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Resumo
A escola atualmente se depara com a facilidade de acesso as informações, proporcionada pelos avanços das
tecnologias de informação as quais os usuários ficam expostos, gerando desafios aos gestores e docentes
estar atentos a este novo processo de comunicação. Neste contexto, leitura e escrita continuam primordiais
na formação do ser humano, ao ingressar no mercado de trabalho, no entanto, observam-se os desvios na
construção da linguagem motivados pelo uso excessivo de linguagem abreviada, reduzida, e até mesmo
errada possibilitada pela comunicação online, constatada também pelo precário nível de leitura. Com o
objetivo de enfrentar os problemas gerados a partir desta realidade, propõem-se um trabalho interdisciplinar,
através do uso de um objeto de aprendizagem, o Tangram composto por sete peças, para trabalhar
habilidades em Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Matemática e Artes. Apoiando-se no conceito de objetos
de aprendizagem a proposta buscou estimular a compreensão dos docentes sobre como reutilizar tais
materiais adaptando-os ao seu contexto e objetivos de aprendizagem. Os resultados apontaram que o projeto
TANGRAM promoveu o interesse, rendimento, envolvimento, dedicação, emoção e satisfação dos
estudantes por terem aprendido amplamente os temas tratados por diferentes maneiras, ou seja,
metodologias usadas em cada disciplina, embora usando o mesmo objeto de estudo. Na Língua Portuguesa,
através da produção individual e um trabalho de autoria com a confecção de um livro de histórias por cada
estudante, foram intensificados essencialmente os processos de aprendizagem de produção e escrita de
textos.
1. Introdução
A escola atualmente vive um período de adaptação devido à chegada das tecnologias de informação e
comunicação (TICs) que cada vez mais influenciam na interação/comunicação dos estudantes. Os
profissionais da educação nas escolas passam a buscar conhecer tais tecnologias, para receber essa nova
geração de estudantes, poder acompanhá-los, e assim orientá-los sobre o seu uso mais adequado. Neste
contexto, a leitura e escrita continuam sendo primordiais na formação de todo ser humano, no momento em
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que o mercado de trabalho se caracteriza muito mais por atividades que exigem conhecimento. De acordo
com um novo conceito de leitura e escrita, Almeida (in: Folha online, 2009) se refere:
“Ler, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele,
interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do
mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre
ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e
escrita como prática de liberdade.”
Dessa maneira, no processo de aprendizagem da leitura, o estudante deve ser visto como um sujeito
agente do processo de aprendizagem, motivado a ler e escrever, como autor de suas criações, e sentindo-se
livre para produzir, inventar.
O professor ainda tem um papel importante de nortear, direcionar, orientar seus estudantes sobre a
influência de tais tecnologias, ou seja, permitindo que se adquiram certos vícios de escritas e uso incorreto
da língua, desprezando-se a formalidade da língua escrita e promovendo o acesso livre aos mais diversos
sites com todo tipo de conteúdo e informação. Rorig e Backes (2008) afirmam que o professor deva ser um
mediador, um facilitador do processo de ensino aprendizagem como também é importante que seja um bom
pesquisador para assumir o compromisso de ampliar a socialização do conhecimento. Já para Silva (2008)
além de pesquisador é necessário também ser um bom transmissor de conhecimentos. Berlitz (2005-1)
destaca que para Vygotsky (1994) o professor tem a função de agente mediador, que, por meio da linguagem
intervém e auxilia na construção e reelaboração do conhecimento do aluno, contribuindo para o
desenvolvimento deste. Por sua teoria, o conhecimento é sempre mediado, ou seja, a interação com o meio
está diretamente relacionada com a aquisição de conhecimento. Conforme Martins (1989, p. 111-112):
A organização do trabalho docente nesta perspectiva é diferente a partir do momento em que estamos
apontando que é possível construir relações válidas e importantes em sala de aula; cada um tem o seu
lugar neste processo, e o aluno é alguém com quem o professor pode e deve contar, resgatando a sua
autoestima e capacidade de aprender. Valores e desejos estão sempre permeando as relações entre as
pessoas; ao conseguirmos não marcar as relações com preconceitos que mascaram todas as
possibilidades de conhecimento real, estaremos abrindo um campo interativo entre nosso aluno e todo
o grupo que o rodeia.
