Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Acesso: Público.
1. Introdução
3. A análise constante deste Parecer, em razão das competências institucionais da Seae, nos
termos do art. 19 da Lei nº. 12.529, de 30 de novembro de 2011 e no art. 42, Anexo I do Decreto
nº. 9.003, de 13 de março de 2017, foca-se nos aspectos regulatórios e concorrenciais.
5. A Audiência Pública ANTT nº 011/2017 tem como objetivo submeter à discussão pública
a proposta de Resolução que propõe a regulamentação dos procedimentos necessários à exploração
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
6. O assunto foi inicialmente trazido à discussão pela ANTT por meio da Consulta Pública nº.
002/2014, realizada nos meses de novembro e dezembro de 2014. Naquela ocasião, a Seae
manifestou-se por meio do Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº.
340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de dezembro de 2014, que apresentou as considerações sobre a
minuta de Resolução proposta pela ANTT, sugerindo que a ANTT:
2
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
3. Da Proposta Apresentada
10. Após os estudos realizados sobre a matéria, a ANTT entendeu que a proposta a ser
apresentada deveria abranger, no mínimo os seguintes aspectos (Item 5.1 da Nota Técnica nº.
020/2017/GEAFI/SUFER, fl. 07):
11. A ANTT procedeu à definição do Conceito de Projeto Associado, como sendo “a atividade
decorrente de prestação de serviço que enseja o recebimento pelas concessionárias, de receitas
diversas daquelas provenientes do frete ferroviário, operações acessórias, tráfego mútuo ou
direito de passagem” (Item 4.4 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/GEFER, fl. 05). Quanto ao
conceito de Receita Alternativa Líquida, a ANTT propôs o conceito de “receita total proveniente
de projetos associados, deduzida dos tributos que incidem sobre essa receita” (Item 5.2.2 da Nota
Técnica 020/GEAFI/SUFER, fl. 07).
12. Quanto ao universo dos contratos a serem abrangidos pela norma, entendeu a ANTT que a
proposta de regulamentação deve ser abrangente para todos os contratos, inclusive para aqueles
que não possuam cláusula expressa de previsão de exploração de projetos associados, em razão do
disposto no art. 11 da Lei 8.987/1995 (Item 5.3.1 da Nota Técnica 020/GEAFI/SUFER, fl. 08). A
ANTT destaca ainda um conceito econômico relevante, no sentido de se criar incentivos para a
produção de receitas alternativas mediante a repartição da receita entre o concessionário
1
Além da possibilidade de exploração de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares ou
acessórias, com vistas a favorecer a modicidade tarifária, prevista no art. 11 da Lei nº. 8.987/1995, os contratos de
concessão das malhas oriundas da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) e aqueles formalizadas entre o Poder
Concedente e a VALEC possuem cláusulas que permitem a exploração de projetos associados. Ressalte-se que existem
outros contratos (oriundos da malha ferroviária da mineradora Vale (Estrada de Ferro Vitória a Minas e Estrada de
Ferro dos Carajás) e da Ferronorte, atualmente denominado Rumo Malha Norte) que não preveem explicitamente a
exploração de projetos associados, mas por força do art. 11 da Lei nº. 8.987/1995 igualmente necessitam de
regulamentação de receitas alternativas.
3
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
13. Da análise do conceito econômico proposto para as receitas alternativas oriundas dos
projetos associados, verifica-se que a proposta de regulamentação encontra-se alinhada às boas
práticas regulatórias, na medida em que cria incentivos econômicos ao delegatário
(concessionário), atribuindo-lhe parcela da receita como incentivo à geração de projetos
associados, sendo a parcela remanescente destinada à modicidade tarifária.
14. Quanto aos casos de exigência de autorização prévia para a exploração de projetos
associados, a ANTT esclarece que, como regra geral, todos os contratos firmados pelas
concessionárias com terceiros devem ser submetidos previamente à anuência da ANTT3. No
entanto, aquela Agência Reguladora ressalva que a maioria dos contratos firmados são de pequenos
valores e não representam qualquer impacto na continuidade da prestação do serviço de transporte
ferroviário.
