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Paulo Villani Marques PM eels utr] Alexandre Queiroz Bracarense SOLDAGEM FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA 3° Edicao Atualizada (evrrorauimg ) Assisrcia Edtorial Buclcfa Macedo e Letia res Projet grafico Paulo Schmiat Formatagio ecapa Warren M. Santos Revisdo enormatzacio Maria do Carmo Leite Ribeiro Editoragio ce texto Ana Maria de Moraes, fRevsio de proves Nexandre Vasconcelos de Melo ‘Awalzagio ortegriea Karen M, Chequer € Danel 1 Stra Produgio grifica Warren M. Santos ‘© 2008, Paulo Vitani Marques, Paulo losé Moderesi,Altandre Queiroz Bracarense | 2008, Edtora UFMG Este livo ou parte dele ribo pode ser reprodzido sem autorizagio escrta do Edtot 3575 Marques, Pade Vii Solan names Pat ia Marques, Pao Jose Mosenes, Neanate Queer 3 ete afalaada- Belo Horaonte Ear LMG 2008, 1363 pF (Cita) Inc reterincas (9B; 976. 95-7041-748.0 Socesee 2 Sa stogen | Nemes, Pant 1 brsaroan Aenre Gore Tas con e2t.791 con621.791 Este livro recebeu apoio financeiro da Pré-Reitoria de Graduacdo da UFMG Editoro UFMG ‘Anti Carlos 6.627 ~ Alacra da Bibinteca Central -téteo CGarpus Pampa - CEP 3270-901 - Belo HorzorteMG Ted: +55 31 3409-4650 | Far: #55 31 3409.4788 Jectora@ungbr | wnnedtora.uing Pré-Reitoria de Graduagao ‘he Antério Carlos, 6627 — Reltoria — 6° andar ‘Campus Pampulha ~CEP 31270-901 — Belo HorizonteiMG Tels #55 31 3408-4054 | Fan +55 31 3408-4060 ino@prograduingtr Material com diroites autorais 2. Choque elétrico 45 4, Radiacao do arco elétrico 46 5. Incéndios e explosdes 48 6. Fumos e gases 48 7, Outros riscos 49 8. Recomendagées finais 49 9. Exercicios 50 Capitulo 4 0 Arco Elétrico de Soldagem 1, Introdugéo 51 anny . : 52 3. Caracteristicas térmicas do arco 56 4. Caracteristicas magnéticas do arco 57 5, Exercicios e praticas de laboratério 61 Capitulo 5 Fontes de Energia para Soldagem a Arco 1. Introdugao 63 2. Requisitos basicos das fontes 6 3. Fontes convencionais CC 4. Fontes com controle eletrdnico _72 5. Concluso 79 6. Exercicios 80 Capitulo 6 Fundamentos da Metalurgi Soldagem 1. Introdugao 81 2. Metalurgia fisica dos agos 82 3.Eluxo de calor 4, Macroestrutura de soldas por fusdo 92 5 ae 93 ec a 3 2 Descontinuidades comuns em soldas _100 8. Exercicios e praticas de laboratério 12 Capitulo 7 Tensées Residuais e Distorcoes em Soldagem 1. Introdugdo 113 2. Desenvolvimento de tensdes residuais em soldas _115 3. Consequéncias das tenses residuais 19 4, Distorgdes 121 5. Controle das tensdes residuais e distorgéo 123 6. Exercicios 126 Capitulo 8 Automagao da Soldagem 1. Fundamentos 127 2. Equipamentos 130 3. Programagao de robés para a soldagem 133 4, Aplicagdes industriais 134 5. Exercicios 135 Capitulo 9 Normas e Qualificagao em Soldagem 1, Introdugao. 137 2. Normas em soldagem 139 3. Registro e qualificagao de procedimentos e de pessoal 141 4. Exercicios 145 Capitulo 10 Determinagao dos Custos de Soldagem 1. Introdugao 181 2. Custo da mao de obra 152 3. Custo dos consumiveis 163 4. Custo de energia elétrica 185 5. Custo de depreciagdo 155, 6. Custo de manutengaéo 156 7. Custo de outros materiais de consumo 156 8. Consideragées finais 156 9. Exemplo 167 10. Exercicio 159 PARTE 2 PROCESSOS DE SOLDAGEM E AFINS Capitulo 11 Soldagem e Corte a Gas A—Soldagem a gés 1, Fundamentos 161 2. Equipamentos 162 3. Consumiveis 167 4, Técnica operatéria 170 5. Aplicagées industriais 173 B- Oxi-Corte 1. Fundamentos 174. 2. Equipamentos 175 3. Consumiveis 176 4. Técnica operatéria 177 5. Aplicagées industriais 179 6. Exercicios e praticas de laboratério 180 Capitulo 12 Soldagem com Eletrodos Revestidos 1. Fundamentos 181 2. Equipamentos 183 3. Consumiveis 186 4. Técnica operatoria 196 5. Aplicagées industriais 202 6. Exercicios e praticas de laboratério 203 Capitulo 13 Soldagem TIG 1. Fundamentos 205 2. Equipamentos 206 3. Consumiveis 211 4. Técnica operatoria 214 5. Aplicagées industriais 217 6. Exercicios e praticas de laboratério. 217 Capitulo 14 Soldagem e Corte a Plasma A~Soldagem 1. Fundamentos 219 2. Equipamentos 221 3. Consumiveis 223 4, Técnica operatoria 225 5. Aplicagées industriais 227 B-Corte 1, Fundamentos 228 Equipamentos 228 Consumiveis 230 2. 3. 4. Técnica operatéria 230 5. Aplicagées industriais 232 6. Exercicios P 232 Capitulo 15 Soldagem MIG/MAG e com Arame Tubular ‘A— Soldagem MIG/MAG 1, Fundamentos 233 2. Equipamentos 244 3, Consumiveis 248 4. Técnica operatoria 262 5. Aplicagées industriais 264 B — Soldagem com arames tubulares 1, Fundamentos 265 2. Equipamentos 266 3. Consumiveis 257 4, Técnica operatoria 261 5. Aplicagées industriais 261 6. Exercicios e praticas de laboratério 261 Capitulo 16 Soldagem a Arco Submerso 1, Fundamentos 263 2. Equipamentos 265 3. Consumiveis. 268 4, Técnica operatéria 272 5. Aplicagées industriais 275 6. Exercicios e praticas de laboratério 275 Capitulo 17 Soldagem por Eletroescoria e Eletrogas ‘A Soldagem por eletroescéria 1, Fundamentos 277 2, Equipamentos 279 3. Consumiveis 281 4. Técnica operatéria 283 5. Aplicagées industriais 287 8 ~ Soldagem eletrogés 1, Fundamentos 288 2. Equipamentos 289 3. Consumiveis 289 4. Técnica operatoria 290 6. Aplicagées industriais 290 6. Exercicios 291 Capitulo 18 Soldagem por Resisténcia 1, Fundamentos. 293 2. Equipamentos 296 3. Tecnica operatéria 300 4, Aplicagées industriais 304 5. Exercicios 306 Capitulo 19 Processos de Soldagem de Alta Intensidade A — Soldagem a laser 1, Fundamentos 307 2. Equipamentos 309 3. Técnica operatéria 310 4. Aplicagées industriais 312 8 ~ Soldagem com feixe de eiétrons 1. Fundamentos 313 2. Equipamentos 313 3. Técnica operatoria 314 4. Aplicagdes industriais 316 5. Exercicios 315 Capitulo 20 Outros Processos de Soldagem 1. Soldagem por fricgdo convencional 317 2. Variag6es recentes da soldagem por fricgao 320 3. Soldagem por explosao 323 4, Soldagem por aluminotermia 326 5. Soldagem a frio 329 6. Soldagem por ultrassom 330 7. Soldagem por laminagao 331 8. Exercicios 333 Capitulo 21 Brasagem 1. Fundamentos 336 2. Equipamentos 337 3. Consumiveis 338 4. Técnica operatoria 346 5. Aplicagoes industriais 349 6. Exercicios 349 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTARY voice ALFABETICO, = SOBRE OS AUTORES 363 PREFACIO A PRIMEIRA EDIGAO Em uma era de constantes mudangas, quebras de paradigmas e crescente valorizagao do capital intelectual, a Universidade, através dos autores de Soldagem — fundamentos e tecnologia, transcende 0 conceito de Academia — baluarte da ciéncia pura — disponibili zando sélidos e modernos conhecimentos na drea de soldagem. A to cobrada e mencionada Responsabilidade Social esté aqui perfeitamente demonstrada no pleno engajamento dos autores, pesquisadores renomados, difundindo ricos ensinamentos obtides ao longo de anos de estudos e pesquisas. Com este livro, busca-se uma forma mais abrangente de divulgagao, acessivel a toda a sociedade, ao contrario das apostilas, que possuem um piiblico limitado e exclusive. A soldagem, tema caracterizado por alta complexidade, porém de importancia e aplicagéo inquestionavel em todos os setores da industria, é aqui tornada facil, de entendimento imediato, e perfeitamente ajustada as auténticas necessidades dos leitores. A sequéncia apresentada permite o entendimento do tema de forma gradativa e constante. Inicia-se pelos conceitos fundamentais terminologias: introduz informagoes direcionadas sobre fisica do arco elétrico e eletricidade; define os equipamentos e dispositivos de soldagem. 