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MINISTÉRIO DA FAZENDA

Secretaria de Acompanhamento Econômico


Coordenação-Geral de Transportes, Infraestrutura Urbana e Recursos Naturais

Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº. 288/COGTR/SEAE/MF

Brasília, 02 de outubro de 2017

Assunto: Audiência Pública nº 011/2017 da


Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT), com o objetivo de tornar público e obter
contribuições para o aprimoramento da proposta de
Resolução sobre a exploração de projetos
associados pelas concessionárias de serviço
público de transporte ferroviário de cargas.

Acesso: Público.

1. Introdução

1. A Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae/MF)


apresenta, por meio deste parecer, considerações sobre a matéria disposta na Audiência Pública nº
011/2017, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), relacionados à proposta de
aprimoramento da proposta de Resolução sobre a exploração de projetos associados pelas
concessionárias de serviço público de transporte ferroviário de cargas.

2. A mencionada audiência pública tem o objetivo receber contribuições para o


aprimoramento da Minuta de Resolução contendo proposta de regulamentação da exploração de
projetos associados.

3. A análise constante deste Parecer, em razão das competências institucionais da Seae, nos
termos do art. 19 da Lei nº. 12.529, de 30 de novembro de 2011 e no art. 42, Anexo I do Decreto
nº. 9.003, de 13 de março de 2017, foca-se nos aspectos regulatórios e concorrenciais.

2. Da Contextualização da Proposta de Audiência Pública

5. A Audiência Pública ANTT nº 011/2017 tem como objetivo submeter à discussão pública
a proposta de Resolução que propõe a regulamentação dos procedimentos necessários à exploração
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

dos projetos associados pelas concessionárias de serviço público de transporte ferroviário de


cargas, incluindo as etapas de solicitação de autorização da ANTT, fixação de percentuais de
participação do Poder Público, procedimentos para recolhimento aos cofres públicos e reversão à
modicidade tarifária, em atendimento aos disposto no art. 11 da Lei nº. 8.987, de 13 de fevereiro
de 1995, que dispões sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos
previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências.

6. O assunto foi inicialmente trazido à discussão pela ANTT por meio da Consulta Pública nº.
002/2014, realizada nos meses de novembro e dezembro de 2014. Naquela ocasião, a Seae
manifestou-se por meio do Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº.
340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de dezembro de 2014, que apresentou as considerações sobre a
minuta de Resolução proposta pela ANTT, sugerindo que a ANTT:

i) Verificasse a adequação da minuta de resolução proposta aos preceitos contidos no art.


11 da Lei nº. 8.987/1995, sobretudo no que concerne à modicidade tarifária e à
estimativa dos efeitos decorrentes da obtenção de receitas alternativas, sobre o
equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de concessão ferroviária;
ii) Consultasse a Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda e a Secretaria
de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento a respeito da compatibilidade
entre a estrutura de recolhimento das receitas alternativas ao Poder Concedente e o rito
próprio do processo orçamentário;
iii) Observasse que dispensa de autorização prévia, prevista no art. 6º da minuta de
resolução proposta não invalidaria a adoção de procedimentos de fiscalização para
evitar eventuais práticas de fragmentação de projetos associados de exploração de
atividades econômicas;
iv) Apresentasse os estudos pormenorizados acerca dos projetos associados às concessões
ferroviárias existentes, para que, consideradas as características das atividades
econômicas exploradas e o volume de receitas delas procedentes, compreenda-se em
que medida a obtenção de receitas alternativas por parte das concessionárias do serviço
público de transporte ferroviário de cargas poderá favorecer, efetivamente, a
modicidade tarifária, em atendimento ao art. 11 da Lei nº. 8.987/1995.

7. A ANTT informa na Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER, de 09 de junho de 2017,


que o assunto, inicialmente previsto na Agenda Regulatória 2015/2016, foi postergado, em razão
da limitação de recursos humanos para execução dos projetos, razão pela qual a Superintendência
Ferroviária – SUFER, não deu andamento à tramitação da proposta de resolução sobre Receitas
Alternativas (Item 2.4, fl. 02) objeto da Consulta Pública nº. 002/2014, destacando-se que as
contribuições apresentadas naquela ocasião fossem consideradas quando da retomada do assunto
pela ANTT (Item 2.5, fl. 02).

