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DOI: 10.1590/1413-81232015216.

03422016 1861

O direito humano à água e ao esgotamento sanitário como

artigo article
instrumento para promoção da saúde de populações vulneráveis

The right to water and sanitation as a tool


for health promotion of vulnerable groups

Priscila Neves-Silva 1
Léo Heller 1

Abstract The concept of health promotion, Resumo O conceito de promoção da saúde, ba-
which is based on social determinants, is aligned seado nos determinantes sociais, alinha-se com
with principles of human rights such as social princípios dos direitos humanos como: partici-
participation, accountability, transparency and pação social, responsabilidade, transparência e
non-discrimination. The Human Right to Water não discriminação. O Direito humano à água e
and Sanitation (HRWS) was approved in 2010 ao esgotamento sanitário (DHAES) foi aprovado
by the United Nations General Assembly and the em 2010 pela Assembleia Geral das Nações Uni-
Human Rights Council and it aims to ensure ac- das e Conselho de Direitos Humanos, e visa ga-
cess to water and sanitation, without discrimina- rantir acesso à água e ao esgotamento sanitário
tion, for all. This article aims to analyze how the sem discriminação para toda a população. Dito
human rights framework, and more specifically isso, o presente artigo tem como objetivo analisar
the HRWS, can be used to strengthen the health de que forma o referencial dos direitos humanos,
promotion of vulnerable groups. The article be- em especial do DHAES, pode ser mobilizado para
gins by presenting the relationship between health fortalecer a promoção da saúde de populações vul-
and human rights. It then demonstrates how the neráveis. Para isso, inicia apresentando a relação
concept of social vulnerability is based on human entre saúde e direitos humanos, em seguida de-
rights and, finally, it shows the relationship be- monstra como o conceito de vulnerabilidade social
tween the HRWS and the promotion of the health se baseia nestes, e finaliza mostrando a relação
of vulnerable groups. entre o DHAES e a promoção da saúde de grupos
Key words Health promotion, Human rights, vulneráveis.
Access to water, Access to sanitation, Social vul- Palavras-chave Promoção da saúde, Direitos
nerability Humanos, Acesso à água, Acesso ao esgoto, vulne-
rabilidade social

1
Centro de Pesquisas
René-Rachou, Fiocruz. Av.
Augusto de Lima 1715,
Barro Preto. 30190-002
Belo Horizonte MG Brasil.
priscila.neves@
cpqrr.fiocruz.br
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Neves-Silva P, Heller L