08 riscos e a forma segura de operagao. A metaiurgia da soldagem é apresentada com uma linguagem clara e objetiva, permitindo a assimilagao de sua dinamica. O livro conclui a vasta caminhada pelos conhecimentos no assunto com uma ampla abordagem dos processos de soldagem. Todo 0 contetido é enriquecido com ilustragées de nitido caréter explicativo ‘As questdes apresentadas ao final de cada capitulo permitem ao leitor avaliar o grau de entendimento e avangar além do texto, incitando-o a expor suas ideias. A.adequacao desta obra a realiciade é perfeita. No momento em que o mercado exige, de forma contundente, profissionais abertos ao aprendizado permanente, alertas para captar tendéncias ou inventar técnicas apropriadas para contornar riscos e aproveitar oportunidades, So/dagem — fundamentos e tecnologia torna-se um recurso inestimavel para se atingir um nivel de exceléncia, cumprindo o seu pape! de difundir ideias com elevada eficacia Eng?. Helder Aguiar Neves ‘om direitos PREFACIO A SEGUNDA E TERCEIRA EDIGOES No momento em que nosso pais discute o Programa de Aceleragao do Crescimento (PAC), langado pelo Governo Federal, e comeca a trabaihar com a perspectiva de resolver seus graves problemas sociais ancorado no crescimento da economia, é mais que oportuno o langamento de uma nova edigao de um livro que traz tao importantes contribuigdes ao desenvolvimento cientifico ¢ tecnolégico. Soldagem 6 um dos mais importantes processos de fabricacdo e esta presente no dia- -a-dia de todos nés. E parte integrante dos curriculos de cursos de Engenharia Mecanica, Nuclear e Metalirgica em praticamente todas as Escolas de Engenharia, além de ser destacada drea dos cursos técnicos em Mecanica ¢ Metalurgia. Os Doutores Paulo Villani Marques, Paulo José Modenesi e Alexandre Queiroz Bracarense, professores da Escola de Engenharia da UFMG e pesquisadores de reconhecida competéncia, no Brasil no exterior, tiveram a louvdvel iniciativa de produzir um texto didatico genuinamente brasileiro para atender as necessidades de estudantes e de profissionais que trabalham nas reas fins, Os conceitos séo apresentados com clareza e de forma didética, permitindo aos leitores um facil entendimento dos conceitos e uma aprendizagem consistente dos mais modernos processos. Além disso, so apresentados os equipamentos e consumiveis utilizados através de desenhos de excelente qualidade. O cuidado dos autores na abordagem ample e precisa dos diversos aspectos ligados a essa 4rea salta aos olhos. Além dos aspectos técnicos, 9 livro dedica especial atengao aos principios basicos, & histéria, & terminologia, 8 seguranga, as normas técnicas € aos custos ligados a soldagem. Os diversos processos contemplados em capitulos especificos so apresentados de forma simples, direta € objetiva. A diviséo uniforme dos capitulos em segdes —Fundamentos, Equipamentos, Consumiveis, Técnica Operatéria, Aplicagdes Industriais, Exercicios e Praticas de Laboratério - apresenta-se como ferramenta de fundamental importancia para o entendimento dos processos. Destacam-se as praticas laboratoriais e os problemas propostos que complementam e criam as habilidades necessarias a0 exercicio desta atividade. Esta obra reflete os esforgos de profissionais que além da competéncia técnica e cientifica demonstram excepcional espirito pUblico ¢ indiscutiveis qualidades didaticas. Nao hé diividas de que os leitores terao muito prazer na leitura deste livro e que inumeros: estudantes de Cursos Técnicos e de Engenharia se interessarao por esta area do conhecimento, Prof. Marcio Ziviani Diretor Executivo - Fundagao de Desenvolvimento da Pesquisa Material com direitos aut APRESENTAGAO Este texto surgiu do desejo e da necessidade de ampliar e atualizar uma obra anterior, publicada em 1991, Muitos foram os avangos obtidos no campo da soldagem desde entao @, particularmente no Brasil, muitas novidades surgiram com a abertura do mercado, a partir de 1994. A oportunidade foi criada quando a PROGRAD - Prd-Reitoria de Graduagao da UFMG langou um edital para a selegdo de projetos de produgao de material didatico para a graduagao, em meados de 2003. Contudo. como esta nao seria uma tarefa facil, pois soldagem é um tema muito abrangente, convidei os colegas da UFMG Prof. Dr. Paulo José Modenesi e Prof. Dr. Alexandre Queiroz Bracarense para dividirem comigo esta empreitada Tendo por base 0 texto de 1991, decidimos que esta nova obra seria dividida em 21 Capitulos, tendo cada um de nés assumido a produgéo de sete deles. O Prof. Modenesi se responsabilizou pelos Capitulos 1, 2, 4. 5, 6. 7 ¢ 9: 0 Prof. Bracarense pelos Capitulos 8, 16, 17, 18, 19, 20 21, e eu, pelos demais, isto é, os Capitulos 3, 10, 11, 12, 13, 14 15. Esta divisao toi motivada por questées praticas e de afinidade com os temas abordades. Entre setembro e novembro de 2003, trabalhamos nos textos individualmente, mas procurando manter uma mesma orientagdo geral, através de reunides periddicas. Os capitulos produzidos foram enviados a técnicos atuantes na area de soldagem em nivel industrial e académico, para revisao e criticas, 0 que foi feito nos meses de dezembro de 2003 ¢ janeiro de 2004. Em fevereiro de 2004, apés outras reunides para ajustes de orientagdo e manutencao da unidade da obra, as criticas e sugestdes dos revisores foram incorporadas. chegando-se ao texto final Alem de conhecimentos técnicos atualizados, procuramos colocar no texto experién- cias na drea académica e industrial obtidas no nosso trabalho em ensino, pesquisa e extensdo na UFMG. Tentamos, também, oferecer alguma contribuigdo no que se refere & terminologia de soldagem usada no pais, que 6 muitas vezes confusa e redundante, resultado da traducao livre, adogdo e adaptagdo de termos de outras linguas e falta de normalizagao nacional. Material com direitos autorais sou 16 povcamevror renctec Nesta edicdo, foram feitas pequenas alteragées no texto de varios capitulos, para tornar mais claros alguns conceitos expressos, bem como foram corrigidos os erros da primeira edigao, na linguagem, figuras e equacées. Muitas pessoas e organizagdes contribulram para que se chegasse a este resultado final, Em especial. agradeco aos Profs. Madenesi e Bracarense pela disposigdo em dividir © trabalho e pela sua dedicagao a ele: ao Prof. Dr. Ronaldo Pinheiro da Rocha Paranhos, da UENF, pela contribuigdo nos Capitulos 3 e 10: ao Prof. Modenesi pelas ilustrages e fotos; aos Profs. Américo Scotti e Valtair Anténio Ferraresi, da UFU, pelos filmes sobre tranferéncia metalica; ao Prof. Paranhos, aos Eng”. Carlos Castro, Francisco de Oliveira Filho, Gustavo Alves Pinheiro, Helder Aguiar Neves, José Roberto Domingues e Oder Silva de Paula Junior e a minha esposa Maria das Victorias de Mello Villani Marques, pela revisdo @ Sugest6es: as empresas ESAB, RBG e SOLDAGERAIS, pela disponibilizacao de informagées técnicas, fotos e equipamentos; a PROGRAD e ao DEMEC, da UFMG, pelo suporte financeiro e logistico, e a minha filha Paula de Mello Villani Marques, pela digitagao, Finalmente, a todos que direta ou indiretamente tornaram possivel a concluséo deste trabalho, gostaria de manifestar minha gratidao e agradecimentos e apresentar minhas desculpas pela incapacidade de cita-los nominaimente. Paulo Villani Marques PARTE 1 FUNDAMENTOS DA SOLDAGEM CAPITULO 1 INTRODUCAO A SOLDAGEM 1, Métodos de Unido dos Metais Os métodos de uniao dos metais podem ser divididos em duas categorias prin- cipais, isto é, aqueles baseados na agdo de forgas macroscépicas entre as partes a serem unidas e aqueles baseados em forgas microscépicas — interatémicas e intermoleculares. No primeiro caso, do qual séo exemplos a parafusagem e a rebi- tagem, a resisténcia da junta é dada pela resisténcia 20 cisalhamento do paratuso ou rebite mais as forcas de atrito entre as superticies em contato. No segundo, a uniao € conseguide pela aproximagao dos dtornos ou moléculas das pecas a sere unidas, ou destes e de um material intermedidrio adicionado a junta, até distancias suficientemente pequenas para a formagao de ligagées quimicas, particularmente ligagées metélicas e de Van der Waals. Como