de Pernambuco. A atividade reiterou a necessidade de ampliar a
convivência com as pessoas com deficiência para desconstruir preconceitos,
repensar paradigmas e fortalecer a luta dessas pessoas.

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42

1 INTRODUÇÃO negação da cidadania da pessoa com


deficiência. No Brasil, vivencia-se o paradoxo
A comunicação constitui-se uma poderosa
de se ter umas das melhores legislações do
ferramenta de interação e inclusão social.
mundo e a sua efetivação desrespeitada.
Para isso, dispomos de vários tipos de
linguagem, que são decodificados pelos É sabido que acessibilidade, por exemplo,
nossos sentidos e interpretados de formas continua encontrando entraves no seu
objetiva e subjetiva. processo de efetivação e consolidação,
enquanto um direito de cidadania. A
Contudo, para que a comunicação aconteça,
institucionalização e a normatização do direito
é preciso que existam não apenas códigos e
não significam necessariamente sua
condições comuns; mas, principalmente, o
efetividade. Desta forma, a objetividade
interesse de nos comunicarmos uns com os
jurídica nem sempre vem acompanhada do
outros para transposição de barreiras.
seu exercício e da consciência do direito.
Um forte exemplo, hoje, é a tecnologia digital, Percebe-se um sistema híbrido que se
pela qual distâncias são aproximadas, timidez encontra permeado de práticas contraditórias
é superada, pessoas desconhecidas tornam- e concorrentes entre si: ora como direito e ora
se conhecidas, redes de contato são abertas com uma ação assistencialista/caridade e de
a cada instante. Universos se ampliam, nos privilégio (CAVALCANTI, 2006).
quais ouvintes e não ouvintes, videntes e não
Na discussão dos direitos, é mister também
videntes, tímidos e destemidos, ricos e
romper com o modelo médico e orgânico da
pobres, afrodescendentes e brancos,
deficiência, que enfatiza os aspectos clínicos
teclando, trocam ideias simultaneamente em
da deficiência, responsabilizando o individuo
uma “comunicação entre todos e para todos”,
e a família pela sua superação. Omite-se a
até onde o imaginário de cada um permita.
responsabilidade do Estado e da sociedade.
No entanto, quando nos voltamos para a Nesse modelo, cabe segregar – até a década
realidade concreta, existe, pode-se dizer, uma de 40, integrar – até a década de 80, e
inversão de condições - universos são promover ações de cuidado à saúde,
estreitados e barreiras são ampliadas por colocando a pessoa com deficiência como
diversos problemas: escuta inapropriada, subcidadão ou cidadão de segunda classe
intolerância, preconceitos ou, simplesmente, (FACION, 2002).
porque não sabemos como falar com o outro.
Nega-se às pessoas com deficiência, entre
Neste último aspecto, existem também várias
outros direitos, o direito de expressão e
razões que incidem sobre esse “não saber”;
comunicação, principalmente, às pessoas
mas, dentre elas, inclui-se o comunicar-se
surdas e com transtorno mental, que era
com pessoas com deficiência.
permitido pelo Código Civil serem
Dessa forma, com o objetivo de desenvolver interditadas, judicialmente, sob alegação da
reflexões para mudança de pensamentos, incapacidade de expressarem sua vontade.
paradigmas e atitudes com vistas à inclusão
A partir da década de 1980, inicia-se o
social pela comunicação, surgiu o interesse
movimento do conceito de sociedade
de promover uma roda de conversa, dentro
inclusiva, em que todas as pessoas têm valor,
do III Fórum Mundial de Educação Profissional
rompendo com o modelo e a naturalização
e Tecnológica, realizado no Centro de
dos aspectos clínicos da deficiência,
Convenções de Pernambuco, Recife-PE, em
enfatizando os aspectos sociais e
maio de 2015, oferecida como uma atividade
responsabilizando a sociedade, o Estado e a
autogestionada por uma Instituição de Ensino
família pela sua inclusão social. Nesse
Superior, localizada na mesma capital.
modelo, cabe promover políticas de direitos
humanos e não apenas ações dos cuidados
com a saúde. A pessoa com deficiência
2 REFERENCIAL TEÓRICO
passa a ser vista não como o deficiente, o
De acordo com Cavalcanti (2006), debater a “coitadinho”, mas uma pessoa e cidadão que
respeito dos direitos da pessoa com faz parte da diversidade humana.
deficiência é romper com a cultura política do
Assim, o paradigma da inclusão desloca a
clientelismo, que dilui e desconstrói direitos,
questão do modelo médico, que centraliza as
que ratifica a ideologia da
barreiras nas deficiências biológicas e
caridade/assistencialismo, do favor e da
orgânicas, para o modelo social, identificando
gratuidade dos direitos, constituindo-se uma
que o foco não é o sujeito e sua deficiência,

Educação no século XXI - Volume 2


43

mas o contexto social no qual está inserido. É efetiva na sociedade em igualdades de


o encontro/interação da deficiência com a condições com as demais pessoas.
organização social, histórica, econômica e (VITAL,2008:131-133)
ambiental da sociedade. Segundo Chauí
Nesta perspectiva, é que se deve discutir a
(2001),
acessibilidade sob a ótica dos direitos
As divisões sociais de classe são humanos e como ferramenta indispensável
naturalizadas em desigualdades postas como para a inclusão social da pessoa com
inferioridade natural (mulheres, negros, deficiência. Uma ferramenta de inclusão aos
pessoas com deficiência. Idosos, índios)... serviços de recursos sociais, culturais,
Essa naturalização, que esvazia a gênese educacionais, entre outros. É um processo de
histórica da desigualdade e da diferença, reconhecimento social da deficiência.
permitindo a naturalização de todas as formas
A luta pela acessibilidade é uma luta histórica.
visíveis de violência, pois não são percebidas
Observa-se que nos inícios dos anos 80,
como tais. (CHAUÍ, 2001:89).
busca-se eliminar as barreiras arquitetônicas
Importante compreender a deficiência como nas edificações, considerando as
causa e efeito das desigualdades sociais. necessidades das pessoas com deficiência
física. Durante os meados de 80, as barreiras
Não por acaso, os dados do Censo arquitetônicas vão além das edificações:
IBGE/2010 indicam que a região nordeste, referem-se às barreiras ambientais e
seguido da região norte, as mais pobres do atitudinais. No início dos anos 90, são
país, são as que apresentam maiores identificadas as barreiras ambientais,
percentuais de pessoas com deficiência, atitudinais, de comunicação e de transportes
comparativamente às suas populações (BUENO, 2006:49).
residentes, 26,63% e 23,04%%,
respectivamente. Mostram ainda que, no É importante ressaltar que as barreiras de
recorte inter-racial, agrupados/as,os/as comunicação e informação restringem o
negros/as e pardos/as representam 23,62% acesso aos direitos da educação, arte,
das pessoas com deficiência,seguidos/as cultura, lazer, expressão e sua participação
pelos/as indígenas,19,7% (LOPES 2014:163). na sociedade. Destaca-se, ainda, que o
exercício dos direitos ao lazer e à cultura é
Portanto, é uma parcela significativa da considerado supérfluo para maior parte da
população sem o direito a ter direitos com população brasileira e não como direitos
acesso restrito à saúde, educação, lazer, constitucionalmente garantidos. Nesse
informação, comunicação, transportes, entre sentido, é sabido que o número de criança e
outros. Conforme Gomes (2007), quando se adolescente com deficiência fora da escola é
associa a condição da deficiência à questão o dobro do número de crianças e adolescente
de gênero, etnia, expressão sexual e classe sem deficiência que não a frequentam, bem
social, a exclusão tende a se agravar. Embora como é alto o número de crianças e
a linha da pobreza seja definida pelo corte de adolescentes não alfabetizados (DUTRA,
renda, deve-se compreendê-la como uma 2006).
condição de privação de direitos.
Acessibilidade, assim, é um importante
É preciso ressaltar a Convenção sobre os elemento para que a pessoa com deficiência,
Direitos das Pessoas com Deficiência e a no seu exercício da cidadania, tenha
Classificação Internacional de autonomia, segurança, independência.
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, que Entendendo-se autonomia, segundo (Paula,
colocam: 2008:30), “a possibilidade das pessoas
A deficiência resulta da interação entre as realizarem suas ações sem auxílio de
pessoas com deficiência e as barreiras terceiros, porém ainda, sujeitas à criação de
atitudinais e ambientais que impedem sua condições pelo meio ambiente e contexto
plena e efetiva participação na sociedade em social”. O que se diferencia da
igual de condições com as demais independência, que compreende a
pessoas.”Preceitua, ainda, que pessoas com capacidade de fazer escolhas sem pedir
deficiência são aquelas que têm autorização de alguém ou de alguma
impedimentos de longo prazo de natureza instituição (PAULA, 2008).
física, mental, intelectual ou sensorial, os Preocupado com a invisibilidade da questão
quais, em interação com diversas barreiras, da acessibilidade, apesar do Decreto
podem obstruir sua participação plena e 5.296/04, que regulamenta as Leis 10.048 e

Educação no século XXI - Volume 2


44

10.098/2000, que trata de estabelecer normas relação com as específicas deficiências


gerais e critérios básicos da Acessibilidade apresentadas, uma vez que deveriam ter uma
das pessoas com deficiência e mobilidade relação direta ou indireta com a comunicação.
reduzida, o Conselho Nacional de Defesa dos Neste sentido, um surdo, não oralizado, quer
Direitos da Pessoa com Deficiência – seja, que não se comunica com os códigos
CONADE - realizou a primeira conferência próprios da maioria da população, que é a
nacional em maio/2006, com o tema: linguagem oral, fazendo uso da Língua
Acessibilidade: você também tem Brasileira de Sinais – LIBRAS, por si só, já
compromisso. justifica a escolha.
Durante essa conferência, foi lançada a No que se refere à convidada com histórico
campanha: Acessibilidade - Siga essa ideia de fissura labiopalatina, justifica-se pelo fato
(GOMES, 2007). Já na segunda conferência, de que, conforme assinala Altmann (2007), as
nacional, ocorrida em dezembro/2008, foi fissuras labiopalatinas correspondem a uma
discutido o tema: Inclusão, participação e malformação craniofacial, que afeta o
desenvolvimento: Um novo jeito de avançar. A desenvolvimento embrionário, e que traz
terceira conferência aconteceu em como principal sequela as alterações nos
dezembro/2012, com o tema: Um olhar da padrões de alimentação, voz, fala e
Convenção sobre os Direitos da Pessoa com respiração. Embora, não sejam consideradas
Deficiência: novas perspectivas e desafios. uma deficiência, a pessoa com fissura
vivencia estigmas sociais, devido às
Ainda, o Decreto 5.296/04, Art.8º, inciso II,
alterações estéticas e de comunicação, por
estabelece:
comprometimento na fala e na voz,
As barreiras nas comunicações e de principalmente, quando acometida pela
informações como qualquer entrave ou hipernasalidade, a saber, aumento da
obstáculo que dificulte ou impossibilite a nasalidade na voz.
expressão ou o recebimento de mensagens
Sobre a cegueira, a relação com as barreiras
por intermédio dos dispositivos, meios ou
de comunicação gira em torno de como dirigir
sistemas de comunicação, sejam ou não de
a fala para uma pessoa que, supõe-se, não
massa, bem como aqueles que dificultem ou
enxerga os sinais não verbais do outro, como
impossibilitem o acesso à informação
gestos e expressões. É comum observar que,
(Decreto 5.296/04, Art.8º, inciso II).
muitas vezes, quando se interage com uma
Portanto, discutir a acessibilidade é refletir a pessoa cega, fala-se em um tom mais
questão da democratização do acesso, a elevado, como se ela apresentasse alguma
igualdade social, respeito às diferenças e deficiência auditiva, ou, simplesmente,
diversidade humana. No mais, é importante direciona-se para quem a acompanha,
lembrar que a “pobreza em geral pode se ver ignorando-a ou a colocando na invisibilidade.
refletida nos altos índices de desemprego das Além disso, as barreiras também aparecem
pessoas com deficiência. Segundo Banco na comunicação escrita, em decorrência de
Mundial, o desemprego desta população é de ausência ou precariedade no acesso à
80% a 90% na América Latina.” (VITAL, tecnologia assistiva.
2008:23). Isto, de certo, distancia as Dessa forma, definidos os pré-requisitos para
possibilidades e aumentam as dificuldades os convidados, em uma primeira reunião
para se vencer as barreiras sociais.
prévia, dentre três realizadas, para
Nesta perspectiva, ressalta-se uma pesquisa apresentação e explicação da atividade e
realizada pela Associação Brasileira de alinhamento das falas, outro requisito foi
Recursos Humanos (ABRH), a qual aponta colocado pelos convidados, que dizia sobre
que 81% dos recrutadores contratam pessoas os seus discursos não alimentarem falas que
com deficiência para cumprir a lei 8.213/91 e traduzissem expressões de superação ou a
apenas 4% declaram fazê-lo por acreditar no do “coitadinho” - primeira impressão a ser
potencial (JORNAL GENTE CIENTE, 2014:12- desfeita, diante do que comumente aparece
13) no social.
Assim, no decorrer desse planejamento,
durante as reuniões, foram estabelecidos
3 METODOLOGIA alguns pontos para desenvolvimento no
Inicialmente, faz-se necessário justificar a momento da atividade a serem contemplados,
escolha dos participantes da atividade, na sob forma de perguntas, versando sobre:

Educação no século XXI - Volume 2


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diferenciação entre inserção e inclusão; como se era de esperar, mas de um jovem


códigos e recursos diferenciados para a estudante do ensino superior, do estado da
expressão dos saberes; comunicação e Bahia, que enveredou justamente pelo
imagem; linguagem como instrumento de discurso da superação. Discurso este, como
inclusão e exclusão; barreiras atitudinais dito anteriormente, uma constante na visão do
enfrentadas e, por fim, recomendações para senso comum, quando diante de pessoas
potencialização do relacionamento com deficiência, que atingem determinado
comunicativo com vistas à inclusão. status profissional ou social.
Apesar de ser um discurso contrário aos
convidados; vindo da plateia, tornou-se um
4 DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
momento muito oportuno para que eles
Tratou-se de uma atividade, dentro da pudessem esclarecer que o discurso da
modalidade roda de conversa, da qual superação coloca a deficiência no paradigma
participaram três convidados, mediados por da inserção social, que enfatiza o modelo
uma professora, autora da proposta, da médico e responsabiliza o indivíduo ou a
Instituição de Ensino Superior envolvida. família pela sua superação, tornando-o um
Assim, foram convidados um profissional que exemplo para as demais pessoas com
é surdo, não oralizado, professor universitário deficiência.
de LIBRAS; um administrador, que é cego,
Dessa forma, omite-se a responsabilidade da
consultor de acessibilidade e inclusão; e uma
sociedade e do Estado, na ausência ou
assistente social, com histórico de fissura
precariedade da promoção de políticas
labiopalatina. Ainda, contou-se com a
públicas de inclusão social. Portanto, reforça-
presença de uma intérprete de LIBRAS,
se que a responsabilidade não é apenas da
inclusive, durante as reuniões que
pessoa com a deficiência. Pois, as barreiras
antecederam a atividade no Fórum.
sociais são verdadeiros obstáculos que a
Esta atividade foi pensada de maneira que pessoa com deficiência enfrenta; de forma
possibilitasse uma conversa informal entre os que a limitação não está na sua deficiência,
convidados e o público presente, dentro de mas nas barreiras ambientais e atitudinais que
um intervalo de tempo de sessenta minutos, a sociedade a ela impõe, obstruindo sua
formando uma grande roda de conversa, de participação plena e efetiva em igualdade de
modo que as discussões suscitassem o condições com as demais pessoas.
desejo de participação de todos em torno do Ressaltou-se, ainda, que os preconceitos e a
tema central que versava sobre as discriminação contribuem para a restrição e
dificuldades de comunicação interpessoais, exclusão dos direitos das pessoas com
quando um dos lados é constituído por uma deficiência.
pessoa com deficiência. Dessa forma, ambos
os lados, convidados e plateia, puderam
interagir e refletir a realidade para 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
desenvolvimento de atitudes inclusivas.
A experiência reiterou a necessidade de
Devido à paralisação nacional, ocorrida em 29 ampliar a convivência com as pessoas com
de maio de 2015, dia da realização da deficiência para desconstruir preconceitos,
atividade, o participante convidado surdo repensar paradigmas e fortalecer a luta
ficou impossibilitado de comparecer. Contudo, dessas pessoas, sugerindo-se, entre outras,
na plateia, encontrava-se uma professora participação em atividades dos Conselhos e
universitária, com a mesma deficiência e Conferências de Defesa de Direitos da
também não oralizada, que pôde contribuir Pessoa com Deficiência, quer sejam
com suas experiências. municipais, estaduais e nacionais.
A proposta da roda de conversa
“Comunicação entre todos e para todos”,
5 RESULTADOS
desde o seu início, mostrou a sua relevância,
A atividade veio ao encontro da expectativa, como um espaço para o desenvolvimento de
uma vez que o tema provocou o envolvimento novas percepções, paradigmas e reflexões
e a participação da plateia, conforme se sobre posturas e atitudes de comunicação,
pretendia. De tal modo que, logo após a fala frente às pessoas com deficiência, assim
introdutória da mediadora, a primeira revelado nos depoimentos da plateia, cujos
pergunta aos convidados não partiu desta, jovens estudantes presentes, constituem a

Educação no século XXI - Volume 2


46

esperança de futuros profissionais, agentes e Logo, ampliar o debate a respeito dos direitos
multiplicadores sociais para uma sociedade da pessoa com deficiência significa fortalecer
mais inclusiva. Para os profissionais presentes o segmento nas suas lutas pela efetivação e
na atividade, constituiu-se um momento de consciência dos direitos, bem como contribui
reflexão do seu exercício profissional na ótica para retirar as pessoas com deficiência da
da cidadania. sua invisibilidade e colocá-las como sujeito
histórico e de direitos.

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Dispõe sobre a prioridade de atendimento, normas do desenvolvimento associados a graves
gerais e critérios básicos para promoção da problemas do comportamento: reflexões sobre um
acessibilidade das pessoas portadoras de Modelo Integrativo/ José Facion- Brasil: Ministério
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Pernambuco – UNICAP, Recife, 2006. Internacional da Pessoa com Deficiência: Um longo
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conferencista. Brasília, 2006, p.46-49. Especial dos Direitos Humanos, 2008.

Educação no século XXI - Volume 2


47

CAPÍTULO 6
Luciana Aparecida Siqueira Silva
Amanda Santana Vieira
Christina Vargas Miranda e Carvalho

Resumo: A doença de Chagas é uma infecção causada pelo agente etiológico


Trypanosoma cruzi, que foi descoberta pelo médico e pesquisador Carlos Chagas
em 1909 e é considerada uma patologia de larga distribuição em todo o continente
sul-americano. Atualmente, estima-se que exista mais de 10 milhões de infectados
no mundo. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar o conhecimento dos
discentes do 2º ano do ensino médio do Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí
sobre a doença de Chagas, utilizando o jogo didático como ferramenta
educacional. Participaram do estudo 102 estudantes regularmente matriculados,
que responderam a um questionário investigativo sobre o tema proposto,
participaram do jogo didático e posteriormente foram avaliados novamente para
comparação de dados. Por meio dos resultados obtidos da pesquisa, foi possível
constatar que os discentes dos 2º anos do Ensino Médio do Instituto Federal
Goiano- Campus Urutaí aperfeiçoaram o conhecimento acerca da doença de
Chagas.

Palavras-chave: jogo didático, ludicidade, tripanossomíase.

Educação no século XXI - Volume 2


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1 INTRODUÇÃO interessantes e desafiadoras para resolução


de problemas, possibilitando aos aprendizes
A doença de Chagas é uma infecção causada
uma auto-avaliação quanto aos seus
pelo protozoário hemoflagelado Trypanosoma
desempenhos, o que interfere na motivação
cruzi. Foi descoberta em 15 de abril de 1909,
do aluno a participar das aulas, além de fazer
na cidade mineira de Lassance, pelo médico
com que haja interação entre alunos e
e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz,
professores (SILVA, et. al., 2008; PEDROSO,
Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, sendo
2009; BRAGA, et. al., 2007; CAMPOS, et. al.,
considerada uma das patologias de mais
2003).
larga distribuição e tradição de pesquisa em
todo o continente sul-americano (DIAS, 2007; A escola deve exercer um papel de
KROPF e SÁ, 2009; NETO e PASTERNAK, proporcionar aos alunos uma visão mais
2009; MALAFAIA e RODRIGUES, 2010). ampla de saúde informando aspectos
epidemiológicos, profiláticos e tratamento de
Chagas descreveu a tripla descoberta da
diversas doenças, com a finalidade de
mesma doença, o patógeno, o vetor, e as
melhorar a qualidade de vida dos alunos e de
manifestações clínicas das fases agudas e
seus familiares (OLIVEIRA, et. al, 2007).
crônicas da doença humana, além do
reservatório na natureza que são animais A pesquisa objetivou produzir, aplicar e
silvestres. Em 1921, o pesquisador recebeu o avaliar um jogo didático sobre Doença de
título de Doutor honoris causa Universidade Chagas, destinado a estudantes dos 2º anos
de Harvard, ficando conhecido do ensino médio do Instituto Federal Goiano –
internacionalmente pela sua grande Campus Urutaí. Com a finalidade de
descoberta (KROPF; SÁ, 2009). A doença foi solucionar as dúvidas levantadas por meio de
comunicada por Oswaldo Cruz, que foi um questionário investigativo aplicado a todos
considerado um marco na história da os participantes, elaborou-se um jogo didático
medicina e que leva em sua homenagem a de forma criativa, oportunizando aos
espécie do agente etiológico (MALAFAIA e participantes uma forma lúdica de
RODRIGUES, 2010). aprendizado. O presente estudo pode ser útil
a professores de Biologia como ferramenta
Um dos grandes desafios dos professores de
auxiliar sobre o conteúdo de Doença de
biologia tem sido relacionado à transposição
Chagas, podendo ser adaptado a outros
didática que, conforme Franzolin (2007),
assuntos.
consiste na transformação do objeto do saber
em objeto de ensino, sendo um desafio
constante para que a prática pedagógica
2 REFERENCIAL TEÓRICO
ocorra de forma eficiente. Nesse contexto, os
jogos didáticos podem apresentar-se como Conhecida também como tripanossomíase
aliados no processo de ensino-aprendizagem, americana, a doença pode ser transmitida por
uma vez que acredita-se que professores meio das fezes infectadas de triatomíneos
mais bem qualificados para saber o que estão (barbeiros) que se alimentam de sangue,
ensinando e materiais didáticos de melhor alimentos contaminados com o parasito,
qualidade sejam aliados na tarefa de transfusão de sangue infectado, transmissão
colaborar com a transposição didática e seu congênita, leite materno de mães infectadas,
propósito de facilitar e não dificultar a transplante de órgãos de pessoas que
aprendizagem. (FRANZOLIN, 2007, p.6) possuem a doença e acidentes de laboratório
(SILVEIRA e DIAS, 2011; DIAS e NETO, 2011;
A utilização de recursos didáticos auxilia no SOUZA e SILVA, 2011; BRASIL, 2013a).
processo ensino-aprendizagem, enriquece o
desenvolvimento intelectual e social do A doença apresenta duas fases clínicas: uma
educando, serve como aparatos que podem aguda, que pode ou não ser identificada,
preencher lacunas deixadas pelo processo de podendo evoluir para uma fase crônica. Nas
transmissão-recepção de conhecimentos e áreas endêmicas prevalecem os casos
ainda há possibilidades de serem trabalhados crônicos resultantes da infecção vetorial. Já a
em todas as disciplinas, desde que sejam transmissão oral tem sido observada em
bem adaptados aos conteúdos, à faixa etária diferentes estados, com presença elevada de
e prontidão dos alunos (BRAGA, et. al., 2007; casos e surtos nos estados da Amazônia,
CAMPOS, et. al., 2003). Maranhão, Mato Grosso e Tocantins (BRASIL,
2009a).
Para ser vantajoso no processo educacional,
o jogo didático deve promover situações

Educação no século XXI - Volume 2


49

O tratamento da doença tem como finalidade busca da melhoria da qualidade de vida e


curar a infecção se descoberta na fase saúde.
aguda, prevenir lesões orgânicas ou a
Sendo assim, decidiu-se estimular os
evolução das mesmas bem como reduzir a
discentes, por meio da utilização de um jogo
possibilidade de transmissão. Recomenda-se
didático, a aprimorarem seus conhecimentos
o uso de nifurtimox e benznidazol que agem
sobre o tema Doença de Chagas, visto a
matando o patógeno (BRASIL, 2009a;
importância do tema para a conduta dessa
BRASIL, 2009b). Os cuidados fundamentais
patologia que já foi muito presente nas
aos mecanismos de transmissão da doença
famílias, principalmente oriundos de zonas
dizem respeito ao combate sistemático de
rurais. Além disso, hoje se conhece várias
triatomíneos. Em residências, pulverização
outras formas de transmissão, sendo
com inseticidas, melhorias de habitação para
necessário prestar esclarecimentos de forma
evitar a infestação pelo vetor.
a contribuir para a ação social e prevenção
Afastamento e cuidados no manejo de da doença.
animais que são reservatórios naturais do
agente etiológico, redobrado cuidado e
tratamento específico de indivíduos com alta 3 METODOLOGIA
parasitemia, medidas profiláticas pessoais.
A pesquisa foi desenvolvida no Instituto
Tais como o uso de mosquiteiros, proteção
Federal Goiano – Campus Urutaí, localizado
em portas e janelas, boas práticas de higiene
na região Sudeste do Estado de Goiás. A
na preparação de transporte, armazenamento
amostra foi composta por um total de 102
e consumo de alimentos, triagem de doação
estudantes regularmente matriculados nos 2°
de sangue, órgãos e crianças de mães
anos dos Cursos Técnicos Integrados ao
infectadas (DIAS e NETO, 2011; OMS, 2013).
Ensino Médio, sendo 14 do curso de
Todas estas informações estão presentes nos Administração, 58 da Agropecuária e 30 da
currículos de Biologia do Ensino Médio, Informática no ano de 2013.
tornando-se uma tarefa desafiadora aos
Para coleta de dados foi utilizado um
docentes repassá-las aos estudantes. Diante
questionário auto preenchível e anônimo,
desta realidade, torna-se necessário que o
composto por questões discursivas e de
referido profissional utilize metodologias e
múltipla escolha sobre o tema “Doença de
recursos diversificados, buscando
Chagas”, no qual os alunos foram convidados
estabelecer a relação entre os conteúdos
voluntariamente a participar, respondendo
teóricos com o cotidiano do aluno. Dentre as
individualmente e sem consultas a livros,
diversas alternativas disponíveis ao professor,
internet, etc. O referido instrumento buscou
destacam-se os jogos didáticos, por
identificar o conhecimento dos discentes
constituírem uma forma lúdica e envolvente de
sobre o tema em quetão, tendo sido o assunto
aprender, uma vez que a apropriação e a
previamente abordado pela professora
aprendizagem significativa de conhecimentos
regente da disciplina Biologia.
são facilitadas quando tomam a forma
aparente de atividade lúdica, pois os alunos A pesquisa foi realizada entre os meses de
ficam entusiasmados quando recebem a agosto e setembro de 2013, tendo sido
proposta de aprender de uma forma mais dividida em quatro etapas: aplicação do
interativa e divertida, resultando em um questionário investigativo, elaboração do jogo
aprendizado significativo (CAMPOS, et. al., didático, aplicação e avaliação do jogo.
2003) . Aplicou-se o instrumento avaliativo de forma
coletiva, em sala de aula, com a colaboração
Mesmo abordando-se temas intimamente da professora regente, que disponibilizou
relacionados à vivência diária dos alunos, algumas de suas aulas para realização dessa
como é o caso da doença de Chagas, é muito pesquisa. Ressalta-se que não foi realizada
comum que os estudantes não relacionem os nenhuma ação interventiva prévia para a
conteúdos formais estudados na escola com aplicação do questionário, visando, assim,
o que vivem fora dela. Nesse sentido, a obter dados que refletissem o verdadeiro
utilização dos jogos didáticos configura-se conhecimento de cada aluno.
como uma alternativa para que o professor
aproxime o processo de construção do Como proposta para melhoria do
conhecimento científico à realidade do aluno, conhecimento dos participantes, procurou-se
para que ele sinta-se capaz de utilizar os desenvolver um jogo didático capaz de
conhecimentos adquiridos a seu favor, na aperfeiçoar o aprendizado sobre a doença de

Educação no século XXI - Volume 2


50

Chagas, tendo sido utilizada como referência políticas públicas que visam à promoção da
a metodologia LORBIESKI, et al. (2010). Para saúde junto à população, entretanto para que
elaboração do jogo foram utilizadas cartolinas tais aparatos possam servir como recursos
coloridas nas cores: azul, marrom, amarelo e pedagógicos, é imprescindível que eles sejam
verde, tesoura, fita dupla face, dado, dois elaborados dentro da complexidade do seu
pinos, papel A4 com os textos das perguntas público alvo e da temática (LUZ, et. al, 2005;
impressos. O jogo foi construído na forma de VILLELLA, et. al, 2009).
trilha, separado em vários cartões coloridos
Sobre a questão que abordou a transmissão
contendo os seguintes textos: “Início”,
vetorial, muitos participantes não citaram nas
“escolha um cartão”, “avance uma casa”,
respostas que o barbeiro para transmitir a
“avance duas casas”, “pergunta prêmio”,
doença de Chagas deveria estar infectado
“ponto de interrogação” e “fim”. Foram
pelo protozoário Trypanosoma cruzi, além de
elaboradas 30 perguntas divididas em
ter se alimentado do sangue de animais
objetivas e discursivas nas cores
silvestres como tatu, tamanduá, que são
correspondentes aos cartões da trilha.
reservatórios naturais do parasita ou outro ser
Após o jogo, o questionário que foi aplicado humano infectado pelo protozoário. De acordo
no início da pesquisa, foi reaplicado com o com a questão do questionário pré-jogo
objetivo de comparar as respostas e através 63,4% não souberam responder, 29,3%
do mesmo avaliar se o jogo contribuiu para tiveram respostas incorretas pelo fato de não
que o os estudantes reelaborassem conceitos ter citado que ele deveria estar infectado, e no
relacionados ao tema doença de Chagas. pós-jogo 55,9% cometeram o mesmo
equívoco.
A falta de conhecimento a respeito dos
4 RESULTADOS
vetores da doença de Chagas pode dificultar
Verificou-se que 34,9% (pré-jogo) dos a detecção desses insetos e, em decorrência,
participantes responderam que o nome prejudicar a eficácia da vigilância
científico do agente etiológico era entomológica com a participação da
Trypanosoma cruzi e após a aplicação do população, sendo que a transmissão vetorial
jogo didático 77,7% responderam sempre esteve mais associada aos habitantes
corretamente. Tem sido observada a de zonas rurais (VILLELA, et. al., 2009;
dificuldade dos discentes em escrever MAEDA e GONÇALVES, 2012).
corretamente as palavras, nesta questão
Em relação às formas de transmissão, as mais
foram observadas diferentes formas de se
citadas no pré-jogo foram transmissão vetorial
escrever o nome do agente etiológico. Nota-
(43,09%), oral (7,9%), sanguínea (6,7%),
se que, de alguma forma eles sabiam
congênita (4,4%), transplante de órgãos
pronunciar, no entanto muitos erros foram
(1,1%). No pós-jogo a forma mais citada
cometidos no momento da escrita.
também foi a vetorial (54,02%), sanguínea
Escrever corretamente pode proporcionar a (47,4%), oral (28,3%), congênita (28,3%),
abertura de várias oportunidades no campo transplante de órgãos (5,2%). O curso técnico
profissional ou na vida em geral, para que os integrado em Administração em comparação
discentes se internalizem nas regras com os outros cursos, no pós-jogo obteve um
ortográficas, é fundamental que os docentes melhor desempenho em comparação ao
estejam dispostos a reaprender e se questionário anterior que de 8 respostas 5
dedicarem à utilização de metodologias mais estavam com 0,0%.
eficazes e significativas como jogos,
A infecção pelo protozoário Trypanosoma
dinâmicas, músicas, pois é uma tarefa árdua,
cruzi pode ocorrer por meio da via vetorial,
exige estudo, insistência, flexibilidade e
por contato com excretas de triatomíneos
doação (DIAS, et. al., 2009).
contaminados, através da pele lesada ou de
De acordo com as respostas do questionário mucosas, durante ou logo após o repasto
investigativo, relacionada ao agente etiológico sanguíneo, via transfusional/transplante por
da doença, protozoário foi a opção mais doação de infectados, via vertical ou
citada tanto no pré-jogo com 75,4% das congênita que ocorre pela passagem de
respostas e 100% no pós-jogo. parasitos de mulheres chagásicas para o feto
durante a gestação ou parto, via oral por
Segundo alguns autores, a elaboração de
ingestão de alimentos contaminados com
materiais educativos de qualidade pode servir
protozoários que foram triturados juntamente
como ferramentas auxiliares, contribuindo nas

Educação no século XXI - Volume 2


51

com o alimento, e por fim via acidental, a consumi-los e cuidados com a transmissão
transmissão acontece pelo contato da pele sanguínea e doações de órgãos.
ferida ou de mucosas com material
A tripanossomíase americana se difunde onde
contaminado durante a manipulação em
espécies de triatomíneos conseguem se
laboratório (RAMOS, et. al., 2010).
adaptar biologicamente, em lugares que
São sinais e sintomas presentes na fase apresentem condições favoráveis como casas
aguda, febre e manchas avermelhadas. No de pau-a-pique, barreadas, à base de
caso de transmissão vetorial, dor de cabeça, madeiras e tábuas mal ajustadas,
mal-estar, e na fase crônica da patologia o proporcionando espaços como frestas que
inchaço de órgãos. A manifestação clínica servem de esconderijo para esses vetores
mais citada tanto no pré-jogo (14,6%) como (BRASIL, 2013b).
no pós-jogo (67,2%) foi a febre. No início, a
Importantes estratégias de prevenção contra
tripanossomíase americana pode apresentar
a transmissão vetorial da doença de Chagas
uma sintomatologia confusa, que passa
merecem destaque, como o uso de
inteiramente despercebida, podendo ser
inseticidas de ação residual, pois esses
confundida com outras patologias. A
insetos não apresentam resistência biológica,
manifestação mais característica é a febre na
melhorias habitacionais uma vez que os
fase aguda, sempre presente, usualmente
triatomíneos não invadem moradias de boa
prolongada, constante e não muito elevada de
qualidade como as de alvenaria (ARAÚJO, et.
37,5º a 38,5ºC (BRASIL, 2009a; REY, 2013).
al, 2013).
A questão que abordou sobre o diagnóstico
Ainda que avanços tenham sido alcançados,
laboratorial da doença de Chagas no pré-
é fundamental manter atenta a vigilância
jogo, 91% não souberam responder, sendo
epidemiológica, sendo que benefícios devem
que os participantes do curso Técnico em
ser reforçados por meio de ações de caráter
Administração 100% deixaram em branco a
educativo, desenvolvidas com real
questão, já no pós-jogo 75,3% responderam
comprometimento da população e dos
hemograma como a primeira forma de
serviços locais de saúde (ARGOLO, et. al,
diagnosticar a doença na sua fase aguda.
2008).
Para o diagnóstico laboratorial da infecção
pelo Trypanosoma cruzi, são utilizados os
testes parasitológicos que são definidos pela 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
presença de parasitas circulantes
Por meio dos resultados obtidos, foi possível
demonstráveis no exame direto do sangue
constatar que os discentes envolvidos
periférico, estes são recomendados na fase
aperfeiçoaram o conhecimento acerca da
aguda da doença quando a carga parasitária
doença de Chagas após a participação no
está elevada. Na fase crônica, são utilizados
jogo didático elaborado, observando-se
alguns exames sorológicos, dentre eles
nitidamente o aumento dos índices de acerto
destacam-se os testes HAI (hemaglutinação
no questionário pós-jogo. Foi possível
indireta), IFI (imunofluorescência indireta) e o
observar que os alunos, quando estão
teste ELISA (enzyme-
envolvidos em uma atividade lúdica,
linkedimmunosorbentassay) (BRASIL, 2009a;
demonstram maior interesse e empolgação. O
RAMOS, et. al, 2010).
recurso didático, quando desenvolvido de
Foram citadas como medidas profiláticas da forma que envolva todos os alunos, aumenta o
doença de Chagas, o uso de mosquiteiro na seu potencial e se torna mais eficaz, podendo
hora de dormir para evitar que o inseto vetor auxiliar o professor a favorecer a construção
se aproxime do indivíduo, pois este possui e/ou aperfeiçoamento do conhecimento já
hábito noturno. Evitar construções precárias adquirido.
como casas de pau-a-pique onde o barbeiro
Diversas abordagens como jogos, dinâmicas,
se aloja nas frestas e combater o inseto vetor
textos interativos sobre a doença de Chagas
usando inseticidas, repelentes, dedetizando
podem ser feitas pelos professores de Ensino
casas principalmente onde a região é
Médio, tendo em vista a quantidade de
endêmica. Proteção em portas e janelas para
informações atualmente disponíveis sobre o
evitar que o inseto entre na casa, cuidados
tema. Sendo assim, é possível afirmar que o
com a transmissão oral no caso de alimentos,
desenvolvimento de um tema de tamanha
como caldo de cana e açaí, saber a
importância para a história do Brasil e, ao
procedência desses alimentos antes de
mesmo tempo desafiador, pode apresentar-se

Educação no século XXI - Volume 2


52

como alternativa viável para contribuir de atividade lúdica ao conhecimento científico


forma eficiente na formação do aluno crítico e sobre o tema abordado.
participativo. A atividade proposta integrou a

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53

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Educação no século XXI - Volume 2


54

CAPÍTULO 7

Ricardo Augusto Lins do Nascimento

Resumo: Historicamente no Brasil, o ensino de informática, mais especificamente a


área de desenvolvimento de sistemas, sempre esteve mais concentrado no ensino
superior ou em cursos rápidos de formação fora da rede regular de ensino. Com a
expansão dos cursos técnicos através da Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica, os cursos de informática foram concebidos com pouco
material pensado especificamente para o nível médio. Qual é a formação que se
espera de um Técnico em Informática? Será que devemos replicar a experiência no
nível superior nos cursos técnicos? Com esses questionamentos, percebemos que
os estudantes ingressantes não tinham muito a compreensão sobre o motivo pelo
qual deveriam estudar algoritmos. Os exemplos clássicos geralmente retratam
situações existentes nas empresas, fora do interesse dos estudantes, que até o
momento não tem uma definição sobre sua futura carreira profissional. Esse projeto
relata uma experiência de desenvolvimento de jogos utilizando o Portugol,
linguagem de estudos de Algoritmos, através da ferramenta Visualg, que é um
software que interpreta algoritmos em Portugol, desenvolvido pela Apoio
Informática. O desenvolvimento de jogos tem despertado o interesse dos
estudantes no estudo de algoritmos e linguagens de programação, estimulando os
estudantes a conhecer cada vez mais estruturas computacionais que, apesar de
momentaneamente estarem sendo empregadas no desenvolvimento de jogos,
futuramente poderão ser utilizadas em outros projetos de software que farão parte
de suas experiências profissionais.

Palavras chave: Metodologia de Ensino, Jogos, Algoritmos.

Educação no século XXI - Volume 2


55

1 INTRODUÇÃO 2 REFERENCIAL TEÓRICO


Os estudantes da Educação Técnica e Forbellone(1999), define um algoritmo como
Profissional nem sempre ingressam com a uma sequencia de passos que visam atingir
motivação de serem profissionais nas áreas um objetivo definido. A construção de
que estão cursando. Pelo menos isso é o que algoritmos computacionais é a primeira etapa
constatamos na nossa instituição, o dentro da formação clássica de
XXXXXXXXX XXXXXXX, XXXX, campus XXXXX. desenvolvedores de software, justamente por
No curso técnico em Informática encontramos utilizar uma linguagem simplificada, utilizando
alguns estudantes que não tem interesse palavras do próprio idioma do estudante, já
específico na área, mas ingressam pelo que o idioma padrão das linguagens de
desejo de cursar o ensino médio em uma programação é o Inglês.
escola pública de boa qualidade. Mesmo Segundo Murcia(2005), o jogo faz parte do
aqueles que manifestam ter interesse com desenvolvimento da criança, tanto no aspecto
informática muitas vezes não demonstram do entretenimento, no desenvolvimento das
interesse pelos projetos desenvolvidos em emoções e também no processo educacional:
sala de aula. O objetivo deste projeto é
estimular os estudantes a estudar algoritmos As características do jogo fazem com que ele
através do desenvolvimento de jogos. O mesmo seja um veículo de aprendizagem e
desenvolvimento de algoritmos é a primeira comunicação ideal para o desenvolvimento
experiência com programação dentro do da personalidade e da inteligência emocional
curso. O uso de jogos no processo de ensino- da criança. Divertir-se enquanto aprende e
aprendizagem é uma técnica já consolidada e envolver-se com a aprendizagem fazem com
o desenvolvimento de jogos é uma maneira que a criança cresça, mude e participe
que buscamos para provocar a curiosidade e ativamente do processo educativo. (MURCIA,
o processo criativo dos estudantes, que 2005, p. 10)
vislumbram a possibilidade de serem não Em relação ao uso de jogos na escola,
somente usuários dos jogos, mas também Ferrarezi(2004) define duas funções que
criadores desse tipo de aplicativo, atividade caracterizam o jogo como educativo: o
que hoje é uma importante área de atuação mesmo deve ter o lado Lúdico mas também a
profissional dentro do mundo do trabalho. função educativa:
Acreditamos que esta seja uma maneira mais
atrativa de iniciar o desenvolvimento da lógica As divergências em torno do jogo educativo
de programação com os estudantes, indo estão relacionadas à presença concomitante
além dos exercícios tradicionais, voltados de duas funções: Função Lúdica onde o jogo
para o desenvolvimento de aplicativos propicia diversão, o prazer e até o desprazer
comerciais. O uso de jogos educativos em quando escolhido involuntariamente e Função
sala de aula já é uma técnica consolidada Educativa onde o jogo ensina qualquer coisa
pois possui a característica lúdica, o que complete o indivíduo em seu saber, seus
entretenimento juntamente com a conhecimentos e sua apreensão do mundo. O
característica educacional, de aprendizagem. equilíbrio entre as duas funções é o objetivo
O desenvolvimento de jogos no estudo de do jogo educativo e o desequilíbrio torna-o
algoritmos tem um efeito ainda mais apenas jogo, não há ensino. Qualquer jogo
estimulante, pois o estudante tem algo que empregado pela escola pode ter caráter
considera interessante para mostrar para os educativo se permitir livre exploração em
colegas e para a família. A satisfação em aulas com a participação do professor ou a
produzir um jogo, que pode ser "jogado" por aplicação em atividades orientadas para
outras pessoas não ocorre quando o conteúdos específicos. (FERRAREZI, 2004, p.
estudante produz um algoritmo por exemplo 3)
para calcular a folha de pagamento de uma Indo além da questão do uso de jogos na
empresa, ou calcular o valor total da nota escola, o desenvolvimento de jogos no Curso
fiscal de uma venda, exemplos comuns Técnico Integrado de Informática vem de
utilizados nas aulas de algoritmos e encontro a necessidade de estimular o
linguagens de programação. interesse do estudante pela área da
informática, saindo de um contexto
simplesmente preparatório para o
desenvolvimento de aplicativos comerciais e

Educação no século XXI - Volume 2


56

utilizando o jogo para despertar o interesse do XXXXXXXXXX foi o desenvolvimento de um


estudante adolescente pela tecnologia. projeto denominado “Algoritmos Avançados”,
que inicialmente consistiu em reunir os
Os jogos, educativos ou não, estão presentes
estudantes no contraturno das aulas, estudar
na vida das pessoas, de crianças, adultos e
técnicas avançadas, ou seja, além das que
também idosos. Os estudantes do Ensino
eram ministradas nos horários das aulas, e
Médio em sua maioria jogam em
aplicar essas técnicas desenvolvendo
computadores, video-games, tablet´s ou
algoritmos de jogos.
smartphones, ou seja, fazem uso de jogos
digitais. Um jogo digital, segundo a definição O primeiro jogo desenvolvido foi o JOGO DA
de Correia(2009), pode ser compreendido VELHA. Para o desenvolvimento desse jogo,
como qualquer aplicação onde exista um os estudantes aprenderam a trabalhar com
sistema formal de ganhos, perdas, utilidades, VETORES, utilizaram estrutura condicional SE
estratégias e funções. e a estrutura de repetição REPITA. O jogo da
velha foi concebido para trabalhar com
coordenadas, ou seja, o jogador informa a
3 METODOLOGIA posição de Linha e Coluna, as linhas são
representadas por números (1,2 e 3) e as
O método adotado para iniciar o
colunas são representadas por letras (A, B e
desenvolvimento de algoritmos de jogos no
C).

Figura 1 - Tela do Jogo da Velha

O segundo jogo desenvolvido no projeto foi o grande diminuição no número de linhas de


JOGO DA FORCA. Para esse jogo, os código. Esse jogo utilizou também VETORES
estudantes aprenderam a criar e a estrutura de repetição REPITA.
PROCEDIMENTOS, o que resultou em uma

Educação no século XXI - Volume 2


57

Figura 2 - Tela do Jogo da Forca

Outro jogo desenvolvido foi o JOGO DE QUIZ. jogo de uma disciplina (Geografia, História,
Esse jogo tem o diferencial de ser um Jogo Inglês e Português), cadastrando perguntas e
Educacional. Esse projeto proporcionou duas respostas. As questões foram extraídas do
experiências distintas: a questão da lógica de material que estavam estudando no momento,
programação, no exercício de transcrever para que pudessem utilizar seu próprio jogo
para o código as regras do jogo, o aspecto para estudar.
educacional, pois cada estudante criou um

Figura 3 - Tela do Jogo de Quiz - matéria de Inglês

Para divulgar o projeto, com a intenção de - Criação de um blog - O blog é uma


compartilhar com os outros estudantes do estratégia de divulgação mais ampla, que
campus, de outros campus também de outras atende os estudantes que não estão no
instituições, algumas estratégias foram Facebook. Através dos post´s são divulgados
adotadas: vídeos explicativos dos jogos e
compartilhados links para download dos
- Criação de página no Facebook - O
códigos-fonte. Endereço do blog: http
Facebook é uma das redes sociais mais
XXXXXXXXXXXXXX.
utilizadas pelos estudantes. A criação da
página do projeto permitiu divulgar e - Criação de um canal no Youtube - Foi criado
compartilhar os jogos desenvolvidos. O o canal do XXXXXXXX, para divulgar vídeos
endereço da página é: XXXXXXXXXXXXXX. explicativos dos jogos. Os vídeos são
integrados com o Blog, que por sua vez é
integrado com a página do Facebook.

Educação no século XXI - Volume 2


58

Os estudantes envolvidos nessa primeira com ideias de melhorias, questionam as


etapa do projeto, que consistia em criar limitações da ferramenta utilizada (Visualg) e
algoritmos de jogos, com o desenvolvimento deslumbram as possibilidades de projetos
do curso, passaram a estudar linguagens de que poderão desenvolver no decorrer do
programação. Os algoritmos foram curso.
convertidos em aplicativos, inicialmente sem
Um aspecto deve ser reavaliado é o alcance
recursos visuais. No primeiro semestre de
do projeto. Somente um grupo de estudantes
2015 esses estudantes passaram a estudar
tem demonstrado interesse em participar do
um Ambiente Integrado de Desenvolvimento
projeto, pois é realizado no contraturno das
Visual, e com isso, os novos projetos
aulas. Alguns jogos são desenvolvidos por
utilizaram recursos gráficos. No segundo
todos, durante as aulas, mas não
semestre de 2015 o projeto continuará com
conseguimos desenvolver projetos mais
duas equipes: Estudantes ingressantes nesse
complexos pois isso iria atrasar o estudo dos
ano iniciarão o desenvolvimento de Algoritmos
conteúdos previstos nas ementas das
de Jogos, e os estudantes veteranos
disciplinas.
continuarão o desenvolvimento Aplicativos
Visuais de jogos. Mesmo sem a participação direta da maioria
dos estudantes, acreditamos que o projeto
tem cumprido seu objetivo, pois mesmo os
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS estudantes que não integram o projeto
conseguem tem acesso ao conteúdo
Um indicador que o projeto tem alcançado
desenvolvido, através da página no
seu objetivo de estimular o interesse dos
Facebook, o Blog e também o canal no
estudantes pelo estudo de algoritmos e
Youtube.
consequentemente pelas linguagens de
programação, pode ser observado através do Atualmente um novo grupo, com estudantes
interesse dos estudantes nas aulas. Os ingressantes neste ano está sendo formado,
estudantes que ainda não fazem parte do para iniciar novos projetos de algoritmos de
projeto estão sempre questionando quando jogos. Paralelamente, os primeiros estudantes
poderão integrar a equipe. Os jogos do projeto passaram a desenvolver aplicativos
desenvolvidos no projeto são apresentados de jogos visuais. A divulgação desses
em sala de aula, e os estudantes contribuem aplicativos será a próxima etapa do projeto.

REFERÊNCIAS
[1]. CORREIA, C. A; OLIVEIRA R.L; [3]. FORBELLONE, André Luiz Villar;
MERRELHO, A; MARQUES A; PEREIRA D.J; EBERSPACHER, Henri Frederico. Lógica de
CARDOSO, V. Jogos digitais: possibilidade e Programação: a Construção de Algoritmos e
limitações o caso do jogo Spore. Cied. 2009. Estrutura de Dados. 3 ed. São Paulo: Prentice Hall,
Disponível em: < 2008.
http://hdl.handle.net/1822/10174>. Acesso em: [4]. Apoio Informática - Linguagem Visualg,
10/06/2015 disponível em: www.apoioinformatica.inf.br, acesso
[2]. FERRAREZI, Luciana Aparecida. A importância em 10/06/2015
do jogo no resgate do ensino de geometria. Anais
do VIII ENEM – UFPE, Recife, 2004.

Educação no século XXI - Volume 2


59

CAPÍTULO 8
Lígia Maria Pereira Lima
Syllas Nascimento de Melo
Micheline Barbosa da Motta

Resumo: Este trabalho consiste em um relato da experiência de estágio no Instituto


de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz, localizado em Recife – PE. O trabalho teve
como objetivo geral demonstrar, através de recursos didáticos táteis, conceitos em
biologia para alunos com deficiência visual, atendidos neste Instituto, com faixa
etária dos 14 aos 35 anos. Foram realizadas seis ações que trabalhavam conceitos
referentes aos temas ‘Estruturas Celulares’ e ‘Cadeia Alimentar’. Cada ação
consistiu em quatro partes: introdução ao assunto tratado, sendo realizado um
levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos; realização de uma dinâmica
com utilização de recurso didático tátil; debate e explanação sobre o assunto; e
produção de texto, em braile, a respeito do assunto tratado. Foi percebido que os
materiais utilizados facilitaram o entendimento dos temas trabalhados pelos alunos,
tendo sido atingidos os objetivos iniciais do trabalho. Os participantes
demonstraram entender os conceitos ecológicos e as funções das organelas
celulares, apesar de não lembrarem de sua nomenclatura biológica. Os mesmos se
mostraram satisfeitos com os métodos e materiais utilizados. Foi percebida a
necessidade de adequação na metodologia de ensino de biologia para alunos com
deficiência visual. A utilização de materiais táteis e de dinâmicas corporais reduzem
o nível de abstração do conteúdo trabalhado, o que facilita a construção do
conhecimento pelos alunos.

Palavras-chave: ensino de biologia; educação inclusiva; recursos didáticos táteis.

Educação no século XXI - Volume 2


60

1 INTRODUÇÃO - Demonstrar o fluxo de energia que ocorre ao


longo da cadeia alimentar.
Como uma forma de ampliar as discussões e
vivências relativas aos espaços formativos - Apresentar as estruturas celulares e elucidar
dos licenciandos em biologia, a Universidade o conceito de flagelo;
Federal de Pernambuco (UFPE) tem
apresentado aos futuros professores um novo
campo de estágio curricular: as instituições 2 REFERENCIAL TEÓRICO
educativas não escolares. Um dos locais
A educação de modo geral é um processo
escolhidos para o estágio é o Instituto de
social na qual se engloba o ensino e a
Cegos Antônio Pessoa de Queiroz, localizado
aprendizagem. É um fenômeno que está
em Recife - PE. Com 104 anos de fundação, a
ligado a transmissão de costumes e
entidade oferece aulas gratuitas de braile e
capacitações de um ser que está inserido em
outros cursos para pessoas com deficiência
uma determinada sociedade. Não há uma
visual (pessoas cegas ou com baixa visão).
única forma ou padrão de educação, e esta
A principal demanda da instituição são varia de acordo com tempo, espaço entre
recursos didáticos adaptados para pessoas outros. (BRANDÃO, 1981) A escola é um
cegas. Devido à dificuldade advinda da falta espaço de educação formal, porém a
de informação ou iniciativa das escolas, a educação também pode ocorrer fora dela,
aprendizagem de crianças e adultos com através de ações promovidas por um campo
deficiência visual se restringe à oralidade: formativo docente que inclui os espaços
apenas ouvem as explanações dos educativos não escolares. A aproximação dos
professores e a precária descrição do que licenciandos e docentes da realidade social,
acontece em sala. Como o reconhecimento no qual estão inseridos, colabora
do ambiente, normalmente realizado pelos grandemente para uma ação mais efetiva
demais alunos com a visão, com os alunos sobre o meio os tornam agentes ativos e
com baixa visão ou cegos é feito através do modificadores dessa realidade.
tato, sendo importante para o aprendizado
A educação em espaço não escolar pode se
desse público que as aulas sejam ilustradas
mostrar um auxílio efetivo, na perspectiva de
por materiais táteis, dinâmicas ilustrativas ou
inclusão social. Profissionais de diferentes
moldes.
áreas, entre eles professores de diversas
Notadamente essa necessidade se observa licenciaturas são sensibilizados com
quando o tema da aprendizagem possui problemáticas, necessidades e demandas de
termos não comuns do dia a dia dos alunos diferentes alunos de diferentes espaços. A
ou que não podem ser reconhecidos pelo interação professor-aluno permite
tato. Como exemplo, temas de grande aprendizados valiosos, que os alunos trazem
abrangência, como a ecologia, e temas que para a formação dos docentes. É necessária
tratam de esferas microscópicas, como a uma articulação entre ensino e aprendizagem,
célula. É importante que se ilustre, fisicamente de modo a tornar os alunos preparados para
ou através de algum material tátil, os temas a vida e os professores preparados para lidar
que estão sendo trabalhados na aula. com alunos que apresentem alguma
deficiência.
O trabalho teve como objetivo geral
demonstrar, através de recursos didáticos A educação inclusiva tem um histórico
táteis, conceitos em biologia para alunos com recente e está inserida no texto constitucional,
deficiência visual que são atendidos pelo no Caput do Art. 208, Inciso III, que diz que
Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz. “O dever do Estado com a educação será
Para isso, foram escolhidos conceitos efetivado mediante a garantia de: atendimento
referentes aos temas ‘Estruturas Celulares’ e educacional especializado aos portadores de
‘Cadeia Alimentar’, disto decorreram os deficiência, preferencialmente na rede regular
seguintes objetivos específicos: de ensino” (BRASIL, 1988). Na Lei de
Diretrizes e Bases de 1996 (Lei 9394/96), a
- Elucidar o conceito de cadeia alimentar e
educação especial passa a ser considerada
descrever aspectos ecológicos;
uma modalidade de educação. Sendo
- Demonstrar problemas ambientais advindos necessário então, existir profissionais
da poluição de hábitats; capacitados para atender a inclusão de
todos, inclusive de pessoas com
- Demonstrar algumas relações ecológicas;
necessidades especiais no processo de

Educação no século XXI - Volume 2


61

ensino e aprendizagem. A capacitação de Ao final, foi realizada uma discussão sobre


professores para essa modalidade de como as influências antrópicas, que levam ao
educação é percebida como um desafio, visto desaparecimento de espécies, por exemplo,
que ainda não está completamente afetam o equilíbrio de um ecossistema.
disseminada.

Ação 2 – Enrolados
3 METODOLOGIA
Na segunda ação buscamos reforçar o tema
O trabalho foi realizado com pessoas com cadeia alimentar e iniciar uma discussão
deficiência visual de faixa etária entre 14 e 35 sobre os impactos negativos da poluição em
anos. Os participantes tinham formação hábitats. Para começar a dinâmica, tiras de
escolar em vários níveis, desde apenas o elástico foram distribuídas para cada aluno,
ensino básico até o superior completo. sendo requisitado que cada um enrolasse o
elástico na mão direita, prendendo os dedos
Foram realizadas seis ações, entre os dias
polegar e mínimo, seguindo o exemplo do
17/11/14 e 03/12/14, com duração de uma
aplicador.
hora cada encontro.
A seguir, foi requisitado que os alunos
A primeira ação consistiu em quatro partes: 1
tentassem retirar, sozinhos, o elástico da mão
– introdução ao assunto tratado, sendo
sem a ajuda da mão livre ou de nenhuma
realizado um levantamento dos
outra parte do corpo. Ninguém conseguiu
conhecimentos prévios dos alunos; 2 –
realizar a tarefa. Após um tempo, o aplicador
realização da dinâmica; 3 – debate e
pediu que os participantes descrevessem o
explanação sobre o assunto; 4 – produção de
que sentiram durante a dinâmica.
texto, em braile, a respeito do assunto tratado.
As demais ações seguiram o mesmo roteiro, Ao final, foi realizada uma discussão sobre
adicionando-se uma parte inicial onde o como a poluição de hábitats pode afetar o
assunto tratado na ação anterior foi bem estar dos seres vivos, realizando um
relembrado pelos alunos. paralelo com a experiência vivida pelos
participantes na dinâmica e o que acontece
As dinâmicas utilizadas nas ações são
com seres marinhos ao se perceberem presos
descritas abaixo:
por algum material lançado inadequadamente
no mar pelo ser humano.
Ação 1 – Círculo
Esta ação objetivou elucidar o conceito de Ação 3 – Relações ecológicas
cadeia alimentar e descrever aspectos
A ação 3 objetivou demonstrar algumas
ecológicos, a dinâmica realizada ilustrou
relações ecológicas intra e interespecíficas
como a cadeia alimentar pode ser
em um ecossistema. As relações escolhidas
prejudicada por processos antrópicos.
foram: parasitismo, predação, mutualismo,
Na dinâmica, os participantes ficaram em pé comensalismo e competição. Foram utilizados
ao centro da sala formando um círculo. Ao pequenos blocos de madeira para simular
longo de uma explanação de como funciona cada relação.
uma cadeia alimentar, alguns componentes
Inicialmente, os participantes foram divididos
do grupo foram indicados como
em duplas, sentados um em frente ao outro
representantes dos seres produtores,
com uma mesa entre eles. Cada dupla
consumidores e decompositores. Foi
recebeu uma quantidade de blocos de
requisitado, então, que todos se abraçassem
madeira. Foi requisitado que os participantes
formando uma cadeia segura o suficiente
tocassem nos blocos para conhecer o
para que todos pudessem ficar em posição
material. Após, foi requisitado que cada dupla
de sentar sem cair ou desfazer a cadeia.
realizasse pequenas atividades com os
Em seguida, um dos componentes foi retirado blocos para encenar o que ocorre nas
do grupo, deixando seu lugar vazio na cadeia, relações, como descrito a seguir:
havendo um rompimento na sequência de
- Parasitismo: um participante utiliza os blocos
componentes. O grupo foi requisitado para
de madeira para construir uma casa. O outro
ficar em posição de sentar novamente. Tal
participante retira um bloco de cada vez da
posicionamento não pôde ocorrer, por conta
construção do parceiro, de modo a prejudicar
da falta de um componente.