8. Posteriormente, em março de 2017, em razão de manifestação da Auditoria Interna da


ANTT, que ressaltou a necessidade de proposição de normativo sobre receitas alternativas, tendo
sido o assunto, inclusive objeto de Acórdão do TCU, a Superintendência Ferroviária retomou a
proposta de regulamentação de receitas alternativas aplicáveis aos contratos de concessão
ferroviária, por meio do Despacho nº. 0559, de 14/03/2017 (Item 2.7 da Nota Técnica nº.
020/2017/GEAFI/GEFER, fl. 03).

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Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

9. Nesse contexto, por entender a necessidade de regulamentação de receitas alternativas, de


forma a atender o art. 11 da Lei nº. 8.987/1995 e aos contratos de concessão1, a ANTT propõe
proposta de Resolução sobre a exploração de projetos associados pelas concessionárias de serviços
públicos de transporte ferroviário de cargas, por meio da Audiência Pública ANTT nº.011/2017.

3. Da Proposta Apresentada

10. Após os estudos realizados sobre a matéria, a ANTT entendeu que a proposta a ser
apresentada deveria abranger, no mínimo os seguintes aspectos (Item 5.1 da Nota Técnica nº.
020/2017/GEAFI/SUFER, fl. 07):

i) Definição do conceito de “Projeto Associado” e “Receita Alternativa Líquida”;


ii) Universo dos contratos de concessão abrangidos pela norma;
iii) Casos de exigência de autorização prévia para a exploração de projetos associados;
iv) Fixação do percentual de participação do Poder Público sobre a Receita Alternativa
Líquida;
v) Fixação de um valor de referência para recolhimento aos cofres públicos em parcela
única ou em parcelas mensais (pelo regime de competência);
vi) Distribuição do valor devido ao Poder Público entre os órgãos e entidades
beneficiárias do crédito; e
vii) Fixação de percentual a ser revertido à modicidade tarifária.

11. A ANTT procedeu à definição do Conceito de Projeto Associado, como sendo “a atividade
decorrente de prestação de serviço que enseja o recebimento pelas concessionárias, de receitas
diversas daquelas provenientes do frete ferroviário, operações acessórias, tráfego mútuo ou
direito de passagem” (Item 4.4 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/GEFER, fl. 05). Quanto ao
conceito de Receita Alternativa Líquida, a ANTT propôs o conceito de “receita total proveniente
de projetos associados, deduzida dos tributos que incidem sobre essa receita” (Item 5.2.2 da Nota
Técnica 020/GEAFI/SUFER, fl. 07).

12. Quanto ao universo dos contratos a serem abrangidos pela norma, entendeu a ANTT que a
proposta de regulamentação deve ser abrangente para todos os contratos, inclusive para aqueles
que não possuam cláusula expressa de previsão de exploração de projetos associados, em razão do
disposto no art. 11 da Lei 8.987/1995 (Item 5.3.1 da Nota Técnica 020/GEAFI/SUFER, fl. 08). A
ANTT destaca ainda um conceito econômico relevante, no sentido de se criar incentivos para a
produção de receitas alternativas mediante a repartição da receita entre o concessionário

1
Além da possibilidade de exploração de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares ou
acessórias, com vistas a favorecer a modicidade tarifária, prevista no art. 11 da Lei nº. 8.987/1995, os contratos de
concessão das malhas oriundas da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) e aqueles formalizadas entre o Poder
Concedente e a VALEC possuem cláusulas que permitem a exploração de projetos associados. Ressalte-se que existem
outros contratos (oriundos da malha ferroviária da mineradora Vale (Estrada de Ferro Vitória a Minas e Estrada de
Ferro dos Carajás) e da Ferronorte, atualmente denominado Rumo Malha Norte) que não preveem explicitamente a
exploração de projetos associados, mas por força do art. 11 da Lei nº. 8.987/1995 igualmente necessitam de
regulamentação de receitas alternativas.

