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IMUNOLOGIA BASICA E APLICADA AS ANALISES CLINICAS Prof. Sérgio Lisboa Machado Prof. Raimundo Diogo Machado IMUNOLOGIA BASICA E APLICADA AS ANALISES CLINICAS Prof. Sérgio Lisboa Machado Prof. Assistente do Departamento de Anilises Clinicas e Toxicolégicas da Faculdade de Farmacia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Prof. Raimundo Diogo Machado Prof. Titular Aposentado do Departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Prefacio Esta publicagdo € uma atuali fio de um livro escrito pelo meu pai em 1992, e que ja ha muito tempo eu tentava publicar. No entanto, como a imunologia est sempre em constante renovagdo, muitas das vezes deixei de envia-lo a editora para acrescentar mais um dado novo. Este livro devera servir para profissionais que buscam atualizar seus conhecimentos e mais do que repetir 0 que as bulas de nossos ensaios laboratoriais nos fazem repetir, ele procura fazer com que vocé tome conhecimento de como os ensaios se processam e 0 porque da nao conformidade. Poder-se-4 observar, que esta publicacio nao é um livro, e sim uma coleténea dos melhores livros e trabalhos existentes nesta d4rea, onde a literatura em lingua portuguesa é escassa e, por isto mesmo fez-se mister langar esta coletinea com os dados mais atualizados e importantes ao profissional das anilises clinicas. Espero que este agregado de informacées seja bem aproveitado, assim como foi a publicagdo de meu pai, que muito contribuiu em minha formagao profissional, e que por isso contribua também na de vocés caros leitores. Espero que esta publicagdo ndo seja a dltima e sim uma das que venham a incentivar 0 mercado a produzir novas publicagdes do mesmo género ¢ desmistificar 0 “terror” como a imunologia se apresenta aos estudantes ¢ profissionais da 4rea da satide. Fagam bom proveito, Prof. Sérgio Lisboa Machado e Prof. Raimundo Diogo Machado u SUMARIO Defesas inatas do organismo Tipos de imunidade Mecanismos da imunidade Respostas imunes adaptativas Resposta imune humoral Via classica do complemento As imunoglobulinas Anticorpos monoclonais Sintese das imunoglobulinas Reagdes mediadas por células Regulagio da resposta imune O fenémeno da tolerancia Reages de hipersensibilidade Hipersensibilidade tipo I Hipersensibilidade tipo TI Teste de Coombs Pesquisa de anticorpos irregulares Hipersensibilidade tipo III Conglutinagao e imunoconglutinagao Tmunoconglutininas Hipersensibilidade tipo IV Hipersensibilidade de contato Reagio tuberculinica Hipersensibilidade granulomatosa Doengas autoimunes woe yn M1 Lupus eritematoso sistémico (LES) Artrite reumatéide Tiroidite de Hashimoto Doenga de Graves Diabetes insulino dependente Esclerose maltipla Miastia gravis Sindrome de Goodpasture Reacdes imunolégicas a virus Imunidade a bactérias Imunidade a fungos Resposta imune a parasitos Principio dos imunoensaios Detecgao indireta de imunocomplexos Controle de qualidade nos imunoensaios Validagdo de um ensaio Outras medidas para garantir qualidade Interferéncias nos imunoensaios Reagées cruzadas ¢ analitos heterogéneos Reduzindo as reagdes cruzadas Anticorpos heter6filos ¢ anticorpos para animais Reconhecendo e reduzindo a interferéncia dos anticorpos endégenos Interferéneias devido a antigenos que mascaram a reagdo Interferéncias com 0 mecanismo indicador Efeitos matriz 66 70 71 72 74 15 15 16 19 83 84 93 99 lol 102 106 108 110 M1 113 116 118 118, 119 Ensaios de aglutin: Ensaios de dispersiio de luz Neflometria Turbidimetria Aplicagées da neflometria e turbidimetria Fatores que afetam a performance dos ensaios Teste de Paul Bunnel & Davidsohn e monoteste Teste do latex Teste de Waaler-Rose Teste de fixagio do complemento Teste para avaliacao da via classica do complemento (CHs9) Teste para avaliagdo da via alternada do complemento (AHso) Antiestreptolisina O (ASLO) Teste de neutralizagao Teste de difuséio em gel Teste da DRS Teste da dupla difusio Imunoeletroforese ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay) Imunofluorescéncia