Introdução o uso do referencial dos direitos humanos pode


auxiliar a pensar ações mais efetivas e eficazes de
Desde a I Conferência Internacional sobre Pro- lidar com as necessidades de saúde, assim como
moção da Saúde, em Otawa, em 1986, que o a formular políticas públicas que respeitem seus
conceito de promoção da saúde, partindo da princípios, e que atuem com foco na saúde das
concepção ampliada desta,vem sendo elaborado populações vulneráveis.
por diferentes atores, trazendo novas formas de O referencial teórico do direito humano à
se pensarem as práticas. Esta forma dita amplia- água e ao esgotamento sanitário – DHAES, se-
da de entender o processo saúde-doença-cuidado gundo o Conselho de Direitos Humanos das
salienta o papel protagonizante dos determinan- Nações Unidas7,8, deriva de outros direitos, como
tes sociais, tanto no surgimento, evolução clínica a um adequado nível de vida, à saúde física e
e desfecho das doenças, até nas diferentes formas mental, à vida e à dignidade. Ele se originou do
de intervenção. O adoecimento passou a ser en- Tratado Internacional de Direitos Econômicos,
tendido como um processo que envolve elemen- Sociais e Culturais e, por isso, está amparado
tos biológicos, comportamentais, culturais, eco- legalmente em leis internacionais de direitos
nômicos, políticos, sociais e ambientais1-3. humanos7,8. O DHAES foi internacionalmente
O conceito de promoção da saúde passou a reconhecido após aprovação, pela Assembleia
valorizar a articulação entre saberes técnicos e po- Geral das Nações Unidas, em 2010, da resolução
pulares e propôs maior diálogo entre instituições A/RES/64/292 sobre “Direto humano à água e
e comunidades. A valorização do conhecimento ao esgotamento sanitário”9. Esta resolução, que
popular e da participação social tornou-se uma partiu do Comentário Geral nº 157, elaborado
das bases da promoção da saúde, que também sa- em 2002 pelo Comitê de Direitos Econômicos,
lienta a importância de ações intersetoriais para Sociais e Culturais, implica obrigações legais aos
o enfrentamento dos problemas. Além disso, Estados. Uma vez que estes são responsáveis por
outros valores associaram-se ao conceito, como: garantir acesso à água e ao esgotamento sanitá-
solidariedade, democracia, equidade, cidadania e rio sem discriminação para toda a população, o
desenvolvimento2,4. Estes valores, assim como o referencial teórico do DHAES é uma importante
estímulo à capacitação da comunidade para que ferramenta para regulamentar o uso da água em
possa se responsabilizar e lutar pela sua saúde, diversos países,contribuindo de maneira signifi-
reconhecendo esta como um direito, alinham-se cativa para a elaboração e implementação de po-
com princípios dos diretos humanos como: par- líticas públicas10,11.
ticipação social, responsabilidade, transparência O Programa de Monitoramento Conjun-
e não discriminação. to sobre água e esgotos12 estima que em todo o
Jonathan Mann, pioneiro em advogar a favor mundo 663 milhões de pessoas não têm acesso à
da intersecção entre direitos humanos e saúde, água potável “melhorada” e 2,4 bilhões ao esgo-
relatou que “o referencial de direitos humanos tamento sanitário “melhorado”, sendo as popula-
fornece uma abordagem mais útil para analisar ções vulneráveis as mais afetadas. Não há como
e responder aos desafios da saúde pública do que garantir o direito a um nível de vida que asse-
qualquer outro referencial biomédico tradicional gure saúde e bem-estar, previsto no artigo 25 da
disponível”5. Para ele, a promoção e a proteção Declaração de Direitos Humanos de 1948, sem
da saúde só seria alcançada se houvesse o mes- garantir o acesso a esses serviços. Dito isso, este
mo com os direitos humanos4. Segundo Gruskin artigo tem como objetivo analisar de que forma
e Tarantola6, o trabalho em saúde, quando arti- o referencial dos direitos humanos, em especial
culado com os direitos humanos, aponta os que do DHAES, pode ser mobilizado para fortalecer
estão em desvantagem, assim como demonstra a promoção da saúde de populações vulnerá-
se a existência de uma diferença em um desfecho veis. Para isso, inicia fazendo a articulação entre
em saúde resulta de uma injustiça. Estes mes- os princípios dos direitos humanos e o conceito
mos autores salientam que atualmente, os direitos de promoção da saúde, mostrando como o uso
humanos são concebidos de modo a oferecer uma do referencial dos direitos humanos transforma
estrutura para ação e planejamento, assim como ações baseadas em caridade e assistencialismo
para oferecer argumentos fortes e convincentes de em atividades de promoção e realização de di-
responsabilidade governamental – não só instituir reitos. Em seguida, discute como o conceito de
serviços de saúde, como também transformar as vulnerabilidade social é uma abordagem basea-
condições que criam, exacerbam e perpetuam po- da em direitos uma vez que reconhece qualquer
breza, marginalização e discriminação6. Portanto, indivíduo como sujeito de direito, além de dia-
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logar diretamente com o conceito de promoção midas em favor dos interesses dos grupos mais