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Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

(delegatário) e a aplicação na modicidade tarifária2. Nesse caso, caberá à regulamentação proposta


definir o percentual das receitas extraordinárias cabível ao concessionário (delegatário) e à
modicidade tarifária, respectivamente (Item 5.3.2 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER,
fl. 08). Informa ainda a ANTT que o referido entendimento encontra-se lastreado em manifestação
do Tribunal de Contas da União – TCU, por meio do Acórdão 393/2002, relativo a concessões
rodoviárias, que conclui que “...... se a obtenção dessas acessórias não trouxer nenhum ganho para
as concessionárias e, portanto, não for buscada no mercado, consequentemente não haverá
redução na tarifa de pedágio, isto é, estará sendo inibida uma fonte de recursos que tornaria
possível a redução das tarifas.” (Item 5.3.3 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER, fl. 09).

13. Da análise do conceito econômico proposto para as receitas alternativas oriundas dos
projetos associados, verifica-se que a proposta de regulamentação encontra-se alinhada às boas
práticas regulatórias, na medida em que cria incentivos econômicos ao delegatário
(concessionário), atribuindo-lhe parcela da receita como incentivo à geração de projetos
associados, sendo a parcela remanescente destinada à modicidade tarifária.

14. Quanto aos casos de exigência de autorização prévia para a exploração de projetos
associados, a ANTT esclarece que, como regra geral, todos os contratos firmados pelas
concessionárias com terceiros devem ser submetidos previamente à anuência da ANTT3. No
entanto, aquela Agência Reguladora ressalva que a maioria dos contratos firmados são de pequenos
valores e não representam qualquer impacto na continuidade da prestação do serviço de transporte
ferroviário.

15. A ANTT esclarece que o foco da atividade de autorização de projetos associados deve se
direcionar à avaliação de eventuais efeitos na continuidade da prestação do serviço público de
transporte ferroviário, razão pela qual incluiu na proposta de regulamentação sob análise (Capítulo
II – art. 5ª a 8º) a obrigatoriedade de autorização prévia daquela agência reguladora apenas para
os casos de atividades/contratos (locação, cessão ou transferência, a qualquer título) que envolvam
material rodante, armazéns e terminais, oficinas e pátios, por se constituírem em bens com
potencial impactante na continuidade da prestação do serviço de transporte.

16. Usualmente, os processos de autorização são numerosos, em razão da extensão da malha


ferroviária, e envolvem análise a avaliação de um número considerável de documentos, o que
demanda recursos significativos da Agência Reguladora e usualmente traz morosidade ao processo
de autorização. Nesse contexto, o mecanismo proposto de restrição do requisito de análise prévia
somente para os projetos que tenham efeitos potenciais na continuidade da prestação do serviço
público de transporte ferroviário, tem o potencial de agilizar o processo de autorização de projetos
associados e reduzir os custos regulatórios correspondentes, sem prejuízos aparentes à regulação.
No entanto, ressalta-se a necessidade de encaminhamento periódico pelas concessionárias à ANTT

2
Machado, Critiane Lucidi. Receitas Alternativas, Complementares, Acessórias e de Projetos Especiais nas
Concessões de Serviços Públicos: Exegese do art. 11 da Lei nº. 8.987/95. R. de Dir Público da Economia – RDPE,
Belo Horizonte, ano 2, n. 7, p.97-107, jul./set. 2004.
3
O fundamento desse entendimentos, de acordo com a ANTT, estaria na tutela do Poder Concedente sobre o serviço
público de transporte concedido, de forma a se evitar a destinação diversa dos bens associados à concessão, em
prejuízo à continuidade do serviço público (Item 5.4.2 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER, FL. 09).

4
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

da relação de todos os projetos autorizados pelo mecanismo proposto de dispensa de autorização


prévia e a adoção, pela ANTT, de procedimentos de fiscalização periódicos de todo o universo de
projetos associados, de forma a evitar eventuais práticas de fragmentação de projetos associados
de exploração de atividades econômicas4.