Quimioluminescéncia Teste de Western blot 120 124 125 127 128 130 130 133 134 136 147 150 151 155 158 159 160 162 163 170 176 178 DEFESAS INATAS DO ORGANISMO Chamamos de defesa inata aquela que nasce com o individuo, é ela que age como primeira barreira para tentar evitar que um agente infeccioso, por exemplo, ao entrar no organismo consiga se replicar e propagar. No entanto nem sempre a resposta inata é suficiente para fazer este bloqueio e af, quem toma parte neste processo é o sistema imune adaptativo que leva algum tempo até que atinja sta eficiéncia maxima e consiga evitar a propagagio do agente infeccioso. Além disso o sistema de resposta imune adaptativo tem importante papel na reinfecg2o pelo mesmo agente, pois af sua resposta € mais ripida no combate ao mesmo, isto se deve a chamada “meméria” do sistema imune. No sistema de resposta inato, temos a participagdo por exemplo, de fatores soliveis como lisozima e o sistema complemento (principalmente a via altemnada deste), e da participagio de células fagocitérias. J4 no sistema adaptativo temos principalmente a agdo de mecanismos dependentes de linfécitos B que dario inicio a produ; jo de anticorpos e a coordena\ 0 da atividade e supressio ligada principalmente aos linfécitos B. S20 os linfécitos os responsaveis pela meméria do sistema imune, uma vez ativados eles conseguem estabelecer uma resposta especifica ¢ répida quando ocorre uma reinfeccdo. A fim de compreender melhor a imunologia devemos ter nogdo de alguns conceitos basicos que determinam se um individuo possa se infectar ou nao: « REFRATARIEDADE - & um fendmeno inato, inespecifico e invaridvel que impede que uma pessoa se infecte por determinados microrganismos. Nestes casos, mesmo que variem as condigdes intrinsecas e extrinsecas do individuo, este no adquire determinadas infecgdes. Como exemplo existe microrganismos que infectam os animais ¢ jamais infectam 0 homem. O virus da Bouba avidria, o virus da peste suina clissica, o virus da peste suina afticana que so virulentos para a galinha e © porco respectivamente, jamais infectam 0 homem. As células humanas ndo possuem receptores para estes virus. Do mesmo modo, certas doengas infecciosas humanas, no sto reproduzidas em certos animais. Os virus do sarampo, da caxumba e da rubéola no infectam as aves, 0 cdo 0 gato e outros animais, * RESISTENCIA - E um fendmeno inato, inespecifico ¢ varidvel, ¢ a variago vai depender das condigdes intrinsecas e extrinsecas de cada individuo e também da biologia do agente infeccioso. Como exemplo, tem-se 0 Mycobacterium tuberculosis, que na maioria das vezes infecta o homem, sem Ihe causar danos e este, pelas suas defesas fique em estado latente, permanentemente, ou por um longo perfodo. Se houver problemas imunolégicos por um conjunto de varidveis como infecgdes em que haja destruicdo da defesa celular, administracao de certos medicamentos, como corticosteroides, desnutrigio, © Mycobacterium em fase latente pode reativar causando a tuberculose doenca. Um exemplo de doenga destruindo a resisténcia é a SIDA. O HIV, além de destruir © principal linfécito, 0 T4, produz uma série de outros distirbios causados por outros microrganismos tidos como normais. * IMUNIDADE - E um fenémeno nato, especifico e nao raro sofre variagio, principalmente quando hé um desequilbrio da imunidade celular. A infecgdo pelo HIV é um exemplo classico dessa alteragdo. A imunidade é realizada pelo sistema imune adaptativo, ou seja € realizado por células espeefficas para este fim. ‘+ IMUNIDADE INATA - Muitos mecanismos eficazes podem proteger o individuo de infecgies por microrganismos altamente patogénicos, independente de qualquer contato prévio com os 0 de diferentes agentes etiolégicos. Estes mecanismos to eficientes impedem a microrganismos. Toda defesa parece ser controlada geneticamente e ha uma diferenga de espécie para espécie e mesmo intra espécie, com variagées menores para um mesmo individuo, Para um mesmo agente etiolégico ha variagdes na sensibilidade de