exemplo desta categoria citam-se a brasagem, a soldagem e a colagem A soldagem 6 0 mais importante processo de uniéo de metais utilizado indus- trialmente. Este método de unio, considerado em conjunto com a brasagem, tem importante aplicagdo desde a industria microeletrénica até a fabricagao de navios 18 jikoamoose weno. e outras estruturas com centenas ou milhares de toneladas de peso. A soldagem é utilizada na fabricagao de estruturas simples, como grades e portdes, assim como em componentes encontrados em aplicagdes com elevado grau de responsabilidade, como nas industrias quimica, petrolifera e nuclear, e também na criacdo de pegas de artesanato, joias e de outros objetos de arte. 2. Definigao de Soldagem Um grande ntimero de diferentes processos utilizados na fabricagao e recupe- racao de pecas, equipamentos e estruturas é abrangido pelo termo "SOLDAGEM". Classicamente, a soldagem ¢ considerada como um processo de uniao, porém, na atualidade, muitos processos de soldagem ou variagdes destes sao usados para a deposicdo de material sobre uma superficie, visando a recuperacao de pegas desgasta- das ou para a formagao de um revestimento com caracteristicas especiais. Diferentes processos relacionados com a soldagem sao usados para corte de pecas metélicas e em muitos aspectos estas operacdes se assemelham a operagdes de soldagem. Na literatura, encontram-se algumas tentativas de definigao da soldagem: + "Proceso de unido de metais por fusdo.” Deve-se ressaltar que no apenas os metais sao soldaveis e que 6 possivel se soldar sem fusao. * "Operagao que visa obter a unido de duas ou mais pegas, assegurando na junta a continuidade das propriedades fisicas e quimicas.” Nessa definicdo, o termo “continuidade” é utilizado com um significado similar ao adotado na matemitica. Isto 6. considera-se que, embora as propriedades possam variar ao longo de uma junta soldada, esta variagdo nao apresenta quebras abruptas como ocorre, por exemplo, em uma junta colada na qual a resisténcia mecdnica muda abruptamente entre um componente da junta e a cola. + "Proceso de unio de materiais usado para obter a coalescéncia (uniéo) localizada de metais e ndo-metais, produzida por aquecimento até uma temperatura adequada, com ou sem a utilizagao de pressao e/ou material de adigao.” Esta defini¢ao, adotada pela Associacdo Americana de Soldagem (American Welding Society — AWS), ¢ meramente operacional, nao contribuindo com o aspecto conceitual. Finaliza-se com uma ultima definigao, esta baseada no tipo de forgas responsaveis pela unido dos materiais: * "Processo de unido de materiais baseado no estabelecimento de forgas de ligagao quimica de natureza similar 8s atuantes no interior dos proprios materiais, na regiao de ligagao entre os materiais que esto sendo unidos.” Esta Ultima definigao engloba também a brasagem (Capitulo 21), que pode ser considerada, neste contexto. como um processo de soldagem caro 4g seraqnyéo A SOUNAGEN 3. Formagao de uma Junta Soldada De uma forma simpliticada, uma pega metélica pode ser considerada como formada por um grande nimero de étomos dispostos em um arranjo espacial caracteristico {estrutura cristalina). Atomos localizados no interior desta estrutura s40 cercados por um ntimero de vizinhos mais préximos, posicionados a uma distncia r,, na qual a energia do sistema é minima, como mostra a Figura 1 r Distancia »-—a5703mM Figura 1 Variacdo de energia potencial para um sistema composto de dois 4tomos em fungao da distancia de separagéo entre eles Nesta situagao, cada 4tomo esta em sua condigdo de energia minima, nao tenden- doa se ligar com nenhum atomo extra. Na superficie do sdlido, contudo, esta situagao nao se mantém, pois os 4tomos estao ligados a menos vizinhos, possuindo, portanto, um maior nivel de energia do que os 4tomos no seu interior. Esta energia pode ser reduzida quando os atomos superficiais se ligam a outros. Assim, aproximando-se duas pecas metalicas a uma distancia suficientemente pequena para a formacao de uma ligagao permanente, uma solda entre as pecas seria formada, como ilustrado na Figura 2. Este tipo de efeito pode ser obtido, por exemplo. colocando-se em contato intimo dois blocos de gelo. CoS aa Sanaa Figura 2 Formagao teérica de uma solda pela aproximagao das superticies das pegas Entretanto, sabe-se que isto nao ocorre para duas pegas metélicas, exceto em condigdes muito especiais. A explicagao para isto est na existéncia de obstéculos que impedem uma aproximagao efetiva das superficies até distancias da ordem de r,. Estes obstaculos podem ser de dois tipos basicos: + As superticies metalicas, mesmo as mais polidas, apresentam uma grande rugosidade em escala microscépica e submicroscépica. Mesmo uma superficie muito bem polida apresenta irregularidades da ordem de 50nm de altura, cerca de 200 camadas atémicas. Isto impede uma aproximagao efetiva das superficies, 0 que ocorre apenas em alguns poucos pontos de contato, de modo que © ndmero de ligages formadas é insuficiente para garantir qualquer resisténcia para ajunta * As superticies metélicas estéo normalmente recobertas por camadas de dxido, umidade, gordura, poeira etc. (Figura 3), 0 que impede um contato real entre as superticies, prevenindo a formacao da solda. Estas camadas se formam rapidamente e resultam exatamente da existéncia de ligacdes quimicas incompletas na superficie. Figura 3 Representagdo esquemiética da estrutura de uma superficie metilica em contato com o ar. A-metal nao atetado, B - metal afetado, C - canada de éxido, D - agua e oxigénio absorvidos, E-gordura e F - particulas de poeira Para superar estes obstaculos, dois métodos principais so utilizados, os quais originam os dois grandes grupos de processos de soldagem. O primeiro consiste em deformar as superficies de contato, permitindo a aproximagao dos atomos a distancias da ordem de r, (Figura 4). As pegas podem ser aquecidas localmente de modo a facilitar a deformagao das superficies de contato. Pressao. Oxidos 7 7 Solda Pressao Figura 4 Soldagem por pressdo ou deformagao ewan seroonioassanen [21 O segundo método se baseia na aplicagao localizada de calor na regido da junta até a fusdo do metal de base e do metal de adi¢ao (quando este é utilizado). Como resultado desta fusdo, as superficies entre as pecas sao eliminadas e, com a solidi- ficagao do metal fundido, a solda é formada (Figura 5). (a) (b) Figura § (a) Representago esquemética da soldagem por fusdo. (b) Macrografia de uma junta Uma maneira de classificar os processos de soldagem consiste em agrupd-los em dois grandes grupos baseando-se no método dominante para produzir a solda (a) processos de soldagem por pressao (ou por deformacao) (b) processos de soldagem por fusao. 