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O proceso de desen- volvimento emocional como um todo implica a passagem por algumas tapas, fases essas que incluem um momento de maior dependéncia do meio que o circunda até um momento de maior independéncia, que nao se mostra total, ja que homem ¢ ambiente so sempre inter- dependentes (Winnicott, 1963). ~ Considerando, entio, o ser humano como esse ser essencialmente grupal, constantemente relacionado com 0 ambiente que 0 cerca, apresentam-se possiveis sentidos para a palavra “grupo”. Segundo 4 Matra Bonate Se Ferreira (1988, p. 331), grupo poderia significar uma “reuniao de coisas que formam um todo; reunido de pessoas; pequena associagao ou reunidio de pessoas ligadas para um fim comum”, sendo que o “grupo social” seria a “forma basica de associagaio humana: agregado social que tem uma entidade e vida pr6y todo, com suas tradigdes morais e mat (Ferreira, 1988, p. 331), J4 no campo especifico da psicologia, David Zimerman (1997, p.28) pontua que 0 grupo nao se configu im mero somatério de a, € se considera como um como individuos; pelo contririo, ele se constit com como uma nova entidade, is € mecanismos proprios e especificos”. Ou seja, o grupo passa ater um rosto e identidade proprios e é passivel de ser descrito como uma pessoa ou individuo (Serrio & Baleeiro, 1999). O grupo diferencia-se do “agrupamento”, em que se tem uma aglomeracdo, um conjunto de pessoas que compartilham 0 mesmo espago. Contudo, o fato de haver esse ynpartilhamento de espaco colabora para que o agrupamento se tore um grupo. A passagem de um estado para outro ocorre quando os “ teresses comuns” dos integrantes de um agrupamento se tornam “‘interesses em comum” dos individuos do grupo (Zimerman, 1997). Alem disso, para Bleger (1980), 0 grupo se caracterizaria como um conjunto de pessoas que estabelecem alguma interagio entre si, passando a nao ter existéncia enquanto individuos, ja que integram algo maior. Tem-se um fundo de indiferenciacdo, sendo que nos casos dos grupos terapéuticos, um dos integrantes, 0 coordenador, passa a ter um papel especializado e predeterminado, o de terapeuta, apesar do sincretismo ainda existente no grupo. torico das grupoterapias Aiello-Vaisberg ¢ Machado (2003) defendem que os trabalhos terapéuticos sejam, em diversas situagdes, re: dos em grupo, j4 que acreditam que se constitui uma situaga0 mais proxima daquela F 0 grupo e as grupaterapias 4 da vida humana habitual: Além disso, para as autoras, o grupo pode auxiliar na sustentagdo emocional, de maneira que as pessoas relax: ese expressem criativamente. Contudo, nem sempre o trabalho grupal foi visto como terapeu- tico. Segundo Bechelli e Santos (2004), 0 periodo entre 1905 ¢ 1950 se constituiu um momento de configuragiio ¢ desenvolvimento dessa modalidade de intervengaio terapéutica, Segundo esses autores, foi Joseph H. Pratt, um cli ambulaté ico geral do io do Massachussetts General Hospital em Boston, quem iniciou, em 1905, o uso dos grupos com finalidade terapéutica. Ele reunia semanalmente grupos de 15 a 20 membros proporcionando um maior contato entre os pacientes, em um programa de assisténcia a doentes de tuberculose. Nos encontros, além dos cuidados elinicos, cram também oferecidas orientagdes para atitudes positivas, pontu- ando a importincia de se manter a confianga e esperanga, utilizando-se de estratégias de persuasiio e reeducacao emocional. Havia o propésito inicial de ensinar a melhor maneira de os pacientes cuidarem de si propriose da enfermidade, mas os encontros serviam como apoio, para ‘que as pessoas notassem que havia outras com os mesmos problemas, sintomas, doengas. Bechelli ¢ Santos (2004) defendem que nesses grupos se processavam os fatores hoje reconhecides como terapéu- ticos, como a universalidade,/a aceitasao/ a instilagtio de esperanga. Em 1920, 6 médico Lazelt descreveu a metodologia de inter- vengao terapéutica grupal qué empregava com esquizofrénicos intemados, seguindo uma abordagem psicanalitica. Eram discutidos temas diversos, como 0 medo da morte, os conflitos vivenciados, as alucinagées ¢ os delitios, observando-se que os pacientes aparente- mente inacessiveis ou calados pareciam prestar atengio ¢ assimilar contetidos, desenvolvendo adaptagao ¢ solicitando assisténcia indi- vidual. Além disso, havia o reconhecimento de que outros individuos se encontravam na mesma situagao. Outro profissional precursor da terapia grupal foi Marsh, que era inicialmente o sacerdote de um hospital psiquidtrico, graduando-se, co 8 Mara Bonafe Set izava grupos, entre 1909 1912, 10 Sanatorio de Tuberculose de grupos heterogéneos, ja que seus integrantes possuiam diagndsticos diversos. A presenga era voluntéria e os encontros eram realizados por até trés vezes na semana, com cerca de 200 a 400 participantes, Os encontros objetivavam uma maior integragaio entre mente, emogo ¢ atividade motora, aliadas as necessidades da realidade e por isso cram realizadas atividades de canto e musica, além de relatos acerca de melhoras ¢ aulas abordando tépicos relacionados aos transtornos mentais. Em 1925, Burrow, um dos fundadores da American Psychoa- nalytic Association, passou a utilizar os grupos com pacientes nao psicéticos, em nivel ambulatorial. Nesses casos, 0s grupos tinham um niimero de integrantes reduzido, de aproximadamente dez pessoas ¢ 08 encontros eram semanais com duragao de uma hora. Estimulavam-se a interagao entre os individuos e a exposico verdadeira de pensa- ‘mentos € sentimentos uns aos outros, buscando-se a compreensao sobre 05 conteiidos latentes percebidos nas perguntas, opinides queixas apresentadas. ‘No caso da Europa, podem-se citar, rapidamente, duas grandes influéneias, a de Moreno e de Adler, que comegaram seus trabalhos em Viena(0 primeiro realizava grupos com base no teatro espon- tineo, destnvolvido com populagdes diversas, como de criangas ¢ Prostitutas. Moreno foi o fundador do psicodrama, que acredita que a vivencia ativa e estruturada de vivéncias conflituosas poderia resultar no descobrimento de suas implicagdes na propria vida, ocasionando beneficios terapéuticos. Ele se mudou para os Estados Unidos em 1925, levando o psicodrama também para a América ‘segundo, Adler, fundou, em 1921, 0 Centro de Aconselhamenté Psicolégico, ‘onde eram tratados paciente ¢ familia concomitantemente. Por pensar ‘no homem como um ser social, ele acreditava que o dispositive grupal pudesse reproduzir as condigdes presentes na origem da personali- dade, facilitando o trabalho terapéutico,) 0 grupo eas grupoterapios ” Nas décadas de 1930 1940, iniciou-se a aplicagao das terapias de grupo nos consultorios particulares em populagdes com problemas diversos, e deu-se um impulso a sua utitizagao, devido ao aumento da demanda pelo cuidado psicolégico com a Segunda Guerra Mundi O periodo entre 1951 ¢ 2000 se caracterizou pela expansio, consolidago ¢ pelo amadurecimento das terapias grupais. Assim, de um momento em que predominava a influéncia dos psicanalistas, os percursores da utilizagao do grupo com finalidades terapéuticas, deram-se o desenvolvimento ea integragao de outros referenciai com um pluralismo teérico ¢ grande profusdo de modelos de tratamento na atualidade (Bechelli & Santos, 2004). Classificagéo dos grupos Segundo David Zimerman (1997), a esséncia dos fendmenos gtupais ¢ a mesma em qualquer tipo de grupo, com os fenémenos psiquicos de reitencitasinin dentre outros sempre presentes. Assim, existem gnipos em que esses mecanismos permanecem latentes e outros que visam facilitar sua emergéncia para que possam ser trabalhados, As grandes diferengas entre os grupos relacionam-se com as fina lidades para a qual foram criados e compostos, ocasionando distintas camadas de pessoas participantes, combinagdes do setting, esquemas referenciais tedricos e procedimentos técnicos empregados. Ent&o, como foi dito, os grupos podem se dividir quanto a finali- dade para a qual se destinam (Neste liyro, sero abordados 0s grupos com finalidades terapéuticas e psicotcrapéuticas realizados com base nos recursos da arteterapia, ou seja, que objetivam, em geral, 0 auto- conhecimento ¢ a methora na patologia dos individuos, seja no plano da saiide