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Análise de Filmes: Frozen – O Reino do Gelo

Por Hellen Reis Mourão -


6 de junho de 2018
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Frozen: O Reino do Gelo

Você não se identifica com nenhuma princesa da Disney por elas


serem muito passivas e sonharem com o príncipe encantado?
A animação Frozen mostra uma nova forma de feminino.

A animação da Disney Frozen, de 2013, é levemente baseada no


conto de fadas A Rainha da Neve de Hans Christian Andersen, e
relata a história de duas irmãs Elza e Anna, princesas do reino
de Arendelle.

Elza e Anna possuem personalidades diferentes. Anna é alegre,


extrovertida e tem como objetivo encontrar o amor de sua vida; já
Elza é comedida, introvertida e quer apenas aprender a lidar com
seus medos, para ser aceita.

As duas irmãs do filme apresentam atitudes bem marcantes e


opostas que exemplificam claramente atitudes que Carl
Jung denominou de introversão e extroversão.

Para Carl Jung extroversão e introversão mostram tipos gerais de


atitudes, e elas se distinguem pela direção de interesse e movimento
da libido, ou seja, da energia psíquica. Em outras palavras, a
atitude da consciência será determinada pela direção
de interesse em relação ao objeto.

Por objeto, entendemos tudo aquilo que não é o sujeito e que


não se liga a pessoa e seu mundo interior.

Os introvertidos são aqueles que hesitam, recuam e enxergam o


contato com o objeto com receio e como se fosse algo pesado,
massacrante. O mundo externo os desgasta e isso faz com que
ajam de forma a atribuir ao objeto um superpoder.

Já os extrovertidos partem rápido e de forma confiante ao encontro


do objeto. Aparentemente o objeto tem para ele uma importância
enorme, mas no fundo o objeto não tem tanto valor assim e por isso
é necessário aumentar a sua importância.
Anna caracteriza bem a extroversão, jovial, se intromete em tudo e
vive em busca relacionamentos, principalmente com sua irmã a
introvertida Elza para qual o mundo externo é assustador. Sua
personalidade é mais grave e desconfiada que a de Anna. Seus
medos a assolam levando-a a reclusão. Ela busca se precaver de
qualquer dispêndio de energia e acredita que o mundo externo
enxerga seus dons como malignos.

Elza possui um dom especial – o de congelar tudo a sua volta.


Apesar de ser poderosa, ela não possui controle sobre seus poderes o
que a torna perigosa para quem convive com ela, principalmente para
sua irmã Anna.

Mediante esse fato os pais da menina decidem isolá-la do mundo.

Os pais de Elza fazem aqui o que a maioria dos pais diante de um


filho “diferente” faz. Mesmo com boas intenções, muitos preferem
isolar a criança ao invés de auxiliá-la com seus dons.

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Essa atitude fez com que Elza reprimisse quem ela é realmente, o
que a tornou mais perigosa ainda, pois seu poder não está sob
controle.

Quando os pais das meninas morrem, Elza por ser a mais velha deve
assumir como o trono como rainha. Nesse instante a moça que
esteve trancafiada tem de sair e enfrentar seus temores.

A morte dos pais mostra um aspecto simbólico importante para o


desenvolvimento da psique. Enquanto as leis e normas impostas
pela família e sociedade não morreremdentro de nós, não é
possível atender o chamado da própria alma.

Elza então se vê diante de seus poderes incontroláveis e o medo


toma conta de seu ser. Diante disso, ela foge para as montanhas e
ganha a liberdade. Entretanto ela não está livre, pois ainda não tem
controle sobre seus poderes.
A verdadeira liberdade só ocorre quando assumimos a
responsabilidade por nós mesmos, pelos nossos dons e
defeitos.

É claro que a solidão nos auxilia a confrontar nossos medos e a entrar


em contato com nosso eu mais profundo. Todavia, no processo
de individuação devemos nos tornar nós mesmos, mas sem se isolar
do mundo. O individuo deve colocar seus dons individuais a serviço
do coletivo.

E nesse instante surge Anna se intrometendo e perturbando a


aparente paz da irmã. Ela é seu aspecto sombrio, extrovertido, que a
chama para a responsabilidade e que a tira do seu papel de vitima.

A vítima sempre possui dentro de si o algoz. Enquanto Elza se coloca


como vitima perseguida, seu algoz interno acaba machucando
aqueles que ela mais ama.

Elza além de introvertida se assemelha as deusas virgens da


Mitologia Grega. Por virgem se entende que a deusa era completa em
si mesma e não busca relacionamentos amorosos para se
completar. São elas: Atena, Artemis e Héstia.

Por ser introvertida, podemos aproximar Elza de Héstia, o que é


muito interessante, pois Héstia é uma deusa do fogo, da lareira e
do lar.
Mas como uma princesa que produz gelo pode se assemelhar de uma
deusa do fogo?

Bem somente pelo fogo provocado pelo amor incondicional pela sua
irmã que Elza aprende a controlar seus poderes. É indo para o oposto
que ela encontra o equilíbrio.Entrando em contato com sua Héstia
interior, ou seja, seu fogo, seu calor, que ela consegue derreter o
gelo em que seus sentimentos se encontravam.

Mas a característica mais marcante nesse filme e que o diferencia dos


demais contos de fadas com heroínas, é que a redenção de Elza e
Anna ocorre quando ambas demonstram amor verdadeiro uma pela
outra.

Em nossa sociedade infelizmente existe um estereótipo de que as


mulheres não são companheiras. A metáfora de Frozen não serve
apenas para irmãs de sangue, mas também para irmãs de
coração. Anna é traída pelo seu primeiro amor e Elza é julgada
pela sociedade por ser diferente e poderosa. Seus próprios pais
foram incapazes de ajudá-la a lidar com seus dons e a incentivaram a
ser normal e adaptada a uma sociedade preconceituosa. Sua irmã é
a única que não a julga e não a teme e devido esse amor e aceitação
plena da forma de ser uma da outra que ocorre a salvação delas e do
reino.

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