da saúde ao buscar compreender e transformar poderosos. Assim, o processo democrático é for-
os determinantes sociais. Finaliza estabelecendo talecido, assegurando a valorização de todas as
a relação entre o DHAES e a promoção da saúde demandas e opiniões10,13,14.
de populações vulneráveis, por meio dos princí- Como responsabilidade entende-se que o
pios dos direitos humanos. Conclui que políticas Estado é aquele que tem a obrigação de fazer
públicas que tenham como objetivo melhorar o cumprir os direitos e a população é a detentora
acesso à água e ao esgotamento sanitário, sem destes. Quando o Estado não consegue cumprir
discriminação, estimulando a participação social, os direitos consagrados, a população deve ter a
a transparência e a responsabilidade, visando à possibilidade de recorrer à justiça. Existem várias
equidade, à justiça e à dignidade, podem propi- formas de monitorar os serviços para que as vio-
ciar mudanças estruturantes nos determinantes lações possam ser detectadas e corrigidas, como,
sociais do processo saúde-doença-cuidado das por exemplo, mecanismos de reclamação de di-
populações vulneráveis. versos níveis, desde locais até internacionais. Os
movimentos sociais cumprem importante papel
Direitos humanos e saúde: como articular? nesse monitoramento, podendo exigir que o Es-
tado cumpra com suas obrigações10,13,14.
A Organização das Nações Unidas, em 1997, Logo, a inclusão do referencial de direitos hu-
lançou o Programa para Reforma, em que con- manos em políticas e programas, assim como em
vidava todas as suas agências a alinhar seus pro- projetos e ações, permite que o foco de algumas
jetos com os conceitos e princípios dos direitos atividades, antes baseadas em caridade e assisten-
humanos13,14. O principal objetivo era favorecer cialismo, possa ser transferido para a promoção
o cumprimento dos direitos humanos, estabele- e realização de direitos. Isto contribui para de-
cidos na Declaração de 1948 e em outros instru- senvolver a capacidade da comunidade, ou seja,
mentos internacionais, especialmente para as po- dos detentores de direitos, de lutar por eles, e dos
pulações vulneráveis e marginalizadas, as quais, responsáveis em fazer cumpri-los, em assumir
com maior probabilidade, têm seus direitos vio- suas responsabilidades. Ao se articularem esses
lados. Princípios como não discriminação, par- princípios, próprios da conceituação de direitos
ticipação, transparência e responsabilidade (ac- humanos, com a de promoção da saúde, percebe-
countability) deveriam orientar as iniciativas13,14. se significativa aderência, uma vez que a partici-
O principio da não discriminação reconhece pação social, sem discriminação, é uma de suas
que as pessoas têm diferentes necessidades, de- ferramentas fundamentais, capacitando indiví-
vido às características intrínsecas ou a discrimi- duos e comunidades para lutar por condições
nações sofridas ao longo de muitos anos que as estruturantes que favoreçam sua saúde.
impedem de usufruir dos direitos humanos em A forma com que a articulação entre saúde e
iguais condições que os demais. Assim, alguns diretos humanos se estrutura, segundo Gruskin e
grupos populacionais requerem suporte de di- Tarantola6, pode ser dividida em quatro catego-
ferentes ordens, a fim de conseguirem igualdade rias: advocacy, legislação, políticas e programas.
de inserção nos benefícios sociais e públicos. O Advocacy é a utilização da linguagem dos di-
Estado tem como obrigação assegurar, através reitos para promover mobilização social, com a
da legislação e de políticas públicas, que todos os finalidade de que a sociedade defenda mudanças
indivíduos, independentemente de raça, idade, políticas. Para isso, é importante que diferentes
sexo, etnia, religião, deficiência e status migrató- atores, como ativistas, formuladores de políticas,
rio, entre outras características, possam usufruir e profissionais da academia, se reúnam, com o
de seus direitos, eliminando ou diminuindo as objetivo comum de capacitar e auxiliar na orga-
condições que causam discriminação10,13,14. nização da comunidade para que ela possa ser ca-
Participação e transparência são princípios paz de pressionar o governo por mudanças. Neste
que permitem à comunidade ter acesso a um sentido, torna-se necessário traduzir as normas
processo democrático, participativo, de forma nacionais e internacionais de direitos humanos
contínua, e em todos os níveis. Todos os indiví- de forma que possam se ajustar às necessidades
duos, incluindo os mais vulneráveis, devem par- da comunidade6,10,13.
ticipar do processo de decisão, de forma livre, ati- A legislação, ou o uso do sistema legal, seria a
va e significativa. Para isso, transparência e acesso utilização do instrumental dos direitos humanos
à informação são essenciais. As vozes dos grupos para responsabilizar, juridicamente, o governo e
socialmente enfraquecidos não podem ser supri- os agentes privados e fazê-los cumprir as obri-
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gações, presentes em tratados internacionais, que a se considerar é a aceitabilidade: todos os servi-