orgénica, no do psiquismo, ou em ambos ao mesmo tempo, € que se destinam a aquisigdo de insight de aspectos inconscientes ¢ da totalidade grup: ) Naira Bonafe Set na visto de David Zimerman (1997), um corpo tedrica- téonico tinico que dé sélida fundamentago a todas as formas de grupoterapias, tendo-se, atualmente, fontes tedricas diversas que fundamentam o trabalho grupal e que serdo ilustradas nos trabalhos descritos ao longo dos capi No que concerne ao setting, os grupos podem ser classificados como homogéneos, quando so compostos por pessoas que apre- sentam uma série de fatores e caracteristicas que, em certo grau, so ‘comuns a todos os membros; e heterogéneos, caracterizados por uma composi¢ao grupal mais diversa entre as caracteristicas basicas de seus integrantes. Também los. possivel classificar os grupos segundo o critério de prazo para término da terapia, tendo-se os grupos abertos, sem um prazo de término prefixado, de maneira a permitir que outros membros sejam inseridos quando ha vaga; os grupos fechados, que, apés a fixagdo de um contrato inicial, novos membros nao sao mais aceitos, funcionando com um prazo determinado para seu término (Zimerman, 1997). As intervengdes grupais podem ser utilizadas com diferentes populagdes e, em cada caso, o grupo adquire uma caracteristica especifica. Assim ode-se a utilizagao de grupos com criangas, com pais/miies, com adolescentes, com idosos./No caso de grupos com adultos, estes sto habitualmente classificados ssob outios eri rios, tais como a patologia apresentada pelos participantes do grupo. Outra forma de trabalho grupal, que tem caracteristicas e formas de \tervengao e formagao especifica do terapeuta, € a terapia familiar, considerando-se a familia como um grupo, mas com uma histéria de vinculagao anterior ao inicio do tratamento. Nesse caso, encontram-se intervengdes familiares com a participacdo de apenas uma familia e grupos multifamiliares, ~ © grupo e as srupaterapias 5 O papel do terapeuta de grupo A pritica da terapia grupal tem algumas caracteristicas que a diferencia do atendimento individual, sendo que a primeira delas é ‘a presenca de varios pacientes/clientes no setting terapéutico. Essa simples constatagai ja implica uma maior complexidade dos habituais fenémenos de’transferéncia ¢ constratransferéncia, que so de surgi- mento inevitavel, Esses elementos se fazem presentes nas diversas relagdes humanas ¢ devem ser percebidos pelo coordenador de um grupo. Contudo, tal como aponta Zimerman (2000, p. 163), “ha trans- feréncia em tudo, mas nem tudo ¢ transferéncia a ser trabalhada” . Nesse sentido, observa-se que nos grupos ocorre um importante fenémeno denominado de “transferéncias cruzadas”, ja que n niveis de transferéncia instalam-se no setting grupal. Assim, segundo (Zimerman (2000), a transferéncia pode se dar em quatro diferentes niveis, sendo eles: de cada participante em relagao a figura central do coordenador do grupo; do grupo como uma totalidade em relaga0 a.esta figura central; de cada integrante em relagao a determinado(s) outro(s) integrante(s); de cada participante em relagio ao grupo como uma ra abstrata. ) ‘Quante(a Contratransferéncia, esses quatro niveis repetem-se com: © coordenador do grupo tendo sentimentos relacionados separada- mente a cada um dos participantes; e relacionados ao grupo como uma totalidade gestéltica; participantes tendo sentimentos e reagdes diferentes para cada um de seus pares; sentimentos de cada integrante em relagiio ao que 0 grupo desperta, enquanto uma totalidade abstrata (Zimerman, 2000), Relacionado ¢ esses fendmenos, tem-se a observagio de que © grupo se configura como uma “galeria de espelhos”, onde cada ~\ pessoa pode se ver refletida na outra, olha e € vista ao mesmo tempo | por outras pessoas que nao apenas 0 coordenador do grupo, que se \ encontra igualmente exposto. Nesse sentido, Mello-Filho (2001, p. 264) pontua que “cada participante reflete a imagem real do outro ara Bonaté Set €, a0 mesmo tempo, aquilo que vé particularmente, com os olhos do inconsciente, no outro”. Tal situagao pode apresentar aspectos negativos