15. A ANTT esclarece que o foco da atividade de autorização de projetos associados deve se
direcionar à avaliação de eventuais efeitos na continuidade da prestação do serviço público de
transporte ferroviário, razão pela qual incluiu na proposta de regulamentação sob análise (Capítulo
II – art. 5ª a 8º) a obrigatoriedade de autorização prévia daquela agência reguladora apenas para
os casos de atividades/contratos (locação, cessão ou transferência, a qualquer título) que envolvam
material rodante, armazéns e terminais, oficinas e pátios, por se constituírem em bens com
potencial impactante na continuidade da prestação do serviço de transporte.
2
Machado, Critiane Lucidi. Receitas Alternativas, Complementares, Acessórias e de Projetos Especiais nas
Concessões de Serviços Públicos: Exegese do art. 11 da Lei nº. 8.987/95. R. de Dir Público da Economia – RDPE,
Belo Horizonte, ano 2, n. 7, p.97-107, jul./set. 2004.
3
O fundamento desse entendimentos, de acordo com a ANTT, estaria na tutela do Poder Concedente sobre o serviço
público de transporte concedido, de forma a se evitar a destinação diversa dos bens associados à concessão, em
prejuízo à continuidade do serviço público (Item 5.4.2 da Nota Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER, FL. 09).
4
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
“ ......
4
Recomendação constante do Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº. 340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de
dezembro de 2014, no contexto da Consulta Pública nº. 002/2014.
5
Esse grupo de concessões foi constituído apenas com os bens próprios das concessões.
5
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
......”
19. A ANTT informa que utilizou como base para proceder ao cálculo o valor da outorga
exigido para a prorrogação do contrato de concessão da ALLMP6, cujo proposta de prorrogação
foi submetida à Audiência Pública ANTT nº. 010/2016. A metodologia proposta para o cálculo da
parcela da receita alternativa exigida das concessionárias para a exploração de projetos associados
adota a razão entre o somatório do valor presente líquido: i) das despesas com parcelas de
arrendamento; ii) parcelas de outorga; iii) parcelas de concessão e o valor presente líquido da
receita operacional líquida (Item 5.5.21 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER, fl. 14).
20. A partir da utilização dos números da modelagem adotada para a ALLMP/RMP, a ANTT
informa ter encontrado um percentual de repasse de 8,5%. Dessa forma, com base na metodologia
proposta, baseada na mencionada proposta de similaridade conceitual entre o valor de outorga e o
valor de repasse, a ANTT propõe que se utilize o percentual único de 8,5% para os contratos em
que há a previsão de repasse ao Poder Público entre 3% e 10% das receitas alternativas, mantendo-
se o percentual de 7% para os contratos em que esse valor foi fixado, nos termos do Inciso I do §
1º do art. 9º (Capítulo III) da minuta de Resolução proposta.
21. Quanto à fixação de um valor de referência para o recolhimento aos cofres públicos em
parcela única ou em parcelas mensais (pelo regime de competência), a ANTT relata que uma
parcela significativa dos contratos de projetos associados envolve valores muito baixos, o que
requer do agente regulador e das próprias concessionárias custos de acompanhamento, controle e
fiscalização. A ANTT informa que, com base em amostra contendo 311 registros de contratos de
projetos associados específicos de uma determinada Concessionária7, disponíveis nos controles
internos daquela agência reguladora, constatou que 80% desses contratos envolvem valores
relativamente pequenos, com valor total de até R$ 430.000,00 (quatrocentos e trinta mil reais), cujo
somatório representa apenas 8% do total de recursos envolvidos (valores devidamente atualizados
até fevereiro/2017).
22. Com isso, a ANTT propõe estabelecer como valor referencial de corte para fins de
recolhimento em parcela única o valor total de contratos até R$ 430.000,00, de modo que o
recolhimento ao Poder Público para os contratos com valores totais inferiores a R$ 430.000,00
sejam realizados em uma única parcela no início da vigência do contrato, enquanto que para os
contratos com valores totais superiores ao limite estabelecido, o recolhimento ao Poder Público
deve ser efetivado mensalmente, observado o regime de competência das receitas correspondentes,
nos termos do art. 9º da minuta de Resolução proposta.
