Informativo 896-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos excluídos deste informativo pelo fato de não terem sido ainda concluídos em virtude de pedidos de vista ou
de adiamento. Serão comentados assim que chegarem ao fim: ADI 5122/DF; RE 806339/SE; ADI 5032/DF.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 1080/PR; MS 32096.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle
concentrado de constitucionalidade.
MEDIDAS PROVISÓRIAS
É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCESSIONÁRIAS
Terceirização do art. 25, § 1º da Lei 8.987/95.
DIREITO AMBIENTAL
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP
PROGRESSÃO DE REGIME
Súmula 715 do STF continua sendo válida.
DIREITO INTERNACIONAL
EXEQUATUR
Possibilidade de concessão de exequatur por decisão monocrática do Ministro do STJ.
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões
proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade
Importante!!!
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede
de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo
respectivo Governador.
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como
legitimado pelo art. 103 da CF/88).
Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos processuais
em sede de controle concentrado de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018.
Desse modo, repita-se, o Estado-membro não tem legitimidade para propor ADI. A legitimidade pertence
ao Governador do Estado. Logo, se a ação é julgada improcedente, quem tem legitimidade para recorrer
é o próprio Governador (e não o Estado).
Em suma:
O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador.
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art.
103 da CF/88) e não do Estado-membro.
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/04/2018.
Tema polêmico!
O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95 prevê o seguinte: “(...) a concessionária poderá contratar
com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao
serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.”
Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a terceirização
contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação do art. 25, § 1º,
da Lei nº 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10?
• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas
concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a aplicação
deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula da reserva de
plenário.
STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, julgado em
5/3/2018 (Info 896).
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a concessionária poderá
contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou
complementares ao serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.
Uma das Turmas do TRT da 3ª Região não concordou e afirmou que este § 1º do art. 25 não autoriza a
possibilidade de terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do serviço público. Afirmou
o TRT, citando julgados do TST:
“A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão de
prestação de serviços públicos, ostenta natureza administrativa e, como tal, ao tratar, em seu art. 25, da
contratação com terceiros de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido,
não autorizou a terceirização da atividade-fim das empresas do setor elétrico. Isso porque, esse diploma
administrativo não aborda matéria trabalhista, nem seus princípios, conceitos e institutos, cujo plano de
eficácia é outro. A legislação trabalhista protege, substancialmente, um valor: o trabalho humano,
prestado em benefício de outrem, de forma não eventual, oneroso e sob subordinação jurídica, apartes à
já insuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxo de outro princípio maior, o da
dignidade da pessoa humana. Não se poderia, assim, dizer que a norma administrativista, preocupada
com princípios e valores do Direito Administrativo, viesse derrogar o eixo fundamental da legislação
trabalhista, que é o conceito de empregado e empregador, jungido que está ao conceito de contrato de
trabalho, previsto na CLT.”
Reclamação
A concessionária não se conformou com a decisão do órgão fracionário do TRT e ingressou com
reclamação no STF alegando que a turma, ao afastar a aplicação do § 1º do art. 25 da Lei nº 8.987/95 sem
que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a Súmula Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão
fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo
órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
Poder Público.
Tema polêmico
O tema é polêmico e existem decisões em sentido contrário, como é o caso da Rcl 24284/SP, rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).
Resumindo:
Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a terceirização contratada
por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação do art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95,
esta decisão viola a súmula vinculante 10?
• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas
concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a aplicação deste
dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula da reserva de plenário.
STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, julgado em
5/3/2018 (Info 896).
• NÃO. O ato reclamado, ao considerar ilegal a contratação de empregado, por empresa interposta, para
prestar serviços essenciais à atividade fim da tomadora, nos termos da Súmula 331, I, do TST, não
declarou expressamente, nem implicitamente, a inconstitucionalidade de qualquer norma especial de
regência aplicável ao caso. É firme a jurisprudência do STF no sentido de que não se exige reserva de
plenário para a mera interpretação e aplicação das normas jurídicas que emerge do próprio exercício da
jurisdição, sendo necessário, para caracterizar violação à cláusula de reserva de plenário, que a decisão
de órgão fracionário fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal e o Texto Constitucional.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).
STF. 2ª Turma. Rcl 26408 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 07/11/2017.
MEDIDAS PROVISÓRIAS
É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?
Importante!!!
É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre
veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.
Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser
editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade
civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de
todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao
meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de
unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao
ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória,
ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).
DIREITO AMBIENTAL
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP
Importante!!!
É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos,
como é o caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso viola o art.
225, § 1º, III, da CF/88.
Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei
em sentido formal.
A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda
que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).
Unidades de conservação
Unidade de conservação é...
Criação e ampliação
A criação ou a ampliação das unidades de conservação pode ser feita por meio de LEI ou DECRETO do
chefe do Poder Executivo federal, estadual ou municipal.
Extinção ou redução
A extinção ou redução de uma unidade de conservação somente pode ser feita por meio de LEI ESPECÍFICA.
Atenção: mesmo que a unidade de conservação tenha sido criada por decreto, ela só poderá ser suprimida
mediante lei. Essa determinação consta no art. 225, § 1º, III, da CF/88:
Art. 225. (...)
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,
vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;
Mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 fala em espaços territoriais especialmente protegidos... isso abrange
as unidades de conservação?
SIM. As unidades de conservação são uma das espécies de espaços territoriais especialmente protegidos.
Podemos citar outros dois exemplos:
• Áreas de Preservação Permanente (APP);
• Áreas de Reserva Legal.
MP pode ser utilizada para ampliar, mas não para reduzir espaços de proteção ambiental
A jurisprudência do STF aceita o uso de medidas provisórias para ampliar espaços de proteção ambiental,
mas nunca para reduzi-los.
Assim, é possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre
veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.
Normas que signifiquem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem ser editadas
por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da sociedade civil e dos órgão e
instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar o direito de todos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. A adoção de medida provisória nessas hipóteses possui evidente potencial
de causar prejuízos irreversíveis ao meio ambiente na eventualidade de não ser convertida em lei.
Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção ao meio ambiente
equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão de unidades de conservação, com
consequências potencialmente danosas e graves ao ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não
conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.
Ausência de urgência
O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias em
caso de relevância e urgência. A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas
provisórias consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do
Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo em caso de notório
abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos da MP.
No caso concreto, o STF entendeu que era uma dessas situações excepcionais e que não ficou
demonstrado, de forma satisfatória, a presença da relevância e urgência na edição da MP 558/2012.
À época da edição da medida provisória, os empreendimentos hidrelétricos que justificariam a
desafetação das áreas protegidas ainda dependiam de licenciamentos ambientais, nos quais deveriam ser
analisados os impactos e avaliada a conveniência e escolha dos sítios a serem efetivamente alagados.
Assim, não havia urgência em se editar o ato.
Proibição de retrocesso
Além dos aspectos formais acima explicados, esta MP também é inconstitucional sob o prisma material.
A norma impugnada contrariou o princípio da proibição de retrocesso socioambiental. Isso porque as
alterações legislativas atingiram o núcleo essencial do direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225 da CF/88).
A aplicação do princípio da proibição do retrocesso socioambiental não pode engessar a ação legislativa e
administrativa, sendo forçoso admitir certa margem de discricionariedade às autoridades públicas em
matéria ambiental. Contudo, no caso concreto houve a indevida alteração de reservas florestais com
gravosa diminuição da proteção de ecossistemas, à revelia do devido processo legislativo, por ato
discricionário do Poder Executivo, e em prejuízo da proteção ambiental de parques nacionais.
Em suma:
É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o
caso das unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88.
Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em sentido
formal.
A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).
Por que o STF julgou procedente a ADI, mas sem pronunciamento de nulidade?
Porque os efeitos da MP, convertida em lei, já se concretizaram. Com a redução do tamanho das unidades
de conservação, foram instaladas usinas no local, empreendimentos que já estão em funcionamento.
Assim, houve um alagamento irreversível das áreas desafetadas e a execução dos empreendimentos
hidrelétricos já não permite a invalidação dos efeitos produzidos, dada a impossibilidade material de
reversão ao status quo ante.
O STF considerou, portanto, que havia uma situação de fato irreversível e que não se poderia determinar
a retirada dessas usinas de lá.
Ficou, então, assentado que, daqui para a frente (ou seja, a partir desse julgamento), quaisquer outras
medidas no sentido de desafetação ou diminuição de áreas de proteção ambiental haverão de cumprir o
que a Constituição exige.
Dessa forma, é como se o STF tivesse dito o seguinte: neste caso concreto, não iremos anular os efeitos
produzidos pela MP porque se tornaram irreversíveis. No entanto, fica assentado que é inconstitucional a
edição de futuras medidas provisórias que reduzam a proteção ao meio ambiente.
O STF, ao julgar habeas corpus impetrado pelo ex-Presidente Lula, decidiu manter o seu
entendimento e reafirmar que é possível a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário. A execução provisória da pena não ofende o princípio constitucional da
presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88).
STF. Plenário. HC 152752/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/4/2018 (Info 896).