4. Processos de Soldagem 4.1 - Processos de soldagem por pressao (ou por deformagao) Este primeiro grupo inclui os processos de soldagem por forjamento, por ultras- som, por fricedo, por difusdo, por explosao, entre outros 4.1.2 Processos de soldagem por fusio Existe um grande numero de processos por fuséo que podem ser separados em subgrupos, por exemplo, de acordo com 0 tipo de fonte de energia usada para fundir as pegas. Dentre estes, os processos de soldagem a arco (fonte de energia: arco elétrico) S40 os de maior importancia industrial na atualidade. Devido a ten- déncia de reagao do material fundido com os gases da atmosfera, a maioria dos processos de soldagem por fusdo utiliza algum meio de protecdo para minimizar estas reagées. A Tabela | mostra os principais processos de soldagem por fusdo suas caracteristicas principais. Tabela | — Processos de soldagem por fusio Fonte de Proceso | Famed Aplicagoes Sodagem [Aauecimento| Continua ou | Escéra [AutomiticaMMecanizada. _|Soldagem de aces carbone, Bor eletr-| por resistén- | akternaca luuntamna vertcal. Arama Joaixa @ alia liga, espessure Gscona. foie da escdria aiimentado mecenicamente |= §0 mm. Sokdagem de pe- Nquida na pega do tusao. Noo [as do grande espossura existe aco elética ex0s ete Saanon | BS | Contanse | — Exia | Acontcairennt oo — | Slagon dao cabo 1900 eietnco | “aitemada somiautomdtica. O area banca 6 alta liga. Espossure Svgmano ace sob uma camada de | 10 mm. Posigao plana ov Elotrodo + Huxo granular horizontal de pesas estru- hurais, tanques, vasos de pressdo etc Soidagem | Arco elétrce | Continua ou | Escéna e gases |Manval. Varota motalica _|Soldagem de quase todos os pi aiternada. | gerados |recoberia por camada de metas, exceto cobre puro, elatrodo fiuxo motais proiosos,reatvos 9 de toesitio Eletrodo + bax0 ponto detusdo. Usadona ou soldagem em ger Soidagem | Arco elatnco | Continua. | Escéria e gases [Automslico ou semauto- do aces carbone, conan ‘gerados ov |mético, Ofluxo esta contido| ‘ata liga. com espes Sous Eletrodo + | fornecidos por |dentro de um arame tubuler |sura = 1 mm. Soldegem de fonie externa. Jae pequeno aamatio. | enapas. tubos ete. Em geral 0 CO, Soidagem | Arco elétrico | Continua, | Argénoou [Automiticaimecaniz. ov | Soldegem da acos carbono, MIGMAG Holo, Argono |semiautomatica. O arame | axa ataiga nao terrososcom Bletwodo + | + 0, Aighnio + |é sdlido. lespessura =1 mm. Sokdegem €0,,Co, db woos, crapas etc. Qvaquer posto. Soldagem Continua, | Argorio, Hele |Manualouauiométca | Todos os metas importantes 2 plasma ‘ou Argénio + | aramed aciconado seperada- Jern engenharia, exceto Zn Etevooo- | “Hiceogonio |monto. Elaviodo ndo.consv. | Bo © suas ligas, com axpes riveldetungstinio. Oacoé |sura de até 1.5 mm, Passes constrto por um boca aera Sodagem | 40 | Continua ou | Argonio, Hele |Manual ou auiomdtica, | Sodagern de todos os motais. Te elétrco | skernaca, | oumistures |Eletroce néoconsumivel exceto Zn. Be e suas ligas. destes |e tungsténio Oaramae |espessura entre 1 @6 mmm Sot Eletrodo- adicionada separadamente. | dager de néo ferosos e acos nox. Passe raizdosoldas em tubulogdes. Soldagem Continua | Vocus 10"mm |Seldagem automata. No _|Sokdagern do todos o8 metas fee Hig) |usa, emgoral, metal de | excetonos casos de chxgs000 Canc Ata tensio. acigso. Fee de elétions | gsses ou vapotzago excessive permite ums elavaas con- [em gor, a partr do 25 mm Go Pega + [centragéo de energie. lespessura. Industria nuclear & peroespace Soldagem | Foxe do uz fArgonio ou Heo] Seidagom automsuce. Noo | Sokdagem Ge todos os metas, aiaser vsa,om goral metalde | exceto nos casos de evclucin ‘adq60. Laser permite uma | oe gases ou vaporaagdo exces: elevada concentrarso de | sa. Indistia automobilstca, energi, ‘coat e aeroespacs Soldagem | Chema ox 35 (CO. H,, CO, | Manual Arame adcionado | Soliagem manual e ago carbo- agis | acetiénica H,0) | separadamente 19, Cs A Zn, Po 6 bronze. Sob ‘ogom de chapas fas @ tubes Ge pecqueno devo extn | smoot | Entre os processos de soldagem por resisténcia (Capitulo 18), alguns podem ser considerados como processos de soldagem por deformacao. Outros sao melhor caracterizados como processos de soldagem por fusdo. Os processos de soldagem e afins podem ser classificados de diferentes formas alternativas. A Figura 6 mostra uma classificagao segundo a AWS — American Welding Society, juntamente com as abreviagdes adotadas por esta associagao para designar cada proceso. Esta classificacao e abreviagdes s4o muito utilizadas em diversos paises do mundo. No Brasil, embora estas sejam usadas, designagoes de processo de soldagem de origem europeia sao mais comuns. Além destas, abreviagées baseadas no nosso idioma (como, por exemplo, SAER - Soldagem a Arco com Eletrodos Revestidos) foram propostas, mas tiveram uma aceitacaéo muito restrita até o presente. A classificagao dos processos de soldagem da AWS apresenta deficiéncias como qualquer outro sistema de classificagao. Figura 6 Processos de soldagem e afins, segundo a AWS. Os nomes de diversos processos est3o resumidos ou truncados por falta de espaco na figura 5. Comparagao com Outros Processos de Fabricagao A soldagem é hoje o principal processo usado na unido permanente de pegas metélicas, permitindo a montagem de conjuntos com rapidez, seguranca e economia 24 Fonoumetros renee de material. Por exemplo, a ligagdo de chapas metélicas com parafusos ou rebites exige que as chapas sejam furadas, causando uma perda de secao de até 10%, que deve ser compensada por uma espessura maior das pegas. A utilizagdo de chapas de reforgo e os préprios parafusos e porcas ou rebites aumentam ainda mais o peso final da estrutura. Na uniao de tubos pode-se fazer consideragdes semelhantes a0 se comparar juntas soldadas com juntas rosqueadas. Além disso, as juntas soldadas, desde que executadas corretamente, sao por si mesmas estanques, néo havendo necessidade de se recorrer a nenhum tipo de artificio para se prevenir vazamentos, mesmo sob pressao elevada. Comparando-se a soldagem a fundigao, como processo de fabricagao, constata- se que a soldagem apresenta caracteristicas interessantes, como: possibilidade de se terem grandes variagdes de espessura na mesma pega e inexisténcia de uma espessura minima para adequado preenchimento do molde com o metal fundido, possibilidade de se usarem diferentes materiais numa mesma pega, de acordo com as solicitagées de cada parte, maior flexibilidade em termos de alteragées no projeto da pega a ser fabricada e menor investimento inicial. Asoldagem é muito versatil em termos dos tipos de ligas metdlicas e das espes- suras que podem ser unidos. A disponibilidade de um grande numero de processos de soldagem permite a uniao da maioria das ligas metalicas comumente utilizada Pode-se unir, através dos diferentes processos de soldagem, desde pecas com espessura inferior a 1mm (joias, componentes eletrdnicos etc.) até estruturas de grandes dimensées (navios, vasos de pressao etc.). A soldagem pode ser utilizada tanto no chao de fabrica, com condigdes de trabalho bem controladas, como no campo, em diferentes ambientes (como, por exemplo, no alto de estruturas elevadas ou debaixo d’4gua). Finalmente, a soldagem pode atender, a um custo competitivo, diferentes requisitos de qualidade, tornando a sua utilizagao economicamente vidvel tanto em trabalhos simples, que nao apresentam uma grande responsabilidade (por exemplo, na fabricagao de grades e de pecas de decoracao), como em situagdes m que ocorrem solicitagdes extremas e existe 0 risco de grandes danos no caso de uma falha do componente soldado (por exemplo, em navios e outras estruturas maritimas e em vasos de pressao). Por outro lado, algumas limitagbes da soldagem devem ser consideradas. Comoa solda é uma unio permanente, ela ndo deve ser utilizada em juntas que necessitam ser desmontadas. Praticamente todos os processos de soldagem sao baseados na aplicacao, na regiao da junta, de energia térmica e mecanica, o que tende a causar uma série de efeitos mecénicos (aparecimento de distorgdes e de tensées residu- ais) e metalirgicos (mudangas de microestrutura e alteragao de propriedades) nas pecas. Estes efeitos, juntamente com a formagao de descontinuidades como poros € trincas na solda, podem prejudicar o desempenho dos componentes soldados e causar a sua falha prematura. As consequéncias de uma falha de um componente soldado podem ser ampliadas devido a natureza monolitica deste. Isto é, enquanto a fratura de uma peca em uma estrutura rebitada fica confinada somente a pega que falhou, em ume estrutura soldada, a fratura pode se estender por toda a estrutura devido a eliminacao da separagao entre as pecas. Diversos acidentes com estas caracteristicas ja ocorreram, destacando-se, por exemplo, os navios de transporte durante a Segunda Guerra Mundial, fabricados por soldagem nos Estados Unidos