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Eu não sei por onde começar o meu discurso, eu não sei o que as pessoas estão esperando que eu fale.

Mas, primeiro de tudo, agradeço a Deus, para quem todos nós somos iguais. E obrigada a cada pessoa
que rezou pela minha rápida recuperação e nova vida. Não posso acreditar em quanto amor as pessoas
têm demonstrado em relação a mim. Tenho recebido milhares de cartões e presentes do mundo inteiro.
Obrigada a todos, às crianças que, com palavras inocentes, me incentivaram, e aos mais velhos, cujas
orações me fortaleceram.

Queridos irmãos e irmãs, lembrem-se de uma coisa: O “Dia Malala” não é o meu dia. Hoje é o dia de cada
mulher, cada garoto e cada garota que levanta a voz pelos seus direitos. Há centenas de ativistas de direitos
humanos e trabalhadores sociais que não estão falando apenas pelos seus direitos, mas que estão lutando
para atingir seu objetivo de paz, educação e igualdade. Milhares já foram mortos pelos terroristas e milhões
foram feridos por eles. Eu sou só mais um deles. Então, aqui estou. Então, aqui estou eu, uma menina,
entre tantas. Eu falo não por mim, mas por aqueles cujas vozes não podem ser ouvidas. Por aqueles que
têm lutado por seus direitos. O seu direito de viver em paz. O seu direito de ser tratado com dignidade.
O seu direito à igualdade de oportunidades. O seu direito de ser educado.

Queridos amigos, em 09 de outubro de 2012, o Taliban atirou no lado esquerdo da minha testa. Atiraram
nos meus amigos também. Eles acharam que aquelas balas nos silenciariam. Mas falharam e, então, do
silêncio vieram milhares de vozes. Os terroristas pensaram que mudariam meus objetivos e eliminariam
minhas ambições, mas nada mudou na minha vida, com exceção disto: a fraqueza, o medo e a falta de
esperança morreram; a força, o poder e a coragem nasceram. Sou a mesma Malala, meus desejos são os
mesmos, minhas esperanças e sonhos também.

Queridos irmãos e irmãs, não sou contra ninguém e nem estou aqui para falar sobre uma vingança pessoal
contra o Taliban ou qualquer outro grupo terrorista. Estou aqui para falar pelo direito de cada criança à
educação. Quero educação para os filhos e filhas dos talibãs e para todos os terroristas e extremistas.

Também não odeio o talibã que atirou em mim. Mesmo que eu tivesse uma arma na mão e ele estivesse
na minha frente, não atiraria nele. Esta é a compaixão que aprendi com Maomé, profeta da misericórdia,
Jesus Cristo e Lorde Buda; esta é a herança de mudança que recebi de Martin Luther King, Nelson Mandela
e Mohammed Ali Jinnah. Esta é a filosofia de não violência que eu aprendi com Gandhi, Badshah Khan e
Madre Teresa. E este é o perdão que eu aprendi com meu pai e minha mãe. Isto é o que a minha alma está
me dizendo: estar em paz e amor com todos.

Queridos irmãos e irmãs, nós percebemos a importância da luz quando vemos a escuridão. Percebemos a
importância da nossa voz quando somos silenciados. Da mesma forma, quando estávamos em Swat, no
norte do Paquistão, percebemos a importância de canetas e livros quando vimos armas. O sábio ditado que
diz “A caneta é mais poderosa que a espada” é verdadeiro. Os extremistas têm medo dos livros e das
canetas. O poder da educação os assusta e eles têm medo das mulheres. O poder da voz das mulheres os
apavora. É por isto que eles mataram 14 estudantes inocentes no recente ataque em Quetta. E é por isto
que eles matam professoras. É por isto que eles atacam escolas todos os dias: porque tiveram e têm medo
da mudança, da igualdade que vamos trazer para a nossa sociedade. E eu me lembro que havia um menino
em nossa escola que foi perguntado por um jornalista o porquê do Taleban ser contra a educação. Ele
respondeu muito simplesmente apontando para seu livro: “um talibã não sabe o que está escrito dentro
deste livro”. Eles acham que Deus é um pequeno ser conservador que apontaria armas para a cabeça das
pessoas só por elas irem à escola. Esses terroristas estão fazendo mau uso do nome do Islã para seu
próprio benefício pessoal.