diferentes individuos. A galinha € altamente susceptivel ao virus da bouba, entretanto, qualquer mamffero & totalmente resistente, € mesmo as aves de espécies diferentes jo também resistentes. Outro exemplo & a resisténcia dos felinos e caninos ao virus Influenza A, entretanto este infecciona e produz, doenga com facilidade em aves, sufnos e equinos. Determinantes ambientais podem fazer aparecer desde 0 inicio da vida uma imunidade adquirida que induz. um mecanismo de resisténcia a certas infecgdes. Com relagio a esta resisténcia temos, por exemplo a grande sensibilidade da populagao indfgena as vérias doengas do homem civilizado. Aquela populacio € muito mais sensivel ao sarampo, a gripe, & tuberculose do que o homem civilizado. A imunidade inata é correlacionada a um grande nimero de determinantes. Estes podem ser especificos do hospedeiro, tais como: espécies € ragas, fatores genéticos individuais, idade, variagtio hormonal, nutrigao. Também, € importante a participagdo de determinantes fisicos como: pele, mucosas, superficies timidas como & 0 caso dos olhos, sitios anatémicos que retém a poeira € os microrganismos, etc. Aliado a estes determinantes, temos substincias quimicas como secregies diversas com atividade antimicrobiana, ¢ as enzimas e os polipeptideos bisicos que so substancias com atividade bactericida ou bacteriostética. A pripria fagocitose com sua clissica digestio, é um fendmeno inespecifico. ‘A imunidade esté diretamente relacionada as ragas, as espécies e as familias. Como exemplo citamos a hereditariedade, que esté relacionada & resisténcia de determinadas familias cujos membros so muito sensiveis & tuberculose, contrastando com o que normalmente acontece com a populagio humana em geral. ‘Também temos a idade como fator de alteragio na resposta inata, geralmente as criangas recém-nascidas so sens{veis a uma variedade de agentes infecciosos e tal sensibilidade esté ligada & deficiéncia imunitéria, por incapacidade do sistema linfide reagir aos antfgenos estranhos. Na velhice, os determinantes também desempenham anormalidades de resisténcia, ficando as pessoas mais sensfveis aos agentes estranhos diversos, A nutrigao & outro fator de alterago marcante na variagao da resisténcia. A subnutrigao de animais de laboratério acarreta uma leucopenia e a atividade fagocitéria diminui, induzindo o aparecimento de infecgdes diversas. Por outro lado, a resisténcia inata pode variar com o agente etiolégico, Sabe-se que o virus da poliomielite prefere as criangas bem nutridas, enquanto que as criangas desnutridas sio mais resistentes a este virus. O contrério acontece com virus do sarampo que infecta a crianga desnutrida produzindo processos infecciosos graves. Nas eriangas bem nutridas a doenga produzida por este virus é mais suave, Fazem parte da imunidade inata, as barreiras mecinicas € quimicas conforme ja citado anteriormente. A pele integra é um obstéculo a um grande ntimero de agentes infecciosos. A camada de queratina contribui muito para esta eficiente barreira. As mucosas contendo secrecdes, células ciliadas com seus movimentos caracteristicos removem os microrganismos e as enzimas oferecem efeitos bloqueadores. No estmago, 0 suco gistrico, pelo seu pH, tem agio bactericida sobre bactérias Gram negativas © Gram positivas. Logicamente umas poucas espécies de bactérias como o Mycobacterium tuberculosis e 0 Helicobacter pylori resistem a esse pH e podem até colonizar na mucosa estomacal. Na pele, as secregdes sebiceas e sudorfparas contém fcidos graxos com propriedades bactericida, fungicida e viruscida, Na cavidade oral e nos olhos encontra-se a lisozima, protefna bésica de baixo peso molecular, encontrada em alta concentragio nos polimorfonucleares e com capacidade de hidrolizar os glicopeptideos da parede de muitas bactérias Gram negativas, resultando em lise das mesmas. Menor ago é exercida sobre Gram positivas. Quando os microrganismos conseguem vencer as barreiras naturais temos 0 proceso inflamat6rio em que, no decorrer dest ha lesio de