Educação no século XXI - Volume 2


62

o trabalho, demonstrando uma relação Nesta etapa, houve uma pausa para que os
desarmônica. participantes com deficiência visual
percebessem a quantidade da massa que
- Predação: um participante detêm todos os
restou em suas mãos e passassem pelas
blocos de madeira da dupla. O outro
mãos dos colegas para perceber a
participante tenta pegar todos os blocos de
quantidade que coube a cada um. Foi
uma só vez, demonstrando uma relação
iniciada uma discussão sobre a dificuldade ou
desarmônica.
a facilidade de conseguir pegar a massa do
- Mutualismo: os participantes constroem uma vizinho, de maneira a demonstrar que, quanto
única casa de maneira conjunta, mais avança a cadeia alimentar, menos
demonstrando uma relação harmônica. energia está disponível e mais difícil é
conseguir alimento.
- Comensalismo: um participante constrói uma
casa com alguns blocos de madeira. Em Ao final desta etapa foi inserida no
seguida o outro participante utiliza os blocos experimento a figura do decompositor, que
restantes para construir sua casa, recolheu a massa restante nas mãos dos
demonstrando uma relação harmônica. presentes para demonstrar que os
decompositores conseguem energia ao
- Competição: os blocos de madeira ficam no decompor a matéria de todos os
centro da mesa. Os participantes são componentes da cadeia alimentar. Restaram
requisitados a construírem suas casas pedaços da massa grudados nas mãos de
retirando os blocos da pilha comum o mais todos os participantes, bem como espalhados
rápido possível, demonstrando uma relação pelo chão da sala, estes restos representaram
desarmônica. a parte da energia não assimilada que volta
Ao final de cada atividade, foi pedido aos para o ambiente em forma de calor.
alunos que identificassem o ocorrido como
uma relação harmônica ou desarmônica e
dessem exemplos de como a relação ocorre Ação 5 - Componentes celulares parte 1
na natureza. A quinta ação objetivou apresentar as
estruturas celulares. Para isso, foram
montados três modelos representando células
Ação 4 - Fluxo de energia eucariontes e um modelo representando o
A ação 4 objetivou demonstrar o fluxo de núcleo celular. O primeiro modelo representou
energia que ocorre ao longo da cadeia a aparência externa da célula; neste, a
alimentar. Para isso, foi realizada uma membrana celular e o flagelo foram montados
experiência tátil com a participação dos em tecido, preenchido com algodão,
alunos. formando uma almofada. Foram escolhidos
estes materiais para que os alunos pudessem
Para o experimento, os participantes fizeram perceber a conformação arredondada e
uma roda ao centro da sala, que representou moldável, não rígida, da célula.
a cadeia alimentar. Definiu-se quem era o
representante dos seres produtores e dos O segundo modelo representou a parte
seres decompositores da cadeia, sendo todos interna da célula, sendo montado em uma
os outros representantes dos seres vasilha preenchida com gel, de maneira que
consumidores. os alunos percebessem a consistência fluida
do citoplasma. Algumas organelas celulares
O representante dos seres produtores na foram feitas sendo utilizados tecido,
cadeia começou a sovar uma mistura feita de miçangas, EVA e uma bola de espuma.
farinha e água para simbolizar a produção do
próprio alimento. Esta massa representa a O terceiro modelo representou o núcleo
energia produzida por este ser e foi passada celular, sendo montado em uma pequena
de mão em mão, entre todos os participantes, caixa esférica de isopor. Dentro da esfera
para que percebessem sua quantidade inicial. foram colocados modelos de DNA feitos com
A massa foi então, ‘atacada’ pelo colega ao miçangas.
seu lado, que tentou pegar o máximo de Durante a dinâmica, os alunos foram
massa que pôde de suas mãos convidados a manusear os modelos e
(representando uma situação de predação). A descrever o que estavam tocando enquanto
sequência seguiu até o penúltimo ocorria a explanação sobre a célula e as
componente do círculo. organelas.

Educação no século XXI - Volume 2


63

Ação 6 - Componentes celulares parte 2 destinação do lixo nas cidades e a


responsabilidade dos cidadãos na limpeza
A última ação objetivou reforçar o assunto
das ruas e corpos d’água do município em
tratado na ação anterior, célula e
que vivem, sendo trabalhada a diferença
componentes celulares, utilizando massas de
entre lixão e aterro sanitário.
modelar.
Ao final, a discussão foi conectada ao assunto
A dinâmica utilizada demandava dos alunos
visto na ação anterior, sendo trabalhado de
que escolhessem um dos moldes
que modo a poluição pode causar
apresentados na ação anterior e fizessem
desequilíbrio em um ecossistema e afetar a
cópias deles com as massas de modelar.
cadeia alimentar. Os alunos participaram
Durante a modelagem, foi requisitado que os
dando exemplos do que acontece em seus
alunos lembrassem o nome e as funções das
municípios. A dinâmica utilizada se mostrou
estruturas celulares.
versátil, servindo de ponto de partida para
vários temas durante a discussão. De caráter
tátil, ela estimula a empatia ao simular uma
4 RESULTADOS
situação sofrida pelos animais em um hábitat
A primeira ação iniciou os temas ecológicos, poluído, sendo eficaz para a explanação de
tratando da cadeia alimentar. No primeiro impactos negativos.
momento, foi perguntado aos alunos do que
Abaixo são reproduzidos trechos das
se tratava a cadeia alimentar, os mesmos
produções textuais sobre esta ação,
demonstraram ter um conhecimento prévio a
decodificado do Braile:
respeito do assunto. No segundo momento,
durante a realização da dinâmica do ‘círculo’, “A reciclagem no Brasil necessita de uma
no ato do sentar com o círculo completo, atenção das autoridades brasileiras. Posso
todos comentaram a facilidade da ação com o afirmar isso porque pude perceber que o
apoio de todos. Bastou à remoção de um governo não dá a devida atenção ao
participante para os alunos reclamarem da assunto.” (Aluno A).
dificuldade de realização da dinâmica. Nas
“Aprendemos que não devemos jogar lixo nas
discussões, os alunos apontaram para o fato
encostas nem nos rios, pois se fizermos isso
de o fenômeno do desmatamento ocasionar a
estaremos invadindo a privacidade da
redução de alimento para os herbívoros,
natureza. Não é o que tem acontecido nos
relacionando satisfatoriamente um exemplo
dias atuais. Isso traz consequências drásticas
cotidiano de fácil percepção com o assunto
para a vida dos seres vivos.” (Aluno R).
trabalhado.
A terceira ação tratou de relações ecológicas,
Abaixo, são reproduzidos trechos das
sendo utilizados blocos de madeira para
produções textuais dos alunos, decodificado
simular as situações. Novamente, os alunos
do Braile:
mostraram lembrar bem dos assuntos
“Cadeia alimentar é uma sequência de trabalhados nas ações anteriores e foram
organismos interligados através da bastante participativos durante a dinâmica e a
alimentação. Teia alimentar é um conjunto de discussão. Demonstraram entender quando
cadeias alimentares que estão ligadas entre uma relação é harmônica ou não e deram
si.” (Aluno R) muitos exemplos de animais que conhecem
do seu dia a dia para cada tipo de relação.
“Cadeia alimentar é uma sequência de seres
vivos em que um serve de alimento para o Os alunos demonstraram entender o conceito
outro. Teia alimentar é o resultado do de desequilíbrio de hábitats. A dinâmica é
cruzamento de várias cadeias alimentares.” longa, durou cerca de trinta minutos, e
(Aluno I) bastante tumultuada, porém divertida. Os
alunos responderam muito bem a ela, se
Na segunda ação, que tratou dos ‘impactos
mostrando eficiente para ilustrar as relações
negativos da poluição em hábitats’, os alunos
ecológicas. Ao final, foi feita um paralelo entre
demonstraram relembrar de maneira
as relações ecológicas, a cadeia alimentar e a
satisfatória o tema ‘cadeia alimentar’
poluição de hábitats. Apenas um aluno, de 35
trabalhado na aula anterior e participaram
anos, demonstrou não ficar muito à vontade
com interesse na dinâmica ‘enrolados’.
com a agitação provocada pela dinâmica.
Durante a discussão do tema poluição de
Segue um trecho das produções textuais dos
hábitats, houve desdobramentos por parte
alunos, decodificados do Braile: “Nesta
dos alunos para conversas sobre a

Educação no século XXI - Volume 2


64

dinâmica divertida aprendemos as relações nas faculdades, para que alunos cegos
entre os seres vivos na natureza.” (Aluno I). pudessem perceber a forma do que estudam
e não ficarem restritos à abstração. Segue a
A quarta ação trabalhou o fluxo de energia
transcrição do texto produzido por um dos
dentro de uma cadeia alimentar. Os alunos
alunos, decodificado do Braile:
demonstraram relembrar os assuntos
trabalhados nas ações anteriores e foram “Célula é a menor unidade de um corpo. A
bastante participativos durante a dinâmica e a célula tem mais ou menos uma forma
discussão, exemplificando e respondendo às arredondada. Dentro dela podemos encontrar
questões levantadas. Foi feito um paralelo o núcleo, que é onde se encontra o DNA. O
com os assuntos já vistos, reforçando DNA é onde se encontra a receita do nosso
aspectos de conectividade entre os seres, o bolo, nossa carga genética. [...]” (Aluno H).
que faz com que pequenas interferências nos
A sexta e última ação teve a proposta de
hábitats possam causar grandes danos ao
reforçar o tema anterior, sobre a célula.
ecossistema.
Também trouxe a exploração de diferentes
A dinâmica com a massa de farinha foi muito relevos, formas e texturas, por parte dos
bem recebida pelos alunos. Mesmo agitada, alunos, o que lhe é agradável e importante
demonstrou ser eficiente para a ilustração do para o aprimoramento das suas capacidades
tema, permitindo aos alunos perceberem a perceptivas e organização mental dos objetos
escassez de comida ao longo da cadeia e o do mundo. A maioria dos alunos demonstrou
cansaço dos predadores, assim como o ciclo não lembrar o nome das estruturas (alegando
dos nutrientes. Seguem alguns trechos das serem nomes muito incomuns), mas
produções textuais dos alunos, decodificados lembraram de suas funções, indicando que
do Braile: estrutura representava cada função na
medida em que descreviam sua forma.
“Na dinâmica de hoje foi possível observar e
entender mais um pouco da importância da Os alunos foram muito participativos e
cadeia alimentar.” (Aluno I); demonstraram gostar de trabalhar com a
massa de modelar. Tendo os modelos como
“Hoje estudamos que a energia existe em
parâmetro, replicaram de forma bastante
vários meios.” (Aluno A).
acurada a forma das organelas. A dinâmica,
“Hoje aprendemos a importância de como a de aplicação fácil e economicamente viável,
energia se encontra na natureza.” (Aluno R). se mostrou eficiente em reforçar o tema
trabalhado na ação anterior com os modelos
A quinta ação propôs uma mudança de tema,
de estruturas celulares. Ao final desta
saindo do aspecto amplo da ecologia para a
atividade, os alunos foram solicitados a falar
esfera microscópica da célula. Como ocorrido
de suas percepções das atividades
nas ações anteriores, a participação foi muito
vivenciadas por eles. Segue os trechos das
boa, os alunos demonstraram especial
explanações dos alunos:
curiosidade no tema, principalmente em
relação ao DNA. Durante a discussão, tiraram “Achei interessante e diferente, o método que
dúvidas quanto às funções celulares e quanto usaram para explicar os assuntos. [...]” (Aluno
aos testes de paternidade, como funcionam e A).
de onde vêm as características herdadas dos
“Gostei muito, me ajudou a compreender
pais.
alguns conceitos da biologia. [...]” (Aluno I).
O material em tecido foi muito bem recebido
“Muito importante, porque podemos praticar
pelos alunos, porém reclamaram do modelo
algumas coisas relacionadas com a teoria
gelatinoso, achando-o um pouco nojoso.
trabalhadas. [...]” (Aluno R).
Como o gel foi utilizado para simular a
consistência do citoplasma, os modelos das “É muito importante ilustrar através de
organelas celulares ficavam revestidos em dinâmicas, meter a mão na massa e não ficar
gel, e os alunos tiveram que manusear a só imaginando. [...]” (Aluno H).
todos, sujando sempre as mãos na substância
“Atraiu a atenção da gente, envolveu, tornou o
gelatinosa.
assunto interessante. [...]” (Aluno F).
Apesar disso, o material se mostrou eficiente
para ilustrar o tema. Uma das alunas é A aprendizagem do aluno cego requer
adaptações, que constituem alternativa para
formada em fisioterapia e relatou que os
modelos deveriam ser amplamente utilizados suprir a necessidade deixada pela perda do
sentido da visão. Então ele necessita de um

Educação no século XXI - Volume 2


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material palpável ou alguma atividade que Ao final da aplicação do plano de ação, foi
faça com que desperte uma sensibilização percebido que os materiais utilizados
para formar a imagem tátil. Desse modo, o facilitaram o entendimento dos temas
aprendizado mais tangível, passa a fazer trabalhados pelos alunos, tendo sido
sentido para o aluno. Do contrário, ele apenas atingidos os objetivos iniciais deste trabalho.
memoriza, sem contextualizar o conceito que Os participantes demonstraram entender os
foi trabalhado. (CARDINALI, 2012). conceitos ecológicos e as funções das
organelas celulares, apesar de não
lembrarem a nomenclatura utilizada. Os
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS mesmos se mostraram satisfeitos com os
métodos e materiais utilizados.
Durante o estágio, foi percebida a
necessidade de adequação na metodologia A experiência de estágio foi muito agradável,
de ensino de biologia para alunos com desafiante e recompensadora. Mostrou que o
deficiência visual. A utilização de materiais professor de biologia também precisa
táteis e de dinâmicas corporais permite a conhecer as necessidades especiais de
visualização do conteúdo trabalhado, o que alunos portadores de deficiência, para que
facilita a construção do conhecimento pelos possa se preparar melhor para ajuda-los a
alunos. construir seus conhecimentos científico-
escolares.

REFERÊNCIAS
[1]. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é <HTTP://WWW.PLANALTO.GOV.BR/CCIVIL_03/LEI
educação. São Paulo: Brasiliense, 2007. S/L9394.HTM>. ACESSO: JANEIRO DE 2015.
[2]. BRASIL. Constituição da República [4]. CARDINALI, Sandra Mara Mourão;
Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico, FERREIRA, Amauri Carlos. A aprendizagem da
1988. célula pelos estudantes cegos utilizando modelos
[3]. BRASIL. LEI N° 9.394 DE 20 DE tridimensionais: um desafio ético. Revista Benjamin
DEZEMBRO DE 1996. ESTABELECE AS Constant, n. 46, 2012. Disponível em:
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL. <http://www.ibc.gov.br/revistabenjaminconstant/ind
BRASÍLIA: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 1996. ex.php/b3njc0nst/article/viewFile/39/52>. Acesso
DISPONÍVEL EM: em: 04 nov. 2014
[5]. .

Educação no século XXI - Volume 2


66

CAPÍTULO 9

Emmelyne Ketllen Soares Luz da Costa


Ellen Soares Luz da Costa
Allen Kinsen Soares Luz da Costa
Tácia Graciele de Albuquerque Silva

Resumo: A Mata Atlântica é considerada como um dos principais domínios


terrestres, onde também habita mais de 70% da população brasileira. Assim, a
ciência apresenta-se inserida no cotidiano de cada individuo. O trabalho tem como
objetivo geral verificar o aprendizado de estudantes do ensino fundamental II, na
disciplina de ciências, através da utilização de máquinas fotográficas de aparelhos
celulares. A pesquisa obteve a participação de três turmas do sétimo ano.
Inicialmente foi ministrado para os estudantes três aulas de ciências, com o tema
entomologia. Em seguida, os estudantes foram estimulados a realizar uma
exposição com o tema meio ambiente, com fotografias de insetos, através de
aparelhos celulares. O resultado preliminar obtido pelo trabalho foi satisfatório,
apresentando até o momento seis fotos de insetos, sendo que algumas ainda não
foram enviadas por e-mail, mas, já foram analisadas em sala. Vale ressaltar, que a
fotografia é um excelente mecanismo para auxiliar as aulas de ciência,
especialmente para ensinar entomologia.

Palavra-chave: participação social, insetos, exposição de fotos, biodiversidade,


didática.

Educação no século XXI - Volume 2


67

1 INTRODUÇÃO estagiários, diretores, coordenadores) e


estudantes, sob o contexto da aplicação das
A ciência apresenta-se inserida no cotidiano
alternativas tecnológicas que estão presentes
de cada individuo, deste modo, influenciando
no cotidiano escolar e familiar dos estudantes.
nas questões políticas, econômicas, éticas e
No ambiente escolar, o trabalho possui
pessoais. O ensino de ciência possui um
temática atualizada e relevante, pois é sabido
papel de permitir que o estudante se aproprie
que a tecnologia, (tablets, computadores,
da sua linguagem e expressão, com seu
celulares) e mídias (web sites: redes sociais,
potencial explanador e inovador (Cavalcante
vídeos, blogs), são utilizados por uma parte
et al. 2014). O método tradicionalista ainda
dos estudantes.
está muito presente na sala de aula.
Apresentando características que são O trabalho tem como objetivo geral verificar o
interligadas ao trabalho em quadro, também aprendizado de estudantes do ensino
nos dias atuais desde a inclusão do data fundamental II, na disciplina de ciências,
show repleto de teoria, ou seja, focando-se através da utilização de máquinas fotográficas
extensivamente no detalhamento do de aparelhos celulares.
conteúdo, não gerando a aproximação da
Estimular a utilização de tecnologia (celulares)
realidade do estudante com a realidade da
para a aprendizagem da disciplina de
escola e, especialmente de sua comunidade
ciências e demonstrar conceitos básico de
(DIAS, 2009). Segundo Chassot (2006), a
ética e direito ambiental;
Ciência refere-se a uma linguagem que
utilizamos para entender o mundo, Diversificar as metodologias de didática para
consequentemente, para compreendermos e o ensino de ciências, especialmente da
lidarmos, de forma mais significativa, com a entomologia para alunos do fundamental II.
realidade e suas exigências.
A palavra entomologia origina do grego
2 REFERENCIAL TEÓRICO
“entomon” que significa inseto e “logos” que
denota estudo. Essa ciência a cada ano vem Atualmente, no país é possível encontrar
crescendo em todo o mundo e assim, o pesquisas sobre o emprego didático de
interesse pelo estudo dos insetos e a sua materiais alternativos para o ensino da
interação com o meio ambiente (BUZZI, entomologia, abstendo-se do uso de animais
2005). O conhecimento desses seres vivos no ambiente de sala, deste modo, ampliando
para o nosso desenvolvimento e aprendizado as diversas discussões que se referem ao
é de suma importância. tema. Matos et al., (2009), estudaram e
aplicaram os modelos didáticos no ensino da
A tecnologia de mídia e o seu mercado,
entomologia. Confeccionaram 33 modelos
apresentam um crescimento nos últimos
didáticos de insetos, sendo 22 modelos de
anos, além do uso das redes sociais. O
pernas e 11 modelos de antenas, assim
grande desafio é trazer o conhecimento de
utilizando massa “biscut”, massa de modelar
forma dinâmica e atualizada para as futuras
e “epoxi”. Seguindo uma didática mais
gerações. Cavalcante et. al (2014) destaca a
tradicionalista, Santos e Souto (2011),
relevância de utilizar a tecnologia para o
utilizaram a coleção entomológica como uma
ensino de ciências, inclusive destaca a
ferramenta de facilitação para o aprendizado
fotografia como importante ferramenta de
de alunos do ensino fundamental.
ensino para área da biologia, além de
estimular os estudantes a perceberem Cavalcante et al. (2014) verificaram o
também a diversidade terrestre. Os emprego da fotografia, por meio de celulares
mecanismos para didáticas avançadas têm no ensino da ecologia. Na pesquisa, os
sido também discutidos em trabalhos, autores contemplaram o ensino prático para
congressos recentes, especialmente na área estudantes de nível técnico de vários cursos,
da entomologia. No Brasil, já existem nas quais cursavam a disciplina de biologia
pesquisas sobre o emprego didático de II.
materiais alternativos para o ensino da
Considerando sua evolução técnica, desde
entomologia, sem a utilização de animais em
sua gênese em 1862 o aparato fotográfico foi
sala, fato que amplia as discussões a cerca
modificando seus materiais e meios de
do assunto.
produção, permitindo a acessibilidade da
A pesquisa tem o papel de estimular câmera fotográfica. Tanto que hoje as
profissionais da educação (professores, fotografias podem ser produzidas com

Educação no século XXI - Volume 2


68

aparelhos portáteis gerando imagens digitais desenvolvimento das atividades escolares.


através de sistemas pictoriais (pixel) ou de Barbosa e Pires (2011) testaram a utilização
bipmap (mapas de bites). Da mesma forma, da fotografia como agente didático para
ocorreu uma evolução funcional, levando em educação ambiental. Dessa maneira,
consideração as diversas potencialidades de diversificando sua metodologia para bens de
uso da imagem através da fotografia, pois ensino.
esta não mais busca apenas retratar a 3 METODOLOGIA
realidade representada, mas contribui para a
O trabalho foi realizado por meio do
construção de enunciados objetivos e
levantamento de dados primários e
subjetivos. Além dessa qualidade temporal da
secundários, com a finalidade qualitativa. Os
imagem, Kossoy identifica características que
dados secundários foram coletados mediante
vão além de sua natureza iconográfica e
levantamento bibliográfico a respeito do
técnica, pois:
tema, por meio de livros, monografias,
As imagens revelam seu significado quando dissertações, teses, artigos, sites
ultrapassamos sua barreira iconográfica; institucionais e oficiais e legislação. A
quando recuperamos as histórias que trazem pesquisa em campo, ou seja, na escola foi
implícitas em sua forma fragmentária. Através desenvolvida no do mês de Junho de 2015.
da fotografia aprendemos, recordamos, e A escola apresenta turmas do ensino infantil
sempre criamos novas realidades. Imagens ao médio, com aproximadamente mil
técnicas e imagens mentais interagem entre si estudantes, porém a pesquisa obteve a
e fluem ininterruptamente num fascinante participação de três turmas do 7° ano (6°
processo de criação/construção de série) ensino fundamental II, localizada no
realidades — e de ficções. (KOSSOY, 2005, Instituto Brasília, uma escola de referência no
p.36) bairro do Jordão, situada no Município de
Jaboatão do Guararapes, Pernambuco. No
Assim, nessa articulação a fotografia é
local, existem fragmentos de Floresta
produzida no acoplamento da tríade sujeito
Atlântica, inclusive, apresentam importância
(fotógrafo), técnica (equipamento) e assunto
por sua biodiversidade de flora e fauna, além
(a história do tema abordado) e a imagem
de também apresentar potencial hídrico. O
gerada pode ser fruída pelos observadores
município de Jaboatão possui áreas de
que dialogam com a estaticidade das
preservação que estão contidas na reserva
imagens, com seus signos representados e
da biosfera (LIMA, 1998; SOS MATA
com suas memórias. O ato de fotografar está
ATLANTICA, 2015).
cada vez mais naturalizado em nossa
A principio foi ministrado para os estudantes
sociedade, os jovens e adolescentes utilizam
três aulas (45 minutos cada) contemplando o
da fotografia como um hábito rotineiro e fazem
conteúdo de entomologia, logo, nas duas
o compartilhamento nas redes sociais para
primeiras foram abordadas os principais
expressarem seus cotidianos e suas
aspectos da classe Insecta (morfologia e
subjetividades. Fora do contexto profissional,
fisiologia). Na primeira aula, cada turma foi
para fotografar não se necessita de
divida em grupos. O sétimo ano matutino
equipamentos caros ou sofisticados e nem tão
obteve quatro equipes, e os dois do turno da
pouco de um conhecimento técnico
tarde, terão seis equipes, ou seja, três por
aprofundado, tanto que nossos alunos através
sala. Após a divisão, cada equipe obteve o
de seus celulares (smartphones) tem cada
desafio de fotografar insetos em um prazo de
vez mais facilidade e acesso ao uso de
duas semanas, assim ao término enviaram
câmeras fotográficas.
duas fotos ao endereço eletrônico da
No Brasil, já existem legislações que professora, respectivamente da escola. Cada
impedem o uso de celular em sala de aula. A equipe escolheu a melhor foto, porém apenas
Lei n°. 14.363, de 25 de janeiro de 2008 duas foram enviadas, assim totalizando vinte
(BRASIL, 2008), contempla este panorama. (20) fotos. Dessas 20, cerca de dez (10) fotos
Mas, é ainda necessário realizar trabalhos serão selecionadas para serem expostas e
que contemplem a sensibilização dos mais duas de autoria da professora (Figura
estudantes para o uso direcionado dessas 1), totalizando doze (12) fotos. Já, a terceira
tecnologias, com intuito de expandir seus foi introduzida aspectos que discutam a
conhecimentos. O fato é que, isso não está ecologia dos insetos e cotidiano.
somente interligado ao cotidiano escolar, Os estudantes foram estimulados a produzir
como também ao ambiente familiar que materiais fotográficos para o complemento do
desempenha um importante local, para estudo. A exposição ocorrerá no segundo

Educação no século XXI - Volume 2


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semestre de 2015, ao inicio das aulas em composta por: titulo da foto, autor, local, data,
agosto. As fotos terão no mínimo o tamanho nome da equipe (Ex: equipe formiga), ordem
de 20 x 25 cm e para ornamentação serão do inseto e nome (borboleta, mosca,
utilizados materiais reciclados. Cada foto foi formiga).

Figura 1. Parasitóide fotografado no laguinho, UFPE, no mês de março, 2015. Exemplar de


lepidóptero fotografado em Maceió- AL, fevereiro de 2015.

A
B

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70

4. RESULTADOS consequentemente (quadro 1), a atividade


estabelecida em aula pode-se notar que:
Analisando o posicionamento dos estudantes,
com relação ao tema propostos e

Quadro 1. Percepções através da solicitação e contato com os estudantes.


PERCEPÇÕES PRELIMINARES DA ATIVIDADE PROPOSTA (REGISTROS
ENTOMOLÓGICOS).
Aspectos positivos Aspectos negativos
 Segurança, execução da atividade  Dificuldade de entendimento
proposta e resiliência; sobre o envio por e-mail;
 Segurança em compartilhar seus  Desinformação acerca das ações
registros; Disponibilidade para de envio;
aprofundar sobre o tema;  Falta de atenção;
 Percepção dos locais para fotografar;  Insegurança em realizar a tarefa
 Empenho em diminuir dúvidas; em celulares com modelos
 Envolvimento com o trabalho em antigos;
grupo;  Subestimação da sua
 Visão multidisciplinar e versatilidade; capacidade;
 Interesse em conhecer novas mídias e  Repasse da responsabilidade;
tecnologias;  Comodismo, falta de interesse,
 Diferenciação dos vários tipos de esquecimento em realizar a
animais encontrados, assim atividade e de superação na
registrando somente o da Classe realização da atividade.
Insecta.
 Compreensão sobre a relevância dos
animais e seus direitos (direitos dos
animais).

Segundo Chiavenato (2004) avaliar o formiga, gafanhoto e abelha. Todas são


desempenho humano é um fator registros do cotidiano dos estudantes no
extremamente importante para gerar ambiente familiar. Conforme um dos
melhorias no mundo, especialmente os pontos estudantes (autor da foto mosquito) o registro
positivos e negativos que pode modificar de ocorreu no exato momento em que o inseto
individuo para individuo. estava pousado no joelho de sua irmã, logo,
No presente momento, foram consideradas posicionou o celular para capturar a imagem
seis (6) fotos das quais, duas foram de do artrópode (Figura 2).
registro de borboletas, uma de mosquito,

Figura 2. Registro de insetos em ambiente domiciliar, Município de Jaboatão dos Guararapes –


PE, 2015.

A B

Educação no século XXI - Volume 2


71

Além dessas características e habilidades apresentaram dificuldade para obter uma boa
que o uso da fotografia para fins didáticos qualidade, aspectos que podem contribuir
pode desenvolver nos alunos, pois é uma com tal problema: baixa resolução da câmera,
tecnologia usual e cotidiana. Para Perinotto iluminação e falta de habilidade no manuseio
(2012) a fotografia deve colaborar no do equipamento. Porém mesmo com as
processo educativo com o uso de tecnologias dificuldades, os estudantes foram motivados a
da informação e comunicação porque os continuarem tentando obter as imagens
alunos “da atualidade estão acostumados a (figura 3). Conforme Manini (2002), é viável a
viver cercados por sons, cores e imagens utilização da fotografia como “instrumento
fixas ou dinâmicas. Eles pertencem a um didático utilizado em cursos, aulas, palestras,
mundo polifônico e policrômico e constituem seminários, tanto no suporte papel, como na
uma civilização que se utiliza de ícones.” utilização de projeções de diapositivos
Outro ponto relatado foi com relação ao foco (slides) ou por meio eletrônico (fotografia
das imagens. Alguns estudantes digital)”.

Figura 3. Espécies da Ordem Lepidoptera, Município de Jaboatão dos Guararapes - PE, 2015.

A B

Na pesquisa de Cavalcanti et al. (2014) os uma espécie para fotografar, os mesmos


estudantes foram estimulados a registrarem encontram uma abelha. Dentre as
em celulares durante visita de campo. Dentre recomendações para obtenção das fotos, era
os registros obtidos foram fotografados proibido matar ou inseto. Após colocarem o
artrópodes, como aranha, gafanhoto e inseto em uma garrafa para a foto (figura 4), o
borboleta. Vale ressaltar, a ordem lepidóptera soltaram. A situação foi importante para
apresenta porte que variam de 3 a 3mm e elucidar questões ligadas aos direitos dos
coloração diversificada, também é animais, fato que os estudantes até o
considerada uma das mais diversas e com momento desconheciam ou não, assimilaram
maior quantidade de espécimes (BUZZI, que os animais domésticos como gatos e
2005), o que facilita no momento do registro, cães, também não podem ser maltratados,
isto aliado a uma iluminação adequada facilita deste modo, sendo assim todos são animais e
no êxito da fotografia. Assim, contribuindo merecem direito a vida. Viana e Teixeira
para observação dos caracteres taxonômicos. (2005) analisam a bioética e o biodireito no
No presente trabalho, também foram contexto atual e também no passado da
registrados espécimes da ordem Orthoptera. humanidade, citando a bioética com um novo
ramo da ética envolvida ao avanço cientifico
Os estudantes da equipe barata (7°
incluída a biotecnologia. Por isso, é relevante
vespertino) confidenciaram que ao procurar
inserir não somente a tecnologia e mídia, mas
os insetos obtiveram dificuldades na
trabalhar conceitos básicos de ética e direito.
manipulação do mesmo, assim que buscaram

Educação no século XXI - Volume 2


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Quadro 1. Percepções através da solicitação e contato com os estudantes.

Figura 4. Exemplar da ordem Orthoptera (A) e Hymenoptera (B), Município de Jaboatão dos
Guararapes - PE, 2015.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS melhorado, diz a respeito das instruções e


noções de envio de e-mails.
A pesquisa obteve até o seguinte momento
A atividade apresentou um diferencial no
um desempenho satisfatório, pois os
trabalho em grupo e também no contato dos
estudantes foram estimulados a perceber
estudantes com seus responsáveis, visto que
aspectos importantes, assim desmistificando
alguns não sabiam utilizar e-mail, desta forma,
o uso de caixas entomológicas para o estudo
necessitando de auxilio. Enfim, é preciso
da entomologia, especialmente para ensino
realizar mais trabalhos interligados a essa
do fundamental II. Eventualmente, os
temática. Em suma, descaracterizando uma
estudantes são direcionados a esse tipo de
ideia de morte (caixas entomológicas) para a
metodologia tradicionalista, sabe-se que o ato
realidade de vida, ao qual a biodiversidade
de observar e posicionar o animal para
está inserida, ou seja, fazendo os estudantes
fotografar, requer muita atenção e agilidade,
perceberem o seu redor, consequentemente
pois o mesmo pode-se estressar, sendo
os insetos a sua volta. As metodologias
prejudicial tanto para o fotografo quanto para
didáticas são importantes para direcionar o
o fotografado. Outro ponto, que merece ser
estudante aos preceitos éticos e morais, que
estão interligados a todas essas discussões.

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Editora UFPR, 4° Ed. 2005. 347p. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Caderno nº
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fotografias: um referencial de leitura de imagens
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Educação no século XXI - Volume 2


73

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Artes da USP), São Paulo, 2002. técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2º
[12]. MATOS, C.H.C.; OLIVEIRA, C.R.F.; edição. Universidade FEEVALE. 2013.
SANTOS, M.P.F.; FERRAZ, C.S. Utilização de [16]. PERINOTTO, A. R. C. O inconsciente ótico
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[13]. SANTOS, D.C.J.; SOUTO, L.S. Coleção <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs.2.2/index.php/
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Scientia Plena. v. 7, n. 5, 2011. [17]. KOSSOY, Boris. O relógio de
[14]. SOS MATA ATLANTICA, F. A Mata Hiroshima: reflexões sobre os diálogos e silêncios
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atlantica> Acessado em: 10 de Junho 2015. http://www.scielo.br/pdf/rbh/v25n49/a03v2549.pdf
> Acesso em: 20/04/2015.

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CAPÍTULO 10
Claudio Pereira da Silva
Angélica Vier Munhoz
Ieda Maria Giongo
Suzana Feldens Schwertner

Resumo: Esse relato de experiência tem como objetivo geral relacionar algumas
práticas pedagógicas vivenciadas em sala de aula com a teoria da aprendizagem
significativa, desenvolvida pelo pesquisador norte-americano David Paulo Ausubel
(1918-2008). Entretanto, não se pretende afirmar com tal proposição que a citada
experiência enquadra-se apenas à essa teoria, mas pode ser mais uma, dentre
prováveis outras nas quais esse relato pode ser pedagogicamente compreendido.
Além do mais, considerando que essa é uma teoria extensa, a mesma será
abordada superficialmente, mas com dados suficientes a levar o leitor a procurar
maior aprofundamento em bibliografias específicas. Destarte, buscou-se comentar
cada momento da experiência relatada, fazendo um vínculo à teoria de Ausubel e
assim traçar um paralelo reflexivo entre teoria e prática, não apenas com o objetivo
de materializar a referida teoria, mas sim de proporcionar momentos de reflexões
sobre a importância do domínio dessa e de outras concepções pedagógicas. Para
tanto, foi realizado revisão bibliográfica em diversos referenciais sobre o assunto,
como por exemplo: livros, revista e artigos publicados na internet. Além disso, outro
fator que justifica a escrita do referido relato, foram as discussões tecidas durante
as aulas da disciplina: Processos de ensino e de aprendizagem do mestrado em
ensino da Univates-RS.

Palavras-chave: Aprendizagem significativa. Ausubel. Prática docente.

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75

1 INTRODUÇÃO Papai acabei de conhecer um ex-aluno seu, e


eu fiquei muito feliz com o que ele me falou.
Na minha trajetória profissional, dentre os
Eu logo a interroguei: o que foi que ele te
inúmeros momentos marcantes que vivenciei,
disse? Não vá acreditando em qualquer coisa
apresentarei um, que está relacionado
que andam falando de mim por aí - Já falei
diretamente à minha prática docente e
logo em tom de defesa, pois, por muito tempo
impactou fortemente na minha forma de
meus colegas me chamavam de professor
pensar e agir como professor. Espero que
“caxias” e alguns alunos diziam que eu
esse breve relato possa de alguma forma
cobrava muito, que eu era meio linha dura etc.
ajudar outras pessoas que exercem a mesma
Foi quando minha filha disse:
profissão, ou que ainda pensam em exercê-la,
Não Papai, ele disse que o Senhor foi o
pois trata-se de uma experiência, na qual os
primeiro professor de informática dele, ainda
resultados somente foram percebidos muitos
quando ele estudava o Ensino Fundamental, e
anos depois do acontecido, mas que vale a
disse que lembra inclusive do dia em que o
pena conferir e refletir sobre esses resultados.
Senhor pegou um mouse e segurando pelo
Ademais, o que torna esse relato mais
fio, como quem segura um ratinho falou:
desafiador, foi o fato de tentar relacioná-lo à
Olhem pessoal esse é o mouse, significa rato,
alguma abordagem teórica. Para tanto,
porque parece com um ratinho, anda como
realizei revisão bibliográfica em diversos
um ratinho e mexe em muitas coisas no
referenciais sobre o assunto, como por
monitor do computador, assim como um
exemplo: livros, revista e artigos publicados
ratinho mexe nas coisas de uma casa, nós
na internet e compartilhado pelos professores
vamos aprender como usá-lo corretamente e
do Mestrado em Ensino, da Univates-RS.
através deles iremos fazer muitas coisas
Nesse âmbito, segundo Marconi e Lakatos
interessantes.
(1992), a pesquisa bibliográfica é o
Daí Papai (continuou minha filha), ele disse
levantamento de bibliografia já publicada, em
que passou a ficar muito curioso e ficou com
forma de livros, revistas, publicações avulsas
muita vontade de também aprender a dominar
e imprensa escrita. Esses dados pesquisados
o tal mouse ou rato. Disse também que
foram relacionados com a temática deste
passou a admirar muito aquele professor que
relato, levando em consideração também as
dominava muito bem aquele ratinho, e mesmo
discussões vivenciadas nas aulas da
meio tímido e no fundo da sala observava
disciplina de processos de ensino e
cada passo, cada ação que o senhor fazia
aprendizagem, do mestrado em ensino da
com muita atenção, e na época nem
Univates, e a partir desse entrelace teórico
computador ainda ele tinha, só usava na
foram tecidas as discussões.
escola (na década de 1990, poucas pessoas
tinham computador).
2 RELATO DA EXPERIÊNCIA
Mas eu fiquei mais feliz ainda, (disse ela),
Em termos de experiência profissional, sou quando ele me falou que decidiu cursar
professor há 19 anos e já ministrei aula para ciências da computação, porque se espelhou
diversos níveis e modalidades educacionais. no Professor. Ele disse que se lembra de
Dentre esses, destaco os trabalhos que foram cada momento daquela aula como se fosse
desenvolvidos com as séries iniciais do hoje. Ele disse ainda que ficava contando os
Ensino Fundamental numa escola filantrópica dias paras as próximas aulas de informática, e
há muitos anos (final da década de 1990), foi assim até o dia em que ele teve aulas com
onde eu ministrava aulas de informática e o Senhor (finalizou ela).
também monitorava os projetos em toda a Eu confesso a vocês que escrevo esse relato,
escola que envolviam recursos tecnológicos. tomado por várias emoções. Primeiro, porque
Foi justamente dessas vivências que no ano jamais pensei que eu fosse ser referência
de 2013 fui agraciado com um inesperado para aquele aluno a ponto de ajudá-lo a
feedback surpresa, resultado de ações decidir sua profissão. Segundo, porque uma
desenvolvidas ainda daquela época. ação didática que eu pensava ser tão
A história resume-se na seguinte narrativa: simples, foi tão importante para aquele aluno.
Certo dia do ano 2013, eu estava em casa, É exatamente nesse segundo ponto que
quando minha filha mais velha, chegou toda pretendo tecer mais discussões. Porque
sorridente, com um olhar brilhante, que penso que geralmente muitos de nós
denunciava sua alegria e prontamente me educadores não atribuímos atenção e
abraçou e disse: importância às técnicas e ações didáticas
como realmente poderíamos atribuir.

Educação no século XXI - Volume 2


76

Com base nessa premissa estabeleço as Moreira (2014, p. 161) ratifica essa
seguintes indagações: A ação didática que eu concepção, explicando que “A aprendizagem
mencionei e que foi lembrada pelo aluno significativa ocorre quando a nova informação
muitos anos depois, faz parte de alguma ancora-se em conceitos ou proposições
daquelas teorias acerca de ensino e relevantes, preexistentes na estrutura
aprendizagem que estudamos nas cognitiva do aprendiz”. Nesse contexto, o
licenciaturas? E se fizer, qual seria o autor? E conceito é definido por Ausubel, como
por que às vezes atribuímos pouca “conceito subsunçor, ou simplesmente
importância à essas teorias nas licenciaturas? subsunçor, existente na estrutura cognitiva do
Teço essas indagações, porque já presenciei indivíduo” (MOREIRA, 2014, p. 161).
esse descaso em um curso de licenciatura, na Dessa forma, acredito que para o aluno
qual um discente pediu para colocar o nome compreender por que o mouse do
em um trabalho que era para ser feito em computador recebe esse nome, e por que ele
grupo, mas que ele sequer havia participado, se movimenta parecido ao um rato, ele
porque segundo ele, era apenas uma simples primeiro precisa saber o que é um rato, qual a
disciplina pedagógica. sua cor, seu formato, seu tamanho, como ele
Felizmente, nos momentos vivenciados no se movimenta. Ou seja, é um conhecimento
mestrado em ensino da Univates-RS, mais prévio que possibilita ao aluno ancorar aos
especificamente nas aulas da disciplina que novos conceitos e ou proposições
investiga os processos de ensino e aprendizagens que possam ser relevantes e
aprendizagem, estudei sobre um autor que que de fato faça sentido para ele.
pesquisou e escreveu a respeito de Nesse sentido, Moreira (2014, p. 160), explica
fenômenos semelhantes aos que eu vivenciei que para Ausubel, “[...] o fator isolado que
na minha prática docente. Trata-se da mais influencia a aprendizagem é aquilo que
aprendizagem significativa, que segundo o aluno já sabe (cabe ao professor identificar
Fernandes (2011) foi desenvolvida pelo isso e ensinar de acordo)”. No meu caso, eu
pesquisador norte-americano David Paulo fiz essa identificação automaticamente,
Ausubel (1918-2008). apenas percebendo o olhar dos alunos, pois
Entretanto, não quero afirmar com tal na época eu ainda não conhecia essa teoria.
proposição que a citada experiência De alguma forma, eu percebia que quanto
enquadra-se apenas à essa teoria, mas pode mais eu assemelhava os materiais a serem
ser mais uma, dentre prováveis outras nas trabalhados com as coisas que esses alunos
quais esse relato pudesse ser já conheciam, maior era a atenção e o
pedagogicamente compreendido. Além do interesse atribuído aos conteúdos.
mais, considerando que essa é uma teoria Agora compreendo que o brilho no olhar
extensa, a mesma será abordada daquele aluno denunciava que ele estava
superficialmente, mas com dados suficientes compreendendo claramente o que eu falava,
a levar o leitor a procurar maior e que de alguma forma aqueles ensinamentos
aprofundamento em bibliografias específicas. faziam muito sentido para ele.
Destarte, tentarei comentar cada momento da Entendo também que a admiração que o
experiência relatada, fazendo um vínculo à aluno disse ter pelo professor, ao ponto de
teoria de Ausubel e assim traçar um paralelo ajudá-lo a definir sua futura profissão, poderia
reflexivo entre teoria e prática, não apenas ter alguma ligação com a aprendizagem
com o objetivo de materializar a referida significativa que o discente estava
teoria, mas sim de proporcionar momentos de vivenciando. Afinal de contas, em meio a
reflexões sobre a importância do domínio tantos conteúdos novos e talvez a alguns que
dessa e de outras concepções pedagógicas. não faziam sentido para aquela criança, de
Segundo Fernandes (2011, p. 1), na repente aparece um professor falando de
concepção de Ausubel, “aprender coisas que o aluno compreendia e vinculava
significativamente é ampliar e reconfigurar esses conhecimentos prévios com novas
ideias já existentes na estrutura mental e com informações, formando assim novos conceitos
isso ser capaz de relacionar e acessar novos ou agregando novos valores aos já
conteúdos”, dessa forma, “o conhecimento conhecidos. Possivelmente, todos esses
prévio do aluno é a chave para a fatores poderiam de certo modo gerar alguma
aprendizagem significativa”, ou seja, é o admiração.
ensino que faz sentido para o aluno, que ele Com base nessas informações, pude
pode compreender vinculando a outros compreender porque Ausubel recomenda o
conhecimentos já anteriormente adquiridos. uso de organizadores prévios, que possam

Educação no século XXI - Volume 2


77

servir de âncora para novas aprendizagens. alunos precisarão de conhecimentos prévios


Certamente, essas levam ao desenvolvimento em escalas e formatos diferentes (banquinhos
de conceitos, que consequentemente para uns, escada para outros). Nesse
facilitarão outras aprendizagens seguintes. contexto, para Antunes (2002, p. 15):
Nesse sentido, Moreira (2011) explica que, “Não existe uma única maneira de aprender”.
segundo Ausubel: É necessário portanto que o professor esteja
Organizadores podem ser materiais convicto de que precisa saber conduzir
introdutórios apresentados em nível mais alto variadas técnicas de ensino de acordo com
de generalidade e exclusividade, formulados cada público e conteúdo a ser trabalhado,
de acordo com conhecimentos que o aluno possibilitando assim um leque de alternativas
tem que faria a ponte cognitiva entre estes que visem alcançar maior eficácia nas
conhecimentos e aqueles que o aluno deveria diferentes formas de aprender e ensinar.
ter para que o material fosse potencialmente
Isto significa que o uso dos materiais
significativo (MOREIRA, 2011, p. 45).
introdutórios que formarão a ponte entre o que
Para explicitar melhor o pensamento de o aluno sabe e o que ele irá aprender
Ausubel a respeito dessa ponte cognitiva ou demandará esforço pedagógico diversificado
âncora, imaginei um cenário contendo uma e planejado pelo docente, para que no final
árvore cheia de doces pendurados nela, e esse aluno possa provar do “doce”
embaixo várias crianças pulando para (conhecimento) e não apenas ficar
alcança-los, mas devido à altura da árvore contemplando sem poder de fato acessá-lo
eles não conseguem. Em seguida, alguém em sua estrutura cognitiva.
fornece a essas crianças alguns banquinhos
para elas subirem. Mas, nem todas as 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
crianças possuem a mesma estatura, assim
Em suma, posso inferir que por meio da
algumas conseguirão acessar os doces e
aprendizagem significativa defendida por
outras precisarão de um banco maior ou
Ausubel, pude compreender muitos aspectos
mesmo uma escada para pegar esses doces.
vinculados aos processos de ensino e de
Assim, quando conseguirem comer os doces,
aprendizagem, que anteriormente eu não
procurarão novas árvores com mais doces de
entendia. Assim, acredito ser extremamente
outros sabores, mas agora já levarão consigo
importante todo docente conhecer com maior
os banquinhos, as escadas e o sabor
profundidade essa e outras teorias
memorável dos doces já provados.
pedagógicas, pois foi visualizando a
Esclarecendo o cenário, posso dizer que
necessidade de conhecer mais sobre essas
árvore cheia de doces pendurados representa
abordagens que fui motivado a cursar um
os novos conteúdos ou conceitos a serem
mestrado em ensino e até mesmo escrever
aprendidos pelos alunos; os banquinhos
esse sucinto relato.
representam os organizadores introdutórios,
que foram fornecidos pelo professor. Esses

REFERÊNCIAS
[1]. ANTUNES, Celso. Novas maneiras de [3]. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS,
ensinar, novas formas de aprender. Porto Alegre, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. 4 ed.
Artmed, 2002. São Paulo: Editora Atlas, 1992.

[2]. FERNANDES, Elizângela. David Ausubel e [4]. MOREIRA, M. A. Teorias de


a aprendizagem significativa. Revista Nova Escola. aprendizagem. 2 ed. São Paulo: E.P.U., 2014.
Ed. 248, dez. 2011. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/262/david- [5]. ______, M. A. Aprendizagem significativa:
ausubel-e-a-aprendizagem-significativa>. Acesso a teoria e textos complementares. 1 ed. São Paulo:
em: 07 dez. 2017. Livraria de Física, 2011.

Educação no século XXI - Volume 2


78

CAPÍTULO 11
Christina Vargas Miranda e Carvalho
Julieny Batista de Mesquita
Luciana Aparecida Siqueira Silva
Débora Astoni Moreira
José Antonio Rodrigues de Souza

Resumo: O Estágio Supervisionado ainda é considerado como uma das primeiras


experiências oportunizadas à maioria dos futuros professores no decorrer dos
cursos de Licenciatura, permitindo-lhes o contato direto com o seu futuro ambiente
de trabalho. Diante deste contexto, neste trabalho objetivou-se realizar um
diagnóstico do Estágio Supervisionado realizado nos cursos de Licenciatura do
Instituto Federal Goiano – Campus Urutaí. A pesquisa refere-se a um estudo de
caso com abordagem quali-quantitativa e para a coleta de dados utilizou-se
documentos, entrevistas, questionários e observação direta. A partir dos resultados,
verificou-se que o Estágio Curricular Supervisionado dos cursos de Licenciatura em
Ciências Biológicas, Matemática e Química estão de acordo com a Legislação
vigente quanto à carga horária e início das atividades. O curso de Licenciatura em
Matemática tem seu estágio parcelado em quatro semestres, enquanto que nos
cursos de Licenciatura em Química e Ciências Biológicas, o estágio realizado em
dois semestres. As atividades propostas no estágio das três Licenciaturas se
subdividem de maneira bem semelhante, apresentando diferenças no que se refere
ao cumprimento da carga horária. Os orientadores de estágio dos cursos de
Licenciatura declararam que, os discentes não têm sido preparados pelas
instituições de ensino para realidade em sala de aula, bem como ressaltaram que,
as disciplinas pedagógicas e atividades desenvolvidas na Prática como
Componente Curricular, auxiliam o licenciando no desenvolvimento de seu Estágio
Supervisionado. Assim, considera-se que o Estágio Curricular Supervisionado é de
extrema importância na formação do professor, sendo este um período que
oportuniza o licenciando associar teoria e prática, na vivência do exercício da
docência.

Palavras-chave: Formação docente, Estágio supervisionado, Prática pedagógica.

Educação no século XXI - Volume 2


79

1. INTRODUÇÃO Ciências Biológicas, Matemática e Química da


citada Instituição de Ensino.
A formação de professores é influenciada por
inúmeros fatores e, dada a sua complexidade,
muitas variáveis que interagem nessa
2 REFERENCIAL TEÓRICO
formação nem sempre são suficientemente
compreendidas. A ação do educador deverá Nos últimos anos, a formação do professor
se revelar com respostas às diferentes ganhou destaque no meio educacional por
necessidades colocadas pela realidade aspectos variados, que vão desde as
educacional e social. Para tanto, sua necessidades formativas, a análise crítica da
formação deverá ter como finalidade a formação atual às propostas de
consciência crítica da educação e do papel reestruturação curriculares (FRANCISCO
exercido por ela no seio da sociedade JUNIOR et al., 2009; LORENCINI, 2009).
(FUSINATO, 2005).
Um requisito importante na formação de
No que se refere ao currículo dos cursos de professores, bem como em vários outros
Licenciatura, estes devem contemplar a parte cursos de graduação é o Estágio
de conteúdos, relativa aos conhecimentos Supervisionado que é definido pelo Decreto nº
específicos da área e também, a parte 87.497/1982 (BRASIL, 1982), como o conjunto
pedagógica, relativa ao preparo do das atividades de ensino-aprendizagem
licenciando para o exercício da docência. De relacionadas ao meio social, profissional,
um modo geral, preparar o futuro professor, cultural e didático-pedagógico,
na atualidade, necessita oferecer-lhe proporcionadas ao aluno pela participação
momentos práticos para reflexões sobre esse em situações reais de vida e trabalho,
mesmo ensino, antecedendo a sua atuação realizado na comunidade em geral e junto a
enquanto docente, para a tomada de pessoas jurídicas de direito público ou
consciência de que ser professor é assumir privado.
uma prática pedagógica de investigação e
De acordo com Pimenta e Lima (2004)
não ser um repetidor de conhecimentos
(BAPTISTA, 2003). A finalidade do estágio é propiciar ao aluno
uma aproximação à realidade na qual atuará,
A prática pedagógica permite aos discentes
para isso, o estágio tem de ser teórico-prático,
de licenciatura a construção de saberes e a
ou seja, a teoria é indissociável da prática (p.
formação da identidade profissional, que
34).
juntamente com o estágio, constituem-se de
fatores essenciais para motivarem o processo A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
dialético de reflexão do futuro professor Nacional (LDB) (BRASIL, 1996) trouxe como
(PELOZO, 2007). inovação a eliminação do currículo mínimo e o
estabelecimento das Diretrizes Curriculares
Por tais razões, cada curso de Licenciatura
Nacionais (DCN) para os cursos de
deve conter as normas e orientações para o
graduação, que regulamentou o Estágio
Estágio Supervisionado no Projeto
Curricular Supervisionado, definindo que todo
Pedagógico do Curso (PPC) (BRASIL, 2008),
curso de Licenciatura deve oferecê-lo para a
ressaltando que, para sua qualidade de
formação de professores que poderão atuar
aplicação, a avaliação deve ser contínua no
na rede de ensino pública ou privada de
acompanhamento e reflexão sobre as ações,
nosso país. E ainda, a LDB situa o professor
destacando fatos ou situações mais
como eixo da qualidade da educação,
significativas, análises das experiências com
trazendo a associação teoria e prática como
relação às dificuldades, conteúdos e projeto
uma das questões essenciais na formação
curricular, pelo fato deste ser um momento
docente.
definidor na formação do professor.
Ao referir-se a tal assunto, Andrade (2005)
Diante deste contexto, a presente pesquisa
revela que, ao aplicar a teoria como referência
tem como questão de estudo: Qual o perfil do
e a prática como ferramenta no Estágio
Estágio Curricular Supervisionado dos cursos
Supervisionado, o professor tem a
de Licenciatura ofertados no Campus Urutaí
possibilidade de vivenciar a realidade da
do Instituto Federal de Educação, Ciência e
escola e o comportamento dos alunos, dos
Tecnologia Goiano? Para tanto, objetivou-se
professores e dos profissionais que o
diagnosticar do Estágio Supervisionado
compõem. Azzi (1996) destaca que a teoria e
realizado nos cursos de Licenciatura em
a prática são momentos distintos, porém

Educação no século XXI - Volume 2


80

inseparáveis na construção do conhecimento, sistemática e crítica, para avaliar como


contando sempre com a orientação de um acontecem os estágios. A partir de então,
profissional docente. adquiriu-se conhecimento para elaboração
das perguntas a serem realizadas nas
As DCN para os cursos de Licenciatura
entrevistas e questionários.
enfatizam que, o professor egresso do seu
curso de formação deve ter uma adequada As entrevistas foram realizadas com três
preparação para sua carreira, na qual os professores, sendo estes, orientadores de
conhecimentos voltados às Ciências da estágio em cada curso, para compreensão
Natureza (Ciências Biológicas, Física e das etapas que os licenciandos têm que
Química) e Matemática, sejam utilizados de cumprir no estágio e o que eles consideram
forma essencial, assim como para um essencial no estágio para melhor contribuição
processo contínuo de aprendizagem. Destaca na formação docente.
ainda a necessidade de uma formação
Os questionários foram aplicados aos alunos
pedagógica voltada para a sua prática, que
licenciandos que já realizaram ou estão
possibilite a vivência crítica da realidade e
concluindo o estágio, para identificar as
uma formação geral complementar,
contribuições que o estágio proporcionou na
envolvendo outros campos do conhecimento,
formação do aluno-professor e também,
necessários ao exercício docente.
àqueles que estão iniciando o processo de
Diante do exposto, considera-se que o estágio, para observar as expectativas dos
estágio é um momento de propiciar ao aluno a licenciandos em relação ao conhecimento e
complementação do seu ensino e da sua prática que serão adquiridos por meio do
aprendizagem. É importante que seja estágio.
planejado, executado, acompanhado e
Os dados obtidos foram sistematizados e
avaliado em conformidade com os princípios
organizados e então, realizou-se a análise e
legais que dão exatidão a essa função, no
interpretação dos mesmos, possibilitando
sentido de ser um instrumento de integração,
assim, identificar o perfil dos estágios
aperfeiçoamento teórico-prático, assim como
realizados nos cursos de Licenciatura
de relacionamento humano.
ofertados no Instituto Federal Goiano –
Campus Urutaí.
3 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no segundo semestre 4 RESULTADOS
de 2014 e refere-se a um estudo de caso com
O Estágio Supervisionado é obrigatório nos
abordagem quali-quantitativa a partir do
três cursos de Licenciatura do IF Goiano –
diagnóstico do Estágio Supervisionado
Campus Urutaí e está inserido no PPC dos
realizado nos cursos de Licenciatura em
Cursos. Conforme dispõe a Lei n°
Química, Ciências Biológicas e Matemática
11.788/2008 (BRASIL, 2008), cumprem a
ofertados pelo Campus Urutaí do Instituto
carga horária mínima de 400 (quatrocentas)
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
horas e são iniciados a partir da segunda
Goiano. Para a coleta de dados utilizou-se
metade do curso, ou seja, a partir do 5º
como fonte: documentos, entrevistas,
semestre, como exige a Resolução CNE/CP
questionários e observação direta.
n°02/2002 (BRASIL, 2002). Os estágios se
Inicialmente realizou-se a análise do Projeto diferenciam quanto ao número de etapas em
Pedagógico do Curso (PPC) das três que são divididos, de acordo com o Quadro
licenciaturas envolvidas, mediante a leitura 1.

Educação no século XXI - Volume 2


81

Quadro 1. Diferenças existentes entre as divisões e distribuição da carga horária dos cursos de
Licenciatura do IF Goiano – Campus Urutaí

Curso de Licenciatura

Especificação do estágio
Química Ciências Biológicas Matemática

Divisão de estágio (etapa) 2 2 4

Período que ocorre 6º 7º 6º 7º 5º 6º 7º 8º

Nível de ensino EM EM EF EM EF EF EM EM

Carga horária por etapa (h) 200 200 200,75 200,75 100 100 100 100

Carga horária total 400 h 401,5 h 400 h

Fonte: Dados da pesquisa.


Considere: EF – Ensino Fundamental; EM – Ensino Médio.

