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Sobre o livro
de Roberto Tessari La Commedia dell’Arte: genesi d’una società dello spettacolo
DOI: 10.11606/issn.2238-3867.v16i2p407-414
sala preta
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Resumo
Apresentação e análise do último livro de Roberto Tessari, historiador
do teatro, sobre commedia dell’arte, expandindo-se para considerações
sobre a experiência cênica singular do teatro ocidental em suas “rela-
ções” com a cena contemporânea.
Palavras-chave: Roberto Tessari, Commedia dell’arte, Sociedade do
espetáculo.
Abstract
Presentation and analysis of theatre historian Roberto Tessari’s latest
book about commedia dell’arte, including considerations about the sin-
gular performing arts experience of western theatre in its “relations” with
the contemporary scene.
Keywords: Roberto Tessari, Commedia dell’arte, Society of the spectacle.
escrito durante 2012 e trazido a público em 2013 pela Editora Laterza. Com
mais de 260 páginas, a obra inclui, à guisa de introdução ou premissa, em
paginação destacada, uma espécie de libelo teórico questionador de ver-
tentes de estudos de um dos fenômenos teatrais mais significativos do tea-
tro do início da era moderna, que, ao propor discutir a commedia dell’arte
com certa vaguidão, em análises que, tudo somado, tendem a desprendê-
-la dos concretos processos históricos no seio dos quais se foi constituindo
ao longo de dois séculos, podem concluir por uma determinante impossibi-
lidade de alcançá-la, quando não por sua inexistência:
3 “A commedia dell’arte não teria entre seus componentes característicos nem um estilo
cenotécnico-interpretativo mais ou menos excepcional nem formas (as máscaras, especi-
ficando) mais ou menos portentosas em relação a um impacto estético. Deverá ser com-
preendida, se pretendemos ser autênticos materialistas imunes a mitos e mitificações,
como um mero “território da história do teatro que vai dos primórdios do Quinhentos ao
início do Oitocentos.” (TESSARI, 2013, p. VI, tradução nossa).
4 “Dizer que ‘A commedia dell’arte não existe’, em suma, é um modo como qualquer ou-
tro de impor como única norma razoável – fazendo deslizar sobre um fio oscilante entre
autoritarismo e paradoxo – a ideia de que a estranha espécie de uma assim chamada
teatralidade tenha consistido exclusivamente não tanto em um quid estético particular que
os atores teriam realizado em cena quanto em um seu comportamento individual e/ou
coletivo específico: no nível de fenomenologias biográficas singulares ou ainda no plano
das inter-relações profissionais entre especialistas da interpretação.” (TESSARI, 2013a, p.
VII, tradução nossa).
Ciò che, senza ombra di dubbio, non è mai esistito è un astratto concet-
to di Commedia dell’Arte monoliticamente intesa: sempre eguale a se
stessa attraverso qualsiasi mutamento di tempo e di spazio (proprio alla
stregua dell’oggetto misterioso di 2001: Odissea nello spazio; e, come
quello, dotata dello stesso potere di fascinazione che appartiene solo agli
enti mitologici). (TESSARI, 2013a, p.VIII)5
5 “O que jamais existiu, sem sombra de dúvida, é um abstrato conceito de commedia dell’ar-
te monoliticamente compreendida: sempre igual a si mesma ao longo de toda mudança
de tempo e de espaço (tal como o objeto misterioso de 2001: uma odisseia no espaço, e,
como ele, dotada daquele poder de fascinação que pertence exclusivamente aos entes
mitológicos).” (TESSARI, 2013a, p. VIII, tradução nossa).
6 “Ao longo dos dois séculos de história em questão, existiu – e constituiu parte importante
do contexto global europeu a que pertence – um tipo de performance de muitas variáveis,
mas sempre fundado na escolha de uma perspectiva teatrológica bastante identificável e
na contínua presença dos mesmos componentes estruturais (sempre interconectados se-
gundo um esquema consagrado). Não se trata tanto de um ‘território’, mas de um modo de
conceber (e vender) o teatro. Um modo que privilegia com escolha radical a economia do
fazer e do distribuir espetáculo em regime de livre mercado, em relação aos valores aris-
tocrático-culturais tradicionalmente atribuídos à escrita literária sobre a página da inventio e
da compositio de um texto dramatúrgico de autor.” (TESSARI, 2013a, p. IX, tradução nossa).
7 Talvez se devesse mesmo optar por “espiadas”, tendo em conta o fascinante conteúdo do
capítulo, subdividido em 1. Il principe: spiando da una camera con grata [O príncipe: es-
piando de uma câmara/de um aposento gradeado], em que retoma o estudo de Ludovico
Zorzi sobre “lo stanzino con grata entro cui, invisibile ad attori e pubblico, il granduca di
Toscana si fa spettatore di performances ‘di gente sordida e mercenaria’” [a saleta grade-
ada na qual, invisível a atores e público, o grão-duque da Toscana se faz espectador de
performances ‘de gente sórdida e mercenária’] (TESSARI, 2013ª, p. 67) – trata-se de uma
referência concreta à saleta reservada do teatro de Baldracca, de Florença; 2. Il prete: tra
porte chiuse e porte socchiuse [O padre: entre portas fechadas e semiabertas]; 3. L’intellet-
tuale: riflessi fascinosi d’uno specchio sparso di impurità [O intelectual: reflexos fascinantes
de um espelho salpicado de impuridade].
8 O uso da palavra ‘pensiero’ não é casual: o termo pode abarcar os significados que a
tradução quis manter; fato que convém ao problema em pauta, mais uma vez bem demar-
cado no subtítulo.
Referências bibliográficas
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TESSARI, R. Commedia dell’arte: la maschera e l’ombra: problemi di storia dello
spettacolo. Milano: Mursia, 1981.
9 “Com efeito, se a commedia dell’arte marcou sinal indelével e imprimiu virada significativa
na história do teatro, esse sinal e essa virada não devem ser reconduzidos – como sonha-
va Maurice Sand – ao fato de que seus protagonistas teriam sabido realizar “a comédia
perfeita, o nec plus ultra da arte”, mas referem-se ao primeiro delineamento (mediante
novo módulo de montagem com base na recombinação seriada de formas e mecanismos
audiovisuais de um imaginário todo concebido e fisicamente encenado em função do má-
ximo impacto cômico-sensual e do mais amplo consumo) de uma massiva produção de
encenações aptas a instaurar com seus espectadores um intercâmbio cultural que detém
todas as características de uma moderna sociedade do espetáculo e dele prefiguram não
poucos aspectos típicos de futuros êxitos.” (TESSARI, 2013a, p. X, tradução nossa).
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Recebido em 07/09/2016
Aprovado em 05/11/2016
Publicado em 21/12/2016