um grande nimero de células, liberando varios tipos de protefnas basicas. Incluem-se, entre estas as esperminas € as espermidinas que destroem 0 Mycobacterium tuberculosis € 0 Staphylococcus aureus. Além destas, sio liberadas, também, proteinas basicas com alto teor de lisina e arginina, com fungi bactericida, (Os Fagécitos Os fagécitos sdo células especializadas na captura de microrganismos e substincias estranhas a0 organismo e, devido a sua especialidade so também chamados de fagécitos profissionais. Estes fagécitos sdo formados por dois principais grupos celulares que compreende os grandes macr6fagos 0s pequenos granulécitos polinucleares. Os granulécitos polinucleares também sio chamados de polimorfos ou neutréfilos, baseado nas propriedades que tem ao terem seu citoplasmas corados. Os macr6fagos tem origem na medula dssea como promonécitos os quais ao amadurecerem, circulam no sangue como monécitos © por fim se transformam em macréfagos, se espalhando pelos tecidos. Estes macréfagos esto presentes por todo 0 tecido conectivo € esto associados a membrana basal de pequenos vasos. Eles esto concentrados em érgdos como pulmdes (macréfagos alveolares), figado (células de Kupfer), na periferia dos seios medulares dos linfonodos, nos sinuséides do bago, tudo isso com a finalidade de atuar como uma barreira filtrante & entrada de microrganismos. Em geral 3 (0s macréfagos sto células de vida longa e que dependem da mitoc6ndria para retirarem sua energia, apresentam ainda um reticulo endoplasmitico extremamente rugoso devido a grande quantidade de protefnas secretérias que esta célula produz e libera. 5 polimorfonucleares so as células encontradas em maior quantidade dentre os leucécitos, assim como os macréfagos, se originam de uma mesma ‘ula totipotente na medula dssea. Es tas células nao possuem mitocéndria, mas faz uso de seu glicogénio citoplasmético (que € abundante) estocado justamente para servir de fonte de energia. A glicélise que estas células realizam permite que elas trabalhem em condigdes de anaerobiose, como as que ocorrem num processo inflamat6rio. Outra caracterfstica dos polimorfonucleares, € que so células que nao se dividem e possuem um tempo de vida curto (algo entre 24 e 72 horas), apresentam um nticleo segmentado, seu citoplasma se car pela presenca de grinulos azuréfilos, que contém mieloperoxidase, lisozima e proteinas catiOnicas, grnulos secundétios especificos que contém lactoferrina ¢ lisozima associadas e grinulos tercidrios, que contém as hidrolases icidas. De modo geral, podemos dizer que os polimorfonucleares so a defesa contra as bactérias piogénicas enquanto que os macréfagos atuam melhor contra microrganismos intracelulares, © processo de fagocitose pelas células fagocitérias envolve primeiro a adesio do microrganismo a superficie celular destas células. Esta adesio envolve o reconhecimento de carbohidratos do microrganismo e, uma ver. aderido e identificado como estranho, microrganismo é iniciada a ingestao, ativando 0 sistema de contrag4o de actina e miosina 0 qual faz com que 0 citoplasma celular vé envolvolvendo a particula estranha até que esta fique dentro de um vactiolo (fagossomo). A etapa seguinte nesse processo é a liberagio de substincias que tentario destruir esta particula ingerida, Nessa etapa ha um grande consumo de oxigénio pela célula resultando no aumento do desvio da atividade da hexose monofosfato. Isto gera NADPH ¢ reduz 0 oxigénio molecular através da sistema da membrana citoplasmética de citocromos dando origem a uma serie de agentes microbicidas poderosos, chamados de anion superéxido, peréxido de hidrogénio, e radicais hidroxila, © peréxido formado, em associagdo com a micloperoxidase da origem a um potente sistema de halogenagao que é capaz de destruir tanto bactérias como virus. Assim que o anion superdxido é formado, a enzima superdxido desmutase atua de forma a converter 0 superéxido em oxigénio molecular ¢ perdxido de hidrogénio, consumindo durante este processo ions hidrogénio, Deste modo hé