6
Sigla anteriormente adotada para a Concessionária América Latina Logística Malha Paulista, atualmente denominada
Rumo Malha Paulista – RMP.
7
Concessionária MRS Logística S.A. (Item 5.6.2 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER, fl. 15).
6
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
23. Da análise do mérito da proposta, observa-se que a analogia entre o valor de outorga da
concessão e os valores de repasse associado à exploração de projetos associados deve ser utilizado
com cautela. Conceitualmente, o valor de outorga é usualmente resultante do Valor Presente do
Fluxo de Caixa Descontado da Concessão adotado da modelagem utilizada, que utiliza as
estimativas de todas as receitas brutas e os respectivos custos associados à prestação do serviço.
Já a proposta apresentada pela ANTT para o cálculo do percentual de repasse da receita decorrente
de projetos associados, que propõe uma analogia com a metodologia adotada no cálculo da outorga,
utiliza o conceito de receitas operacionais líquidas8, conforme se observa no Item 5.5.19 da Nota
Técnica nº. 020/2017/GEAFI/SUFER (fl. 13), razão pela qual sugere-se que a ANTT proceda à
avaliação do efeito da diferença conceitual das receitas na analogia proposta.
“......
4. Conclusão
......
8
O Item 5.2.4 da Nota Técnica 020/2017/GEAFI/SUFER (fl. 08) menciona o conceito de receita líquida como sendo
a receita bruta, subtraída dos abatimentos concedidos e dos impostos.
7
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
......”
26. Quanto à amostra contendo 311 registros de contratos de projetos associados específicos de
uma determinada Concessionária, utilizados para dimensionar os valores de corte para fins de
recolhimento da parcela única ao Poder Concedente, observa-se que se refere a uma única
concessionária, razão pela qual se recomenda que a ANTT avalie a possibilidade de utilizar
uma amostra mais abrangente e representativa do universo de concessionárias de ferrovias.
Registre-se que esta recomendação encontra-se alinhada com sugestão constante do Inciso “iv” do
Item 19 do Parecer Analítico sobre Regras Regulatórias nº. 340/COGTL/SEAE/MF, de 12 de
dezembro de 2014, contendo manifestação da Seae acerca da Consulta Pública ANTT nº.
002/20149 (in verbis):
“ ......
Conclusão
......
27. Relativamente à distribuição do valor devido ao Poder Público entre os órgãos e entidades
beneficiárias do crédito, a minuta de resolução propõe nos § 3º e § 4º do art. 9º a distribuição de
valores em consonância com o estabelecido nos respectivos contratos de concessão, por meio de
Guia de Recolhimento da União, ressalvando-se que para aqueles contratos em que a RFFSA
9
Consulta Pública ANTT nº. 002/2014: Proposta de exploração de atividades geradoras de receitas alternativas por
concessionárias do serviço público de transporte ferroviário de cargas.
8
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
figurava como destinatária dos recursos a serem repassados, o repasse deverá ser feito para a União
(Tesouro Nacional), em razão da extinção daquela empresa pública10.
“ ......
...... “
30. Com vistas a buscar um mecanismo efetivo de aplicação do princípio do art. 11 da Lei
8.987/95 aos contratos de concessão ferroviária, a ANTT propõe (Item 5.8.3 da Nota Técnica nº.
20/2017/GEAFI/SUFER, fl. 20) uma regra para a reversão de parte das receias alternativas à
modicidade tarifária por ocasião da revisão tarifária, adotando-se o percentual de 28% sobre a
receita alternativa bruta gerada. Ressalte-se que o percentual de 28% proposto foi obtido a partir
de uma simulação de rentabilidade presumida de uma atividade geradora de receita alternativa,
apresentada no Item 5.8.3 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fls. 20-21) que considera,
de forma implícita, uma apropriação de 50% do resultado líquido pelas concessionárias.