Neste trabalho buscou-se compreender de que maneira o professor pode ter um papel de agente
motivador e transformador, mediador no ensino e aprendizagem dos estudantes, em um contexto de ensino
de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental. A leitura e a escrita correta foram pauta de um
processo motivacional para produção de textos atrelados ao aspecto visual do Tangram, um tipo de quebra-
cabeça que serviu de material didático para a realização de um projeto da leitura e escrita correta.
Este tipo de quebra cabeça foi encontrado em um repositório de materiais didáticos disponibilizado
no laboratório virtual – Estação Ciência da USP (http://www.ideiasnacaixa.com/laboratoriovirtual/), e
analisado sob o conceito de objetos de aprendizagem (Polsani, 2003, e Willey, 2000), em um processo de
formação, no curso Mídias em Educação, da Universidade Federal de Pelotas. O encantamento por este
objeto de aprendizagem ser trabalhado na Língua Portuguesa foi pela possibilidade de usar a criatividade, o
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Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o problema será, então, fornecer-
lhes constantemente forças e referências intelectuais que lhe permitam compreender o mundo que as
rodeia e comportarem-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que nunca a educação
parece ter, como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento,
discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e
permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino.
No ambiente escolar é importante a parceria entre todos os membros que o compõem, porém é
imprescindível a cooperação entre direção, professores e estudantes pois é mais fácil alcançar resultados
positivos quando há apoio mútuo. A proposta foi de desenvolver um trabalho interdisciplinar, envolvendo os
professores de português, matemática, arte e inglês, oportunizando aos discentes momentos de estudos e
aprendizagem utilizando um mesmo objeto de estudo, o Tangram. Durante as aulas de língua portuguesa fui
percebendo a gravidade dos erros ortográficos, linguagem simplificada, codificada como, por exemplo,
“que” escrito apenas com a letra “k”, palavras abreviadas, com sinais gráficos, símbolos indicando
interpretação, tais como, ( :) ) cara feliz, com animações , como também, “casa” escrita “kza”, “demais”
indicado por “d+”, exemplos que configuram uma linguagem verbal, não-verbal, e mista. A linguagem
verbal é a escrita, ou a falada, para esta não é o caso. A linguagem-não verbal é representada por desenhos, e
a mista é quando ocorre a mistura da linguagem verbal e não verbal, nesse caso é a utilizada pelos estudantes
internautas nas redes sociais. Dessa maneira, surgiu a necessidade de trabalhar a leitura e linguagem escrita
formal explorando recursos adicionais aos materiais didáticos usados tradicionalmente. Neste cenário,
identificou-se que o objeto de aprendizagem TANGRAM poderia apoiar atividades didáticas para o
desenvolvimento da leitura e escrita da Língua Portuguesa.
Neste processo, a indagação permanente foi como despertar no estudante o gosto pela leitura e escrita
correta, tirando partido de uma mídia digital?
A comunicação escrita é uma maneira que o ser humano tem para se comunicar com o mundo,
consigo mesmo e com o seu redor, permitindo assim a linguagem de códigos símbolos e signos linguísticos
ao entendimento, à interpretação e comunicação entre os indivíduos. Nas palavras de Jakobson (2003, p.37),
“falar implica a seleção de certas entidades linguísticas e sua combinação em unidades linguísticas de
mais alto grau de complexidade. Isto se evidencia imediatamente ao nível lexical; quem fala seleciona
palavras e as combina em frases, de acordo com o sistema sintático da língua que utiliza; as frases,
por sua vez, são combinadas em enunciados. Mas o que fala não é de modo algum um agente
completamente livre na sua escolha de palavras: a seleção (exceto nos raros casos de efetivo
neologismo) deve ser feita a partir do repertório lexical que ele próprio e o destinatário da mensagem
possuem em comum”.
A linguagem escrita é um conhecimento linguístico que exige muita atenção e cuidado no momento
de sua execução. Em virtude disso, o aluno sofre reveses no momento de produção textual ao por em prática
a escrita, pois se ele não for bem motivado à leitura diariamente, não vai desenvolver com facilidade o gosto
de ler e interpretar, tão pouco escrever correto. Não conseguirá ser muito criativo, pois uma produção textual
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de qualidade é consequência de processos intensivos de leitura. Quem lê sabe, conhece, escreve bem e
consegue organizar melhor as ideias. Tem facilidade e interpreta com propriedade qualquer situação
aparente e conflituosa.