inicialmente um aumento do pH, facilitando a ago anti bacteriana das proteinas catiGnicas oriundas dos gi los dos fagécitos. Estas moléculas sto capazes de lesar a membrana microbiana devido a ago da catepsina G e pela aderéncia direta a membrana microbiana. Outros fatores oriundos dos grinulos so a lactoferrina e intermedisrios nitrogenados como 0 éxido nitrico, através de sua capacidade de se complexar ao ferro, privando a bactéria de um elemento essencial ao seu crescimento, ¢ a lisozima que destrof a proteinaglicana da parede celular bacteriana. Deste modo 0 pH vai caindo de modo que os microrganismos que morrendo vao sendo degradados pelas enzimas hidroliticas. Assim que 0 processo termina 0s produtos lula, resultante desta degradagdo so liberados para o exterior da Como a fagocitose depende da adesao celular a membrana do fagécito, esté claro que deve haver um mecanismo que permita mobilizar um maior nimero de células para o local de entrada do agente estranho. No caso das bactérias estas produzem substincias como a formil metionina a qual atrai os leucécitos, no entanto este € um sinal ainda fraco, ¢ existe um complexo mais eficiente realizado por nosso proprio organismo que ¢ a ativagdo da cascata do complemento (principalmente a via altemativa), © complemento tem a propriedade de disparar o estimulo necessério a ativagdo de uma cascata que termina por destruir o organismo estranho ¢ atrair eélulas fagocitérias para 0 local onde o microrganismo esta. O principal elemento da cascata do complement & 0 C3, e a sua clivagem da inicio a via alternativa do complemento. O C3 entra em ativagdo expontinea em pequenas concentragdes gerando uma nova molécula a C3b, a qual & capaz de se complexar com o fator Be interage com o fator D presente no plasma dando origem a enzima C3bBb (C3 convertase), esta por sua vez dé um fe back positivo aumentando a amplificagdo da resposta ao produzir novas moléculas de C3b. No entanto todo este processo & regulado por mecanismos que bloqueiam a agio da C3 convertase, a quebrando em novas moléculas menores e sem agao sobre a C3, Na presenga de certas moléculas como carbohidratos presentes na superficie de bactérias 0 3h gerado pela C3 convertase, pode aderir e se tomar estvel A uma nova quebra, nao perdendo assim sua ago, E nessa situagGo que ela atua ativando a via altemativa do complemento. Nesta ativagio uma grande quantidade de C3b, ¢ logo se adere a membrana do microrganismo de forma covalente, isto termina por conferir a propriedade opsonizante desta fraga0 do complemento. Esta opsonizagao faz com que as células fagocitérias reconhegam 0 organismo estranho com maior facilidade e assim o fagocitem com maior rapidez. O C3b junto com a C3 convertase consegue atuar sobre 0 fator C5 do complemento 0 quebrando em C5a e C5b. © C5a junto com C3a atuam sobre os mastécitos os fazendo degranular, conseqiientemente ha a liber io de fatores quimiotéticos e de mediadores da permeabilidade vascular. Estes mediadores da permeabilidade vascular aumentam a permeabilidade através da modificagdo das forgas intercelulares entre as células endoteliais da parede dos vasos. Isto nfo s6 permite a exudagio do plasma como permite que elementos constituintes deste como 0 complemento chegue a0 sitio da infeccao, Estes mediadores também promovem a ativagio de moléculas como a ICAM-1 (molécula 1 intracelular de ade io) ¢ ELAM-1 (molécula 1 endotelial de adesio leucocitéria) as quais se ligam moléculas especificas dos polimorfonucleares e permitem que estas passem entre as paredes dos capilares. Por outro lado os fatores quimiotsticos, atraem os leucécitos polimorfonucleares marginais de sua localizagao intravascular, através da parede dos vasos © eventualmente os conduzem até os microrganismos opsonizados. Os polimorfonucleares possuem um receptor especifico para C3b em sua membrana e por isso aderem rapidamente e firmemente ao microrganismo opsonizado. O processo de dilatagao dos capilares (eritema), exudagao das protefnas plasméticas e do fluido