como a inibigao do paciente decorrente de sua exposiga0, mas carrega “inegavel papel terapéutico no fato de o paciente se ver através do outro —e mesmo até no que o outro vé e nfo quer mostrar, porém reflete” (Mello-Filho, 2001, p. 265). Considerando tal panorama, pontua-se que o coordenador de um grupo deve ser auténtico, verdadeiro em suas intervengées, j4 que )) méscaras e papéis assumidos que nao condizem com a realidade e forma de ser do terapeuta so facilmente percebidos pelos partici- antes. Quando o terapeuta pode ser ele mesmo, assegura aos demais que eles também o podem ser (Rhyne, 2000), Essa participago de todos os integrantes no processo terapéutico dos demais se caracteriza como uma das vantagens das intevengdes grupais com o coordenador com a fungao de facilitador ¢ como uma “mie suficientemente boa possibilitando o surgimento da criatividade do paciente” (Mello-Fitho, 2001, p. 273). Segundo esse autor, a atuagdo do terapeuta de grupo deve ser marcada por uma “‘simplicidade marcante”, que estimula a compre- / enso de sentimentos, vivencias, contetidos expressados pelos proprios participantes. Atuaria, assim, como alguém que catalisa a integragao, “com pequenas intervengdes que possibilitem o aparecimento da verdade tiltima, ao aflorar no grupo por meio de uma comunicagao qualquer de um de seus membros” (Mello-Filho, 2001, p. 273). Ao refletir sobre quais seriam especificamente os requisitos para um coodenador de grupos, ¢ possivel enumerar parte dos requisitos por Zimerman (2000) elencados. Assim, 0 terapeuta grupal deve, de forma geral: gostar e acreditar em grupos, ja que o grupo capta mais facil- mente quando o terapeuta no gosta ou no acredita em seu potencial; + ter paciéncia, compreendida como uma atitude ativa de espera pelo tempo necessitado pelo outro; 0 grupo a5 grupoterapias 5 ter empatia, podendo colocar-se no lugar do outro, aproximando: se do grupo; intuir, captando elementos nao sensoriais advindos do incons- ciente de cada participante e do grupo como um todo; discriminar, observando 0 jogo de identificagdes que se fazem presentes no setting grupal; ter amor as verdades, que implica que o terapeuta possa tam- bbém, ele mesmo, ser verdadeiro, auténtico e, com isso, servir de modelo de identificagao para os demais integrantes do grupo; ter coeréncia em suas atitudes e crengas; ser continente, contendo emogdes fortes que surjam no setting grupal, além de suas proprias angisstias, para que estas nao afetem sua capacidade de pensar; ter consciéneia de seus tragos caracteriolégicos, de maneira que eles nao influenciem negativamente o contexto terapéutico, sendo que esse autoconhecimento é conseguido por meio de um constante trabalho de terapia pessoal; ter capacidade de integracdo e sintese, mostrando-se capaz de unir em um todo coerente aspectos e contetidos que aparecem de forma dispersa e dissociada na sesso, colaborando para uma integrago com nova significagio; ter senso de ética, sem impor expectativas ou valores aos parti- cipantes do grupo, respeitando o direito deles de serem livres, cuidando para néo estimular a idealizagao dependéncia dos pacientes em relagdo a ele; ter respeito pelo outro é essencial, compreendendo-se que, tal como 0 aforismo da filosofia zen citado por Zimerman (2000, p.197), “o mestre tem a responsabilidade de fazer com que 0 aluno descubra no o caminho propriamente dito, mas as vias de acesso a ele”, 4 Naica Bonafé Sei O uso da arte nos grupos / “Tendo em vista que este livro visa descrever especificamente trabalhos grupais em arteterapia, teoricamente fundamentados, serao tecidas algumas consideragdes acerca da arteterapia grupal e de carac- teristicas gerais de determinados tipos de grupos arteterapéuticos. Quanto a arteterapia com grupos, compreende-se que 0 uso da arte pode possibilitar uma maior integragao entre os participantes do grupo, Cada pessoa participa em seu proprio nivel, como no caso de criangas ¢ adultos, que podem facilmente se comunicar por meio da linguagem artistica. Nao se faz necesséria a realizagao de produgées extremamente elaboradas, importando