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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Engenharias

Cadeira: Hidráulica Geral Semestre: 2°


Cursos: Curso de Engenharia Ambiental Ano: 2°

Tema I: Introdução, Propriedades físicas dos líquidos

1.INTRODUÇÃO

1.1 Conceito de Hidráulica. Subdivisões

O significado etimológico da palavra é Condução de água (do grego hydor-agua e aulos-


tubo, condução).

Entretanto, actualmente, empresta-se ao termo Hidráulica um significado muito mais lato: é


o estudo do comportamento da água e de outros líquidos, quer em repouso, quer em
movimento.

A hidráulica pode ser assim dividida:

a) Hidráulica Geral ou Teórica

Hidrostática - trata dos fluidos em repouso ou em repouso

Hidrocinemática – estuda a velocidade e trajectórias sem considerar forças e energias.

Hidrodinâmica – refere-se as velocidades, as acelerações e as forcas que actuam em fluidos


em movimento.

b) Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica – é a aplicação concreta ou prática dos


conhecimentos científicos da Mecânica dos fluidos e da observação criteriosa dos
fenómenos relacionados a água, quer parada, quer em movimento.

As áreas de actuação da hidráulica aplicada ou Hidrotécnica são:

 Urbana:

Sistemas de abastecimento de água

Sistemas de esgotamento sanitário


Sistemas de drenagem pluvial

Canais

 Rural

Sistemas de drenagem

Sistemas de irrigação

Sistemas de água potável e esgotos

 Instalações prediais

Industriais

Residências

Comerciais

Publicas, etc.

 Estradas (drenagens)
 Defesa contra inundações
 Geração de energia
 Navegação e obras Marítimas e Fluviais
 Lazer e paisagismo

Os instrumentos utilizados para a actividade profissional de hidrotécnica são:

 Analogias
 Cálculos teóricos e empíricos
 Modelos reduzidos físicos
 Modelos matemáticos de simulação
 Hidrologia
 Arte

Os acessórios, materiais e estruturas utilizados na prática de Engenharia Hidráulica ou


Hidrotécnica são:

Aterros Turbinas Diques Medidores tubos e canos

Barragens Canais Dragagens Orifícios vertedores, etc

Bombas Comportas Drenos Reservatórios

2. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS FLUIDOS

A - CONSTANTES FISICAS

2.1 Definições
Os fluidos são Substancias ou corpos cujas moléculas ou partículas tem propriedade de se
mover, umas em relação às outras, sob acção de forças de mínima grandeza.

Figura 1.1

Quanto ao comportamento os fluidos classificam-se em:


Líquidos – São praticamente incompressíveis, ocupam volumes fixos independentemente
do tamanho do contentor e a massa específica depende pouco da temperatura.
Gases – São compressíveis, ocupam completamente o volume do contentor e a sua massa
específica é função da temperatura e pressão.

2.2 Peso e massa


Na linguagem corrente, as noções de peso e massa são por vezes confundidas, no entanto,
do ponto de vista físico, representam, como se sabe, duas coisas diferentes. A massa de
um corpo é uma característica da quantidade de matéria que esse corpo contem, isto é , da
inercia que o corpo oferece ao movimento; o peso do corpo representa a acção (força) que
sobre ele exerce a gravidade.
Entre o peso P e a massa m dum corpo existe a relação fundamental vectorial
2.1
A que corresponde a equação escalar

Em que g é a aceleração de gravidade.

A aceleração de gravidade, g, é função da latitude e da altitude. O valor de g, ao nível


médio do mar é 9.81m/s2

2.3 Sistemas de unidades


Tradicionalmente, a hidráulica tem usado o sistema Métrico-Gravitatório (tipo FLT), cujas
unidades fundamentais são: de força, F- o quilograma-força (kgf); de comprimento, L- o
metro (m); e de tempo, T- o segundo (s).

Na literatura inglesa tem-se também usado o Sistema Inglês (tipo FLT), cujas unidades
fundamentais são: de força, F- a libra (lb); de comprimento, L- o foot (ft) ou a polegada
(inch); e de tempo, T- o segundo (s).

Também tem sido usado, sobretudo em Física, o sistema CGS (tipo MLT), cujas unidades
fundamentais são: de massa, o grama – (g); de comprimento, o centímetro – (cm); e de
tempo, o segundo (s).

Recentemente, estão em vias de ser abandonados os sistemas tipo FLT, em favor do


chamado Sistema Internacional de Unidades, que se designara por SI, do tipo MLT, em que
as unidades fundamentais são o quilograma-massa, designado só por quilograma, o metro e
o segundo.

2.4 – Sistema Internacional de Unidades, SI

As unidades fundamentais são:

Grandezas Nome Simbolo


Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Corrente electrica Ampere A
Temperatura Kelvin K
Intensidade luminosa Candela cd

as unidades derivadas podem ser expressas em termos das unidades base como: a área –
metro quadrado (m2); a velocidade – metro por segundo (m/s); a massa específica –
quilograma por metro cubico (kg/m3).

