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Apresentação do tema:

O presente trabalho é uma resenha temática referente as tradições inventadas, baseia-


se em Eric Hobsbawm & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. – Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1984. Págs. 9-23.

Resumo da obra:
O tema desse texto é tradição, mais especificamente as tradições inventadas. Desse
modo inicia-se afirmando que em muitos casos, apesar das tradições transmitirem a sensação
de serem antigas, elas são recentes, e até inventadas. Nesse sentido delimita-se tradição
inventada como um termo abrangente, que refere-se tanto as tradições que se têm a certeza de
terem sido inventadas, com sua localização no tempo e no espaço, como também faz menção
aquelas tradições que não se sabe a origem, devido a rapidez com que propagam.
Devido a essa fluidez das tradições não se tem a pretensão de estudar sua
continuidade, mas sim a sua origem, e sua possível conservação. Sendo assim, o primeiro
passo para a análise desse fenômeno é a sua conceituação, dessa maneira, tem-se por tradição
inventada: “Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente
reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou
simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o
que implica, automaticamente; uma continuidade em relação ao passado. ” Pág.10
Essa continuidade de relação entre passado e tradição não precisa ocorrer em um
passado distante. No entanto, se essa relação existir, ela é sintética, no sentido de que são
comportamentos relativos a situações novas, que podem se tornar referencial em relação a
acontecimentos passados, ou fixar seu passado através dos novos comportamentos.
Nos moldes do que foi explanado anteriormente, a tradição deve ser diferenciada do
costume nas sociedades tradicionais, haja vista que o primeiro caracteriza-se pela
invariabilidade e por práticas fixas, enquanto o segundo tem funções motores e volantes,
permite inovações, desde que estas sejam condizentes com seus precedentes, dando as
mudanças a sanção de contínuas.
Do mesmo modo, também se faz necessário uma diferenciação entre tradição e
rotina, tendo em vista que ao contrário da primeira, a segunda não possui valores simbólicos
e/ou rituais, apesar de algumas vezes incorporar essas características. No repasse de ações
repetitivas torna-se comum que a transmissão de hábitos transforme-se em rotinas
regulamentadas. Quando a utilização de hábitos facilita a rotina, este tem que ser imutável,
mas isto implica em dificuldades de lidar com situações inusitadas.
Estes circuitos de ações não são considerados tradições inventadas porque são
relativos à esfera prática, e não a ideológica. Desse modo, esses hábitos práticos têm mais
liberdade para mudanças, como também a inércia e a imutabilidade. Nota-se facilmente a
diferença entre hábitos e tradição, haja vista que o primeiro origina-se com uma finalidade
prática, enquanto que o segundo se baseia em uma convicção ideológica e na maioria dos
casos é pouco prática.
Nesse contexto, considera-se como invenção de tradições, a formalização e
ritualização que alude ao passado, ditando ações repetitivas. Não se sabe qual é a origem
dessas invenções, mas acredita-se que estas tradições fiquem mais claras quando são
delimitadas por apenas uma pessoa. Ademais afirma-se ser mais fácil identificar a origem de
tradições de grupos que institucionalizam e planejam os eventos, documentando-os. Outra
dificuldade dessa identificação surge devido a carência de técnicas adequadas para esse
estudo.
Sabe-se que estas tradições originam-se quando as velhas tradições caem em desuso
devido as transformações no meio. Devido ao caráter dinâmico da sociedade moderna,
acredita-se que boa parte das tradições inventadas se concentra nesse período. No entanto há
que se ressaltar que as tradições antigas não são abandonadas por serem obsoletas ou
incapazes, e que a novas tradições são superiores e melhores.
Dessa maneira sabe-se que a adaptação de tradições refere-se a misturas entre as
tradições antigas e as inventadas. Sendo assim, nota-se que a novidade não perde seu caráter
de inovação por estar atrelada a concepções antigas. Nesse sentido, torna-se interessante
observar e analisar a incorporação de conceitos antigos, a tradições novas.
Destarte, aponta-se para uma impossibilidade de mensuração dos limites de
adaptação das tradições. Em meio a esse cenário, nota-se também que há rupturas na
continuidade dos elementos que compõe as tradições. Nesse sentido, os movimentos que
visam preservar as tradições demonstram essa descontinuidade, sendo que estão fadadas a se
transformarem em tradições inventadas, tendo em vista a incapacidade de se perpetuar as
tradições passadas.
De outro modo, sabe-se a adaptabilidade das tradições não significam que estas estão
sendo reinventadas. Não é necessário inventar tradições quando as antigas ainda são úteis. No