Paquistão é um país democrático e amante da paz. Pashtuns querem educação para seus filhos e filhas.
O Islã é uma religião de paz, humanidade e fraternidade. É um dever e uma responsabilidade garantir
educação a cada criança, é o que ele diz. A paz é uma necessidade para a educação. Em muitas partes do
mundo, especialmente no Paquistão e no Afeganistão, o terrorismo, a guerra e os conflitos impedem as
crianças de irem à escola. Estamos realmente cansados dessas guerras.

Mulheres e crianças estão sofrendo de muitas maneiras, em muitas partes do mundo. Na Índia, crianças
pobres e inocentes são vítimas do trabalho infantil. Muitas escolas têm sido destruídas na Nigéria, enquanto
os afegãos são oprimidos pelo extremismo. As meninas têm que fazer trabalho infantil doméstico e são
forçadas a se casarem em uma idade precoce. Pobreza, ignorância, injustiça, racismo e privação dos
direitos básicos são os principais problemas enfrentados por homens e mulheres.

Hoje eu estou focando nos direitos das mulheres e na educação das meninas porque elas são as que mais
sofrem. Houve um tempo em que as ativistas mulheres pediam aos homens para defender seus direitos.
Mas desta vez, nós vamos fazer isto por conta própria. Eu não estou dizendo para os homens não falarem
mais dos direitos das mulheres, mas estou focando na ideia das mulheres serem independentes e lutarem
por si mesmas.

Então, queridos irmãos e irmãs, agora é a hora de falar. Então hoje, nós conclamamos os líderes mundiais
a alterar as suas estratégias políticas a favor da paz e da prosperidade.

Pedimos aos líderes mundiais que todos os acordos de paz protejam os direitos das mulheres e crianças.
Um acordo que se oponha aos direitos das mulheres é inaceitável. Convocamos todos os governos a
assegurar a educação obrigatória livre para todas as crianças do mundo. Apelamos a todos os governos
que lutem contra o terrorismo e a violência, protegendo as crianças da brutalidade e do perigo. Pedimos às
nações desenvolvidas que apoiem a expansão das oportunidades educacionais para meninas nos países
em desenvolvimento. Apelamos a todas as comunidades para que sejam tolerantes, rejeitem o preconceito
baseado em casta, credo, seita, cor, religião ou agenda para garantir a liberdade e a igualdade para as
mulheres, para que elas possam florescer. Nós todos não podemos ter sucesso quando metade de nós fica
para trás. Conclamamos nossas irmãs ao redor do mundo a serem corajosas, abraçarem a força dentro de
si e conscientizarem-se de seu pleno potencial.

Queridos irmãos e irmãs, queremos escolas e educação para o futuro brilhante de todas as crianças.
Vamos continuam a nossa jornada para o nosso destino de paz e educação. Ninguém pode nos parar.
Vamos falar de nossos direitos e vamos trazer a mudança para nossa voz. Nós acreditamos no poder e na
força de nossas palavras. Nossas palavras podem mudar o mundo inteiro porque nós estamos todos juntos,
unidos pela causa da educação. E se nós queremos atingir nosso objetivo, então vamos nos fortalecer com
a arma do conhecimento e vamos nos proteger com a unidade e união.

Queridos irmãos e irmãs, nós não podemos nos esquecer de que milhões de pessoas estão sofrendo com
a pobreza, a injustiça e a ignorância. Nós não devemos nos esquecer de que milhões de crianças estão
fora da escola. Nós não devemos esquecer que nossos irmãos e irmãs estão esperando por um futuro
brilhante e pacífico.