17. Relativamente à fixação de percentual de participação do Poder Público sobre a receita


alternativa, a ANTT esclarece que a maioria dos contratos (oriundos da malha da extinta Rede
Ferroviária Federal S.A. – RFFSA) estabelecem um intervalo entre 3% (três por cento) e 10% (dez
por cento) de participação, ficando a cargo da ANTT, em cada caso, a fixação de percentual em
razão da natureza e rentabilidade da atividade. Os contratos de concessão firmados com a VALEC
(Ferrovia Norte-Sul – FNS e Ferrovia Integração Oeste-Leste - FIOL), por sua vez, adotam o
percentual fixo de 7% (sete por cento). Finalmente, para os demais contratos de concessão (Estrada
de Ferro Vitória a Minas – EFVM, Estrada de Ferro dos Carajás – EFC, Rumo Malha Norte e
Ferroeste)5, pelo fato de não possuírem bens arrendados do Poder Público, não há a previsão de
participação do Poder Público sobre essas receitas.

18. A ANTT relata a existência de dificuldades técnico operacionais na verificação da


rentabilidade de cada projeto associado (Item 5.5.2 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER,
fl. 10), razão pela qual defende a utilização de percentual único, baseado em critério técnico, que
também teria o efeito de diminuir a incerteza da concessionária quanto aos valores a serem exigidos
pela ANTT e a discricionariedade da Administração Pública. Nesse contexto, a ANTT reconhece
uma analogia entre o valor de outorga e o valor de repasse associado à exploração de determinado
projeto associado (in verbis):

“ ......

5.5.16 Nessa linha, pode-se facilmente perceber a similaridade entre o valor


de outorga exigido pelo Poder Público ao conceder ao privado o direito de
explorar determinado serviço público, com o valor de repasse exigido pelo
Poder Público ao permitir à concessionária o direito de explorar
determinado projeto associado.

5.5.17 Em ambos os casos o que está em discussão é o quantum se exigir do


agente provado para que ele possa explorar determinado serviço, serviço
esse que somente existe pelo fato desse agente privado deter ou possuir o
monopólio de exploração do bem público. O bem público, no caso, é o
sistema ferroviário, do qual fazem parte, dentre outros, suas vias férreas,
instalações, oficinas e faixa de domínio.

5.5.18 Ao se constatar tamanha semelhança entre o valor de outorga e o valor


do repasse, nada mais razoável que valer-se das informações resultantes do
cálculo do valor de outorga para apurar o valor de repasse exigido para a
exploração dos projetos associados.

4
Recomendação constante do Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº. 340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de
dezembro de 2014, no contexto da Consulta Pública nº. 002/2014.
5
Esse grupo de concessões foi constituído apenas com os bens próprios das concessões.
5
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

5.5.19 Como o valor de repasse corresponde a um percentual das receitas


operacionais líquidas decorrentes da exploração de projetos associados,
pode-se calculá-lo a partir do quociente entre o valor da outorga exigido e
as receitas operacionais líquidas estimadas para uma determinada
concessão de serviço público de transporte ferroviário de cargas.

......”

19. A ANTT informa que utilizou como base para proceder ao cálculo o valor da outorga
exigido para a prorrogação do contrato de concessão da ALLMP6, cujo proposta de prorrogação
foi submetida à Audiência Pública ANTT nº. 010/2016. A metodologia proposta para o cálculo da
parcela da receita alternativa exigida das concessionárias para a exploração de projetos associados
adota a razão entre o somatório do valor presente líquido: i) das despesas com parcelas de
arrendamento; ii) parcelas de outorga; iii) parcelas de concessão e o valor presente líquido da
receita operacional líquida (Item 5.5.21 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER, fl. 14).

20. A partir da utilização dos números da modelagem adotada para a ALLMP/RMP, a ANTT
informa ter encontrado um percentual de repasse de 8,5%. Dessa forma, com base na metodologia
proposta, baseada na mencionada proposta de similaridade conceitual entre o valor de outorga e o
valor de repasse, a ANTT propõe que se utilize o percentual único de 8,5% para os contratos em
que há a previsão de repasse ao Poder Público entre 3% e 10% das receitas alternativas, mantendo-
se o percentual de 7% para os contratos em que esse valor foi fixado, nos termos do Inciso I do §
1º do art. 9º (Capítulo III) da minuta de Resolução proposta.