da América. cori ricougio & Sow 6. Breve Historico da Soldagem Embora a soldagem, na sua forma atual, seja um processo recente, com cerca de 100 anos, 4 brasagem e a soldagem por forjamento tém sido utilizadas desde 6pocas remotas. Existe, por exemplo, no Museu do Louvre, um pingente de ouro com indicagbes de ter sido soldado e que foi fabricado na Pérsia, por volta de 4000 a. C. O ferro, cuja fabricagao se iniciou em tomo de 1500 a. C., substituiu 0 cobre eo bronze na confeccao de diversos artetatos. O ferro era produzido por redugao dire- ta’e conformado por martelamento na forma de blocos com uma massa de poucos quilogramas. Quando pegas maiores eram necessarias, os blocos eram soldados por forjamento, isto é, 0 material era aquecido ao rubro, colocava-se areia entre as pegas para escorificar impurezas e martelava-se até a soldagem. Como um exemplo da utilizag4o deste processo, cita-se um pilar de cerca de sete metros de altura e mais de cinco toneladas existente ainda hoje na cidade de Dehli (India). A soldagem foi usada, na Antiguidade e na Idade Média, para a fabricagdo de armas @ outros instrumentos cortantes. Como 0 ferro obtido por redugdo direta tem um teor de carbono muito baixo (inferior a 0.1%). este ndo pode ser endurecido por témpera. Por outro lado, 0 ago, com um teor maior de carbono, era um material escasso é de alto custo, sendo fabricado pela cementacao de tiras finas de ferro. Assim, ferramentas eram fabricadas com ferro e com tiras de ago soldadas nos locais de corte e endurecidas por tempera. Espadas de elevada resisténcia mecanica e tenacidade foram fabricadas no oriente médio utilizando-se um processo seme- Ihante, no qual tiras alternadas de aco e ferro eram soldadas entre si e deformadas por compresso e torcdo. O resultado era uma lamina com uma fina alternancia de regides de alto e baixo teor de carbono, Assim, a soldagem foi. durante este periodo, um processe importante na tecno- logia metalurgica, principalmente, devido a dois fatores: (1) a escassez € 0 alto custo do ago'e (2) o tamanho reduzido dos blocos de ferro obtidos por redugao direta. Esta importancia comegou a diminuir, nos séculos XII e XIll, com o desenvolvi- mento de tecnologia para a obtencdo, no estado liquido, de grandes quantidades de ferro fundido com a utilizagao da energia gerada em rodas d’égua e, nos séculos XIV e XV, com o desenvolvimento do alto-forno. Com isso, a fundigdo tornou-se um processo importante de fabricagao, enquanto a soldagem por forjamento foi subs- titulda por outros processos de unido, particularmente a rebitagem e parafusagem, mais adequados para uniao das pegas produzidas Asoldagem permaneceu como um processo secundario de fabricagao até o sé culo XIX, quando a sua tecnologia comegou a mudar radicalmente, principalmente, a partir das experiéncias de Sir Humphrey Davy (1801-1806) com 0 arco elétrico, da descoberta do acetileno por Edmund Davy e do desenvolvimento de fontes pro- dutoras de energia elétrica que possibilitaram o aparecimento dos processos de soldagem por fuséo. Ao mesmo tempo, 0 inicio da fabricagdo e utilizagéo do ago " Neste processo. 9 minério de ferro era misturada com carvio em brasa @ soprada com ar. Ourante esta oparagéo, 0 dx de ferro era reduzido pelo carbons, produzindo-sa terra metético sem 8 fusdo do material 26) rmosionos reensen na forma de chapas tornou necessario o desenvolvimento de novos processos de unido para a fabricagao de equipamentos e estruturas A primeira patente de um processo de soldagem, obtida na Inglaterra por Nikolas Bernados e Stanislav Olszewsky, em 1886, foi baseada em um arco elétrico estabele- cido entre um eletrodo de carvao e a pega a ser soldada (Figura 7). Figura 7 Sistema para soldagem a arco com olotrodo de carvao de acordo com a patente de Bernados Por volta de 1890, N. G. Slavianoff, na Russia, e Charles Coffin, nos Estados Unidos, desenvolveram independentemente a soldagem a arco com eletrodo metélico nu. Até o final do século XIX, os processos de soldagem por resisténcia, por alumino- termia e a gas foram desenvolvidos. Em 1907, Oscar Kjellberg (Suécia) patenteia o processo de soldagem a arco com eletrodo revestido. Em sua forma original, este revestimento era constituido de uma camada de cal, cuja fungdo era unicamente estabilizar 0 arco. Desenvolvimentos posteriores tornaram este processo 0 mais utilizado no mundo. Nesta nova fase, a soldagem teve inicialmente pouca utilizagao, estando restrita principalmente 4 execugdo de reparos de emergéncia até a eclosao da primeira grande guerra, quando a soldagem passou a ser utilizada mais intensamente como processo de fabricacao. Atualmente, mais de 50 diferentes processos de soldagem tém utilizagao industrial ea soldagem € 0 mais importante método para a uniéo permanente de metais. Esta importancia é ainda mais evidenciada pela presenca de processos de soldagem e afins nas mais diferentes atividades industriais e pela influéncia que a necessidade de uma boa soldabilidade tem no desenvolvimento de novos tipos de agos e outras ligas metalicas. wmanugio ASO 21 a) b) ° a) e) 1 a) 7. Exercicios © que € soldagem? Por que é possivel se soldar dois blocos de gelo por aproximagao? Quais as principais vantagens e desvantagens da soldagem? Que outros ramos da ciéncia e da tecnologia contribuem para o desenvolvimento da soldagem? Que tipos de materiais, além dos metais, podem ser soldados? Existem produtos impossiveis de serem fabricados sem a utilizagdo da soldagem? Cite alguns, se for 0 caso Em que casos a soldagem nao é recomendada como processo de unido? Material com direitos autorais CAPITULO 2 TERMINGLOGIA E SIMBOLOGIA DA SOLDAGEM 1. Introdugao Muitos so os termos com um significado particular quando aplicados a suldugem. Definir todos estes termos tornaria este capitulo tedioso e extenso. Assim, preferiu-se colocar algumas ilustragées e indicar alguns termos utilizados com frequéncia em soldagem, de modo a tornar o restante do texto compreensivel. Para definigdes mais completas e precisas pode-se recorrer 4 literatura indicada no final do livro. De qualquer forma, a propria militancia no campo da soldagem se encarregaraé de tomar estes termos familiares. Quanto & simbologia, serao abordados resumidamente os simbolos usados em soldagem e seu significado, bem como sua utilizagao em desenhos técnicos, por meio de algumas ilustragdes. Da mesma forma, pode-se consultar a bibliografia indicada para um estudo mais completo. 30| Feber 2. Ter inologia da Soldagem Como se viu no Capitulo 1, soldagem 6 uma operacdo que visa obter a uniao de pegas, e solda 6 0 resultado desta operacao. O material da pega, ou pegas, que esta sendo soldada é o metal de base. Frequentemente, na soldagem por fusao, um material adicional é fornecido para a formacao da solda, este 6 0 metal de adigdo. Durante a soldagem, o metal de adigdo é fundido pela fonte de calor e misturado ‘com uma quantidade de metal de base também fundido para formar a poga de fusao. A Figura 1 ilustra estes conceitos. Metal de adigao => Poga de fusao Figura 1 Metal de base, de adi¢do @ poga de fusso Chama-se junta a regio onde as pecas sero unidas por soldagem. A Figura 2 mostra os tipos basicos de junta comumente usados. © posicionamento das pegas para unido determina os varios tipos de junta Entretanto, muitas vezes, as dimensées das pegas, a facilidade de se mové-las @ as necessidades do projeto exigem uma preparagao das pegas para soldagem, na forma de cortes ou de uma conformagao especial da junta. Estas aberturas ou sulcos na superficie da peca ou pecas a serem unidas e que determinam 0 espaco. para conter a solda recebem o nome de chanfro. — Topo ngulo Canto Aresta Sobreposta Figura 2 Tipos de junta Os tipos de chanfro mais comuns usados em soldagem de juntas de topo so mostrados