plasmético (edema), devido a alteragio hidrostética e osmética, e ao actimulo de neutréfilos é& que dio origem a resposta inflamatéria aguda. ‘Além da atuagio da fragdo CSa do complemento temos a continuagio da cascata do complemento com 0 C5b que também adere a membrana do microrganismo, ao lado de C3b. Apés a adesio de CSb temos a adesto de C6, C7 ¢ C8 que forma um complexo capaz de jé dar inicio a lestio da membrana celular, com a adigio de alguns componentes C9 temos entio a formagio do complexo de ataque a membrana (MAC) que leva a lise do microrganismo por perfurar a membrana. Fazendo parte desta resposta imune inata, temos ainda as protefnas de fase aguda, como a Proteina C Reativa, que tem sua concentragio aumentada em decorréncia da liberago de mediadores de sua sintese tais como a interleucina I (IL-1), interleucina 6 (IL-6) e do Fator de Necrose Tumoral (INF). Estes mediadores sao liberados como consequéncia da injéria celular, Existem ainda outros fatores antimicrobianos extracelulares presente: no plasma como a lactoferrina, que forma um. complexo com 0 ferro e o toma indisponivel A bactéria que costuma utiliza-lo como fator de crescimento, Temos também os interferons (IFN), mais conhecidos por ter agao antiviral, por interferirem com proceso de adesio viral A uma célula e, por vezes no permitindo que mais de um virus infecte uma célula jé parasitada por um virus. Os leucécitos produzem varios tipos diferentes de O-IEN, enquanto os fibroblastos praticamente todos os tipos celulares sintetizam o B-IFN. Um terceiro tipo de interferon, 0 y-IFN nao é um componente da resposta imune inata. Quando as células sao infectadas por um virus, elas produzem ¢ secretam interferon 0 qual se liga a receptores especificos nas células adjacentes. O interferon, uma vez ligado a uma célula nao infectada exerce atividade antiviral ao facilitar a sintese de enzimas que interferem com o mecanismo de replicagao viral. ‘Ainda fazendo parte da resposta imune inata encontramos um grupo de células chamadas de Cétulas Natural Killer ou NK (matadoras naturais), estas células possuem atividade citotéxica, Na verdade as NK so grandes linfécitos granulares que se ligam, provavelmente a glicoproteinas, que aparecem na superficie de células infectadas por virus ¢ algumas células tumorais, Uma ver. ligada a célula alvo as NK liberam 0 conteddo de seus grinulos. Parece que o elemento citotéxico mais importante liberado so as perforinas, que possuem uma aco parecida com o elemento C9 do complemento uma vez que € capaz. de fazer furos na membrana da célula alvo e assim a leva a citdise, Ainda com menor participagdo temos os eosinéfilos, que parecem ser os fagécitos com especificidade para agentes parasitérios como os helmintos. Os eosinéfilos possuem grnulos em seu citoplasma que tem a propriedade de se corar com corantes écidos, Estas células também possuem receptores para o elemento C3b do complemento, uma vez feita a adesdo do eosin6filo com 0 parasito ocorre a liberago de proteinas capazes de Iesar a membrana do mesmo ¢ ainda promover uma destruigdo maior devido a liberagao de metabélitos do oxigénio que contribuem nesta destruicao. TIPOS DE IMUNIDADE Sempre que ultrapassadas as barreiras inespecificas pelos agentes infecciosos, estes vio induzir novos mecanismos de defesa, na maioria das vezes muito mais eficientes do que as diferentes ‘modalidades que vimos anteriormente. Este conjunto denomina-se estado de imunidade. ‘A imunidade pode ser ativa e passiva, subdividindo-se cada uma destas modalidades em natural ¢ artificial IMUNIDADE ATIVA: E aquela em que 0 individuo recebe 0 antigeno e 0 organismo tem que trabalhar para formar a sua defesa, isto é, a imunidade humoral mediada por anticorpos e a celular mediada por células. IMUNIDADE ATIVA NATURAL: E aquela adquirida pela infecgao natural. Ex.: sarampo, caxumba, mononucleose. IMUNIDADE ATIVA ARTIFICIAL: £ aquela induzida pela vacina, a qual pode ser constituida por microrganismos atenuados como a vacina da tuberculose, anti-pélio, anti-sarampo