podem repercutir no bem-estar e em melhores ços devem ser culturalmente apropriados, respei-
condições de saúde. Neste caso, o governo teria tando as questões culturais de cada indivíduo, e
a responsabilidade perante a justiça de não vio- sensíveis às necessidades de gênero. Para finalizar,
lar os diretos à saúde, respeitando-os, defenden- a qualidade técnica daquilo que é ofertado deve
do-os e protegendo as populações. Ao respeitar o ser apropriada para promover um padrão eleva-
Estado impede que os indivíduos tenham o aces- do de saúde. Tais fatores são aplicáveis a quais-
so negado a qualquer serviço que vise a melhoria quer abordagens dos direitos econômicos, sociais
da saúde, sem que antes seja providenciada uma e culturais, incluindo a água e o esgotamento sa-
alternativa adequada; ao respeitar ele evita qual- nitário, podendo-se fazer aqui um claro paralelo
quer ação que possa resultar em abuso do direito entre o direito à saúde e esses outros.
humano; e ao proteger ele impede que atores não Assim, a articulação entre saúde e direitos
estatais interfiram na realização dos direitos. Os humanos, visa, antes de tudo, à conquista de um
tribunais e as cortes nacionais e internacionais padrão elevado de saúde, baseado em justiça,
poderiam ser utilizados para solucionar os pro- equidade e dignidade, para todas as populações,
blemas, com o objetivo de promover e proteger sem discriminação, de forma transparente, esti-
estes direitos6,10,13. mulando a participação da comunidade e indi-
O sistema de políticas públicas consiste na cando os responsáveis pelos resultados das ações.
adoção das normas e padrões de direitos huma- Além disso, o referencial de direitos humanos
nos pelos órgãos formuladores de políticas, tan- ajuda a identificar potenciais situações de vulne-
to nacionais quanto internacionais. Esta adoção rabilidade social.
permite que as estratégias por eles elaboradas,
principalmente nas perspectivas da saúde, econo- O conceito de vulnerabilidade social
mia e desenvolvimento, tenham como parâmetro como uma abordagem baseada em direito
referencial o dos direitos humanos. Assim, enti-
dades nacionais e internacionais formulariam O referencial teórico de vulnerabilidade so-
abordagens em saúde baseadas em direitos6,10,13. cial originou-se do direito internacional, prin-
Já o sistema programático seria a implementa- cipalmente dos diretos humanos universais3,15.
ção de direitos por meio de programas de saúde. Mann5 afirmou que a relação entre saúde pública
Nessa abordagem, tanto o desenho quanto a ela- e direitos humanos se fortificou durante as pri-
boração, o monitoramento e a avaliação dos pro- meiras décadas de luta contra o HIV/AIDS. Nes-
gramas incluem os princípios dos direitos huma- ta época ficou claro que ações discriminatórias
nos. A comunidade participaria em todas as fases, foram não só ineficazes para conter a pandemia,
de forma não discriminada. Além disso, todas as como realçou os problemas de vulnerabilidade
ações devem ser transparentes, apontando aqueles social relacionados à doença. Portanto, o concei-
que serão juridicamente responsáveis pelos resul- to de vulnerabilidade social resulta da interseção
tados e pela não violação dos direitos. Assim, tan- entre o ativismo político dos movimentos sociais,
to os detentores de diretos, como os responsáveis contra a discriminação resultante das ações de
em fazer cumpri-los são identificados6,10,13. prevenção ao HIV/AIDS, e a luta pelos direitos
Por fim, é importante salientar que as ações e humanos3,5,15.
os programas desenvolvidos sobre a norma dos As primeiras ações de prevenção ao HIV/
direitos humanos devem levar em conta quatro AIDS resumiram-se à abstinência sexual e ao
importantes fatores: disponibilidade, acessibi- isolamento dos grupos de risco até então iden-
lidade, aceitabilidade e qualidade6,10. Por dispo- tificados: homossexuais, haitianos, hemofílicos
nibilidade entende-se que tanto as instalações, e usuários de heroína. Estas ações provocaram
quanto bens e serviços de atenção à saúde, estão isolamento não só sanitário como social, crian-
disponíveis em quantidade suficiente para aten- do estigma e preconceitos, e não foram efetivos
der à população. Além disso, estes recursos de- para conter a epidemia. A partir daí, novas ações
vem ser acessíveis a todos, de forma não discri- foram elaboradas, tendo como base o conceito de
minatória, ou seja, idade, sexo, deficiência, etnia, comportamento de risco. Em princípio, acredi-
classe social, entre outros atributos, não podem tava-se que atividades educativas que estimulas-
impedir o acesso. Junto à acessibilidade física de- sem práticas seguras seriam capazes de diminuir
ve-se levar em conta a financeira, ou seja, as ins- o avanço da doença. No entanto, verificou-se que
talações, bens e serviços de saúde devem ter um estas ações também não davam o resultado es-
preço acessível a todos. Outro ponto importante perado, e a doença se alastrava, principalmente
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entre segmentos populacionais socialmente en- com o estigma e a discriminação que contribuem