Há unidades com nome especial, das quais as mais importantes são:


Unidade SI
Expressao em termos
expressao em
das unidades
Grandezas Nome Simbolo termos de outras
fundamentais
unidades
Forca Newton N m.kg.s-2
Pressao Pascal Pa N/m2 m-1kgs-2
energia e trabalho,
quantidade de calor Joule J N.m m2.kg.s-2
Potencia Watt W N.m/s m2.kg.s-3

os múltiplos e submúltiplos são obtidos com os prefixos seguintes:

Factor Prefixo Símbolo Factor Prefixo Símbolo


multiplicativo multiplicativo
1012 tera T 10-2 centi c
109 giga G 10-3 mili m
106 mega M 10-6 micro μ
103 quilo k 10-9 nano n
102 hecto h 10-12 pico p
10 deca da 10-15 fento f
10-1 deci d 10-18 atto a

2.5 Massa específica ou Volúmica

Define-se massa específica de um fluido, como meio contínuo, como sendo a quantidade de
massa por unidade de volume, isto é:

m

V (2.2)

Um outro conceito bastante utilizado na literatura é a densidade relativa (specific gravity)


definida como a razão entre a densidade do material e a densidade de uma substância de
referência. A substância de referência é ar para gases e água para líquidos a 293 K e 1 atm.

2.6 Peso específico ou volúmico


Peso específico é o peso de fluido por unidade de volume.

(2.3)
Onde: P = peso; V = volume

Unidades: kgf/m3 (MK*S), N/m3 (SI), dina/cm3 (CGS)

Pode-se deduzir uma relação simples entre o peso específico e a massa específica:
mas P = m.g

ou γ = ρg (2.4)

PESO ESPECÍFICO RELATIVO PARA LÍQUIDOS ( )

É a relação entre o peso específico do líquido e o peso específico da água em condições


padrão. Será adoptado que

Como a massa específica e o peso específico diferem por uma constante, conclui-se que a
massa específica relativa e o peso específico relativo coincidem.

2.7 – Coeficiente de Viscosidade Dinâmica

O coeficiente de viscosidade dinâmica, μ, é o parâmetro que traduz a existência de esforços


tangenciais nos líquidos em movimento. Supondo duas placas de superfície S que se movem
a distância Δn, e a velocidade relativa Δv, a força necess ria para o deslocamento é (1):

ou, em termos de tensão unitária:

μ chama-se coeficiente de viscosidade dinâmica. As dimensões de μ são L-1MT-1. No sistema


internacional μ exprime-se em Poiseuille (P1). Será 1P1=1N.s/m2. no sistema CGS, a
unidade é poise (dine s/cm2). Geralmente emprega-se o centipoise que vale a centésima
parte do poise. Um poise equivale a 0.1 N.s/m2. Para a água a 20oC, μ≈10-3 N.s/m2.

(1) só em regime laminar


As duas paralelas podem ser, na prática, materializadas por dois cilindros coaxiais afastados
de uma espessura, e, muito pequena, comparada com os raios dos cilindros (experiência de
Couette). Assim, os dois cilindros assemelham-se a duas placas paralelas que se
movimentam uma em relação à outra. Faz-se girar o cilindro exterior e mede-se a forca F
necessária para manter fixo o cilindro interior. Se for ῳ a velocidade de rotação, a
velocidade tangencial será . A superfície da placa será . A forca necessária
para manter o cilindro interior parado é:

Daqui se pode extrair o valor μ.

Os fluidos que obedecem à lei chamam-se fluidos newtonianos.

Podem no entanto aparecer leis diferentes, como:

Aplicáveis a tintas, vernizes, leite, sangue, etc. ou

Aplicável, geralmente, a pastas e materiais plásticos.

As relações anteriores são validas quando a viscosidade é independente do estado de


agitação.

Há, porem, líquidos que têm viscosidade elevada quando em repouso; a viscosidade diminui
quando o liquido e submetido a uma agitação violenta, a temperatura constante: diz-se
então que o líquido é tixotrópico. Estão nesse caso os betumes, os compostos de celulose,
as colas, as gorduras, os melaços, os sabões, os alcatroes, etc.

Um líquido diz-se dilatante se a sua viscosidade aumenta com a agitação, a temperatura


constante, tais como as pastas de argila, compotas de açúcar e outros fluidos similares.

A viscosidade de muitos líquidos tixotrópicos e dilatantes volta ao seu valor inicial quando
cessa a agitação. A relação de recuperação varia com a natureza do liquido.