21. Quanto à fixação de um valor de referência para o recolhimento aos cofres públicos em
parcela única ou em parcelas mensais (pelo regime de competência), a ANTT relata que uma
parcela significativa dos contratos de projetos associados envolve valores muito baixos, o que
requer do agente regulador e das próprias concessionárias custos de acompanhamento, controle e
fiscalização. A ANTT informa que, com base em amostra contendo 311 registros de contratos de
projetos associados específicos de uma determinada Concessionária7, disponíveis nos controles
internos daquela agência reguladora, constatou que 80% desses contratos envolvem valores
relativamente pequenos, com valor total de até R$ 430.000,00 (quatrocentos e trinta mil reais), cujo
somatório representa apenas 8% do total de recursos envolvidos (valores devidamente atualizados
até fevereiro/2017).

22. Com isso, a ANTT propõe estabelecer como valor referencial de corte para fins de
recolhimento em parcela única o valor total de contratos até R$ 430.000,00, de modo que o
recolhimento ao Poder Público para os contratos com valores totais inferiores a R$ 430.000,00
sejam realizados em uma única parcela no início da vigência do contrato, enquanto que para os
contratos com valores totais superiores ao limite estabelecido, o recolhimento ao Poder Público
deve ser efetivado mensalmente, observado o regime de competência das receitas correspondentes,
nos termos do art. 9º da minuta de Resolução proposta.

6
Sigla anteriormente adotada para a Concessionária América Latina Logística Malha Paulista, atualmente denominada
Rumo Malha Paulista – RMP.
7
Concessionária MRS Logística S.A. (Item 5.6.2 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER, fl. 15).
6
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

23. Da análise do mérito da proposta, observa-se que a analogia entre o valor de outorga da
concessão e os valores de repasse associado à exploração de projetos associados deve ser utilizado
com cautela. Conceitualmente, o valor de outorga é usualmente resultante do Valor Presente do
Fluxo de Caixa Descontado da Concessão adotado da modelagem utilizada, que utiliza as
estimativas de todas as receitas brutas e os respectivos custos associados à prestação do serviço.
Já a proposta apresentada pela ANTT para o cálculo do percentual de repasse da receita decorrente
de projetos associados, que propõe uma analogia com a metodologia adotada no cálculo da outorga,
utiliza o conceito de receitas operacionais líquidas8, conforme se observa no Item 5.5.19 da Nota
Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER (fl. 13), razão pela qual sugere-se que a ANTT proceda à
avaliação do efeito da diferença conceitual das receitas na analogia proposta.

24. Adicionalmente, a utilização do Valor de Outorga dos Estudos de Modelagem da


ALLMP/RMP como referência para balizar a metodologia de analogia proposta pode trazer
incongruências ou distorções, visto que naquela modelagem não foram considerados todos os
investimentos necessários ao pleno atendimento da demanda durante o período da concessão,
aspecto que foi objeto de considerações da Seae, por meio do Parecer Analítico sobre Regras
Regulatórias nº. 46/COGTL/SEAE/MF, de 03 de março de 2017, por ocasião da análise da
documentação da Audiência Pública ANTT nº. 010/2016 (in verbis):

“......

4. Conclusão

97. Este parecer apresentou considerações sobre os Documentos Jurídicos e


Estudos Técnicos referentes à proposta de prorrogação do prazo de vigência
contratual da concessionária América Latina Logística Malha Paulista S.A..
Dessa forma, visando o aperfeiçoamento da matéria, a Seae sugere, em síntese,
que a ANTT:

......

ix) Proceda à mensuração dos investimentos vinculados à demanda


potencialmente necessários durante o prazo de vigência da concessão a ser
prorrogada e avalie mecanismos alternativos que permitam incluir parcela
significativa desses investimentos na categoria de investimentos obrigatórios, a
exemplo do descrito no item 73 deste Parecer, de forma a se evitar dificuldades
na regulação dos investimentos no médio e longo prazos da vigência do contrato
a ser prorrogado;

x) Reavalie o nível de saturação de rede e o respectivo prazo de caracterização


requerido para a realização de novos investimentos não obrigatórios para o
aumento de capacidade, de forma a permitir a manutenção de condições
operacionais e concorrenciais mínimas;

8
O Item 5.2.4 da Nota Técnica 020/2017/GEAFI/SUFER (fl. 08) menciona o conceito de receita líquida como sendo
a receita bruta, subtraída dos abatimentos concedidos e dos impostos.
7
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

......”