fraquecidos como as mulheres e os mais pobres. para perpetuar a desigualdade social e aumentar
Assim, movimentos sociais, principalmente das a vulnerabilidade3,15,18.
mulheres, trouxeram à luz questões importan- Dito isso, pode-se considerar que o conceito
tes, inseridas no conceito de empoderamento. de vulnerabilidade está baseado em direitos, uma
O comportamento protetor não dependia ape- vez que reconhece o individuo como um sujeito
nas da díade “informação e vontade”, mas, en- de direito, e, também, a responsabilidade do go-
tre outras coisas, do acesso a recursos culturais, verno em garantir que todos, sem discriminação,
econômicos, políticos e sociais, os quais são desi- tenham acesso aos recursos que possam garantir
gualmente distribuídos entre os grupos. As ações um padrão adequado de saúde3. “Grupos sociais
baseadas em comportamento de risco só aumen- que não têm seus direitos respeitados e garan-
tavam a culpabilização do individuo pelo fracas- tidos apresentam piores perfis de saúde, sofri-
so em realizar práticas seguras. Como resultado, mento, doença e morte”3. Assim, onde há maior
no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, violação de diretos, há maior vulnerabilidade aos
surgiram propostas de ações de prevenção que problemas de saúde.
não se voltassem apenas para o plano individual,
mas que fossem capazes de realizar transforma- Direito humano à água e ao esgotamento
ções estruturais na sociedade. A partir de então, sanitário: perspectivas para a saúde
pesquisadores, ativistas e profissionais passaram de populações vulneráveis
a tentar entender como as questões sociais, eco-
nômicas, políticas e culturais influenciavam as O reconhecimento de que a água é elemen-
práticas de risco3,15,16. to fundamental para assegurar as necessidades
Com isso, segundo Ayres et al.15, o conceito básicas dos seres humanos foi inicialmente es-
de vulnerabilidade, no âmbito da saúde, está re- tabelecido em 1977 durante a Conferência das
lacionado com aspectos individuais, mas tam- Nações Unidas sobre Água em Mar Del Plata, na
bém coletivos, contextuais e programáticos, que Argentina. O plano de ação desenvolvido duran-
acarretam maior suscetibilidade às doenças. Os te aquela conferência determinava que todas as
indivíduos não estão expostos ao adoecimento pessoas, independente da situação econômica e
de forma homogênea e as mudanças das práticas social, tinham direito ao acesso à água potável em
cotidianas não dependem unicamente da vonta- quantidade e qualidade suficiente para garantir
de individual. Os diferentes contextos são deter- as necessidades básicas. Desde então, foram de-
minantes para a suscetibilidade dos indivíduos senvolvidos vários planos de ação reconhecendo
aos agravos. Portanto, é importante identificar a água e o esgotamento sanitário como direito
os segmentos populacionais mais expostos, mas humano. Em 2002, o Comitê das Nações Unidas
não por uma característica identitária, como no sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Cultu-
inicio da luta contra o HIV/AIDS, e sim pela po- rais elaborou o Comentário Geral nº157 sobre o
sição social que ocupam16,17. direito humano à água. Segundo este Comitê, o
O quadro de vulnerabilidade também ava- direito à água se enquadra naquele a uma vida
lia que o grau de acesso aos recursos, de todas com qualidade e está intimamente relacionado
as ordens, pode proteger o individuo contra as com o referente à saúde, alimentação e moradia
diversas enfermidades, assim como influencia o digna, previstos no Tratado Internacional sobre
desfecho, já que a forma como a intervenção é Direitos Econômicos, Sociais e Culturais7. As-
organizada e operada também sofre influência sim, em julho de 2010, através da resolução A/
do contexto3,15,16. Pode-se dizer que o conceito de RES/64/2929, a Assembleia Geral da Organização
vulnerabilidade social dialoga com a promoção das Nações Unidas reconheceu o acesso à água e
da saúde, uma vez que também busca compre- ao esgotamento sanitário como um direito hu-
ender e transformar os determinantes sociais do mano. No mesmo ano, resolução do Conselho
processo saúde-doença-cuidado. Ele reconhece de Direitos Humanos ratificou e esclareceu esse
que cada pessoa é sujeito de direito, sem discri- entendimento. Desde então, os países devem ga-
minação, e os aspectos sociais e culturais que rantir, progressivamente, esse direito, incluindo
vivenciam os expõem mais, ou menos, ao ado- a obrigatoriedade a seu reconhecimento nos or-
ecimento. Além disso, salienta a importância de denamentos jurídicos nacionais. O Estado tem a
entender como o governo regulamenta, respeita obrigação de respeitar, proteger e fazer valer este
e protege os direitos e como e quando a condição direito, não implicando necessariamente que
social exige ações especificas que possam lidar deva ser o provedor do serviço, mas deve mo-
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nitorar e regulamentar os prestadores e garantir Aliada à prevalência de doenças infecto-pa-