Este trabalho tem o objetivo de trabalhar habilidades de leitura e produção de escrita através de uma
proposta lúdica, que desperte o gosto pela leitura e explore a criatividade na produção escrita. Com esta
prática didática têm-se o propósito de: inserir atividades de produção de textos com o TANGRAM, que
estimulem para o processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa; Oportunizar ao educando a
produção escrita colocando-o na posição de um ser pensante no processo de ensino aprendizagem do próprio
conhecimento; Tornar a prática pedagógica mais enriquecedora explorando os conhecimentos
interdisciplinares.
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Barros (2012) conta a história “A lenda do Tangram” usando as sete peças do jogo através de uma
dinâmica de adição das palavras-figuras mostrando buscar semelhanças e diferenças na interpretação das
imagens geradas com as peças do Tangram. Ainda fala da importância da história criada e os resultados
obtidos pela associação a palavra-figura, que permitem a autora afirmar que o desenho vale mais do que mil
palavras.
O Tangram é um quebra cabeça composto por sete peças, cinco triângulos, um quadrado e um
paralelogramo (figura 1). Surgiu na China, sendo mais utilizado nos estudos da matemática, por desenvolver
o raciocínio lógico, na geometria, por praticar as relações espaciais e as estratégias de resolução de
problemas, e na arte, pela percepção à forma e à sensibilidade.
Figura 1: O TANGRAM e as figuras que podem ser montadas com suas sete peças.
Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/como-construir-tangram.htm;
http://portalcrescer.blogspot.com.br/2011/02/tangram.html
Quanto ao uso deste objeto de aprendizagem na língua portuguesa visualizou-se uma forma didática e
pedagógica de seu uso nas aulas desta disciplina, do ponto de vista do desenvolvimento da criatividade, do
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estudo da arte e literatura. Sob o olhar da criatividade levaria o estudante a pensar, utilizando sua
inteligência para a capacidade e habilidade conforme ”(PONTY, 1963, p. 120) “mistério da aparição de
alguém na natureza, renovando a cada vez que olhamos” causando a possibilidade de explorar o poder de
discernir, raciocinar sobre o quebra-cabeça sobrepondo-os a indagações, questionamentos associados aos
trabalhos exigidos na língua portuguesa. Aos olhos da arte observariam as formas, movimentos, cores,
linhas, assim submeteriam os estudantes a colocar as imagens dentro de um contexto social e cultural, porém
real. Quanto ao olhar da literatura exploraria a capacidade de ler e bem escrever, a fim de perceberam a
importância do tempo, do conhecimento, do pensar até elaborar o trabalho, portanto esse envolvimento
possibilitaria a valorização de todo fazer pedagógico, percebendo a importância do aprendizado e passando
por um processo de construção no qual eles seriam os protagonistas, os escritores, os autores de suas
próprias criações.
3. Metodologia
A partir desta identificação do jogo TANGRAM como objeto de aprendizagem para uma experiência
interdisciplinar, buscou-se inicialmente solicitar uma reunião com demais professores da instituição de
ensino o qual está inserido este estudo, e a direção da escola, para expor a proposta do projeto Tangram e
convidar os mesmos a participarem, a fim de desenvolver trabalhos interdisciplinares com uma turma da 6º
série de ensino. Nesta reunião descreveu-se aos demais docentes como o projeto Tangram seria trabalhado
interdisciplinarmente nas disciplinas de Língua Portuguesa, Língua Inglesa, Arte e Matemática. Foi exposto
que tal projeto foi pensado a partir de um processo de formação realizado pela autora deste estudo, o curso
de Pós-graduação em Mídias na Educação, o qual, através de uma disciplina, possibilitou o contato e
conhecimento sobre o objeto de aprendizagem ou jogo TANGRAM. Logo, foram apresentados os motivos
de desenvolver um projeto e o porquê da escolha dessa turma, devido a um contato inicial com um docente,
da disciplina de Matemática, o qual considerou a importância desta ideia, especificamente para o estudo dos
polígonos, definindo de imediato pelo início do projeto para abordar tal conteúdo. Como a proposta exigiria
buscar referências através da Internet, a escolha da turma deu-se pelo fato de ser a menor da escola, já que
há limitação no número de computadores no laboratório de informática e pela capacidade limitada dos
mesmos para as pesquisas. A ideia de desenvolver um projeto, tomando como objeto de aprendizagem o
TANGRAM surgiu após trabalhar uma disciplina sobre Objeto de Aprendizagem: Questões Pedagógicas,
Metodológicas e Tecnológicas, onde foi elaborado um pré-projeto sobre a utilidade deste jogo nos estudos
da língua portuguesa. Percebeu-se a riqueza do jogo e a possibilidade de um desafio a ser trabalhado
explorando a criatividade, o imaginário, levando o aluno pensar mais sobre o fazer pedagógico. A intenção
foi de atrair os estudantes pela emoção e envolvê-los com um jogo essencialmente matemático, para as aulas
de português, mas com amplo potencial pedagógico, na tentativa de encantá-los pelo diferente, pelo aspecto
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visual e pelas formas do quebra-cabeça com possibilidades múltiplas de montar imagens, conforme ilustrado
anteriormente na figura 1. Considerando-se, assim, a possibilidade de fazer os estudantes pensar e refletir
quanto à produção de textos, principalmente no momento de criar as histórias e seus personagens.
