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CENTRO DE HUMANIDADES
RESENHA
O que Severino Cabral Filho trás de inédito em sua obra é a análise do processo
de modernização por meio de imagens fotográficas, auxiliado por linguagens literárias
diversas, que foram produzidas por memorialistas da cidade. As fontes utilizadas pelo
pesquisador vão desde fotografias que retratam Campina Grande em meados do século
passado, textos de memorialistas e cronistas campinenses, periódicos e até mesmo
processos judiciais. O autor, utilizando-se de um aparato teórico típico da história
cultural, apresenta-nos uma história do cotidiano e das sensibilidades na Campina
Grande que se modernizava.
Ainda nas primeiras páginas do livro, Cabral Filho faz um levantamento teórico
concernente às possibilidades que o historiador, ou cientista social, tem para fazer uso
da fotografia como fonte. Por se tratar de um trabalho de pesquisa de caráter inédito na
região de Campina Grande, no que diz respeito ao aporte teórico e metodológico usado,
o autor realiza um meticuloso exercício de explanação sobre a “revolução
historiografia” impetrada pela Escola dos Annales, apresenta os principais teóricos da
área, além de indicar os estudiosos das humanidades que se debruçaram sobre as fontes
imagéticas para a realização de suas pesquisas. Observações feitas pelo autor que dão
legitimidade e segurança ao trabalho.
No primeiro capítulo, nos deparamos com a cidade de Campina Grande dos anos
30. Embebida por fortes doses de ideias modernas, as suas autoridades políticas e
intelectuais dispostos a por em prática todo e qualquer plano de reforma para que a
cidade ganhasse ares modernos, civilizados, saudáveis. Toda essa efervescência tinha
uma origem. As reformas urbanas Europeias, especialmente as realizadas na Capital
francesa, influenciavam todo o ocidente. No Brasil, as grandes cidades do Sudeste não
ficaram imunes aos efeitos da onda de modernização. O Rio de Janeiro, sob o governo
de Pereira Passos, enfrentou uma verdadeira reformulação em sua paisagem urbana. As
principais cidades do Nordeste brasileiro seguiam o ritmo das transformações. Em
Campina Grande o ideário modernizante também encontrou espaço.
Seguindo em um ritmo lento, distinto do que era observado nas cidades do
Sudeste, a elite da “rainha da borborema” ia, aos poucos, configurando um plano de
reforma urbana para a cidade. Severino Cabral Filho ressalta que, no período em que
tiveram início as transformações na paisagem urbana campinense, quem ditava as regras
da economia local era o algodão, ou seja, a produção algodoeira favoreceu os planos dos
letrados e políticos da cidade. O “ouro branco” possibilitou a ascensão econômica de
poucos grupos, porém, ele favoreceu o engrandecimento do nome da cidade, que além
de ser conhecida como a “Liverpool Paraibana” era a responsável pela maior
contribuição fiscal do Estado.
O estudo realizado pelo Dr. Severino Cabral Filho corrobora a tese de que, o
mesmo tema pode ser exaustivamente analisado, desde que novos olhares e novas
abordagens sejam lançados sobre ele. Uma pesquisa de folego, estruturada em coerentes
correntes teóricas. A cada capítulo exposto o autor, cuidadosamente, apesenta uma
revisão bibliográfica sobre o tema, expondo os clássicos da historiografia e da
sociologia que versam sobre a temática. Os espaços lacunares, que ele humildemente
alerta que não daria em conta em sua pesquisa, oferece para que futuros pesquisadores
possam se debruçar em uma investigação. Em suma, trata-se de uma pesquisa
enriquecedora, extremamente importante e atual, uma vez que os paradoxos, as
contradições e os flagelos oriundos do progresso não se resumiram às décadas de 30, 40
e 50 do século passado. Elas persistem, insistem em conviver com o moderno.
REFERÊNCIAS:
RESENHA