As atividades propostas no Estágio para a formação dos estagiários e para


Supervisionado das três Licenciaturas se criação de possibilidades de melhoria das
subdividem de maneira bem semelhante, escolas. As autoras defendem que o projeto
apresentando diferenças no que se refere ao desenvolverá atitudes e habilidades nos
cumprimento da carga horária. A distribuição estagiários com vistas a um melhor
da carga horária em desenvolvimento de desempenho profissional.
atividades do Estágio Supervisionado no
O PPC das três licenciaturas, quando se
curso de Licenciatura em Química é diferente
refere ao Estágio Curricular Supervisionado,
dos demais, pois neste curso os licenciandos
apresentam propostas semelhantes, com
desenvolvem seu estágio somente no Ensino
parte textual diferentes, porém com o mesmo
Médio, portanto, apresenta foco diferente
significado. No PPC dos cursos de
entre os dois estágios, para que o aluno-
Licenciatura em Química e Matemática está
estagiário não repita as mesmas atividades.
descrito a redução da carga horária para
Já no curso de Licenciatura em Ciências
aluno-estagiário que atua na Educação
Biológicas, a carga horária e as atividades
Básica, já no PPC do curso de Licenciatura
desenvolvidas no estágio são as mesmas nos
em Ciências Biológicas este item não é
dois períodos, pois os licenciandos deste
citado, conforme assegura a Resolução
curso desenvolvem seu estágio no Ensino
CNE/CP nº 02/2002 (BRASIL, 2002).
Fundamental (Ciências) e Ensino Médio
(Biologia), assim, o aluno-estagiário Em suas entrevistas, os professores
desenvolvem atividades semelhantes, porém, orientadores de estágio dos três cursos de
com realidade escolar bastante diferente. O Licenciatura declararam que, os discentes
curso de Licenciatura em Matemática tem seu não têm sido preparados para realidade em
Estágio Supervisionado dividido em quatro sala de aula. No entanto, ressaltaram que as
períodos, sendo dois destes períodos disciplinas pedagógicas, as atividades
voltados para o Ensino Fundamental e os dois desenvolvidas na Prática como Componente
restantes, para o Ensino Médio, apresentando Curricular (PCC) e a participação dos
diferenças na carga horária cumprida e graduandos em programas voltados à
propostas de atividades a serem formação de professores como o Programa
desenvolvida nos quatro períodos do estágio. Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docância (PIBID), o Programa de
Na distribuição das atividades a serem
Consolidação das Licenciaturas
desenvolvidas durante o Estágio
(Prodocência) e o Plano Nacional de
Supervisionado, os três cursos de
Formação de Professores (PARFOR),
Licenciatura contemplam a proposta de
contribuem substancialmente no
desenvolver um Projeto Educativo. Pimenta e
desenvolvimento do Estágio Supervisionado.
Lima (2004) consideram o projeto como um
Porém, todas estas etapas voltadas à
caminho teórico-metodológico de mão dupla
preparação do futuro professor, ainda não o

Educação no século XXI - Volume 2


82

torna habilitado a enfrentar as situações auto estima, por meio de atividades


adversas que o mesmo irá encontrar na sala desenvolvidas especialmente para este fim.
de aula.
O questionário foi aplicado aos licenciandos
Ercolin et al. (2012) relatam que, cursos de dos três cursos de Licenciatura e a
Licenciatura tem a incumbência de preparar quantidade de graduandos respondentes por
os alunos e futuros profissionais a trabalharem curso e período encontra-se apresentado na
sob diferentes realidades, a aprenderem a Tabela 1. Os alunos que se encontram
solicitar ajuda, sendo isto desejável e previsto matriculados no 6º período correspondem aos
pela instituição e, principalmente, mostrar-lhes respondentes que estão iniciando suas
a realidade escolar e como resistir às atividades de estágio e aqueles matriculados
primeiras dificuldades e obstáculos. E ainda, no 8º período, representam os alunos que já
permitir durante o curso que os graduandos estagiaram e estão concluindo, ou já
revelem suas angústias, que trabalhem sua concluíram o Estágio Supervisionado.
Tabela 1. Quantidade de graduandos dos cursos de Licenciatura do IF Goiano – Campus Urutaí que
responderam ao questionário

Curso de Licenciatura
Descrição
Química Ciências Biológicas Matemática

Período 6º 8º 6º 8º 6º 8º

Alunos matriculados 10 16 23 31 17 12

Alunos respondentes 8 11 18 18 7 6

Fonte: Dados da pesquisa.

A partir dos questionários respondidos pelos prévio com a sala de aula antes de exercer a
acadêmicos dos três cursos de Licenciatura, profissão docente. Esta visão do estágio
tem-se que aqueles que não concluíram o como oportunidade de contato com a
processo de realização do Estágio realidade profissional foi uma das respostas
Supervisionado, relataram algumas mais percebidas entre os respondentes.
expectativas para conclusão desse processo, Nesse sentido, Kulcsar (2005) afirma que o
a saber: assimilar experiência para o mercado estágio proporciona a interação do estagiário
de trabalho; experiência para lhe dar com a com a realidade, sendo muito importante para
realidade nas escolas; aprender na prática o que este perceba os desafios que poderá
que foi passado na teoria durante o curso. encontrar no exercício da profissão. E ainda,
Ainda destacaram, que o estágio será o Paquay e Wagner (2001), consideram que o
período que pretendem exercer a prática em estágio constitui um lugar privilegiado da
relação ao conhecimento adquirido durante o formação prática, permitindo aos iniciantes
curso e analisar o ambiente escolar com mais adquirir “habilidades” do ofício na companhia
clareza. de práticos experientes.
Já os licenciandos que concluíram o Estágio Quanto à sensação, vivência e percepção dos
Supervisionado declararam, dentre as discentes dos cursos de Licenciatura durante
contribuições que o estágio proporcionou na o desenvolvimento do Estágio
sua formação, o conhecimento da realidade Supervisionado, os resultados podem ser
da escola, aquisição de experiência e contato visualizados na Tabela 2.

Educação no século XXI - Volume 2


83

Tabela 2. Percentual referente à sensação, vivência e percepção dos alunos respondentes de 6º e


8º períodos, dos cursos de Licenciatura do IF Goiano – Campus Urutaí durante o desenvolvimento
do Estágio Supervisionado

Curso de Licenciatura
Descrição Ciências
Química Matemática
Biológicas
Insegurança 28% 31% -
Carga horária insuficiente 16% 3% 8%
Falta de acompanhamento 22% 6% 8%
Insatisfação com as condições da escola 6% 17% 53%
Rotina da escola dificulta a aprendizagem dos
28% 43% 31%
alunos
Fonte: Dados da pesquisa.

Dentre os motivos relacionados à sensação e momento definitivo na tomada de decisão, de


vivência dos alunos-estagiários, destaca-se a seguir ou não, a carreira docente.
insegurança dos licenciandos em Química e
A partir da análise do PPC dos cursos de
Ciências Biológicas durante o
Licenciatura, no tocante ao Estágio Curricular
desenvolvimento das atividades do Estágio
Supervisionado, percebe-se que os três
Supervisionado, a insatisfação dos
cursos estão de acordo com a legislação
licenciandos em Matemática com as
vigente. Cada curso apresenta suas
condições da escola e a percepção dos
peculiaridades no desenvolvimento das
alunos dos três cursos de Licenciatura em
atividades durante o estágio, ainda assim,
relação à rotina da escola dificultar a
apresentam semelhanças em diversos
aprendizagem dos alunos.
aspectos.
Ainda assim, o Estágio Curricular
Sugere-se que a proposta do Estágio
Supervisionado é considerado pelos
Supervisionado seja unificada, tornando-se
pesquisados como sendo de fundamental
uma só, fortalecendo a identidade dos cursos
importância nos cursos de Licenciatura, pois
de Licenciatura ofertados pelo Campus Urutaí
a realidade concreta da escola (campo de
do Instituto Federal Goiano. Ademais,
estágio) propicia a articulação teoria e prática,
facilitará a compreensão dos discentes, no
de forma que esse movimento possa
que se refere às regras e atividades a serem
estabelecer um novo conhecimento sobre a
desenvolvidas na realização desta etapa.
docência e sobre as decisões e ações de
Essa unificação poderá promover atividades
aula, de maneira crítica e criativa.
interdisciplinares entre as disciplinas de
Corroborando com esta ideia, Pimenta e
Biologia, Matemática e Química,
Gonçalves (1990) destacam que a finalidade
principalmente, no desenvolvimento do
do Estágio Curricular é propiciar ao aluno uma
Projeto Educativo, que é proposto como
aproximação da realidade na qual atuará.
atividade a ser realizada no estágio nos três
cursos de Licenciatura.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se que o Estágio Curricular
Supervisionado não é importante em um curso
O Estágio Curricular Supervisionado é um
de Licenciatura somente por ser obrigatório, é
componente curricular e/ou disciplina
uma atividade essencial na formação do
curricular que tem como propósito a
professor, quando este, propicia ao
aproximação dos licenciandos da realidade
licenciando, futuro docente, a análise de suas
escolar. Por meio do estágio, os acadêmicos
próprias dificuldades e, a partir de então, este
tem a oportunidade de construir sua
percebe o quanto ainda precisa aprender
identidade docente. Porém, o Estágio
conciliando teoria e prática.
Supervisionado também é considerado um

Educação no século XXI - Volume 2


84

REFERÊNCIAS
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Brasília: MEC, 1996. estágios e no vídeo formação. In: PAQUAY, L. et al.
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estágio de estudantes. Brasília: MEC, 2008. Revendo o ensino de 2º grau, propondo a
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M. F.; RODRIGUES, N.; PINTO, T. C. G. O [16]. PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e
professor iniciante: expectativas na Licenciatura Docência. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2004.

Educação no século XXI - Volume 2


85

CAPÍTULO 12
Joelci Mora Silva
Sônia da Cunha Urt

Resumo: Este artigo provem dos estudos para elaboração da tese “Professores na
rede: Facebook e mediação no processo de ensino aprendizagem”, e tem como
principal objetivo apresentar o delineamento e os momentos iniciais da pesquisa de
campo realizada com professoras de uma escola municipal na cidade de Campo
Grande-MS. O referencial teórico da Teoria Histórico-cultural direciona a proposição
da pesquisa e embasa as análises e discussões, justaposto às contribuições dos
estudiosos das tecnologias digitais na educação. Como resultado inicial, destaca-
se que, apesar dos problemas relatados, os professores mostram-se
entusiasmados com a possibilidade de utilizar o Facebook como ambiente de
mediação para suas práticas. Consideramos que é grande o potencial de
contribuição desta rede social online para a educação escolar, podendo contribuir
nos processos de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.

Palavras-chave: Prática docente; Facebook na educação escolar; Teoria Histórico-


Cultural.

Educação no século XXI - Volume 2


86

1 INTRODUÇÃO assim dizer as escolas, revelando o reflexo


fidedigno da sociedade na qual está inserida.
Vivenciamos mudanças em nossa sociedade
motivadas pela disponibilidade e uso das Hoje é considerada por muitos como um meio
tecnologias de informação, largamente capaz de facilitar a compreensão dos alunos,
disseminadas por políticas de popularização e, desta forma, acaba por estimular também
de aquisição e de acesso aos computadores os professores a se dedicarem a exploração
pessoais, pelos avanços na telefonia móvel, de seus serviços tais como: a pesquisa
etc., e que têm como reflexo sua inserção dirigida, viagens virtuais, trabalhos com vídeo,
cada vez mais significativa no universo sons e imagens, jogos didáticos dentre
escolar. Tais alterações pedem atenção e outros, por se revalarem ferramentas
reflexão constantes sobre variados pontos, riquíssimas, que estimulam e colaboram para
dentre eles as possibilidades e os efeitos a construção do conhecimento.
destas modificações.
Deste leque de aplicações disponibilizadas
É necessário intensificar os esforços na busca na internet, nos despertou especial interesse
do entendimento sobre os processos de as potencialidades educacionais das redes
inserção e permanência da informática no sociais on-line, por sua larga penetração no
cotidiano escolar. Desprezar tais mudanças já cotidiano das pessoas de variadas faixas
não é uma atitude possível. Precisamos etárias e diferenciadas condições de vida.
aprofundar nossos estudos e direcionar
Ao pensarmos em redes sociais on-line,
nossos olhares para as teorias de
destaca-se de imediato, as possibilidades de
desenvolvimento e aprendizagem, para
interação pessoal e cultural que este
reconhecer o lugar de tais ferramentas
ambiente digital vem proporcionando à nossa
auxiliares.
sociedade há vários anos. Vimos, através da
Ao expor suas reflexões acerca da cyber mídia e também de estudos científicos,
cultura, Pierre Lèvy (1999) escreve que considerações acerca do status de
devemos pensar criticamente sobre a importância que as redes sociais obtiveram,
inserção tecnológica nas relações de ensino, por representar um espaço não tutelado de
considerando que as novas tecnologias trocas variadas.
representam uma modificação das
Também podemos facilmente visualizar outras
mentalidades e da cultura da sociedade, e
formas de relacionamento interpessoal
que necessita ser vista e analisada, já que
disseminadas após seu estabelecimento.
Não se trata aqui de utilizar a qualquer custo Embora todos esse contributos possuam
as tecnologias, mas sim de acompanhar inegável importância, para as diretrizes desta
consciente e deliberadamente uma mudança pesquisa foi preciso considerá-la de uma
de civilização que está questionando forma diferenciada: a de auxiliar a
profundamente as formas institucionais, as aprendizagem como ambiente portador de
mentalidades e a cultura dos sistemas pontes de mediação.
educativos tradicionais e, notadamente, os
Portanto, esta pesquisa que integra os
papéis de professor e aluno. (LÈVY, 1999, p.
estudos para a elaboração da tese com o
10).
título provisório "Da prática popular à prática
Concordando com estas colocações, docente: as redes sociais como ambiente de
entendemos que é necessário compreender mediação para o ensino e a aprendizagem na
que os saberes estão em constante educação escolar", objetiva investigar a
modificação e a informática é uma das utilização do Facebook®, como um ambiente
expressões desta mutação contemporânea de mediação, para que possa auxiliar
relacionada, por consequência direta, às professores em seu fazer docente,
práticas de ensino e aprendizagem colaborando nos processos de ensino e
experimentadas na escola, e que traz como aprendizagem e de construção de
característica a grande velocidade que estes conhecimento. Pretendemos investigar os
saberes se transfiguram atualmente. aspectos das relações pedagógicas
mediadas neste ambiente, bem como suas
Das aplicações da informática a que mais se potencialidades no tocante a flexibilização
destaca é sem nenhuma dúvida a internet. das condições de tempo e espaço inerentes a
Com seu universo multicolorido e de múltiplas
educação escolar.
e crescentes possibilidades, "invadiu" por

Educação no século XXI - Volume 2


87

Acreditamos que com sua popularidade o professor. Temos como ponto central desta
Facebook ajudará a reduzir a intimidação pesquisa investigar o potencial de ambiente
inicial de seus usuários, reação que já vimos de mediação do Facebook, e entendemos
acontecer no uso de alguns softwares que, esta condição a partir da perspectiva
para gerarem bons frutos, precisam em um histórico-cultural.
primeiro momento romper com a resistência
A mediação é um dos principais conceito dos
natural ao desconhecido.
estudos realizados pelos estudiosos desta
Dentro deste contexto consideramos que esta teoria. É por seu intermédio que podemos
pesquisa se justifica ao possibilitar a compreender a gênese e o desenvolvimento
articulação entre os saberes da Psicologia, da das funções psicológicas superiores nos
Educação e da Tecnologia, que pela humanos. Em síntese a
dinâmica da condução das fases planejadas,
Mediação em termos genéricos é o processo
tendem a fundir-se e completar-se. Neste
de intervenção de um elemento intermediário
diálogo revela a singularidade das relações e
numa relação; a relação deixa, então, de ser
pode apontar caminhos novos, através dos
direta e passa a ser mediada por esse
quais poderemos interferir positivamente e
elemento (OLIVEIRA, 2002, p. 26).
propor uma forma diferenciada de mediar a
Educação escolar, ao ponderarmos que o
Facebook possui o potencial de se tornar uma Podemos defini-la como o elo de ligação entre
ferramenta de interação valiosas para auxiliar o mundo exterior ao sujeito e sua estrutura
e expandir o trabalho docente realizado em mental interior. Leontiev (1978) esclarece que
sala de aula. uma das diferenças entre o ser humano e os
animais é a capacidade que o homem tem de
Partimos da seguinte problematização: As
acumular experiências vividas pela
redes sociais podem trazer contribuições, ao
humanidade ao longo do tempo, seria "o
serem utilizadas como um ambiente
processo de apropriação da experiência
mediador, capaz de auxiliar professores e
acumulada pela humanidade ao longo da sua
alunos, nos processos de ensino e
história social" (LEONTIEV, 1978, p. 319). Esta
aprendizagem e de construção de
experiência acumulada está contida nos
conhecimento?
expoentes da cultura material e imaterial,
Nossa pesquisa considera que tais desenvolvidos e estabelecidos pelas
contribuições podem ser alcançadas e determinações sociais. Esta apropriação
incorporadas ao cotidiano docente. Partimos ocorre de forma mediada, em um processo
desse entendimento para organizar as fases pelo qual o conhecimento historicamente
que serão detalhadas na parte deste trabalho construído é repassado ao longo das
destinada a narrar o percurso metodológico. gerações, durante as relações estabelecidas
socialmente. Estas mediações, realizadas
através dos signos e dos instrumentos, que
2 REFERENCIAL TEÓRICO auxiliam na passagem para a atividade
mediada, alteram as funções psicológicas
Hoje a informática imersa na educação
superiores, como pontua Vygotsky:
escolar representa uma importante via para
uma nova forma de educação. Torna-se O uso de meios artificiais – a transição para a
fundamental agora direcionar e aprimorar sua atividade mediada – muda,
utilização, levando sempre em consideração fundamentalmente, todas as operações
seu papel de ferramenta de apoio para a psicológicas, assim como o uso de
aprendizagem, que necessita da influência instrumentos amplia de forma ilimitada a
das trocas humanas. gama de atividades em cujo interior as novas
funções psicológicas podem operar. Nesse
Importa pensar em uma forma prática de
promover a aproximação das possibilidades contexto, podemos usar a lógica superior, ou
digitais, dispostas nos ambientes em rede on- comportamento superior com referência à
line, das práticas docentes. Para tanto combinação entre o instrumento e o signo na
elegemos o embasamento da teoria Histórico- atividade psicológica. (VYGOTSKY,1998, p.
cultural da Psicologia, que através de 73).
Vygotsky e seus pares, focaram seus estudos A atividade mediada se utiliza dos signos e
nas questões inerentes ao desenvolvimento dos instrumentos (VYGOTSKY,1998, p. 72),
cognitivo humano, considerando o papel dispostos em uma correlação análoga que os
fundamental da aprendizagem escolar e do aproxima e os define pela função mediadora

Educação no século XXI - Volume 2


88

que exercem. Sua diferença fundamental é a Possivelmente estamos, por conta desta
forma como eles conduzem e canalizam o mutação de métodos e saberes que exigem
comportamento. outras perspectivas para os entendimentos do
desenvolvimento cognitivo, nos aproximando
Entendemos o Facebook como o ambiente
da função condutora da Educação, defendida
que pode colaborar com as atividades
por Vygotsky, exercendo seu papel central na
mediadas, auxiliando no desenvolvimento
transformação do homem "As novas gerações
próximo e das funções psicológicas
e suas novas formas de educação
superiores, contribuindo na constituição dos
representam a rota principal que a história
conceitos científicos, proporcionando uma
seguirá para criar o novo tipo de homem."
alteração positiva das relações estabelecidas
(VYGOSTKY, 2004, p. 6)
na educação formal.
É certo que as novas gerações vivenciam e
são influenciadas por situações atuais e 3 METODOLOGIA
estímulos diferentes dos que existiam em
O percurso metodológico desta pesquisa
épocas anteriores, também é correto afirmar
iniciou-se com o estudo aprofundado da
que o processo de informatização não
teoria que o sustenta e a revisão bibliográfica
estagnará e nem retrocederá. Temos,
das produções existentes, através da
portanto, nas redes sociais on-line, uma forma
confecção de um inventário que teve como
dinâmica de realizar apropriações. Assim
principais objetivos analisar e discutir as
respeitando sua definição de ambiente, porta
produções científicas que realizaram a
em si pontes mediadoras capazes, de acordo
interlocução entre os temas ensino e
com a Teoria Histórico-Cultural, de despertar
aprendizagem na educação escolar e o uso
modificações na formação de conceitos,
da rede social Facebook.
colaborando na ontogênese, já que possui a
característica de oferecer uma mediação Foi realizado um estudo de trabalhos
semiótica. científicos, escolhidos a partir da leitura dos
resumos, disponíveis no Banco Digital de
Consideramos que as capacidades cognitivas
Teses e Dissertações, nos anais eletrônicos
podem ser diretamente influenciadas pelo uso
do Grupo de Trabalho 16 – Educação e
das tecnologias digitais de comunicação,
Comunicação das reuniões anuais da ANPED
especialmente as redes sociais on-line, posto
e no site SCIELO, realizados entre os anos
que estas ampliam as possibilidades
entre 2004 e 2013.
daquelas, já que podemos observar
alterações nos processos mentais superiores, Foram selecionadas duzentas e sessenta e
tais como a atenção voluntária, a memória, a duas produções para a primeira análise.
abstração e a percepção. Ocorre então uma Destas consideramos para as análises finais
alteração na significação dos saberes e da vinte e seis. Foram descartados os trabalhos
aprendizagem, pois que, apesar de selecionados pelos critérios
eletrônicos de busca, concentravam seu foco
O uso crescente das tecnologias digitais e
em outras áreas diferentes das que foram
das redes de comunicação interativa está
eleitas para análise - Facebook na educação
acompanhando e ampliando uma profunda
escolar - como por exemplo a música, redes
mutação da relação com o saber [...]. Ao
sociais de convivência, Psicologia clínica,
prolongar certas capacidades cognitivas
esporte, Administração, Ciências da
humanas (memória, imaginação, percepção),
computação, estudos de linguagem, dentre
as tecnologias intelectuais com suporte digital
outros.
estão redefinindo seu alcance, seu
significado, às vezes até sua natureza. (LÈVY, Para a parte de campo estão sendo utilizados
1999, p. 11). dois instrumentos para a coleta de dados:
entrevistas semiestruturadas gravadas e a
Os novos rumos do saber suscitam a realização de oficinas de aprendizagem.
necessidade de acompanhar de perto esta Como o objetivo maior dos instrumentos é
relação para compreender com que possibilitar ao pesquisador conhecer os
intensidade e qual a extensão da interferência
aspectos relevantes acerca dos temas
do uso das tecnologias nos processos de investigados, entendemos que a utilização de
aprendizagem e de desenvolvimento dos dois ou mais instrumentos atende a
sujeitos que as utilizam.
preocupação de ampliar o campo de visão do
pesquisador, melhorando assim suas

Educação no século XXI - Volume 2


89

possibilidades de análise, e concepções e saberes, enquanto realizam um


consequentemente suas conclusões, estudo dirigido que visará proporcionar
afastando-o de um tratamento classificatório momentos de conhecimento e aprendizagem
dos dados. dos temas Teoria Histórico-cultural, uso
escolar da internet e recursos do Facebook
A escolha de entrevistas semiestruturadas
para todo o grupo.
como um dos instrumentos de coleta de
dados, se deu para que pudéssemos As oficinas de aprendizagem estão sendo
conhecer as concepções dos professores realizadas no laboratório de informática da
participantes da pesquisa acerca da escola onde estamos realizando a pesquisa e
aproximação dos temas aprendizagem, contam com a presença de 16 professoras
educação escolar e o Facebook. Também voluntárias.
leva em consideração como o
Foram planejadas oito oficinas de
questionamento acerca destes temas atuarão
aprendizagem, com duração de quatro horas
em suas bases simbólicas edificadas de
cada, perfazendo um total de trinta e duas
acordo com sua história, sua cultura e suas
horas de atividades. Realizamos a seguinte
vivências.
divisão de temas para este trabalho: Oficinas
O roteiro para realização das entrevistas foi 1 e 2 - Nosso olhar: Conceitos e aplicações
composto por três partes. A primeira da Teoria Histórico-cultural; Oficina 3 - A
destinada a identificação; O objetivo da escola e a Rede; Oficina 4 e 5 - Rede social
segunda parte foi conhecer as concepções on-line; Oficina 6 e 7 - Novas possibilidades
dos participantes acerca dos temas em ação e Oficina 8 - Seminário de projetos.
aprendizagem, educação, utilização escolar
Para o estudo dos resultados provindos da
da internet e Facebook; Na terceira parte foi
pesquisa, foi escolhido como procedimento
perguntado sobre experiências com a
metodológico a análise de conteúdo, aplicada
utilização escolar da internet, formas de
tanto às respostas obtidas durante as
utilização do Facebook, problemas e
entrevistas quanto para os produtos
vantagens no uso escolar da internet,
provenientes da intervenção realizada durante
circunstancias impeditivas ou incentivadoras
as oficinas de aprendizagem, uma vez que
para o uso do Facebook na educação
desejamos interpretar as mensagens obtidas
escolar.
captando seus significados e sentidos
A realização da pesquisa-ação, que será (FRANCO, 2003) .
efetuada por intermédio das oficinas de
A análise categorial foi escolhida como
aprendizagem, foi escolhida por ter como
técnica por seu caráter aglutinador que
característica a possibilidade, através da
permite, tanto ao pesquisador quanto ao
intervenção realizada, provocar uma troca de
leitor, um entendimento amplo através da
saberes, ao mesmo tempo que influencia na
divisão do discurso a partir da dimensão dos
pesquisa em curso permite, pela dinâmica
temas que estão sendo abordados. Por esta
das ações, colaborar diretamente no fazer
operação é possível fazer o cruzamento das
docente. Como esclarece Tripp,
respostas de diversas formas, permitindo
É importante que se reconheça a pesquisa- análises sob diferentes ângulos de
ação como um dos inúmeros tipos de observação.
investigação-ação, que é um termo genérico
para qualquer processo que siga um ciclo no
qual se aprimora a prática pela oscilação 4 SITUAÇÃO ATUAL DO ESTUDO DE CAMPO
sistemática entre agir no campo da prática e
A fase de pesquisa em campo está sendo
investigar a respeito dela. Planeja-se,
realizada em uma escola municipal localizada
implementa-se, descreve-se e avalia-se uma
na área central da cidade de Campo Grande -
mudança para a melhora de sua prática,
MS. Esta escola atende jovens em idade entre
aprendendo mais, no correr do processo,
15 e 17 anos que estão afastados da escola
tanto a respeito da prática quanto da própria ou que não tiveram acesso ao sistema formal
investigação. (TRIPP, 2005, p. 445-446).
de ensino e também aos que estão no
Com esta modalidade de investigação sistema, mas apresentam distorção
pretendemos criar situações de idade/série. Oferecem aos jovens desde a
aprendizagem mediadas pelo Facebook , alfabetização até o nono ano do ensino
para que, através desta intervenção, o grupo fundamental.
de professores participantes revisitem suas as

Educação no século XXI - Volume 2


90

O primeiro contato com o grupo de dezesseis professoras que compõem o grupo


professores se deu no dia 11 de abril de de participantes. Estas entrevistas estão
2015, em uma reunião com as equipes sendo realizadas nos tempos destinados ao
docente e pedagógica para a apresentação planejamento de cada professor. São
da pesquisa. Exibimos e comentamos o tema, realizadas individualmente e estão sendo
os objetivos e os detalhes acerca das gravadas na íntegra para passarem por
entrevistas e das oficinas de aprendizagem. degravação posterior.
Foram lidos e explicados os detalhes No dia 16 de maio de 2015 realizamos a
constantes do termo de consentimento livre e primeira oficina de aprendizagem. Foi criado
esclarecido, ressaltando a necessidade da um perfil no Facebook e todas as professoras
assinatura de cada um dos participantes, participantes foram adicionadas ao grupo "1ª
formalizando seu consentimento e sua oficina de aprendizagem" (figura 1).
autorização, tanto para a coleta quanto para a
Propusemos uma reflexão acerca do tema
divulgação dos dados.
aprender e apresentados alguns fundamentos
Entre os dias 04 a 18 de maio foram da Teoria Histórico-cultural.
realizadas entrevistas com treze das

Figura 1: Tela da 1ª oficina realizada no Fabebook

Para cada oficina realizada está sendo criado 5 RESULTADOS INICIAIS


um grupo e nestes espaços restritos são
Apesar de estarmos vivendo os primeiros
disponibilizados todos os textos, vídeos,
momentos da pesquisa já podemos destacar
imagens e enunciado das atividades que
pelas entrevistas e pela participação da 1ª
devem ser realizadas. As atividades
oficina, algumas impressões das professoras
solicitadas já feitas devem ser postadas no
participantes acerca do uso escolar do
grupo "Atividades".
Facebook e seus serviços. Uma das
A reação das professoras a este recurso foi impressões notada na maioria da entrevistas
positiva. A possibilidade de reverem os vídeos foi a capacidade de motivação desta rede,
e postarem suas impressões dialogando com como demonstram os excertos das entrevistas
todos os participantes foi bem aceita e que destacamos abaixo:
emprestou um caráter lúdico ao encontro,
Porque o aluno, ele é complicado, você tem
motivando o grupo a participar.
que chamar atenção dele e eu acho que
através do “Face”, só de falar o “Face” o
olhinho deles brilham. E eu acho que através
daí, o ensino aprendizagem se torna
diferenciado e melhor. (PROF6).

Educação no século XXI - Volume 2


91

É, o Facebook é uma maneira boa da gente tá Também pudemos perceber tanto na fase de
trabalhando com os alunos, mas tem também aprofundamento teórico, quanto nas
as desvantagens que é uma coisa que tudo atividades iniciais da pesquisa de campo, que
dá pra ser trabalhado. Acho que colocando a estrutura e o funcionamento dos laboratórios
regras já. [...] É uma maneira muito legal de de informática nas escolas ainda representa
trabalhar com eles. Eu vejo assim que é um um entrave para a utilização escolar da
fator determinante em tudo isso é o fator internet e de todas as sua aplicações. Em
motivacional. (PROF10). nossa experiência a velocidade da internet foi
um complicador;
Pelas respostas obtidas podemos perceber a
expectativa de que o Facebook possa Reação positiva das participantes ao formato
colaborar despertando a atenção e mantendo de intervenção da pesquisa, que se
a motivação dos alunos, ainda que os concretiza pelas trocas proporcionadas pelas
possíveis problemas deste uso tenham sido oficinas de aprendizagem, está sendo um
considerados. fator incentivador para a investigação,
sinalizando que nossas proposições podem
estar em um caminho certo, e que ao fim
6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES deste trabalho poderemos ter, de alguma
forma, contribuído para o fazer docente das
Na realização do estado do conhecimento
participantes, incentivando o uso do
pudemos perceber que a maioria dos
Facebook direcionado à aprendizagem e ao
trabalhos analisados consideraram positiva a
desenvolvimento cognitivo.
introdução e permanência das redes sociais
on-line nas diversas práticas docentes;

REFERÊNCIAS
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Análise de conteúdo. Brasília: Plano Editora. 2003 &pid=S1517-
[2]. LEONTIEV, Alexei. Desenvolvimento do 97022005000300009&lng=pt&nrm=iso>. Acessos
psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. em: 19 maio 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1517-
[3]. LÈVY, Pierre. Educação e cibercultura In: 97022005000300009.
Cibercultura São Paulo: Editora 34, 1999. [6]. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação
Disponível em: social da mente. 6. ed. Trad. José Cipolla Neto,
http://www.sescsp.org.br/sesc/images/upload/conf Luis S. M. Barreto e Solange C. Afeche. São Paulo:
erencias/29.rtf. Acessado em: 15 maio 2015, p.1- M. Fontes, 1998.
13. [7]. ________. A transformação socialista do
[4]. OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: homem. URSS: Varnitso, 1930. Marxist Internet
aprendizado e desenvolvimento, um processo Archive. Trad. Nilson Dória. MIA, 2004. Disponível
sócio-histórico 4. ed. São Paulo: Scipione, 2002. em:
[5]. TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma <https://marxists.anu.edu.au/portugues/vygotsky/1
introdução metodológica. Educ. Pesqui., São 930/mes/transformacao.htm > Acessado em: 30
Paulo, v. 31, n. 3, dez. 2005 . Disponível em: abr. 2015.

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CAPÍTULO 13

Rosana Ferreira de Alencar


Maria Eunice Diniz Pereira
Antonia Arisdélia Fonsceca Matias Aguiar Feitosa

Resumo: O livro didático de Biologia tem se tornado, na maioria das escolas, o


único material de apoio utilizado pelo professor no Ensino Médio. Na maioria das
vezes os autores apresentam os temas desvinculados da realidade vivida pelo
aluno de modo que não atendem as necessidades de desenvolvimento de
habilidades almejado pelos objetivos da educação. Assim a aplicação de
modalidades diferenciadas consiste em uma importante ferramenta para auxiliar no
processo ensino-aprendizagem. Baseado nestas afirmações o presente trabalho
visou analisar a aplicação dos conteúdos de Biologia no Ensino Médio na
E.E.E.F.M. Professor Crispim Coelho, buscando apresentar alternativas
complementares ao livro didático através da utilização de modalidades didáticas
diferenciadas. Foram realizados estudos bibliográficos, aplicação de questionário e
oficinas elaboradas a partir de conteúdos selecionados, que constaram de
experimentos, demonstrações, atividades práticas e simulações. As atividades
desenvolvidas durante o estágio supervisionado possibilitaram analisar as
limitações apresentadas no desenvolvimento das aulas de Biologia em uma turma
do 1o ano do Ensino Médio onde o livro adotado na escola é utilizado como única
fonte de recurso didático e apresentar alternativas através da aplicação de
modalidades didáticas diferenciadas. Esse estudo apontou ainda que quando são
desenvolvidas atividades mais dinâmicas que permitem a participação ativa do
aluno, as competências, habilidades e capacidade de superar alguns desafios são
aflorados favorecendo um melhor aprendizado no desenvolvimento do processo
educativo.
Palavras – chave: Livro didático. Modalidades. Ensino de Biologia.
Educação no século XXI - Volume 2
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1 INTRODUÇÃO alternativa ao uso de metodologias


tradicionais no ensino de Biologia e mostrar
O desafio de tornar o ensino de Biologia mais
que materiais simples e atividades que
significativo e atrativo para o aluno tem
estimulam a participação do aluno tornam-se
acompanhado toda a vida profissional da
grandes aliados no processo
maioria dos professores dessa disciplina.
ensino/aprendizagem.
Porém, muitas escolas ainda estão presas ao
tradicionalismo do quadro, giz e livro didático
como recursos pedagógicos em busca da
2 PERSPECTIVAS ATUAIS PARA O ENSINO
“dinâmica” em aulas expositivas com mínima
DE BIOLOGIA
participação dos alunos. Nesse contexto o
aluno se torna um mero expectador do A Lei de Diretrizes e Base da Educação
processo e o professor passa a ser visto Nacional (LDB), Nº 9.394/96, Art. 22
como o detentor do saber. estabelece: “a educação básica tem por
finalidades desenvolver o educando,
O ensino “enciclopédico”, de simples
assegurar-lhe a formação comum
memorização não traz significado para o
indispensável para o exercício da cidadania e
aluno, em consequência, não promove a
fornecer-lhe meios para progredir no trabalho
construção de um conhecimento
e em estudos posteriores”. Com relação ao
contextualizado ao seu cotidiano. O aluno
ensino médio a LDB em seu Art. 35 afirma que
deve ser estimulado a estabelecer relações, a
tem como uma das finalidades: “o
compreender “causa e efeito” e perceber o
aprimoramento do educando como pessoa
avanço da ciência, mas também a ação do
humana, incluindo a formação ética e o
homem sobre a natureza e as consequências
desenvolvimento da autonomia intelectual e
sobre o contexto social (LEPIENSKI; PINHO,
do pensamento crítico”.
2011).
Embora a LDB expresse a necessidade da
O mundo globalizado e as muitas tecnologias
busca de métodos que venham a enfrentar os
existentes tornaram-se grandes desafios para
desafios impostos pelos processos globais e
os profissionais em educação. Os alunos
pelas transformações sociais e culturais da
estão cada vez mais “antenados” e a
sociedade contemporânea, na área das
metodologia tradicional não tem mais espaço
ciências biológicas, o ensino de Biologia se
nesta sociedade tecnológica. Porém, muitos
organiza ainda hoje de modo a privilegiar o
dos recursos considerados “fora de moda”
estudo de conceitos, linguagem de maneira
como produção de cartazes, colagem entre
conservadora, tornando as aprendizagens
outros, nesses tempos de tecnologia explícita
pouco eficientes para interpretação e
podem ser utilizados para enriquecer os
intervenção na realidade.
conteúdos trabalhados. Esses recursos
podem ser aplicados em modalidades A prática pedagógica caracteriza-se por uma
didáticas diferenciadas para estimular a estrutura sistemática, onde predomina o nível
curiosidade, criatividade, trabalho em equipe descritivo. Neste contexto os conteúdos são
e consequentemente a aprendizagem do trabalhados de maneira desvinculada da
aluno. realidade e das questões sociais que fazem
parte do cotidiano do aluno. Essa metodologia
O uso de modalidades didáticas
tem como reflexo a mera memorização dos
diferenciadas é uma alternativa para que o
conteúdos. Tornando a prática educativa
ensino de Biologia se torne algo que venha a
pouco produtiva.
valorizar as habilidades e competências do
aluno contribuindo para estruturação das De acordo com Vigotsky (2000), os conceitos
chamadas modalidades estruturais da científicos não são assimilados, nem
inteligência que desempenham um papel decorados, nem memorizados, eles surgem e
importante na inserção do indivíduo na se constituem por meio de uma imensa tensão
sociedade em que vive principalmente no de toda a atividade do próprio pensamento.
contexto da ciência e tecnologia preparando-
Para Vale (2009), o poder do transformador
o para os desafios da realidade do cotidiano
do conhecimento é inquestionável. A ciência é
no qual está inserido.
uma prática social relevante e necessária
O presente trabalho tem como objetivo relatar constituindo a forma mais eficiente de gerar
a experiência em sala de aula do uso de conhecimento significativo no âmbito das
modalidades didáticas diferenciadas como sociedades contemporâneas. O papel do

Educação no século XXI - Volume 2


94

ensino de Biologia diante desta realidade a utilização de metodologias no ensino de


também é inquestionável, pois a mesma Biologia que responda as muitas questões
quando trabalhada de forma atraente e que os conhecimentos prévios dos alunos
significativa contribui para formar sujeitos despertam, é o chamado conflito cognitivo.
críticos e atuantes, por meio de conteúdos Para Trivelato e Silva (2011) o conflito
que ampliem seu entendimento acerca dos cognitivo nada mais é que fazer com que o
fenômenos da vida, seu objeto de estudo. indivíduo perceba a inadequação de suas
hipóteses diante dos novos problemas. É uma
transformação de ideias através da reflexão,
3 DESAFIOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO DE questionamentos, informações correta e
BIOLOGIA pesquisas alternativas.
A sociedade atual está voltada para as muitas Dessa forma o ensino de Biologia cumpre seu
tecnologias existentes e sofre os efeitos da papel no contexto social e escolar que é
globalização onde parte da população tem contribuir para a formação de indivíduos
acesso irrestrito aos avanços tecnológicos e capazes de refletir sobre as muitas situações
científicos enquanto outra parte da população impostas pelo contexto de vida que ele faz
sofre com a desigualdade social que muitas parte.
vezes priva as pessoas de uma boa
qualidade de vida e educação adequada.
Essa desigualdade entre pessoas que 4 MODALIDADES PEDAGÓGICAS E USO DE
ocupam o mesmo espaço físico constitui um RECURSOS DIDÁTICOS NA ESCOLA
dos grandes desafios do ensino na atualidade
A utilização de práticas inovadoras através da
que é proporcionar a todos uma educação de
aplicação de modalidades pedagógicas
qualidade.
variadas relacionadas ao contexto escolar
Diante dessa realidade o ensino de Biologia que envolve desde o método expositivo como
deve buscar uma redefinição de valores, também modalidades mais dinâmicas que
conceitos e princípios para tornar o processo proporcionam a participação efetiva dos
ensino/aprendizagem mais dinâmico e alunos e recursos como PowerPoint, cartazes
condizente com as expectativas dos alunos. (produzidos por professor e alunos), músicas,
filmes e documentários, podem fazem a
Para Tozoni-Reis (2008) a preocupação com
diferença na aprendizagem, funcionando
as metodologias de ensino, as técnicas de
como auxiliares ao livro didático.
instrumentalização que facilitem a
compreensão e organização dos processos Cada modalidade deve adequar-se ao
educativos devem está sempre presentes no conteúdo abordado. Krasilchick (2008) aponta
campo educacional. algumas dessas modalidades pedagógicas
atribuídas em sala de aula, são elas: Aula
Transformar essas expectativas dos alunos
expositiva – tem a função de informar os
em realidade é um desafio que implica na
alunos; permitem ao professor transmitir suas
inovação das metodologias vivenciadas em
ideias enfatizando os aspectos que são
sala de aula. Desenvolver e aplicar
importantes e empregando o ensino com
modalidades didáticas que possam
entusiasmo que tem pela matéria. Servem
transformar o ensino de Biologia em algo
para introduzir um assunto novo; Discussões
realmente condizente com a realidade e os
– é um convite ao raciocínio. Nessa
anseios da sociedade moderna. Atender às
modalidade há o diálogo entre professor e
demandas atuais exige uma reflexão profunda
aluno cujo objetivo é fazer o estudante
sobre os conteúdos abordados e sobre os
participar de atividades de investigação;
encaminhamentos metodológicos propostos
Demonstrações – servem para apresentar à
(BORGES; LIMA; MENEGASSI, 2007).
classe técnicas, fenômenos, espécimes, etc.
Trivelato e Silva (2011), afirma que para um A utilização de demonstração é justificada em
processo ensino e aprendizagem eficiente faz casos em que o professor deseja economizar
necessário o planejamento das atividades de tempo ou não dispõe de material em
modo a aproveitar, complementar, quantidade suficiente para toda a classe;
desenvolver e transformar ideias, teorias e Aulas práticas – despertar e manter o
conhecimentos prévios dos alunos. interesse dos alunos; envolver os estudantes
em investigações científicas; desenvolver
Para que o aluno possa se adequar aos
problemas; compreender conceitos básicos;
anseios da sociedade atual faz-se necessário
desenvolver habilidades; Excursões – nesse

Educação no século XXI - Volume 2


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tipo de estudo, os alunos devem ter um levantamento bibliográfico; entrevistas com


problema para resolver, e em função dele, pessoas que tiveram experiências práticas
observar e coletar dados; Simulações – com o problema pesquisado; análise de
atividades em que os participantes são exemplos que estimulem a compreensão
envolvidos, como por exemplo, os jogos cuja objetivando a maior familiaridade com o
função é auxiliar a memorização de fatos e problema, tornando-o explícito, ou
conceitos; Instrução individualizada – favorecendo a construção de hipóteses (GIL,
atividades em que o aluno tem liberdade para 1991 apud KAUARK, 2010, p.29).
seguir sua própria velocidade de
Segundo Abílio e Sato (2012) a Pesquisa
aprendizagem. Situam-se vários tipos de
Bibliográfica envolve consulta a fontes de
trabalhos escolares: a instrução programada,
referências (livros, periódicos científicos, etc.)
os estudos dirigidos e, projetos; Projetos –
para obtenção de informações sobre
atividades executadas por um aluno ou uma
determinado assunto buscando assim,
equipe para resolver um problema e que
consolidar os conhecimentos.
resultam em um relatório, um modelo. Os seus
objetivos educacionais mais importantes são Como base preparatória para a aplicação e
o desenvolvimento da iniciativa, da execução das atividades foi feito o estudo do
capacidade de decidir e da persistência na Projeto Político Pedagógico da escola para
execução de uma tarefa. obtenção de dados que servissem de base
para a escolha e elaboração das atividades a
Porém, o emprego de qualquer modalidade
serem desenvolvidas em sala de aula.
deve ser previamente planejado e
selecionado de acordo com o objetivo que se Após um período de observação de aulas, um
deseja alcançar. Trivelato e Silva (2011) total de 06 (seis) aulas, foi escolhida a turma e
reforça que o emprego de qualquer recurso os temas a serem trabalhados respeitando o
didático requer, antes de tudo, uma análise planejamento e a sequência de conteúdos
competente do material disponível, fazendo estabelecidos pela professora titular da
que o mesmo atenda aos objetivos do disciplina. Essa escolha dos temas teve como
planejamento educacional. guia o livro didático adotado na escola,
“Biologia Hoje” de autoria de Sérgio Linhares
Esses recursos atuam como inovações
e Fernando Gewandsznajder.
tecnológicas que agregam conceitos
didáticos e pedagógicos, como exigências Os temas escolhidos foram: água e seres
das novas filosofias e/ou metodologias de vivos; proteínas; uma visão geral da célula. As
ensino necessárias a reformulação da prática modalidades foram selecionadas de acordo
docente (FREITAS, 2007). com os objetivos propostos para cada tema e
a viabilidade de aplicação, sempre
A utilização de modalidades diversificadas
ressaltando as deficiências e necessidade de
que não estão presas aos currículos, muitas
aprendizagem do aluno. Para execução das
vezes impostos pelas escolas, para a
atividades foram realizados estudos
apresentação dos conteúdos de Biologia
bibliográficos baseados na literatura
pode proporcionar uma participação ativa dos
especializada para formação da base
alunos através de reflexões e discussões,
conceitual, seleção de modalidades didáticas,
relacionando a teoria e a prática fazendo com
a elaboração de planos de aulas e de roteiros
que o aluno se torne um sujeito efetivo do
das atividades práticas.
processo de ensino e aprendizagem.
As atividades foram aplicadas na forma de
oficinas e as modalidades didáticas utilizadas
5 METODOLOGIA foram aulas expositivas, atividades
demonstrativas, experimentais, simulação,
O presente trabalho, de cunho qualitativo, foi
utilização de recursos audiovisuais de acordo
desenvolvido na Escola Estadual de Ensino
com as necessidades de cada tema
Fundamental e Médio Professor Crispim
selecionado.
Coelho na cidade de Cajazeiras-PB no
período de maio de 2013 a março de 2014.
Foi desenvolvido junto ao professor de
6 RESULTADOS
biologia e alunos do 1º ano do ensino médio.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e
Como abordagens metodológicas foram
Médio Professor Crispim Coelho, onde o
adotadas: o estudo exploratório e a pesquisa
estudo foi desenvolvido, apresenta uma boa
bibliográfica. O estudo exploratório envolve

Educação no século XXI - Volume 2


96

estrutura física e recursos disponíveis como conteúdos são apresentados de forma


sala de vídeo, laboratório de ciências, resumida deixando uma lacuna no que se
biblioteca, laboratório de informática com 14 refere a complementação de informações.
computadores, auditório, quadra de esportes, Assim ficou claro que esse material didático
além de dispor de retroprojetor, Datashow, não pode ser utilizado como única fonte de
máquina de xérox, computador, TV, micros recurso, necessitando de um complemento
system, internet, mimeógrafo e aparelho de conceitual e metodologias que auxiliem no
DVD que estão disponíveis para os trabalho dos conteúdos com os alunos.
professores e podem ser utilizados na
Na aplicação das oficinas foram utilizadas
realização de atividades diferenciadas como,
modalidades didáticas diferenciadas de
aulas práticas, pesquisas na internet,
acordo om o conteúdo selecionado.
atividades lúdicas como jogos, gincanas entre
outras atividades que possam aprimorar o Na primeira oficina foi trabalhado o tema
processo ensino-aprendizagem. “Tensão superficial da água”. As atividades
realizadas com materiais simples como
Quanto aos aspectos pedagógicos, a escola
objetos de diferentes formas e peso,
dispõe de um Projeto Político Pedagógico -
detergente e água proporcionou um debate e
PPP o qual foi elaborado com a colaboração
com os devidos esclarecimentos referentes ao
de gestores, professores e comunidade. Este
fato de que a tensão superficial da água é a
documento constitui a base de funcionamento
responsável para que os objetos colocados
das atividades curriculares. Consta ainda de
na água não afundassem, e o rompimento das
uma equipe de apoio pedagógico
ligações entre as moléculas com a adição de
envolvendo: coordenação pedagógica e
detergente aumentou ainda mais a
orientação educacional. O PPP representou
curiosidade deles. Complementando a oficina
neste estudo uma importante fonte de
e para reforçar os conceitos sobre tensão
informações orientadoras para o planejamento
superficial os alunos foram desafiados a fazer
e execução das atividades.
espetinhos com bexiga de ar cheia. A
Através da observação das aulas foi possível descontração e os debates acerca do fato da
conhecer a metodologia e recursos didáticos resistência do material proporcionaram
utilizados pela professora titular no momentos de grande riqueza quanto a
desenvolvimento de suas atividades. Foi participação, interação e compreensão do
constatado que apesar do bom domínio de conteúdo trabalhado.
conteúdo a metodologia adotada é
Durante a execução da oficina alguns alunos
tradicionalista. A mesma afirmou que, mesmo
que a princípio se mostraram menos
a escola dispondo de um espaço para a
receptivos, depois de certo tempo se
realização de atividades práticas de Ciências
envolveram na atividade fazendo
e Biologia, esta não o utiliza devido à falta de
questionamentos e participando ativamente
um apoio de pessoal na organização do
da aula. Mostrando que para a realização de
ambiente e ausência de tempo para o preparo
uma atividade diferenciada não há
de atividades extra. Ficou claro que durante
necessidade de recursos sofisticados, mas,
as aulas, embora houvesse um bom
um bom planejamento e condução do
relacionamento interpessoal, muitos alunos se
processo.
mostraram distraídos e não atendiam
satisfatoriamente aos questionamentos A segunda oficina sobre “proteínas” foi
levantados pela professora. Mostrando que, recebida pelos alunos de maneira diferente.
mesmo procurando uma contextualização de Os mesmos estavam curiosos quando ao que
conteúdos o método tradicional, na maioria seria trabalhado. Todos se mostram atentos a
das vezes, não promove uma maior exposição teórica e aos procedimentos
participação e interação do aluno. realizados.
Após observação das aulas foram aplicadas Para exemplificar o processo de
as atividades proposta no projeto, onde os desnaturação das proteínas foi utilizado ovo e
conteúdos trabalhados seguiram o álcool como materiais alternativos, a
cronograma curricular da escola. Os curiosidade quanto aos resultados favoreceu
conteúdos foram selecionados do livro a realização de debates sobre outros
“Biologia Hoje”, volume 1 (um) o qual exemplos do nosso cotidiano em que
apresenta uma boa sequência de conteúdos, podemos observar tais fenômenos.
exemplos contextualizados, figuras ilustrativas
e boa classificação conceitual, porém os

Educação no século XXI - Volume 2


97

Em um segundo momento da oficina, descontraída reforçar os conteúdos


utilizando bexigas de ar de cores diferentes, trabalhados nas aulas expositivas.
os alunos fizeram simulação das estruturas
Ao final de cada atividade foi aplicado um
das proteínas, primária, secundária, terciária e
exercício para acompanhamento da evolução
quaternária. Durante a realização da atividade
dos alunos ao longo da aplicação do projeto
observou-se o envolvimento de todos os
na escola. Os resultados foram gratificantes e
presentes reforçando o fato da importância da
mostram uma considerável evolução quanto a
realização de aulas inovadoras voltadas para
compreensão dos conteúdos trabalhados.
a contextualização de conteúdos.
A aplicação das modalidades didáticas
Em uma terceira atividade sobre o tema
ressaltou a necessidade de incorporar
“proteínas” os alunos foram convidados a
recursos criativos e que despertem o
construírem modelos moleculares de
interesse dos alunos para o que está sendo
proteínas com bolas de isopor e palitos de
trabalhado em sala de aula como também
dente. Assim de maneira prática e com
estimulem a participação dos alunos.
materiais simples, os alunos puderam
Segundo Rosa (2012) o aluno precisa interagir
visualizar como é a estrutura molecular de
concreta e efetivamente com os objetos de
uma proteína onde cada elemento
estudo para transformá-los em aprendizagem
representava um componente sendo: palito -
significativa. Isso ficou evidente durante a
ligação peptídica e bolinha de isopor -
realização das oficinas, os alunos que a
aminoácido. Após o processo de confecção
princípio de mostraram ressabiados aos
do modelo molecular foi aplicado um
poucos foram se envolvendo no processo e
exercício para ser resolvido em dupla
ao final da aplicação do projeto a participação
estimulando a cooperação e o trabalho em
foi efetiva. Os alunos demonstraram em
equipe.
muitos momentos entusiasmo na realização
Através dessa atividade lúdica onde foram das atividades e responderam bem aos
utilizados materiais de baixo custo foi possível estímulos lançados.
observar que, mesmo conteúdos de natureza
complexa para os alunos se torna mais fácil
de ser compreendido. Além de proporcionar 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
momentos de interação e descontração
As atividades realizadas possibilitaram avaliar
atrelados ao aprendizado.
a importância do uso de modalidades
O vídeo “O pálido ponto azul” o qual faz uma diferenciadas nas aulas de Biologia para uma
relação da Terra com o Universo com a melhor aprendizagem por parte dos alunos.
finalidade de explorar uma visão mais Dessa forma, é possível fazer uma aula
generalizada acerca do tema célula provocou diferenciada que envolva os alunos de
muitos questionamentos por parte dos alunos maneira que eles sintam-se agentes do
que foram devidamente esclarecidos, processo e não apenas meros espectadores.
indicando que os mesmos estavam atentos a
A metodologia tradicional voltada apenas
atividade. Isso confirma que recursos simples
para a aula expositiva baseada em livro
e atividades bem planejadas tornam-se um
didático que muitas vezes não atende as
recurso importante como complemento
necessidades de aprendizagem do aluno,
temático. A utilização de vídeos como recurso
ainda é uma realidade muito presente na
didático trás bons resultados quando esse
maioria das escolas. Mas a utilização de
recurso é devidamente aplicado, pois quando
modalidades didáticas diferenciadas esbarra
isso não acontece pode se tornar apenas um
obstáculos como a resistência dos
mero instrumento de diversão.
professores que alegam falta de ambiente
Como atividade final, divididos em pequenos adequado, material ou tempo para elaboração
grupos, os alunos foram convidados a montar de atividades. Porém a aplicação do projeto
modelos de células eucarióticas e mostrou que os recursos didáticos
procarióticas com materiais comuns como, diferenciados, aplicados além do livro
por exemplo, isopor, massa de modelar e tinta didático, enfatizando conceitos voltados para
guache. Os alunos participaram de maneira o cotidiano, estimulam a curiosidade dos
efetiva da atividade e tiveram a oportunidade alunos, promovendo um envolvimento efetivo
de utilizar seu talento na confecção de principalmente nas atividades demonstrativas
materiais e de maneira divertida e e experimentais.

Educação no século XXI - Volume 2


98

Assim, as modalidades didáticas podem ser processo educativo. Vive-se um momento em


consideradas como alternativas encontradas que a escola também é uma das convocadas
para valorizar a individualidade, interação a tomar posição diante da realidade de um
social, desenvolvimento da capacidade tempo dominado por diversas tecnologias,
intelectual, incentivando sempre a ajudando a construir as referências culturais,
participação dos alunos e proporcionando sociais e políticas para o discernimento dos
condições para que eles possam se manter estudantes em relação às suas inquietações e
em uma atitude reflexiva. necessidades.
É preciso prosseguir inventando e recriando
um novo jeito de organizar e de gerir o

REFERÊNCIAS
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1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da professores de Biologia têm a dizer sobre isso?
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[3]. BORGES, R. M. R.; LIMA, V. M. do R.; maio de 2015.
MENEGASSI, F. J. Conteúdos e estratégias de [9]. TOZONI-REIS, M. F. de C. Metodologias
ensino utilizadas em aulas de biologia. In: aplicadas à educação ambiental. 2. Ed. Curitiba:
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[5]. KAUARK, F. Metodologia da Pesquisa: pensamento e da linguagem. Tradução:Paulo
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[6]. KRASILCHICK, M. Prática de Ensino de
Biologia. 4º ed. São Paulo: Harper & Row do Brasil,
2008.

Educação no século XXI - Volume 2


99

CAPÍTULO 14

Tânia Santos de Jesus


Kenya Idamara Mendonça da Nóbrega
José Francisco de Santana
Flávia Priscila Souza Tenório

Resumo: Este trabalho visa relatar a experiência de um grupo de trabalhadores de


uma fundação pública do Estado de Sergipe, que atuam com ações de Educação
em Saúde e que experimentaram o desenvolvimento da pesquisa no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS). A inovação deste grupo de trabalhadores está em
fazer com que a ciência, que é muito valorizada em meios acadêmicos, mas é
negligenciada em outros espaços fora da academia, possa dialogar com as
necessidades dos serviços de saúde e consequentemente instituir mudanças no
cotidiano das práticas de trabalho no SUS. A metodologia utilizada foi o relato de
experiência desses trabalhadores, além de ter sido feito o resgate bibliográfico. A
ideia de trazer a ciência para um espaço de trabalho não acadêmico surgiu a partir
da parceria entre a Universidade Federal de Sergipe e a Fundação Estadual de
Saúde, onde devido ao êxito dessa parceria, conseguiu-se que uma das pesquisas
provenientes do Projeto Saúde em Gotas fosse contemplada no Plano Anual de
Ações de 2014 e com isso, outras pesquisas foram sendo geradas, nascendo
assim, o Núcleo de Produções Científicas da FUNESA, em 2014, e que atualmente
conta com 6 (seis) grupos de trabalho. O Projeto Ciências em Gotas qualificou
trabalhadores e resultou na produção de 5 projetos de pesquisa, mas foi com o
surgimento do NPC que surgiram mais 2 grupos de trabalho que estão gerando um
acúmulo de conhecimento e experiências para esses trabalhadores envolvidos e
um ganho científico para a instituição FUNESA.

Palavras-chave: Pesquisa Científica; Trabalhadores; Inovação.