Foi também explanada a ideia de desenvolver um trabalho de autoria através da produção de um livro
para registrar as histórias produzidas pelos estudantes. Nesta proposta, para cada obra produzida, o estudante
seria o autor e o ilustrador de suas criações e as histórias deveriam ser inéditas e embasadas em outras obras
já publicadas.
- Em Artes, os elementos básicos da linguagem visual, tais como cor, forma, ponto, luz e contraste,
os quais permitem estabelecer relações de composição; A metodologia proposta foi de abordar a leitura de
imagens de forma contextualizada, percebendo relações na produção artística usando o Tangram e suas
condições de produções poéticas. A partir da seleção de imagens do pontilhismo, deve ser realizada uma
leitura das mesmas e iniciada a prática. A proposta de utilização de tinta têmpera constitui-se como meio
para representar e estabelecer relações com a vida, considerando que a imagem torne-se algo real, uma arte
viva.
- Na Língua Portuguesa a criação de textos, considerando à ortografia e coerência das ideias, com o
propósito de fazer o estudante pensar nas obras que irão escrever, pois a exigência não é de apenas criar um
texto, mas acima de tudo criar com a intenção de que sua produção seja uma arte.
A primeira etapa foi de pesquisa na internet sobre a história do TANGRAM, a sua origem e seus
usos e aplicações. Logo, foram desenvolvidas as propostas traçadas em cada disciplina. Em relação ao
trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema e de validar tais
formas de resolução e seus resultados. Na disciplina de Língua Portuguesa, os estudantes selecionaram os
autores que tomariam como referencial para suas histórias, produzindo-as e os próprios TANGRANS.
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A prática foi desenvolvida abarcando em torno de dois meses de aula. Durante a prática proposta na
disciplina de Língua Portuguesa, buscou-se responder as dúvidas que surgiram e oferecer uma orientação
individual na medida em que surgiam as problematizações. Muitas vezes solicitou-se que os textos fossem
refeitos por não estarem com a escrita adequada, ou seja, por conter muitos erros ortográficos, apresentarem
fuga do assunto e pela ausência de uma sequência cronológica. Durante o processo ocorria o
acompanhamento individual, em que a professora efetuava a correção dos textos.
Observou-se que os estudantes já conheciam o Tangram. Sabiam que este jogo era utilizado na
matemática, mas não sabiam que poderia ser utilizado em outras disciplinas, principalmente na língua
portuguesa. Para eles, essa seria uma primeira experiência. Os estudantes pesquisaram na internet a história
do Tangram, a sua origem e como se dão seus usos e aplicações. Acessaram sites de jogos interativos
informados pela página do Google e tiveram a oportunidade de interagir com mais de mil imagens formadas
com as sete peças do jogo. Cada aluno escolhia as imagens que desejassem e iam formando encaixes entre
as peças, até gerar tal imagem. A partir disso orientava-se para que observassem as imagens e visualizassem-
nas como parte de uma história.
Para isso foi necessário à utilização de vários recursos, através da internet como fonte para obter o
conhecimento da história do mesmo, conforme ilustrado na figura 2. Foi assim reconhecida a prática do jogo
utilizando as peças para a montagem e desmontagem de imagens de pessoas (ao centro e à direita da figura
2), objetos, animais, números, letras e diversas figuras.
Na quinta aula, foram disponibilizados livros de leitura e literatura infantil para que os estudantes
manuseassem e escolhessem um autor(a) que tomariam como referencial para suas histórias (à esquerda da
figura 3). Isso ocorreu em vários momentos, pois ao ler se davam conta de que não gostavam e trocavam por
outro até estarem satisfeitos com a escolha.