mais o sentido que esta tem para seu autor do que 0 uso de técnicas artisticas especificas e/ou a qualidade estética do produto final. Cada ser humano é tinico, ¢ isso se reflete no material produzido nas sessdes arteterapéuticas, e, por isso, a presenga de pessoas em diferentes etapas do desenvolvimento deve ser atentamente observada pelo arteterapeuta. Ressalta-se que diferengas podem ser de grande riqueza, colaborando para o crescimento ¢ troca, desde que bem traba- Ihados pelo coordenador do grupo, de maneira que os individuos néo sintam que hé um modelo a ser aleangado, com um trabalho “melhor” do que 0 outro. Tem-se um exemplo disso nos grupos de criangas ou onde elas estejam presentes, como na terapia familiar, visto que, nesses casos, as diferencas quanto ao desenvolvimento cognitivo, emocional e capacidade de expresso, seja verbal, seja grifica, podem ser claramente percebidas. Ressalta-se ainda que estar em diferentes fases do desenvolvi- mento ocasiona, em geral, uma maneira de se comunicar também diferente ¢, consequentemente, alteragdes na produgdes artisticas realizadas no setting arteterapéutico, que devem ser percebidas pelo arteterapeuta. Defende-se que, a0 optar por trabalhar com criangas, este profissional deve ter nogdes ndo sé acerca do desenvolvimento humano e das possiveis patologias, como o requisitado por uma (0 grupo as grupoterapias 3s formago consistente en as também sobre as fases hho infantil passa, nao patologizando represen- tagdes que poderiam ser caracteristicas de determinada etapa de desenvolvimento, Alguns autores da érea da Arteterapia pontuam que a arte, além de ser uma facilitadora da criatividade, ainda se constitui como um jportante meio de comunicagao quando as palavras falham, sendo nos trabathos com a fantasia e os aspectos inconscientes (Naum- burg, 1991; Liebmann, 2000). Assim, considerando que 0 inconsciente manifesta-se mais por meio de imagens do que por palavras, estes contetidos poderiam chegar & consciéncia de forma mais ficil através das atividades artisticas no contexto terapéutico. fato de se ter produtos concretos mostra-se como outra vantagem arteterapia, pelas quais 0 dest © da arteterapia, pois esse material pode ser posteriormente examinado, pensado, explorado, reelaborado, conforme a necessidade de cada individuo, diferentemente das terapias verbais, ampliando assim as possibilidades de reflexdo. Essa caracteristica também “concretiza” o espaco de cada pessoa no grupo, que pode optar por nao se expressar verbalmente, mas ter seus sentimentos, pensamentos, vivéncias em geral representados por meio do produto produzido em sessao. # Quanto a organizagao dos encontros arteterapéuticos, observa-se ‘que a utilizacdo dos recursos artisticos pode acontecer de forma mais livre, quando diversos materiais s4o disponilizados e os integrantes do grupo decidem o que desejam fazer com eles, ou de forma mais estruturada, com maior direcionamento para aquilo que ¢ realizado no grupo, com atividades especificas para inicio, desenvolvimento finalizagdo da sesso. Escolher 0 maior ou menor direcionamento do que é realizado depende de varios aspectos, tais como a orientagio teérica do artete- rapeuta, os objetivos do grupo e a populagao atendida. Alguns autores defendem que intervengdes em arteterapia de orientagdo psicanalitica tendem a ser menos estruturadas, com tal formato aproximando-se da regra de livre associagéo de ideias, 6 Maira Bonafé Sei colocada para as terapias verbais desta mesma orientagdo teérica, & ttazidas para o setting arteterapéutico por meio dessa maior liberdade de decistio por parte dos participantes sobre formas ¢ contetidos serem expressos (McMurray & Schwartz-Mirman, 1998). Contudo, essa menor estruturagiio no esté presente somente na arteterapia psicanalitica. Em grupos que disponham de um maior niimero de encontros € possivel pensar em uma intervengdo mais estruturada no inicio deles, dando-se, posteriormente, mais liberdade 0s participantes, que ja teriam familiaridade com os materiais e com a metodologia da arteterapia. E assim, segundo Urrutigaray (2003, p. 