João, que passou todo o processo em liberdade, deverá aguardar o julgamento dos recursos especial e
extraordinário preso? É possível executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda o
julgamento dos recursos especial e extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância seja
obrigado a iniciar o cumprimento da pena mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado?
1ª) Posição ANTERIOR do STF: NÃO
STF. Plenário. HC 84078, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 05/02/2009.
A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito
a recurso especial ou extraordinário, não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência
(art. 5º, LVII, da CF/88) e não viola o texto do art. 283 do CPP.
STF. Plenário. ADC 43 e 44 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgados
em 05/10/2016 (Info 842).
Desse modo, desde fevereiro de 2016, a posição que prevalece no STF é a de que é possível a execução
provisória da pena se resta apenas o julgamento de recursos especial e/ou extraordinário.
Contra a decisão do STJ, a defesa impetrou novo HC, agora para o STF, pedindo que a Corte revisse seu
entendimento e voltasse a proibir a execução provisória da pena. O STF concordou com o pedido de Lula?
NÃO. O Plenário do STF, por maioria, denegou a ordem em habeas corpus no qual se pleiteava a vedação
do início da execução provisória da pena.
O STF afirmou que não houve qualquer ilegalidade, abusividade ou teratologia na decisão do STJ,
considerando que ela espelhou o entendimento majoritário do Supremo.
O Min. Edson Fachin afirmou que não se deveria fazer, no presente caso, uma revisão do tema.
Ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso
de Mello.
Em suma:
O STF, ao julgar habeas corpus impetrado pelo ex-Presidente Lula, decidiu manter o seu entendimento
e reafirmar que é possível a execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau
recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário. A execução provisória da pena não
ofende o princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88).
STF. Plenário. HC 152752/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/4/2018 (Info 896).
PROGRESSÃO DE REGIME
Súmula 715 do STF continua sendo válida
O art. 75 do Código Penal prevê que o tempo de cumprimento das penas privativas de
liberdade não pode ser superior a 30 anos. Isso significa que, se o réu for condenado a uma
pena de 100 anos de reclusão, o limite máximo de cumprimento da pena será 30 anos.
Vale ressaltar, no entanto, que, no cálculo dos benefícios da execução penal, deverá ser
considerada a pena total aplicada.
Assim, ao se calcular o requisito objetivo da progressão de regime, o juiz deverá considerar o
total da pena imposta (e não o limite do art. 75 do CP). Ex: 1/6 de 100 anos (pena total) e não
1/6 de 30 anos.
Existe um enunciado que espelha essa conclusão:
Súmula 715-STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento,
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros
benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução.
STF. 1ª Turma. HC 112182, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 03/04/2018 (Info 896).
Voltando ao nosso exemplo: ainda que João não tenha direito à progressão de regime (por não preencher
os requisitos subjetivos), quando completar 30 anos de cárcere, terá havido a extinção da pena e ele
deixará a unidade prisional.
Progressão de regime
Até aqui, tudo bem. A dúvida surge com relação à progressão de regime.
Qual é o requisito objetivo para que o apenado possa ter direito à progressão de regime?
Se estiver condenado por crime comum (não hediondo): cumprimento de 1/6 da pena (art. 112 da LEP).
Esse cumprimento de 1/6 da pena será computado considerando-se o limite máximo previsto no art. 75
do CP (30 anos) ou a pena total aplicada (em nosso exemplo, 90 anos)? João terá direito de progredir
depois de cumprir 5 anos (1/6 de 30) ou após cumprir 15 anos (1/6 de 90)?
A progressão de regime deverá considerar o total da pena aplicada (e não o limite do art. 75 do CP).
Assim, em nosso exemplo, João terá direito de progredir após 15 anos de cumprimento de pena em regime
fechado.
Esse é o entendimento sumulado do STF:
Súmula 715-STF: A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado
pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento
condicional ou regime mais favorável de execução.
No julgado noticiado no Informativo 896, o STF reafirmou a validade da Súmula 715, apesar de dois
Ministros (Marco Aurélio e Luiz Fux) terem votado no sentido de que ela deveria ser cancelada.
STF. 1ª Turma. HC 112182, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
03/04/2018 (Info 896).
DIREITO INTERNACIONAL
EXEQUATUR
Possibilidade de concessão de exequatur por decisão monocrática do Ministro do STJ
É possível a concessão de exequatur de carta rogatória, para fins de citação, por meio de
decisão monocrática de relator no STJ, posteriormente confirmada na Corte Especial, em
homenagem aos princípios da cooperação e da celeridade processual.