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Quanto à seleção do gênero ficou a livre escolha respeitando a habilidade e preferência de cada
estudante. A maioria decidiu entre o narrativo e o poético.
A etapa mais demorada, mais difícil e que levou mais tempo foi a produção das histórias (ao centro
da figura 3), a qual era necessária atenção especial ao aluno devido às dúvidas que surgiam durante a
produção ou porque diziam estar sem ideias.
Muitas vezes era solicitado para que refizessem e repensassem sobre a produção, isso então
provocava certos conflitos. Aos poucos foram entendendo e desenvolvendo com mais ânimo. Este processo
exigiu dos estudantes muita disciplina, e paciência. A turma por ser heterogênica, possuía, por um lado,
alunos compreensivos, prestativos e muito dedicados e completamente envolvidos com essa atividade. Por
outro, estudantes com dificuldades de aprendizagem que se dispersavam com conversas e atitudes
comportamentais impróprias, interferindo muitas vezes no andamento das aulas. Alguns estudantes
considerados especiais, segundo laudos médicos, exigiam atenção redobrada. Embora dificuldades e certas
limitações, todos produziram suas obras.
Para a confecção do livro de histórias, a grande maioria produziu os Tangrans (à direita da figura 3),
necessários para montar na sequência os seus personagens. Representavam o traçado do quadrado, usando o
papel quadriculado, pintavam com lápis de cor ou canetinhas hidrocor e em seguida recortavam as peças e
deixavam reservadas para representar as personagens. Esta fase se desenvolveu em várias aulas. Para os
alunos com mais dificuldades foi oferecido cópias impressas do Tangram.
Cada aluno foi autor e ilustrador de seu livrinho (à esquerda da Figura 4). Todos trabalharam com
folhas de desenho e montaram os livros parte a parte, folha a folha, como ilustrado ao centro da figura 4.
Cada livro foi composto por uma parte escrita e outra ilustrada (á direita da figura 4). Nem todos
aguardavam pela orientação e iam produzindo a sua maneira, de forma intuitiva. Devido a isso, muitas vezes
o processo precisou ser repetido, mas foi importante terem a iniciativa, considerando-se que, quando
necessário, refaziam as páginas do livro.
Figura 4: Etapa de produção de um livro por cada estudante, que registra a história criada com o TANGRAM.
Fonte: Elaboração da autora, 2012.
Um fato inesperado e inusitado aconteceu durante a prática das atividades. Antes de dar início à
confecção do livrinho, as histórias ainda nem estavam bem elaboradas, porém alguns estudantes já tinham
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em mente o que iam desenvolver. Estes estavam tomados pela emoção e entusiasmo em produzir a sua
própria obra, e assim preferiram começar pela capa do livro. Por instantes buscou-se reestabelecer a
proposta traçada para a atividade, na qual, pela sequência lógica dos fatos, não deveria iniciar pela
confecção da capa. Houve dessa maneira a preocupação de que os estudantes estariam dando maior
importância à aparência do trabalho e menos valorização ao conteúdo. Frente a este fato, foi concedida
autorização a esta solicitação. Avaliou-se por manter, naquele momento, a motivação, a harmonia e
desenvolver o devido acompanhamento. Em duplas, ou pequenos grupos, cada um estava envolvido com o
trabalho. Observavam os cuidados com a escolha dos tipos de papéis, tais como de dobradura, camurça,
crepom, as canetinhas hidrocor, cola brilho, folhas de desenho e demais materiais utilizados para a
confecção da capa. Para que não houvesse ruptura com a proposta traçada, nem divergências quanto ao
andamento da prática, considerou-se a dinâmica estabelecida naquele momento e deixou-se a imaginação
fluir, porém intervindo nos momentos necessários.
Segundo o relato da professora de língua estrangeira, em suas aulas, no projeto com o Tangram,
trabalhou-se basicamente a produção escrita, a criatividade ao desenhar as formas geométricas, a utilização
das cores para colorir os objetos desenhados como os polígonos, conforme ilustrado à esquerda e ao centro
da figura 5.
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Para avaliar a proposta didática, foram realizadas entrevistas com questões do tipo aberta, as quais
visaram registrar as percepções dos estudantes, e aplicado um questionário, o qual se caracterizou por
questões fechadas, neste caso admitindo como respostas „sim‟ ou „não‟, assinando respostas objetivas a
respeito do trabalho desenvolvido sobre este projeto, e ainda, solicitando-se comentários adicionais quanto à
questão.