84), “poder escolher o que fazer possibilita o reforgo da aquisi¢0 e desenvolvimento da autonomia, dada pela liberdade da agao de selegao”. Ja no caso de grupos fechados, de durago breve, atividades estruturadas colaboram para aproveitar melhor o tempo, trazendo resultados mais proximos daqueles inicialmente objetivados. Outta situagdo que se beneficia de um foco maior por parte do coordenador do grupo se dé nos grupos com deficientes intelectuais, tendo-se em vista a maior dificuldade de compreensio das consignas quando comparado com outros grupos. Tem-se também a possi- bilidade de maior variedade dos participantes quanto ao nivel de desenvolvimento intelectual, e uma atitude mais ativa ou direcionada do arteterapeuta ajuda a diminuir possiveis dificuldades advindas das caracteristicas desse tipo de grupo. Em geral, observa-se que a existéncia de um tema auxilia as pessoas com dificuldades para comegar a atividade, dando uma diregdo para se iniciar o trabalho. Além disso, a proposta de temas nos primeiros encontros de rteterapia grupal pode auxiliar os integrantes ‘acompreenderem o que é a arteterapia, dado que se trata de uma érea de intersecgao de campos do conhecimento como arte-educagao € psicologia, mas com uma metodologia de trabalho prépri da destas outras Areas, Oo srupo #25 erupoterapias 3 Unrutigaray (2003, p. 83) defende que “mo de agao frente & utilizagéo dos mater 6 estruturados stio convenientes para os encontros iniciais, evitando situagdes de confusdo e tensao ent integrantes do grupo. Segundo a autora, 0 fato de os participantes possuirem um inicio de onde podem partir proporeiona seguranga, facilitando a intimidade entre os mesmos jé que “todos vao compar- ar do mesmo material, desbloqueando-se ansiedades frente 4 exposigio piiblica de preconceitos estéticos” (Urrutigaray, 2003, p. 83). ». Em concordancia com essas ideias, Liebmann (2000) defende que alguns grupos podem se mostrar mais inseguros, necessitando de uma estrutura e, com esse direcionamento maior, podem chegar mais rapidamente ao ponto desejado pelo coordenador. O fato de se ter um tema compartilhado por todos pode promover uma coestio grupal maior, principalmente em grupos mais heterogéneos, fa tando trabalhos e discussdes que nao aconteceriam por outros meios, como 0 que se observa com os grupos arteterapéuticos realizados na comunidade, que visam 4 promo¢ao de qualidade de vida e em que cada participante tem uma vivéneia bem particular. Em grupos mais homogéneos, j se partilha uma vivencia especi- fica, uma situagao de vida, como no caso do enfrentamento do cfincer, com temas de vida versus morte, softimento, dores; da orientagdo profissional, com a reflexio sobre escolhas profissionais e suas expec- tativas de futuro; da maternidade, com a natural troca de receios, alegrias e.aprendizados desta fase; dentre outras possibilidades. Ofdeal ira ‘um grupo terapéutico € que nao seja grande demais a ponto déScus integrantes nfio se verem ou terem tempo para compar- tilharem. O nimero maximo de membros indicado para a atividade grupal também muda conforme a idade de seus participantes. De forma geral, para grupos com criangas, que tendem a apresentar uma movimentagdio maior pelo setting; de portadores de alguma deficiéncia ¢ que, com isso, necessitem de atengao mais individu- alizada, necessidade presente também em alguns grupos de idosos, | 38 Maira Bonate Se sugere-se um nimero menor de integrantes. Grupos com adolescentes ¢ alguns grupos de adultos podem agregar mais membros, dado que seus participantes possuem capacidade fisica e cognitiva maior para compreender e realizar as atividades propostas. No grupo de criangas, a atengio a faixa etéria selecionada ¢ impor- tante, principalmente no caso de um grupo heterogéneo quanto as questdes apresentadas por cada crianga, como em intervengdes profi- laticas de autoconhecimento ¢ estimulo & expressio e criatividade, pois ha grandes diferengas cognitivas, de interesse e de capacidade de ‘manipulagao de materiais nas criangas que devem ser consideradas. O contrato nesses grupos deve ser feito tanto com as criangas