25. Nesse contexto, sugere-se à ANTT avaliar a possibilidade de se utilizar os dados da


modelagem de cada uma das concessões, realizadas pelo BNDES à época das desestatizações.

26. Quanto à amostra contendo 311 registros de contratos de projetos associados específicos de
uma determinada Concessionária, utilizados para dimensionar os valores de corte para fins de
recolhimento da parcela única ao Poder Concedente, observa-se que se refere a uma única
concessionária, razão pela qual se recomenda que a ANTT avalie a possibilidade de utilizar
uma amostra mais abrangente e representativa do universo de concessionárias de ferrovias.
Registre-se que esta recomendação encontra-se alinhada com sugestão constante do Inciso “iv” do
Item 19 do Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº. 340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de
dezembro de 2014, contendo manifestação da Seae acerca da Consulta Pública ANTT nº.
002/20149 (in verbis):

“ ......

Conclusão

19. O presente parecer teceu considerações sobre a minuta de


resolução que dispõe sobre a exploração de projetos associados pelas
concessionárias de serviço público de transporte ferroviário. Diante do
exposto, visando o aperfeiçoamento da matéria, sugere-se, em síntese,
que a ANTT:

......

(iv) Apresente estudos pormenorizados acerca dos projetos associados


às concessões ferroviárias existentes, para que, consideradas as
características das atividades econômicas exploradas e o volume de
receitas delas procedentes, compreenda-se em que medida a obtenção
de receitas alternativas por parte das concessionárias do serviço
público de transporte ferroviário de cargas poderá favorecer,
efetivamente, a modicidade tarifária, em atendimento ao art. 11 da lei
nº 8.987/1995.”

27. Relativamente à distribuição do valor devido ao Poder Público entre os órgãos e entidades
beneficiárias do crédito, a minuta de resolução propõe nos § 3º e § 4º do art. 9º a distribuição de
valores em consonância com o estabelecido nos respectivos contratos de concessão, por meio de
Guia de Recolhimento da União, ressalvando-se que para aqueles contratos em que a RFFSA

9
Consulta Pública ANTT nº. 002/2014: Proposta de exploração de atividades geradoras de receitas alternativas por
concessionárias do serviço público de transporte ferroviário de cargas.

8
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

figurava como destinatária dos recursos a serem repassados, o repasse deverá ser feito para a União
(Tesouro Nacional), em razão da extinção daquela empresa pública10.

28. Observa-se que o procedimento proposto encontra-se alinhado às regras contratuais e a


legislação vigente, ressalvando-se a sugestão de consulta à Secretaria do Tesouro Nacional do
Ministério da Fazenda e a Secretaria do Orçamento Federal do Ministério do Planejamento acerca
da compatibilidade entre a estrutura de recolhimento das receitas alternativas ao Poder Concedente
e o rito próprio do processo orçamentário, constante do Inciso “iii” do Item 19 do Parecer Analítico
sobre Regras Regulatórias nº. 340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de dezembro de 2014, relativo à
Consulta Pública ANTT nº. 002/2014.

29. Finalmente, quanto ao percentual a ser revertido à modicidade tarifária, em consonância


com o art. 11 da Lei nº. 8.987/95, a ANTT relata (Item 5.8.1 da Nota Técnica nº.
20/2017/GEAFI/SUFER, fls. 17 e 18) manifestação de sua Procuradoria-Geral11 que conclui pela
obrigatoriedade de reversão de parcela das receitas alternativas à modicidade tarifária (in verbis):

“ ......

Nosso entendimento é de que a discricionariedade na aplicação do Art. 11


da Lei nº 8.987/95 se resume ao Poder Concedente Poder (sic) prever ou
não outras fontes de receitas alternativas; no entanto, caso haja tal
previsão, parte das receitas alternativas tem necessariamente de ser
revertida à modicidade tarifária.