Educação no século XXI - Volume 2


100

1 INTRODUÇÃO em projetos de pesquisas. Estes, foram


produzidos a partir das aulas do Projeto
Inovação é a palavra de ordem do século XXI,
Ciências em Gotas.
o que nos remete pensar como essa questão
é tratada nas organizações empresariais, A partir desses projetos, percebeu-se que
considerando as várias possibilidades de havia despertado, nesses trabalhadores, um
modelos gerenciais. É fato que indivíduos novo olhar para a pesquisa. Por isso,
inovadores possuem a energia vital para gerar necessitava-se de um local que pudesse
mudança e trazer à tona ideias que adequar essa nova ideia que estava
incrementam e fortalecem as instituições. nascendo, a de fomentar a pesquisa dentro
Entretanto, parece evidente que organizações de uma instituição que não possuía know how
pautadas em modelos gerenciais acadêmico, mas que estava se preparando
verticalizados não conseguem despertar os para este desafio. A produção científica no
trabalhadores para o desenvolvimento de espaço da FUNESA, inicialmente não foi
novas abordagens na solução de problemas. objeto de prioridade da gestão. Em 2014, no
O incremento da Educação Científica nas planejamento anual da FUNESA, essa ideia foi
organizações pode ser o incentivo necessário repensada e contemplada uma das pesquisas
para o despertar da energia vital em do projeto Ciências em Gotas, no Plano Anual
trabalhadores. de Atividades (instrumento onde são descritas
atividades que a FUNESA deve desenvolver
No Brasil, em final do século XX, a sociedade
anualmente, de acordo com o que foi
foi premiada com a promulgação de uma
contratualizado com a Secretaria de Estado
nova Constituição Federal (1988) que
da Saúde), entendendo que o resultado dessa
anunciou profundas mudanças no campo da
pesquisa é uma importante fonte para
Seguridade Social com a criação do Sistema
subsidiar a organização de políticas públicas
Único de Saúde (SUS) onde, em sendo uma
de Saúde no Estado de Sergipe.
política de Estado, todos os entes federados
estariam obrigados a implantá-lo e Nesse contexto, surge em 26 de junho de
implementá-lo dentro dos seus respectivos 2014, o Núcleo de Produção Científica (NPC),
territórios. E foi sob essa perspectiva que em o qual nasceu com 4 pesquisas a serem
2008, o Governo de Sergipe promoveu a desenvolvidas. Entretanto, apenas uma delas,
Reforma Sanitária e Gerencial do SUS a citada acima, entrou no Plano Anual de
estadual, por entender que havia Atividades de 2014; outras três foram
necessidades específicas que mereciam um demandadas pela Escola Técnica do SUS em
olhar diferenciado. A partir dessa Reforma, Sergipe – ETSUS/SE, que procuravam
surgiram três fundações estatais, dentre as verificar o perfil dos alunos e a qualidade dos
quais, a Fundação Estadual de Saúde – cursos oferecidos. Este fato, fez com que a
FUNESA, que possui como finalidade “prestar pesquisa tivesse maior legitimidade e que os
serviços de saúde de atenção básica, de trabalhadores pudessem dispor de tempo
promoção, prevenção e proteção da saúde para realizarem essa pesquisa, isso foi ao
coletiva e individual (...) devendo servir de mesmo tempo prazeroso e desafiador para os
campo de prática para ensino e pesquisa na trabalhadores que acreditaram nessa ideia. O
área da saúde” (SERGIPE, 2008). projeto que foi assumido como prioridade
pela FUNESA tem como objeto as ações
Por isso, a Fundação Estadual de Saúde
educacionais no âmbito da Saúde.
(FUNESA) surge com o objetivo de fomentar a
pesquisa no âmbito da Educação em Saúde Diante do exposto, este trabalho objetiva
no serviço público, na tentativa de modificar relatar a experiência de um grupo de
esse cenário em Sergipe. O primeiro passo trabalhadores que atuam com ações de
dado nesse sentido foi realizado através de Educação em Saúde na FUNESA e que
uma parceria entre a Universidade Federal de experimentaram o desenvolvimento de
Sergipe (UFS) e a FUNESA, a partir do projeto pesquisa no âmbito do SUS.
Ciências em Gotas, lançado pela
Coordenação de Pós-graduação da FUNESA
em 03 de maio de 2013. Esse projeto teve 2 REFERENCIAL TEÓRICO
como objetivo fazer com que os trabalhadores
Comenta-se muito sobre ciência. Entretanto,
da saúde se aproximassem da ciência. Para
ela desperta pouco interesse (MALDONATO;
tanto, foram apresentados vários conteúdos
DELL'ORCO, 2010), tampouco é esse valor,
pertinentes a produção científica para 18
que a inovação surge na tentativa de fazer
trabalhadores e o final dessa ação resultou

Educação no século XXI - Volume 2


101

com que a pesquisa deixe de fazer parte O exercício da pesquisa dentro do ambiente
exclusivamente do meio acadêmico e integre escolar possibilita ao aluno construir seu
outros espaços, para que a ciência não fique próprio conhecimento, considerando as
fechada em si mesma e com isso possamos singularidades de cada sujeito. Nesse ínterim,
ter informações relevantes e em conformidade compreende-se que “conhecimento pode ser
com a necessidade social. O que é produzido em todo lugar, dependendo, em
pesquisado no meio acadêmico é importante alguma medida, da iniciativa própria (...)”
para tal, no entanto, esses estudos nem (DEMO, 2010, p. 16), a exemplo do que
sempre dialogam com as necessidades dos fizeram alguns trabalhadores da FUNESA,
serviços de saúde e pouco contribuem para que apostaram na exploração desse campo
instituir mudanças de práticas no cotidiano do do conhecimento para crescimento próprio e
trabalho no SUS, dificultando assim a institucional, quando investiram na pesquisa
existência de indicadores que sirvam para a como uma prática importante de seu objeto
elaboração de políticas públicas, pois grande de trabalho. Isso porque, “teoricamente
parte das pesquisas são realizadas na falando, educação científica se apoia,
tentativa de cumprir protocolos para obtenção primordialmente, na expectativa da sociedade
de diplomas e ficam restritas às intensiva do conhecimento, reconhecendo
Universidades e Faculdades. que a produção de conhecimento inovador se
tornou, tanto mais, o divisor de águas em
O fomento à pesquisa e o desenvolvimento de
termos de oportunidades de desenvolvimento
ciência deveriam ser práticas comuns em
(CASTELLS, 1997; DUDERSTADT, 2003 apud
diversas instituições públicas de saúde, pois
DEMO 2010, p. 17)”. Desse modo, trata-se de
essas ações nos fazem revisar trajetórias,
crescimento individual, de oportunidade de
pensar em novos projetos e até adequar as
formular e reformular práticas, as quais
atividades em desenvolvimento. Esse é um
podem contribuir em seu cotidiano de
investimento em trabalhadores ainda pouco
trabalho.
reconhecido, pois pesquisar é um exercício
artesanal que exige tempo, fator esse, que Esse crescimento do trabalhador favorece o
nem sempre as organizações estão dispostas desenvolvimento de habilidades requeridas
a empreender. Drucker 1998 apud MENEZES; neste século. A esse sentido, ousamos afirmar
AMARAL (2010, p. 44) enfatiza que, “na que não basta ter o domínio técnico, é preciso
sociedade do conhecimento, investe-se cada também apresentar conhecimento científico,
vez mais no conhecimento do trabalhador e para poder criar, estar aberto ao novo, buscar
menos em máquinas e ferramentas, pois sem novas formas do fazer, ter espírito
ele as máquinas, por mais avançadas e investigativo e empreendedor. Entretanto,
sofisticadas que sejam, tornam-se como formar esse profissional com essas
improdutivas, traduzindo, assim, a habilidades, se o nosso processo educacional
importância dessa sociedade e seus reflexos vigente não estimula a pesquisa durante os
para a produtividade e inovação empresarial”. anos que o educando passa na escola, tendo
esse, raras vezes, apenas o primeiro contato
Espera-se que essa ideia de incentivo à
com pesquisa científica durante o curso de
pesquisa seja modificada ao longo dos anos,
Especialização? Sobre essa questão, Demo
ao tempo que espaços jamais imaginados
(2010) afirma que “(...) educação científica
como locais de pesquisa, a exemplo da
implica reconstruir toda nossa proposta de
escola, dão os primeiros passos à iniciação
educação básica, não só para realçar os
científica, utilizando de experimentos no
desafios da preparação científica para a vida
cotidiano das aulas. “A explosão tecnológica,
e para o mercado, mas principalmente para
especialmente com o advento da Internet, fez
implantar processos de aprendizagem
surgir novos espaços de aprendizagem,
minimamente efetivos. (…)”. (DEMO 2010, p.
colocando em evidência os sistemas formais
21)”.
de ensino. Responsáveis pela criação e
transmissão do conhecimento científico Nesse contexto, percebe-se portanto, a
valorizado pela sociedade, baseado na necessidade premente de investimentos em
eficiência e que tem alimentado o modo pesquisa, desde a vida escolar, a fim de que
capitalista de produção, as escolas e os sujeitos estejam implicados nessa prática e
universidades deixam de ser o centro desenvolvam novas habilidades voltadas à
institucionalizado do saber.” (MENEZES; pesquisa. Conforme assinala Demo (2010) “o
AMARAL 2010, p. 39). século XXI é marcado pela 'sociedade
intensiva do conhecimento'. Nessa

Educação no século XXI - Volume 2


102

perspectiva, dotar-se das 'habilidades do FUNESA. A formação do núcleo contribuiu


século XXI', é fundamental. Uma das para que as ações ocorressem de forma
habilidades requerida para tanto é lidar bem eficaz, possibilitando a realização de
com o conhecimento científico”. (DEMO 2010, prestação de contas para a Secretaria de
p.20). Estado da Saúde - SES com maior
embasamento, além de ter contribuído
Sendo assim, faz-se necessário produzir
também para que o Estado de Sergipe
novos conhecimentos tornando a pesquisa
melhorasse o desempenho e a qualificação
uma prática cotidiana na escola e no trabalho,
dos seus profissionais.
e não apenas na academia, que é o espaço
atualmente institucionalizado e legitimado O Núcleo de Produção Científica da FUNESA
para desenvolver investigação científica, pois compõe uma das ações da Coordenação de
“nunca podemos nos esquecer de que a Pós-Graduação (COPGR) e teve como
ciência é, sobretudo, uma construção social objetivos específicos: fomentar a produção
e, sendo assim, a produção do conhecimento científica nas áreas de Educação em Saúde e
científico se dá por meio de intensa nos serviços que integram a estrutura da
colaboração entre os diversos pesquisadores fundação; centralizar a produção científica no
de cada área específica” (APPOLINÁRIO, âmbito da FUNESA; desenvolver estratégias
2006, p.53). que possibilitem a participação dos
profissionais no desenvolvimento de
pesquisas científicas e viabilizar a execução
3 METODOLOGIA de pesquisas científicas demandadas pela
Diretoria Executiva da FUNESA.
O presente trabalho é um relato de
experiência. Em sua elaboração, além do O NPC possui regimento próprio que orienta a
relato das atividades desenvolvidas, foi feito sua dinâmica de funcionamento. É composto
também um resgate bibliográfico, com leitura por 06 (seis) grupos de trabalhos: Grupo de
de livros e periódicos voltados a vários temas, Pesquisa sobre o Sistema de Informação de
entre eles: Conhecimento Científico; Pesquisa Mortalidade (SIM); Grupo de Pesquisa do
Inovação, dentre outros. Em seguida, passou- Curso Técnico de Enfermagem; Grupo de
se à produção do artigo, tendo por base o Pesquisa do Curso Técnico em Vigilância em
percurso da instituição no campo da Saúde; Grupo de Pesquisa do Curso Técnico
pesquisa. em Prótese Dentária; Grupo de Pesquisa
sobre Absenteísmo; Blog Observatório do
A prática científica no âmbito da FUNESA foi
SUS. Esses grupos se reúnem
instituída com os seguintes objetivos:
quinzenalmente para tratar de aspectos das
institucionalizar a discussão científica;
pesquisas.
fomentar a prática científica no cotidiano do
trabalho; estimular os trabalhadores da As pesquisas dos cursos técnicos e do
instituição para a elaboração de projetos de Sistema de Informação sobre Mortalidade
pesquisa; submeter projetos para partiram do registro da percepção do aluno-
financiamento junto a instituições trabalhador, seguido do valor e sentido da
fomentadoras. capacitação ou do curso e o resultado no seu
mundo de trabalho, tendo como proposta
Nessa perspectiva, foi criado o projeto
para síntese dos dados a análise de conteúdo
Ciências em Gotas, o qual teve por objetivos:
proposta por Minayo (2007).
propiciar ao quadro técnico da instituição o
aperfeiçoamento em metodologia científica e Quanto ao NPC, a dinâmica de trabalho
oferecer subsídios teóricos e práticos para o acontece mensalmente em reuniões
aprimoramento de competências e ordinárias, com a presença dos
habilidades que visem diminuir a carência de pesquisadores dos grupos, quando são
apropriação da metodologia científica. tratados temas relativos ao desenvolvimento
das pesquisas. Cada grupo possui um líder, o
Posteriormente, para que todas as áreas
qual tem a função de apresentar nessas
educacionais da FUNESA pudessem permear
reuniões o andamento de cada uma das
suas práticas mediante propostas com
pesquisas.
respaldo técnico-científico, foi criado o Núcleo
de Produção Científica da FUNESA. A Essa foi, portanto, uma experiência da prática
implementação do referido núcleo, teve de pesquisa vivenciada por trabalhadores de
dentre outras finalidades, gerir toda a educação em Saúde que investiram na arte
produção científica que foi estimulada pela

Educação no século XXI - Volume 2


103

da produção científica e se dedicaram a esse 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


trabalho desde a criação do NPC.
Essa experiência resultou na qualificação de
profissionais do SUS na prática de pesquisas
experimentadas. A produção gerou um
4 RESULTADOS
acúmulo de conhecimentos e experiências
O projeto Ciências em Gotas qualificou para esses trabalhadores envolvidos na
trabalhadores e resultou na produção de 05 pesquisa e um ganho científico para a
projetos de pesquisa. instituição FUNESA que hoje tem um grupo
com membros de diversas coordenações da
As 03 (três) pesquisas dos cursos técnicos
área de educação em saúde, que se dedicam
estão relacionadas ao perfil do discente e à
a prática da pesquisa e que priorizam esse
qualificação na formação desses cursos.
fazer no seu cotidiano do trabalho.
Essas encontram-se em fase de construção
textual do artigo para publicação em revista Pesquisar sempre, mas não de forma
científica. Enquanto que a pesquisa sobre o amadora. A prática de pesquisa em
Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) instituições como a FUNESA, deve ser
está com seu artigo em fase de revisão para realizada com a anuência do gestor, deve ser
fins de publicação também em periódico. agenda prioritária e não secundária, pois já
está claro que é com a pesquisa que seremos
O Blog Observatório do SUS está em
capazes, enquanto trabalhadores do SUS, de
constante produção, com a publicação de
ofertar indicadores para formulação de
textos reflexivos sobre o SUS; comentários
políticas pública de saúde
sobre temas atuais da Saúde; socialização de
agendas dos cursos ofertados para os
trabalhadores do SUS em Sergipe.

REFERÊNCIAS n.1 (jan./abr. 2010) Rio de Janeiro:


Senac/Departamento Nacional/Gerência de
[1]. APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da Marketing e Comunicação, 1974 (p. 15-25).
Ciência: filosofia e prática da pesquisa. São Paulo: [5]. MALDONATO, Mauro; DELL'ORCO, Silvia.
Pioneira Thomson Learning, 2006. Criatividade, pesquisa e inovação: o caminho
[2]. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio surpreendente da descoberta. In. Boletim Técnico
do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. do Senac: a revista da educação profissional.
10. ed. - São Paulo: Hucitec, 2007. Senac Departamento Nacional. v. 36. n.1 (jan./abr.
[3]. SERGIPE. Lei nº 6.348 de 02 de janeiro de 2010) Rio de Janeiro: Senac/Departamento
2008 que dispõe sobre a autorização para a Nacional/Gerência de Marketing e Comunicação,
criação da Fundação Estadual de Saúde – 1974 (p. 5-13).
FUNESA e dá providências correlatas. Publicado [6]. MENEZES, Ronaldo Amaral; AMARAL,
no Diário Oficial nº 25.424 de 03 de janeiro de Miriam Maia do. Educação corporativa mediando
2008. Aracaju, 2008. Disponível em: racionalidades e flexibilizando organizações. In.
<http://www.saude.se.gov.br/userfiles/lei_n_6348_d Boletim Técnico do Senac: a revista da educação
e_02_jan_2008__dispe_sobre_a_autorizao_para_cri profissional. Senac Departamento Nacional. v. 36.
ao_da_fundao_estadual_de_sade__funesa.pdf>. n.1 (jan./abr. 2010) Rio de Janeiro:
[4]. DEMO, Pedro. Educação Científica. In. Senac/Departamento Nacional/Gerência de
Boletim Técnico do Senac: a revista da educação Marketing e Comunicação, 1974 (p. 5-13).
profissional. Senac Departamento Nacional. v. 36.

Educação no século XXI - Volume 2


104

CAPÍTULO 15
Ana Paula Nunes Braz Figueiredo
Amanda Barbosa da Silva

Resumo: Este estudo é uma análise de uma atividade realizada com alunos do
segundo período do curso de licenciatura em Química da Universidade Federal de
Pernambuco, com o intuito de promover a aprendizagem de cônicas a partir da sua
construção, tendo como recurso o software GeoGebra, por ser um software de fácil
manejo e gratuito, observando assim as vantagens e desvantagens do uso desta
tecnologia para a prática de ensino. A atividade consistiu da construção gráfica a
partir do software GeoGebra das curvas cônicas: elipse, parábola e hipérbole, a
partir de situações elaboradas pelos alunos, distribuídos em 7 grupos. Como o
GeoGebra permite o trabalho dinâmico com equações e suas respectivas
representações gráficas, os alunos puderam visualizar no gráfico os elementos de
cada cônica, e assim melhor compreender as suas propriedades. Os alunos
desenvolveram a atividade sem erro na representação, o que dá indícios de que o
uso do software nas aulas de Geometria analítica é de grande relevância para a
compreensão dos conteúdos.

Palavras chave: Cônicas. Geometria Analítica. GeoGebra.

Educação no século XXI - Volume 2


105

1 INTRODUÇÃO equação, a partir dos elementos


apresentados no gráfico, e outros mostraram
A presente pesquisa foi realizada em uma
diferentes cônicas, consideradas não
turma do segundo período do curso de
prototípicas, ou seja, aquelas não
licenciatura em Química da Universidade
habitualmente abordadas em sala de aula e
Federal de Pernambuco. A atividade foi
em livros didáticos.
aplicada com 7 grupos de alunos do segundo
período durante dois encontros presenciais A atividade foi elaborada com base na
de quatro horas aulas cada. Como já tinha proposta curricular do Parâmetro Curricular
sido trabalhado anteriormente o conteúdo de de Matemática de Pernambuco (PCPE), e
cônicas, (elipse, parábola e hipérbole), os serviu para a compreensão das cônicas de
grupos ficaram encarregados de desenvolver forma mais significativa, pois os alunos
atividades de criação própria sobre o tema, puderam retomar esse conteúdo sob outro
utilizando o software GeoGebra para a olhar, para além daquele abordado no ensino
construção e visualização das cônicas. Além e nos livros didáticos, qual seja, equações
disso, como são aconselhados a trabalhar a desprovidas de significado e dissociadas das
proposta curricular dos Parâmetros representações gráficas, e além do mais, o
Curriculares de Pernambuco (PCPE), como o uso do GeoGebra, por ser um software
professor deve utilizar o PCPE, esse dinâmico, proporciona um trabalho mais
documento também serviu como referência dinâmico e interativo com os alunos,
para a pesquisa. diferentemente do livro e do quadro branco.
A escolha de se trabalhar com um software O GeoGebra foi escolhido por ser um software
como o GeoGebra foi por permitir visualizar as livre, de fácil utilização e instalação. Porém,
cônicas observando nela as mudanças previamente às apresentações dos trabalhos,
provocadas ao modificar a sua realizamos uma explicação do manuseio do
excentricidade, além de entender as software para que os alunos ficassem
propriedades de cada cônica e seus familiarizados com o ambiente do software.
elementos, pois o GeoGebra torna possível
visualizar de forma dinâmica a representação
2 REFERENCIAL TEÓRICO
gráfica e algébrica das curvas, conforme as
atividades produzidas por cada grupo. O uso Consideramos que a teoria das
de softwares gratuitos como o GeoGebra na representações semióticas de Raymond Duval
escola tem sido uma prática incentivada pela é a mais apropriada para discutir a pesquisa.
educação matemática, pois diante do O estudo envolve o uso de dois registros, a
cotidiano dos alunos e da sociedade linguagem algébrica e a representação
informatizada que vivemos torna-se cada vez gráfica. O principal intuito da pesquisa é que
mais difícil não trabalhar com tal tecnologia. os alunos reconheçam nos dois registros o
Por apresentar um ambiente de mesmo objeto matemático. Segundo Duval
aprendizagem interativo e dinâmico, motiva os (2011), para a aquisição do conhecimento
alunos em busca do conhecimento, facilitando matemático é essencial a mobilização de ao
assim o processo de aprendizagem. menos dois registros, ou seja, é necessário
reconhecer o mesmo objeto matemático em
O conteúdo escolhido para aula foi o estudo da
diferentes sistemas de representação, ainda
representação gráfica de construções de
de acordo com o pesquisador Duval (2009,
cônicas. Cada grupo ficou responsável pela
p.29) “porque não há conhecimento que não
produção de três problemas, sendo cada um
possa ser mobilizado por um sujeito sem uma
referente a uma das cônicas estudadas, na
atividade de representação.”
qual se exigia o uso do software
paravisualização das construções e suas Em relação ao uso de softwares, o autor Duval
propriedades. Os grupos verificavam com o (2011), enfatiza que:
software se as equações dadas no enunciado
[...] eles constituem um modo fenomenológico
dos problemas propostos pertenciam às
de produção radicalmente novo,
cônicas, como por exemplo, davam a
fundamentado na aceleração dos
equação reduzida da elipse e a partir dela,
tratamentos. Eles exibem no monitor tão
tentavam construir a elipse utilizando o
rapidamente quanto à produção mental, mas
GeoGebra como ferramenta, ou encontravam
com uma potência de tratamento ilimitado em
os elementos da elipse já construída no
comparação com as possibilidades da
software e a partir daí, encontravam a sua
modalidade gráfico-visual. Obtemos,

Educação no século XXI - Volume 2


106

imediatamente, muito mais que tudo o que Hohenwarter, da Universidade de Salzburg,


poderíamos obter à mão livre, após, talvez em 2001, na Áustria, é conhecido e divulgado
vários dias de escritas e cálculos ou mundialmente em diversos eventos,
construções de figuras. (DUVAL, 2011, p. periódicos e institutos do GeoGebra. O
137) programa permite visualizar de forma
dinâmica e simultaneamente, o mesmo objeto
O uso de softwares como o GeoGebra pode
comaspectos geométrico, algébrico e de
apresentar vários benefícios para o ensino da
cálculo. De modo que, as representações
geometria, eles permitem a visualização e a
estão ligadas dinamicamente e adaptam-se
verificação de propriedades e experimentos
automaticamente às mudanças realizadas em
dinâmicos na tela do computador. Não
qualquer delas, independentemente da forma
estamos afirmando que os recursos como
como os objetos foram criados inicialmente. A
papel, lápis e instrumentos de desenho
figura 1 apresenta a tela inicial do GeoGebra
devem ser abandonados, mas que eles não
aonde podemos identificar três espaços
possibilitam tal atividade de maneira tão
principais: A linha de comando ou de entrada
dinâmica.
utilizada para digitação, a janela gráfica com
O GeoGebra é um software livre e portanto o plano cartesiano e a janela algébrica que
podemos ter acesso ao programa de forma apresenta as representações em linguagem
gratuita. Foi desenvolvido por Markus algébrica.

Figura 1 -software GeoGebra

Fonte: HOHENWARTER (2011,p.2)

3 METODOLOGIA No primeiro dia da atividade, explicitamos


como o software GeoGebra funcionava, suas
A atividade foi realizada em uma turma do 2º
ferramentas e comandos, e durante a
período do curso de Licenciatura em Química
atividade, os alunos se mostraram
do Centro Acadêmico do Agreste da
familiarizados com o GeGeobra e
Universidade Federal de Pernambuco. A
interessados nas representações que
maioria dos alunos estava cursando a
apareciam na tela do computador. O próprio
disciplina pela segunda vez. A escolha da
GeoGebra apresenta ferramentas que podem
turma se deu por ser uma turma na qual
ser usadas para a construção de elipses,
tínhamos acesso, e por ser a maioria
parábolas e hipérboles, mas eles poderiam
repetente, queríamos tornar o ensino de
realizar as construções mesmo sem tais
Geometria Analítica mais atrativo, e
ferramentas. Explicamos que há duas janelas
possibilitar a aprendizagem dos conteúdos,
de visualização, a algébrica e a gráfica, e
neste caso, de cônicas.

Educação no século XXI - Volume 2


107

como devemos escrever as equações das para a construção e visualização de objetos


cônicas que queríamos visualizar. matemáticos.
Nos outros encontros, os grupos
apresentaram os problemas elaborados por
4 RESULTADOS
eles, distribuíram folhetos com atividades para
serem discutidas em sala, resolveram no as Podemos observar que o uso do software
equações dadas e realizaram as construções GeoGebra favoreceu o ensino e a
com o software GeoGebra, detalhando cada aprendizagem dos conteúdos propostos pela
passo e suas propriedades. Puderam verificar atividade, além da aula tradicional de
também os teoremas propostos com o uso da Geometria Analítica. Os grupos mostraram-se
geometria dinâmica. capazes de manipular as ferramentas do
software adequadamente e assim
Exemplos de atividades elaboradas pelos
compreender a associação entre a equação
alunos:
dada das cônicas e sua representação
1) Determine a equação da parábola de geométrica. Além disso, os alunos puderam
vértice V(3,-1) sabendo que y-1=0 é a verificar teoremas a partir do uso da
equação de sua diretriz. geometria dinâmica que o software
proporciona, bem como propriedades das
2) Determine as coordenadas dos focos da
cônicas, como é o caso da elipse, na qual
elipse de equação 16x²+4y²=4.
quando aproximamos os focos, ela vai se
3) Determine a equação da hipérbole de “transformando” em uma circunferência. A
centro C(3, -2), vértice A1(1,-2) e A2 (5,-2), participação na aula e motivação dos alunos
sabendo que F(6,-2) é um de seus focos.. em realizar a atividade ficou evidente, até
mesmo pela dificuldade superada em se
Os alunos não apresentaram dificuldades para
trabalhar de forma diferente do que sempre
utilizar o GeoGebra, inclusive alguns
era realizado em sala de aula, pois os
formataram as cônicas utilizando a opção
resultados foram satisfatórios diante dos
espessura e usavam o rastro para desenhar a
trabalhos apresentados, nos quais alguns
cônica em questão. A maioria dos alunos
grupos construíram de forma não prototípica
relatou dificuldades para elaborar as questões
as cônicas referentes aos problemas dados, e
já que teriam que incluir o uso do software
conseguiram compreender tanto a
para as construções, porém realizaram as
representação gráfica (geométrica) quanto à
construções de maneira satisfatória. Tal
representação algébrica de cada cônica e
dificuldade seja decorrente da falta de se
suas propriedades, que de acordo com Duval
trabalhar com tal tecnologia, já que a maioria
(2011), a compreensão de dois registros
nunca tinha trabalhado com softwares
(algébrico e gráfico) dá indícios da aquisição
anteriormente às aulas de geometria analítica
do conhecimento matemático trabalhado.
vistas nesse período do curso de licenciatura,
Figura 2: Visualização da definição de elipse.

Educação no século XXI - Volume 2


108

Fonte: As autoras

Figura 3: Visualização dos elementos da


parábola.

Fonte: As autoras

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS conteúdo, assim como permitiu um melhor


interesse e interação entre os aluno durante as
É importante destacar que atividades como
aulas. Além disso, pudemos observar a partir
essa necessitam de um laboratório de
dos resultados obtidos nesta pesquisa que o
informática em boas condições e disponível,
GeoGebra, por permitir também a
algo que na maioria das instituições de ensino
representação de dois registros, favoreceu a
ainda não é a realidade. Além disso,
aprendizagem, de acordo com Durval (2011),
verificamos que os alunos não tiveram
o que demonstra a importância da inclusão
dificuldade em utilizar o GeoGebra, pois já
desse tipo de tecnologia para a
conheciam o programa e mesmo aqueles que
aprendizagem, de forma consciente, não só
não tinham muita habilidade com computador,
no ensino de Geometria, mas em outros
não apresentaram problema com o programa,
campos do saber.
que demonstra o fácil manuseio do software.
O GeoGebra facilitou a compreensão do

REFERÊNCIAS Organização: Tânia M. M. Campos.Tradução:


Marlene Alves Dias. São Paulo, 2011.Vol. 1. Ed.
[1]. DUVAL, Raymond. Semiósis e Proe
pensamento humano: Registros Semióticos e
aprendizagens intelectuais. São Paulo: Livraria da [3]. HOHENWARTER, Markus. Guia rápido de
Física, 2009. Tradução de: Lênio Fernandes Levy e referência sobre o GeoGebra. 2011. Disponível em:
Marisa Rosâni Abreu da Silveira. <www.geogebra.at> Acesso em: 15 Jun. 2015.
[2]. .Ver e ensinar a matemática de outra [4]. PERNAMBUCO. Secretaria de
forma. Entrar no modomatemáticode pensar: os Educação. Parâmetros Curriculares de Matemática
registros de representação semiótica. para o ensinFundamentae Médio. Pernambuco, 2012. Dispon

Educação no século XXI - Volume 2


109

CAPÍTULO 16
Fernanda Klein Marcondes
Lais Tono Cardozo
Kelly Cristina Gavião Luchi

Resumo: Jogos educacionais são estratégias úteis para promover a participação


ativa do aluno no processo ensino – aprendizagem. O objetivo deste estudo foi
avaliar o efeito do uso de um quebra-cabeça sobre o desempenho dos estudantes
em uma avaliação sobre a fisiologia do coração. Este estudo foi aprovado pelo
Comitê de ética em pesquisa institucional (protocolo 34/2015) e incluiu 65 alunos
de um curso de graduação em Odontologia. Os alunos assistiram a uma aula, de
50 min, sobre a fisiologia do coração, ao final da qual, foram orientados a estudar o
assunto em um livro didático. O tema a ser estudado incluía o conteúdo
apresentado na aula teórica, e também conteúdo que seria trabalhado na aula
seguinte. Foi informado que haveria uma avaliação na aula seguinte. E, no início da
segunda aula, um teste foi aplicado, antes da realização da atividade com o
quebra-cabeça. No início da terceira aula, o mesmo teste foi aplicado, e o conceito
obtido foi comparado com o conceito obtido antes da realização da atividade com
o quebra-cabeça. A comparação foi realizada por teste t de Student para amostras
pareadas (p<0,05). Na avaliação realizada após a atividade com o quebra-cabeça,
os alunos obtiveram conceito maior (7,04 ± 0,25), em relação ao conceito obtido
antes do uso do jogo (5,59 ± 0, 22). nas questões alternativas (após: 1,17 ± 0.16;
antes: 0,58 ± 0,14) e dissertativas (após: 6,66 ± 0,25; antes: 5,59 ± 0,22). Estes
dados indicam melhora do aprendizado com o uso do quebra-cabeça do ciclo
cardíaco.

Palavras-chave: jogo educacional, ensino superior, fisiologia cardíaca

Educação no século XXI - Volume 2


110

1 INTRODUÇÃO sobre a Fisiologia Cardíaca, e não tem


somente efeito motivacional.
Falta de motivação e engajamento de
estudantes estão entre os maiores problemas
2 REFERENCIAL TEÓRICO
da educação mundial (LEE; HAMMER, 2011),
além de insegurança com relação ao A maior causa de morte no mundo são as
conhecimento sobre o conteúdo ministrado doenças crônicas não transmissíveis, que
(REIS et al., 2013), prejudicando desempenho geram além de mortes prematuras e perda de
e capacidade na resolução de problemas qualidade de vida, grande impacto
(BERBEL, 2011). Para reverter esta situação e econômico para a família e a sociedade
melhorar frequência e desempenho dos (ABREU, 2014; MALTA, 2014), sendo as
alunos, é necessário repensar a forma de doenças do aparelho circulatório, as
educação centrada na transmissão de principais causas de morte no Brasil (GAUI et
conhecimentos pelo professor e memorização al., 2014). Diante deste fato, torna-se
de conteúdos e adotar metodologias ativas, essencial que os profissionais de saúde
com educação centrada no aluno, permitindo tenham o conhecimento técnico necessário
autonomia, raciocínio e formação pensamento para poderem orientar a população,
crítico (CEZAR et al., 2010; MITRE et al., 2014; diagnosticar e tratar adequadamente as
PINTO et al., 2012), além de motivação na doenças cardiovasculares (ABREU, 2014).
busca pelo conhecimento (SILVERTHORN et Para tanto, é necessário entender as
al., 2006). É preciso envolver o aluno características morfofuncionais do sistema
enquanto protagonista de sua aprendizagem circulatório. E, em todos os cursos da área da
(GURPINAR et al., 2013; PINTO et al., 2012). saúde, o estudante deve conhecer a fisiologia
Modificar o processo de ensino- do ciclo cardíaco para compreender as
aprendizagem para permitir maior autonomia alterações fisiopatológicas do coração e
dos estudantes, favorece na formação de vasos, integrando conceitos das ciências
profissionais críticos, reflexivos e com maior básicas e clínicas (GUERRERO, 2001; AZER,
facilidade na tomada de decisões (BERBEL, 2014).
2011; CEZAR et al., 2010; MITRE et al., 2008; Neste contexto, em disciplinas de Fisiologia,
PINTO et al., 2012; ROCHA; LEMOS, 2014; os alunos devem aprender uma grande
TRINDADE et al., 2014; WEST et al., 2000). A quantidade de conceitos fisiológicos e
utilização de métodos ativos de ensino é integrá-los à morfologia dos órgãos e
preferência de estudantes de diversas sistemas. Apesar da importância do
instituições, os quais apontam aumento de conhecimento das estruturas anatômicas e
aprendizado e satisfação (BOCTOR, 2013; seu correto funcionamento por profissionais
CHRISTOFOLETTI, 2014; DANTAS; KEMM, de saúde, um estudo realizado por Reis e
2008; HEAD; ARBER, 2013; MILLER; METZ, colaboradores (2013), verificou a existência
2014; RANDI, CARVALHO, 2013). de sentimento de insegurança por parte dos
Dentre os métodos ativos de ensino, pode-se alunos de graduação em Medicina com
citar a utilização de jogos instrucionais ou relação aos seus conhecimentos em
educionais, que aumentam o interesse e Anatomia. Além disso, muitas vezes, os
retenção de conhecimento, além de estimular alunos são incapazes de relacionar novas
a habilidade para resolução de problemas informações com o conhecimento já
(ALLERY, 2004; BARCLAY et al., 2011; adquirido, ou transferir este conhecimento
MARCONDES et al., 2015; SAVI, 2011; para resolver novos problemas. É, portanto,
SCHNEIDER; JIMENEZ, 2012; TAROUCO et um desafio aos educadores da área da saúde
al., 2004). Um quebra-cabeça sobre o ciclo buscar metodologias que promovam o
cardíaco tem sido utilizado em aulas de aprendizado significativo, por meio da
Fisiologia, em curso na área da saúde, e tem seleção e integração das informações, e
recebido avaliação positiva dos alunos, que aplicação do conhecimento em novas
consideram que o jogo ajuda no aprendizado situações (GONZALÉZ et al., 2008).
da fisiologia cardíaca. Porém não foi avaliada O professor, por muito tempo, foi a principal
de forma objetiva a influência da sua fonte de informações e conhecimento para os
utilização sobre o aprendizado dos alunos. alunos. Os livros eram escassos, e ainda são
Fazer esta avaliação será importante para em países subdesenvolvidos, mas somente a
testar a hipótese de que sua utilização transmissão da informação pela fala do
aumenta o aprendizado do corpo discente professor para o aluno, não significa que o

Educação no século XXI - Volume 2


111

aprendizado ocorreu. Atualmente, os alunos atividades apresentadas. Essas atividades


adquirem informação de outras formas, pois favorecem a autonomia do aluno,
conhecem as tecnologias da informação e despertando a curiosidade e estimulando as
desde muito jovens têm acesso à rede tomadas de decisões, que são essenciais na
mundial de computadores e dominam o seu prática profissional e no convívio social
uso. É necessário que o professor reconheça (BERBEL, 2011; BORGES; ALENCAR, 2014).
que os alunos não dependem mais Segundo Prince (2004), cada método de
exclusivamente dele para adquirir ensino consiste em mais do que um elemento,
informações, e que a falta desta percepção e influencia mais de um resultado de
pode justificar a baixa frequência e a aprendizagem. E embora seja reconhecido
desatenção em sala de aula. O professor que estratégias ativas de aprendizagem são
precisa rever o seu papel, avaliando o que os preferidas por alunos de diversas instituições,
alunos não podem fazer de forma eficaz por por aumentar o aprendizado e a satisfação
conta própria (SILVERTHORN, 2006). com os estudos (DANTAS; KEMM, 2008;
O processo de ensino-aprendizagem tem sido BOCTOR, 2013; HEAD; ARBER, 2013; RANDI;
limitado à reprodução do conhecimento, no CARVALHO, 2013), para avaliar se a
qual o professor é o transmissor de conteúdos metodologia ativa “funciona”, deve ser levada
e os estudantes meros expectadores, numa em consideração a ampla gama de
atitude passiva e receptiva, sem a necessária resultados, como medidas de conhecimento,
crítica e reflexão. Em contrapartida, a habilidades relevantes e atitude dos alunos. E
passagem de uma consciência ingênua para muitas vezes os resultados de um método de
uma consciência crítica, deve ser criativa, aprendizagem não estão disponíveis,
questionadora e insatisfeita, percebendo e dificultando a avaliação dos métodos, por
reconhecendo a realidade como mutável esse motivo, é necessário quantificar o
(MILTRE et al., 2008). É necessário que as impacto de uma intervenção. Segundo o
instituições de ensino repensem seus autor, também deve ser levado em
processos de ensino, adequando-se à consideração o efeito Hawthorne, segundo o
necessidade de formar profissionais com qual os sujeitos reagem positivamente a uma
pensamento crítico e capacidade de aprender situação, pois se sentem valorizados pelo
a aprender (TRINDADE et al., 2014). professor ou outra pessoa.
Atualmente, mudanças no sistema de Dentre os métodos ativos de ensino, pode-se
educação ocorrem no sentido de permitir um citar a aprendizagem baseada em problemas
processo de ensino-aprendizagem centrado ou projetos, que utiliza problemas reais ou
no aluno, no qual ele se torna responsável simulados, com intuito de estimular o
pelo próprio aprendizado, com utilização de estudante a solucioná-los a partir de
métodos de ensino inovadores e reflexivos pensamento crítico, habilidades e
(WEST et al., 2000; MITRE et al., 2008; CEZAR competências adquiridas (BERBEL, 2011). De
et al., 2010; BERBEL, 2011; PINTO et al., acordo com Berbel (1998), após observação
2012; ROCHA; LEMOS, 2014), sendo que o da realidade social pelos alunos, são
papel protagonista do aluno no seu identificadas dificuldades, carências e
aprendizado é fator crucial para alcançar os discrepâncias, que serão problematizadas. A
objetivos educacionais (GURPINAR et al., discussão entre alunos e professor auxilia na
2013). Para que haja uma aprendizagem redação do problema. Após refletirem sobre
eficaz, o aluno deve participar ativamente do as causas e os determinantes para o
processo de ensino-aprendizagem, sendo o problema, os alunos deverão elaborar os
ensino, centrado no aluno. Desse modo, o uso pontos essenciais que deverão ser estudados
de leituras, aulas práticas e jogos sobre o problema, fato que permite maior
educacionais, podem ser estratégias úteis compreensão do problema e então maiores
para o processo de ensino-aprendizagem possibilidades para encontrar formas de
(MARCONDES et al., 2015). interferir na realidade para solucioná-lo ou
Metodologias ativas são processos interativos desencadear passos nessa direção. A última
de conhecimentos, análises, estudos, etapa do estudo, a teorização, é o momento
pesquisas e decisões individuais ou coletivas, onde os alunos precisam buscar informações
buscando um desenvolvimento no processo sobre o problema em diferentes fontes de
de aprender, a fim de conduzir à formação conhecimento. E como fruto da obtenção
crítica e reflexiva de futuros profissionais em profunda do conhecimento, que se obteve
várias áreas, adotando experiências reais ou sobre o problema, surgem as hipóteses. A
simuladas para solucionar os desafios das última etapa da metodologia baseada em

Educação no século XXI - Volume 2


112

problemas, ultrapassa o exercício intelectual, abordagens: pode ser um jogo propriamente


pois decisões tomadas deverão ser dito, caracterizado como uma atividade
executadas ou encaminhadas para competitiva, com regras e procedimentos, no
transformar o meio (BERBEL, 1998). Moutinho qual o aprendizado resulta das interações e
et al. 2014 afirmam que a aprendizagem dos comportamentos desenvolvidos pelos
baseada em problemas promove uma maior jogadores, e não diretamente do conteúdo
retenção do conhecimento, quando acadêmico trabalhado; pode ser um jogo de
comparada à aula expositiva. simulação, que é uma atividade com base na
Outro método é a aprendizagem entre pares realidade, cujo aprendizado resulta do
(peer instruction) (MAZUR, 1997), que assunto exposto; e pode também ser um
pressupõe questionamentos mais exercício, em que é desenvolvida uma
estruturados e que envolvem todos os alunos atividade estruturada não competitiva
na aula (CROUCH; MAZUR, 2001; CROUCH (ALLERY, 2004).
et al., 2007; PETERSEN et al., 2014). Durante A utilização dos métodos supracitados
a aula, os alunos respondem a permite maior participação e interação dos
questionamentos relacionados ao tema e caso estudantes e, portanto, tornam-se ferramentas
houver baixo índice de acerto, os alunos são eficazes para o aprendizado significativo
instruídos a conversar com o colega sobre a (LIMA et al., 2014). É crucial citar o
resposta dada. Desta forma, o Peer Instruction envolvimento da afetividade na utilização de
modifica o formato de aula tradicional para metodologias ativas, devido ao fato de que
incluir perguntas destinadas a envolver os práticas pedagógicas podem produzir
alunos e permitir a descoberta das próprias impactos afetivos, positivos ou negativos, na
dificuldades (MAZUR, 1997), sendo eficaz relação que se estabelece entre os alunos e
para o melhor desempenho do aluno em os conteúdos escolares desenvolvidos. Um
testes, maior participação em grupos de estudo realizado por Leite (2012) concluiu que
discussão e consequentemente, maior decisões que promovam o sucesso na
compreensão do tema proposto, quando aprendizagem, aumentam as chances de se
comparado a métodos tradicionais (CROUCH; estabelecer uma relação afetiva positiva, ou
MAZUR, 2001). seja, aproximação afetiva, entre o aluno e os
Estudos de caso e simulações também são conteúdos escolares, facilitando, portanto, o
considerados métodos ativos, por permitirem aprendizado.
a participação ativa do aluno no processo Estimulando o interesse do aluno na resolução
ensino-aprendizagem (PINTO et al., 2012). O de problemas, seja através da análise de
método de caso permite a investigação em casos clínicos, trabalhos interdisciplinares, ou
um contexto real (COIMBRA et al., 2014), por meio de jogos, ampliam-se as
favorecendo a aproximação entre teoria e possibilidades de o aluno exercitar a sua
prática, além de relacionar e exigir utilização autonomia na tomada de decisões em
do conhecimento entre as disciplinas da diferentes momentos do processo que
graduação, possibilitando a vivencia, preparando-o de forma mais plena
interdisciplinaridade (SILVA et al., 2014). para o exercício profissional futuro. Facilita a
Jogos instrucionais ou educacionais mobilização e aplicação dos conhecimentos
constituem outra opção de metodologia ativa, de forma pertinente às situações cotidianas.
aplicados em diversos cursos de graduação, Professores e os alunos participantes da
tendo sua eficácia no aumento do interesse, pesquisa de Miller e Metz (2014) concordam
retenção de conhecimento e aumento da que as estratégias de aprendizagem ativa são
habilidade para resolução de problemas benéficas para o sucesso do aluno. Na
comprovados em pesquisas científicas pesquisa citada, os professores relataram
realizadas em diversos países (SCHNEIDER; que, em média, 29% do tempo total de aula
JIMENEZ, 2012; TAROUCO et al., 2004; deveriam abranger métodos ativos de ensino
MARCONDES et al., 2015). Jogos de cartas enquanto que os estudantes acreditam que,
foram considerados como ferramentas em média, 40% do tempo de aula deve ser
inovadoras no ensino de farmacoterapia, dedicado ao uso de métodos ativos de
capazes de melhoras a experiência ensino.
educacional de estudantes de farmácia Apesar destes estudos indicando que
(BARCLAY, 2010). A aplicação de jogos no metodologias ativas melhoram o processo
curso de engenharia também obteve ensino - aprendizagem, a mudança dos
resultados satisfatórios (SAVI, 2011). O termo métodos utilizados em sala de aula causa
“jogo instrucional” pode representar diferentes certa apreensão do corpo docente que sente

Educação no século XXI - Volume 2


113

segurança no uso de aulas teóricas, que constituído de uma prancha com figuras, uma
representam uma metodologia que o tabela, e fichas. As figuras representam as
professor domina e conhece desde sua fases do ciclo cardíaco. A tabela contém 5
formação inicial acadêmica. Esta resistência colunas com as seguintes indicações: 1 – fase
também encontra suporte na falta de dados do ciclo cardíaco, 2 – estado atrial, 3 – estado
sobre a quantificação do efeito dos métodos ventricular, 4 – válvulas átrio-ventriculares, 5 –
ativas sobre o aprendizado. Neste contexto, o válvulas pulmonar e aórtica, pintadas em
objetivo deste estudo foi avaliar o efeito do diferentes cores: branco, azul, verde, amarelo
uso de um quebra-cabeça sobre o e rosa, respectivamente. As fichas indicam as
aprendizado de estudantes universitários a fases do ciclo cardíaco, o estado dos átrios e
respeito da fisiologia cardíaca. ventrículos (relaxado; em contração), e o
estado das válvulas cardíacas (abertas;
fechadas).
3 METODOLOGIA
Durante a atividade com este quebra-cabeça,
3.1 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL os alunos foram divididos em grupos, e foi
solicitado que analisassem as figuras que
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética
representavam as fases do ciclo cardíaco e
em Pesquisa institucional, sob número de
inicialmente identificassem a sequência
protocolo 34/2015. As fontes de material da
correta em que elas deveriam ser colocadas.
pesquisa foram questionários de avaliação do
Em seguida, foi solicitado que completassem
aprendizado sobre fisiologia cardíaca
a tabela, utilizando as fichas, relacionando
aplicados em disciplina de Fisiologia
cada fase a uma figura.
ministrada a alunos do primeiro semestre de
Enquanto os grupos montavam o quebra-
um curso de graduação em Odontologia.
cabeça, os professores discutiam com eles a
Estas avaliações foram aplicadas, durante o
escolha das fichas, levando os alunos a
desenvolvimento da disciplina, como parte
raciocinarem sobre a escolha de cada ficha, e
dos recursos didáticos visando acompanhar o
apresentavam as seguintes questões para
processo ensino-aprendizagem dos alunos,
discussão em grupo: Como o estímulo elétrico
sem conotação de pesquisa. Estes
é transmitido no coração durante um ciclo
questionários não têm valor de nota para
cardíaco? Por que o retardo do estímulo
aprovação na disciplina, e são utilizados para
elétrico no nodo atrioventricular é importante
avaliação formativa durante a disciplina,
para a função cardíaca? Quando e como as
permitindo ao docente identificar conceitos
válvulas cardíacas fecham e abrem? O que
que foram aprendidos e aqueles que
são e quando ocorrem as bulhas cardíacas?
necessitam ser revistos para efetivação do
Como as junções abertas participam da
aprendizado. A proposta de utilização destes
condução do estímulo elétrico e da contração
dados para fins de pesquisa foi posterior a
do músculo cardíaco? (MARCONDES;
sua realização. O projeto foi aprovado pelo
AMARAL, 2014; MARCONDES et al., 2015).
Comitê de Ética em Pesquisa institucional
(protocolo 34/2015). O consentimento dos
3.3 AVALIAÇÃO DO APRENDIZADO
alunos para uso de suas respostas como
parte desta pesquisa foi obtido após o fim da Os alunos tiveram uma aula teórica de cerca
disciplina, a fim de preservar a autonomia dos de 50 min sobre bases da fisiologia cardíaca,
voluntários, devido à relação de hierarquia ao final da qual, foram apresentadas algumas
existente entre os pesquisadores que são questões. A professora solicitou que a turma
professores dos alunos na disciplina em que o utilizasse o período restante da aula e horário
jogo foi utilizado. Foram considerados as extraclasse para solucionarem as questões e
avaliações realizadas pelos alunos que lerem determinadas páginas de um dos livros
concordaram em participar do estudo, indicados na bibliografia da disciplina. No
assinando o Termo de Consentimento Livre e início da aula seguinte, as dúvidas foram
Esclarecido (TCLE). Foram excluídos do discutidas. Em seguida, foi aplicado um
estudo os dados das avaliações dos alunos questionário sobre fisiologia cardíaca, a fim
que não assinaram o TCLE. de se verificar o grau de aprendizado dos
alunos após a aula teórica e estudo individual,
3.2 ATIVIDADE DE ENSINO COM QUEBRA- sem objetivo de atribuição de nota para
CABEÇA DO CICLO CARDÍACO aprovação na disciplina. Foi dada a
orientação para que o aluno que não
O quebra-cabeça do ciclo cardíaco utilizado
soubesse a resposta correta a questões
foi descrito por Marcondes et al. (2015) e é
alternativas, deixasse a questão sem

Educação no século XXI - Volume 2


114

resposta, para que a professora pudesse eletrocardiograma (ECG). Estes autores


avaliar o que os alunos haviam relataram que o jogo do ECG mostrou ser uma
compreendido. Foi explicado que desta estratégia de ensino diferente e inovadora,
forma, não seriam considerados acertos as visto que proporcionou um ambiente
situações em que o aluno adivinha a resposta descontraído, mais interativo e centrado no
(“chuta a alternativa correta”). aluno (RUBINSTEIN et al., 2009). Tanto o ciclo
cardíaco como o ECG são temas que o aluno
da área da Saúde deve compreender, pois
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
estão relacionados às competências de sua
Os conceitos obtidos, número de respostas atividade profissional futura, e é necessário
erradas e número questões não respondidas que o professor assegure se estes temas
pelos alunos serão comparados por teste t de foram realmente compreendidos e houve
Student para medidas repetidas, aprendizado significativo. Neste contexto,
considerando-se o nível de significância de metodologias que permitam ao aluno ter
5%. participação ativa no seu aprendizado, e
promovam a interação entre pares de forma
prazerosa podem ser muito úteis, como
4.1 RESULTADOS
estratégias complementares às aulas
Na avaliação realizada após a atividade com expositivas.
o quebra-cabeça, os alunos obtiveram
conceito maior nas questões alternativas
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
(após: 1,17 ± 0.16; antes: 0,58 ± 0,14) e
dissertativas (após: 6,66 ± 0,25; antes: 5,59 ± Os dados aqui apresentados parecem indicar
0,22). Considerando-se o conceito total das que jogos instrucionais podem aumentar o
avaliações, somando as questões aprendizado, representando um recurso
dissertativas e alternativas, foi observado disponível para diversificação das
aumento do conceito na avaliação realizada metodologias de ensino utilizadas em uma
após o uso do jogo instrucional (7,04 ± 0,25), disciplina ou curso. As principais limitações
em relação ao conceito obtido antes do uso deste estudo é que a avaliação foi realizada
do jogo (5,59 ± 0, 22). Houve redução do somente em um curso de Graduação e os
número de questões não respondidas antes alunos, durante a segunda avaliação, tinham
(1,17 ± 0,16) e após (0,58 ± 0,14) o uso do conhecimento prévio das questões. A fim de
quebra-cabeça. complementar este estudo estão em
Estes resultados mostram que os alunos andamento um estudo para comparação do
apresentaram melhores resultados na resultado entre diferentes cursos da área da
avaliação realizada após a atividade realizada Saúde, no qual a turma de alunos será
com o quebra-cabeça, em comparação com subdividida e metade da turma fará a
os resultados obtidos antes desta atividade. avaliação antes de utilizar o jogo, e a outra
Logo, os resultados indicam que a associação metade será avaliada após a realização da
aula teórica + estudo individual + jogo atividade com o quebra-cabeça. Desta forma
instrucional parece ter maior efeito sobre o pretende-se obter maior controle de fatores
aprendizado do aluno em comparação com a que podem influenciar o desempenho dos
associação aula teórica + estudo individual. alunos na avaliação realizada.
RUBINSTEIN et al., (2009) utilizaram um
quebra-cabeça para o ensino do

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Educação no século XXI - Volume 2


117

CAPÍTULO 17
Silvia Deutsch
Laissa Pierotti Avallone
Marcela Pedersen
Amanda Cristina Faria
Juliana Lodder Martins dos Santos

Resumo: O Yoga tem um histórico milenar que envolve práticas físicas, emocionais,
mentais e espirituais, que auxiliam na construção de comportamentos positivos
sendo acessível à pessoas de todas as idades. Essa prática é extremamente
motivadora para o público infantil por proporcionar o desenvolvimento corpóreo-
sensorial, a evolução da mente e do corpo humano, possibilitando o
autoconhecimento e também o desenvolvimento de princípios éticos e morais. A
produção de material didático, permitindo a criação de estratégias inovadoras para
aulas de yoga se desenvolveu no projeto “Yoga na Escola” elaborado no
Departamento de Educação Física da Unesp de Rio Claro - Núcleo de Ensino. Este
projeto tem por finalidade levar a prática de Yoga para alunos de escolas
municipais da cidade de Rio Claro a fim de proporcionar uma melhora do bem-
estar e autoconhecimento gerando mudanças de comportamento. O projeto ocorre
há 3 anos. As práticas de Yoga são desenvolvidas através de atividades educativas
e diálogos com os alunos e professores de escolas municipais com o compromisso
da universidade de levar educação por meio de práticas que abrangem valores
éticos e morais, movimentos corporais, controle respiratório, técnicas de limpeza e
concentração. Considerando a riqueza da cultura lúdica infantil e o repertório
corporal da criança onde através do brincar e jogar observa-se elementos de
exploração da criatividade, de expressão e prazer, o projeto tem como um de seus
objetivos o desenvolvimento de materiais didáticos que ofereçam significação de
objeto e suporte para brincadeiras, atingindo o objetivo de auxiliar a prática. A
criação de um tapete pedagógico, personagens e histórias são materiais que
resultaram do projeto “Yoga na Escola” e apresentaram um bom resultado
ampliando o interesse, a concentração e o desenvolvimento dos alunos durante a
prática.

Palavras-chave: Estratégia de ensino; Autoconhecimento; Práticas corporais,


Crianças.

Educação no século XXI - Volume 2


118

1 INTRODUÇÃO Nesse intuito, faz-se necessário apresentar


cada procedimento, descrevendo as etapas
A Educação Infantil deve promover o
de construção e de utilização pelos
desenvolvimento social e cognitivo da
professores e alunos participantes. Vale
criança. Ela é o começo da escolarização e
ressaltar que tal proposta é levada a cabo, no
favorece a aprendizagem de linguagens e
intento de ampliar as possibilidades de
significados dando um enfoque as dimensões
trabalho com o Yoga no ambiente escolar,
lúdicas desse processo.
principalmente no que toca a faixa etária de 4
Dando destaque a linguagem corporal, que a 9 anos.
expressa o movimento do ser humano no Embora a prática de tal atividade corporal
processo de construção de culturas e está ainda seja relativamente nova dentro de
intrinsecamente relacionada com a criança, escolas de Educação Infantil, é possível notar
Souza (1996) afirma que a criança que brinca a partir das experiências já existentes, a
fantasia, sonha, aceita desafios e vislumbra grande contribuição do Yoga na formação
possibilidades de desenvolvimento e através motora, emocional, cognitiva, espiritual e
do lúdico ela consegue relacionar-se com seu social da criança.
próprio corpo, com o outro e com o mundo.
Nesse processo de formação, a Yoga pode 2 REFERENCIAL TEÓRICO
contribuir através de uma proposta de jogos e
Pode-se dizer que Yoga para crianças é uma
brincadeiras, bem como a contação de
forma de educação integral, que utiliza a
histórias utilizando e estimulando o imaginário
experiência corpóreo-sensorial como suporte
da criança. Neste estudo, tendo por conteúdo
para a aprendizagem sobre si mesma
os princípios do yoga associados ao ambiente
(MARTINS & CUNHA, 2011).
escolar, e consciente da dificuldade da
O Yoga tem sua origem na Índia e em
aplicação dessa prática no mesmo, entende-
sânscrito significa união. Refere-se a união
se que apesar das práticas repetidas não
entre corpo, mente e espírito, trata-se de uma
serem um empecilho para o habitual
filosofia que considera o ser humano como
praticante de yoga, as crianças necessitam
um todo, e está associado como uma forma
de diferentes estímulos e estratégias para se
prática de crescimento pessoal e uma busca
desenvolver nesta prática.
da compreensão de si mesmo, auxiliando em
A necessidade de um ambiente tranquilo e de construções comportamentais positivas sendo
concentração, acaba tornando as aulas de acessível à todas as idades, inclusive
yoga repetitivas. Por isso podemos contar crianças. Seu conteúdo foi sistematizado por
com o uso de diferentes materiais Patanjali que viveu por volta de 2000 A.C.. O
pedagógicos para contribuir na construção e texto de Patanjali foi que apresentou o
diversificação da prática. A maneira como as caminho óctuplo do Yoga através de seus oito
crianças se sentem, pensam e interagem com passos: Yamas, Nyamas, Āsana, Prānāyāma,
o ambiente da sala de aula, se deve a Pratyāhara, Dhāranā, Dhyāna e Samādhi.
organização da mesma e a presença de Os Yamas representam a conduta moral e
objetos e materiais educativos. Kishimoto ética e os Niyamas a conduta disciplinar. Os
(2001) diz que investigar valores que orientam Ásanas compreendem as posturas psico-
a escolha de brinquedos e materiais fisicas, os Pranayamas representam as
pedagógicos implica buscar as raízes que práticas de controle respiratório, o Pratyahara
explicam os usos e significações de tais é a capacidade de se abstrair dos sentidos,
recursos na prática pedagógica. No contexto Dharana é a concentração, Dhyana a
deste trabalho, o material pedagógico tem meditação e completando, Samadhi, é a
significação de objeto e suporte para iluminação.
brincadeiras.
Entre diversas práticas de yoga, a mais
O seguinte trabalho tem como objetivo conhecida e praticada no ocidente é o Hatha
apresentar dois procedimentos didáticos Yoga, por isso escolhida como segmento para
específicos de introdução da prática do yoga: o projeto. Nesta linha, acredita-se
a criação de um tapete em EVA com predominantemente na força dos Ásanas.
inscrições de posições corporais e de partes Torna-se motivadora para o público em
do corpo e de historias que auxiliem na questão por proporcionar o desenvolvimento
construção e diversificação desta atividade corpóreo-sensorial, e corpóreo-mental,
em escolas de educação infantil. estimulando uma harmonia entre a estrutura
psicomotora e a estrutura psicofísica,

Educação no século XXI - Volume 2


119

proporcionando consequentemente, uma A educação infantil dá início a escolarização


melhor interação do corpo com o meio da criança e se constitui como etapa
ambiente. Baseia-se principalmente no fundamental em seu desenvolvimento
desenvolvimento físico através de posturas cognitivo, motor e social. No que se refere ao
que favoreçam o trabalho da força, campo da atividade física, as experiências
flexibilidade e equilíbrio. Isso não significa vivenciadas pelos pequenos alunos - nesse
que outras práticas não são utilizadas como: período escolar - tendem a ter um impacto
os satkarmas (conjunto de práticas de profundo em sua formação. De modo que é
limpezas), mudras (gestos ou selos, que bastante comum observar nos conteúdos
servem para aumentar e canalizar destinados nesse âmbito propostas que visam
positivamente a energia de nosso corpo e explorar de forma lúdica a expressão, a
mente), pranayamas, (técnicas de controle coordenação, a linguagem corporal e outras
respiratório), relaxamentos, bandhas (as capacidades da criança. Propostas que, em
ativações de certos plexos e músculos), geral, pretendem estimular a relação da
dṛṣṭis, (fixações do olhar em determinados criança com o próprio corpo, proporcionando
pontos), mantras (vibrações sonoras) e através do prazer de brincar a construção de
meditação (FEUERSTEIN, 2006; GULMINI, uma identidade cultural, uma relação de
2003; MEHTA, 1995). pertencimento ao mundo que habitam.
A prática de yoga auxilia a criança a Desenvolver um projeto de aulas de yoga
desenvolver um corpo flexível, forte, para crianças envolve diversas frentes tanto
equilibrado e coordenado, auxiliando para o administrativas quanto pedagógicas. Ambas
bom funcionamento de seus órgãos internos atuam em diferentes aspectos, desde
podendo colaborar na prevenção de futuros quantidade de aulas, disponibilidade de
problemas posturais e respiratórios. Outros espaço, definição de conteúdos e estratégias
benefícios são o desenvolvimento da calma, e ainda aceitação de uma nova proposta. O
clareza e concentração reduzindo níveis de principal objetivo de oferecer a prática de
ansiedade e estresse. Auxilia no relaxamento yoga para crianças é de poder auxiliar as
e também na qualidade do sono. Através de mesmas a crescer de modo harmonioso e
técnicas que melhoram o autoconhecimento, saudável, com maior consciência corporal e
leva a mesma a melhorar sua autoestima, foco mental para que possam desfrutar de
autoconfiança, criatividade e estabilidade modo pleno o mundo que começa a
emocional. conhecer.
Trabalhando com crianças entre 4 e 9 anos, A presença de certos objetos e materiais
Seybold (1983) afirma que nesta fase a educativos parece influenciar direta ou
criança expressa sua necessidade de simbolicamente seus usuários determinando a
estímulos afetivos e a busca por prazer maneira como adultos e crianças sentem,
através do “faz-de-conta” onde desenvolve pensam e interagem neste espaço
sua imaginação criando histórias. Ela se (KISHIMOTO, 2001). Tomando como foco a
identifica por atitudes e movimentos utilização de materiais didáticos e
caracterizados, os quais são apresentados pedagógicos, o objetivo no presente trabalho
através de diferentes formas de interpretação será a descrição da produção de dois
e interação, por meio de músicas ou falas materiais para o ensino do yoga para
acompanhadas de movimentos espontâneos crianças.
que mostram um caráter expressivo.
Sendo assim a criança utiliza seu corpo e o
movimento como forma de interagir com 3 METODOLOGIA
outras crianças e com o meio, produzindo
Levando em consideração que a prática do
culturas. Essas culturas estão embasadas em
Yoga oferecida de maneira lúdica, ou seja,
valores como a ludicidade que estimulam a
através de jogos e brincadeiras dentro do
criatividade nas suas experiências de
espaço escolar, pode tornar-se grande aliada
movimento (SAYÃO, 2002). Existe então uma
neste processo de formação. Nesse sentido, o
relação com as práticas escolares, onde estas
grupo desenvolveu estruturas pedagógicas
devem respeitar, compreender e acolher o
que possam contribuir para essas atividades.
universo cultural infantil, dando acesso a
Foram elaborados dois procedimentos
outras formas de produzir conhecimento que
específicos para a iniciação desta prática: o
são fundamentais para o desenvolvimento da
uso de um tapete em EVA e a adaptação de
criança (BASEI, 2008).
histórias e personagens.