que ele não seja violado7. rasitárias, a falta de acesso, principalmente em
Segundo o Comentário Geral nº157, o acesso áreas rurais, contribui para a desigualdade de gê-
à água deve respeitar requisitos como: disponi- nero. Em muitos países, as pessoas responsáveis
bilidade, qualidade/segurança, aceitabilidade e pela coleta de água e a limpeza do ambiente do-
acessibilidade física e financeira; além de respei- méstico são as mulheres ou crianças, que se tor-
tar os princípios gerais dos direitos humanos. nam vulneráveis à violência e aos abusos sexuais,
Portanto, a água deve estar disponível em quan- que podem acontecer durante o percurso. Em
tidade suficiente para uso pessoal e doméstico; alguns casos elas chegam a gastar mais de 1 hora
deve ser segura e de qualidade e não representar na coleta e realizam várias viagens por dia, redu-
risco à saúde; dever ter cor, cheiro, sabor acei- zindo o tempo que poderia ser utilizado em ati-
táveis evitando que o individuo busque fontes vidades geradoras de renda, no cuidado da saúde
alternativas não seguras; e deve ser acessível. As dos filhos e nas atividades escolares23,24. Koowal
necessidades especiais dos indivíduos devem ser e Walle25 observaram que quando o tempo gasto
levadas em consideração e o caminho percorrido na coleta de água é reduzido, as tarefas de casa
para coleta não pode apresentar riscos de ataque, podem ser reorganizadas de modo a permitir que
seja de animais ou de pessoas. Além disso, deve as meninas possam frequentar a escola. Em Gana,
estar disponível a um preço acessível para a po- foi observado que ao reduzir o tempo de coleta
pulação. O preço gasto pelo individuo para ter de água em 15 minutos, aumentava-se de 8 a 12%
acesso à água não pode prejudicar a aquisição de o número de meninas entre 5 a 15 anos que fre-
outros bens essenciais, como alimentação, mora- quentavam a escola; já no Iêmen e Paquistão, ao
dia e cuidado com a saúde7,10. reduzir o tempo de coleta em uma hora, aumen-
Assim, o documento reconhece que todas as tava-se a frequência das meninas na escola em 10
pessoas necessitam de acesso à água em quanti- e 12% respectivamente20,25. Além disso, quando
dade suficiente para beber, cozinhar, fazer a hi- a distância para a fonte de água é superior a 30
giene pessoal e a da casa, além de acesso a servi- minutos, coleta-se um volume menor do que o
ços de esgoto que não comprometam sua saúde estimado para as necessidades pessoais e domés-
ou dignidade7. A falta destes recursos afeta tanto ticas, o que compromete a higiene e resulta no
a saúde como a qualidade de vida. Bain et al.19 aparecimento de doenças, especialmente desnu-
estimam que 1,8 bilhões de pessoas em todo trição e diarreia26. Estudo realizado em 2012 por
mundo bebem água contaminada com Escheri- Pickering e Davis26 aponta que diminuir em 15
chia coli, indicador de contaminação fecal. Além minutos o tempo gasto na coleta de água pode
disso, de cada cinco pessoas, quatro não lavam reduzir a mortalidade de crianças abaixo de cin-
as mãos após contato com urina e/ou fezes, o co anos em 11% e a prevalência de diarreia ou
que pode provocar o surgimento de várias doen- desnutrição em 41%. Além disso, a redução da
ças20. O simples ato de lavar as mãos com sabão higiene durante o período menstrual pode pro-
reduz substancialmente a prevalência de doenças vocar infecção do sistema reprodutor, inflamação
como a diarreia, responsável pela morte de 760 da pelve e infertilidade. A higiene precária pode
mil crianças abaixo de cinco anos, a cada ano, em provocar, ainda, infecções do trato-urinário di-
todo mundo21. Além de ser elemento essencial retamente associadas a partos prematuros, má-
para redução da mortalidade infantil, o acesso formação fetal, e pré-eclâmpsia23. Junto a isso,
à água e ao esgoto diminui a prevalência de má o peso da água, muitas vezes carregado sobre a
-nutrição e de doenças tropicais como malária, cabeça, pode causar dores osteomusculares e
dengue, Chikungunya e Zica22. Em locais onde a aborto prematuro23,24. Aliado à diminuição da
água é escassa, muitas famílias optam por utilizar distância a ser percorrida para a coleta, a redução
vasilhames para estocá-la. Esses recipientes, mui- no preço da água também tem efeitos benéficos
tas vezes, podem estar mal higienizados, com- na saúde das crianças e das mulheres, uma vez
prometendo a qualidade e a segurança da água, que permite o aumento da quantidade de água
ou podem a acondicionar de maneira imprópria, consumida pela família. 
levando ao aparecimento de larvas de mosquitos Com relação ao esgotamento sanitário, es-
vetores. A alta incidência de arboviroses trans- tudos23,27 apontam que as mulheres evitam uti-
mitidas pelo Aedes aegypti em 2015/16, no Bra- lizar as instalações públicas durante o dia para
sil, por exemplo, pode estar associada à crise no poder manter a privacidade, saindo à noite, o
abastecimento de água, que vem obrigando mui- que aumenta o risco de violência. Além disso,
tas famílias a armazená-la. reduzem a ingestão de água para diminuir a fre-