...... “

30. Com vistas a buscar um mecanismo efetivo de aplicação do princípio do art. 11 da Lei
8.987/95 aos contratos de concessão ferroviária, a ANTT propõe (Item 5.8.3 da Nota Técnica nº.
20/2017/GEAFI/SUFER, fl. 20) uma regra para a reversão de parte das receias alternativas à
modicidade tarifária por ocasião da revisão tarifária, adotando-se o percentual de 28% sobre a
receita alternativa bruta gerada. Ressalte-se que o percentual de 28% proposto foi obtido a partir
de uma simulação de rentabilidade presumida de uma atividade geradora de receita alternativa,
apresentada no Item 5.8.3 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fls. 20-21) que considera,
de forma implícita, uma apropriação de 50% do resultado líquido pelas concessionárias.

10
A ANTT informa (Item 5.7.3 da Nota Técnica nº. 20/201, fl. 17) que este entendimento encontra-se consubstanciado
no Parecer nº. 00419/2017/PF-ANTT/PGF/AGU, de 15/02/2017, não disponibilizado dentre os documentos da
Audiência Pública.
11
Nota Técnica 042/SUREG, de 2013 e Parecer /ANTT/PRG/CAH/nº. 0461-3.3.5/2010, documentos não
disponibilizados dentre os documentos da Audiência Pública.
9
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

Tabela 01 – Simulação de Rentabilidade Presumida de Exploração de Projetos Associados

Fonte: Item 5.8.3 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fl. 21)

31. Observa-se que as premissas adotadas para a proposta de percentual da receita alternativa
para reversão à modicidade tarifária estão alinhadas com as boas práticas regulatórias, na medida
em que preveem incentivos econômicos ao concessionário de forma a motivá-lo a buscar fontes
alternativas de receitas, com parcela remanescente da receita reversível à modicidade tarifária.
Quanto ao mecanismo de reversão proposto (por ocasião da revisão tarifária), parece adequado,
ante as restrições impostas pelo modelo tarifário de tarifas-teto, salientando-se que o mecanismo
proposto será tão mais eficiente, na medida em que os tetos tarifários estejam devidamente
atualizados (calibrados), de modo a refletir as condições reais da operação ferroviária.

32. Ressalte-se que em razão do mecanismo de tarifação por teto tarifário, não há garantia de
repasse pleno da parcela decorrente da receita alternativa (28% sobre a receita alternativa bruta) às
tarifas efetivamente cobradas do usuário. Tal constatação, no entanto, constitui-se em uma
limitação intrínseca associado ao modelo tarifário, não se caracterizando como uma falha na
regulação.

33. Quanto à simulação de rentabilidade presumida, a proposta desconsidera a existência de


custos associados. No entanto, observa-se que usualmente as receitas derivadas de projetos
associados têm um custo associado da concessionária (gestão administrativa, controle, etc), razão
pela qual sugere-se que a ANTT avalie a adequação da premissa adotada.

34. Finalmente, a ANTT informa ter realizado a Análise de Impacto Regulatório – AIR, tendo
sido realizadas análises referentes a 05 (cinco) alternativas regulatórias12, que resultou na

12
As alternativas analisadas encontram-se relacionadas no Item 6.1 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fl.
22).

10
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

proposição da Minuta de Resolução submetida à Audiência Pública ANTT nº. 11/2017, que, em
síntese, apresenta as seguintes características13:

- Uniformização de percentuais de recolhimento de 8,5% da receita alternativa líquida para os


contratos que possuem previsão de recolhimento entre 3% e 10%, ou de 7% para os contratos que
possuem esta previsão;

- Distribuição dos valores, a título de participação sobre receitas alternativas, entre União, DNIT,
ANTT e Valec, conforme estipulado em cada contrato de concessão;

- Exigência de autorização prévia da ANTT apenas para projetos associados que envolvam bens da
concessão cuja utilização represente, potencialmente, impactos na prestação do serviço público de
transporte ferroviário;

- Recolhimento aos cofres públicos em parcela única para os contratos cujo valor total envolvido
não supere R$ 430.000,00;

- Fixação de percentual de percentual de reversão da receita alternativa à modicidade tarifária.