entanto, observa-se que, mesmo quando as tradições ainda são úteis, inventam-se outras
devido ao desuso ou inadaptação das primeiras. Desta maneira, a ideologia liberal, que
durante os processos de mudança social, apoiaram as mudanças radicais, gerou vácuos, que
posteriormente foram preenchidos por novas tradições.
Conclui-se o texto resenhado com algumas observações gerais acerca do tema.
Diante disso, classifica-se as tradições inventadas em três categorias: primeiramente, fala-se
daquelas que estimulam a coesão social, em segundo lugar, estão as tradições que se referem a
instituições, status e relações de autoridades, e por fim, estão aqueles que além da socialização
pretendem incitar a assimilação de valores. Apesar de as segundas e terceiras tradições serem
as que visivelmente foram inventadas, a primeira é a que se afirmou, e que as demais são
consideradas derivação da primeira, numa esfera de comunidade nacional.
“Em virtude da mobilidade social, dos conflitos de classe e da ideologia dominante,
tornou-se difícil aplicar universalmente as tradições que uniam comunidades e desigualdades
visíveis em hierarquias formais.” Pág 19.
Esses fatores não afetaram o terceiro tipo de tradição, já que as socializações e a
inculcação de valores permaneciam igual, por outro ângulo, a reintrodução do status no
mundo das tradições limitava a ação de agentes desse processo, uma vez que todos são
considerados iguais. Entretanto existem possibilidade de se introduzir conceitos desiguais
numa população.
Em relação à natureza das tradições inventadas, nota-se que os ritos de passagem nas
tradições são mais observáveis em comunidades isolados, uma vez que as comunidades
globalizadas assumem as tradições como imutáveis. Entretanto na modernidade também se
encontra ritos que possuem equivalentes na antiguidade.
Nesse quadro, percebe-se que as tradições antigas possuem modelos mais rígidos, que
agem de forma coercitiva, enquanto que as tradições inventadas possuem valores mais
brandos. Nesse contexto, torna-se claro que os símbolos relativos à tradição surtem mais
efeito do que normas escritas.
No entanto, percebe-se que as tradições inventas, ocupam apenas lacunas deixadas
pelas tradições descaídas, esse fato era previsível, uma vez que em muitas sociedades o
passado torna-se irrelevante. Nota-se também que tradições atuais ocupam espaço reduzido na
vida dos indivíduos, se comparado ao espaço que as tradições antigas ocupavam na vida das
pessoas que vivam naquela época.
Apesar disso, as tradições relativas à vida pública não foram afetas por essa baixa
atuação das tradições contemporâneas. Seguindo esse delineamento, percebe-se que o estudo
das tradições, novas e antigas, são indícios localizadores de problemas e mudanças sociais no
tempo, sendo que deve ser estudado em conjunto com a história local.
Além disso, o estudo das tradições elucida diversas ligações entre o homem e o seu
passado, bem como do historiador com suas funções práticas e ideológicas. Isso ocorre devido
á ligação direta entre história e tradição. Desse modo, os historiadores têm papel ativo na
formação das tradições. Ademais, percebe-se esses fenômenos são facilmente aplicáveis a
situações recentes.
Sendo assim, deve-se atentar para o fato de que as nações modernas afirmam ter suas
tradições enraizadas no passado, negligenciando as novas aquisições tradicionais, de modo
que se afirmam como naturais, sem construções forçadas de tradições, dessa maneira elas
dizem não precisar de nada mais além da defesa de seus interesses. De qualquer forma, o
estudo de uma nação obrigatoriamente deve levar em conta as tradições inventadas, uma vez
que elas existem em todas as nações, e que estão presentes nos símbolos e elaborações
recentes. Por fim, menciona-se a interdisciplinaridade desse estudo, uma vez esse fenômeno
permeia diversas áreas.
Conclusão:
O texto resenhado faz um apanhado amplo sobre as tradições inventadas e suas
generalizações, histórias e origem. Utiliza-se de diversos exemplos para esclarecer os
elementos e fatos expostos, de forma concisa e coerente. Nota-se que os assuntos relatados
são continuamente tratados nas partes posteriores do livro, e que é de grande importância o
constante estudo do tema, uma vez que isso afeta de forma prática e ideológica diversos
setores sociais. Dessa maneira, o assunto exposto deve ser bem analisado, para poder
propiciar um melhor entendimento da sociedade. Em suma, o texto apresenta um tema
imprescindível para as nações se compreenderem melhor.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CULTURA BRASILEIRA

EUFRÁZIA CRISTINA MENEZES SANTOS

RESENHA TEMÁTICA

Eric Hobsbawm & Terence Ranger (orgs.). A invenção das tradições. – Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1984. Págs. 9-23.

Rafaela Rocha Silva

São Cristóvão, 2014

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