Deixem-nos, portanto, travar uma luta gloriosa contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo. Deixem-
nos pegar nossos livros e canetas porque estas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um
professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.

A educação é a única solução. Educação antes de tudo.

Obrigada.”
Bismillah hir Rahman ir rahim. Em nome de Deus, o mais misericordioso, o mais benévolo.

Excelentíssimas majestades, ilustres membros do Comitê Nobel Norueguês, queridos irmãos e irmãs, hoje
é um dia de grande felicidade para mim. Aceito com humildade a escolha do Comitê Nobel em me agraciar
com este precioso prêmio.

Obrigado a todos pelo apoio e amor permanentes. Sou grata pelas cartas e cartões que continuo a receber
de todas as partes do mundo. Ler suas palavras amáveis e encorajadoras me fortalece e inspira.

Queria agradecer a meus pais por seu amor incondicional. Agradecer a meu pai por não cortar minhas asas
e me deixar voar. Obrigado, mamãe, por me inspirar a ser paciente e falar sempre a verdade — que
acreditamos vigorosamente ser a verdadeira mensagem do Islã.

Muito me orgulha ter sido a primeira paquistanesa e a primeira adolescente a receber este prêmio. E tenho
a certeza absoluta de ser também a primeira pessoa a receber um Nobel da Paz que ainda briga com seus
irmãos mais novos. Eu quero que a paz se espalhe por todos os cantos, mas meus irmãos e eu ainda
estamos trabalhando nisso.

Muito me honra também dividir este prêmio com Kailash Satyarthi, que vem lutando pelos direitos das
crianças já há muito tempo. Na verdade, pelo dobro do tempo que já vivi. Fico feliz também por estarmos
aqui reunidos demonstrando ao mundo que um indiano e uma paquistanesa podem conviver em paz e
trabalhar em prol dos direitos das crianças.

Este prêmio não é só meu. É das crianças esquecidas que querem educação. É das crianças assustadas
que querem a paz. É das crianças sem direito à expressão que querem mudanças.

Estou aqui para afirmar os seus direitos, dar-lhes voz… Não é hora de lamentar por elas. É hora de agir,
para que seja a última vez que vejamos uma criança sem direito à educação.

Tenho percebido que as pessoas me descrevem de várias maneiras.

Algumas se referem a mim como a menina que foi baleada pelo talibã.

Outras, como a menina que lutou por seus direitos.

Outras, agora, como “a Prêmio Nobel”.

No que se refere a mim, sou apenas uma pessoa dedicada e teimosa que quer ver todas as crianças
recebendo educação de qualidade, que quer a igualdade de direitos para as mulheres e que quer que haja
paz em todos os cantos do mundo.

A educação é uma das bênçãos da vida — e uma de suas necessidades. Essa tem sido a minha experiência
pelos dezessete anos em que vivi. Em minha casa, no vale Swat, no norte do Paquistão, eu sempre adorei
a escola e aprender coisas novas. Lembro-me que quando minhas amigas e eu enfeitávamos nossas mãos
com hena para as ocasiões especiais, em vez de desenhar flores e padrões nós pintávamos as mãos com
fórmulas e equações matemáticas.

Tínhamos sede de educação porque o nosso futuro estava bem ali, naquela sala de aula. Nós sentávamos
e líamos e aprendíamos juntas. E amávamos vestir aqueles uniformes escolares limpos e bem passados e
sentar ali com grandes sonhos em nossos olhos. Queríamos que nossos pais se orgulhassem de nós e
provar que poderíamos nos destacar nos estudos e realizar algo, o que algumas pessoas pensam que
somente os meninos podem fazer.