Educação no século XXI - Volume 2


120

O objetivo da construção dos materiais UTILIZANDO O TAPETE... O aluno posiciona-


pedagógicos foi auxiliar na apresentação de se em cima de uma das placas que forma o
estímulos diversificados para a prática de tapete, observando a figura ali desenhada
aulas de Yoga, bem como gerar maior deve executar a postura que tal figura
interesse nas crianças de praticar e participar representa, por exemplo, se a placa de EVA
das aulas de forma prazerosa e divertida. possui o desenho da árvore, a criança deve
fazer a postura da árvore do Yoga, e assim
Esta pesquisa possui aprovação no Comitê de
com as demais figuras. Já nas placas que
Ética em Pesquisa da Universidade Estadual
possuem representações de partes do corpo,
Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, que
os desenhos pintados foram normalmente de
aprovou o projeto em 05/02/2013, sob o
pés ou mãos, e o aluno deveria realizar uma
protocolo nº 8241.
postura onde seria utilizada a parte do corpo
A primeira proposta, que foi a construção de como elemento principal no apoio e equilíbrio
um tapete lúdico, se pautou nos princípios do para a realização da mesma.
Yoga: os valores éticos e morais (Yamas e
PROPOSTAS DE ATIVIDADES... Regras foram
Niyamas), que tratam da não violência,
adaptadas e criadas para as atividades como:
verdade, não roubar, autodisciplina, entre
o Twister do Yoga, Amarelinha do Mestre
outros; os movimentos corporais (Ásanas); o
Yogin e Mandala. No Twister do yoga, com
controle respiratório (Pranayamas); o
um dado colorido, também feito com o EVA, e
conhecimento das técnicas de limpeza
com os alunos distribuídos no tapete, a
(Satkarmas); purificação das partes externas
professora deve lançar o dado e, a cor da
e internas do corpo (Kriyas) e técnicas de
placa que será escolhida para realizar a
concentração (Dharanas).
postura, será referente a cor que cair no
O tapete já é comum e bastante utilizado no dado. A atividade de amarelinha do Mestre
âmbito escolar, seja para enfeite das salas de Yogin é bastante semelhante a anterior, onde
aula, para a prática de atividades físicas ou a professora permite que um aluno por vez
mesmo no processo de alfabetização. É jogue uma tampinha, ou algum outro objeto
formado por 26 placas coloridas de EVA com pequeno sobre o tapete, e a figura em que o
tamanho de 50x50 e 20 mm de espessura que objeto cair será a postura que realizarão. E
se encaixam e formam uma espécie de piso. por fim, a Mandala, tomando como base que
Foram realizadas algumas modificações no mandalas são desenhos geométricos que
design das placas, que acabaram por auxiliam na concentração; os alunos, em
interferir de forma extremamente positiva na duplas ou trios, devem ser distribuídos pelo
composição das aulas ao serem inseridos nas espaço e escolher uma das placas do tapete,
placas, desenhos de partes do corpo e de para observar e atentar-se a seus detalhes.
figuras representando as posturas de Yoga Em seguida a professora deve formar um
(Ásanas). circulo com todos, e pedir aos alunos para
que comentem sobre o que observaram, qual
As primeiras experiências com o tapete que
figura a placa continha e sabem representar
ocorreram nas aulas com aproximadamente
tal figura no yoga.
100 crianças, divididas em 5 turmas,
matriculadas no ensino Infantil e no Ciclo I do O segundo procedimento utilizado como
ensino fundamental das escolas Elpídio Mina introdução dos princípios de Yoga na
e Paulo Koele, da cidade de Rio Claro-SP. Educação Infantil foi a invenção e adaptação
de histórias e personagens. Dentre as
diversas propostas de história pode-se citar,
DEFININDO REGRAS... As atividades como exemplo, a criação dos personagens
acompanhadas da utilização do tapete são como Pinóquinho e Mestre Yogin. O Mestre
compostas por algumas regras básicas como: Yogin representa o mestre do yoga, o qual
não pisar com sapatos no material, respeitar a tem grande contato com a natureza, com os
vez do próximo, não desmontar o material, animais, gosta de meditar, ensinar as
não poder conversar enquanto o professor posturas e respiração do yoga, possuindo
está falando. A cada aula as atividades eram características de um personagem que gosta
trocadas, para que assim os princípios de praticar o bem e ajudar ao próximo; e o
básicos do yoga como Ásanas (Posturas), Pinóquinho, personagem adaptado da história
Yamas e Niyamas (condutas éticas e morais) de Pinóquio, trata-se de um aluno do Mestre
fossem assimilados. Yogin que mentia estar meditando e

Educação no século XXI - Volume 2


121

praticando as posturas, e com isso seu nariz motivadas durante um tempo maior e
ia crescendo. mostravam maior controle das suas
capacidades físicas como força, equilíbrio e
Os objetivos da historia do Mestre foram
flexibilidade.
chamar a atenção das crianças, de modo que
estas apresentassem maior interesse em O tapete pedagógico possibilitou a realização
realizar as posturas, técnicas de respiração e de diversas atividades como o Twister do
concentração, podendo também observar as Yoga, amarelinha do mestre Yogin, Mandala e
características positivas que o Metre ainda um pega-pega Ásana, onde as crianças
apresenta. corriam em torno do tapete e ao comando da
professora com a palavra “Ásana” se
DEFININDO REGRAS... As atividades que
posicionavam em uma peça do mesmo
envolvem as histórias criadas acontecem de
realizando a postura indicada.
forma oral onde o professor conta a história.
Em alguns casos são utilizadas imagens para O efeito do uso do tapete pedagógico e das
ilustra-las, estimulando a criatividade do aluno estratégias didáticas com histórias e
e assim dando vida para a história. personagens como o mestre Yogui e
Pinóquinho é a criação de uma identidade
Após este processo acontece um feedback
para a prática, contribuindo para a
onde os alunos dão seu retorno em relação à
familiarização das crianças em uma pratica
história, relatando o que entenderam, e então
diferenciada das demais aulas, cuja a qual
o professor estimula o raciocínio das crianças,
pode determinar o modo como pensam e
provocando que o aluno a contextualize com
interagem com o ambiente, influenciando
seu dia a dia.
diretamente nas suas sensações.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES... As histórias
O método de ensino da prática e valores do
são utilizadas em momentos onde são
Yoga através das histórias é bastante eficaz
transmitidos os valores do Yoga. Servem para
principalmente quando se trata do incentivo a
chamar a atenção das crianças cativando-as
imaginação da criança, o que concretiza os
em função da caracterização dos
conceitos do Yoga.
personagens e do ambiente onde estes se
encontram, que são comuns aos alunos. No
decorrer das demais aulas surgem situações
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
onde as mesmas são relembradas e
novamente contadas, ou onde simplesmente Pode-se concluir que a utilização dos
algum personagem é destacado relacionando materiais didáticos, tapete em EVA e a
a algum principio ou valor anteriormente adaptação de histórias e personagens
passado. históricos (Mestre Yogin e Pinoquinho)
desenvolvidos para as aulas de Yoga auxiliam
As atividades são realizadas em ambientes
as aulas de yoga oferecidas para as turmas
diversos onde os alunos podem se sentar em
da Educação Infantil, colaborando para seu
círculo ou de frente para o professor em
objetivo final.
colchonetes havendo uma interação entre
todos. A promoção do desenvolvimento motor e
desenvolvimento cognitivo são efeitos da
prática do Yoga e se relacionam com o meio
4 RESULTADOS em que as crianças estão inseridas onde
estímulos as acompanham, principalmente no
Ao longo do desenvolvimento desses dois
ambiente escolar, pois é nele que também
procedimentos pode-se notar que o uso de
ocorre a aprendizagem de linguagens e
materiais didáticos favorece e facilita o
significados.
desenvolvimento dos mais variados aspectos
das crianças auxiliando na percepção do Devido a importância da yoga na escola e a
corpo e sua relação com os princípios morais problemática da carência de um ambiente
e éticos apresentados pelo Yoga. tranquilo que favoreça a concentração e
permanência na prática, os materiais
A criação do tapete pedagógico resultou de
didáticos em questão tiveram uma excelente
forma positiva em um ambiente confortável
aceitação por parte dos alunos o que
para a prática, uma delimitação do espaço,
possibilitou um maior interesse e consequente
que facilitou na orientação espacial dos
concentração durante a prática da aula.
alunos e influenciou no tempo de duração das
atividades onde as crianças permaneciam

Educação no século XXI - Volume 2


122

Em virtude do êxito da produção do tapete em também os professores, para que estes


EVA e de histórias e personagens, o projeto possam ampliar seus conteúdos, colaborando
visa continuar com essa metodologia para a também na divulgação e entendimento do
criação e inovação dos materiais com o intuito Yoga.
agora não de apenas auxiliar os alunos, mas

REFERÊNCIAS
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<http://www.rieoei.org/deloslectores/2563Basei.pdf [7]. MARTINS, F. S; CUNHA, A. C. Yoga com
> Acesso em: 02 jun 2015. crianças: um caminho pedagógico–didáctico.
2011. Dissertação (mestrado em Estudos da
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Paulo: Pensamento, 2006.
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pedagógicos nas escolas infantis. Educação e
dez. 1996.

Educação no século XXI - Volume 2


123

CAPÍTULO 18

Akistenia Elza Santos Ferreira


Fabiana de Oliveira Andrade
Alessandra Conceição Monteiro Alves
Sandra Costa Pinto Hoentsch Alvarenga
Emerson dos Santos Lima

Resumo: O presente artigo visa discorrer sobre as Rodas Comunitárias: Espaço de


palavra, escuta e construção de vínculos, enquanto uma Tecnologia Social.Assim, o
presente estudo está voltado às ações educativas para superação de adolescentes
e jovens vítimas da exploração sexual apresentando as rodas de conversas como
prática educativa. O interesse pela temática deve-se a necessidade de aprofundar
os estudos relacionados à Tecnologia Social, denominada como “Rodas
Comunitárias” e por essa via, a pesquisa investigou como é desenvolvida a
tecnologia e quais as contribuições educativas para a formação dos sujeitos
participantes. A metodologia utilizada para este trabalho configura-se como
abordagem qualitativa, e levou em consideração o contexto em que o objeto se
situa, a história de vida e da situação geral dos indivíduos no momento da
pesquisa. Nessa perspectiva, a coleta de dados para a investigaçãofoi realizada
em um Programa socioeducativo mantido por uma instituição particular que
desenvolve a tecnologia social com adolescentes e jovens vítimas de exploração
sexual na faixa etária de 16 a 21 anos de idade. Tendo em vista o objeto de estudo,
a presente pesquisa sustenta as discussões e reflexões nos pressupostos teóricos
relevantes para o entendimento das abordagens como: Bauman (2003); Barreto
(2008); Freire (2006) entre outros que colaboram para a construção do referencial
teórico.Com base nos resultados apresentados neste artigo, entendem-seas Rodas
Comunitárias como uma ferramenta para uso na superação de jovens vítimas de
exploração sexual e como uma prática educativaque envolve a pluralidade e a
natureza do trabalho pedagógico acerca da construção cidadã, descobrindo novas
formas de ensinar, tornando os indivíduos sujeitos da sua história e não meros
objetos.

Palavras-chave: Tecnologia social. Práticas educativas. Rodas Comunitárias.


Exploração sexual.

Educação no século XXI - Volume 2


124

1 INTRODUÇÃO população juvenil de construir instrumentos


de proteção e prevenção contra a exploração
Os cenários educacionais apresentam as
sexual.
marcas indeléveis de construções e
reconstruções teóricas que objetivam Os avanços das Tecnologias da Informação e
compreender e responder aos anseios Comunicação – TIC contribuem para uma
oriundos da complexidade vivida em cada nova organização social e política. Nesse
tempo e espaço. Os momentos de convulsões sentido, integram a esse aspectoas
emergidos no seio da sociedade, advindos Tecnologias Sociais como instrumentos de
com as rápidas transformações sociais formação e atuação pedagógica para
exigem perspectivas que reorientem os ampliação dos conceitos como: o pensar, o
modos de pensar e agir dos (as) professores refletir, o agir e o transformar.
(as), elaborando assim referenciais que
Diante do exposto, o interesse pela temática
ressignifiquem os desafios impostos por esta
deve-se a necessidade de aprofundar os
realidade. Zygmunt Bauman em sua obra
estudos relacionados à Tecnologia Social,
“Modernidade Líquida” (2001), título a que
denominada como Rodas Comunitárias:
define a sociedade pós-moderna, apresenta
Espaço de palavra, escuta e construção de
que os riscos de hoje são de outra ordem, não
vínculos. Por essa via, a pesquisa investigou
se podendo sentir ou tocar em muitos deles,
como é desenvolvida a tecnologia e quais as
apesar de estarmostodos expostos, em algum
contribuições educativas para a formação dos
grau, as suas consequências.
sujeitos participantes.
Nesse contexto, surge à violência, fenômeno
A metodologia utilizada para este trabalho
antigo, produto das relações sociais que se
caracteriza-se como abordagem qualitativa,
materializa contra indivíduos em
focalizando a realidade específica, objeto
desvantagens. Apresentada de diferentes
desse estudo. Levou em consideração o
formas, resultantes de aspectos político-
contexto em que o objeto se situa, a história
sociais fragilizados na área social, destaca-se
de vida e da situação geral dos indivíduos no
a mais hedionda, a violência sexual contra
momento da pesquisa.
crianças e adolescentes e que está
intrinsecamente associada à exploração No entender de Godoy (1995, p.25) a
sexual. metodologia visa ao exame detalhado de
umambiente, de um sujeito ou de uma
A Declaração de Estolcomo (1996, p. 01),
situação particular. Amplamente usado em
resultado do Congresso Mundial sobre
estudos, tem se tornado a modalidade
Exploração Sexual de Crianças e
preferida daqueles que procuram saber como
Adolescentes no ano de 1996, define
e por que certos fenômenos acontecem ou
exploração sexual como uma das piores
dos que se dedicam a analisar eventos sobre
formas de trabalho: “Constitui-se uma forma
os quais a possibilidade de controle é
de coerção e violência contra as crianças,
reduzida ou quando os fenômenos analisados
que pode implicar em trabalho forçado e
são atuais e só fazem sentido dentro de um
formas contemporâneas de escravidão”.
contexto específico.
Assim, centralizando a essa característica, o
Nessa perspectiva, a coleta de dados para a
presente estudo está voltado às ações
pesquisa foi realizada em um programa
educativas para superação de adolescentes e
socioeducativo mantido por uma instituição
jovens vítimas da exploração sexual,
particular que desenvolve a tecnologia social
compreendida como uma grave violação do
com adolescentes e jovens vítimas de
direito ao respeito à dignidade humana, à
exploração sexual na faixa etária de 16 a 21
integridade física e mental, e que não pode
anos de idade.
ser negligenciado em nenhuma circunstância
(III Congresso Mundial de Enfrentamento da
Exploração Sexual da Criança e do
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Adolescente – Rio de Janeiro, 2010).
Tendo em vista o objeto de estudo, a presente
Os meios educacionais favorecem fenômenos
pesquisa está embasada e sustenta as
que revestem a humanidade de sentimentos
discussões e reflexões nos pressupostos
de incertezas, temores, e impotência frente
teóricos relevantes para o entendimento das
aos novos paradigmas que ora se apresentam
abordagens que contribuem para a
no contexto social. Por vezes, a ausência de
compreensão desta temática, tais como:
diálogos no espaço familiar e escolar inibe a

Educação no século XXI - Volume 2


125

Bauman (2003); Barreto (2008); Freire (2006) Sendo assim, as “Rodas Comunitárias” como
entre outros que colaboram para a construção um espaço de escuta e construção de
do referencial teórico. vínculos é umatecnologia social de cunho
pedagógico desenvolvida em grupo, com
O presente artigo está assim organizado: a
objetivo de promover a autonomia dos sujeitos
sessão 2.1 apresenta as Tecnologias Sociais
através da construção de redes solidárias
com foco nas “Rodas Comunitárias”; a sessão
favorecendo partilhas de experiências
2.2 discorre sobre a Exploração Sexual de
pessoais na busca de transformar o
Adolescentes e Jovens; a sessão 3 traz a
sofrimento individual em crescimento pessoal,
Metodologia e a prática das Rodas de
por meio da troca de vivências entre
Conversas com Jovens do Programa V.V; a
indivíduos de uma comunidade.Surgiu no ano
sessão 4 apresenta algumas considerações e
de 1987, em Pirambu, uma das maiores
a sessão 5 contempla o referencial
favelas de Fortaleza/Ceará/Brasil (280.000
bibliográfico utilizado neste artigo.
habitantes) foi criada e implantada pelo Dr.
Adalberto Barreto, psiquiatra, teólogo,
antropólogo e professor da Faculdade de
2.1 TECNOLOGIAS SOCIAIS – RODAS
Medicina da Universidade Federal do Ceará,
COMUNITÁRIAS: ESPAÇO DE PALAVRA,
com o objetivo de atender a essa população.
ESCUTA E CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS.
Um espaço comunitário onde se procura
Na era moderna, várias ferramentas surgiram
partilhar experiências de vida e sabedorias de
para aperfeiçoar e tornar os trabalhos
forma horizontal e circular. Cada um torna-se
coletivos mais ágeis, essas, foram
terapeuta de si mesmo, a partir da escuta das
denominadas de “tecnologia”.A terminologia
histórias de vida que ali são relatadas. Todos
“tecnologia” é a junção de duas palavras
se tornam co-responsáveis na busca de
gregas distintas (tekne cujo significado é arte,
soluções e superação dos desafios do
técnicaou ofício) e a palavra (logos que
cotidiano, em um ambiente acolhedor e
significa o saber ou um conjunto de saberes)
caloroso. (BARRETO, 2008, p. 38)
(SANTOS, 2012, p. 49). As tecnologias
transformaram o modo da vida humana em Essa tecnologia social busca proporcionar à
seus diversos níveis: culturais, cognitivos, formação cidadã e a identidade cultural dos
relacionais, assim como todas as ações que jovens, seus familiares e comunidades
facilitam o desenvolvimento da sociedade, propondo basicamente a capacidade da
proporcionando melhores condições de comunidade de se autogerir, resgatando a
saúde e qualidade de vida. identidade cultural e os valores de cidadania
e de autoestima.
Diante das necessidades urgentes de uma
sociedade conflituosa, surgem as tecnologias Baseado nisso, entende-se que as “Rodas
sociais, como técnicas criadas com o Comunitárias” proporcionam um espaço de
propósito de solucionar as demandas das convivência social onde as pessoas procuram
realidades sociais, de forma a interagir com a o apoio das outras, buscando um
coletividade de modo inovador em busca de compartilhamento do sofrimento e na maioria
uma transformação social. Uma tecnologia das vezes apoiando-se uns nos outros pelo
social sempre considera as realidades sociais fato de se reconhecer nas histórias
locais e está, de forma geral, associada a semelhantes.
formas de organização coletiva,
O espaço proporcionado pelas rodas de
representando soluções para a inclusão social
conversas estimulam as pessoas a
e melhoria da qualidade de vida (LASSANCE
exprimirem seus sentimentos e emoções e
JR;PEDREIRA, 2004, p. 06).
não o problema em si, sem riscos de ser
Nesse sentido, as tecnologias sociais refletem julgado o que possibilita eliminar as tensões
os valores e desigualdades relacionadas a acumuladas pelo estresse tanto naquele que
uma sociedade fragilizada, nos âmbitos fala como naquele que ouve.
econômicos, políticos e educacionais. Pode-
Desse modo, entende-se que as tecnologias
se originar desde as comunidades sociais ou
sociais são procedimentos metodológicos que
nos ambientes acadêmicos, de modo que
seus objetivos primem pela eficácia das suas podem ser aplicados nas diversas esferas
educacionais, inclusive as não formais.
ações, e disseminadas entre os pares na
busca pelo desenvolvimento e a qualidade de Neste cenário, observa-se uma ampliação do
vida. conceito de Educação... Com isso um novo

Educação no século XXI - Volume 2


126

campo da Educação se estrutura: o da pais, padrastos, madrastas ou outros


educação não-formal. Ela aborda processos parentes), a institucional (ocorre nas
educativos que ocorrem fora das escolas, em instituições) e a estrutural (pobreza e exclusão
processos organizativos da sociedade civil, social) (ALMEIDA et al, 2001, p. 08).
ao redor de ações coletivas do chamado
A violência sexual se apresenta como uma
terceiro setor da sociedade, abrangendo
das mais covardes que pode ser praticada a
movimentos sociais, organizações não-
qualquer indivíduo. Esta ocorre em todas as
governamentais e outras entidades sem fins
classes sociais, embora as desigualdades de
lucrativos que atuam na área social. (GOHN,
gênero e etnias assumam maior expansão e
2001, p. 07).
em situações vulneráveis expõe naturalmente
Numa perspectiva de pedagogia dialética, as crianças e jovens.
instituições formais e não formais
Conforme apresenta o Guia Escolar (2004), a
desenvolveram práticas educativas centradas
violência sexual contra crianças
no discurso consciente do sujeito com
eadolescentes começou a ser enfrentada
possibilidades transformadoras. Surge assim,
como problema de cunho social na
o delineamento de novas práticas
últimadécada do século XX. Assumindo
curriculares, pedagógicas e de gestão que
relevância política e visibilidade social nos
unem esforços para a inclusão social das
anos de1990 e apresentando em sua análise
crianças, adolescentes e jovens em situação
características complexas a partir do
de risco e vulnerabilidade social.
momento emque o assunto vem sendo
Nessa perspectiva, Paulo Freire, nos lembra focalizado como questão pública e problema
que a arte de ensinar é uma troca recíproca social, aviolência sexual perde características
de diálogo na construção do processo de de segredo familiar.
aprendizagem. Portanto, a tecnologia das
As vítimas de violência sexual estão expostas
rodas de conversas é um instrumento
a vários riscos, dentre eles os traumas físicos
pedagógico sistematizado e praticável.
e psicológicos. As disfunções psicossociais
“Ensinar é o exercício do diálogo, da troca, da
tendem a se tornar mais graves entre os
reciprocidade, ou seja, de um tempo para
adolescentes por terem noções morais e
falar e de um tempo para escutar, de um
sociais, mas não possuir plenamente a
tempo para aprender e um de tempo para
maturação relacionada ao sexo.
ensinar”. (FREIRE, 1996, p. 95)
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do
Os surgimentos de outras formas de
Estado assegurar à criança e ao adolescente,
educação favoreceram a aplicação de
com absoluta prioridade, o direito à vida, à
métodos alternativos proporcionando o
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
diálogo e a autonomia dos sujeitos. Neste
cultura, à profissionalização, à dignidade, ao
sentido, através das rodas de conversas é
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
possível promover ações educativas,
comunitária, além de colocá-los a salvo de
colaborando com a superação de jovens
toda forma de negligência, discriminação,
vítimas de exploração sexual através da
exploração, violência, crueldade e opressão
escuta e apoio dos participantes.
(Caput do artigo 227 da CONSTITUIÇÃO
FEDERAL).
2.2 EXPLORAÇÃO SEXUAL DE Segundo Libório (2003), vários autores
ADOLESCENTES E JOVENS. também afirmam que esse fenômeno também
implica em relações abusivas de poder,
A sociedade vive um contexto de violência
marcadas pela comercialização dos corpos
evidenciado em ampla discussão nos
infantis. Destaca-se quatro modalidades
diversos segmentos sociais.
reconhecidas de exploração sexual
Podemos categorizar as formas de violência, comercial: a prostituição, a pornografia, o
como a física (maus-tratos e espancamento), turismo sexual e o tráfico para fins sexuais.
a psicológica (humilhação, coacção, ameaça
Sendo assim, a violência sexual evidencia o
e abandono) a negligência (omissão em
desrespeito à infância e a juventude no Brasil
termos de prover as necessidades físicas e
e no mundo, não assegurando a proteção
emocionais de uma criança ou jovem); a
integral e as necessidades infanto-juvenis. A
sexual (abuso e exploração sexual), a
violência provoca consequências negativas
doméstica (quando essas violências são
no processo de crescimento e
realizadas no círculo familiar, por parte dos

Educação no século XXI - Volume 2


127

desenvolvimento do sujeito vítima. Em ansiedade, pela fala pulando etapas eos


situações adversas os grupos vulneráveis bloqueios para a discussão de alguns temas.
nutrem sofrimentos psicológicos, físicos e No desenvolvimento das “rodas” as
psicossociais, afetando a autoestima, o dificuldades apresentadas anteriormente
autoconceito, as relações interpessoais e o foram visivelmente minimizadas.
desenvolvimento da criança e do
A experiência da roda de conversas com os
adolescente.
adolescentes no Programa em Sergipe tem
sido um diferencial na vida destes, uma vez
que tem funcionado como uma ação
3 METODOLOGIA DA PESQUISA E A
educativa que propicia mudanças através do
PRÁTICA DAS RODAS DE CONVERSAS.
desabafo e da externalização dos seus
Em Sergipe, a Tecnologia Social – Rodas sentimentos. Isto se confirma ao verificar o
Comunitárias: Espaço de palavra, escuta e desejo dos jovens para as realizações das
construção de vínculos vem sendo “rodas” e seus anseios quando, por algum
desenvolvida desde o ano de 2011, em um motivo, a mesma não é realizada. Outra
programa socioeducativo que atende a observação realizada é a respeito do grau de
adolescentes e jovens na faixa etária de 16 a envolvimento e do comportamento dos
21 anos de idade vítimas de exploração adolescentes e jovens durante e após as
sexual. Por se tratar de uma instituição práticas, principalmente, o nível de
particular e para preservar a identidade civil maturidade, quando depois de ouvirem os
dos jovens atendidos o nome da instituição relatos se envolverem e se emocionarem uns
não será divulgado pela pesquisa, tratando-a com os outros, não comentam nada fora do
apenas por V.V abreviação do nome oficial do ambiente em questão, vigorando o respeito
programa. por seus pares.
A coleta dos dados deu-se de forma Pode-se destacar o relato de um jovem que
sistematizada no período compreendido de por motivos próprios abandonou o Programa:
Janeiro à Maio do ano de 2015, totalizando a “Me arrependi de deixar o projeto e o que
observação de 08 rodas de conversas com 66 mais me faz falta é aquela roda que a gente
(sessenta e seis) jovens atendidos pelo falava dos nossos problemas. Estou morando
programa. O instrumental utilizado para a sozinho e não tenho com quem conversar...
apreciação dos resultados da pesquisa foi Me sentia bem quando participava. Leve!!”
uma tabela de observação, contemplando: (K.S.B, 19 ANOS, ALUNO). Este adolescente
Número de participantes, temas abordados, participou das 05(cinco) primeiras rodas e
temas de maiores destaques, infelizmente não deu continuidade ao
sentimentos/sofrimentos relatados. Programa, mas foi perceptível diante da fala a
importância dessa Tecnologia Social em sua
No transcorrer das observações foi possível
vida. Mesmo tendo participado de poucas
perceber que a Tecnologia Social, tem sido
rodas, ele refletiu internamente a ponto de
um método importante para ajudar na
destacar esta atividade entre tantas outras
resolução dos problemas e conflitos
que participou em aproximadamente 02 (dois)
vivenciados no dia a dia. As Rodas
meses que frequentou o Programa.
Comunitárias promovem um espaço para que
os adolescentes possam falar do seu Nessa experiência, destaca-se um momento
sofrimento pessoal e familiar; dos marcante, quando um aluno que
preconceitos sofridos pela condição social ou aparentemente não participava das rodas,
orientação sexual, resgatando a autoestima e apesar de se fazer presente em todas,
suscitando mudanças de perspectivas, apresentando sempre um comportamento
proporcionando ainda uma reflexão nos afastado e calado, nunca em participação as
jovens sobre suas histórias de vida, ações propostas, fazendo sempre questão de
possibilitando uma comparação com a demonstrar sua indiferença, na 6ª “roda” ele
história de vida do outro e o entendimento de rompeu o silêncio e apresentou chorando a
que ele não está sozinho, e que pode contar sua inquietação: A raiva pela não aceitação,
com o apoio, pelo menos naquele momento, por parte da família, da sua orientação sexual,
dos companheiros participantes da roda. bem como as humilhações e maus tratos
sofridos dentro de casa. Este fato reforça que
Vale ressaltar, que no início das observações
a Roda Comunitária como um espaço de
pode-se perceber as dificuldades com
escuta provoca reflexões não só nos
relação à falta de concentração dos jovens, a
protagonistas das falas, mas em todos que

Educação no século XXI - Volume 2


128

fazem parte da ação e que silenciosamente apresentados neste artigo, entende-se como
vão processando até chegar o seu momento. uma ferramenta para uso na superação de
jovens vítimas de exploração sexual. Para
A frequência das rodas, o afeto do grupo, o
isso, faz-se necessário inicialmente, entendê-
não julgamento e a acolhida sem censura, fez
los e tratá-los como seres em
com que osadolescentes e jovens do
desenvolvimento e sujeito de direitos civis,
Programa V.V aprendessem a lidar com uma
humanos e sociais conforme preconiza a
forma nova de se relacionar, de dar vazão aos
legislação vigente.
sentimentos e de possibilitar dar e receber
outros carinhos e afetos. Os jovens utilizaram Nesse sentido, faz-se necessário uma reflexão
a tecnologiasocial, como instrumento de sobre os valores, a concepção de infância,
reflexão, transformação e superação, das relações de poder assimétricas, sobre a
desenvolvendo habilidades para enfrentar sexualidade e relações de gênero, sobre a
situações críticas dentro de suas histórias de concepção defamília, sobre o verdadeiro
vida. papel do educador e da educação. Tendo
como objetivo a colaboração com o
desenvolvimento dos jovens, dispondo-lhes
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS uma formação holística.
Comumente na sociedade atual, percebe-se Na prática educativa é preciso ter um espaço
cada vez em maior proporção o de expressão e aceitação das diversidades
distanciamento entre os pares. No caso dos sem discriminação e preconceitos. Aceitar a
adolescentes e jovens vítimas de exploração pluralidade e a natureza do trabalho
sexual, o afastamento e o silêncio são pedagógico acerca da construção cidadã,
sentimentos que clamam dos sentidos, descobrindo novas formas de ensinar,
servindo-lhes como forma de evitar algum tipo tornando os indivíduos sujeitos da sua história
de julgamento. e não meros objetos. A escola deve
apresentar meios que contribuam com o
A Tecnologia Social apresenta em suas ações
conhecimento dos jovens, seu papel na
o “ouvir” sem julgamentos e o “falar” sem
sociedade e suas formas de expressão com o
restrições, com base nos resultados
mundo.

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Educação no século XXI - Volume 2


130

CAPÍTULO 19
Maria Angela Lima Assunção

Resumo: O uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs),


com suas inúmeras possibilidades, também pode contribuir para um ensino
contextualizado e dinâmico, além de aproximar o aprendiz da sua realidade,
integrando a escola e a sociedade da informação. Diante dessa constatação
questiona-se: como a escola pode auxiliar o educando a utilizar melhor os recursos
tecnológicos? Como essas ferramentas podem constituir instrumentos de inclusão
social para os estudantes da educação pública? Este estudo propõe uma
discussão sobre as tecnologias digitais no contexto educacional vigente no século
XXI. Diante da relevância da integração das TDICs, como elementos mediadores no
processo de ensino e aprendizagem, torna-se necessário difundir esse debate no
meio acadêmico uma vez que tais discussões são bastante pertinentes no espaço
educativo. As reflexões aqui apresentadas embasam-se nos postulados dos
seguintes teóricos e pesquisadores: Lévy (1999), Castells (1999), Moran (2008),
Kenski (2007), Moreira et al (2012), Grané (2011), Martín (2012), Moreira (2012),
Burbules (2011), Prensky (2001), Coscarelli (2009), dentre outros. Por se tratar de
um artigo de revisão utiliza-se como metodologia a pesquisa bibliográfica dentro da
abordagem qualitativa. Considerando-se as orientações dos autores elencados,
assegura-se que é de fundamental importância oferecer aos estudantes uma
formação adequada para o uso crítico das tecnologias digitais, de forma que estas
possam facilitar-lhes as atividades que exercem nos diferentes domínios sociais
(escola, trabalho, igreja, associações) e a interação entre os grupos.

Palavras-chave: Tecnologias digitais. Educação. Século XXI.

Educação no século XXI - Volume 2


131

1 INTRODUÇÃO embora estas possuam computadores com


acesso à internet e outros meios. Em muitos
A utilização de recursos tecnológicos, nos
casos, apenas reproduzem modelos
diferentes setores da sociedade, seja na
tradicionais, como destaca Grané (2011, p.
esfera pública ou privada, auxilia no
67): “En muchos casos las tecnologías en la
desempenho de muitas atividades, além de
escuela tivieran un papel curricularizador de
facilitar a interação entre as pessoas,
reprodución de modelos tradicionales de la
independente da distância em que se
enseñanza, cuando en la realidade, podrían
encontrem. As Tecnologias Digitais de
haber sido un elemento revolucionário”.
Informação e Comunicação (TDICs) também
Assim, é necessário investigar as causas do
estão presentes na maioria das instituições de
insucesso na aprendizagem que se evidencia
ensino do país, podendo contribuir para a
em muitas escolas que, apesar de possuírem
melhoria do processo de ensino e
os mais diferentes aparatos tecnológicos, não
aprendizagem, se utilizadas de maneira
apresentam resultados satisfatórios no
adequada.
processo de ensino-aprendizagem. Nessa
Esse termo, segundo Carlos Alberto Afonso,
perspectiva, este trabalho tem como objetivo
representa melhor a realidade de uso das
apresentar algumas considerações no âmbito
ferramentas tecnológicas no século atual. O
dessa temática, tomando por base os
autor esclarece que a sigla “TICs, ou
postulados de Lévy (1999), Castells (1999),
Tecnologias de Informação e Comunicação
Moran (2008), Kenski (2007), Moreira et al
[...] deveria ser TDICs, porque tecnologias de
(2012), Grané (2011), Martín (2012), Moreira
informação e comunicação existem desde
(2012), Burbules (2011), Prensky (2001),
tempos imemoriais, mas suas formas digitais
Coscarelli (2009) dentre outros. Seus
são um fenômeno que se consolidou na última
conceitos, teorias e pesquisas, além do
década do século XX.” (AFONSO, 2002, p.
enfoque político-pedagógico, esclarecem o
169).
que são as TDICs, destacam a sua utilidade
A inserção desses recursos nas diversas
no processo ensino-aprendizagem,
modalidades de ensino tem constituído um
evidenciando a necessidade de se
desafio para a escola do século XXI. Torna-se
transformar a realidade educativa das escolas
necessário que esta se adapte às
do século XXI com o uso didático desses
necessidades educacionais de uma nova
recursos. Como metodologia optou-se pela
geração de estudantes ‘nativos e imigrantes
pesquisa bibliográfica dentro da abordagem
digitais’ (PRENSKY, 2001) oferecendo-lhes um
qualitativa (SEVERINO, 2010), utilizando-se de
ensino significativo que vá ao encontro de
material impresso e digital.
seus interesses. A aquisição de
Os resultados apontam para a relevância dos
conhecimentos mediada pelas TDICs
aspectos teóricos apresentados em cada
possibilita um ensino contextualizado e
obra consultada que, aliados à experiência
dinâmico, além de aproximar o aprendiz da
dos autores, servem como ponto de partida
sua realidade, atenuando o fosso existente
para a reflexão dos educadores que sentem a
entre a escola e a sociedade da informação.
necessidade de mudar a sua prática
Fazer uso das TDICs nas escolas não se trata
pedagógica, porém hesitam diante das
de uma opção: é uma necessidade urgente
dificuldades que se lhes apresentam em
visto que fazem parte das ações cotidianas
forma de discursos carregados de
realizadas pelos estudantes que facilmente
negatividade. Para que essa mudança se
percebem as diferentes formas de aprender
concretize deve haver determinação e
na escola e na sociedade. Diante dessa
ousadia por parte dos professores e, para
constatação, surgem alguns
estes, Freire (2000, p. 37) assegura que
questionamentos: como a escola pode auxiliar
“mudar é difícil mas é possível”. (grifo do
o educando a utilizar melhor os recursos
autor)
tecnológicos? Como essas ferramentas
podem constituir instrumentos de inclusão
social para os estudantes da educação 2 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
pública? COMUNICAÇÃO: DEFINIÇÕES E
Na literatura nacional e estrangeira IMPORTÂNCIA
encontram-se vários trabalhos que destacam
Para compreender melhor o uso das
a utilidade dos recursos tecnológicos para
Tecnologias de Informação e Comunicação
auxiliar a prática pedagógica do professor,
(TICs) no contexto educacional é necessário
porém, seus autores reiteram que não houve
ter clara a ideia expressa por esse termo,
mudanças significativas em muitas escolas,

Educação no século XXI - Volume 2


132

embora não haja unanimidade quanto ao seu e professores para tirar dúvidas, enviar tarefas
conceito, visto que é “variável e contextual” utilizando ferramentas como chats, fóruns, e-
conforme esclarece (KENSKI, 2007, p. 25). mails, etc. Dessa forma, tem continuidade o
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) diálogo iniciado na sala de aula, sempre que
definem as TICs como “recursos tecnológicos houver necessidade, mesmo em espaços
que permitem o trânsito de informações, que diferentes. Além disso, os pais podem
podem ser os diferentes meios de acompanhar a vida escolar de seus filhos (via
comunicação (jornalismo impresso, rádio e internet) no horário mais conveniente, em suas
televisão), os livros, os computadores, etc.” próprias casas, visto que a rede pública
(BRASIL, 1998, p. 135). estadual de ensino já trabalha com o Sistema
Integrado de Gestão da Educação (SIGeduc).
A partir da sua funcionalidade são descritas
Isso, porém, não anula a importância e a
como ferramentas tecnológicas que servem
necessidade das visitas presenciais à escola;
para elaborar, armazenar e disseminar
apenas aponta uma das vantagens de uso
informações por intermédio das redes
das tecnologias para facilitar o dia a dia dos
telemáticas. Assim, Area Moreira (2012, p. 11)
trabalhadores.
as define como hierramentas tecnológias para
la elaboración, almacenamiento y difusión
digitalizada de información basadas en la 3 AS TDICS NA EDUCAÇÃO: DESAFIO PARA
utilización de redes de telecomunicación O PROFESSOR DO SÉCULO XXI
multimídia. [...] podríamos entenderlas como O uso das TDICs com fins educativos não é
la fusión de tres tecnologias que ya existían uma tarefa simples, pois requer conhecimento
separadas (las audiovisuales, las de teórico que permita ao professor planejar
telecomunicaciónes y las informáticas) pero práticas de ensino e aprendizagem
que ahora convergen en la produción, significativas para o estudante. A presença
almacenamiento y difusión digitalizada de desses recursos nas escolas também causa
cualquier tipo de dato. grande impacto nas formas de disseminação
Sob essa perspectiva, este estudo contempla de informações e aquisição de
o uso das TICs enquanto ferramentas que conhecimentos tendo em vista a mudança
podem ser integradas ao processo de ensino que proporciona no paradigma de ensino. A
e aprendizagem a fim de ampliar as escola e o professor deixam de ser os únicos
possibilidades pedagógicas, minimizando a detentores de conhecimentos e passam a ser
distância que existe entre a escola e mediadores da ação educativa nesse
sociedade. Seu uso na educação justifica-se processo, como destaca Burbules (2011, p.
pela necessidade de adaptação da escola ao 21-22)
contexto social em que os alunos estão El impacto de las nuevas tecnologias no se
inseridos, além de proporcionar novos modos produce sólo en la escuela sino tembién en
de ensinar e aprender. los diversos ambientes donde el aprendizaje
A relevância das TICs, no contexto tiene lugar. A esto me refiero com ‘aprendizaje
educacional, também se explica em virtude ubicuo’. [...] La combinación de la
de oferecerem possibilidades de portabilidad de los dispositivos y la expansión
aprendizagem compatíveis com as que
de la conexión inalámbrica permite que el
acontecem fora do ambiente escolar, cujo
aprendizaje suceda en cualquier lugar y
valor para a vida social dos aprendizes é
momento: en la casa, en el trabajo, en el bar,
incontestável. Esse fato coage a escola a
en la biblioteca. [...] la tecnologia funciona
adaptar-se ao novo paradigma. A esse
como un ponte que conecta a las escuelas
respeito Martín (2012) evidencia que a
con estos ambientes.
sociedade atual implica novos modelos de
ensino, visto que a escola está inserida nesse Possuir computadores com acesso à internet
ambiente em que as tecnologias têm grande e outros equipamentos tecnológicos não
influência no processo de aprendizagem. garante que as instituições educacionais
Outro aspecto importante, com relação ao uso ofereçam uma educação de qualidade, em
das TICs, refere-se à interação (aluno x especial quando se trata da geração dos
professor, aluno x aluno) que as diferentes “nativos digitais” termo utilizado por Prensky
ferramentas tecnológicas possibilitam. (2001) para designar a geração que já nasceu
Independente do espaço em que se e cresceu em contato direto com as
encontrem, fora do horário de aula presencial, tecnologias digitais. Essa terminologia
os discentes podem interagir com os colegas também é empregada por Palfrey; Gasser

Educação no século XXI - Volume 2


133

(2011) para se referir a crianças, adequado dessas ferramentas, tanto para


adolescentes e jovens que nasceram a partir realização ações rotineiras (uso de caixas
da década de 1980 e estão em contato eletrônicos; digitação de senhas nas
permanente com o mundo informatizado. transações bancárias ou pagamentos em
Daí surge o desafio para os educadores que, lojas; o voto eletrônico; simuladores de provas
assim como muitos alunos adultos, também de habilitação; uso dos diferentes recursos
se enquadram na categoria de “imigrantes que o celular oferece, entre outras) quanto
digitais” ou pessoas que, apesar de estarem para realização de tarefas escolares (uso do
inseridas no contexto informatizado, ainda não computador e/ou similares para realização de
se sentem aptas para manusear os diferentes pesquisas na internet; uso das diferentes
recursos tecnológicos, conforme destacam ferramentas do Office como word, powerpoint,
(PALFREY; GASSER, 2011). O professor deste excel, a utilização do prezzi, aplicativos etc.
século tem a responsabilidade de mediar o para a elaboração de textos e apresentações;
processo de ensino e aprendizagem, utilização do e-mail, e tantos outros recursos.)
proporcionando aos estudantes novas formas A escola do presente século precisa
de aquisição de conhecimento. Lévy (1999) já proporcionar aos educandos (e também aos
dizia que, nesse contexto, cabe ao professor educadores!) o letramento digital que, para
acompanhar a gestão das aprendizagens, Buckingham (2010), vai além do letramento
incentivar a troca de saberes, mediar o instrumental ou funcional que compreende
processo de aprendizagem. saber usar o computador, realizar pesquisa
na web, usar navegadores, hiperlinks,
A escola, enquanto agência de letramento, é
mecanismos de busca etc. Os estudantes e
um ambiente propício para se estabelecer a
demais usuários das TDICs precisam saber
parceria entre professor e aluno, o que produz
avaliar e usar as informações de forma crítica,
um aprendizado mútuo entre essas gerações
a fim de que estas sejam, de fato,
cujos saberes se complementam. A
transformadas em conhecimento. Dessa
experiência e maturidade dos professores
forma, alunos e professores poderão
aliadas às habilidades dos alunos no
desenvolver as habilidades necessárias para
manuseio das TDICs podem gerar resultados
o manuseio das máquinas modernas.
positivos para o ensino, desde que as ações
sejam bem planejadas e haja compromisso
dos sujeitos nelas envolvidos. Para tanto, o 4 CONTRIBUIÇÕES DAS TDICS PARA A
professor precisa desconstruir os seus velhos EDUCAÇÃO
conceitos de ‘ensinar e aprender’ e reconstruí- A maioria das escolas públicas possuem
los com base no contexto educacional vigente equipamentos tecnológicos (computadores,
em que o professor não é mais aquele que notebooks, impressoras, fax, lousa digital,
sabe e ensina e o aluno alguém que não sabe etc.), acesso à internet, sem contar com os
e aprende. Existem muitas formas de dispositivos móveis (desde os celulares mais
aprender e, nesse processo, o docente é simples até os smartphones mais modernos,
apenas um mediador, orientador. Esse tablets, e outros) que já fazem parte da
pensamento está expresso nas palavras de realidade dos estudantes que frequentam as
Coscarelli (2009, p. 16) quando afirma que diferentes modalidades de ensino ofertadas
precisamos rever os objetos de ensino e as na escola. Algumas instituições de ensino até
formas de fazer isso. Precisamos possuem laboratórios de informática. No
urgentemente admitir nossas muitas falhas entanto, esse fato não garante a melhoria do
nos cursos de formação de professores, já ensino, visto que “difundir a Internet ou
que ainda nos pautamos em práticas colocar mais computadores nas escolas, por
tradicionais de ensino, [...] ainda temos muito si só, não constituem necessariamente
medo do novo e temos dificuldade de grandes mudanças sociais. Isso depende de
desenvolver a autonomia da aprendizagem onde, por quem e para quê são usadas as
nos nossos alunos e de promover a tecnologias de comunicação e informação.”
aprendizagem colaborativa, porque ainda não (CASTELLS, 1999, p. 19).
conseguimos nos livrar das aulas expositivas
centradas no professor em ambientes A finalidade educativa das TDICs na escola
presenciais. não deve se restringir a um ensino técnico,
mas, promover “um ato de conhecimento (...)
As TDICs permitem o acesso a informações entre educadores e educandos, uma relação
atualizadas e significativas, porém o de autêntico diálogo.” (FREIRE, 1983, p. 40) e
estudante precisa ser orientado quanto ao uso isso depende da ‘finalidade’, ‘como’ e ‘quem’

Educação no século XXI - Volume 2


134

as utiliza, de acordo com a posição defendida aprendizagem acontece quando


por Mercado (2002, p. 12 - 13) no excerto a conseguimos integrar todas as tecnologias, as
seguir: telemáticas, as audiovisuais, as textuais, as
orais, musicais, lúdicas, corporais”. Nesse
Na chamada Sociedade da Informação,
contexto o papel do professor é fundamental
processos de aquisição do conhecimento
como orientador do aluno na seleção de
assumem um papel de destaque e passam a
informações importantes.
exigir um profissional crítico, criativo, com
Como adverte Kenski (2007), para que as TIC
capacidade de pensar, de aprender a
provoquem alterações no processo educativo,
aprender, de trabalhar em grupo e de se
elas devem fazer a diferença e isso só será
conhecer como indivíduo. (...). É função da
possível quando forem incorporadas
escola hoje, preparar o aluno para pensar,
pedagogicamente, observando-se e
resolver problemas e responder rapidamente
respeitando-se as especificidades do ensino
às mudanças contínuas.
e das próprias tecnologias. Sendo assim, não
Essa capacidade de aprender a aprender basta usar o computador, o datashow,
ainda enfrenta resistência por parte de alguns filmadora etc., se esses recursos não levam a
professores que permanecem com aquela uma reflexão e não contribuem para tornar o
visão de professor como detentor do aprendizado mais eficiente.
conhecimento e não admitem que seus alunos
lhes ensinem a manusear as ferramentas 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
tecnológicas. Se não sabem utilizá-las,
preferem excluí-las de sua prática O estudo realizado a partir da bibliografia
pedagógica, mantendo-se presos a elencada aponta para a necessidade de se
metodologias tradicionais (embora estas não desenvolver, na escola, um trabalho que
devam ser eliminadas, visto que, se bem proporcione aos educandos e educadores a
utilizadas, também contribuem para o utilização pedagógica dos recursos
processo de ensino e aprendizagem). tecnológicos, sobretudo no que se refere ao
Essa realidade confirma as palavras de desenvolvimento do letramento digital. A
Medina Rodríguez; Robles Carrascosa (2011, escola ainda não consegue integrar as
p.12) ao destacarem a importância da tecnologias às atividades didáticas causando,
integração das TICs no trabalho docente e as muitas vezes, a desmotivação dos estudantes
dificuldades que surgem para o seu uso em vista da descontextualização do ensino
eficaz diante da resistência de alguns que lhes é oferecido. Tal fato exige uma
professores: “Este nuevo panorama, en el cual mudança no modelo atual de ensino a fim de
las tecnologías de la información y que haja coerência entre os conhecimentos
la comunicación ocupan um lugar destacado, disseminados na escola e aqueles que são
propicia el desarrollo de esfuerzos construídos nas interações sociais fora do
combinados para vencer la resistencia que ambiente escolar.
tienen aún algunos docentes a incorporarlas Portanto, cabe à escola proporcionar aos
en sus aulas”. professores a formação necessária para o uso
Muitas vezes, o professor precisa aprender das TDICs e incentivá-los a se apropriarem
junto com o aluno e, em vez de excluir o uso dos benefícios que estas oferecem, além de
das TDICs de suas aulas, por não ter o proporcionar aos educandos oportunidades
conhecimento suficiente para utilizá-las, deve de utilizá-las de maneira adequada, de forma
admitir suas limitações, sabendo que que possam atender as suas necessidades
“ninguém sabe tudo, assim como ninguém diárias. Assim, o perfil do educador e do
ignora tudo. (...) sabendo que sabe pouco é educando do século XXI encontra-se
que uma pessoa se prepara para saber mais” expresso no seguinte trecho contido nos
(FREIRE, 1983, p. 30-31). Dessa forma, juntos Parâmetros Curriculares Nacionais:
– educador e educandos – podem construir o Não basta visar à capacitação dos estudantes
conhecimento necessário para explorar esses para futuras habilitações em termos das
recursos que, queiramos ou não, estão
especializações tradicionais, mas antes trata-
presentes em quase todas as ações
se de ter em vista a formação dos estudantes
desenvolvidas pelo homem no seu dia a dia.
em termos de sua capacitação para a
Sendo assim, a presença das TDICs na
aquisição e o desenvolvimento de novas
escola deve proporcionar a aprendizagem
competências, em função de novos saberes
significativa a que se refere Moran (2008, p.
que se produzem e demandam um novo tipo
32) ao dizer: “uma parte importante da
de profissional, preparado para poder lidar

Educação no século XXI - Volume 2


135

com novas tecnologias e linguagens, capaz os estudantes, que estão fazendo uso da
de responder a novos ritmos e processos. tecnologia de forma desvinculada das
Essas novas relações entre conhecimento e atividades escolares. Além disso, é importante
trabalho exigem capacidade de iniciativa e que haja um monitoramento nas escolas
inovação e, mais do que nunca, “aprender a contempladas com esses equipamentos,
aprender”. (BRASIL, 1997, p. 28). oriundos do Governo Federal ou de outras
fontes, a fim de que não se tornem objetos
Dada a importância da utilização eficaz das
obsoletos pela falta de uso, ou sejam
TDICs no contexto educacional, faz-se
utilizados com finalidades não pedagógicas.
necessário a implementação de políticas que
A escola do século XXI não pode continuar
não se limitem à aquisição de recursos
com práticas de ensino ultrapassadas,
tecnológicos para as escolas. É indispensável
enquanto a sociedade moderna oferece, aos
que se invista na capacitação dos professores
aprendizes, novas e variadas formas de
para que possam utilizá-los como aliados no
aprender com as TDICs.
trabalho docente e orientar adequadamente

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Educação no século XXI - Volume 2


136

CAPÍTULO 20
Francisca Neiriland Turbano dos Santos
Luiz Alberto Ribeiro Rodrigues

Resumo: O presente artigo tem como objetivo identificar as perspectivas e os


desafios dos professores na implantação das tecnologias digitais da comunicação
e informação na escola. Apresenta-se reflexões iniciais de uma pesquisa em
andamento em que se busca obter um contexto de informações de abordagem de
natureza qualitativa, identificando os fatores colaborativos de aplicação de
tecnologias da informação e da comunicação na prática de sala de aula, mais
precisamente a utilização dos tablets do Programa Aluno Conectado do Estado de
Pernambuco. Entende-se que o processo de aprender de cada indivíduo se
concretiza pela construção do conhecimento, um processo pedagógico sempre
desafiador. Conclui-se que o uso de tecnologias da informação e comunicação na
educação tem funções didáticas pedagógicas, caracterizada por uma estratégia
de interação entre o sujeito e o conhecimento. É desse modo um desafio à
educação, na medida em que deve considera-se o uso das TICs, uma nova postura
pedagógica frente às mudanças culturais do nosso tempo.

Palavras-chave: Tecnologias da Informação e Comunicação. Políticas


Educacionais. Ensino e Aprendizagem.