na Figura 3. A Figura 4 ilustra a aplicagao destes chanfros em diferentes tipos de juntas. cartrao2 | 34 TERMINOLOGA E SMEQLOGA DA SOLDACEN. meio v me =o 3, U Duplo J Duplo U Figura 3 Tipos de chanfro 1 1 (com fresta) I (ambos os lados) v ‘Duplo V (ou X) wv « u v Ve ete Fileto i v Filete Filete duplo a v le Figura 4 Chanfros usados geralmente com os diferentes tipos de junta O tipo de chanfro a ser usado em uma condigao de soldagem especifica é esco- thido em fungao do processo de soldagem, espessura das pecas, suas dimensdes e facilidade de mové-las, facilidade de acesso & regido da junta, tipo de junta (Figura 4), custo de preparagao do chanfro etc. Chanfros em | so utilizados quando as con- digdes de soldagem permitem obter a penetracao desejada (ver definicgao a seguir) sem a abertura de um outro tipo de chanfro, sendo esta situagao particularmente comum na soldagem de juntas de pequena espessura. Como nao necessitam de uma usinagem ou corte mais elaborado, este tipo de preparagao tende a ser a de menor custo. Quando nao é possivel obter a penetragdo desejada desta forma, torna-se necessdrio usar um outro tipo chanfro, sendo os tipos mais comuns os chanfros em V ou meio V. Quando a espessura da junta que precisa ser soldada se torna muito grande, estes chanfros podem se tornar pouco interessantes, pois necessitam de um grande volume de metal de adigdo para o seu enchimento, o que pode aumentar 0 tempo necessario para a soldagem @ 0 seu custo. Neste caso 0 uso de um chanfro em U ou J pode ser mais interessante, embora estes possam ter maior custo de preparagao. Quando é possivel executar a soldagem dos dois lados da junta, chanfros em X, K. duplo U ou duplo J podem ser considerados. Estes ainda tém a vantagem adicional de melhor equilibrar as tensdes termicas geradas durante a soldagem e apresentar, assim, uma menor distorgéo. Na escolha de um tipo de chanfro, deve-se ainda considerar a posigdo de soldagem (ver definigdo a seguir). Por exemplo, para a soldagem na posigdo horizontal, um chanfro em meio V ou K tende a ser mais adequado que um chanfro em V, pois, para o primeiro, existe uma menor tendéncia da poca de fusdo escorrer sob agao da gravidade. Um chantro é definido por seus elementos ou caracteristicas dimensionais. Os principais elementos de um chanfro sao (Figura 5): + Face da raiz ou nariz {s): Parte no chantrada de um componente da junta + Abertura da raiz, folga ou fresta |), Menor distancia entre as pegas a soldar + Angulo de abertura da junta ou angulo de bisel (()): Angulo da parte chanfrada de um dos elementos da junta. + Angulo de chanfro («): Soma dos Sngulos de bisel dos componentes da junta. 3 rf a LU ae Figura § Catacteristicas dimensionais de chanfros usados em soldagem (s ~ nari, { fresta, r— raio do chanfro, @ ~ Angulo do chantro e f ~ angulo do bizel) Os elementos de um chanfro sao escolhidos de forma a atender os requisitos do projeto e, em particular, permitir um facil acesso até o fundo da junta, minimizando, contudo, a quantidade de metal de adi¢éo necesséria para o enchimento da junta. Material com direitos vinag2 emmncuoan ¢saenioan na sana | 33 Existe um grande numero de termos para definir 0 formato e as caracteristicas técnicas dos cordées de solda. Neste capitulo, apenas alguns destes termos serao apresentados. A Figura 6 mostra alguns destes termos para uma solda de topo e uma solda em angulo (filete). Largura Face da solde Margem da solda Convenaace Raiz da solda (a) (b) Figura 6 Dimensées e regides de soldas de topo (a) e de filete (b) ‘A Figura 7 mostra a seco transversal de uma solda e suas diversas regides. Neste caso, 6 mostrada também uma peca colocada na parte inferior da solda (raiz), cha- mada de eobre-junta ou mata-junta, que tem por finalidade conter o metal fundido durante a execucdo da soldagem. Terminada a soldagem, o mata-junta pode ou nao ser removido da junta. O mata-junta pode ser de um material similar ao que esta sendo soldado, de cobre ou de material cerémico. No primeiro caso, o mata-junta, em geral, passa a fazer parte da junta soldada, podendo, terminada a soldagem, ser removido da pega (por corte) ou nao. Nos outros casos, 0 mata-junta ndo se torna parte da junta soldada e é removido ao final da soldagem. Zona termicamente Zona fundida (ZF) afetada (ZTA) |_ Metal de base (MB) Mata - junta Figura 7 ‘Seco transversal de uma solda de topo por fusdo (esquematica) Azona fundida (ZF) de uma solda ¢ constituida pelo metal de solda, que é a soma da parte fundida do metal de base e do metal de adicao. A regiao do metal de base que tem sua estrutura e/ou suas propriedades alteradas pelo calor de soldagem € chamada de zona termicamente afetada (ZTA). A zona fundida pode ser constituida por um ou mais passes depositados segundo uma sequéncia de deposigao (Figura 8) e organizados em camadas (conjunto de passes localizados em uma mesma al- tura no chanfro). Cada passe de solda ¢ formado por um deslocamento da poga de fusdo na regiéo da junta (Figura 1). Em diversas situagdes, o termo cordao é usado, significando, em alguns casos, a solda €, em outros, o passe. 34 fimoarers erent Figura 8 Execugéo de uma solda de varios passes A posigao da pega a ser soldada e do eixo da solda determina a posigéo da soldagem, que pode ser plana, horizontal, vertical ou sobrecabega. Estas so mostradas para soldas de topo, filete e soldas circunferenciais em tubulagées, nas Figuras 9, 10 e 11. A soldagem na posicao vertical pode ser executada na diregdo ascendente ou descendente. Em tubulages fixas, a posi¢éo de soldagem muda durante @ operacao (Figura 11). A posigao de soldagem tem uma forte influéncia sobre 0 grau de dificuldade da sua execugao e na sua produtividade, sendo a sol- dagem na posicdo plana, em geral, a mais facil de ser executada e a que possibilita uma maior produtividade, a 6 6 Sobre cabega PI lana Horizontal Vertical (ascendente) Figura Posigées de soldagem para soldas de topo Yor Plana Horizontal ‘Sobre cabega (descendente) Figura 10 Posicdes de soldagem para soldas de filete Material com direitos autorai ownao2 TEWNELOGA £ SMBQWOGA DA SOLDASEM Plana Horizontal Circunferencial Figura 11 Posigdes de soldagem para soldas em tubulagdes As posigdes de soldagem sao designadas pela ASME ~ American Society of Mechanical Engeneers por um digito seguido de uma letra. Assim, as posigées plana, horizontal, vertical e sobrecabega sdo designadas, respectivamente, por 1G, 2G, 3G e 4G nas juntas da Figura 9 e, por 1F, 2F 3F e 4 nas juntas da Figura 10. No caso de soldas em tubulagées (Figura 11), as designagées seriam 1G, 2G e 5G, respectivamente. Essa forma de indicar as posigdes de soldagem @ amplamente usada na industri De acordo com a forma em que é executada, a soldagem pode ser classificada em: * Manual: toda a operacao ¢ realizada e controlada manualmente pelo soldador. * Semiautomatica: soldagem com controle automatico da alimentagao do metal de adigao, mas com controle manual pelo soldador do posicionamento da tocha e de seu deslocamento. + Mecanizada: soldagem com controle automético da alimentagao do metal de adicao, controle do deslocamento do cabecote de soldagem pelo equipamento, mas com o posicionamento, acionamento do equipamento e superviséo da operagao sob res- ponsabilidade do operador de soldagem. * Automitiea: soldagem com controle automético de praticamente todas as operagdes necessérias. Muitas vezes, a defini¢do de um processo como mecanizado ou auto- mtico ndo é clara, em outros, 0 nivel de controle da operagao, 0 uso de sensores, a possibilidade de programar o proceso indicam claramente um processo de soldagem automético. De uma forma ampla, os sistemas autométicos de soldagem podem ser divididos em duas classes: (a) sistemas dedicados, projetados pare executar uma operagao especifica de soldagem, basicamente com nenhuma flexibilidade para mudangas nos processos e (b) sistemas com robés, programéveis e apresentando uma flexibilidade relativamente grande para alteragdes no processo. Alguns destes termos, embora de uso consagrado na soldagem, tém significado diverso do indicado acima para 0 pessoal envolvido com érea de automagdo. Este aspecto seré discutido no Capitulo 8 deste livro. 