do grupo, estabelecendo-se as regras necessérias para 0 desenvolvimento das atividades, quanto com os pais ou seus responsiveis, autorizando 0 inicio do trabalho. Cabe ressaltar que nem sempre os pais esto preparados para as mudangas que 0 processo arteterapéutico pode gerar na crianga, alteragdes mais ou menos intensas conforme a proposta do grupo desenvolvido. Pode-se, entdo, realizar um trabalho paralelo de orientagao de pais individual ou um grupo, amenizando angistias € auxiliando-os a expressar-se ¢ refletir sobre o papel que desempenham ‘como pais, utilizando-se também dos recursos da Arteterapia. » No caso dos grupos de adolescentes, tem-se ainda a necessidade da autorizagdo dos pais, j4 que do ponto de vista legal ainda nao sto completamente independentes. Assinala-se que 0 contato com a familia nesta etapa da vida é mais tumultuosa, pois 0 adolescente necessita diferenciar-se do grupo familiar, algo que usualmente gera conflitos, e assim ele busca o grupo de amigos, assemelhando-se a eles nesse proceso de diferenciagao. E uma etapa de elaboragao de lutos relacionados com 0 corpo ¢ identidade infantil e preparo para a entrada na vida adulta (Aberastury & Knobel, 1981; Levisky, 1998). Intervengdes grupais com adolescentes mostram-se proficuas € so uma forma de trabalho privilegiada para essa populacao, adolescentes tendem naturalmente a se agruparem, aceitam melhor a © grupo e as grupoterspias 9 Grupo eas grupoterepias situagao grupal, que dilui tensdes e colabora para a identificagéio com ‘0s colegas que compartilham de perdas similares, colaborando para 8 construgaio de uma identidade individual e grupal (Zimerman, 2000), No grupo de adultos, t&m-se caracteristicas varidveis, alterando- se conforme a proposta. No caso do grupo com idosos, tem-se populagdio que também enfrenta perdas, seja pelo falecimento de entes queridos, pela aposentadoria, que gera alteragao na rotina didria e no papel desempenhado na familia e na sociedade em geral, seja pelas inevitaveis perdas organicas. HA grupos desenvolvidos com ind duos que apresentam patologias frequentes, oferecendo atividades que colaborem para retardar 0 decl Juo (Fortuna, 2000). Outros grupos com idosos so desenvolvidos, por exemplo, em centros comuni josos sem perdas fisicas significativas, ofertando um espago para elaboragio dos aspectos emocionais rela- cionados a condigdio de vida em que se encontram. Pode-se pontuar, de forma geral, que se busca com os grupos com idosos um espago para expresso de emoges, desenvolvimento ou resgate de potenciais, além de promover ressocializagao, com frequente formagao de lagos de amizade entre os participantes de alguns tipos de grupos com essa populagao (Zimerman, 1997). Em alguns casos também ¢ interessante desenvolver grupos com familiares ou cuidadores de idosos. Para sintetizar, pode-se assinalar que 0 trabalho terapéutico reali- ‘zado de forma grupal carrega algumas vantagens, como promover 0 apoio mituo para pessoas com necessidades proximas, com inte- grantes aprendendo por meio da experiéneia do outro ¢ podendo experimentar novos papéis. Potencialidades latentes podem ser descobertas, havendo um democritico compartilhar de responsabili- dades e vivéncias, tratando-se de uma maneira econdmica de trazer beneficios para varias pessoas 20 mesmo tempo (Liebman, 2000), Muitas sto as vantagens, mas muitos devem ser os cuidados do arteterapeuta grupal, que deve buscar uma formagdo sélida, que agregue nao apenas a pratica, mas que também se apéie nos aspectos tedricos, buscando fundamentar 0 trabalho desenvolvido, aprimorando-o sempre. jos com aica Bona Set assa-se, entdo, para a apresentagdo das experiéncias praticas em arteterapia grupal com diferentes populagdes ¢ contextos, em grupos homogéneos ow heterogéneos e mais ou menos estruturados, descritas no decorrer dos demais capitulos. Boa leitura! O grupo © as gropoterapias ® Referéncias bibliograficas Aberastury, A.; Knobel, M. (1981) Adolesc Artes Médicas. icia normal. Porto Alegre: Aiello-Vaisberg, T. M..J. & MACHADO, M. C. L. 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