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Primeiramente eu cumprimento a todos os que se encontram aqui nesta tarde.

A pesquisa que será apresentada nesta tarde é fruto de uma cuidadosa investigação do
texto de Isaías 34:10 que diz:
Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração
em geração será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela.
O objetivo é analisar a doutrina do tormento eterno. Esta doutrina tem sido
grandemente difundida no mundo cristão na atualidade. Diversos crentes, de várias
denominações, acreditam fielmente que os ímpios serão lançados em um inferno para
queimarem por toda a eternidade. Com um solene respeito às Páginas Sagradas, nos
dedicaremos a expor a perspectiva bíblica sobre este assunto. A conclusão final é que o
tormento eterno é uma doutrina que está baseada na filosofia grega e não na Bíblia
Sagrada.
Em Isaías 34 Edom, nação irmã e inimiga de Israel, recebe um anúncio de juízo.
Deus convida todos os moradores da Terra para ouvir o juízo que será proclamado sobre
a ímpia nação de Edom:
'Aproximem-se, ó nações, para ouvir, e vocês, povos, escutem! Que a terra e a sua plenitude
ouçam; que o mundo e tudo o que ele produz escutem. '

Isaías 34:1

Deus diz que esta nação seria destruída (v. 5). Os ribeiros seriam queimados e este
fogo não se apagaria “nem de dia nem de noite” e uma fumaça subiria para sempre (v.
10). Muitos, com base neste texto, alegam que Deus está aqui profetizando o inferno
eterno, em que pessoas más queimarão por um período infindável em um mar de fogo e
enxofre.
Vários problemas já podem ser observados com esta teoria:
1- O problema do pecado: As Escrituras diversas vezes afirmam que haverá um
fim para a dor e sofrimento no universo (Sl 37:10,11,29; Pv 2:21,22; Dn 2:44; Ap
21:4), um momento em que a morte e o pecado seriam definitivamente banidos
do universo. Mas se os ímpios estarão sempre queimando em um inferno, e,
obviamente, cometendo blasfêmias contra Deus, então o pecado não seria
definitivamente destruído, pois sempre haveria uma multidão de ímpios
blasfemando contra Deus no inferno.
2- O problema da dor: A Bíblia também afirma que chegará um momento em que
“não haverá mais morte nem dor” (Ap 21:4), entretanto isto seria impossível de
conciliar com uma multidão em agonias, dores e tormentos no inferno. Ficaria
ainda mais difícil entender como alguém não mais lamentaria (Ap 21:4) sabendo
que um parente querido estava em dor e agonia em um lago de fogo.
3- O problema do amor: A pergunta intrigante é: Se Deus é amor (1Jo 4:8) como
pode permitir que criaturas sofram tanto? Alguém rapidamente poderia responder
dizendo: Deus não é culpado do pecado dos ímpios. Concordo plenamente, mas a
minha pergunta não é esta. A minha pergunta é: Mesmo que Deus não seja o
culpado disto, é justo que alguém que pecou 60 anos queime pela mesma
quantidade de tempo que Satanás, o “pai da mentira” (Jo 8:44), irá queimar? É
justo aplicar uma pena quantitativamente desproporcional ao delito cometido?
Qualquer leigo em questões jurídicas facilmente responderia que não. Afinal, este
é o princípio da justiça: um equilíbrio das partes.

Análise da palavra “eternidade”