35 scunecen 36 ontanexrose renevs0n 3. Simbologia da Soldagem Asimbologia da soldagem consiste de uma série de simbolos, sinais e numeros, dispostos de uma forma particular, que fornecem informagées sobre uma determi- nada solda €/ou operagao de soldagem. Estes elementos, que podem ou nao ser usados numa situagao particular, sao, segundo a norma AWS A 2.4: a) Linha horizontal de referéncia b) Seta c) Simbolo basica da solda 4) Dimensées e outros dados €) Simbolos suplementares f) Cauda - Especificagéo do processo de soldager ou outra referéncia O elemento basico de um simbolo da soldagem 6 a linha de referéncia colo- cada sempre na posigdo horizontal e préxima da junta a que se refere. Nesta linha s4o colocados os simbolos basicos da solda. simbolos suplementares e outros dados. A seta indica a junta na qual a solda sera feita, e na cauda s4o colocados os dados relativos ao processo, procedimento ou outra referéncia quanto a forma de execucdo da soldagem. Quando existe a possibilidade de se chanfrar uma peca ou outra, uma seta quebrada (formada por duas linhas) indica qual pega deve ser necessariamente chanfrada. A Figura 12 mostra a localizagdo dos elementos de um simbolo de soldagem. ‘Simbolo de contorno Simbolo de acabamento Angulo de chantro Fresta 7 ~ Eo ‘Comprimento da solda Simbolo basico A Dist. centro a centro Dimenséo de solda em ¢ X chanfr R ‘soldas intermitentes) Dimensdo de solda/pr | Lado \ Soldagem no campo Especificagao, S(E) \ opesto; L-P Idagem em todo processo ou outro. T ‘o.contorno Seta Linha de referéncia Lado Cauda i Figura 12 Localizagao dos elementos de um simbolo de soldagem © simbolo basico indica 0 tipo de solda desejado. Cada simbolo basico é uma representagdo esquemética da segdo transversal da solda a que se refere. Se 0 simbolo basico ¢ colocado sob a linha de referéncia, a solda deve ser feita do mes- mo lado em que se encontra a seta. Caso 0 simbolo basico esteja sobre a linha de referéncia, a solda deve ser realizada do lado oposto a seta. A Figura 13 mostra os simbolos basicos mais comuns segundo a norma AWS A 2.4. A Figura 14 apresenta exemplos de soldas em chanfro e seus simbolos. Mais de um simbolo basico pode ser usado de um ou dois lados da linha de referéncia covirao2 TERMNOLOGIAE SMBOUOGAA SOLDAGEM 37 Soldas em chanfro bh MO LK SK Nr Le em|(Bordas emVouX 1/2VouK UouduploU JouduploJ Viflangeado 1/2 V/flangeado paraielas) Outros JIN Nom LO. SEO ‘Soldes de aresta ‘Solda de Solda de ‘Solda de ‘Solda de Solda de Solda de filete tampao ponto: costura fevers: ‘revestimento Figura 13 Tipos bésicos de soldas e seus simbolos Figura 14 Sete variagées de soldas em chanfro e seus simbolos: Varios numeros, que correspondem as dimensoes ou outros dados da solda, sao colocados em posigdes especificas em relacao ao simbolo basico. O tamanho da solda e/ou sua garganta efetiva s4o colocados 4 esquerda do simbolo. Em soldas em chanfro, se estes nimeros no so colocados, subentende-se que a penetragao deve ser total. A abertura de raiz ou a profundidade de soldas do tipo “plug” ou “slot” € colocada diretamente dentro do simbolo basico da solda, A direita do simbolo podem ser colocados o comprimento da solda e a distancia entre os centros dos cordées, no caso de soldas intermitentes. Os simbolos suplementares so usados em posigées especificas do simbolo de soldagem, quando necessarios. Estes simbolos séo mostrados na Figura 15. Alem destes, existem simbolos de acabamento, que indicam o método de acabamento da superficie da solda. Estes simbolos so: + C~rebarbamento (chipping) + G-esmerilhamento (grinding) + H-martelamento (hammering) * M-usinagem (machining) + R-laminagdo (rolling) Figura 15 Simbolos suplementares As Figuras 16 a 19 ilustram o que foi apresentado. Material com direitos autorais cwrnanz TERMINOLOGA €S§BOLOGIDA SOLDASEM, Figura 17 Exemplos de soldas de filete intermitente Figura 18 Exemplos de simbolas de soldas em chanfro Figura 19 Exemplos de diversos tipos de solda e seus simbolos wma | gy TRANGIA ESIMBOLOGH DA SOLOAGEM 4. Exercicio Desenhe o simbolo ou a solda desejada, conforme o caso. Solda Desejada CAPITULO 3 PRINCIPIOS DE SEGURANGA EM SOLDAGEM 1. Introdugao ConsideragGes sobre seguranga sao importantes em soldagem, corte e opera- goes relacionadas a estas praticas, pois os riscos envolvidos nestas atividades sao. numerosos ¢ podem provocar sérios danos ao pessoal, equipamentos ¢ instalagdes, Neste capitulo serao estudados os principais riscos das operagdes de soldagem e atins e as praticas usuais para se evitar ou minimizar a ocorréncia de acidentes. Além dessas praticas, as recomendagées e instrugées dos fabricantes de equipamentos @ predutos devem ser rigorosamente observadas. Um componente fundamental da seguranga em soldagem e outras praticas industriais é 0 apoio, orientacao e envolvimento direto das chefias e geréncias, que devem estabelecer claramente os abjetivos e o Plano de Seguranca da empresa. Este deve considerar a selegdo das dreas para operagdes de soldagem e corte, exigéncias de compra de equipamentos de soldagem e equipamentos de seguranga devidamente aprovados, estabelecimento e fiscalizagao de normas de seguranga internas, execugao de programas de treinamento no uso do equipamento de trabaiho e de seguranga, procedimentos em caso de emergéncias ou acidentes, utilizagao de sinais de adverténcia para os perigos de cada 4rea especifica e a inspecao é manutengéo periddica dos equipamentos e instalagées. Como diversas outras operagdes industriais, a soldagem e o corte de materiais apresentam uma série de riscos para as pessoas envolvidas. Os principais riscos incluem a possibilidade de incéndios e explosdes, de recebimento de choque eletrico, de exposicao & radiagao gerada pelo arco elétrico e a fumos e gases prejudiciais 4 satide. As principais causas destes riscos seréo apresentadas em cada caso, bem como as formas de prevenitos. cartuos | gs Frcs Oe SeGunanga IM SOLDAGEM. 3. Choque Elétrico Acidente por choque elétrico € um risco sério e constante nas operagdes de soldagem baseadas no uso da energia elétrica, particularmente na soldagem a arco. O contato com partes metdlicas “eletricamente quentes” pode causar lesdes ou até morte, devido ao efeito do choque elétrico sobre o corpo humano, ou pode resultar em uma queda ou em um outro acidente devido a reagao da vitima ao choque. A gravidade de um choque elétrico nao esta relacionada com a tensao da fon- te que 0 provoca, mas sim com a intensidade da corrente que passa pela vitima, ao seu percurso no corpo do acidentado e 4 sua duracao. A Tabela | apresenta os efeitos e sensagdes experimentadas por uma pessoa normal quando submetida a correntes de diferentes intensidades. Uma corrente acima de cerca de 80 mA, passando pela regiao tordcica da vitima, pode ser fatal, provocando um fendmeno chamado “fibrilagao do coragao” ¢ a consequente perda de capacidade deste de bombear 0 sangue. Tabela | - Efeitos fisiolégicos do choque elétrico Intensidade da corrente Efeito Ate 5 mA Formigamento fraco S até 15 mA Formigamento forte 15 até 50 mA Espasmo muscular 50 até 80 mA Dificuldade de respiragao até desmaios Fibrilagao do ventriculo do coragéo; Oi mist eh parada cardiaca; queimaduras de alto grau Acima de 5A Morte certs Aresisténcia interna do corpo humano é relativamente baixa (cerca de 500 9), sendo a resisténcia da pele, quando seca, muito mais elevada (da ordem de 10°). Este valor pode, contudo, ser grandemente reduzido quando a pele esta Umida, aumentando o risco de choques mesmo para tens6es relativamente baixas (em torno de 100 V). Acidentes com choque elétrico podem ser divididos em duas categorias diferen- tes: choque com a tenséo de entrada (isto 6, 230, 440 V) e choque com a tensdo secundaria, ou seja, 0 citcuito de soldagem (60-100 V) No primeiro caso, 0 choque tende a ser mais forte e perigoso. Pode ocorrer, por exemplo, ao se tocar um fio dentro de um equipamento de soldagem quando a alimentagao de energia esté conectada e ao mesmo tempo tocar na carcaca da méquina ou outra parte metélica. Mesmo com a maquina desligada, energia elétrica pode estar armazenada em dispositivos como bancos de capacitores no interior da méquina. Assim, apenas técnicos capacitados devem fazer reparos no equipamento se este nao estiver funcionando adequadamente, e a carcaca da maquina deve ser adequadamente aterrada. 