4. Resultados e Discussão
Durante a prática percebeu-se o interesse e encantamento dos estudantes por vivenciarem outras
técnicas juntamente com o Tangram.
Quanto ao trabalho coletivo foi possível verificar diversas maneiras de resolver um mesmo problema
e de validar tais formas de resolução e seus resultados. O interesse e empenho dos alunos estimulou o
processo de criatividade nos mesmos.
Através da análise sobre respostas obtidas em entrevista e questionário aplicado aos estudantes,
avaliaram-se os resultados da investigação sobre a questão problema que teve como objetivo a aplicação de
uma prática didática de produção de textos através de atividades com o Tangram, visando estimular para o
processo de ensino aprendizagem da Língua Portuguesa. Como resposta a primeira questão relativa a
importância do uso do Tangram na interdisciplinaridade, todos responderam positivamente destacando a
importância do trabalho desenvolvido entre várias disciplinas, língua portuguesa, inglês, arte e matemática,
usando o Tangram. Os estudantes questionados destacaram que aprenderam mais em comparação as aulas
dadas de maneira tradicional e os conteúdos se tornaram mais significativos, o que possibilitou memorizá-
los com mais facilidade através da produção realizada com o jogo, recortando as peças, observando o
formato e tamanho de cada uma delas, colorindo-as e montando as figuras conforme as instruções de cada
professor dentro de sua disciplina. Os estudantes contaram que esse aprendizado interdisciplinar
possibilitou o conhecimento sobre o estudo dos polígonos nas aulas de matemática (a esquerda da figura 6)
para o aprendizado de geometria, os quais eram construídos a cada aula. Em seguida, passaram a representar
letras e posteriormente figuras mais elaboradas, ou seja, de imagens humanas, (ao centro da figura 6),
animais (a direita da figura 6) e de outros objetos mais complexos. Foi estimulado o uso do raciocínio lógico
e a percepção quanto às formas e possibilidades de construir diferentes tipos de figuras.
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Quanto ao ensino da língua inglesa os estudantes apontaram que foi possível aprender como escrever
e ler os nomes dos polígonos e de linhas curvas, sinuosas, retas e etc., das cores e das imagens explorando os
conhecimentos da língua estrangeira.
A importância deste trabalho foi levar o estudante perceber a importância de ler e utilizar a escrita
correta quando se trata da linguagem formal e a importância que deve ser dada no ato de escrever. Através
deste conhecimento interagiram se envolvendo no trabalho de forma que se sentiram autores protagonizando
a própria obra de arte.
O Tangram no ensino da língua portuguesa foi visto como um recurso envolvente para que servisse
como apoio didático, lúdico e pedagógico para inspirar o discente quanto à criatividade e liberdade do
imaginário na elaboração dos textos (figura 7, à esquerda), na ilustração das personagens (figura 7, ao
centro) e montagem do livrinho (figura 7, à direita).
O jogo TANGRAM e a proposta didática foram vistos pelos estudantes como um recurso
pedagógico para a construção do conhecimento de maneira lúdica e interativa, desenvolvendo assim o
raciocínio lógico, a percepção e o equilíbrio. Observou-se que os estudantes estiveram concentrados e ativos
durante todo o processo e a cada instante deste.
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5. Considerações finais
A proposta deste trabalho foi de utilização das sete peças do Tangram como objeto de estudo para a
produção de textos na Língua Portuguesa e aquisição de conhecimentos interdisciplinares. Em relação às
situações didáticas propostas com o jogo, destacam-se, principalmente a diversidade e possibilidades que
são proporcionadas na montagem das imagens, formando figuras ilustrativas e tecendo formas concretas.
Tornando possível a personificação das personagens dos textos produzidos pelos estudantes.
Agradecimentos
Agradecemos à Direção da Escola Perpétuo Socorro, RS, por não medir esforços, dando total apoio
para que as atividades se concretizassem com sucesso.
Todos os colegas professores que de alguma forma também contribuíram para a realização deste
trabalho. Em especial às professoras Naídes, Maria Luisa e Claudia pela parceria, cooperação e
compreensão durante todo processo de aplicação, pois foram imprescindíveis no desenvolvimento dos
trabalhos nesta nova experiência. Aos alunos do 6º ano por aceitarem um novo desafio encarando tudo com
carinho e atenção oportunizando a aplicação desta pesquisa de formação no curso de Mídias na Educação.
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