Nos sistemas de bombagem, é muito importante conhecer ate que ponto a viscosidade do
líquido pode ser afectada pela agitação, de modo a poderem calcular-se correctamente as
perdas de carga.
Denomina-se líquido perfeito, ou ideal, um líquido, que não existe na natureza, cuja
viscosidade fosse nula. Um liquido em repouso ou em movimento de conjunto, isto e, em
que não haja deslocamentos relativos dos elementos que o constituem, comporta-se como
um liquido perfeito.

2.8 Coeficiente de viscosidade cinemática

Coeficiente de viscosidade cinemática, v, é o quociente entre o coeficiente de viscosidade


dinâmica e a massa específica: . As dimensões de v são L2T-1. No sistema
internacional exprime-se em m2/s. No sistema CGS, a unidade é o stoke- St (cm2/s). Em
geral a unidade empregada é o centistoke, cSt, que vale a centésima parte do stoke. Um
stoke é igual a 10-4m2/s. Para a água a 20oC, é v≈10-6m2/s.

2.9 Tensão superficial. Capilaridade

Uma molécula, no interior de um líquido, esta sujeita a forcas moleculares exercidas sobre
ela pelas moléculas vizinhas. Estas forcas variam, devido à agitação molecular; no entanto,
o seu valor médio, num tempo não infinitesimal é zero.

Uma molécula à superfície deixara de estar submetida à acção de forcas simétricas, visto
que já não estará rodeada simetricamente por outras moléculas; assim, a resultante dessas
forcas é diferente de zero, dando origem à tensão superficial; a sua direcção é normal à
superfície do líquido.

Qualquer molécula à superfície, ou na zona de separação comporta-se como uma


membrana tendida. Define-se tensão superficial, σ, a tensão por unidade de comprimento
numa linha qualquer da superfície de separação.

as dimensões da tensão superficial, σ, são MT-2. No sistema internacional, exprime-se em


N/m.

Como resultado da tensão superficial, interessam sobretudo, para a hidráulica, os


fenómenos de capilaridade que ocorrem na superfície livre dos tubos de pequeno diâmetro.
Nestes tubos, nota-se uma sobreelevação da superfície livre, com a formação dum menisco
concavo, se o liquido molha a parede, e o abaixamento da superfície e a formação dum
menisco convexo, se o liquido não molha a parede. Esta sobreelevação ou abaixamento,
medidos em relação ao ponto do menisco com tangente horizontal, é dada por:
em que r é o raio do tubo e θ é o angulo de contacto entre o liquido e a parede do tubo.
Este angulo é praticamente zero, se o liquido molha completamente a parede do tubo (
como sucede no caso da agua destilada, com o vidro da parede absolutamente limpo). a
expressão anterior pode pôr-se, para determinado liquido, sob a forma h=k/d (relação de
Jurin), em que k é função da temperatura, com h e d em mm. Para o mercúrio, k=-14mm2
e é praticamente independente da temperatura.

A relação chama-se capilaridade cinemática. Tem as dimensões L3T-2. No sistema


internacional exprime-se em m3/s2.

2.10 Pressão

Num fluido em repouso, a resultante das forças que se exercem sobre uma partícula é nula.
A tensão sobre um elemento de superfície do fluido é normal a esse elemento e, num ponto
determinado, idêntica em todas as direcções. Esta tensão designa-se por pressão. a pressão
tem dimensões de uma forca por unidade de superfície, ou seja, ML-1T-2. no sistema
internacional exprime-se em N/m2.

A pressão, p, mediada em relação à pressão atmosférica, chama-se pressão relativa. A


pressão absoluta, Pa, será a soma da pressão relativa, p, com a pressão atmosférica po.

B-ANÁLISE DIMENSIONAL

2.11- generalidades. parâmetros geométricos

é importante, para ter ideias claras sobre a maneira como os diferentes parâmetros
intervem nos escoamentos dos fluidos, conhecer os métodos da analise dimensional.
partindo do facto de que as leis físicas, se existirem, não devem depender das unidades
empregadas para a determinação dos valores numéricos das diferentes grandezas, a teoria
da analise dimensional permite determinar a forma mais simples destas leis.

vimos, anteriormente, as constantes físicas dos fluidos. indicam-se, a seguir, os parâmetros


geométricos mais utilizados na hidráulica.

Seccao molhada, S: secção ocupada pelo escoamento.

Perimetro molhado, P: perímetro da secção molhada, em contacto com o liquido escoado.


nos escoamentos com superfície livre, a parte em contacto com o ar não entra no perímetro
molhado.
Raio hidráulico, R=S/P : quociente entre a secção molhada e o perímetro molhado.

diâmetro hidráulico, D=4R : nas condutas circulares, o diâmetro hidráulico é o diâmetro da


conduta.

para os escoamentos com superfície livre, definem-se ainda os seguintes elementos


geométricos:

Largura superficial, L: largura da secção molhada, na superfície livre.

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