4g) sac FURBAMOITOS€ TeeMoLocIA Choque com a tensao secundaria ocorre quando se toca uma parte do circuito do eletrodo ao mesmo tempo em que outra parte do corpo esta em contato com a pega metalica que esta sendo soidada. O uso de luvas secas e de roupas de protegao para se isolar do circuito de soldagem minimiza o risco de choques neste caso. As precaugées que devem ser tomadas para se evitar 0 choque elétrico sao: ater- rat todo © equipamento elétrico, trabalhar em ambiente seco, manter as conex6es elétricas limpas e bem ajustadas, usar cabos de dimensées corretas, evitar trabalhar sobre circuitos energizados e usar roupas, luvas calgados secos Em caso de choque elétrico, o circuito deve ser imediatamente interrompido e, caso isto nao seja possivel, a vitima deve ser afastada do contato. Nao se deve to- car 0 acidentado diretamente, mas com um material isolante, como um pedago de madeira ou tecido seco. A respiragao artificial (boca-a-boca) deve ser imediatamente iniciada apés retirar a vitima do circuito elétrico, caso se constate parada respiratéria, e continuada até a chegada de socorro meédico. 4. Radiagao do Arco Elétrico O arco elétrico 6 formado em gases ionizados 3 uma temperatura muito elevada e capaz de gerar radiagao eletromagnética intensa na forma de infravermelho, luz visivel € ultravioleta. Chamas e metal quente também emitem radiagao, mas com uma intensidade muito menor. E essencial proteger os olhos da radiagao do arco, pois esta pode causar a queima da retina e catarata. Mesmo uma pequena exposig’o a radiagao do arco pode causar uma irritago dos olhos conhecida como “flash do soldador”. Normalmente ela so é sentida varias horas apés a exposigao, causa grande desconforto e provoca inchago dos olhos, secregao de fluids ¢ cegueira temporaria. O flash do soldador é tempo- rario, mas exposig6es prolongadas ou repetidas podem levar a lesdes permanentes nos olhos Aradiagao do arco pode também causar queimaduras na pele, ofuscamento, fadiga visual e dor de cabega. A protecao deve evitar a exposicao do soldador e de terceiros tanto a radiacao direta quanto a indireta (isto é, resultante da reflexdo da radiagao). Individualmente, 0 soldador deve se proteger com 0 uso de roupas opacas e mascaras com filtros de luz adequados, A mascara, usada junto com o capacete, protege ainda a regido da cabega contra calor, respingos, chamas e choques. Os filtros de protegao contra a radiagao sao especificados por nlimeros que indicam a sua capacidade de filtrar a radiagao (Tabela Il). A protegao de terceiros pode ser proporcionada com o uso de biombos € cortinas nao refletoras. casino? PaninDs Oe SGURANG EM SELOAGN Tabela Il - Lentes de protecao para operadores de soldagem e corte Soldagem a arco elétrico Operacéo | idmeto Comente de Fito para Fito superido do letrodo (nm) soldagem(A) | protecéominime | paraconirto <25 ‘60 | 7 erods 25-40 60-160 8 | 10 revestido 40-64 160 - 250 10 | 12 64 (250 ~ 550 1 | 14, =60 7 : Mihe-mac 60-160 10 }oon ‘rome tubular a “ tow 10 14 ~ 8 | 10 TG - 50150 8 2 150 - 500 10 14 <500 10 12 Gowagem - 500- 1000 4 4 Soldagem e corte oxtscetilico ‘Opereto - Espessura da chapa (mm) Filtro sugerido para conforto eve <32 ous Soidagem Média 3.2-12,7 Soub Posada 127 6oua Leve <254 Souda Corte Médio: 25-150 4ou5 Pesado| >150 Sou6 Nos anos 1990. surgiram mascaras eletr6nicas, baseadas na tecnologia de cristal liquido. Este tipo possui um visor que é claro quando nao ha arco aberto e permite enxergar normaimente. Quando um arco é iniciado e ha emissao de radiagao, 0 visor escurece em milésimos de segundo, oferecendo assim uma protegao adequada, sem que haja necessidade de nenhuma acao do soldador. Existem disponiveis no mercado diferentes modelos deste equipamento que permitem, por exemplo, ajuste manual ou automatico do grau de escurecimento do visor, desligamento automatico quando no ha emissao de radiagao por um certo periodo de tempo e célula solar para recarga da bateria interna. O custo das mascaras de cristal liquido ¢ ainda relativamente elevado, mas com tendéncia de queda, com o aumento da demanda. 47 48 ‘sounacene FUNGAMENTOS ETEENOLOGIA 5. Incéndios e Explosées Para que se inicie um incéndio sao necessérios trés elementos atuando conjuntamente: uma fonte de calor, um material combustivel ¢ oxigénio. Na maioria das operagdes de soldagem e corte. o oxigénio estara presente no ar que circunda a solda. Além disso, oxigénio puro existirA em cilindros ou em ins- talacées centralizadas de armazenamento deste g4s. O arco elétrico, a chama de soldagem ou 0s respingos atuam como fontes de calor. Assim sendo, é fundamental controlar e, se possivel, evitar a presenga de materiais combustiveis proximos a érea de operagao de soldagem para se prevenir incéndios. Nos ambientes industriais, indmeros sao os materiais combustiveis presentes. Estes podem ser sdlidos, liquidos ou gasosos. Muitas vezes, materiais inflamaveis, como tintas, solventes, graxas e dleos, sao utilizados nas imediagdes de areas de soldagem. Assim, todo 0 cuidado deve ser tomado para manter estes materiais em recipientes adequados, tampados e afastados da area de soldagem e corte. Estopas, panos @ papéis embebidos em solventes e outros liquidos inflamaveis devem ser retirados da drea antes de se iniciar quaisquer dessas operacées. E evidente que a limpeza e a organizagao da 4rea de soldagem séo tundamentais para a seguranga. Na soldagem de manutengao de tanques de combustivel ou recipientes que armazenavam combustiveis ou materiais inflamaveis, muitas vezes hé a formacao de vapores explosivos, Antes de se iniciar a soldagem ou corte, estas peas devem ser rigorosamente limpas ou lavadas. E recomendavel que sejam preenchidas par- ciaimente com agua de forma conveniente a nao prejudicar a soldagem. Na soldagem a gas, pode ocorrer o fendmeno conhecida como “engolimento de chama”, que serd visto no Capitulo 11, que também pode ser causa de incéndio ou explosao. Este risco é minimizado pelo uso de valvulas de fluxo de sentido unico. 6. Fumos e Gases ‘As operagées de soldagem podem gerar fumos e gases que podem ser prejudiciais, a sade por diversos motivos. Por exemplo, vapores de zinco podem causar dor de cabeca intensa e febre, enquanto que vapores de cédmio podem ser fatais Os gases de protecao usados em alguns processos de soldagem (argénio, CO, @ misturas), nao so téxicos, mas deslocam 0 ar, pois séo mais pesados que este e podem causar asfixia e morte, se forem usados em ambientes fechados. Assim, as operages de soldagem e corte devem ser efetuadas em locais bem ventilados ¢, se necessério, devem ser usados ventiladores @ exaustores. Quando isto nao for possivel, © soldador deve usar uma mascara contra gases ou equipa- mentos de protegao respiratoria

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