Educação no século XXI - Volume 2


137

1. INTRODUÇÃO parece que ainda existe uma distância muito


grande entre o meio escolar e a sociedade
O uso das Tecnologias da Informação e
impregnada de tecnologias na qual vivem os
Comunicação (TICs) na educação tem sido
jovens (...) a escola não parece ter
uma questão abordada por vários autores,
conseguido construir a ponte entre as
dado a complexidade com que se
transformações tecnológicas e sociais vividas
apresentam o processo de mediação
no seio da sociedade e a sala de aula, onde o
pedagógica, incorporação de práticas
aluno é “forçado” a estudar, obrigado a
diferenciadas na sala de aula e a
escutar, afastado das inovações, apertado em
interatividade necessária no processo de
um horário relativamente restrito. (KARSENTI,
ampliação de conhecimentos.
2010, p.338).
Uma questão central nesta pesquisa é a
Acrescente-se ainda ao estudo, um alerta ao
análise do modo como os professores utilizam
fato de que, não basta ofertar conteúdos e
no seu planejamento, a inserção das TICs no
recursos multimídia e digitais, para que ocorra
ensino e na aprendizagem de seus
de fato um novo ambiente para aprender,
estudantes. Foi debruçando-se sobre práticas
como destaca:
e procedimentos adotados pelos professores
no uso das TICs, que estudiosos como Introduzem-se tecnologias sem
Karsenti, (2010), Rezende (2002), Bondia verdadeiramente mudar o resto da escola ou
(2002), Arruda (2012), Sacristán e Gòmez a pedagogia que se pratica ali: nesse ponto
(1998), chegarm a conclusões de que a estaria o verdadeiro desafio da integração
incorporação das TICs na educação tem das TIC à escola(...) o problema da incursão
sentido enquanto ligado a articulação do das TIC na pedagogia ultrapassa as
saber e do conhecimento. condições materiais e estaria mais ligado à
necessidade de mudanças radicais na
Grinspun (2002) propõe a utilização das TICs,
maneira de dar aula, que segundo vários
mas alerta que não é tão fácil utilizar-se das
estudos, mudou muito pouco ao longo do
tecnologias como ferramenta de
último século. (IBIDEM, p.338-339).
aprendizagem, devido às principais
necessidades e dificuldades enfrentadas
pelos professores na sua prática de sala de
2. PROGRAMA ALUNO CONECTADO EM
aula, cabendo nesta pesquisa identificar e
PERNAMBUCO
analisar os desafios das inovações
tecnológicas na educação com o uso do Em 1997, o governo federal lançou o
tablet na sala aula do ensino médio em programa de informatização de escolas
Pernambuco, que indique mudanças no fazer públicas denominado como Programa
pedagógico. Nacional de Informática na Educação –
Proinfo, que propunha a melhoria da
Os uso das TICs são ainda referenciadas por
qualidade educacional e com o objetivo de
Cardoso, Pino e Dorneles (2012), sobretudo
promover o uso pedagógico da informática na
no que se refere a questão do manuseio de
rede pública de educação básica. Trata-se de
ferramentas concretas para o trabalho
um programa para integrar e articular a
docente.
distribuição de equipamentos tecnológicos
Tem sido cada vez mais comum entre as para as escolas (computadores, impressoras
escolas, como por exemplo, as escolas e outros equipamentos tecnológicos). Em
estaduais de Pernambuco, o uso de contrapartida, o Distrito Federal, estados e
tecnologias como ferramentas que contribuem municípios devem garantir a estrutura
para promover a inclusão digital, e num só adequada para receber os laboratórios de
tempo incorporar o desenvolvimento informática e capacitar os educadores para o
econômico e cultural do país contribuindo uso dos equipamentos tecnológicos.
para a construção do conhecimento e a
No estado de Pernambuco o governo, através
formação cultural dos estudantes. No entanto,
da Gerência Geral de Tecnologia da
observa-se que, com a chegada das
Informação, aprovou a Lei nº 13.686 (11 de
tecnologias digitais na sociedade está muito
dezembro de 2008) que instituiu abono, de
longe de haver uma relação com a sala de
natureza indenizatória, destinado à aquisição
aula e com as inovações tecnológicas
de computadores e acessórios, no âmbito da
incorporadas nas escolas. Neste sentido:
Secretaria de Educação de Pernambuco para
o quadro efetivo de professores em regência

Educação no século XXI - Volume 2


138

de sala de aula. Em 2011, foi aprovada a Lei A chegada dessas tecnologias nas escolas na
nº 14.546 (21 de dezembro de 2011), do verdade faz parte da Política Nacional de
“Programa Aluno Conectado”, o qual Informática que se efetivou inicialmente, sob a
“disponibiliza gratuitamente, aos alunos dos responsabilidade da Secretaria Especial de
segundo e terceiro anos do ensino médio da Informática (SEI) que em 1980 cria a
rede pública estadual, um Tablet/PC, para uso Comissão Especial de Educação, para
individual, dentro e fora do ambiente escolar, realizar estudos sobre a aplicabilidade da
como material de apoio pedagógico informática da educação.
permanente do estudante”. (PERNAMBUCO,
Atualmente o Distrito Federal, estados e
2011, p. 17).
municípios ofertam para as escolas que
Os critérios para que esses alunos recebam tenham uma estrutura adequada para receber
este material, estão no termo de comodato, os laboratórios de informática e capacitar os
assinado pelo responsável por ele e pela educadores para o uso dos equipamentos
gestão da escola. Para adquirir tecnológicos.
automaticamente o equipamento os critérios
Entre o final do século XX e o início do século
são os seguintes:
XXI, a disseminação do uso das tecnologias
[...]estar regularmente matriculado em digitais de informação e comunicação (TDIC)
unidades de ensino da rede estadual de transformou as relações espaço-temporais,
educação; ter sido aprovado nos três anos do potencializou a mobilidade funcional e
ensino médio; ter justificado a ausência por acentuou as mudanças já em curso nos
um período maior que trinta dias; uso modos de trabalho, na produção de
responsável do equipamento no processo de conhecimento e na aprendizagem, o que
aprendizagem. Durante os dois anos do evidenciou a necessidade de preparar
ensino médio o aluno poderá adquirir o profissionais para viver e trabalhar na
equipamento por empréstimo. Sendo sociedade tecnológica (....)decorrente das
reprovado, no final do 3º ano do ensino desigualdades sociais, levando-os à definição
médio, o mesmo deverá devolver o de políticas públicas de inclusão digital, entre
equipamento em boas condições de as quais as ações de uso de tecnologias nas
funcionamento. (IBIDEM). escolas. (SILVA e ALMEIDA, 2011, p. 27)
Adicionalmente, a maioria das escolas As TICs na educação se apresentam como
estaduais conta com um laboratório de uma ação voltada para a incorporação de
informática, com sistema multimídia práticas diferenciadas na sala de aula, no
(Datashow) e projetor de slides e lousa digital, sentido de oportunizar aprendizagens em que
e os utilizam como apoio pedagógico. o estudante possa, a partir de recursos
tecnológicos, ampliar a interatividade,
A chegada dos tablets para os estudantes do
condição fundamental para ampliar seus
segundo ano do ensino médio, nas escolas
conhecimentos. É necessário compreender o
estaduais de Pernambuco, tem gerado um
contexto em que as TICs na educação
“trabalho muito intenso” por parte dos
possibilitam aumentar o processo do
gestores e professores, pois até então não se
aprender e a partir dele ampliar no estudante
evidenciam mudanças significativas no ensino
sua inserção no universo cultural existente no
e aprendizagem ligadas a esta ferramenta
mundo, considerando que “a utilização dos
tecnológica ofertada para as escolas. Visto
recursos tecnológicos catalisa o processo de
que o acesso à internet que existe nelas é de
aprendizagem e proporciona uma formação
baixa velocidade, o que impede que os
ampla do estudante, tanto na aquisição dos
alunos realizem pesquisas. Outro aspecto
conhecimentos acumulados pela humanidade
complicador é sentido pelos professores em
quanto para atuar no desenvolvimento da
ministrar suas aulas, o uso inadequado dos
sociedade, que está em constante
tablets por parte dos alunos.
transformação” (ARRUDA, 2012, p. 34).
Percebe-se por outro lado, um baixo nível de
Outro aspecto inerente a esta questão é que
preparação dos professores para trabalhar
“as TICs também são chamadas a transformar
com essa ferramenta como estratégia para
o procedimento pedagógico ou didático”
aprofundar o conhecimento. Nota-se que a
(KARSENTI, 2010, p.343), além disso,
maioria deles está um passo atrás dos alunos
oportunizar aprendizagens em que o
no que se refere ao domínio das tecnologias
estudante possa buscar nas ferramentas
tecnológicas digitais a interatividade, a qual

Educação no século XXI - Volume 2


139

se torna necessária para ampliar seus Assim, falar de uso de tecnologias como
conhecimentos. ferramenta de aprendizagem nos remete a
uma questão central da pedagogia, o saber
Acerca desta perspectiva, a incorporação das
docente, que tem uma característica plural,
TICs na sala de aula deve está ligada a
mais especificamente o saber da ação
situações em que os conhecimentos
pedagógica. (GAUTHIER et al, 2006).
científicos estudados aconteçam de forma
contextualizada atendendo ao currículo Neste contexto o uso da TICs na Rede
escolar para se tornarem adequados à prática Estadual de Educação em Pernambuco e em
de sala de aula. Assim: outros Estados brasileiros, como suporte para
a prática pedagógica nas escolas públicas,
A prática – a boa e correta prática – não pode
desafiam os educadores a um novo jeito de
ser deduzida diretamente de conhecimentos
formação baseado na reflexão e
científicos descontextualizados das ações
compreensão do meio social, como destaca a
realizadas em situações reais. Em primeiro
autora acima citada.
lugar, porque a realidade educativa em que
os professores/as devem trabalhar não foi Contempla-se a um novo jeito de formação
criada pela ciência, como acontece com efetivamente utilizado pelas formas de fazer
muitas das tecnologias modernas. Se do professor,
acreditássemos que os professores/as podem
[...] aos saberes que seriam caracterizados
realizar um ensino “adequado” a partir do
por contribuírem na formulação das
conhecimento científico, deveríamos explicar-
concepções dos docentes a respeito de sua
lhes porque sempre se deparam com uma
atividade profissional, como por exemplo, os
realidade que os impede de tentarem realizar
saberes da formação profissional, os saberes
esta prática. (SACRISTÁN e GÒMEZ, 1996, p.
da experiência e os seus saberes pessoais; e
10).
também referência àqueles saberes que
Nos dias atuais, a incorporação das TICs na poderiam ser caracterizados como
sala de aula pode ser considerada como uma instrumentais, a exemplo, os saberes
estratégia a mais de articulação necessárias referentes ao manuseio de ferramentas
entre a realidade, a informação, ao concretas de trabalho (livros, apostilas, fichas,
conhecimento ao saber. Pode-se considerar programas de computador, etc.). (CARDOSO,
que algo é útil quando tem sentido, quando PINO e DORNELES, 2012, p. 5).
nos apropriamos e nos faz crescer. Ainda
Além disso, Bondia (2002) deixa claro o
mais a ciência e a tecnologia não têm fim.
quanto é importante o que aproveitamos a
[...]o conhecimento atualmente, é cada dia, para que novas experiências se
essencialmente a ciência e a tecnologia, algo caracterize a riqueza em nossa prática
essencialmente infinito, que somente pode pedagógica.
crescer, algo universal e objetivo, de alguma
A experiência é o que nos passa, o que nos
forma impessoal; algo que está ai, fora de nós
acontece, o que nos toca. Não o que se
como algo de que podemos nos apropriar e
passa, não o que acontece, ou o que toca. A
que podemos utilizar; e algo que tem haver
cada dia se passam muitas coisas, porém, ao
fundamentalmente com o útil no seu sentido
mesmo tempo, quase nada nos acontece. Dir-
mais estreitamente pragmático, num sentido
se-ia que tudo o que se passa está
estritamente instrumental. (BONDIA,2002, p.
organizado para que nada nos aconteça.
27).
Walter Benjamin, em um texto célebre, já
Mas afinal, como utilizar-se das tecnologias observava a pobreza de experiências que
como ferramenta de aprendizagem? A caracteriza o nosso mundo. Nunca se
resposta não é tão simples como parece, passaram tantas coisas, mas a experiência é
porque depende de práticas diferenciadas cada vez mais rara. (2002, p. 21).
que devem ser ajustadas ao fazer
Fica claro que não basta tecnologias na
pedagógico e ao currículo, assim, “como as
escola. É necessário outros elementos para
tecnologias são complexas e práticas ao
que políticas como essa ganhe significado
mesmo tempo, elas estão a exigir uma nova
real no processo de melhoria da
formação do homem que remeta à reflexão e
aprendizagem do estudantes, entre esses, o
compreensão do meio social em que ele se
elemento do saber docente.
circunscreve.” (GRINSPUN, 2002, p.25).

Educação no século XXI - Volume 2


140

Outros estudos na área analisam de aula Grinspun (2002) propõe a interação


favoravelmente a utilização das TICs em sala das TICs com a educação e um currículo
de aula, com significativos para o processo flexível destacando-se o seguinte:
de ensino e aprendizagem. Destaca-se nesse
a utilização das tecnologias com sua
sentido o trabalho de Arruda (2012), em um
dimensão interativa mostra que a educação
estudo de doutorado na Universidade
tem que mudar para que o indivíduo não
Católica de São Paulo:
venha a sofrer com lacunas que deixaram de
[...] O processo de ensino e aprendizagem ser preenchidas porque a educação só
pode ser amplamente beneficiado com a estava preocupada com um currículo rígido
utilização das tecnologias, que são potentes voltado para saberes e conhecimentos
catalisadoras deste processo. O docente, de aprovados por um programa oficial.
posse delas, poderá ampliar o seu repertório (GRINSPUN, 2002, p. 30).
de como ensinar, as suas estratégias,
Dando também ênfase a contribuição a esse
repensar as abordagens pedagógicas usadas
respeito destaca-se Karsenti (2010):
e criar novas e desafiadoras situações de
aprendizagem. Por outro lado, o aluno As TIC dão a ocasião de repensar e de
poderia: variar o ritmo de sua aprendizagem deslocalizar, no tempo e no espaço, os
melhorar seu desempenho com relação à intercâmbios entre os docentes e os alunos, e
apropriação do conhecimento, alterar sua favorecem assim a criação de novas avenidas
disponibilidade e sua relação com o processo para as atividades de aprendizagem ou de
de aprendizagem (até mesmo na sua formação. As TIC permitem principalmente
interação com o docente) e desenvolver-se de uma nítida evolução, uma mutação da relação
maneira mais completa para enfrentar os com o saber para os alunos”. (KARSENTI,
obstáculos e incertezas do mundo do 2010, p. 343)
trabalho. (ARRUDA, 2012, p. 36).
A respeito das estratégias de utilização dos
Acrescenta ainda a autora à importância das recursos ofertados pelas TICs na perspectiva
tecnologias como estratégias de de aprendizagem segundo Almeida (2000):
aprendizagem nos planos de aula ou no
com a utilização do computador em diferentes
currículo:
ambientes educacionais e com a evolução
[...]As tecnologias, quando aparecem nos dos recursos de computação a ideia de
planos de aula ou currículo, são consideradas construcionismo foi expandida para além dos
mais como motivadoras da aprendizagem dos limites da linguagem e da metodologia Logo,
alunos ou como fornecedoras do status de deixando de representar a proposta inicial de
modernização para as escolas, do que para Papert a respeito da programação em Logo e
ampliar os desafios do meio e apresentar ao da relação concreto-abstrato. (ALMEIDA,
aluno uma gama maior de estratégias de 2000, p. 35).
aprendizagem. (IBIDEM).
No seu trabalho de pesquisa: TIC - Educação
A abordagem da autora está sintonizada com 2010 de Silva e Almeida (2011) afirmam que:
o discurso do MEC, que em 2005, promoveu a
Vivemos sob conexão e em conexão com
educação à distância intitulada: Integração
outros, vivemos a partir do mundo digital, e
das Tecnologias na Educação que destaca o
este, sempre acompanhado de mídias e
seguinte:
dispositivos em formatos diversos, nos
O professor que associa a TIC aos métodos acrescenta novas funções de comunicação.
ativos de aprendizagem desenvolve a
Servimo-nos, em nosso cotidiano, dos
habilidade técnica relacionada ao domínio da
recursos possíveis à comunicação e à
tecnologia e, sobretudo, articula esse domínio
informação, e é principalmente da tecnologia
com a prática pedagógica e com as teorias
da Internet que nos valemos para realizar
educacionais que o auxiliem a refletir sobre a
transações, ouvir música, assistir a vídeos,
própria prática e a transformá-la, visando
acessar notícias, comunicar, conversar,
explorar as potencialidades pedagógicas da
compartilhar, informar e produzir informações.
TIC em relação a aprendizagem e à
(SILVA E ALMEIDA, 2011, p. 28).
consequente constituição de redes de
conhecimentos. (MEC/SEE 2005, p. 72)
Com relação às principais necessidades e Na escola as novas tecnologias tem sido
dificuldades no uso das tecnologias em sala importantes ferramentas que contribuem para

Educação no século XXI - Volume 2


141

promover a inclusão digital, e num só tempo integradoras e globalizadoras, que tentam


incorporar o desenvolvimento econômico e abarcar conteúdos de diferentes matérias e
cultural do país contribuindo para a outros com enfoque claramente disciplinares”.
construção do conhecimento e a formação (ZABALA, 1998, p. 168).
cultural dos estudantes.
No entanto, observa-se que a chegada das
A introdução de novas tecnologias na tecnologias digitais na sociedade está muito
educação não implica necessariamente novas longe de haver uma relação com a sala de
práticas pedagógicas, pois podemos com ela aula e com as inovações tecnológicas
apenas vestir o velho com roupa nova, como incorporadas nas escolas por não tem
seria o caso dos livros eletrônicos, tutoriais conseguido alcança-las, estando um passo
multimídia e cursos a distância disponíveis na atrás da sociedade. Neste sentido:
internet, que não incorporam nada de novo no
parece que ainda existe uma distância muito
que se refere à concepção do processo de
grande entre o meio escolar e a sociedade
ensino aprendizagem. (REZENDE, 2002, p.
impregnada de tecnologias na qual vivem os
02).
jovens (...) a escola não parece ter
Como contribuição sobre o que se configura o conseguido construir a ponte entre as
processo de ensino aprendizagem, num transformações tecnológicas e sociais vividas
contexto cultural e social, Sacristán e Gòmez no seio da sociedade e a sala de aula, onde o
(1998) afirmam que: aluno é “forçado” a estudar, obrigado a
escutar, afastado das inovações, apertado em
A aprendizagem em aula não é nunca
um horário relativamente restrito. (KARSENTI,
meramente individual, limitado às relações
2010, p.338).
frente a frente de um professor/a e um
aluno/a. É claramente uma aprendizagem Concordando com o autor, observa-se que
dentro de um grupo social com vida própria, existem professores que ainda não
com interesses, necessidades e exigências avançaram e não conseguem acompanhar as
que vão configurando uma cultura peculiar. transformações sociais resistindo às
(SACRISTÁN e GÒMEZ, 1998, p. 64). mudanças. A sociedade espera da escola
que a utilização de diferentes fontes de
Contrário a essa afirmação, numa concepção
informação e recursos tecnológicos seja
construtivista, Zabala (1998), enfatiza que:
realizada não apenas como conhecimento
a aprendizagem é uma construção pessoal, acadêmico, mas que estes conhecimentos
esta construção através da qual podem sejam utilizados pelas pessoas com
atribuir significado a um determinado objeto consciência, capacidade crítica e
de ensino, implica a contribuição por parte da responsabilidade.
pessoa que aprende, de seu interesse e
Acrescenta-se ao estudo que não basta
disponibilidade, de seus conhecimentos
ofertar conteúdos e recursos multimídia e
prévios e de sua experiência, mesmo que
digitais, a escola e a prática pedagógica deve
com ajuda de outras pessoas. (ZABALA,
passar por mudanças radicais como
1998, p.63).
destacando-se:
Com relação ao ensino decorrente da
Introduzem-se tecnologias sem
concepção construtivista, “ensinar envolve
verdadeiramente mudar o resto da escola ou
estabelecer uma série de relações que devem
a pedagogia que se pratica ali: nesse ponto
conduzir à elaboração, por parte do aprendiz,
estaria o verdadeiro desafio da integração
de representações pessoais sobre o conteúdo
das TIC à escola (...) o problema da incursão
objeto de aprendizagem”. (ZABALA, 1998, p.
das TIC na pedagogia ultrapassa as
90).
condições materiais e estaria mais ligado à
Neste sentido, os materiais curriculares e necessidade de mudanças radicais na
outros recursos didáticos estão apoiados na maneira de dar aula, que segundo vários
utilização de instrumentos que proporcionem estudos, mudou muito pouco ao longo do
ao professor uma tomada de decisões para o último século. (KARSENTI, 2010, p.338-339).
uso das variáveis metodológicas em suas
É importante ressaltar que o trabalho
aulas.
relacionado com as TICs deve estar ligado a
Ainda de acordo com Zabala, “conforme os uma interação coletiva do aluno de acordo
conteúdos e a maneira de organizá-los, com as necessidades de aprendizagem,
podemos encontrar materiais com pretensões como acrescenta Zabala (1998) na sua obra:

Educação no século XXI - Volume 2


142

A prática Educativa: Como ensinar, com Assim, há necessidade de um estudo mais


relação ao contexto de intercâmbios afetivos: detalhado acerca do uso dos tablets em salas
do ensino médio para ganhar importância na
há necessidades específicas de
prática pedagógica dos professores uma vez
aprendizagem às quais tem que se
que lhes permite levar aos alunos melhores
acrescentar, em caso de necessidade, as que
práticas de aprendizagem junto às TIC
provêm de certos objetivos educativos que
educacional, com ênfase numa temática
considerem a socialização como eixo
significativa para melhoria do processo ensino
prioritário. Por esse motivo, o uso dos
aprendizagem.
suportes de informática não tem que nos levar
a uma situação de trabalho estritamente Deve-se considerar que o uso de TICs na
individual, de interação do aluno com a educação tem funções didáticas
máquina, mas a considera-los como mais um pedagógicas, necessário portanto investigar
dos recursos que podemos utilizar para permanentemente como essa interação
alcançar determinados objetivos educacionais acontece no âmbito das práticas
da melhor maneira possível [...] a capacidade pedagógicas dos professores e que
de interagir imagens estáticas ou em perspectivas e desafios demandam ao ensino
movimento garantem que as emulações, a e a aprendizagem. É desse modo um desafio
busca de informação ou o trabalho de a educação, considerar o uso das TICs como
sistematização sejam cada vez mais ricos. uma nova postura pedagógica frente às
(ZABALA, 1998, p. 185). mudanças culturais do nosso tempo.

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Campinas, Departamento de Lingüística. Revista http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em 08 jan.
Brasileira de Educação, n.19, p. 20-28, 2015.
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Mauro Augusto Burkert Del. DORNELES, Caroline Pedagógica sob a Perspectiva Construtivista.
Lacerda. Os saberes profissionais dos professores Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde,
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docentes no Brasil. IX ANPED SUL, 2012. http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ensai
[5]. GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin. Educação o/article/viewfile/13/45. Acesso em 02 set. 2014.
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Boutin, Gerald. Investigação Qualitativa: [14]. SALGADO, Maria Umbelina Caiafa.
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Educação no século XXI - Volume 2


143

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Brasil; TIC Educação 2010. São Paulo, Comitê Como ensinar. Tradução Ernani F. Rosa. Porto
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Disponível em:
http://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/tic-

Educação no século XXI - Volume 2


144

CAPÍTULO 21
Weslley Moura
Isabela Alexandre Souza
Izabella Soci
Luis Fernando Araujo
Milena Basso
Wellington Oliveira

Resumo: Este artigo apresenta um processo para elaboração de Análise de Rede


Social, ou Social Network Analysis (SNA), dentro de um ambiente escolar. Por meio
da análise das conexões entre os alunos é possível fazer um mapeamento do perfil
da turma para apoiar o professor e as equipes pedagógicas no planejamento
escolar. Para complementar a análise de rede é proposto o uso de uma métrica
usualmente conhecida por equipes de marketing, chamada NPS (Net Promoter
Score), que visa medir o índice de satisfação e fidelização dos alunos em relação à
escola. Quando o NPS é aplicado na rede é possível analisar o índice de
penetração dos promotores e detratores dentro da mesma, possibilitando a criação
de novas visões para a análise e gestão do negócio. O NPS e as informações de
conexões da rede são coletados por meio de questionários de pesquisa e pela
observação das interações entre os alunos. Ao final do experimento são propostas
formas de interpretação dos resultados.

Palavras chave: Análise de Rede Social, Net Promoter Score, Influência do aluno,
Planejamento escolar

Educação no século XXI - Volume 2


145

1 INTRODUÇÃO 2 SNA (SOCIAL NETWORK ANALYSIS)


O uso do SNA (Social Netwok Analysis ou Nos últimos anos, a Análise de Rede Social,
Análise de Rede Social), vem crescendo ou Social Network Analysis (SNA), ganhou
significativamente nos últimos 20 anos. Este espaço em discussões que visam medir como
crescimento vem ocorrendo por diversos a relação entre pessoas ou instituições
fatores, entre eles o aumento da quantidade (atores) são formadas.
de dados disponíveis para análise, o aumento
Os estudos de redes sociais têm sua origem
do poder computacional e a ampliação dos
na sociologia, psicologia e antropologia. Estes
assuntos de interesse e das áreas de
estudos assumem que o levantamento das
conhecimento que utilizam o SNA.
características individuais dos atores e as
Em uma primeira aborgagem, as redes relações existentes entre os mesmos,
sociais são usadas para configurar o espaço permitem o entendimento da função de cada
de comunicação existente entre um grupo de ator dentro da rede em análise.
indivíduos. Procura-se identificar o padrão de
SNA não é considerada uma teoria formal,
interação entre estes indivíduos e mapear
mas sim uma estratégia para investigar
seus relacionamentos.
estruturas sociais, como pontos de conexões
Diferentes métricas podem ser usadas para e influência entre as pessoas.
definir a regra de mapeamento da rede, assim
Os influenciadores exercem um papel
como diferentes perfis podem ser
essencial nas empresas, quando são
encontrados na mesma, como influenciadores
descobertos podem ser usados como meio
ou articuladores de um grupo.
para divulgação de produtos e expansão da
Em segundo plano, estudos de SNA podem marca.
indicar mudanças e permanências nos modos
De forma geral, pode-se estudar as redes
de comunicação e transferência de
visando apenas entender como elas se
informações.
comportam e como as conexões (laços) entre
As organizações necessitam criar e manter os atores são feitas. No entanto, algumas
processos internos relacionados ao aplicações de SNA incluem:1) Aplicações na
entendimento dos hábitos de seus clientes área de saúde pública (estudos
para manter um relacionamento duradouro epidemiológicos); 2) Aplicações na área de
com os mesmos. Nesto contexto, o SNA é tecnologia da informação (estudos sobre a
uma ferramenta que pode auxiliar nesta disseminação de vírus de computador); 3)
tarefa. Aplicação na área da sociologia (os
movimentos sociais); 4) Aplicação na área da
Outras ferramentas e métodos podem ser
economia (mercados e economias de rede);
usados para o mesmo propósito. Um método
5) Aplicação na área da matemática aplicada
muito usado por equipes de marketing para
(otimização de algoritmos).
medir o índice de satisfação dos clientes de
uma empresa é o NPS (Net Promoter Score).
2.1 NPS (NET PROMOTER SCORE)
Dentro do ambiente escolar, o SNA e o NPS
podem ser usados para mapear o Proposto por Reichheld, Frederick (2003) e
comportamento e o índice de satisfação dos marca registrada de Frederick Reichheld,
alunos, respectivamente. Estas informações Bain & Company e Satmetrix, o NPS (Net
podem ser usadas por coordenadores e Promoter Score) é uma métrica que visa
professores como apoio ao planejamento do mensurar o nível de satisfação e fidelidade
ensino. dos clientes de qualquer empresa.
Este estudo tem como objetivo aplicar a Por meio da coleta e análise da resposta de
análise de rede para encontrar as relações uma única pergunta feita ao cliente o método
sociais entre os alunos, identificando assim os propõe a identificação de três perfis de
influenciadores, articuladores e os diferentes pessoas: Detratores, neutros e promotores.
grupos existentes na rede. Em seguida é Detratores são os clientes que estão
empregado o uso do NPS para avaliar o insatisfeitos com a empresa e rejeitam sua
índice de satisfação e recomendação dos marca, promotores são os clientes que estão
diferentes grupos encontrados na rede. satisfeitos com a empresa e promovem sua
marca e neutros são os clientes que se
Como resultado são sugeridas formas de uso
mantém passivos à marca da empresa (não
e interpretação destas informações.

Educação no século XXI - Volume 2


146

promovem e não rejeitam a empresa no clientes promotores, 20% neutros e 5%


mercado). detratores, o NPS seria 70% (75% de
promotores - 5% de detratores).
A pergunta feita ao cliente é: “Em uma escala
de 0 a 10, qual sua disposição em A figura 1 resume a escala usada no índice do
recomendar esta empresa para um familiar ou NPS, assim como a divisão dos perfis dos
amigo?”. Respostas entre 0 e 6 são clientes e a fórmula de cálculo da métrica.
classificadas como detratores, 7 e 8 são os
Reichheld, Fred (2011) propõe o uso do NPS
neutros e 9 e 10 são os promotores.
em substituição às pesquisas tradicionais
A riqueza dessa metodologia - além da para medir o nível de satisfação dos clientes
simplicidade - é sua correlação direta com o em relação a empresa. Segundo o autor, as
crescimento da empresa, pois está pesquisas tradicionais de satisfação
relacionada à fidelidade dos clientes. frequentemente apresentam um número
excessivo de questões que, além de
O índice do NPS é dado pela diferença do
proporcionar uma experiência cansativa à
percentual entre promotores e detratores. Por
pessoa que está respondendo, não ajudam a
exemplo, se uma empresa possui 75% de
identificar o real nível de satisfação do cliente.

Figura 1: Modelo NPS

Fonte: Adaptado de Reichheld, Fred (2011)

O NPS permite a criação de um índice de Após coleta e tabulação dos dados, foi
satisfação de fácil interpretação por seus iniciada a fase de criação da rede social e
utilizadores e que pode ser comparado com análise dos resultados. Para criação da rede,
outras empresas e indústria. O foi utilizada a ferramenta Gephi.
acompanhamento dos índices Net Promoter
Score colabora para gerar melhorias
operacionais e dar autonomia à linha de frente 3.1 CALCULANDO O NPS GERAL DA REDE
com informações que possam melhorar a
Com base na pergunta do NPS realizada no
experiência do cliente ao longo do tempo.
questionário (pergunta 1 do anexo I), foi
possível agrupar os alunos em três perfis:
Detratores (alunos que forneceram notas entre
3 MÉTODO DE TRABALHO
0 e 6), Neutros (alunos que forneceram notas
O presente trabalho foi conduzido com entre 7 e 8) e Promotores (alunos que
informações coletadas de 25 alunos do forneceram notas entre 9 e 10).
terceiro ano do ensino médio de uma escola
A tabela 1 apresenta o resultado consolidado
situada na região de Osasco, SP.
desta pergunta. Conforme é possível
Para coletar as informações sobre as observar, 23 alunos responderam à pergunta
conexões existentes entre os alunos e o nível referente à sua satisfação com a escola,
de satisfação de cada estudante em relação a sendo que 20 estudantes (87%) foram
escola foi criado um questionário, conforme classificados como neutros, 2 (9%) foram
exibido no anexo I.

Educação no século XXI - Volume 2


147

classificados como detratores e 1 (4%) foi (detratores/total de respondentes), temos um


classificado como promotor. índice de NPS igual a -4%. O índice pode
variar em uma escala de -100% a +100%.
Aplicando a equação do NPS, onde f(x) =
(promotores/total de respondentes) –
Tabela 1: Tabulação do NPS
ALUNO NOTA CLASSIFICAÇÃO GRUPO
1 8 NEUTRO 2
2 8 NEUTRO 1
3 8 NEUTRO 3
4 7 NEUTRO 1
5 7 NEUTRO 3
6 7 NEUTRO 3
7 6 DETRATOR 1
8 7 NEUTRO 1
9 7 NEUTRO 1
10 7 NEUTRO 2
11 7 NEUTRO 3
12 7 NEUTRO 2
13 7 NEUTRO 3
14 7 NEUTRO 3
15 9 PROMOTOR 3
16 8 NEUTRO 3
17 5 DETRATOR 1
18 8 NEUTRO 2
19 8 NEUTRO 2
20 8 NEUTRO 2
21 7 NEUTRO 3
22 8 NEUTRO 2
23 8 NEUTRO 3
Fonte: Pesquisa realizada com os alunos envolvidos neste estudo

3.2 IDENTIFICANDO OS GRUPOS DA REDE Cada círculo existente na figura 2 representa


um aluno. Quanto maior o círculo, maior a
Com base na pergunta para identificar as
influência do aluno dentro da rede.
conexões da rede (pergunta 2 do anexo I), foi
iniciado o trabalho de identificação dos Os diferentes grupos existentes entre os
grupos existentes na rede. alunos foram representados por cores
distintas. É possível identificar que dentro de
Conforme apresentado na figura 2, três
cada grupo existem alunos mais influentes e
grupos distintos foram encontrados.
menos influentes.

Educação no século XXI - Volume 2


148

Figura 2: Identificação dos grupos na rede

Fonte: Pesquisa realizada com os alunos envolvidos neste estudo

Algumas conclusões podem ser extraídas 4. ANÁLISE DA CONTAMINAÇÃO DA REDE


com a avaliação da rede em conjunto com as
Uma vez que cada grupo encontrado na rede
informações sobre NPS e análises de
está subdividido em promotores, neutros e
especialistas do ambiente estudado: 1) O
detratores, é possível calcular o NPS de cada
principal influenciador da turma (escolhido
grupo e aumentar as possibilidades de
pelo seu desempenho acadêmico) foi
análise da rede.
classificado como um detrator (isso pode
representar um risco à imagem da escola); 2) Outra aplicação está relacionada a análise
Um dos grupos é formado basicamente por direta dos influenciadores e não
homens, mas claramente influenciado por influenciadores da rede.
uma mulher; 3) O segundo e o terceiro alunos
A figura 3 apresenta um resumo de uma
com maior influência entre os estudantes
análise feita para cada grupo.
analisados foram escolhidos pelo seu nível de
popularidade e não pelo seu desempenho
acadêmico.

Educação no século XXI - Volume 2


149

Figura 3: Análise da contaminação da rede e possíveis impactos

Fonte: Pesquisa realizada com os alunos envolvidos neste estudo

De forma geral, a mensagem apresentada é principais problemas existentes nas


que a rede possui um grande número de instituições de ensino, sejam eles de cunho
alunos classificados como neutros, o que estratégico ou pedagógico.
significa que a experiência do aluno não
A tendência do uso cada vez maior de
ultrapassa as fronteiras da escola e resultados
plataformas online de estudos
positivos ou negativos não estão impactando
(disponibilizadas por meio da internet) abre
sua imagem.
diversas oportunidades para o
Considerando que a escola realiza diversas armazenamento, processamento e análise
atividades para promover uma experiência massiva de dados; isso porque estas
cada vez melhor ao aluno, ter uma rede plataformas são capazes de gerar uma
repleta de neutros não representa o melhor grande quantidade de informações referentes
cenário. ao perfil e comportamento do aluno.
Por outro lado, pode ser mais fácil converter O entendimento destas informações
um neutro em promotor do que converter um possibilita a entrega de conteúdos didáticos
detrator em promotor. Portanto, para uma personalizados para o aluno, de acordo com
organização que está constantemente o seu perfil e capacidade de aprendizagem.
preocupada com a experiência de seu cliente, Este ambiente personalizado de ensino é
uma rede repleta de neutros também conhecido como adaptive learning
representa uma grande oportunidade de (aprendizagem adaptativa).
crescimento.
O emprego da análise de rede social dentro
das instituições de ensino também contribui
para a criação de um ambiente personalizado
5. CONCLUSÃO
de ensino. O presente trabalho apresentou
O uso de aplicações de análise de dados uma abordagem para coletar e analisar dados
dentro da educação é uma eficiente que descrevem o nível de satisfação do aluno
estratégia para entender e agir contra os

Educação no século XXI - Volume 2


150

e o mapeamento das conexões existente


entre os mesmos. 6. TRABALHOS FUTUROS

A abordagem apresentada possibilita o Propostas alternativas ou complementares de


desmembramento de diversas ações coleta de dados são úteis para o
pedagógicas e estratégicas como: 1) Suporte aprimoramento do presente estudo. O uso de
ao professor para condução de atividades em outras fontes de dados pode enriquecer a
grupo; 2) Suporte à coordenação em análise de rede e trazer resultados que
processos operacionais, como definição de refletem melhor a realidade.
aluno representante; 3) Criação de grupos de Separar os influenciadores e perfis também
estudos específicos de acordo com a rede e pode agregar valor a este estudo. Os
seus influenciadores; 4) Impulsionar a cultura influenciadores podem ser escolhidos por
do estudo por meio de acordos com os motivos diferentes, por exemplo, ao passo
influenciadores; 5) Uso dos influenciadores que um determinado aluno pode ser
para transmissão de mensagens estratégicas; influenciador pelo seu desempenho
6) Usar a informação de influenciadores como acadêmico, outros alunos podem ser
base para outras análises; por exemplo, a influenciadores devido a sua popularidade no
identificação deste tipo de aluno no ato de ambiente escolar. Outras classificações como
sua matrícula; lançadores de tendências ou líderes de
Ao aplicar o NPS dentro da análise de rede pensamento também poderiam ser
social é possível ampliar as possíveis ações empregadas.
que se desmembram do estudo, abordando: O registro histórico da análise de rede e do
7) O entendimento da penetração dos NPS possibilitam a criação de novos
detratores dentro do público de indicadores para a gestão da escola.
influenciadores (índice de contaminação da Respostas para perguntas importantes
rede), o que representa um risco real à marca poderiam ser encontradas, como: Aumentar o
da instituição; 8) Estratégias para conversão NPS em 1% resulta em quantos novos alunos
de detratores em promotores; 9) para a escola?
Acompanhamento do índice NPS em
diferentes visões do negócio (NPS geral e
NPS dos influenciadores).

REFERÊNCIAS
[1]. Kossinets, Gueorgi; Watts, Duncan J. [5]. Mizruchi, Mark S. Análise de redes sociais:
Empirical Analysis of an Evolving Social Network, Avanços redentes e controvérsias atuais, RAE,
SCIENCE, v.311, 2006 v.46, n.3, p.72-86, 2006
[2]. Lisbôa, Eliana; Coutinho, Clara. Social [6]. Otte, Evelien; Rousseau, Ronald. Social
Network Analysis (SNA): A study of a social network network analysis: a powerful strategy, also for the
in the forum PROEDI, Proceedings of ICERI2012, information sciences, Journal of Information
Madrid, 2012. Science, 28 (6) 2002, pp. 441–45
[3]. Marteleto, Regina Maria. Redes sociais, [7]. Pentland, A., Eagle, N., Lazer, D. Inferring
mediação e apropriação de informações: situando social network structure using mobile phone data,
campos, objetos e conceitos na pesquisa em in Proceedings of the National Academy of
Ciência da Informação, Pesq. bras. ci. inf., Brasília, Sciences (PNAS) v.106 (36), p.15274-15278, 2009.
v.3, n.1,p.27-46, 2010
[8]. Reichheld, Frederick. A pergunta definitiva
[4]. Meijs, Celeste, Laat, Maarten. Social 2.0, Elsevier, 2011
Network Analyses (SNA) as a method to study the
[9]. Reichheld, Frederick. One Number You
structure of contacts within teams of a school for
Need to Grow. Harvard Business Review,
secondary education, Proceedings of the 8th
International Conference on Networked Learning, Dezembro, 2003
2012

Educação no século XXI - Volume 2


151

ANEXO I – QUESTIONÁRIO PARA CAPTURAR DADOS DE CONEXÕES E SATISFAÇÃO DOS


ALUNOS

O OBJETIVO DESTA PESQUISA É COMPREENDER COMO AS RELAÇÕES ENTRE OS ALUNOS


DESTA CLASSE SÃO FORMADAS.
A SEGUIR, VOCÊ ENCONTRARÁ ALGUMAS PERGUNTAS QUE VISAM COLHER ESTE TIPO DE
INFORMAÇÃO.
NOTE: AS INFORMAÇÕES RESPONDIDAS NESTA PESQUISA SÃO CONFIDENCIAIS. APÓS O
RECOLHIMENTO DOS FORMULÁRIOS RESPONDIDOS, O PROFESSOR SERÁ ENCARREGADO
POR RECODIFICAR TODOS OS NOMES MENCIONADOS NESTE DOCUMENTO, DE MODO QUE
OS NOMES REAIS DOS ALUNOS (OU QUALQUER OUTRO TIPO DE INFORMAÇÃO QUE
IDENTIFIQUE O ALUNO) NÃO SERÃO DIVULGADOS/CONHECIDOS.
Nome:________________________________________________________________________
Identificação obrigatória

1. Em uma escala de 0 a 10, qual sua disposição em recomendar a escola para um familiar ou
amigo?

Marque sua resposta com um “X” em uma das opções abaixo.

2. A seguir você encontrará três cenários: A, B, C. Para cada um deles, marque com um “X” os
nomes dos colegas de classe que se aplicam à situação em questão.

Aluno Cenário A. Cenário B. Cenário C.


Conheço este colega Tenho grande Admiro este colega de
de classe antes mesmo consideração por este classe pelo seu
de começar a estudar colega de classe pela rendimento escolar. Ele
nesta escola. leal amizade que temos (a) sempre tira ótimas
hoje. notas.
Obs.: Marque quantos Obs.: Marque no Obs.: Marque quantos
colegas achar máximo três colegas colegas achar
necessário. necessário.
Aluno 1 ☐ ☐ ☐
Aluno 2 ☐ ☐ ☐
Aluno Nº ☐ ☐ ☐

Educação no século XXI - Volume 2


152

CAPÍTULO 22

Robson Oliveira da Silva


Ana Raquel dos Santos Souza
Francisco Ricardo Miranda Pinto

Resumo: O presente surge da observação de que os educandos da Educação de


Jovens e Adultos dispõem de algumas habilidades no manejo das máquinas e
mídias digitais de forma que estas podem ser utilizadas como ferramentas de
ensino-aprendizagem na área de Linguagens e Códigos, atuando ainda, como
agente de combate à evasão escolar. Foi realizada uma pesquisa básica e
qualitativa, tendo como universo de pesquisa a turma da EJA do 1° segmento da
EEM Liceu de Itarema Valdo de Vasconcelos Rios, constituída de 36 (trinta e seis)
discentes. Esta pesquisa teve como objetivo verificar as contribuições das mídias
digitais da EEM Liceu de Itarema Valdo de Vasconcelos Rios, como ferramentas
pedagógicas no processo de aprendizagem das disciplinas da área de Linguagens
e Códigos, buscando analisar a relação dos discentes com as mídias digitais,
compreender como os educandos percebem a importância das mídias digitais na
sua formação escolar, corroborar que a utilização das mídias possibilita um ensino
mais dinâmico e exitoso, combatendo a evasão escolar. O percurso metodológico
foi realizado através de pesquisa de bibliografia, observação de aulas, conversas
informais e aplicação de questionários com os discentes do universo de pesquisa
que deram origem aos resultados que após tabulados são expostos por meio de
gráficos. Quanto ao aporte bibliográfico que contribui com a análise, reflexão e
discussão dos resultados, vale ressaltar alguns dos principais fundamentadores de
ideias, como Freire (2000); Berlato (2010); Wilson et al. (2013); Brasil (2000).
Tabulados os dados obtidos e expostos na análise de dados por meio de gráficos,
ficou perceptível que as mídias influenciam diretamente no processo de ensino das
disciplinas da área de Linguagens e Códigos, o que deduz que esta também
ocorre na aprendizagem. Fato este decorrente das possiblidades que as mídias
oferecem no âmbito educacional, quando estas utilizadas como ferramentas
pedagógicas.
Palavras-chave: Mídias Digitais. Linguagens e Códigos. Contribuições. Ensino-
aprendizagem.

Educação no século XXI - Volume 2


153

1. INTRODUÇÃO bibliográfica, observação sistemática e


construção dos instrumentos para obtenção
A escola sempre buscou formar cidadãos a
de dados para construção dos gráficos.
partir de uma educação de qualidade, para
Foram apresentados os resultados dos dados
isso a mesma fez o uso de práticas
coletados e as considerações da pesquisa
pedagógicas que apoiassem de forma mais
realizada.
significativa suas tarefas educacionais por
meio de várias ferramentas, dentre elas as O presente tem por finalidade verificar as
mídias. Este oriunda da observação de que os contribuições das mídias digitais da EEM
educandos da Educação de Jovens e Adultos Liceu de Itarema Valdo de Vasconcelos Rios,
dispõem de algumas habilidades no manejo como ferramentas pedagógicas no processo
das máquinas e mídias digitais, de forma que de aprendizagem das disciplinas da área de
estas podem ser utilizadas como ferramentas Linguagens e Códigos. Desta forma, se
de ensino-aprendizagem na área de procurou investigar em um universo de
Linguagens e Códigos, quando utilizadas de pesquisa previamente delimitado a relação
forma consciente, atuando ainda, como dos discentes com as mídias digitais, além de
agente de combate à evasão escolar. buscar compreender como os educandos
O referencial teórico permite ambientar o percebem a importância das mídias digitais
leitor-pesquisador no tema da pesquisa. Para na sua formação escolar, corroborar que a
isso é necessário destacar alguns pontos, utilização das mídias possibilita um ensino
como por exemplo, compreender o que é a mais dinâmico e exitoso, combatendo a
escola da atualidade e como se chegou ao evasão escolar.
formato atual de representação de ensino, Por intermédio desta pesquisa há
assim como a forma como são conduzidas as possibilidade de se ter uma avaliação da
aulas, faz-se necessário o estudo histórico da influência das mídias na aprendizagem dos
escola no contexto social. Este tema será educandos, haja vista, que se torna quase
abordado e fundamentado em Perissé (2010). indissociável abordar um tema que modifique
Outro tema que auxilia uma melhor o modo de ensino, sem alterar aspectos da
compreensão do tema, e que constará no aprendizagem. Além de evidenciar as mídias
referencial, é conhecer sobre a mídia, um dos como ferramenta de combate à evasão
agentes responsáveis pelas mudanças escolar.
sociais, históricas, comportamentais e
educacionais; percebendo sua definição,
2. REFERENCIAL TEÓRICO
embasado em Ferreira (2000), e suas
contribuições sociais, com fundamento em As representações dos atuais modelos
Tufte & Christensen (2009); apontará ainda educacionais são frutos da maleabilidade da
questões comportamentais e suas alterações educação frente às constantes mudanças do
com o passar dos anos devido à presença meio social em que está inserido, com a
das mídias. finalidade de formar pessoas que contribuam
de forma positiva na sociedade.
Além disso, será abordado como as mídias
contribuem na nova perspectiva de Perissé (2010) ao buscar na epistemologia
educação, caracterizada pela presença do etimológica do significante escola, dar-se de
aluno reflexivo e por uma educação de encontro ao fato de que a mesma provém do
autonomia, em que o educando vai além da grego skholé, que por sua vez, tinha o
teoria e parte para a prática. Será tratado os significado de espaço onde se exercitava a
fatores que levarão ao êxito de se ensinar as discussão livre; todavia com o passar dos
disciplinas da área de Linguagens e Códigos anos, o modelo de escola passou por
na EJA com o auxílio das mídias, assim como alterações, o docente se tornou detentor de
estas ferramentas atuam no combate à todo o conhecimento e os discentes apenas
evasão escolar. Para fundamentar tais participavam como ouvintes passivos no
pensamentos foram utilizados Brasil (2000), processo de ensino-aprendizagem,
Barros & Carvalho (2011), Berlato (2010), discordando totalmente do significado da qual
Freire (2000), Ramos et al. (2009), Vidal et al. o sintagma escola é oriundo.
(2002), Wilson et al. (2013).
Entretanto, nas últimas décadas este modelo
Após o conhecimento teórico eis que será de escola vem sendo alterado. Alguns
apresentado a metodologia desta pesquisa, docentes começaram a buscar a construção
com seus procedimentos de pesquisa do aprendizado dos educandos a partir dos

Educação no século XXI - Volume 2


154

conhecimentos prévios dos mesmos, para restritas a aspectos físicos para realização de
tanto, o discurso torna-se peça fundamental uma atividade, de forma mais dinâmica e
para atingir tal expectativa. Desta forma, o interativa.
conceito etimológico de escola retoma seu
Conforme Brasil (2000) a vivência com as
significado de origem. Vale ressaltar que tais
tecnologias é mais que uma necessidade, e
mudanças no contexto escolar ocorrem de
passar a constituir um direito social. Ora, se
forma lenta e que estas alterações são frutos
as mídias agem em acordo com as evoluções
de uma tentativa de conquistar harmonia entre
tecnológicas, e estas por sua vez tornaram-se
o que está sendo ensinado e a forma como se
um direito social, logo, a escola pode e faz
é aplicado os ensinamentos, na busca de
uso de tais ferramentas para construção do
conquistar êxito e promover o verdadeiro
aprendizado, fazendo valer o direito social
sentido que emana da significação subjetiva
dos indivíduos.
da elocução escola.
Uma educação de qualidade é aquela que
Vários meios foram criados ao longo da
prepara o indivíduo para interagir de forma
história para que fosse realizada alguma ação
crítica com as adversidades da sociedade em
que contribuísse para o desenvolvimento da
que está inserido. Segundo Barros & Carvalho
sociedade. Dentre estas ações estão as
(2011) se deve pensar na educação em uma
ferramentas de informação e comunicação,
perspectiva de qualidade e inclusiva, de
logo, é interessante dar ênfase à mídia como
modo que forme indivíduos críticos,
um agente de difusão de ideias que está
autônomos e atuantes na sociedade. Uma
sempre em constante evolução, auxiliando no
forma de contribuir para que haja esta
desenvolvimento social e comunicativo.
educação de qualidade é com o intermédio
Muitos estudos foram realizados a respeito da
das mídias, pois além de auxiliar a escola
origem, conceito e formas de utilização das
construir uma educação que alcance os
mídias. Ferreira (2000) define mídia como
objetivos pretendidos no contexto curricular,
canais de comunicação; estes meios são de
também constrói possibilidade para formação
grande importância para evolução humana e
de indivíduos críticos e atuantes na sociedade
para o modo de agir do homem frente à suas
de modo a produzir resultados positivos para
atividades. Uma lista muito extensa pode ser
o corpo social em que o mesmo se encontra.
facilmente construída se forem mencionadas
Berlato (2010) diz que, na Educação de
todas as mídias existentes, interessante ainda
Jovens e Adultos, o uso das mídias passa a
é que estes veículos de informação passam
ser uma necessidade, pois o docente e
por diversos processos sempre buscando um
discente fazem parte do mercado de trabalho
aperfeiçoamento de acordo com sua
e precisam dominar técnicas exigidas por
funcionalidade.
estas ferramentas. Deste modo, o uso das
As mídias possuem uma importância muito mídias na Educação de Jovens e Adultos
grande na sociedade, gerando no seio da podem atuar como instrumento de combate à
mesma marcas profundas, em vários evasão escolar, pois se torna um elemento
aspectos, como histórico, social, atrativo para a permanência do educando na
comportamental, dentre outros. Segundo Tufte escola, assim, garantindo meios para que seja
& Christensen (2009) as mídias possibilitaram assegurado os artigos nº 205 e nº 206 (inciso
uma mudança significativa entre espaços I) da Constituição Federal de 1988, e dos
físicos e virtuais, onde estes ambientes artigos nº 4 (inciso VII) e nº 37 (§ 2º) da Lei de
existem concomitantemente; salienta-se que Diretrizes e Bases nº 9394/96, que de acordo
esta existência ocorre de modo harmônico. com Brasil (1988) e Brasil (1996) afirmam
As transformações comportamentais entre sobre a permanência deste discentes na
gerações tornam-se evidentes ao se construir escola. Além disso, a utilização destes
uma análise, mesmo que superficial, entre o instrumentos tecnológicos desconstrói o
modo como viviam os jovens e adultos de abismo entre a educação (tradicionalista) e o
décadas passadas e o estilo de vida dos mercado de trabalho, que precisa de
indivíduos da mesma faixa etária na indivíduos capacitados para interpretação e
atualidade. Tal discrepância se constrói a execução destas tecnologias.
partir de muitos fatores, dentre eles a
As mídias são ferramentas muito ricas
evolução da mídia e das tecnologias. Os
principalmente quando se trabalha com estas
atuais usuários das mídias demonstram a
no ensino das disciplinas da área de
cada dia estarem mais familiarizados com as
Linguagens e Códigos, seja no ensino regular
inovações, alterando concepções antes
ou na Educação de Jovens e Adultos, pois

Educação no século XXI - Volume 2


155

concomitante ao ensino destas pode-se 3. METODOLOGIA


utilizar a interdisciplinaridade e a
A mídia está cada vez mais presente na vida
transdisciplinaridade. Outra característica do
das pessoas, inclusive no âmbito
uso das mídias neste âmbito é que se torna
educacional, contribuindo para formação do
possível promover uma educação embasada
educando e para evolução da sociedade.
no modelo de ensino em que o discente
Desta forma, este surge da percepção de que
participa de forma mais ativa na construção
os discentes da Educação de Jovens e
de seu aprendizado. Segundo Wilson et al.
Adultos da EEM Liceu de Itarema Valdo de
(2013) isso é possível devido à uma
Vasconcelos Rios apresentam um domínio
pedagogia focada no educando, em que este
razoável das mídias e que estas podem ser
seja estimulado a construir com autonomia o
utilizadas como ferramentas de ensino-
seu conhecimento por meio da investigação
aprendizagem.
da reflexão; deste modo o educando aprende
por meio da prática, constrói sua criticidade e A pesquisa é de caráter qualitativo básico,
também há a possibilidade de uma uma vez que propõe a entender e descrever o
aprendizagem colaborativa. objeto de estudo e busca a divulgação
desses conhecimentos sem finalidades
Atualmente, o principal canal de comunicação
práticas ou imediata, baseado nos relatos e
é, sem dúvida, o computador, que, conectado
dados colhidos no desenvolvimento da
à internet, cria um espaço totalmente novo
investigação.
para difusão de informações. Conforme
Para Günther (2006) através da pesquisa
Ramos et al. (2009) este meio possibilita uma
qualitativa, torna-se possível conceber
interação, que combina trocas cognitivas,
diversas atividades que constroem o
metagognitivas e sociais, entre os sujeitos que
processo de pesquisa como um ato social em
participantes desta comunicação mediada
prol da construção de um saber.
pelo computador e internet; comprovando,
A investigação foi realizada na turma da EJA
assim, que é possível a aprendizagem
do 1° segmento, composta de 36 (trinta e
colaborativa das disciplinas da área de
seis) estudantes da EEM Liceu de Itarema
Linguagens e Códigos por intermédio da
Valdo de Vasconcelos Rios, localizada no
informática educativa, pois o educando troca
município de Itarema, cidade do litoral oeste
seus conhecimentos com outros discentes por
cearense, destaca-se por ser um ponto
meio da Internet. Para Vidal et al. (2002) a
turístico com belas paisagens, além de ser
Informática Educativa, tem o potencial de
rica culturalmente, devido a pluralidade
dinamizar o processo de ensino e
cultural, dos povos indígenas tremembés,
aprendizagem, desde que valorize a
caiçaras e afrodescendentes, que formam
autonomia e os conhecimentos prévios dos
este município situado à 220km da capital.
educandos; neste sentido o discente da EJA
pode agir de forma ativa no seu processo de Inicialmente, realizou-se leituras de teóricos
aprendizagem das disciplinas da área de relacionados com o tema de investigação, tais
Linguagens e Códigos, já que sua educação como: Freire (2000); Berlato (2010); Wilson et
se dá pelo condicionamento de novas al. (2013); Brasil (2000). A seleção obedeceu
informações que se interligarão ao alguns critérios: utilização de decretos de lei,
conhecimento prévio do aluno. livros e e-books, além de artigos presentes
em bases de dados, revistas, seminários,
Neste momento é importante a figura do
congressos ou universidades, com um
educador para uma reflexão sobre suas
intervalo de tempo de até 05 (cinco) anos
práxis pedagógicas, conforme Freire (2000) é
regressos a partir do ano de construção deste
importante conhecer o que o aluno sabe, para
material, e está na área afim da linha de
assim construir novos conhecimentos com
pesquisa. Essas leituras possibilitaram uma
base nestes saberes já existentes; deste
reflexão sobre a utilização das mídias digitais
modo o educador deve utilizar as mídias no
no ensino das disciplinas na área de
processo formador do discente da EJA
Linguagens e Códigos e suas potencialidades
verificando aspectos concernentes aos seus
na formação do discente e no combate à
conhecimentos existentes para a construção
evasão escolar.
de novos saberes, verificando aqui uma
tendência pedagógica sociocultural, Foi observada as atividades realizadas pelo
amplamente defendida na perspectiva educador com o auxílio das mídias e com a
freireana e nas teorias de Vygotsky. ausência das mesmas, para assim realizar
uma comparação do nível de aproveitamento

Educação no século XXI - Volume 2


156

da aprendizagem dos discentes, levando em 4. RESULTADOS


consideração a intervenção das mídias no
A análise dos resultados se constrói a partir
ensino das disciplinas da área de Linguagens
da interpretação do assunto abordado à luz
e Códigos.
de estudiosos e dos dados presentes nos
Para a coleta dos dados foi realizada a gráficos.
aplicação de um questionário on-line
Para a obtenção dos dados dos gráficos, foi
composto por perguntas fechadas. Antes de
aplicado um questionário on-line, elaborado
iniciar a resolução do questionário foi feito um
para os discentes da turma da EJA do 1°
comentário informando que a aula na qual
segmento, composta por 36 (trinta e seis)
estavam participando era um fator importante
educandos, da EEM Liceu de Itarema Valdo
para esta pesquisa, portanto era necessário,
de Vasconcelos Rios, para que
seriedade nas respostas oferecidas.
respondessem de acordo com a sua
Para melhor esclarecimento os dados obtidos concepção a respeito das mídias no processo
serão apresentados em forma de gráficos em de ensino e de aprendizagem das disciplinas
pizza, com suas respectivas porcentagens da área de Linguagens e Códigos.
acerca de cada questionamento levantado na
pesquisa, para que seja feita uma análise
detalhada dos resultados alcançados em
cada etapa deste trabalho, à luz dos autores
supracitados.

Gráfico 01: A utilização das mídias no processo de ensino-aprendizagem torna mais interessante as
aulas das disciplinas da área de Linguagens e Códigos
Sim.
0%
36% Não.
56%
8% Às vezes.

Não opinar.

Fonte: Discentes da EJA do 1° segmento da EEM Liceu de Itarema Valdo de Vasconcelos Rios, 2015.

Nota-se no Gráfico 01, que 20 educandos mídias no processo de ensino e


(56%) preferem as aulas das disciplinas da aprendizagem pode ser considerado o
área de Linguagens e Códigos com a primeiro passo para a construção da ligação
utilização de mídias; 13 discentes (36%) entre a escola e a realidade do educando;
aprovam a utilização das mídias como assim a escola tem a possibilidade de
ferramentas pedagógicas, todavia estes construir uma ponte mais sólida entre a
acreditam que as aulas das disciplinas da instituição de ensino o discente.
área de Linguagens e Códigos devem utilizar
O que influencia diretamente no modo como é
além das mídias, outros meios que
conduzida a educação e a forma como é
possibilitem o ensino e não apenas ficar
construída a aprendizagem, tendo em vista
limitado a prática educacional com o
que os alunos têm maior facilidade em
intermédio destes veículos de comunicação.
aprender quando é usado na sua formação
Apenas 03 participantes do questionário (8%)
meios que estejam próximos de sua
não preferem as suas aulas com o uso das
realidade, tornando a escola mais atrativa
mídias. Nenhum discente (0%) deixou de
para que não ocorra evasão escolar.
opinar quanto a sua preferência na utilização
das mídias por parte dos docentes nas das
disciplinas da área de Linguagens e Códigos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os discentes já estão familiarizados com a
As instituições de ensino são maleáveis, na
presença das mídias em seu cotidiano, desta
busca por acompanhar a sociedade em que
forma se torna evidente que os educandos
está inserida, para que desta forma, possa
prefiram o uso da mídia no ensino, o que é
formar pessoas atuantes e conscientes no
ratificado pelo Gráfico 01. Segundo
meio social. Fato que interfere diretamente na
Champangnatte & Nunes (2011) utilizar as

Educação no século XXI - Volume 2


157

prática pedagógica. Atualmente se pode educação e sociedade, no fomento de


verificar isto com a utilização das mídias no indivíduos críticos, atuantes e construtores de
processo de ensino-aprendizagem como meio saber no meio social.
de alcançar os objetivos educacionais. Isso se torna possível devido ao fato dos
discentes da EJA possuírem uma boa relação
As mídias são veículos de informação em
com as mídias, até porque fazem parte do seu
constante evolução, e quando utilizadas como
cotidiano, fazendo com que estes educandos
meio de construir a aprendizagem, demonstra
percebam a importância destas ferramentas
ser muito rica pelas várias possibilidades na
no processo de ensino-aprendizagem.
maneira de trabalhar com estas ferramentas
Portanto as mídias são ferramentas
no âmbito educacional, permitindo a
pedagógicas que contribuem para formação
construção de aulas dinâmicas e expressivas
de Linguagens e Códigos da EJA, auxiliando
na aprendizagem.
na construção de uma aprendizagem
No estudo realizado fica perceptível que os significativa, em proveito de uma sociedade
discentes, em sua maioria, preferem suas mais consciente, além disso as mídias se
aulas de Linguagens e Códigos com o uso apresentam como agente de combate à
das mídias, pois acreditam ser mais evasão escolar, haja vista que, contribui para
interessante, propiciando uma melhor permanência do discente na escola, uma vez
assimilação dos conteúdos, em prol da que o educando se sente atraído pelas
construção do conhecimento, onde o metodologias aplicadas na sala de aula com
educando é agente ativo no processo uso das mídias.
educacional. Criando, assim, um elo entre

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As concepções de interatividade nos ambientes Horizonte. v. 27. n. 03. p. 15-38, dez. 2011.
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rev. ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
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[9]. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia:
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Secretaria de Educação Média e Tecnológica.
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2010. p. 114.
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MEC/SEMTEC, 2000. [12]. RAMOS, E. M. F.; ARRIADA, M. C.;
[5]. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da FIORENTINI, L. M. R. Introdução à educação
Digital. 2 ed. Brasília: Ministério da Educação,
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de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
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Educação no século XXI - Volume 2


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WILSON, C.; GRIZZLE, A.; TUAZON, R.; de professores. Brasília: UNESCO, UFTM, 2013.
AKYEMPONG, K.; CHEUNG, C. K. Alfabetização 194 p.
midiática e informacional: currículo para formação

Educação no século XXI - Volume 2


159

CAPÍTULO 23
Aíres da Silva Baroza
Emanuella Pedrosa de Lima e Silva
Odolina Francelina de Carvalho

Resumo: Este trabalho apresenta a Música na educação infantil como auxiliadora


no processo ensino- aprendizagem, visando mostrar os benefícios de sua utilização
para o desenvolvimento das crianças, também tem por objetivo refletir as práticas
docentes em uma escola municipal de Araripina- PE. Além da pesquisa
bibliográfica, foi realizada uma pesquisa de campo, numa creche pública, da qual
nos foi permitido observar como os professores utilizavam a música em sala de
aula, levamos em consideração que estes não tinham formação na área musical, no
entanto faziam o possível para trabalhar da melhor maneira e encontraram na
música uma forma para melhorar o ensino. Consideramos assim, a música como de
fundamental importância para a educação infantil, e ressaltamos a importância de
uma formação continuada para os professores afim de que estes possam refletir e
melhorar sua prática.

Palavras – chave: Música. Educação infantil. Desenvolvimento Humano.

