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04/06/2018 Acesso ao Insight - Budismo Theravada - abrir_mao

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A Bem-aventurança em Abrir Mão


Por

Ajaan Brahmavamso
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No mundo Budista de hoje há muita discussão entre os meditadores sobre a relevância de


jhana. A primeira pergunta geralmente feita: "É necessário primeiro experimentar jhana para
tornar-se plenamente iluminado (arahant), ou será possível realizar o objetivo supremo, sem
qualquer experiência de jhana?"

Quem faz essa pergunta geralmente são aqueles que ainda não experimentaram jhana. É difícil
fazer aquilo que é necessário para experimentar jhana; por isso a maioria das pessoas fazem
essa pergunta querendo ouvir que jhana não é essencial. Elas querem ouvir que a sua inabilidade
não é um obstáculo. Elas querem um acesso rápido e fácil a nibbana. Essas pessoas ficarão
satisfeitas, e até mesmo inspiradas, por algum professor que lhes diga o que elas querem ouvir
de qualquer jeito - que esses estados de jhana são desnecessários - e elas irão seguir esses
ensinamentos, porque é conveniente. Infelizmente, a verdade raramente é conveniente, e
raramente está de acordo com o que queremos ouvir.

Por outro lado, um meditador que tenha familiaridade com os jhanas irá reconhecê-los como
estados de bem-aventurança originários de abrir mão, e é nesse ponto mesmo, na experiência de
abrir mão, do abandono, que a relevância de jhana é compreendida. O primeiro jhana é o
resultado natural do abandono da preocupação com o prazer dos sentidos (kama sukha), pelo
qual se entende toda a preocupação com o mundo dos cinco sentidos externos (visão, audição,
olfato, paladar e toque), e até mesmo com o mero conforto. No primeiro jhana, através da
remoção completa e sustentada de todo o interesse pelos cinco sentidos, o praticante perde toda
a noção do corpo, e os cinco sentidos externos desaparecem. Ele permanece por completo no
sexto sentido que é a mente pura, na quietude, no prazer e felicidade do silêncio interior. O Buda
chamou isso de "o prazer da renúncia", ou a felicidade em abrir mão. O segundo jhana é o
resultado natural do abandono do movimento muito sutil da atenção na direção, e o apego, ao
objeto mental prazeroso. Quando esta 'oscilação' da atenção é finalmente abandonada, o
praticante experimenta ainda mais prazer e felicidade originário da completa quietude interior
(samadhi), em que a mente está absolutamente unificada e imóvel. O terceiro jhana é o
resultado natural do abandono da excitação sutil do prazer, e o quarto jhana é o resultado natural
do abandono da própria felicidade, desfrutando então a mais profunda e imóvel equanimidade
mental.

No Budismo, a experiência, não a especulação, e muito menos a crença cega, é o critério para o
entendimento. Um meditador simplesmente não compreende o significado completo de quietude,
prazer, felicidade ou equanimidade, até que tenha se familiarizado com os jhanas. Mas a
experiência dos jhanas, esses estágios de abrir mão, proporcionam o entendimento direto, com
base na experiência, desses fenômenos mentais, em especial a felicidade (sukha) e o sofrimento
(dukkha).

É semelhante a um girino que passou toda a sua vida na água, mas que não é capaz de entender
a água, porque ele não conhece nada além disso. Então, ao tornar-se um sapo, ele deixa a água
e vai para a terra seca, e assim compreende tanto a natureza da água como a forma de superá-
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la. Nesta comparação, a água equivale a dukkha, a terra seca a jhana (não nibbana! - pois o
sapo ainda leva para a terra seca um pouco de água na sua pele), e a forma de superá-la
significa abir mão.

Desta forma, a prática de jhana revela o caminho para a completa extinção de dukkha. O
meditador que experimenta jhana eventualmente irá se perguntar: "Por que esses jhanas são tão
profundamente prazerosos?" Ele irá descobrir por si mesmo a resposta óbvia - "Porque são
estágios de abandono daquilo que ele agora vê como formas sutis de sofrimento!" Quando
alguém está familiarizado com os jhanas e compreende a origem da felicidade neles, irá ver por
si mesmo que todos os prazeres mundanos, ou seja, dos cinco sentidos externos (que incluem a
sexualidade), são simplesmente dukkha. O apego ao corpo e às suas aventuras sensoriais
começará a desaparecer. Ele irá entender com clareza porque todos os Seres Iluminados são
celibatários. Então, na medida em que progredir para os jhanas mais elevados e contemplar
porque cada um é ainda mais prazeroso, ele compreende que é devido ao abandono de apegos
mentais muito sutis, tais como o apego ao prazer, à felicidade e à equanimidade. Fica evidente
que mesmo esses estados mentais mais sublimes são apenas formas refinadas de sofrimento,
porque ao abrir mão deles, em seguida, mais sofrimento também é abandonado. Quanto mais
longe for o praticante, mais dukkha é abandonado, e através deste processo ocorre a
compreensão de dukkha. Não é possível conhecer por completo a Verdade do Sofrimento, e por
conseguinte as Quatro Nobres Verdades do Buda, exceto abrindo mão do sofrimento através da
experiência de jhana.

É muito estranho, portanto, que algumas pessoas sugerem que a prática de jhana conduz ao
apego. Como é possível que a prática de abrir mão, do abandono, conduza ao apego? Na
verdade, o Buda disse repetidamente que esses jhanas não devem ser temidos, mas devem ser
desenvolvidos, e que quando alguém se entrega aos jhanas regularmente, estes conduzem aos
estados de sotapanna, sakadagami, anagami, e arahant, os quatro estágios da Iluminação, (veja
o Pasadika Sutta).

Uma vez que a completa iluminação seja atingida e que todos os apegos tenham sido removidos,
então o processo de abrir mão e penetrar os jhanas se torna tão natural como uma folha que cai
de uma árvore até o chão. Na verdade, a habilidade que alguém tenha para o abandono e
experimentar jhana, é uma medida de sua verdadeira compreensão do Dhamma, e da
conseqüente ausência de apego.

Fonte:

BSWA Newsletter, Mar / Jun 1997

Revisado: 15 Dezembro 2012


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