Mas as coisas mudam. Quando eu tinha dez anos, Swat, que era um recanto de beleza e turismo, de
repente se transformou em um lugar de terrorismo. Mais de quatrocentas escolas foram destruídas. As
meninas foram impedidas de frequentar a escola. As mulheres foram açoitadas. Pessoas inocentes foram
assassinadas. Todos sofremos. E os nossos belos sonhos se transformaram em pesadelos.

A educação passou de um direito a um crime.

Mas com a mudança repentina de meu mundo, minhas prioridades também se modificaram.

Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era
erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz.

Os terroristas tentaram nos deter e atacaram a mim e a minhas amigas em 9 de outubro de 2012, mas suas
balas não podiam vencer.

Nós sobrevivemos. E desde aquele dia nossas vozes só fizeram se erguer mais altas.

Eu conto a minha história não porque ela seja única, mas principalmente porque não é.

Hoje, eu conto as histórias delas também. Eu trouxe comigo para Oslo algumas das minhas irmãs, que
compartilham esta história, amigas do Paquistão, Nigéria e Síria. Minhas valentes irmãs, Shazia e Kainat
Riaz, que também levaram tiros comigo naquele dia em Swat. Elas também passaram por esse trauma
trágico. Também a minha irmã Kainat Somro, do Paquistão, que sofreu violência e abuso extremos, até
mesmo seu irmão foi assassinado, mas não sucumbiu.

E há meninas comigo que eu conheci durante minha campanha do Fundo Malala, que agora são como
minhas irmãs. Minha corajosa irmã Mezon, da Síria, de dezesseis anos, que atualmente vive na Jordânia,
em um campo de refugiados, indo de tenda em tenda para ajudar meninas e meninos a aprender. E minha
irmã Amina, do norte da Nigéria, onde o Boko Haram ameaça e rapta meninas simplesmente por elas
quererem ir para a escola.

Embora na aparência eu seja uma menina, uma pessoa com um metro e cinquenta e sete de altura,
contando com os saltos altos, eu não sou uma voz solitária, eu sou muitas.

Eu sou Shazia.

Eu sou Mezon.

Eu sou Amina.

Eu sou aquelas 66 milhões de meninas que estão fora da escola.

As pessoas gostam de me perguntar por que a educação é importante, especialmente para as meninas. A
minha resposta é sempre a mesma.

O que eu aprendi da leitura dos dois primeiros capítulos do Alcorão Sagrado foram as palavras Iqra, que
significa “leitura”, e nun wal-qalam que significa “pela caneta”.
Assim, como eu disse no ano passado nas Nações Unidas: “Uma criança, um professor, uma caneta e um
livro podem mudar o mundo.”

Vivemos na era moderna, o século XXI, e passamos a acreditar que nada é impossível. Chegamos à Lua
e talvez em breve pousaremos em Marte. Então, neste século, temos de insistir em que o nosso sonho de
uma educação de qualidade para todos também se torne realidade.

Por isso deixem-nos levar igualdade, justiça e paz para todos. E não apenas os políticos e os líderes
mundiais, todos precisamos contribuir. Eu. Vocês. É nosso dever.

Ao trabalho, então… sem esperar.

Apelo às crianças como eu a levantar-se em todo o mundo.

Queridos irmãos e irmãs, que nos tornemos a primeira geração a decidir ser a última [a ficar fora da escola].

As salas de aula vazias, as infâncias perdidas, o potencial desperdiçado — que tudo isso se encerre
conosco.

Que esta seja a última vez que um menino ou uma menina desperdice sua infância em uma fábrica.

Que esta seja a última vez que uma garota seja obrigada a se casar na infância.

Que esta seja a última vez que uma criança inocente perca a vida na guerra.

Que esta seja a última vez que uma sala de aula permaneça vazia.

Que esta seja a última vez que se diga a uma menina que a educação é um crime e não um direito.

Que esta seja a última vez que uma criança permaneça fora da escola.

Que comecemos nós a encerrar essa situação.

Que sejamos nós a dar um fim a isto.

Que comecemos a construir um futuro melhor, aqui, agora.

Obrigada.

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