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quência com que utilizam essas instalações. Se- ponível, se a disponibilidade é contínua, qual a
gundo Campbell et al.23, os processos biológicos distância percorrida para chegar até a fonte, en-
que incluem defecação, menstruação e urina são tre outras questões que interferem no acesso e
privados e em alguns países considerados vergo- na quantidade coletada30. Verifica-se, com isso, a
nhosos. Com isso, a falta de instalações sanitárias importância de se estabelecerem novas metas que
adequadas implica em medo, estresse psicológico combatam a discriminação e a iniquidade. 
e redução da autoestima das mulheres, uma vez Segundo relatório publicado pela UNICEF,
que não conseguem manter o autorrespeito e a em 201512, ainda existem muitas disparidades
reputação social. Estudo realizado por Nauges com relação ao acesso à água e ao esgotamento
e Strand27 demonstrou que nas escolas com ba- sanitário. Enquanto as populações que vivem em
nheiros mistos as meninas também evitam beber regiões mais desenvolvidas conseguiram acesso
água e que muitas delas não frequentam a escola universal a estes recursos, 48 países considera-
para não utilizar estas instalações. Em Bangla- dos de baixo desenvolvimento ainda apresentam
desh, algumas escolas, depois de separar os ba- grandes deficiências, principalmente na África
nheiros por sexo, verificaram um aumento de Subsaariana e no sudeste asiático. Além disso, o
11% na frequência das meninas, indicando que mesmo relatório aponta que 8 de 10 indivíduos
o acesso adequado às instalações sanitárias pode que ainda utilizam fontes inapropriadas de água
auxiliar na equidade do acesso ao estudo27. e 9 de 10 que praticam defecação ao ar livre vivem
O objetivo 7 dos Objetivos de Desenvolvi- em áreas rurais. Esse relato demonstra que, ape-
mento do Milênio (ODM), Assegurar um Desen- sar dos avanços, as populações mais vulneráveis
volvimento Sustentável, tinha como uma de suas são as que seguem em desvantagem com relação
metas reduzir para metade, até 2015, com base ao acesso à água e ao esgotamento sanitário.
nos índices de 1990, a proporção de população Com o intuito de dar continuidade aos avan-
sem acesso à água potável segura e ao esgota- ços proporcionados pelos ODM, mas agora in-
mento sanitário28. Os ODM foram definidos em cluindo princípios dos direitos humanos, em
Assembleia Geral das Nações Unidas em 2000 e 2015 foram pactuados os Objetivos de Desen-
tinham como finalidade o desenvolvimento. Para volvimento Sustentável (ODS), com a finalidade
tanto, governos, comunidade internacional, so- de erradicar a pobreza em todas as suas dimen-
ciedade civil e setor privado deveriam se unir em sões31. Os 17 objetivos se baseiam na Declaração
torno de objetivos concretos. O prazo dos ODM Universal dos Direitos Humanos e nos Tratados
terminou e com relação ao acesso à água a meta Internacionais de Direitos Humanos e almejam
foi atingida em 2010, 5 anos antes do prazo es- o combate à iniquidade e a promoção dos direi-
tabelecido, embora haja questionamentos sobre tos humanos para todos, sem discriminação. Eles
o padrão de acesso empregado para o monito- são integrados e indivisíveis, se equilibrando nas
ramento das metas12. Dados da WHO/UNICEF12 dimensões econômica, social e ambiental do de-
demonstram que, de 1990 a 2015, 2,6 bilhões senvolvimento sustentável. Ao reconhecerem que
de pessoas em todo o mundo ganharam acesso a dignidade da pessoa humana é fundamental
melhorado à água, representando um aumento e que para conseguir erradicar a pobreza é ne-
na cobertura global de 91%. No que se refere ao cessário valorizar as demandas das populações
esgotamento sanitário, no entanto, os progressos vulneráveis, salientam a necessidade de empode-
foram menores e a meta não foi atingida, identi- ramento deste grupo populacional. Além disso,
ficando-se aproximadamente 1 bilhão de pessoas reafirmam a “responsabilidade de todos os Esta-
ainda defecando ao ar livre. dos em respeitar, proteger e promover os direi-
Apesar de a meta referente ao acesso à água ter tos humanos e as liberdades fundamentais para
sido considerada atingida, é importante ressaltar todos, sem distinção”. Ninguém deve ser deixado
que os princípios dos direitos humanos ficaram para trás31.
ausentes dos ODM11. Logo, questões como a não Com relação ao DHAES foi pactuado o obje-
discriminação não foram contempladas. Obser- tivo 6 Garantir disponibilidade e manejo sustentá-
va-se, assim, muita desigualdade no acesso, uma vel da água e esgotamento sanitário para todos até
vez que idade, sexo, etnia, deficiência e situação 2030, contemplando 6 metas. As metas 6.1 e 6.2
socioeconômica colocam algumas pessoas em visam, respectivamente, eliminar a desigualdade
desvantagem29. Segundo Albuquerque29, os go- no acesso à água potável para que todos, sem dis-
vernos não se empenharam em garantir o acesso criminação, possam ter acesso a fonte segura e de
para os mais vulneráveis. Além disso, os ODM qualidade; e garantir acesso adequado ao esgota-
também não avaliaram a qualidade da água dis- mento sanitário visando acabar com a defecação
1868
Neves-Silva P, Heller L