Educação no século XXI - Volume 2


160

1 INTRODUÇÃO participação do aluno em suas aulas.


Consequentemente, ajudará na formação do
Desde a antiguidade a música está
educando, estimulando-o a ter maior
presente na vida humana, fazendo parte
interesse pelo aprendizado, tendo maior
do lazer, do entretenimento, da cultura e da
facilidade na apropriação do conhecimento.
educação de crianças e adultos. Podemos
também encontrá-la presente na relação Sabe-se que o papel do professor é mediar
familiar, no teatro, em filmes, nas igrejas e o processo de conhecimento do aluno. A
em outros ambientes. Sua utilização na atuação do educando como pessoa mais
educação infantil traz inúmeras contribuições experiente, que domina um conjunto de
para o desenvolvimento das crianças ferramentas culturais e pedagógicas, que
permitindo, além da expressão corporal, o informa e orienta, ensina, enfim, educa, é
desenvolvimento de suas potencialidades, imprescindível no processo de
sua criatividade, seu raciocínio, além de desenvolvimento das formas superiores de
outros fatores que contribuem para seu conduta. Para tanto, o professor deve
aprendizado e formação. propiciar a criança o contato com os mais
diferentes tipos de linguagem e, ao utilizar a
Segundo BUDASZ (2006), no Brasil colonial,
música, faz com que ela tenha maior
a música era utilizada pelos padres jesuítas
percepção e compreensão do mundo,
como forma de catequizar os indígenas. No
facilitando, assim, o processo de
entanto, só em agosto de 2008 foi
apropriação do conhecimento.
sancionada a Lei Nº 11.769/2008 que
estabelece a obrigatoriedade do ensino de Nesse contexto, investigamos como a música
música nas escolas de educação básica. vem sendo trabalhada nas instituições de
Porém, essa lei não se refere à utilização educação infantil no município de Araripina,
da música como ferramenta pedagógica, mais especificamente na Creche Maria
sendo que para nós seria mais proveitoso se Anita Santiago Alencar e quais as implicações
ela fosse usada como ferramenta de ensino, decorrentes dessa forma de trabalho.
visto que traz inúmeros benefícios na
Nosso interesse por esse tema surgiu da
aprendizagem do educando.
participação em curso de mestrado sobre o
No entanto, hoje se vislumbra, a partir da Lei uso das Tecnologias da Informação e
de Diretrizes e Bases (LDB, 9.394/96) Comunicação – TIC, utilizando a música
grandes possibilidades para a música na como recurso didático na educação infantil,
educação tanto como disciplina obrigatória, no qual notamos a importância de sua
como recursos metodológicos. O ensino da utilização em sala de aula. Outro fator
arte, segundo a LDB, é obrigatório durante o bastante importante e, comum a grande
ensino básico, no entanto, a expressão maioria dos professores da referida creche
“Ensino da arte” permite várias era de terem filhos na faixa etária dos seus
interpretações como o ensino do teatro, da alunos, e com isso direcionar para que os
dança e da própria música etc., sendo que a mesmos tenham acesso aos mesmos
escola pode escolher qual a linguagem ensinamentos de forma diversificada,
artística que deverá ser desenvolvida. dinâmica que as motivem a terem o gosto
pelo conhecimento.
Assim, de certa forma, essas propostas
oficiais garantem espaço à música em todos Nesse trabalho utilizamos da pesquisa
os níveis da educação básica, incluindo a bibliográfica, da qual pesquisamos diversos
educação infantil. Entretanto, apesar do autores que falam do uso da música e seus
respaldo dos documentos oficiais, sabemos benefícios na educação. Também fizemos
que nem todos os professores passaram por uma pesquisa de campo, na qual
um ensino formal de música que lhes tenha entrevistamos duas professoras dos anos
dado subsídios para incluir essa linguagem iniciais e também observamos suas aulas,
nas suas práticas pedagógicas. Muitos, para ver como utilizavam a música, se
portanto as usam apenas como estava de acordo com as respostas dadas
entretenimento para manter as crianças na entrevista.
calmas e/ou quietas.
Como percebemos a música é uma
A utilização da música contribuirá para ferramenta que pode auxiliar no
que o professor melhore sua prática de desenvolvimento da criança e sua utilização
ensino, tornando sua aula mais prazerosa, como ferramenta de ensino propicia
interessante, instigando, assim, a benefícios, como a concentração, a

Educação no século XXI - Volume 2


161

criatividade, ajuda a criança a expressar seus música é praticada pelo homem há muito
sentimentos, também melhora o vocabulário e tempo.
vários outros aspectos que veremos no
Percebe-se, assim, que a relação
decorrer do trabalho.
humanidade x música vem desde a
Antiguidade e que, com as habilidades
adquirida pelo homem ao longo dos tempos,
2 MÚSICA E SUA RELAÇÃO NA EDUCAÇÃO
houve a possibilidade de registrar as
INFANTIL
práticas, que antes eram passadas
Atualmente busca-se novos meios de ensino oralmente, passaram a serem desenhadas
visando uma melhor apropriação do em cavernas, e um advento que ajudou ainda
conhecimento por parte do aluno, mais a manterem seus costumes foi o
principalmente nos anos iniciais, a busca surgimento da escrita, que facilitou o registro
pelo lúdico se torna frequente e uma das de suas tradições.
maneiras que encontramos para propiciar
Sendo assim, a música “Faz parte da
essa melhora no aprendizado é a utilização
educação desde há muito tempo, sendo que,
da música.
já na Grécia antiga era considerada como
Mas o que se entende por música? O Mini fundamental para a formação dos futuros
Larousse dicionário da Língua portuguesa cidadãos ao lado da matemática e da
(2008, p.546) diz que a música é”[...] a arte filosofia” (BRASIL, 1998,p.45), ocupando,
de combinar sons”. No entanto, esse assim, lugar central na educação grega.
conceito é muito limitado, então veremos o
GRANJA (2006,p.22) mostra que para os
que diz o Referencial Curricular para a
gregos o conceito de música não se limitava
Educação Infantil (RCNEI): A música é a
apenas na dimensão sonora. Era um
linguagem que se traduz em formas sonoras
conceito amplo e complexo que englobava
capazes de expressar e comunicar
também a dança, a poesia, a filosofia e a
sensações, sentimentos e pensamentos, que
metafísica. A música ou mousiké, estava
por meio da organização e relacionamento
inserida num complexo de atividades
expressivo e harmoniosa, entre o som e o
relativas não só a cultura, mas também à
silêncio” (BRASIL, 1998, p. 45).
educação e ao conhecimento.
De acordo com o RCNEI por meio da
Ainda segundo GRANJA, a música tinha
música o homem consegue expressar suas
bastante importância para a cultura grega,
emoções, suas ideias, seus sentimentos, além
tornando- se imprescindível no
de aguçar sua imaginação e criatividade.
acompanhamento do canto, poesia e dança,
Sendo assim, sua utilização como ferramenta
ajudando na memorização dos épicos,
de ensino-aprendizagem, pode ajudar a
educando a percepção e estética dos
criança a desenvolver sua expressividade,
ouvintes. Os gregos acreditavam que a
trabalhando de forma harmoniosa,
música podia influenciar o caráter de uma
aguçando sua percepção de maneira a
pessoa, dependendo da melodia tocada,
deixá-la mais envolvida na aula.
pois para eles a música podia evocar
GOHN apud STRAVACAS (2008, p.30), diz qualquer tipo de emoção.
que, “a história da música é tão antiga quanto
A música brasileira se formou a partir de
à humanidade, mas o fato é que os
várias culturas: dos índios, dos
primeiros fenômenos musicais se
colonizadores (portugueses) e dos escravos
evaporaram sem um registro documentado.”
(africanos). O portal da educação de música
Visto que ainda não havia escrita, as
mostra que a música no Brasil se formou a
tradições eram passadas de uma geração a
partir da mistura de elementos europeus,
outra por meio da oralidade e a música era
africanos e indígenas, trazidos
usada como forma de manterem seus
respectivamente por colonizadores
costumes, devido à facilidade de
portugueses, escravos e pelos nativos que
memorizarem. Diante disso, GRANJA (2006,
habitavam o chamado Novo Mundo. Outras
p.21) menciona que “a música é uma das
influencias foram se somando ao longo da
manifestações humanas mais antigas.
história, estabelecendo enorme variedade de
Inscrições e desenhos de instrumentos
estilos musicais.
musicais nas cavernas, flautas feitas de
ossos e outros indícios mostram que a

Educação no século XXI - Volume 2


162

2.1 O PROFESSOR E O ENSINO POR MEIO universitário. Foram entrevistadas duas


DA MÚSICA professoras dos anos iniciais, sendo que
estas foram observadas duas vezes por
Muitos professores encontram dificuldades
semana, durante dois meses, totalizando
para utilizar a música em sala de aula, pois
dezesseis observações em cada turma, os
não possuem formação adequada para atuar
meses observados foram abril e maio de
na área musical, sendo de fundamental
2015. Na creche foram selecionadas duas
importância o apoio da escola que fará com
turmas de Educação infantil, Infantil I e Infantil
que o professor se sinta mais confiante e
II, sendo as duas no turno matutino.
motivado para buscar novos meios de
aprimorar seu ensino.
No entanto, é importante frisar que a 4 RESULTADOS
música não deve ser trabalhada de
Por meio das observações conseguimos
qualquer forma, busca-se com ela melhorar o
constatar como a música vem sendo
ensino e a aprendizagem e não somente
trabalhada na educação infantil e sua
como diversão, sem fins educacionais, pois,
importância para o desenvolvimento das
muitas vezes sua utilização é introduzida
crianças.
“[...} nas escolas tendo como objetivo o
controle e a disciplina das crianças” (LOPES e Notou-se que a utilização da música com
FARIA, 2006, 2006, P.18). o objetivo do desenvolvimento psicossocial
e corporal da criança é relevante, pois as
Essa prática é comum nas escolas, os
crianças vão aprender a se relacionar com
professores utilizam a música como forma
os outros, vivendo melhor em sociedade,
de condicionamento, pois as crianças
além do desenvolvimento corporal, no qual
gostam de cantar,dançasr, brincar. Com
as crianças vão aprender a se movimentar
isso elas ficam mais calmas, comportadas.
por meio da música, aprendendo noção de
Assim, o professor não grita, ou briga
tempo e espaço, mostrando que sempre que
comelas para ficarem quietas, mas canta,
as professoras cantavam com as crianças,
sendo que as crianças acabam se
ensinava gestos, para que elas tanto
acostumando com essa rotina. FIGUEIREDO,
acompanhassem a música, como também
(2005,p.28).
desenvolvessem seus movimentos corporais.
O professor deve ter em mente que não
dve utilizar a música apenas como
descontração, passatempo, mais sim deve 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
usá-la como ferramenta de ensino, a favor
As professoras não encontram dificuldades
da aprendizagem. A partir dessa forma de
em trabalhar com a música em sala, sendo
trabalhar com a música, perceberá uma
realmente importante para a formação das
maior participação dos alunos,
crianças, por isso utilizam com frequência,
proporcionando uma aula mais prazerosa e
como forma de reflexão, de despertar o valor
um maior aprendizado.
musical, enfim para o desenvolvimento das
Deve, ainda, incentivar as crianças a se crianças e também para tornarem as aulas
expressarem melhor e não inibi-las. Assim, mais descontraídas, mais prazerosa.
elas terão maior facilidade em se relacionar
Portanto, espera-se com este trabalho
com os outros. OLIVEIRA (2001,P.100).
trazer à luz da reflexão sobre a prática
docente em relação à utilização da música
nas séries iniciais e que possa servir de
3 METODOLOGIA
base para novas pesquisas, a fim de
A pesquisa apresenta uma análise de dados melhorar a qualidade do ensino de nossa
a partir de entrevistas com duas professoras cidade e também o desenvolvimento e
de uma creche municipal na cidade de formação das nossas crianças.
Araripina – PE situada no bairro

Educação no século XXI - Volume 2


163

REFERÊNCIAS LOPES, Karina Rizek: MENDES, Roseana Pereira


e FARIA, Vitória Líbia Barreto de, As múltiplas
BRASIL,Ministério da educação e do Desporto. linguagens das crianças e as interações com a
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MEC/SF, v.3 1998. Educação Básica, 2006.
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musical nos anos iniciais da escola: Identidade e educação infantil. ETD – educação Temática
políticas educacionais. Revista da ABEM, Porto Digital, Campinas, v3, n1, p98-108, dez 2001
Alegre, V.12, 21-29, março 2005
STRAVACAS, Isa. O papel da música na
GRANJA, Carlos Eduardo de Sousa campos. educação infantil. Dissertação (Mestrado)
Musicalizando a escola: música, conhecimento e universidade Nove de Julho, 2008. São Paulo
ducação. São Paulo: escrituras editoriais, 2006

Educação no século XXI - Volume 2


164

CAPÍTULO 24
Aprendo contigo mas você pensa que eu aprendi com tuas lições,
pois não foi, aprendi o que você nemsonhava em me ensinar.

Clarice Lispector

Ramires Fonseca Silva

Resumo: A comunicação visa analisar como as propostas curriculares elaboradas


pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia, direcionadas ao ensino de
filosofia – Ensino Médio – são assimiladas pelos estudantes no Colégio Estadual
Professora Maria Bernadete Brandão em Salvador. Tais diretrizes não contemplam
uma abordagem significante. Ao contrário, sinalizam em direção de práticas
inclinadas a reproduzirem as condições institucionais de passividade do alunado.
Trata-se, pois, de explorar os caminhos sugeridos por Gilles Deleuze, quando
apresenta o ensino de filosofia como uma experiência do pensamento na resolução
de problemas.

Palavras-chave: Docência; filosofia; problema.

Educação no século XXI - Volume 2


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1. INTRODUÇÃO interdisciplinar, mas de contribuir na diluição


das fronteiras entre os saberes. Embora não
Este trabalho visa compreender como as
iremos desenvolver os impactos da
propostas curriculares elaboradas pela
interdisciplinaridade no fazer do/a professor/a
Secretaria de Educação do Estado da Bahia,
de filosofia neste trabalho, destacamos,
direcionadas ao ensino de filosofia – ensino
apenas, como mais uma possibilidade
médio regular – são apropriadas pelos
didática, problemática, no chão da escola.
estudantes no Colégio Estadual Professora
Maria Bernadete Brandão, no bairro do Logo, o risco da filosofia não satisfazer tal
Cabula em Salvador-Ba. Observa-se que a procedimento interdisciplinar, inviabilizando
implementação dos conteúdos referenciais sua importância pode converter-se em
para o ensino médio e, também, as justificativa de sua retirada da matriz
competências e habilidades para o ensino curricular.
médio, sugeridos pela Secretaria de
A partir deste contexto, a atuação do
Educação do Estado da Bahia, não
professor de filosofia nesta Unidade Escolar,
contemplam uma abordagem de assuntos
utilizando olhares diferenciados – sob a ótica
filosóficos significativos, cujas temáticas
teórica dos escritos de Gilles Deleuze acerca
possibilitem o acesso dos estudantes ao
da educação – aliados a uma postura mais
pensar emancipatório. Ao contrário,
reflexiva e autônoma, não contribuiria para
sinalizam em direção as práticas inclinadas
gerar uma valorização das vivências trazidas
a reproduzirem as condições institucionais de
pelos estudantes? E, consequentemente,
passividade do alunado. E mais, tem
produziria um espaço de aprendizagem
produzido generalizações que vêm servindo
propício à provocação da experiência do
para deslegitimar práticas didáticas
pensamento? Além disso, o
engendradas por professores de filosofia,
desenvolvimento da formação continuada em
consolidando assim, contextos que não
educação deste profissional, neste contexto,
condizem com procedimentos didáticos
não estaria assentado num terreno fértil de
assimiláveis, evidenciando apenas propostas
possibilidades de construções investigativas e
que engessam o fazer do docente.
críticas acerca do ser, e, do estar professor?
Nesse sentido, observa-se que os Vale ressaltar que, sendo supervisor do
documentos oficiais apresentam sinais de Pibid/Filosofia/UFBA (Programa Institucional
uma prática pedagógica tradicional, pautada de Bolsa de Iniciação à Docência) tenho a
por objetivos, que nem sempre trazem oportunidade em participar de vários
referência de tempo e espaço – encontros com docentes de filosofia no
descontextualizados – privilegiando apenas Estado, onde a reflexão da prática docente
as dimensões cognitivas sem, atingir os aponta para um comportamento, às vezes,
aspectos afetivos e culturais que viabilizem subserviente dos professores em relação às
uma formação significativa dentro dos deliberações padronizantes da Secretaria
ambientes didáticos. Reforçando dessa Estadual de Educação, muitas vezes,
forma, comportamentos de adaptação e inclusive, estes docentes não possuem nem
acomodação, que a meu ver, traduzem a mesmo a licenciatura na área,
preocupação burocrática de fazer cumprir comprometendo ainda mais a aceitação
um calendário escolar, sendo em certo acrítica dos documentos oficiais.
sentido, pedagogicamente irrelevante (Cf. DE
Portanto, o objetivo enquanto docente é
FARIAS et al. 2011, p. 119).
promover um espaço de observação e
E mais, os documentos sinalizam também, em acompanhamento dos estudantes,
alguns aspectos, para um ensino de filosofia oferecendo possibilidades de construção de
com certa exclusividade interdisciplinar. Bom, acessos ao pensar filosófico, tendo em vista o
se a presença da filosofia nesta modalidade contexto desta modalidade de ensino na rede
de ensino for considerada justificável porque pública, cujo foco principal é, também, lançar
possui um teor de garantia da interlocução possibilidades de ressignificar o ensino de
entre diversas disciplinas, penso que é filosofia, onde prevaleçam intervenções
complicado, pois não seria de abrangência didáticas que garantam a aprendizagem
mais ampla o diálogo interdisciplinar, ou seja, significativa e a autonomia pensante do
todos os componentes curriculares teriam o educando através da interação dialogal, entre
papel de promover tal interlocução. Este professor criativo e alunado dotado de
componente curricular, a filosofia, não teria a experiências cotidianas do mundo vivido, as
prerrogativa de ser vanguarda na proposta quais possam ser valorizadas no contexto

Educação no século XXI - Volume 2


166

escolar, afastando-se assim, daquilo que Optou-se então num deslocamento de


Jacques Rancière denominou de perspectiva para o ensino de filosofia no
“embrutecimento” dos estudantes. ensino médio, sobretudo, numa abordagem
que tenha significância para os envolvidos, a
Diluindo assimetrias existentes entre
saber, estudantes, docente e a comunidade
professor e estudantes, fruto, em muitos
escolar em geral. Colocando relevância no
casos, de uma linha de raciocínio engessada
aprender, e não no saber. “Deleuze tira o
pela pedagogia tradicional, na qual o ensino é
acento da emissão dos signos (o ensinar) para
que monopoliza os fazeres pedagógicos – a
colocar no encontro com os signos (o
escola se propondo a transmitir o produto
aprender), não importa por quem ou pelo que
final do saber científico e universal –. Nesse
eles tenham sido emitidos” (GALLO, 2013, p.
sentido, o docente seria um detentor de
184)
conhecimentos e o alunado receptor de
saberes, logo, no território de uma didática Deleuze vai falar da experiência do
de filosofia, a transmissibilidade dos pensamento na resolução de problemas,
conhecimentos ganha lugar de destaque. operando uma mudança no pensamento
filosófico tradicional que estaria, ainda,
Ao contrário de uma tutela como centro do
calcado na representação – que coloniza
processo educativo, o universo pedagógico
nosso pensamento desde Antiguidade –,
da educação básica com o propósito de
isto é, segundo ele, na ‘tradução’ do
mostrar responsabilidades partilhadas entre
pensamento do filósofo, onde predomina, em
os docentes e os estudantes, permitindo-lhes
certa medida, uma repetição de um caminho
refletir sobre como reconstruir caminhos , a
já trilhado. Este procedimento ‘paralisa’ o
fim de que compreendam melhor o universo
pensamento. Deleuze utiliza o termo
cultural em que vivem, buscando assim,
“recognição”, onde assenta a pedagogia
mobilizá-los para reflexões criativas a partir
ocidental. Aqui o aprender é adquirir, possuir
de vivências dos seus próprios repertórios
um saber, e adquirimos com o aprendizado
cotidianos. Além disso, faz necessário
que pode ser mensurado, quantificado pelos
valorizar saberes construídos, para além dos
processos avaliativos que dizem se o aluno
muros da escola, sobre os quais o ensino de
aprendeu ou não. O que Deleuze nega, e nós
filosofia possa desenvolver nos estudantes
concordamos, é exatamente o contrário desta
sua validade de forma horizontal e
proposta: um ensino de filosofia que oportunize
pluralista, permitindo-lhes espaços de
aos estudantes experimentar seus próprios
interlocuções, ou seja, o ensino de filosofia
pensamentos, implicando daí um
encarnado na sociedade ou ‘mundanidade’
aprendizado criativo e inovador, e não
a partir de significados trazidos para a
simplesmente reprodutivo.
escola, sempre como pressuposto que a
escola é território de atravessamentos, de Diferente disto, o movimento do
relações, de diversidades, onde a pensamento surge a partir da ideia do
criatividade floresce. ‘problema’ a ser resolvido, debatido, refletido
e na tentativa de solucioná-lo, dentro de um
formato que cause um devir do pensar.
2. DESAFIO DO CAMINHAR Analisado sob este ângulo, a estratégia criativa
prevê um trabalho plausível, que possibilite
Nesse panorama, e fugindo de uma lógica
ao docente um ambiente pedagógico
da explicação, isto é, uma pessoa sabe e
construtivo, no qual o alunado esteja
explica a outra que não sabe, numa
sempre inserido, dentro de um contexto
dimensão de passividade do alunado. Busca-
peculiar, com suas vivências, as quais serão
se encontrar pistas que poderíamos propor
motivadoras e os levarão a enfrentar questões
para equacionarmos obstáculos na prática da
do seu tempo.
filosofia no ensino médio, na modalidade
regular. Observa-se que a produção O “problema” não pode ser apresentado
teórica feita pela filosofia francesa como “falso problema”, como um
contemporânea, mais especificamente por artificialismo que usamos como ferramenta
Gilles Deleuze, quando trata o ensino de para construção do pensamento. Não se pode
filosofia em algumas obras tais como Proust e transformar o problema em método, em
os Signos e Diferença e Repetição, em que o metodologia, como etapa a ser superada; o
aprender ocupa um espaço de destaque. problema é objetivo, fruto da experiência.
Aliás, aprendizagem para Deleuze são “atos
subjetivos operados diante do problema”.

Educação no século XXI - Volume 2


167

Tentativas pedagógicas procuram obter a pensamento do alunado através do


participação de alunos, mesmo muito problema que, por sua vez, mobilizará o
jovens, na confecção de problemas, em sua pensar filosófico, germinando assim, a criação
constituição, em sua composição como conceitual numa dimensão horizontalizada.
problemas. Ainda mais, todo mundo
O problema seria como um encontro de signos,
‘reconhece’ de certa maneira que o mais
algo que sensibilizasse os estudantes, que
importante são os problemas. Mas não basta
seriam afetados por algo que tivesse
reconhecê-lo de fato, como se o problema
significado em suas vidas.
fosse tão somente um movimento provisório e
contingente, fadado a desaparecer na Qualquer relação, com pessoas ou com
formação do saber [...]. Ao contrário, coisas, possui o potencial de mobilizar em nós
considerar o problema não como ‘dados’, um aprendizado, ainda que ele seja obscuro,
mas com ‘objetividades’ ideais que têm suas isso é, algo de que não temos consciência
suficiências [...] (DELEUZE, 1988, pp. 228- durante o processo. É apenas ao final que
229). aquele conjunto de signos passa a fazer
Aqui haveria um deslocamento no termo sentido; e, pronto, deu-se o aprender, somos
“problema”, não seria logo lançado com o capazes de perceber o que aprendemos
intuito de obter soluções, mas uma condição durante aquele tempo, que nos parecia
de possibilidade do próprio pensamento perdido. (Gallo, 2013, p. 185)
apresentar-se. E continua Deleuze, agora E Deleuze ratifica:
pensando em Artaud.
Nunca se sabe como uma pessoa aprende;
Sabe que o pensar não é inato, mas deve ser mas, de qualquer forma que aprende, é
engendrado no pensamento. Saber que o sempre por intermédio de signos, perdendo
problema não é dirigir, nem aplicar tempo, e não pela assimilação de conteúdos
metodicamente um pensamento preexistente objetivos. (Deleuze, 2003, p. 21)
por natureza e de direito, mas fazer que
nasça aquilo que ainda não existe (...). Pensar Dentro desta dinâmica emancipatória, o
é criar, mas criar é, antes de tudo, engendrar ensino da filosofia deve valorizar situações
‘pensar’ no pensamento (grifo nosso) significantes, que abram espaço para o
(DELEUZE, 1988, p. 213). professor buscar elementos criativos, dentro
Assim, o que força o alunado a pensar no do contexto pedagógico, onde prevaleça a
sentido lato do termo é algo que o afeta, que sensibilidade didática do docente. Além
faz com disso, não se corre o risco de reduzir a
autonomia do professor, nos limites das salas
que se mova na direção do pensamento, e de aula, restringindo-o, quanto ao seu papel
esse algo se apresenta como problema. Nesse de educador, ou nas atribuições impostas
sentido, produz daí, condições de pela mentalidade, engessada, da instituição
possibilidades de um ensino de filosofia mais escolar. Como também, ele não pode estar
significativo para este perfil de alunado, onde preso a mecanismos externos, que o torne
o desenvolvimento do pensamento teria um refém dos processos de implantação de
movimento na criação de equacionamentos medidas à sua revelia.
de problemas singulares. Deleuze diz que,
por exemplo, quando Aristóteles definiu que Ao contrário, deve reivindicar participação
“o homem é um animal racional”, animal efetiva nas resoluções dos “problemas”
portador da palavra, animal que pensa; essa engendrados na instituição escolar, de
maneira criativa, assumindo seu papel de
imagem é representacional, engendrada pelo
próprio pensamento para justificar-se. Para responsabilidade social neste ambiente de
este pensador francês, o pensamento não é aprendizagens, numa perspectiva
transformadora dentro da comunidade onde
natural, mas compelido [forçado]. E quem nos
atua. E essa perspectiva, esse olhar
força a pensar? O problema. (Cf. Gallo, 2012,
p. 71). apresentado por Deleuze se torna plausível
no horizonte educativo.
A prática da filosofia no ensino médio, a
meu ver, engendrará resultados significativos Como resultado, pensar o ensino de filosofia
se e somente se, desestabilizar a relação nesta perspectiva, assumindo o problema
de tutela que existe entre o docente e os como mobilizador de pensamento original e
estudantes; trabalhando com referências de criativo, essa proposta cumpre um dos
problematização que sirvam como guias aspectos relevantes da autonomia do
para se alcançar a experiência do

Educação no século XXI - Volume 2


168

profissional do magistério na educação profissional, vinculada a um mundo concreto e


básica, que é, a meu ver, efetivo com a presença de um olhar atento
acerca da filosofia do ensino de filosofia,
compreender a realidade na qual estão
sinalizando assim, para uma busca das
inseridos os estudantes e ultrapassar
condições de possibilidades de uma
horizontes que limitam o trabalho docente,
aprendizagem emancipatória.
descartando assim a inevitabilidade de certos
aspectos que enquadram os componentes Nesse sentido, os procedimentos didáticos
curriculares, em determinados vieses de produzidos pelo professor visam, acima de
modelos metodológicos tradicionais. tudo, aproximar o conhecimento produzido
no chão da sala de aula com a realidade
Portanto, a presença desta proposta no
do alunado, levando em consideração uma
Colégio Estadual Professora Maria Bernadete
leitura problematizante da educação e seus
Brandão oportuniza aos estudantes, ao
impactos nas vidas dos agentes envolvidos.
professor, e, também, aos demais sujeitos
que convivem na escola, um leque de visões Desse modo, o caminho percorrido pelos
inovadoras acerca do ensino de filosofia na membros envolvidos nesse processo gerou
educação básica, fazendo com isso um novas práticas docentes ligadas ao ensino
deslocamento de foco, agora o aprender se de filosofia na educação básica e, ao
destaca, diminuindo, mas não apagando, a mesmo tempo, sinalizou para um novo
luz do ensinar. horizonte: o estreitamento de relações entre
a pesquisa e o ensino. Sendo, assim,
Tal abordagem mostra que, a presença da
pedagogicamente relevante o fazer filosofia
filosofia na educação básica precisa optar
na educação básica.
por uma formação orgânica e continuada do

REFERÊNCIAS
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Educação, Conteúdos Referenciais para o Ensino pluralidade de mundos: as múltiplas dimensões
Médio (Filosofia), Jornada Pedagógica, Salvador, do
Bahia, 2015.
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Secretaria da Educação Média e Tecnológica, Amarildo Luiz Trevisan e Noeli Dutra Rossatto,
Campinas :Mercado das letras, 2013, pp. 181-196.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio,
Brasília, 1999. a. . Metodologia
[3]. CAMPANER, Sônia. Filosofia – ensinar e do ensino de filosofia – uma didática para o
aprender, São Paulo: Saraiva, 2012. ensino médio, Campinas :Papirus, 2012.
[4]. DELEUZE, Gilles. Proust e os Signos, tr. b. . Deleuze & a
Antonio Piquet e Roberto Machado, Rio de Janeiro: Educação, Belo Horizonte :Autêntica, 2013.
Forense Universitária, 2003 [9]. LACROIX, Alain. Razão – Platão,
Aristóteles, Kant e Heidegger, tr. Márcio Alexandre
a. . Diferença e
Cruz, Petrópolis, RJ :Vozes, 2009.
Repetição, tr. Luiz Orlandi e Roberto Machado, Rio
[10]. MATOS, Junot Cornélio. A Formação
de Janeiro: Graal, 1988.
Pedagógica dos Professores de Filosofia – um
[5]. DELEUZE, Gilles. Foucault, tr. Cláudio debate, muitas vozes. São Paulo: Loyola, 2013.
Santana Martins, São Paulo :Brasiliense, 2013. [11]. SABINO DE FARIAS, Isabel Maria et al.
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. O que é a Didática e Docência – aprendendo a profissão,
Filosofia? Trad. Bento Prado Jr e Alonso Brasília: Liber Livro, 2011.
[6]. Muñoz, Rio de Janeiro, Editora 34, 1992. [12]. SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia,
Campinas, SP, Autores Associados, 2008.
[7]. FRANCO, Maria Amélia do Rosário.
Pedagogia e Prática Docente, São Paulo :Cortez,

Educação no século XXI - Volume 2


169

CAPÍTULO 25
Antonia Arisdelia Fonseca Matias Aguiar Feitosa
Francisco José Pegado Abílio

Resumo: A Educação Planetária se apresenta, neste século XXI, como uma


promissora expectativa para os projetos educativos de formação humana. Os
processos educativos são conduzidos por diferentes setores da sociedade, como é
o caso das Organizações Não Governamentais com projetos de ação social. O
objetivo do estudo reside em compreender como se dá a relação entre os
processos educativos conduzidos no interior destas entidades e as propostas
teóricas, metodológicas, ideológicas e políticas da Educação Planetária. A
pesquisa foi circunscrita a dois projetos de ação social, executados em uma
entidade não governamental, na cidade de Cajazeiras-PB. A obtenção dos dados
foi realizada por meio da observação, de entrevistas e análise documental, durante
o período compreendido entre julho/2008 a dezembro/2009. Os resultados
mostraram a importância que os projetos de ação social exercem na vida das
pessoas com situações indesejadas e despertam nos sujeitos o compromisso e
responsabilidade com a construção de novos cenários sociais. As Organizações
Não Governamentais com projetos sociais exercitam a educação planetária, uma
vez que suas intervenções desenvolvem, nos sujeitos, novas formas de ser e estar
no mundo. Ademais, despertam a compreensão de seu protagonismo na
construção de suas identidades e da autorrealização pessoal e coletiva, além de
contribuir para a produção de conhecimentos pertinentes, pela solidariedade e pela
participação cooperativa.

Palavras-chave: Educação Planetária. Organização-Não Governamental. Projetos


Sociais.

Educação no século XXI - Volume 2


170

1. INTRODUÇÃO esferas local, regional, nacional e


internacional.
Educar representa uma alternativa na
formação de pessoas que precisam coexistir É possível visualizar nas proposições oficiais
mediante esta nova ordem socioambiental das ONGs (Estatutos, Regimentos,
global que se expressa, atualmente, como Programas, Projetos) algumas características
um dos grandes desafios do século XXI. Nas comuns, entre elas enfatizamos a seguinte:
manifestações registradas em favor da são grupos com alguma organização formal
sustentabilidade, a educação está situada que atuam tendo em vista a transformação de
como “fundamento básico” no processo de aspectos da realidade social, considerados
formação humana e desenvolvimento, como negativos (SCHERER-WARREN, 1998).
assumindo um papel preponderante na Entretanto, as ONGs têm sido alvo de
construção de saberes, na orientação para denúncias e críticas, entre elas, as
o desenvolvimento humano e para novas transnacionais, que são acusadas de atuarem
formas de perceber, pensar e agir no mundo. como instrumento de dominação dos países
ricos sobre as economias periféricas.
Os processos educativos direcionados à
sustentabilidade constituem, pois, A despeito das críticas e denúncias apontadas
mecanismos orientadores, capazes de contra as ONGs, o fato é que estas se
contribuir para desenvolver nos sujeitos expandiram globalmente, com atuações
competências para uma consciência diversificadas em relação às áreas de
ecológica na perspectiva de torná-los atuação, aos propósitos pretendidos e ao
cidadãos do mundo. Estas competências são nível de institucionalização alcançado. O
necessárias à humanidade para lidar com os campo de abrangência das ações das ONGs
aspectos multidimensionais que envolvem a varia de pequenos grupos, como bairros, até
relação homem-natureza numa perspectiva contextos mais amplos e diversificados a
de interdependência planetária. A nível regional, nacional e internacional.
dimensão planetária começa a se constituir Algumas atuam na informalidade, outras
com as mudanças originadas nestas desenvolveram um organizado sistema
diferentes formas de olhar o mundo, e nos profissional de gestão das atividades e de
impulsiona a transcender de uma concepção controle administrativo de seus investimentos.
de vida mecanicista a uma visão integradora e
Refletimos, neste estudo, sobre as ONGs
ecológica, sustentada em novas categorias e
que desenvolvem ações sociais na
valores.
perspectiva da sustentabilidade humana e
É necessário pensar a educação como um planetária e que têm como pressupostos
movimento que aconteça em todas as ideológicos de suas ações, princípios que
esferas da sociedade. Como um fazer conduzam as pessoas ao engajamento
educativo que represente a ideia-força para a social em defesa do planeta, ao
construção de modalidades inovadoras no reconhecimento da interdependência entre
processo de formação humana, sociedade e natureza. Estas entidades, de
considerando o contexto e o cotidiano como acordo com Santos (2006), são consideradas
recursos, meios e fins na configuração de pioneiras na difusão de uma educação global
sociedades mais justas, solidárias e e na luta por uma educação que comungue o
sustentáveis. paradigma ecológico, cidadania participativa
e sustentabilidade, na perspectiva da
Nesta perspectiva, de acordo com Cabral
construção de um mundo melhor para todas
(2000), a sociedade civil, através de
as formas de vida.
Organizações Não-Governamentais (ONGs),
tem contribuído para a formação humana A pesquisa orientou-se por duas questões
em suas múltiplas dimensões. Tal específicas que se pretendia saber: a partir
contribuição se reflete na construção de de quais bases teórico-metodológicas se dá
identidades dos sujeitos, de modo que estas a materialidade do ideal da educação
entidades têm se constituído como agentes planetária? Que processos educativos,
sociais que realizam mediações de caráter apreendidos a partir das ações conduzidas
educacional, político, assessoria técnica, no âmbito das ONGs, se coadunam com a
prestação de serviços e apoio material e Educação Planetária e são passíveis de
logístico para comunidades específicas e inserção nos diferentes espaços
para diferentes segmentos da sociedade, nas educativos?

Educação no século XXI - Volume 2


171

Para a realização deste estudo utilizamos os atuação política, valorizam diferenças e


fundamentos teóricos de Morin (2000, 2006, identidades e colocam o beneficiário como
2007), Freire (1979, 1996, 1999) e Honneth sujeito da ação.
(2003, 2007), no sentido de compreender as
Atualmente, as ONGs promovem mediações
relações entre as atividades educativas das
e parcerias entre a comunidade local
ONGs voltadas à sustentabilidade e os
organizada, setores públicos e privados e
pressupostos teóricos e metodológicos da
implementam programas sociais como:
Educação Planetária.
educação, saúde, saneamento, meio
Nesta perspectiva, o objetivo desta ambiente, geração de renda, entre outros,
pesquisa foi compreender a relação que se na busca da construção de uma sociedade
dá entre os processos educativos mais igualitária, justa e com novas práticas
conduzidos no interior das ONGs que coletivas.
desenvolvem projetos sociais e as propostas
Além disso, articulam práticas sociais
teóricas, metodológicas, ideológicas e
inovadoras e possibilitam o surgimento de
políticas da Educação Planetária.
sujeitos históricos dispostos a enfrentar
novos desafios, proporcionando
experiências de cidadania assentadas na
2. MÚLTIPLOS CENÁRIOS QUE ENVOLVEM
solidariedade e identificadas com os
AS ONGS
princípios de responsabilidade individual e
As ONGs são entidades multidimensionais de coletiva.
amplo espectro de intervenção e se revelam
As Organizações Não Governamentais se
como possibilidades tanto nas políticas
caracterizam como entidades de assessoria,
alternativas quanto nas promoções de
apoio, promoção e educação e defesa de
políticas públicas. Sua atuação, nestes
direitos humanos e ambientalistas a grupos
cenários, merece uma reflexão no que
ou movimentos sociais e/ou comunidades.
concerne à sua identidade, ideologia e
Numa definição estrutural-operacional, é
missão. De acordo com a forma de serem
possível delinear aspectos dimensionais
conduzidas, suas ações podem ser
destas organizações: têm certa permanência
potencializadas, à medida que fortalecem a
organizacional; institucionalmente separada
participação, como também podem sofrer a
do governo, mas, com fins públicos; sem fins
despolitização e precarização do trabalho
lucrativos para seus membros; mediam
social pretendido “inicialmente” (VIOLA,
atividades de caráter educacional,
1998).
informacional e político (por princípio);
Estas organizações, por se diversificarem na oferecem assessoria técnica, articulação de
estrutura e funções, além de sua larga experiências congêneres; destinam-se para
abrangência social, representam um campo populações – alvo ou segmentos da
de possibilidades para processos de sociedade civil e desencadeiam processos
intervenção em realidades sociais educacionais e de capacitação, objetivando a
problemáticas. Dentro do seu diverso e construção de uma cidadania plena.
multifacetado campo de atuação, elas
Além do respaldo jurídico no novo Código
constituem essencialmente uma força
Civil, as ONGs, por suas características de
mobilizadora de valores e ideologias capaz
se orientarem sob as ideias definidos na
de reorientar percepções humanas e conduzir
missão de exercer a solidariedade e a
alterações nas estruturas sociais.
cidadania, também conquistaram sua
Tais organizações, por apresentarem estas legitimidade junto à sociedade. Nesta
características, se revelam como um perspectiva, elas se revelam como
campo de viabilidades a práticas educativas. alternativas frente à incapacidade do Estado
Entre outras características peculiares, é de resolver os problemas sociais que mais
possível visualizar, no âmbito das ONGs, a inquietam a população, em contextos
possibilidade de intervir sobre os diferentes específicos. Com este fim, criam uma
aspectos das relações sociais, pois nelas identidade ideológica em consonância aos
são gerados processos que configuram a interesses da equidade e estabelecem
identidade como relacional; elas apropriam- objetivos comuns, estimulando nas pessoas
se do discurso da sociedade civil organizada a formação de um senso de comunidade,
e o ressignificam, promovem a de objetividade, determinação e coletividade.
translocalidade, fortalecem princípios da É necessário que haja integração e

Educação no século XXI - Volume 2


172

envolvimento dos integrantes das ONGs em democrática, mais solidária e mais humana)
todos os processos de “consolidação”, tem reconfigurado a ideia de projeto utópico
“crescimento” e “estabilidade”; em uma da humanidade do sentido de irrealizável
coerência de ação e que se expressem à para o campo de múltiplas possibilidades, em
população como uma oportunidade para o que o irrealizável torna-se possível. Neste
desenvolvimento social e humano, tendo contexto, as ONGs com projetos voltados à
responsabilidade ética com os resultados ação social para a sustentabilidade humana e
de suas ações. planetária atuam como processos alternativos
na tentativa de alcançar a melhoria na
qualidade de vida de comunidades e de
3. CARACTERIZAÇÃO DE ONGS COM construir um novo modelo de desenvolvimento,
PROJETOS SOCIAIS no qual as pessoas sejam protagonistas de
suas aprendizagens e de sua formação. Tais
As ONGs são a mais forte expressão da
entidades são idealizadas, estruturadas e
sociedade civil nos países em
conduzidas incorporando em sua dinâmica
desenvolvimento. Estas representam um
funcional as habilidades e competências
campo comum privilegiado, em que
compatíveis às demandas deste século para
diferentes atores negociam e apresentam
uma vida mais digna.
diferentes interpretações da realidade social.
A compreensão de que as ONGs não podem
pensar e agir sob a mesma lógica de uma 4. PERCURSO METODOLÓGICO
agência estatal antecede a ideia de
Nesta investigação adotamos o estudo de
identificá-las por adjetivações. As
caso como abordagem metodológica através
características básicas destas organizações
da qual as experiências vivenciadas pela
estão reveladas na sua trajetória histórica e
Ação Social da Diocese de Cajazeiras –
associadas às demandas emergentes nos
ASDICA, relacionadas a dois projetos de ação
atuais e diversificados contextos Atuam em
social (Associação de Catadores de Material
espaços nos quais as divergências sejam
Reciclável de Cajazeiras, PB; e Comunidades
postas em diálogo, onde as diferenças
Rurais) foram estudadas, considerando suas
fortaleçam e não fragilizem os processos de
particularidades e complexidades (YIN,
construção coletiva de plataformas para
2005; GODOI; BANDEIRA-DE-MELO; SILVA,
intervenções nas realidades indesejadas.
2006; MARTINS,
Apesar dos perfis bastante diferenciados em
2008). Para a análise dos dados recorremos
termos de finalidades, recursos humanos,
à fenomenologia como método para
materiais e financeiros, as ONGs que
apreensão do conteúdo expresso nas
executam projetos de ação social se
informações obtidas. O conteúdo apreendido
coadunam em alguns aspectos, tais como:
foi sistematizado de modo contextualizado e
dão ênfase às atividades produtivas, de
orientado pelo aporte teórico que deu
desenvolvimento e fortalecimento de grupos;
sustentação ao estudo (MARTINS;
possibilitam o intercâmbio de experiências
DICHTCHEKENIAN, 1984; MACEDO, 2000;
“religando” indivíduos ou grupo de pessoas,
MOREIRA, 2004).
geralmente excluídos dos processos de
aprendizagem intelectual, buscam a Dos materiais analisados durante a pesquisa
realização subjetiva pela via da cooperação e destacamos: documentos institucionais da
coletividade. entidade
A despeito de todas as reflexões que – utilizados para identificar as finalidades e a
apresentam os grandes desafios enfrentados racionalidade orientadora das ações
pelas ONGs no que se refere à eficiência, desenvolvidas a partir dos projetos sociais;
sob as diferentes dimensões, de sua registros feitos pelos integrantes da
intervenção, estas entidades são agentes coordenação/execução dos projetos em
mobilizadores, criativos e exercem forte cadernos, pautas, agendas pessoais - para
influência na formulação de políticas entender alguns aspectos envolvidos na
públicas nas sociedades contemporâneas. execução das atividades; além dos projetos e
respectivos relatórios (referentes ao período
A mobilização gerada no âmbito das
2006- 2008) - que expressaram as
ONGs, com a finalidade de intervir em
proposições e os resultados das ações
realidades indesejadas (constituindo as bases
executadas e oficialmente declaradas.
de uma sociedade diferente, mais

Educação no século XXI - Volume 2


173

Dos sujeitos pesquisados, entrevistamos os para a construção de sociedades mais justas,


coordenadores, executores e beneficiários solidárias e a formação de sujeitos
dos projetos desenvolvidos. Através do protagonistas de sua aprendizagem, de seu
discurso destes sujeitos, foram obtidas modo de ser e estar no mundo, em suas
informações referentes às atividades relações com o meio e com os demais seres.
executadas, bem como sobre os impactos
As atividades fins da ASDICA são
gerados na vida das pessoas envolvidas e
desenvolvidas a partir do Programa de
na comunidade como decorrência das
Ação Social de Políticas Públicas (PASPP),
intervenções promovidas através dos
caracterizado pela execução de projetos de
projetos sociais.
ação social em diferentes dimensões da
sociedade, junto às associações
comunitárias, aos conselhos municipais, às
5. A SUSTENTABILIDADE HUMANA E
entidades com trabalhos relacionados às
AMBIENTAL NO FOCO DA ONG
questões ambientais e à convivência com o
A sociedade vivencia a insatisfação de semiárido.
interpretar os verdadeiros efeitos da era
Os projetos de ação social analisados neste
moderna e a necessidade de buscar
estudo foram construídos coletivamente,
alternativas para evitar que estes sintomas
com a participação das pessoas
progridam e se fortaleçam, alcançando a
pertencentes aos grupos sociais
dominação.
acompanhados, a saber: “Associação de
O sentido da planetarização do ser está em Catadores de Material Reciclável” e “Ações
fazê-lo reconhecer-se no mundo, como em Comunidades Rurais”. Ficou evidenciado
protagonista do seu destino e do futuro das que as atividades de Planejamento,
sociedades. Para este fim é necessário que Monitoramento e Avaliação (PMA) dos
sejam desenvolvidas práticas coletivas referidos projetos são orientadas a partir de
capazes de colocar a humanidade em um “Guia de Orientação Pedagógica”, cujo
confluência com uma nova cultura social, conteúdo constitui o fundamento teórico e
pautada na sustentabilidade humana e filosófico que auxilia a equipe no processo
planetária. de elaboração dos projetos. Tal conteúdo é
analisado no âmbito da entidade, sofre as
São necessárias práticas que conduzam as
adequações metodológicas e é
pessoas a assumirem a vida como um
reconfigurado de acordo com os contextos
processo em movimento e a construírem suas
específicos dos locais de cada grupo
autonomias reconhecendo as dependências.
acompanhado. Este procedimento é
são elaboradas seguindo uma linha de
percebido na expressão d@s coordenador@s
pensar a intervenção de acordo com os
pesquisad@s. (Seguindo o exemplo de alguns
paradigmas estabelecidos no plano teórico e
estudiosos, como Sato (2000), utilizaremos a
filosófico orientador da entidade e
simbologia “@” para evidenciar uma
compartilhados entre seus integrantes (sejam
linguagem inclusiva e não sexista)
coordenadores, executores de projetos e
pessoas beneficiárias) e pelas propostas As atividades são flexíveis [...] a gente planeja,
desenvolvidas. mas se trabalha sempre com a observação
dos processos que vão acontecendo dentro
O termo sustentabilidade aqui referido
da comunidade (Entrevistad@ 01).
pressupõe, de acordo com Lima (2003, p.
Nós começamos pela necessidade dos
116), “a capacidade de aprender, criar e
próprios catadores em buscar políticas
exercitar novas concepções e práticas de
públicas, fomos trabalhando [...] eles sempre
vida, de educação, de convivência individual,
juntos [...] fomos vendo a necessidade de
social e ambiental – capazes de substituir
capacitações... (Entrevistad@ 02).
os velhos modelos em esgotamento”.
O percurso metodológico revelado nas falas
A Ação Social da Diocese de Cajazeiras – dos entrevistados se dá com vistas a
ASDICA – constitui uma Organização Não- possibilitar a partilha de percepções entre as
Governamental de caráter filantrópico, pessoas para realizar uma reflexão crítica
educativo e assistencial (características sobre sua realidade. Percebe-se que este
expressas nos documentos oficiais), que caminho orienta atitudes cooperativas e
desenvolve projetos de ação social no meio solidárias, além de proporcionar aos atores
urbano e rural da área de abrangência da sociais uma aprendizagem que considera os
referida Diocese. Tem como objetivo contribuir efeitos de suas ações para o

Educação no século XXI - Volume 2


174

desenvolvimento do projeto com [...] Conseguimos verba com a Misereor


responsabilidade social. A compreensão da para trabalhar cursos de capacitação,
realidade inicial dos grupos acompanhados, oficinas de auto-estima, de associativismo,
por parte da equipe de coordenadores dos muitas oficinas... e visitas de intercâmbio.
projetos, é construída não apenas pela [...] Eles aceitaram vir para as reuniões
análise dos relatos das vivências expressos porque viram que o grupo podia colaborar
oralmente pelos sujeitos, mas durante todos (Entrevistad@ 02).
os processos interativos que são O ponto de partida para a construção de
proporcionados aos participantes no sentido projetos de ação social no âmbito da
de deixá-los à vontade para expressarem entidade foi à compreensão coletiva da
seus pensamentos. O objetivo deste realidade que se queria modificar e este
procedimento é construir relações em que as processo ocorreu através de etapas,
regras sejam substituídas pela reveladas no discurso dos sujeitos. Por outro
espontaneidade. lado, e analisando a fala supracitada, para
Neste movimento, as representações que alcançar consensos em busca de um
eles manifestam de si, do outro e do mundo pensamento comum, os coordenadores
constituem, para os coordenadores, os interviram, conduzindo as atividades, na
fundamentos que iluminam suas reflexões maioria das vezes se orientam por seus
acerca dos contextos apreendidos. Este é próprios princípios ideológicos, o que pode
um exercício que acontece pelo diálogo representar, no âmbito da entidade, uma
como mediação maior na socialização dos condição limitante para o processo de
saberes, na troca de experiências e no construção de autonomias no interior do
desenvolvimento de conhecimentos grupo.
pertinentes.
A entidade pesquisada, a ASDICA, traz no 6. INDICADORES DA ÉTICA PLANETÁRIA
interior de suas atividades características de NOS PROCESSOS PEDAGÓGICOS
um fazer educativo para além das formas
convencionalmente orientadas. É possível A concepção de uma ética planetária tem
apreender que, neste espaço, há um sido uma das metas a serem conquistadas
exercício pedagógico pautado no diálogo pela humanidade neste século XXI. No
permanente, como estratégia entre os seres âmbito da ASDICA foram apreendidos alguns
e o seu meio, no sentido de considerar os aspectos da ética planetária, a saber: a
contextos locais, no engajamento de todos busca pela inclusão; a noção de partilha; o
os participantes e no fortalecimento dos respeito pelo meio ambiente humano e
interesses comuns. Estes processos, além planetário através da busca permanente
de permitirem aos participantes um olhar pela sustentabilidade; o conhecimento
crítico sobre as realidades, os capacitam a responsável; a luta pela sociedade
interferir nelas. Tais aspectos podem ter democrática. Sob o ponto de vista ideológico,
visibilidade a partir dos projetos estudados e os pensamentos centrais que norteiam as
das falas dos sujeitos: ações desta entidade são: a necessidade de
pensar o global e o local para além das
Todo o processo de discussão na questões econômicas e o entendimento de
comunidade, as reuniões com as associações que a ética planetária congrega várias outras
a gente discute os problemas deles e procura éticas, tais como a transcultural, supra-
a motivação no sentido que eles vejam que econômica, a multidimensional e a pró-
os problemas existem e não são fáceis de sustentabilidade.
resolver, mas que o caminho é irem à luta,
juntos [...] A gente tem sempre analisado com A seguir estão apresentados alguns aspectos
eles que é preciso sair da concepção de da ética planetária, presentes no agir da
aparecer algo de fora que vai resolver nossos entidade, identificados durante esta pesquisa:
problemas [...] A gente reflete com eles 1º) No cenário que caracteriza a situação
para que olhem para dentro da inicial em que se encontravam os grupos
comunidade e veja quais as potencialidades acompanhados pelos projetos da ASDICA, as
que tem (Entrevistad@ 01). pessoas demonstram atitudes de reificação
Eles não queriam participar de reuniões, diante dos “descasos” com que o poder
diziam que no lixão tiravam o sustento, eles público trata os problemas dos sujeitos.
não enxergavam adiante [...] A gente viu Esta realidade é apreendida no interior do
que precisávamos caminhar com este grupo

Educação no século XXI - Volume 2


175

grupo e tratada recursivamente através do alto, são os catadores... nós faz o nosso
diálogo, da reflexão crítica, da troca de trabalho (Entrevistad@ 05).
experiências e dos relatos pessoais, para se Este sentimento de auto - realização,
converterem em desafios, que constituirão os segundo Honneth (2003), é o transcender
indicadores do caminho e das metas a da atitude reificada, de desprezo e
serem alcançadas. A elaboração de subordinação, para uma postura de
projetos e o planejamento das atividades são sujeitos que se realizam na coletividade com
realizados a partir das visitas de intercâmbio, a finalidade de conquistar a justiça social.
de palestras e realização de oficinas
2º) A dinâmica de integração que os
pedagógicas visando à conversão dos
coordenadores desenvolvem para envolver
problemas particulares em desafios coletivos,
os grupos acompanhados nos processos de
como expressam os pesquisados:
planejamento, monitoramento e avaliação dos
Conseguimos verbas para trabalhar cursos projetos possibilita, no interior da entidade, a
de capacitação, envolvendo autoestima [que mobilização de uma ética ecológica cujo ideal
era essencial]. Fizemos oficinas de é gerar nos sujeitos a consciência de que
empreendedorismo, gestão, associativismo, todos constituem parte do equilíbrio
alfabetização, reciclagem e também de procurado, seja nas relações interpessoais ou
espiritualidade, muitas oficinas de nas relações com o ambiente.
espiritualidade (Entrevistad@ 02).
3º) No interior da ASDICA, as informações e
A gente usa desde cedo a chamada visita de
saberes são mobilizados graças ao exercício
intercâmbio, onde eles conhecem
da “expressão livre”, que é possibilitado a
experiências bem sucedidas, a gente faz
partir dos arranjos pedagógicos orientadores
essas visitas e eles experimentam oficinas
das ações e dos encaminhamentos
porque encontro só com conteúdos eles
estabelecidos dentro da entidade. Como
dizem que já estão cansados de conversa [...]
resultado, constitui-se um saber diferenciado,
O projeto ajuda nessa animação para
gerado dos princípios cooperativos, com a
identificar as medidas que são apropriadas
finalidade de mudar a realidade para
pra realidade deles e aí eles vão
melhorar a qualidade da vida humana e do
experimentando e identificando realmente as
planeta.
que são melhores (Entrevistad@ 01).
Neste movimento, os sujeitos exercitam a A ética que emerge neste contexto foca o
“escuta” e a “fala” para socializarem suas olhar para além da situação do presente,
realidades e as ressignificarem através do alimentando os princípios necessários para
diálogo. Isto permite que se desenvolva, nos oferecer às futuras gerações essa concepção
indivíduos, um sentimento de pertença em planetária como algo construído e constitutivo
relação ao grupo e de autoestima pessoal do seu próprio ser. São estes princípios que,
para sentirem-se capazes de assumirem mobilizados no âmbito das organizações não
atitudes de resistência aos contextos de sua governamentais e articulados a formas
realidade indesejada. A atitude de sistematizadas de educar podem contribuir
reconhecimento do potencial humano que para que as éticas a serem globalizadas
as pessoas do grupo manifestam gera um neste século XXI sejam as planetárias,
fortalecimento mútuo entre os sujeitos, que transculturais e supra-econômicas.
passam a atuar como sujeitos mais
4º) A realidade plural se apresenta aos
valorizados, com seus direitos preservados, e
coordenadores como ingrediente a constituir
acende neles a expectativa de alcançar as
os projetos de ação social. Esta é analisada
mudanças desejadas para sua comunidade,
a partir de um pensar pedagógico capaz
como está impresso no discurso dos
de possibilitar a identificação de finalidades
pesquisados:
sociais e a capacitação cidadã dos sujeitos.
Antes nós era tratado como um lixo... hoje tá Trata-se de um pensar que proporciona aos
muito diferente, nós somo tratado que nem grupos acompanhados a compreensão de
gente... hoje nós tem bem dizer assim, tem que as demandas individuais precisam ser
poder... poder de tá em qualquer lugar, numa socializadas, refletidas e reconfiguradas para
mobilização... de trabalhar [...] Hoje nós já compor as demandas coletivas. Para os
aprendemo mais na vida que... o que luta coordenadores dos projetos de ação social
não é de ser o PASPP, os apoio... quem envolvidos neste estudo, os desafios são,
deve lutar é a gente quem deve gritar mais entre outros: desenvolver nos indivíduos as
competências requeridas para um agir

Educação no século XXI - Volume 2


176

coletivo; despertar nos sujeitos o que são tratadas pelo poder público e pela
entendimento de que a construção do sociedade a que pertencem.
conhecimento ocorre mediante as
Esta condição estimula os sujeitos e os
informações, os saberes que as pessoas
encoraja a engajarem-se em ações
trazem de suas experiências e de seus
alternativas. Além disso, funciona como
contextos.
incentivo para as ações alternativas que
Esta pedagogia estimula um agir sobre tais possibilitem o vivenciar de outras experiências
informações, potencializando-as para as em que os processos de inclusão sejam
finalidades previamente idealizadas, no fenômenos de re-significação para suas
sentido de gerar, de modo permanente, novos vidas em comunidade. Sobre esta
conhecimentos retro alimentadores do compreensão, Honneth (2003, p. 259-260)
processo educativo. refere-se ao desrespeito da seguinte forma:
Pelo exposto, é mister enfatizar que os Esse tipo de sentimento só pode tornar-se a
espaços sócio educativos a exemplo da base motivacional de resistência coletiva
ASDICA têm grande significado na vida dos quando o sujeito é capaz de articulá-los num
grupos acompanhados. São locais em que quadro de interpretação intersubjetiva que os
as situações do cotidiano são comprova como típicos de um grupo inteiro
problematizadas e analisadas considerando [...] A resistência coletiva procedente da
seus contextos, as expectativas dos grupos e interpretação socialmente crítica dos
refletidas mediante seus aspectos que se sentimentos de desrespeito partilhados em
revelam como potenciais e limites. comum não é apenas um meio prático de
reclamar para o futuro padrões ampliados
Há, nesta dinâmica, a capacitação de todos
de reconhecimento; o engajamento nas
os envolvidos nos processos e, conforme
ações políticas possui para os envolvidos
revelado por coordenadores dos projetos e
também a função direta de arrancá-los da
beneficiários, estes têm suas concepções
situação paralisante do rebaixamento
teóricas e práticas continuamente
passivamente tolerado e de lhes
ressignificadas:
proporcionar, por conseguinte, uma auto-
Posso dizer pessoalmente que eu mudei relação nova e positiva.
minha visão, meu modo de pensar, meu Confirma-se, deste modo, a necessidade de
modo de agir [...] tanto que a mudança foi um educar cooperativo e de um agir com
radical na minha casa, eu fiz porque eu vi que responsabilidade social para que os
na vida existem pessoas com situações sujeitos passem a compreender-se no e
piores e muita coisa não vale a pena na vida com o mundo reconhecendo-se como
da gente..., assim, levar em conta coisas protagonistas das mudanças requeridas na
que são pequenas, são ínfimas frente a outros sociedade. É a formação do indivíduo para a
problemas (Entrevistad@)03). planetarização do ser, preconizada por Morin
No começo quando nós começamos [...] era (2007).
uma... uma coisa que todo mundo achava que
As ações educativas orientadas por projetos
era seboso pegar em lixo [...] Eu trabalho
de intervenção social constituem, neste século
só... dou uma ajuda a minha família[...]eu já
XXI, uma alternativa plausível, além de
comi tanta coisa do lixo. Antes era uma disputa
necessária, que a humanidade através da
no lixão quando o lixo subia aí era uma
sociedade organizada vem desenvolvendo no
disputa do que chegava mais cedo pra
sentido de responder aos desafios que nos são
pegar logo. Agora com a Associação nós
impostos nesta Era Planetária.
trabalhamo num grupo junto com os outros
catadores (Entrevistad@ 06). Contudo, o processo se dá envolto a
As ações pedagógicas são facilitadoras das limites e potencialidades que se
aprendizagens no interior dos grupos, que apresentam a estas entidades como
interagem promovendo o exercício da reflexão “elementos” que constituirão o cenário das
sobre suas práticas. São, portanto, os propostas a serem realizadas. Nesta
espaços associativos campo fértil para investigação foi possível perceber que, no
empreender projetos de ação social, dado interior da entidade, o sujeito social e seu
que as pessoas das comunidades alvo dos contexto constituem os pontos de partida
projetos, em geral, sentem-se impotentes e de chegada que iluminam as
pela condição de invisibilidade social com elaborações de planejamento e orientam as
estratégias de execução das atividades dos

Educação no século XXI - Volume 2


177

projetos de intervenção em realidades participação efetiva dos grupos


indesejadas. As ações são conduzidas sob a acompanhados. As expressões individuais e
coordenação da equipe que constitui a as informações socializadas no grupo acerca
ASDICA, em parceria com outras instituições de seu território e de suas experiências
e entidades cujos trabalhos estejam voltados sociais são mobilizadas sob os processos
a realidades sociais indesejadas, no dialógicos, permitindo que estes sujeitos
semiárido paraibano. associem o pontual ao planetário; que
percebam a necessidade de se
Os projetos analisados neste estudo
comprometerem com a construção de um
(Associação de Catadores de Material
mundo novo, mais justo e sustentável – tendo
Reciclável de Cajazeiras e Projeto em
como referência inicial suas realidades
Comunidades Rurais) revelam processos
concretas.
educativos, desenvolvidos com a

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Educação no século XXI - Volume 2


178

CAPÍTULO 26
Josenilda Martins de Souza
Ricardo José Rocha Amorim

Resumo: Este trabalho apresenta uma reflexão sobre o uso dos dispositivos móveis
na escola básica, com foco no telefone celular como uma possível ferramenta
tecnológica a ser utilizada para a aprendizagem com os estudantes do Ensino
Médio. Sabe-se que os denominados nativos digitais formam o corpo discente da
escola, e estão bem familiarizados com a tecnologia e rapidez de informações.
Assim, fica difícil o professor atraí-los utilizando apenas projetor de mídias/notebook
em substituição ao quadro negro e giz branco. Destaca-se que os celulares tem se
disseminado na população em geral, e consequentemente adentrou na sala de
aula. Todavia esses aparelhos têm sido visualizados de forma negativa por tirarem
a concentração e atrapalharem a aprendizagem. Nessa perspectiva, este trabalho
tem como objetivo geral identificar a percepção de estudantes quanto à utilização
do celular na sala de aula. E os seguintes objetivos específicos: averiguar no
ambiente escolar os fatores que interferem e ou favorecem o uso do celular como
um recurso de aprendizagem; identificar o potencial didáticopedagógico dos
celulares de uso dos estudantes do Ensino Médio e indicar as possibilidades de
uso do celular como um recurso pedagógico no cotidiano escolar e facilitador do
ensino e aprendizagem. No desenvolvimento desta pesquisa utilizou-se como
metodologia a revisão bibliográfica, bem como a aplicação de questionários com
perguntas fechadas. Registra-se que participaram da pesquisa 45 (quarenta e
cinco) estudantes do Ensino Médio de uma Escola Pública Estadual da cidade de
Petrolina/PE. Apontam-se como resultados entre os estudantes que o celular é um
aparelho de grande aceitação e que a maioria destes possuem o aparelho “tão
maléfico” a rotina do professor em sala de aula. Existem sim complicações e
oportunidades de contribuição que podem e devem ser
exploradas/experimentadas pelo professor no espaço escolar.