35. De acordo com a ANTT, a proposta submetida à Audiência Pública ANTT nº. 11/2017, traz
os seguintes impactos regulatórios:

- Maior eficiência e efetividade das ações de fiscalização empreendidas pela ANTT;

- Atendimento de determinação do TCU;

- Maior segurança, previsibilidade e transparência das regras a serem observadas pelas


Concessionárias e Poder Concedente;

- Antecipação de recolhimento à União, nos casos de recolhimento único, para contratos com valor
total inferior a R$ 430.000,00 e redução de riscos associados a notificações por parte das
concessionárias;

- Redução do volume de pedidos de anuência prévia para exploração de projetos associados,

- Redução do “cap” tarifário por ocasião da aplicação do princípio estabelecido pelo art. 11 da Lei
nº. 8.987/95.

13
Item 6.3 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fls. 23 e 24).

11
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

4. Da Análise de Impacto Concorrencial

36. A avaliação dos potenciais efeitos de proposta de proposição ou alteração de normativo


regulatório sobre os aspectos concorrenciais, utiliza-se de metodologia desenvolvida pela
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)14. A referida metodologia
consiste de um conjunto de questões a serem verificadas na análise do impacto de políticas públicas
sobre a concorrência. Nesse contexto, o potencial impacto da proposta analisada nas questões
concorrenciais leva em consideração os seguintes efeitos: i) limitação no número ou variedade de
fornecedores; ii) limitação na concorrência entre empresas; iii) diminuição do incentivo à
competição; e iv) limitação das opções dos clientes e da informação disponível.

37. A proposta de minuta de resolução analisada não apresenta indicativos de impactos


concorrenciais negativos.

5. Conclusões

38. Este parecer apresentou considerações sobre a proposta de minuta de resolução para
regulamentação da exploração de projetos associados pelas concessionárias de serviço público de
transporte ferroviário de cargas.

39. Nesse contexto, com base na análise dos aspectos regulatórios e concorrenciais, nos termos
das competências institucionais da Seae, com o objetivo de aperfeiçoar a proposta apresentada,
sugere-se à ANTT:

i) Exigir das concessionárias encaminhamento periódico da relação de todos os


projetos autorizados pelo mecanismo proposto de dispensa de autorização prévia e a adoção de
procedimentos de fiscalização periódicos de todo o universo de projetos associados, de forma a
evitar eventuais práticas de fragmentação de projetos associados de exploração de atividades
econômicas, conforme Item 16 deste Parecer;
ii) Proceder à avaliação do efeito da diferença conceitual da natureza das receitas na
metodologia de analogia proposta para a definição do percentual de repasse ao Poder Público,
conforme Item 23 deste Parecer;
iii) Avaliar a existência de eventuais incongruências ou distorções decorrentes do uso
da modelagem da ALLMP/RMP para balizamento da metodologia de analogia para o cálculo do
percentual de repasse ao Poder Público e a possibilidade de se utilizar os dados de modelagem de
cada uma das concessões, conforme Itens 24 e 25 deste Parecer;
iv) Avaliar a possibilidade de utilizar uma amostra mais abrangente e representativa do
universo de concessionárias de ferrovias para fins de dimensionamento de valores de corte,
conforme Item 26 deste Parecer;
v) Realizar consulta acerca da compatibilidade entre a estrutura de recolhimento das
receitas alternativas ao Poder Concedente e o rito próprio do processo orçamentário, conforme Item
28 deste parecer;

14
Referência: OCDE (2011). Guia de Avaliação da Concorrência. Versão 2.0. Disponível em:
http://www.oecd.org/daf/competition/49418818.pdf. Acessado em 27/09/2017.
12
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017

vi) Avaliar a adequação da premissa adotada para a não consideração da rubrica custos
associados na simulação de rentabilidade presumida, conforme Item 33 deste Parecer.

À consideração superior

FÁBIO COELHO BARBOSA


Coordenador de Transportes, Infraestrutura Urbana e Recursos Naturais

JEFFERSON MILTON MARINHO


Coordenador-Geral de Transportes, Infraestrutura Urbana e Recursos Naturais, substituto

De acordo.

ANGELO JOSÉ MONT’ALVERNE DUARTE


Subsecretário de Análise Econômica e Advocacia da Concorrência

De acordo. Proceda-se conforme sugerido.

MANSUETO FACUNDO DE ALMEIDA JUNIOR


Secretário de Acompanhamento Econômico

13

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