ao ar livre e dando especial atenção às necessi- Considerações finais


dades das mulheres e daqueles em situação de
vulnerabilidade31. Estes novos objetivos, cons- Conforme acentuado neste artigo, a adoção do
truídos sobre o referencial dos direitos humanos referencial dos Direitos Humanos, neste caso do
e visando a sustentabilidade, vêm responder às DHAES, pode ser instrumento primordial para
questões de iniquidade observadas na realização a promoção da saúde de populações vulneráveis,
dos ODM. uma vez que pode propiciar mudanças estru-
Assim, intervenções para melhorar o acesso turantes nos determinantes sociais do processo
à água e ao esgotamento sanitário, baseadas nos saúde-doença-cuidado tendo como base esses
direitos humanos, sem discriminação, com parti- princípios, garantindo a justiça, a dignidade e a
cipação social, transparência e responsabilidade, equidade. O DHAES reconhece que o acesso a
podem fazer diferença na vida e na saúde das po- esses serviços é um direito dos indivíduos e uma
pulações vulneráveis, principalmente mulheres e obrigação do Estado, não podendo ser conside-
crianças, resultando em melhora do bem-estar, rado um ato de caridade. Assim, ao considerar o
redução da mortalidade infantil, redução da de- acesso à água como direito humano, a comunida-
sigualdade de gênero, melhora no acesso à edu- de, principalmente as populações vulneráveis, em
cação, melhora da qualidade de vida e redução princípio as que mais têm seus direitos violados,
da pobreza. podem reivindicá-lo, utilizando para isso, caso
necessário, o sistema jurídico e os tribunais. Sen-
do a participação social um princípio importante
do referencial dos Direitos Humanos, as popula-
ções vulneráveis passam a ter direito a participar
dos processos de tomadas de decisão, tendo suas
demandas e necessidades ouvidas e valorizadas.

Colaboradores

P Neves-Silva trabalhou na concepção, no deli-


neamento, na pesquisa e na redação do artigo e
L Heller trabalhou na redação final do artigo, na
sua revisão crítica, e na aprovação da versão a ser
publicada.
1869

Ciência & Saúde Coletiva, 21(6):1861-1869, 2016


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