e anti-febre amarela; vacinas inativadas como a vacina ant ibica, anti-coqueluxe, anti-salmonelose; ¢ vacinas constituidas por toxoides ou fragdes de microrganismos como a para difteria © tétano (toxdides), adenovirose, (hexon isolado do Adenovirus). Atualmente, hé outra modalidade de vacinas que sao protefnas clonadas muito especificas. Como este exemplo, temos a vacina contra a Hepatite B, produzida numa levedura pelo processo do DNA recombinante. IMUNIDADE PASSIVA: E aquela resultante dos anticorpos pré-formados. Neste caso a imunidade & Por pouco tempo. IMUNIDADE PASSIVA NATURAL: E obtida através de amicorpos da mie (IgG) que atrayessam a placenta para o feto ou através do colostro, nos primeiros dias de amamentacio, IMUNIDADE PASSIVA ARTIFICIAL: E adquirida pela inoculagdo de anticorpos pré-formados em outro animal. Como exemplo, temos a soroterapia contra raiva, anti-ofidica, anti-tetanica e anti- diftérice, Estes antiseoros sflo obtidos em cavalos ¢ aps purificago exo usados para imunizagfo. & um processo efémero de proteco, durando de um a 4 meses, no maximo, IMUNIDADE ADOTIVA: & uma imunidade especial adquirida pela transferéncia de células (suspensio de linfonodos, bago, medula dssea), provenientes de doadores imunizados que so aceitos como histocompattveis. NISMOS DA IMUNIDADE (Os mecanismos da defesa organica contra as infecgdes podem ser discriminados da seguinte forma: a) Imunidade humoral (anticorpos) a.) Antitéxica a.2) Antimicrobiana b) Imunidade celular IMUNIDADE ANTITOXICA: Este tipo de imunidade € tipico das toxi-infecgdes tais como tétano e difteria, nos quais os microrganismos causadores atuam por seu poder toxigénico afetando as células do organismo hospedeiro. IMUNIDADE ANTIMICROBIANA: A imunidade humoral antimicrobiana é bem exemplificada pela defesa especifica que se estabel no decurso da pneumonia lobar pelo Streptococcus pneumoniae € nna meningite causada pela Neisseria meningitidis. Quaisquer destes germes transpondo as barreiras defensivas do trato respiratério, invadem os alvéolos de determinado segmento brinquico onde se implantam_ ¢ se multiplicam. Dai por diante segue uma sequéncia de eventos semelhantes aos que se desenvolvem no processo inflamatério, em que os capilares se distendem e o plasma filtra através de suas paredes, derramando para o interior dos alvéolos pulmonares. Fagécitos, inicialmente, polimorfonucleares e depois macr6fagos afluem em grande quantidade formando um exudato espesso tornando macigo 0 contedido alveolar, impossibilitando a respiracao, IMUNIDADE CELULAR: © agente etiolégico de infecgies pode multiplicar-se dentro dos mactéfagos. Nestas condicdes 0 anticorpo nao pode atingi-lo, estabelecendo a imunidade através de linfécitos efetuadores, que determinam uma “ativagdo” dos macréfagos, causando uma destruigao do agente infeccioso intracelular. Em infecges como a tuberculose, a lepra, a brucelose e as viroses, em geral € estabelecido um quadro de equilfbrio entre 0 hospedeiro ¢ 0 agente infeccioso, persistindo este ‘no organismo em focos de infecgdo latente ou erdnica. Bem diferente da imunidade humoral, a imunidade celular nfo pode ser transferida, passivamente, com soro imune, mas sim com células linfSides (imunidade adotiva) de animal sobrevivente & infecg4o com microrganismo virulento ou vacinado com agente atenuado, Exemplo {ipico encontramos na vacina BCG ou nas vacinas virais atenuadas, como a da febte amarela, da poliomielite, etc. ‘A grande importancia da imunidade celular & evidenciada nas viroses, nas quais 0 virus que € um agente intracelular, é destrufdo onde o anticorpo nao é capaz de penetrar. Este fato mostra que os anticorpos sistémicos ou locais nfo tem papel relevante nas infecgdes virais. Estes anticorpos sto incapazes de impedir a propagagao do virus por contiguidade celular. Estes anticorpos tem a fungi mais de neutralizar os virus, impedindo sua disseminagdo hematogénica, como ¢ 0 caso do virus da polio.

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