Palavras-chave: aprendizagem, educação básica, dispositivos móveis.

Educação no século XXI - Volume 2


179

1. INTRODUÇÃO facilitador do ensino e aprendizagem na


prática de sala de aula considerando os
No atual estágio de desenvolvimento da
diversos recursos disponíveis no aparelho
sociedade da aprendizagem através das
que está 24 horas nas mãos dos
TICs, é necessário o enfrentamento de
estudantes. Os procedimentos metodológicos
obstáculos e desafios, vários deles no
visaram investigar o uso do celular através
espaço escolar. Portanto, as escolas
de questionário com questões mistas
necessitam revisitar seus paradigmas e
(abertas e fechadas) proporcionando espaço
concepções em relação ao uso da
para que opinassem, discordassem em
tecnologia e em especial aos dispositivos
relação às questões postas. Considerando
móveis. Com o desenvolvimento da
uma proposta quantitativa, mas também
tecnologia a educação brasileira passou a
qualitativa, o questionário foi respondido por
buscar alternativas pedagógicas com base
45 estudantes do 2° Ano do Ensino Médio,
em uma lógica de desenvolvimento
nos dias e horários pré-agendados. A
individual e coletivo que possibilite o
tabulação de dados e análise dos mesmos
exercício do viver dos seres humanos, sendo
envolveu a leitura de documentos de maneira
dever da escola viabilizar o encontro dos
a estabelecer ou não uma conexão da
estudantes com as diferentes tecnologias.
prática vivenciada e revisão de literatura
Mesmo sendo perceptível a preocupação
para a argumentação dos resultados
governamental em equipar as escolas e
obtidos.
ofertar aos estudantes equipamentos e
recursos tecnológicos, o momento requer
uma nova forma de pensar e agir, na
2. REFERENCIAL TEÓRICO
perspectiva de propiciar aos estudantes o
desenvolvimento de competências e Atualmente os recursos Tecnológicos de
habilidades para lidar com a sociedade na Informação e Comunicação (TIC) não podem
atualidade. O celular é atualmente um dos ser ignorados na vida cotidiana dos
meios de comunicação mais comuns em cidadãos, muito embora sua disseminação
nosso país e no mundo e um dos recursos ocorra de maneira disforme. No atual
tecnológicos mais utilizados entre jovens e estágio de desenvolvimento da sociedade
adolescentes. Segundo a Agência Nacional da aprendizagem através das TICs, é
de Telecomunicações (Anatel), o Brasil, necessário o enfrentamento de obstáculos e
registrou em abril de 2015, 283,52 milhões desafios, vários deles no espaço escolar.
de linhas ativas na telefonia móvel e possui Portanto, as escolas necessitam revisitar seus
138,94 acessos por cem habitantes, e paradigmas e concepções em relação ao uso
grande parte dessa sociedade está inserida da tecnologia. Com o desenvolvimento da
nas escolas, logo é imprescindível que estas tecnologia a educação brasileira passou a
estejam abertas às inovações vividas por buscar alternativas pedagógicas com base
seus estudantes, e tentar de maneira em uma lógica de desenvolvimento individual
produtiva utilizar os mesmos em sua prática e coletivo que possibilite o exercício do viver
pedagógica. Com base nas informações dos seres humanos, sendo dever da escola
obtidas, este trabalho objetiva realizar viabilizar o encontro dos estudantes com as
questionário com os estudantes do 2º Ano diferentes tecnologias. Mesmo sendo
do Ensino Médio de uma Escola Pública perceptível a preocupação governamental
Estadual na cidade de Petrolina-PE, na em equipar as escolas e ofertar aos
perspectiva de identificar se os estudantes estudantes equipamentos e recursos
percebem o potencial tecnológico que tecnológicos, o momento requer uma nova
possuem em seu poder e se estes forma de pensar e agir, na perspectiva de
contribuem e facilitam ou não na sua propiciar aos estudantes o desenvolvimento
aprendizagem. Assim, esta pesquisa se de competências e habilidades para lidar
propõe a investigar o uso do celular como com a sociedade na atualidade. O celular é
um recurso de aprendizagem com os atualmente um dos meios de comunicação
estudantes do Ensino Médio e apresenta mais comuns em nosso país e no mundo e
como objetivos específicos averiguar no um dos recursos tecnológicos mais
ambiente os fatores que interferem e ou utilizados entre jovens e adolescentes.
favorecem o uso do celular como um Segundo a Agência Nacional de
recurso de aprendizagem; identificar o Telecomunicações (Anatel), o Brasil,
potencial tecnológico dos celulares de uso registrou em abril de 2015, 283,52 milhões de
dos estudantes do Ensino Médio como linhas ativas na telefonia móvel e possui

Educação no século XXI - Volume 2


180

138,94 acessos por cem habitantes, e multimídias com inúmeras finalidades,


grande parte dessa sociedade esta inserida incluindo as pedagógicas e apresentam-se
nas escolas, logo é imprescindível que estas como um elemento eficaz no encurtamento
estejam abertas às inovações vividas por do tempo e do espaço, pois proporciona
seus estudantes, e tentar de maneira maior mobilidade às pessoas, novas
produtiva utilizar os mesmos em sua prática possibilidades, (re)organizações da
pedagógica. É necessário que estejam sociedade principalmente com a inovação da
atentas quanto aos interesses dos tecnologia wireless, Souza et. al (2006,
estudantes e da sociedade atual, não apud VERZA, 2008), que proporciona a
bastando apenas proibir o uso do celular, comunicação entre as pessoas em uma
mas buscar outras e boas alternativas de dimensão de espaço virtual, onde não existe
interação com esta nova realidade. um lugar específico de origem das chamadas
e nem um outro para onde elas se destinam
foi um dos maiores avanços na história da
2.1. O CELULAR E A APRENDIZAGEM telefonia, Ling (2002, apud VERZA, 2008). O
documento “A geração interativa na Ibero-
Na “base de produção da existência
américa” organizado por Sala & Chalezquer,
humana” (PIRES; CRUZ, 2006, p.4) encontra
(2009) deixa evidente que a tecnologia já faz
se a tecnologia, presente na vida cotidiana
parte do cotidiano dos jovens brasileiros e
do cidadão em diversos produtos, desde
“aproximadamente 79% dos jovens usam o
vestuário até as grandes indústrias. Portanto,
"torpedo" do celular para falar com seu
nada é realizado sem a intervenção da
grupo de amigos” Dossiê Universo Jovem,
tecnologia que contribui para a construção
(2005, apud VERZA, 2008). De acordo com o
da maior riqueza do século XXI, o
grau de instrução cresce também o total de
conhecimento. No entanto, na sociedade
aparelhos. É notório à falta de recursos
do conhecimento e da tecnologia o ensino
tecnológicos nas escolas principalmente
vivenciado nas escolas ainda é
nas públicas. Também é unanime no
fragmentado, com ênfase na memorização
cotidiano escolar o uso do quadro-negro ou
e a padronização das questões e não atende
branco, caderno e lápis, pois não estão
a sociedade nos dias atuais que exige uma
preparadas para enfrentarem o mobile
nova forma de pensar e agir para lidar com o
learning (aprendizado móvel) e ainda não
dinamismo do conhecimento. Na perspectiva
vislumbra, com algumas exceções, se
de mudar o quadro em que ora se encontra a
apropriar das tecnologias como possibilidade
educação, o Ministério da Educação e Cultura
de mudanças positivas na prática
– MEC tem investido em projetos que pedagógica. Não se apropriando de tais
envolvam as Tecnologias da Informação e possibilidades, a escola dá origem a uma
Comunicação – TIC porque demanda novas sociedade marginalizada e excluída, cria dois
formas de interpretar, manipular, e repensar o mundos que se separam: o mundo
conhecimento. O celular é uma tecnologia tecnológico e o não tecnológico. Parte dos
altamente recente e moderna. Foi lançado estudantes das escolas públicas do nordeste
em Nova Iorque no ano de 1973, e tinha não tem acesso ao computador, porém o
uma área de cobertura bastante restrita. Dez mesmo não acontece com o celular, por ser
anos depois, em 1983, é lançado no acessível à camada menos favorecida da
mercado um “modelo comercialmente sociedade e estudantes de classe média
viável, o DynaTAC 8000x, da Motorola, baixa.
pesando APENAS 794,16 gramas.” (USO,
O norte-americano Larry Johnson, em
2010). Em 2005 o “número de acessos
entrevista ao jornal Zero Hora defende o uso
instalados superou 136 milhões, sendo 50
dos celulares nas salas de aula, uma vez
milhões de acessos fixos e 86 milhões de
que existe a possibilidade do mesmo ser
acesso celular” (MOCELIN, 2010, p. 9). Já
explorado na escola, pois possibilita
em 2015 a Anatel informa que no Nordeste
receber notícias e outras informações, via
foram registrados 71.683.935 milhões de
internet e realizar diversas atividades como:
acessos no serviço móvel. Com esse
filmar, gravar, fotografar, escrever, enviar
resultado, a densidade do serviço alcançou a
pequenos textos e arquivos, calculadora,
marca de 126,96 por 100 mil habitantes. Os
agenda, jogar, navegar na internet, ouvir
dispositivos móveis, entre estes os telefones
rádio e música entre outros. Ao não
celulares são leves, pequenos, com baterias
acompanhar os avanços tecnológicos, a
duradouras e indiscutivelmente são centrais
escola se coloca em segundo plano para a

Educação no século XXI - Volume 2


181

mudança pedagógica e social que essa sendo muito mais do que um aparelho para
conexão provoca, uma vez que o telefone fazer ligações, recebê-las ou enviar
celular proporciona, facilita, provoca a troca mensagens. Ao serem questionados sobre se
de experiências e aprendizado, além de seu celular disponibiliza acesso à internet,
abrir inúmeras possibilidades para a escola, 58% responderam “Sim” e 29%
os professores e estudantes. No entanto, a responderam que “Não”. Entende-se que
escola e o celular são dois mundos opostos, falar é a principal atividade do celular,
mas que se fazem presente cotidianamente porém outros recursos não podem ser
na vida do estudante que convive de forma desconsiderados. 85% afirmam que seus
desarmoniosa com ambas. É preciso celulares passam e recebem torpedos e
minimizar este impasse e aperfeiçoar estas apenas 2% dos celulares não possuem este
relações, buscando dar sentido e significado recurso. À medida que os jovens dominam os
na vida do estudante. Nos dias atuais pode- aparelhos utilizam para o envio de
se dizer que a tecnologia tem provocado mensagens/sms. Destaca-se ainda entre os
sérias mudanças no cotidiano da sociedade. entrevistados que 58% dos aparelhos
Por tal complexidade, levanta-se alguns celulares possuem acesso à internet, o
questionamentos: “A revolução tecnológica qual proporciona acesso a diversos
seria capaz de provocar uma revolução conteúdos como cultura, lazer, esporte,
pedagógica?” (DURAN, 2010). promove estudo, pesquisa, produção,
edição, distribuição de informação
multimídia, além de facilitar o acesso a
3. METODOLOGIA redes sociais e comunidades. Nos mundo
contemporâneo, o celular é para as
Este artigo foi desenvolvido através de
pessoas a sua conexão com o mundo, seu
revisão bibliográfica. Além disso, esta
relógio, sua máquina fotográfica, seu
pesquisa foi realizada na escola pública
tocador de música e mais recentemente,
estadual XXX na cidade de Petrolina/PE. As
seu acesso ao mundo digital.
turmas selecionadas foram do 2º Ano do
Ensino Médio por ser um público de Dos entrevistados, 20% afirmam que seus
adolescentes e jovens que apresentam uma celulares não enviam/recebem arquivos, mas
relação intensa com o celular em sala de 65% possuem a função de receber/enviar
aula. Ao todo, 45 participantes responderam arquivos (músicas, vídeos, fotos, imagens,
questionário que apresentavam questões textos entre outros) facilitados pela
fechadas e abertas. bluetooth, proporcionando que a
aprendizagem ocorra em espaços diversos,
fora dos muros da escola se deslocando de
4. RESULTADOS várias formas. A produção de fotografias e
vídeos através do celular indica que este
Dos 45 (quarenta e cinco) entrevistados, 51%
equipamento tecnológico tem muito a oferecer
encontram-se na faixa etária de 16 anos.
a quem se debruçar sobre ele, sendo
Destacase que a apropriação dos recursos
significativo para o desenvolvimento de
tecnológicos pelos jovens acontece de forma
atividades propostas em sala de aula. Os
ágil e rápida, pois são consumidores da
entrevistados, ao serem questionados se o
mobilidade e ávidos por novidades e
seu celular possui câmara 71% afirmam que
capazes de enfrentar as dificuldades
seus celulares possuem e 16% dos
tecnológicas com muita leveza. Para atender
celulares não possuem câmara. Analisando
e este público especifico, as empresas fazem
os dados da pesquisa, observa-se que
um investimento altíssimo, uma vez que o
87% dos entrevistados afirmam que os seus
telefone móvel estimula a experimentar
celulares possuem calculadora e 67%
diferentes identidades através da
informaram que os seus celulares possuem
personalização do aparelho, que é
conversor de unidade. Talvez desconheçam
apresentado aos amigos como resultado de
a existência do recurso no celular e não
uma produção singular (ELLIOT & JANKEL
necessariamente por o Gráfico 01 - Idade
ELLIOTT apud VERZA, 2008, p.20). Ao serem
aparelho não tê-lo. Embora a calculadora
questionados se possuíam celular 87%
seja um recurso que deve ser utilizado nas
responderam positivamente. Assim,
aulas das Ciências Exatas, apenas 9% a
considera-se que o celular é o aparelho
utilizam, o mesmo ocorrendo com o
tecnológico com maior aceitação e
conversor. Nas concepções mais modernas
utilização pelos adolescentes e jovens,
da educação, preza-se pelo entendimento

Educação no século XXI - Volume 2


182

dos conteúdos nas disciplinas de explicação da aula” e “Sim. Câmara: tira foto
Matemática/Física e não meramente pela de algum trabalho, de alguns assuntos e
memorização de fórmulas. depois poderá estudar por ele. Filmagem:
mesma função da câmera pode ser usada
Questiona-se: Por que 87% dos entrevistados
para gravar áudios, as outras funções não
possuem calculadora em seus celulares e não
ajudam.”
são utilizadas no espaço das aulas
principalmente das Ciências Exatas? Mesmo Dos entrevistados, 22% desacreditam que o
os estudantes afirmando que seus celular possa facilitar a aprendizagem. Os
professores utilizam as tecnologias para estudantes 18 e 41 afirmam que “não, porque
trabalhar os conteúdos das diversas essas ferramentas são para diversão e não
disciplinas, percebe-se que o uso da influencia em nada nas matérias escolares”
tecnologia ainda é tímido no espaço escolar. e “não, porque ele é usado como
Ao serem questionados sobre quais entretenimento das crianças e um meio de
tecnologias utilizam, tem destaque o uso de comunicação para os jovens”. Já o estudante
multimídias, netebook/notebook com 69% e 43 diz que “não, por que muitas vezes
em menor proporção aparece o uso da atrapalha a aprendizagem tirando a atenção
calculadora com 9%. O fato de utilizar tais do aluno na sala de aula”. Outros estudantes
ferramentas não garante a ruptura do subvalorizam este aparelho móvel justificando
conteudismo no ensino e aprendizagem, pois que “não ajuda”, “atrapalha”, “prejudica”,
mesmo o professor se utilizando de notebook “destroem”, “distraem”, “não são úteis” entre
e multimídias, sua prática pode outras. Entende-se que a ideia massificada
permanecer a mesma, uma vez que entre dos estudantes em relação a não utilização do
quatro paredes o fazer pedagógico telefone celular nas atividades escolares
acontece conforme as experiências tenha origem no discurso dos professores,
intrínsecas do professor, uma vez que a coordenadores/supervisores, gestores que
prática tradicional ainda é muito presente nas reforçam os chavões relacionados ao celular.
diversas instituições escolares. Somente 2% Ao serem questionados se “as ferramentas
dos estudantes apresentam a música, encontradas no aparelho celular (câmara
televisão, slides, internet como outros fotográfica, filmagem, rádio, bluetooth,
recursos utilizados pelos professores. Assim, música...) podem ajudar no aprendizado
levanta-se um questionamento: Por que das matérias escolares? Por quê?”, 22% dos
ocorre a utilização exacerbada dos estudantes argumentam que o uso de
recursos como os multimídias e notebook? celular atrapalha/tira a atenção na sala de
Será na perspectiva de proporcionar ao aula e 22% afirmam que os recursos
estudante uma aula questionadora, existentes no celular não são úteis, fechando
provocadora ou apenas a substituição do o total de 44% dos estudantes que não
quadro negro pelos equipamentos veem utilidade nos recursos do celular. Os
tecnológicos, mas com a permanência de estudantes 16 e 34 justificam a utilização da
uma prática bancária, com estudantes câmara para a produção de “vídeos
quietos, sentados, enfileirados, didáticos” e argumenta que “pode e deve ser
condicionados, copiando o que deve ser utilizada para atualização do ensino”. O
aprendido, com a visualização do texto estudante 42 destaca o celular para a
através do notebook e multimídias. Se existe fotografia e gravação de áudio quando diz
a preocupação com uma aula provocadora, que: “tira foto de algum trabalho, de alguns
por que a calculadora, celular, televisão, assuntos e depois poderá estudar por ele
música, aparece de forma tão insignificante? [...] pode ser usado para gravar áudios”.
Questiona-se: Como o professor está tão Já os estudantes 05 e 12 argumentam que
receptível ao uso das tecnologias como com “essas ferramentas podemos gravar a
notebook e multimídias e não está aberto ao aula do professor e estudar em casa”, “pode
uso do celular como uma ferramenta ajudar nas contas e até mesmo gravar as
tecnológica? 78% dos entrevistados aulas para ver depois”. Em menor
conseguem vislumbrar a possibilidade de proporção aparece a pesquisa na “internet”
utilização do telefone celular no processo de ou troca de arquivo utilizando o “bluetooth”.
aprendizagem. Conforme depoimentos dos Já o estudante 15 aponta a utilização do
estudantes 05, 06 e 42 “Sim, pois com essas celular nas aulas de matemática. Porém,
ferramentas podemos gravar a aula do mesmo possuindo o aparelho móvel com
professor e estudar em casa.”, “Sim, pois potencial significativo e vislumbrando a
com esses recursos você pode gravar e ver a possibilidade de utilização do telefone celular

Educação no século XXI - Volume 2


183

no processo de aprendizagem, os estudantes que não existe a possibilidade de


ignoram tais possibilidades e fortalecem aprendizagem através do celular ou não
junto ao professor uma educação ainda acham necessário o uso do celular para
conteudista e bancária. proporcionar a aprendizagem.
Ao serem questionados se os professores já
solicitaram a utilização do celular para realizar
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
atividades escolares, 67% afirmam que os
professores já utilização do celular, de Nas análises da pesquisa “O telefone
alguma forma para as atividades escolares. móvel na Educação Básica: possibilidades?”
No entanto, 31% dos entrevistados afirmam conclui-se que a tecnologia em sala de
que seus professores nunca utilizaram o aula ainda está aquém do desejado, uma
celular para realizar atividades. Assim, chega- vez que as vivências das práticas
se a conclusão que talvez esta utilização seja pedagógicas ainda se reportam ao século
uma subutilização dos recursos do celular XX e ainda distantes das práticas
como exemplo a utilização da calculadora. tecnológicas do século XXI. O telefone móvel
Questionados sobre que atividade poderia ser que faz parte do cotidiano estudantil dispõe
desenvolvida com o celular, os estudantes de diversos recursos que podem ser
apresentam o uso da calculadora para a utilizados em sala de aula. È o “brinquedo
realização de cálculos. Mostrando um outro favorito” dos adolescentes e jovens que
aspecto que não está sendo objeto de compõem a escola pública, mas “tão
estudo neste momento que é a deficiência maléfico” a prática do professor em sala de
que o estudante da escola pública tem nas aula. Os estudantes possuem celulares com
Ciências Exatas (Física, Química e sinal de TV, acesso à internet, possuem
Matemática), que é a necessidade de se bluetooth que facilita o envio e o
utilizar de forma exacerbada a calculadora. recebimento de arquivos sem a utilização
Do total de entrevistados, 22% não veem de cabos e tais recursos sendo explorados
esta possibilidade, os estudantes 31 e 36 pelos professores possibilitarão
justificam a não aceitação alegando que aprendizagem prazerosas e significativas.
“não usamos ainda esse aparelho para Todavia, ainda se faz necessária à
realizar atividades” e “nele não possui realização de outras pesquisas com
nenhum tipo de ferramentas de disciplinas possíveis indagações: Por que os estudantes
escolares.” No entanto, 78% dos estudantes possuindo celulares modernos com diversos
acham que é possível utilizar o celular para recursos, não o veem como um aparelho que
desenvolver atividades escolares. Os possa lhe dar suporte para proporcionar a
estudantes 01, 03 argumentam que “pode ser aprendizagem? Como o professor está tão
usado à calculadora”, “só na matéria de receptível ao uso das tecnologias como
matemática, que se pode usar a calculadora notebook e multimídias não está aberto ao
do celular, e também nas disciplinas de física uso do celular como uma ferramenta
e química”. Ao responderem Por quê? 41% tecnológica? O estudo não se propôs a
apresentam a calculadora para a realização esgotar o tema do dispositivo móvel na
de cálculos, 17% apresentam a escola básica, mas oportunizou a percepção
possibilidade gravar as aulas para de outros questionamentos, que poderão ser
posteriormente assisti-las, 16% apresentam o pesquisados posteriormente.
uso da internet para pesquisa e 8% afirmam

REFERÊNCIAS [4]. MOCELIN, D., Mudanças tecnológica e


qualidade do emprego nas telecomunicações.
[1]. BRASIL; Anatel - Agencia Nacional de Sociologias, Porto Alegre, ano 12, no 23, jan./abr.
Telecomunicações; Relatório 2015. Disponível em 2010, p. 304-339
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[5]. PIRES, J.; CRUZ. V.; Fundamentos da
[2]. ://www.anatel.gov.br/institucional/index.ph Educação – Aula 01, Programa Universidade a
p?option=com_content&view=article&id=4 76 . Distância UNIDIS GRAD - Natal, RN: EDUFRN
Acessado em maio/2015. Editora da UFRN, 2006.
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Disponível em: . Acesso em: 18 de set. 2010, às Fundacion Telefónica, 2009.341p.
09h27min.

Educação no século XXI - Volume 2


184

[7]. VERZA, F., O uso do celular na Psicologia; Mestrado em Psicologia Social e da


adolescência e sua relação com a família e Personalidade). Faculdade de Psicologia,
grupos de amigos. Porto Alegre, 2008. Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.
Dissertação (Programa de Pós-Graduação em

Educação no século XXI - Volume 2


185

CAPÍTULO 27

Lucas Lobato Ferreira


Solange Fernandes Soares Coutinho

Resumo: O uso da fotografia no Ensino da Geografia pode aproximar o conteúdo


estudado à realidade, motivando a construção individual e coletiva do
conhecimento geográfico. Propondo aguçar a curiosidade dos alunos na
observação dos ambientes em que estes se inserem, estimulou-se a compreensão
da paisagem a partir do olhar fotográfico, entendendo que a fotografia possibilita,
ainda, estudos comparativos acerca dos elementos sobrepostos em épocas
distintas e lugares diferentes. Visando avaliar as possibilidades da fotografia no
Ensino da Geografia e, ao mesmo tempo, estimular esse uso, foi realizada uma
pesquisa-ação em duas turmas do Ensino Médio em 2014, uma delas inclusiva, de
uma escola localizada na Cidade do Recife/PE. As entrevistas demonstraram que
alunos surdos e ouvintes, e professores consideravam importante o uso da
fotografia no Ensino da Geografia, mesmo sem tornar isso uma prática, inclusive
nos livros didáticos. Durante uma aula se propôs a leitura de textos sem imagens e
em seguida foram apresentados os mesmos textos ilustrados com fotografias. O
segundo momento ocasionou maior participação dos alunos que afirmaram melhor
compreensão dos conteúdos. A maior parte dos alunos declarou gostar de
fotografar e possuir algum dispositivo com câmera digital, o que permitiu incentivá-
los a gerar fotografias oportunizando a produção de documentos geográficos
contextualizados com a realidade dos mesmos, estimulando o debate na
construção participativa do conhecimento geográfico. Acredita-se que a utilização
de materiais didáticos desatualizados e descontextualizados com a realidade do
grupo pode ser superada através de práticas dialéticas que estimulem a criação
semiótica da subjetividade, como na produção fotográfica, contribuindo para o
alcance de uma educação, de fato, inclusiva.

Palavras-chave: Ensino de Geografia. Fotografia. Educação Inclusiva; Estudantes


Surdos.

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186

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS conhecimento, contrapondo-se ao modelo


clássico de transmissão da informação em
As experiências vivenciadas no Curso de
estado bruto. A aproximação da fotografia
Licenciatura Plena em Geografia (2011-2014),
com a comunidade escolar possibilita a
especialmente no que concerne a três
apropriação da primeira como suporte à
escolas da Rede Estadual de Pernambuco
representação do conhecimento geográfico
que foram tomadas como campo de estágio,
contextualizado com a realidade dos alunos e
possibilitaram identificar o distanciamento de
dialogado a partir do pensamento geográfico
alguns alunos em relação ao ambiente que
crítico, lapidando o saber participativo de
eles mesmos faziam parte, especialmente nas
forma democrática. Buscando estimular novos
denominadas turmas inclusivas, onde sequer
saberes geográficos com base na dialética,
o ambiente da sala de aula era percebido
instigou-se a fotografia como forma de
como uma unidade. Nessas turmas parecia
linguagem para representação dos diversos
haver ao mesmo tempo três mundos
olhares que compõem um mesmo contexto,
diferentes, bem distantes do que pode ser
propondo o estudo da paisagem, que por sua
chamado de inclusivo – o dos alunos surdos e
vez é uma importante categoria analítica do
o tradutor, o dos alunos ouvintes e o do
espaço.
professor.
Para a realização desta pesquisa foram
selecionadas duas turmas do Ensino Médio 2. APROXIMAÇÕES TEÓRICAS
de uma escola da rede pública situada na
As discussões sobre o ensino de Libras e a
região central da Cidade do Recife. Ao iniciar
integração dos surdos no ensino regular é
as atividades de observação, outros
amplamente debatida no meio acadêmico,
confrontos foram identificados, sobretudo
muitas vezes retomando a criação do Instituto
pelas limitações do diálogo entre os
Nacional de Educação de Surdos – INES –,
estudantes surdos e ouvintes, constituindo um
em meados do século XIX. Neste trabalho
ambiente fragmentado, apesar da sua
frisa-se que as principais conquistas,
nomeação de “inclusivo”. Também foi
incluindo nas últimas décadas, são
verificada a carência no uso de imagens,
impulsionadas pelos próprios movimentos da
sobretudo locais, durante as aulas de
comunidade surda. Em âmbito nacional pode-
Geografia.
se citar diversas Associações de Surdos e a
Neste contexto, a fotografia pode ser uma Federação Nacional de Educação e Inclusão
alternativa criativa para compreender a de Surdos – Feneis. Em escala internacional
distribuição de elementos espaciais na destacamos a Declaração de Salamanca,
paisagem e possíveis transformações elaborada durante a Conferência Mundial
decorrentes da organização do espaço – sobre Educação Especial, que reuniu 88
nacional, regional e local – incentivando a países e estabeleceu diretrizes para ampliar o
aproximação do estudante com o ambiente acesso de educação no sistema regular de
em que ele vive, incluindo as pessoas que ensino para pessoas com necessidades
dele fazem parte, sobretudo em turmas com educacionais especiais (NAÇÕES UNIDAS,
alunos surdos, visto que eles estabelecem 1994).
primordialmente um contato visual com o
No Brasil, a Lei nº 9.394 de 1996, que
mundo. A vivência da fotografia pela
estabelece as Diretrizes e Bases da
comunidade escolar pode instigar a
Educação Nacional, nomeia como “educação
percepção e incentivar a participação criativa
especial” a modalidade de educação escolar
do grupo em um ambiente favorável ao
que engloba educandos portadores de
diálogo, tanto de questões geográficas, como
necessidades especiais (BRASIL, 1996). Já
outras mais relativos à paisagem, aos
no Plano Nacional de Educação 2014-2024, o
processos da sua formação e os decorrentes
Ensino Inclusivo se torna preferencialmente
nela.
Ensino Regular (BRASIL, 2014), possibilitando
No ambiente escolar observou-se o uso da a criação de instituições adaptadas às
fotografia na assimilação do conhecimento especificidades dos alunos surdos.
quase que exclusivamente através dos livros
Entretanto, observa-se que muitas destas leis
didáticos, mesmo assim, acredita-se que
e diretrizes não funcionam na prática. A
melhores resultados podem ser obtidos
própria Língua Brasileira de Sinais, só obteve
através de uma metodologia dialética que
sua regulamentação em 2002, se tornando
incentive a construção conjunta do
disciplina obrigatória nos cursos de

Educação no século XXI - Volume 2


187

licenciatura três anos depois, com o Decreto da dessemelhança nas coisas.


5.626 (BRASIL, 2005). A partir daí, estimulou- (SCHOPENHAUER, 2013, p.120)
se a formação de profissionais bilíngues para
Mesmo que as comparações de Shopenhauer
trabalhar os conteúdos específicos na língua
sejam dos conceitos, parabolas e alegorias,
de sinais. Entretanto, até a atualidade, não
podemos fazer uma analogia do conceito com
houve cumprimento desta lei em diversas
a imagem fotografica ou com a Linguagem de
instituições de ensino públicas e particulares.
Sinais, já que ambas dependem da
No âmbito da educação, acredita-se que o percepção visual. Vale destacar que as
uso de imagens pode estimular a comparações são fundamentais para a
comunicação, sendo a fotografia uma formação da própria Língua de Sinais, de
importante forma de produção imagética. forma que cada grupo, em cada lugar ou em
Entretanto, em escolas com turmas inclusivas, cada região, pode estabelecer sinais distintos
torna-se vital ampliar o ensino de Libras para do mesmo objeto ou situação, decorrendo de
alunos surdos, mas não só para eles, também sua própria prática. Reconhecendo ainda a
para os demais alunos, professores e importância da metáfora na Língua de Sinais,
funcionários. conforme apresenta algumas pesquisadoras,
Na disciplina Geografia, destacamos que a como Darlice Monte (MONTE, 2016) e Paula
fotografia de paisagem pode contextualizar Oliveira (OLIVEIRA, 2010), apresenta-se uma
conteúdos didáticos com a realidade dos proposição de Aristóteles, citada por
estudantes, podendo auxiliar na compreensão Shopenhauer: “O mais importante é encontrar
dos fenômenos e dos elementos que metáforas, pois é a única coisa que não se
compõem o espaço, como pessoas, pode aprender de outros e é um sinal de uma
vegetação, relevo, hidrografia, cultura e natureza engenhosa. Para fazer metáforas é
sociedade. Em outras ocasiões, o mal uso da necessário reconhecer a igualdade.”
fotografia, proposital ou não, pode provocar (Aristóteles, Poética, XXII. Apud
problemas no processo de formação do SHOPENHAUER, 2013, p.121)
conhecimento, pois “a percepção
A fotografia como forma de materializar
parcializada da realidade rouba ao homem a
olhares da paisagem cotidiana, proporciona
possibilidade de uma ação autêntica sobre
diversas possibilidades para o estudo
ela” (FREIRE, 1980, p.34).
comparativo. Sendo a paisagem, uma
A fotografia, como representação dos olhares importante categoria analítica do espaço,
sobre a paisagem, pode ter sua análise destaca-se que, para Milton Santos, a
potencializada através da sua observação em paisagem é a “materialização de um instante
sala de aula ou outro lugar qualquer, da sociedade, [...] a realidade de homens
possibilitando comparar paisagens distantes fixos, parados como numa fotografia”
no tempo – registros fotográficos de diferentes (SANTOS, 1988, p.25). Para Wilson Firmo, “a
épocas – ou no espaço – separadas por fotografia constitui o meio mais rico de passar
longas distâncias, conferindo-lhe importante informações” (FIRMO, 1983, p.47),
valor de documento geográfico. As corroborando com o ditado popular: “Uma
comparações das imagens podem ainda se imagem vale mais que mil palavras”.
estabelecer nas distintas perspectivas que
Imagens são verdadeiramente capazes de
cada estudante tem dos lugares fotografados,
usurpar a realidade porque, antes de mais
visualizados e vivenciados. Dessa forma,
nada, uma fotografia é não só uma imagem
concorda-se com Shopenhauer, quando o
(como o é a pintura), uma interpretação do
filósofo atribui, ainda no século XIX, a
real – mas também um vestígio, diretamente
importância das comparações.
calcado sobre o real. (SONTAG, 1981, p.148)
Comparações são de grande valor, uma vez
A produção fotográfica e perceptiva atribuída
que remetem uma relação desconhecida a
à contextualização dos alunos sensibiliza para
uma conhecida. Também as comparações
a conscientização na mudança de conceitos,
mais detalhadas, que evoluem para parábolas
comportamentos e valores. Concordando com
ou alegorias, são apenas referência de
os autores citados acima e a seguir, se julga
alguma relação à sua apresentação mais
fundamental considerar a importância de
simples, explícita e palpável. No fundo, toda
“decodificar o significado da paisagem
formação de conceitos se baseia em
geográfica [...] afinal de contas, a paisagem,
comparações, já que seu ponto de partida é a
este objeto geográfico e portanto a geografia,
compreensão da semelhança e o abandono
está em toda parte” (CORRÊA; ROSENDAHL,

Educação no século XXI - Volume 2


188

1998, p.11). Sendo assim, não basta fazer a que envolvem a constante transformação do
fotografia ou possuí-la, pois seu significado espaço. Segundo Josué de Castro, “nenhum
depende do receptor que processa a imagem traço, nenhum elemento da paisagem reflete
na identificação de elementos atrativos, seja com mais eloquência e nitidez a ação do
por simpatia ou repulsão. homem como fator geográfico do que o
organismo urbano.” (CASTRO, 2013, p.21).
Para Susan Sontag, a fotografia pode ser “o
objeto mais misterioso que compõe e dá O uso da fotografia no ensino é comum, mas
consistência ao mundo que identificamos as formas de utilizá-la são diversas.
como moderno” [...] “fotografar é se apropriar Geralmente acontece no livro didático ou com
das experiências capturadas” (SONTAG, a utilização do projetor. Entretanto, em grande
1981, p.4). Já para Henri Cartier Bresson, a parte das vezes acontece uma monotonia
fotografia é “o reconhecimento simultâneo, visual, sendo apresentadas repetidamente as
numa fração de segundo, por um lado do mesmas fotografias em diversas ocasiões.
significado de um fato, e por outro, de uma Tais circunstâncias são agravadas por uma
organização rigorosa das formas percebidas condição.
visualmente que expressam esse fato”
Somos, em grande parte, analfabetos visuais.
(BRESSON apud ASSOULINE, 2012, p.240).
Assimilamos as imagens de maneira muito
A fotografia apresenta o olhar de quem faz a superficial e não aproveitamos esse enorme
foto, o fotógrafo ou emissor, mas sua potencial gerador de transformações que a
interpretação depende do agente receptor, fotografia possui (ELLIS, 2009, p.29).
quem a observa. A inversão destes papeis,
Assim, concorda-se com Susan Sontag
contrapondo-se ao uso das imagens impostas
quando ela escreve que “fotografar é
no livro didático e na relação hierárquica entre
apropriar-se da coisa fotografada. É envolver-
o professor e o aluno, são formas de quebrar
se numa certa relação com o mundo que se
o paradigma da escola formadora de
assemelha com o conhecimento – e por
opiniões, realçando o pensamento freireano
conseguinte com o poder.” (SONTAG, 1981,
da construção do conhecimento dialético,
p.4).
com a partilha das percepções geradas
individualmente e coletivamente.
O que se pretende com o diálogo, em
3. METODOLOGIA
qualquer hipótese (seja em torno de um
conhecimento científico e técnico, seja de um Para a elaboração do trabalho, a metodologia
conhecimento “experiencial”), é a utilizada foi a de pesquisa-ação, ela é
problematização do próprio conhecimento em pertinente quando a participação empírica
sua indiscutível reação com a realidade corrobora com as teorias criadas durante todo
concreta na qual se gera e sobre a qual processo de investigação científica. Sendo
incide, para melhor compreendê-la, explicá- assim, “uma concepção de mundo, para se
la, transformá-la (FREIRE, 1980, p.52). tornar efetivamente uma força de ação,
precisa congregar um determinado grupo que
No ambiente escolar é possível utilizar a
a assuma como instrumento para realização
fotografia como inovação pedagógica para
da transformação da sociedade”
despertar nos alunos o exercício da
(RODRIGUES, 1985, p. 49). E mais:
curiosidade. Segundo Paulo Freire “a
construção ou a produção do conhecimento A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social
do objeto implica o exercício da curiosidade, que é concebida e realizada em estreita
sua capacidade crítica [...] de comparar, de associação com uma ação ou com a
perguntar” (FREIRE, 1996, p.33). Para o resolução de um problema coletivo e no qual
mesmo autor, “não haveria existência humana os pesquisadores e os participantes
sem a abertura de nosso ser ao mundo, sem a representativos da situação da realidade a ser
transitividade de nossa consciência” (FREIRE, investigada estão envolvidas de modo
1996, p.34). cooperativo e participativo (THIOLLENT, 1985,
p.14).
Sendo a localização da escola no ambiente
urbano, foi proposta a tarefa de uso de Para fotografar a paisagem de um lugar é
imagens fotográficas para observar, analisar e importante percebê-la, sentir e se sentir como
dialogar sobre as condições de uso parte do ambiente, lembrando que até a
oferecidas pela organização urbanística da própria sala de aula é um ambiente,
cidade, contextualizando noções geográficas possuindo suas limitações físicas (estáticas) e

Educação no século XXI - Volume 2


189

dotadas de importantes dinâmicas humanas. No que concerne aos estudantes surdos,


Nestas condições se faz necessário destacar observou-se que, geralmente, a única forma
a importância do estudo do meio e este pode de estabelecer o diálogo com eles é com o
ser entendido como “um método de ensino auxílio de um professor intérprete que realiza
interdisciplinar que visa proporcionar para a tradução simultânea da aula regida pelos
alunos e professores contato direto com uma docentes das diferentes disciplinas. Os
determinada realidade, um meio qualquer, estudantes surdos ao questionarem sobre o
rural ou urbano, que se decida estudar” conteúdo obtêm respostas do tradutor, mas
(LOPES; PONTUSCHKA, 2009, p.173). quando este não sabe responder pergunta ao
Para Jurandir Ross, docente, que quase sempre já está em outro
As relações sociedade-natureza são objeto da momento da explicação, pois não percebeu a
Geografia, que deve desempenhar um dúvida. É diferente para o estudante que ouve
importante papel, não só para a produção do e fala, porque este de imediato pode
conhecimento humano, mas também para interromper a aula para fazer uma pergunta.
transformar esse conhecimento em um bem Além disso, observou-se que a comunicação
voltado para a humanidade (ROSS, 2006, direta entre estudantes surdos e não surdos
p.47). se dá de forma precária, visto a limitação do
conhecimento de Libras por grande parte dos
Além disso, os Parâmetros Curriculares
estudantes ouvintes, o que também ocorre em
Nacionais de Geografia (BRASIL, 1998),
outros ambientes da comunidade escolar.
analisados durante a realização da pesquisa
(2014) apontavam para as vantagens de Durante as atividades também foi verificado
integrar práticas pedagógicas que valorizem que há, de fato, duas aulas em uma mesma
as vivências dos estudantes. sala ocorrendo no mesmo momento – uma do
Abordagens atuais da Geografia têm buscado professor regente e outra do professor
práticas pedagógicas que permitam colocar interprete. O ritmo do professor regente, por
aos alunos as diferentes situações de vivência vezes, é mais acelerado que o da tradução,
com os lugares, de modo que possam exigindo do intérprete o conhecimento do
construir compreensões novas e mais conteúdo para a continuidade da explanação
complexas a seu respeito. [...] É fundamental sem a perda do mesmo. O domínio do
que a vivência do aluno seja valorizada e que conteúdo pelo intérprete é dificultado devido
ele possa perceber que a Geografia faz parte sua atuação em diversas disciplinas, o que
do seu cotidiano, trazendo para o interior da não permite que o mesmo aperfeiçoe novos
sala de aula, com a ajuda do professor, a sua sinais e gestos que traduzam os diferentes
experiência (BRASIL, 1998, p.30). termos técnicos dos diversos conteúdos
ministrados. Destaca-se dessa forma a
contradição entre a demanda real de
4. USO DA FOTOGRAFIA NO ENSINO DA interpretes de Libras nas escolas e o
GEOGRAFIA: CONTRIBUIÇÕES À recorrente cancelamento das vagas para
EDUCAÇÃO INCLUSIVA estes profissionais em alguns concursos
As propostas de observação, análise e públicos nos anos posteriores a pesquisa.
produção das fotografias durante as aulas de Como exemplo, citamos o concurso Municipal
Geografia proporcionaram um ambiente de Jaboatão dos Guararapes (JABOATÃO
favorável ao diálogo. A discussão das DOS GUARARAPES, 2015), município vizinho
fotografias com os estudantes ocasionou a do Recife e o concurso do Governo do Estado
abordagem de temáticas relacionadas com a de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2015).
realidade vivenciada por cada participante, As entrevistas com três professores de
sobretudo no que diz respeito aos aspectos Geografia da escola onde a pesquisa foi
urbanos. Foram exemplificados diversos realizada, além do professor interprete,
problemas do cotidiano das grandes revelaram que todos consideraram a
metrópoles, como o transporte coletivo, a fotografia importante na contextualização do
violência, a ausência de áreas arborizadas, a conteúdo, especialmente para os alunos
acessibilidade e a poluição. A apresentação surdos. Um dos professores afirmou que,
do mapa da Cidade do Recife durante as “com o uso da imagem a aula fica mais
atividades possibilitou a identificação, pelos atrativa resultando em um grande estímulo no
estudantes, dos locais das fotos, os bairros debate”. Também foram destaques a
das suas residências e os trajetos realizados necessidade da presença de um intérprete e
até a escola. que o livro didático é insuficiente em

Educação no século XXI - Volume 2


190

quantidade de imagens, desatualizado e resultados obtidos. Na primeira aula, através


descontextualizado da realidade nordestina. da apresentação de alguns dos princípios
básicos da fotografia foi possível estimular a
Através da entrevista com o intérprete foi
qualificação técnica com dicas sobre foco,
possível compreender melhor a condução das
luz, diafragma, enquadramento e cuidados
atividades de tradução detectando algumas
com o equipamento. Ao final da aula foi
dificuldades e possibilidades. Ele afirmou que
solicitado que cada aluno levasse na próxima
o uso de fotografias torna a aula mais atrativa,
aula uma fotografia qualquer (podendo ser de
“facilita o trabalho do interprete, o aluno surdo
revista, jornal, impressa) escrevendo aspectos
associa a interpretação com a imagem”,
geográficos contidos na foto e o local da
sendo esta de um “alto valor didático para os
mesma.
surdos, que têm um contato com o mundo
visual”. Na segunda aula poucos alunos levaram as
fotografias solicitadas e então foram
Os dados obtidos nos questionários aplicados
guardadas para apresentação posterior,
revelaram que cerca de 85% dos alunos
sendo prorrogado o prazo de entrega na
participantes gostavam de olhar fotografias
tentativa de aumentar a quantidade de
nas aulas de Geografia e consideravam o uso
participantes, no que se obteve êxito. A
da fotografia importante no Ensino da
atividade desta aula consistiu em apresentar
Geografia, indicando que ela facilita a
para os alunos textos sobre os “Biomas
compreensão do assunto. Um aluno da sala
Brasileiros” sem imagens e em seguida os
inclusiva, afirmou que a fotografia “permite
mesmos textos com fotos a eles
estar mais próximo do que a escrita”,
correlacionadas. Isto levou os próprios alunos
enquanto outro indicou que “a foto ajuda a
a estabelecerem de imediato a importância da
interpretar o que muitas vezes não temos a
fotografia na compreensão do conteúdo.
compreensão na leitura”. Considerando,
ainda, que 72% do total de alunos gostavam Ao final da aula foi solicitada aos alunos a
de fotografar, 90% possuíam algum realização de uma atividade extraclasse de
dispositivo que faz fotografias e 57% percepção ambiental visando avaliar de que
gostariam de estudar a Fotografia no Ensino maneira os alunos compreendem o meio em
da Geografia, observou-se que seu uso é que vivem e qual a relação deles com o
muito bem aceito e bem justificado pelos mesmo. A proposta foi realizar um breve
alunos participantes da coleta de dados e que relato do trajeto casa/escola, com a inclusão
o percentual de respondentes é suficiente de registros fotográficos. Nesta atividade, os
para validar os resultados obtidos para o alunos puderam fazer registros da
universo trabalhado. biodiversidade, meios de transporte,
edificações, rios, manifestações culturais,
Comparando os dados das duas turmas,
além de denunciar aspectos da espoliação
observou-se que ambas apresentaram índices
urbana vivenciados pela comunidade,
semelhantes, sendo que os resultados mais
degradação ambiental ou outros fatores que
divergentes mostram maior atratividade pela
os mesmos definiram como relevante no
temática na turma inclusiva. Na pergunta
trajeto. A partir do material coletado foi
sobre a importância do uso da fotografia no
realizada em sala de aula a apresentação das
Ensino da Geografia apenas um aluno da
fotografias trazidas pelos alunos através de
turma inclusiva respondeu negativamente no
data-show, seguido de um debate sobre a
questionamento aberto. Um dos alunos disse
composição das paisagens, contextualizando
que é o “mais importante no ensino de
a produção do espaço com os fenômenos
Geografia”, e outro criticou que “o ensino não
observados durante o trajeto cotidiano.
prioriza o uso de imagens”. Em alguns dos
questionamentos certos alunos ressaltaram a A fim de estimular o diálogo sobre a atividade,
importância da fotografia no estudo da propôs-se a formação de um semicírculo,
paisagem, explanando que gostariam de ter a possibilitando um ambiente mais
fotografia como tema de estudo no Ensino da comunicativo, onde os alunos podiam ver uns
Geografia, justificando que “a aula ficaria aos outros, sendo que o tradutor se colocou
menos chata”. na transversal do grupo facilitando a
visualização de todos. Outra intervenção na
A elaboração das aulas a serem realizadas
tentativa de contribuir para uma real inclusão
sofreram diversas alterações durante o
foi a de dar voz aos alunos através do
decorrer da pesquisa, por isso, o programa
tradutor. Os alunos surdos foram motivados a
de atividades é considerado um dos

Educação no século XXI - Volume 2


191

explicarem suas fotos em Libras, enquanto o vivenciadas durante a construção deste


professor traduzia os sinais em palavras. trabalho proporcionaram reflexões acerca da
realidade escolar no Brasil que segue
Após duas aulas de apresentação das
modelos arcaicos nas formas de ensino.
fotografias em cada turma, cada autor indicou
Mesmo com todas as possibilidades,
uma foto para impressão, seu título e o
incluindo os próprios avanços tecnológicos
aspecto geográfico presente que mais lhe
que possibilitam o acesso a uma quantidade
chamou atenção. As fotografias selecionadas
imensurável de informações em tempo real,
foram expostas no final do ano letivo durante
observa-se nas salas de aula as constantes
um Sarau Cultural. Ao final das atividades os
repetições de conteúdos didáticos
alunos realizaram uma breve avaliação da
fragmentados que pouco interferem na vida
proposta da pesquisa e das ações realizadas,
dos estudantes e passam muitas vezes
nas aulas e extraclasse, com o uso da
despercebidos, sendo esquecidos
Fotografia no Ensino da Geografia, obtendo-
rapidamente.
se um alto índice de aprovação por parte dos
mesmos, estimulando a continuidade e O uso da Fotografia nas aulas de Geografia
aprimoramento da pesquisa. possibilitou uma aproximação das temáticas
dialogadas com a realidade do cotidiano dos
Acreditando ser fundamental a ampliação do
alunos, estimulando a participação dos
ensino de Libras, destaca-se aqui que
mesmos nas atividades. Os registros
durante a pesquisa observou-se na turma
fotográficos produzidos por eles fazem parte
inclusiva o interesse de parte das estudantes,
da memória, são fragmentos paisagísticos do
ouvintes e surdos, em ingressarem no curso
Recife que tendem a receber novos signos,
de Letras ou Pedagogia, com ênfase em
sobretudo com as drásticas mudanças em
Libras. O que é muito importante
sua composição urbana. Dessa forma,
considerando que “os instrutores de Libras
destaca-se que o gosto pelos aparatos
atualmente, na sua maioria, ainda não têm
tecnológicos dos alunos, que nasceram e
uma formação acadêmica para serem
vivem em uma era virtual, pode ser usufruído
professores de língua.” (FELIPE, 2007, p.12)
no processo de ensino, articulando tal
Para corroborar com o proposto de “ampliar o disponibilidade tecnológica com a
ensino de Libras”, propõe-se a leitura do livro contextualização do conteúdo geográfico.
“Libras em Contexto” que oferece um curso
No caso da turma inclusiva, o contato visual
básico “organizado para servir de apoio, ao
estabelecido com a fotografia possibilitou
instrutor, no planejamento e preparação das
ampliar o diálogo com os alunos surdos, tanto
aulas e atividades extra-classes.” (FELIPE,
nas aulas como fora delas em momentos de
2007). No ensejo de estimular a fotografia,
ausência do tradutor. Acredita-se que a
indica-se a leitura do livro “FOTOLIBRAS: guia
fotografia pode proporcionar condições
para a elaboração e implementação de
adequadas para estimular a inserção destes
projetos de fotografia participativa com
alunos no processo de ensino dialético, visto
surdos” (ELLIS, 2009).
a atual defasagem de professores bilíngues
em Libras. Ao mesmo tempo busca-se
compreender de que forma esta “inclusão”
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
exercida em sala de aula de fato
Fotografar é libertar-se, é sentir o ambiente proporcionará a integração entre alunos
guardando fragmentos da memória visual que surdos e não surdos, não apenas na escola,
lhe pertence para futuras gerações. Ciente mas também fora dela.
disto considera-se que as experiências

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Educação no século XXI - Volume 2


193

CAPÍTULO 28

Emerson dos Santos Lima


Andréa Karla Ferreira Nunes
Akistenia Elza Santos Ferreira
Alessandra Conceição Monteiro Alves
Sandra Costa Pinto Hoentsch Alvarenga

Resumo: O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada


com os alunos do Curso de Administração na modalidade de educação a distância
do Instituto Federal de Sergipe, matriculados no Polo de Apoio Presencial
localizado na cidade de Propriá, no estado de Sergipe. O objetivo do referido
estudo foi identificar as ferramentas do Ambiente Virtual de Aprendizagem mais
utilizadas pelos alunos na realização de uma atividade exigida na disciplina
Fundamentos e Práticas em EAD. Para tanto, foi feita uma análise do uso das
ferramentas do AVA utilizadas pelos alunos, observando a procura pela ferramenta
de acordo com a faixa de idade dos alunos. A pesquisa descritiva e de abordagem
dialética considerou os dados coletados, não apenas de forma qualitativa, mas
também quantitativa. Conclui-se assim que houve uma incidência de alunos mais
velhos pela procura de ferramentas de fácil manuseio.

Palavras-chave: Curso de Administração. Educação a Distância. Alunos. Ambiente


Virtual de Aprendizagem

Educação no século XXI - Volume 2


194

1. INTRODUÇÃO de atendimento ao público em geral,


independente de funcionários públicos ou
Educação a distância (EAD) é uma
não, ou seja, ser funcionário público não
modalidade de ensino que, através de
condiciona, tampouco impede, de o aluno
tecnologia, aproxima “virtualmente” alunos e
fazer o curso; os principais requisitos exigidos
professores que estão distantes
para o aluno se inscrever para qualquer um
“geograficamente”. Nos últimos anos, essa
desses três cursos é ter 18 anos ou mais de
modalidade vem se tornando uma realidade
idade e já ter concluído o ensino médio, no
muito comum a diversos públicos no âmbito
ato da inscrição. Dentro das perspectivas dos
da sociedade, independente de classe social,
cursos técnicos, o objeto pesquisado, que
raça, etnia, etc.
dará subsídio para as análises aqui
O Instituto Federal de Educação, Ciência e
apresentadas, é o curso de Administração,
Tecnologia de Sergipe, mais comumente
contudo, vale ressaltar que tais análises foram
chamado IFS, localizado na Avenida Gentil
feitas com base numa atividade da disciplina
Tavares da Mota, 1166, Bairro Getúlio Vargas,
Fundamentos e Práticas em EAD, realizada
na cidade de Aracaju, estado de Sergipe; é
pelos alunos do Polo de Apoio Presencial na
uma escola de ensino técnico
cidade de Propriá, estado de Sergipe.
profissionalizante da rede federal de
educação, com cursos que vão do nível A proposta dessa atividade foi para que os
técnico ao superior, e passou a ofertar cursos alunos, individualmente, preparassem algum
na modalidade EAD há pouco mais de 5 anos, material didático, voltado ao campo da
com os Cursos do Programa Profuncionário; administração, e utilizassem as ferramentas
e, há pouco mais de um ano e meio, iniciou o do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
Programa de Cursos Técnicos, que contempla para postagem e divulgação do seu trabalho.
três cursos, entre eles o Curso Técnico de Depois de pesquisar o conteúdo, cada aluno
Administração, todos na modalidade de escolheu um recurso do ambiente virtual para
educação a distância, sendo que o curso de postar sua atividade, além disso, ele
Administração ainda está nas primeiras precisava informar os motivos que o levaram a
turmas. Vale ressaltar que o IFS ainda não optar por tal ferramenta, bem como relatar
oferece cursos de nível superior a distância, sobre suas dificuldades ao utilizá-la.
contudo, há uma possibilidade de num futuro
Além das postagens realizadas pelos alunos,
próximo esses cursos serem ofertados.
foi possível analisar os recursos utilizados
Como dito anteriormente, o IFS não é pioneiro nessas postagens, bem como os graus de
na modalidade de educação a distância, mas, dificuldade de uso de cada um deles, além de
em convênio com o Instituto Federal do observar as justificativas usadas na escolha
Paraná (IFPR), que possui vasta experiência de cada ferramenta, de acordo com a faixa
nesse ramo de atuação e que, além de etária desses alunos.
possuir os direitos autorais, é o responsável
Para isso, a metodologia adotada foi uma
por produzir as teleaulas de todas as
análise quantitativa de dados, pois foi
disciplinas, vem desempenhando suas
computado, em ordem decrescente, o número
atividades satisfatoriamente, capacitando
de alunos que optou por cada uma dessas
seus alunos a desenvolverem habilidades
ferramentas, além de observar a procura por
necessárias a um técnico administrativo.
recursos de fácil manuseio no AVA pelos
Os programas do IFS vinculados à EAD, em alunos com mais de 35 anos de idade.
parceria com o IFPR (através das teleaulas e
Segundo Souza (2010, p. 128)
do material didático) e a Rede e-Tec Brasil
(que é a mantenedora dos programas) são o As TIC’S (tecnologia de comunicação e
Profuncionário, que é uma parceria do IFS informação), como são chamadas essas
com as Secretarias Municipais e a de Estado tecnologias, servem de auxílio ao estudo e
da Educação, ofertando os Cursos de facilitam a aprendizagem, trazendo o
Alimentação Escolar, Infraestrutura Escolar, conhecimento de forma mais estruturada.
Secretaria Escolar e Multimeios Didáticos para Estudar e usar as tecnológicas de informação,
funcionários públicos do quadro efetivo das transformando o que é complicado em útil,
respectivas secretarias; e os Cursos Técnicos, prática em dinâmica, além de ser mais
que além do Curso de Administração, criativo, é estimulante. (SOUZA, 2010, p. 128)
também oferece o de Técnico em Transações
Imobiliárias e Técnico em Reabilitação de
Dependentes Químicos, sendo estes últimos

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Baseado nessa afirmativa é que foi pensada a


atividade da disciplina Fundamentos e A turma é composta por 46 alunos, sendo 20
Práticas em EAD, uma vez que, para muitos homens e 26 mulheres, com faixa etária entre
alunos, a experiência de usar de forma mais 20 e 50 anos de idade, sendo que alguns
ativa o AVA só se daria através da deles residem na sede do município, mas há
obrigatoriedade da realização de uma também aqueles que moram em povoados
atividade para a conquista da nota referente não tão próximos, bem como os que residem
ao trabalho executado. em cidades circunvizinhas, e que, além da
distância geográfica, precisam enfrentar
problemas com o transporte público e com a
2. CURSO TÉCNICO DE ADMINISTRAÇÃO
distância entre sua residência e o polo.
EM EAD DO IFS
Outro problema, que já fora mencionado
As aulas do Curso Técnico de Administração
anteriormente, é o fato de parte dos alunos
no Polo de Apoio Avançado em Propriá
além de possuir pouca ou, em alguns casos,
iniciaram em janeiro de 2014 e tem previsão
de término para dezembro de 2015. Além da nenhuma habilidade com tecnologias de
cidade de Propriá, há Polos nas cidades de informação e comuni