10
A ANTT informa (Item 5.7.3 da Nota Técnica nº. 20/201, fl. 17) que este entendimento encontra-se consubstanciado
no Parecer nº. 00419/2017/PF-ANTT/PGF/AGU, de 15/02/2017, não disponibilizado dentre os documentos da
Audiência Pública.
11
Nota Técnica 042/SUREG, de 2013 e Parecer /ANTT/PRG/CAH/nº. 0461-3.3.5/2010, documentos não
disponibilizados dentre os documentos da Audiência Pública.
9
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
31. Observa-se que as premissas adotadas para a proposta de percentual da receita alternativa
para reversão à modicidade tarifária estão alinhadas com as boas práticas regulatórias, na medida
em que preveem incentivos econômicos ao concessionário de forma a motivá-lo a buscar fontes
alternativas de receitas, com parcela remanescente da receita reversível à modicidade tarifária.
Quanto ao mecanismo de reversão proposto (por ocasião da revisão tarifária), parece adequado,
ante as restrições impostas pelo modelo tarifário de tarifas-teto, salientando-se que o mecanismo
proposto será tão mais eficiente, na medida em que os tetos tarifários estejam devidamente
atualizados (calibrados), de modo a refletir as condições reais da operação ferroviária.
32. Ressalte-se que em razão do mecanismo de tarifação por teto tarifário, não há garantia de
repasse pleno da parcela decorrente da receita alternativa (28% sobre a receita alternativa bruta) às
tarifas efetivamente cobradas do usuário. Tal constatação, no entanto, constitui-se em uma
limitação intrínseca associado ao modelo tarifário, não se caracterizando como uma falha na
regulação.
34. Finalmente, a ANTT informa ter realizado a Análise de Impacto Regulatório – AIR, tendo
sido realizadas análises referentes a 05 (cinco) alternativas regulatórias12, que resultou na
12
As alternativas analisadas encontram-se relacionadas no Item 6.1 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fl.
22).
10
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
proposição da Minuta de Resolução submetida à Audiência Pública ANTT nº. 11/2017, que, em
síntese, apresenta as seguintes características13:
- Distribuição dos valores, a título de participação sobre receitas alternativas, entre União, DNIT,
ANTT e Valec, conforme estipulado em cada contrato de concessão;
- Exigência de autorização prévia da ANTT apenas para projetos associados que envolvam bens da
concessão cuja utilização represente, potencialmente, impactos na prestação do serviço público de
transporte ferroviário;
- Recolhimento aos cofres públicos em parcela única para os contratos cujo valor total envolvido
não supere R$ 430.000,00;
35. De acordo com a ANTT, a proposta submetida à Audiência Pública ANTT nº. 11/2017, traz
os seguintes impactos regulatórios:
- Antecipação de recolhimento à União, nos casos de recolhimento único, para contratos com valor
total inferior a R$ 430.000,00 e redução de riscos associados a notificações por parte das
concessionárias;
- Redução do “cap” tarifário por ocasião da aplicação do princípio estabelecido pelo art. 11 da Lei
nº. 8.987/95.
13
Item 6.3 da Nota Técnica nº. 20/2017/GEAFI/SUFER (fls. 23 e 24).
11
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
5. Conclusões
38. Este parecer apresentou considerações sobre a proposta de minuta de resolução para
regulamentação da exploração de projetos associados pelas concessionárias de serviço público de
transporte ferroviário de cargas.
39. Nesse contexto, com base na análise dos aspectos regulatórios e concorrenciais, nos termos
das competências institucionais da Seae, com o objetivo de aperfeiçoar a proposta apresentada,
sugere-se à ANTT:
14
Referência: OCDE (2011). Guia de Avaliação da Concorrência. Versão 2.0. Disponível em:
http://www.oecd.org/daf/competition/49418818.pdf. Acessado em 27/09/2017.
12
Acesso: Público. Audiência Pública ANTT nº 011/2017
vi) Avaliar a adequação da premissa adotada para a não consideração da rubrica custos
associados na simulação de rentabilidade presumida, conforme Item 33 deste Parecer.
À consideração superior
De acordo.
13