O STJ, com fundamento no art. 216-T de seu Regimento Interno, vem concedendo, por meio de
decisões monocráticas, exequatur a cartas rogatórias destinadas à citação em território
brasileiro das partes interessadas para que tomem conhecimento de ações que tramitam na
Justiça rogante. O STF entendeu que não há qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade
nesta prática.
STF. 2ª Turma. RE 634595, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/4/2018 (Info 896).
Como esta determinação judicial da Justiça inglesa é cumprida no Brasil? Exige-se alguma providência?
SIM. É necessário um exequatur.
Por meio do exequatur, o STJ verifica se o ato processual solicitado pela autoridade judiciária estrangeira
é compatível com o ordenamento brasileiro. Caso seja, o Tribunal concede o exequatur, que significa
“cumpra-se”.
Desse modo, após o exequatur concedido pelo STJ à carta rogatória, esta irá ser cumprida por um juiz federal.
A Corte Especial afirmou que o Relator poderia ter decidido monocraticamente e manteve a concessão do
exequatur.
Contra esta decisão da Corte Especial, Germano interpôs recurso extraordinário.
É possível a concessão de exequatur por decisão monocrática se o objeto é apenas a citação do interessado
A carta rogatória em questão tinha como objeto tão somente permitir a citação do interessado para
conhecimento dos termos da ação que tramita na justiça de outro país, dando-lhe oportunidade de
oferecer defesa. O ato, portanto, é desprovido de qualquer caráter executivo.
O STJ, com fundamento no art. 216-T de seu Regimento Interno, vem concedendo, por meio de decisões
monocráticas, exequatur a cartas rogatórias destinadas à citação em território brasileiro das partes
interessadas para que tomem conhecimento de ações que tramitam na Justiça rogante, facultando-lhes,
consequentemente, a apresentação de defesa.
O STF entendeu que não há qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade nesta prática.
Não houve ofensa à soberania nacional, à dignidade da pessoa humana ou à ordem pública
O STJ, ao examinar se deve ou não conceder exequatur, exerce apenas um juízo delibatório, limitando-se
à análise dos requisitos formais previstos na LINDB, no CPC e no Regimento Interno do STJ.
Assim, o STJ não faz o exame do mérito do ato processual, salvo se houver ofensa à soberania nacional, à
dignidade da pessoa humana ou à ordem pública, o que não ocorreu no caso.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) O Estado-membro possui legitimidade para opor embargos de declaração contra decisões proferidas em
sede de controle concentrado de constitucionalidade se a ADI tiver sido ajuizada pelo respectivo
Governador. ( )
2) A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que
não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88. ( )
3) É constitucional a redução de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o caso das unidades
de conservação, por meio de medida provisória, que tem força de lei. ( )
4) (DPE/TO 2013 CESPE) A pena unificada, restrita ao limite de trinta anos de encarceramento, é
considerada para definir a base de cálculo da progressão do regime prisional. ( )
5) A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do
Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional
ou regime mais favorável de execução. ( )
6) É possível a concessão de exequatur de carta rogatória, para fins de citação, por meio de decisão
monocrática de relator no STJ, posteriormente confirmada na Corte Especial. ( )
Gabarito
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. C
A decisão do CNJ, proferida nos autos de pedido de providências, ordenou aos cartórios competentes a
anulação de registros imobiliários de matrículas que atribuíam aos ora agravantes a propriedade de bens de
domínio público.
O Colegiado afirmou que os impetrantes não possuem legitimidade para ajuizar mandado de segurança com
o objetivo de anular decisão do CNJ proferida em sede administrativa. Isso porque, ao tempo de sua prolação,
não eram titulares da propriedade dos imóveis atingidos pela deliberação.
Do mesmo modo, não vislumbrou a legitimação extraordinária prevista no art. 3º da Lei 12.016. Ainda que
tenha havido inércia do Estado, os agravantes não se qualificam como titular de direito líquido e certo
decorrente de direito, em condições idênticas, de terceiro, pois se encontravam em situação de meros
detentores de imóvel público, ocupado sem anuência estatal.
Ademais, enfatizou que o ato do CNJ está inserido no âmbito de sua competência estritamente
administrativa, de modo que não representa ingerência em decisão que tenha sido proferida pelo Poder
Judiciário em sede jurisdicional.
Por fim, ressaltou que o Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência consolidada no sentido de que a
ocupação irregular de área pública não induz posse, mas mera detenção, destituída de efeito jurídico.
MS 32096, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 3.4.2018. (MS-32096)
MS 32967, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 3.4.2018. (MS-32967)
MS 32968, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 3.4.2018. (MS-32968)
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe 2 a 6 de abril de 2018