A palavra traduzida como “para sempre” em Isaías 34:10 é o substantivo masculino
‘olam no hebraico, língua em que foi escrita o Velho Testamento. Esta palavra (‘olam)
aparece 414 vezes em todo o A.T.
Se quisermos saber o que significa “para sempre” na Bíblia, precisamos olhar COMO
a Bíblia usa este termo.
A conclusão é de que MUITAS VEZES o termo “para sempre” na Bíblia não
significa “tempo sem fim” e sim “tempo indefinido”. Vamos ver apenas alguns:
Exodo 19:9 - E disse o SENHOR a Moisés: Eis que eu virei a ti numa nuvem
espessa, para que o povo ouça, falando eu contigo, e para que também te creiam
eternamente. Porque Moisés tinha anunciado as palavras do seu povo ao
SENHOR.
Deus aparece em uma nuvem para o Seu povo, e diz que fez isto para que este eles
“creiam eternamente”. Obviamente eles não creram por toda a eternidade, porque
morreram. Eternamente aqui significa “eterno enquanto viverem”.
É exatamente a mesma forma de expressão que nós usamos para nos referir a uma
“prisão perpétua”. A prisão é perpétua enquanto a pessoa estiver viva, depois que
morre deixa de ser preso.
Gen 6:4 - Ora, naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando
os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos;
estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade.
No original hebraico, a palavra “antiguidade” é ‘olam. Ou seja, a mesma palavra
utilizada para se referir à um futuro infinito é utilizada aqui para designar um período
no passado.
Como afirma o doutor e professor emérito, especialista em línguas orientais
VanGemeren:
“O significado básico da palavra ‘olam é ‘tempo remoto’ ou ‘tempo distante’”, E
NÃO TEMPO ETERNO.
Ele também afirma que “não se deve entender essa palavra no sentido filosófico e sim
no sentido bíblico. Apesar de que, em alguns casos esta palavra se refira a tempo
infinito, NA MAIORIA DOS CASOS O TEMPO É INDEFINIDO.
Outras ocorrências da mesma palavra também chamam a atenção do Dr. Tomasino
(doutor em Antigo Testamento):
A palavra ‘olam (traduzida muitas das vezes como “eterno” foi utilizada de diversas
maneiras nos Salmos: Os salmistas iriam “louvar ao Senhor eternamente” (Sl 52:9),
“render graças eternamente” (30:12), “glorificar o nome do Senhor eternamente”
(86:12), cantar louvores eternamente (61.7), declarar a justiça de Deus eternamente
(75.9), confiar nas misericórdias do Senhor eternamente (52:8), etc. EM TODOS
ESTES CASOS A EXPRESSÃO “ETERNAMENTE/PARA SEMPRE” QUER
DIZER: O RESTO DA VIDA DO SALMISTA. Ele disse que iria glorificar ao
Senhor eternamente, mas ele morreu depois que afirmou isto. Percebe-se que a
concepção bíblica do termo ‘olam ultrapassa a tradução para o português.
Mas isto é comum nas traduções. Como afirma um ditado italiano: “Traduttore
Tradittore” que significa: TODO TRADUTOR É UM TRAIDOR. Porque todo
tradutor irá traduzir a partir de pressupostos que possuem, possuir um pressuposto não
é algo negativo (na verdade, é impossível analisar algo sem um pressuposto),
entretanto o pressuposto não pode ser mais forte do que a evidência bíblica. A Bíblia,
e somente Ela deve ser a intérprete final dela mesma!

Análise teológica
1- Me respondam uma pergunta: Quando Jesus voltar Ele nos salvará deste
mundo para sempre certo? Quando eu digo que seria salva para sempre eu
quero dizer que todos os dias, dia após dia, Deus me salvará do inimigo,
mesmo que eu já esteja no céu? Um pouco de conhecimento bíblico já anularia
esta hipótese, a Bíblia claramente diz que chegará o momento de separação
definitiva entre os ímpios e os justos. Então é possível perceber que A
SALVAÇÃO ETERNA É ETERNA PORQUE AS CONSEQUÊNCIAS SÃO
ETERNAS, E NÃO PORQUE DEUS VAI ME SALVAR TODOS OS DIAS.
Afinal, me salvar de que? Já estou fora do alcance do inimigo, já não sou mais
pecadora, já não tenho mais tendência para fazer o mal, me salvar de que?
Agora, a mesma regra deveria ser aplicada para a destruição eterna. Assim como
a salvação eterna, a destruição eterna não significa que o ímpio estará todos os
dias, dia após dia, em tormentos e dores infindáveis. Muito pelo contrário,
significa que as consequências desta destruição SÃO IRREVERSÍVEIS, portanto,
ETERNAS!
2- Alguns poderiam dizer que Deus vai apenas separar os justos do injusto. Os justos
vão desfrutar do bom e do melhor e os ímpios sofrerão o tormento. Entretanto, a
Bíblia apresenta outra realidade. Na perspectiva bíblica, o mal será
definitivamente destruído (2Ts 1:9) e o ímpio será morto (Sl 68:2; Ez 18:4; Ml
4:1; Mt 13:30; 2Pe 3:10; Ap 20:15; 21:8). Nas Escrituras a salvação implica não
apenas na separação de justos e ímpios, mas na destruição dos pecadores e da
salvação dos justos (ver Salmos 37:10, 29).
3- Alguns textos do Novo Testamento utilizam esta mesma linguagem de fogo eterno
(Mt 25:46; Judas 7; Ap 14:9-11; 20:10), entretanto estes textos são fáceis de se explicar
quando se tem uma visão ampla do conceito bíblico da palavra ‘olam e aionos (grego).
Em Judas 7 diz que Sodoma e Gomorra estão queimando em fogo eterno (aionos),
mesma palavra utilizada em Ap 14, 20, Mateus 25, entretanto Sodoma e Gomorra não
estão mais queimando, o fogo é eterno nas consequências, foi um juízo que não tinha
mais possibilidade de restauração.
4- Toda a teoria de tormento eterno só existe porque muitos creem que o homem tem
uma alma dentro dela e que esta alma sai do corpo quando ele morre. A Bíblia
discorda. Quando Deus criou o homem em Gênesis 1, Ela diz que Deus soprou no
nariz do homem e o homem “PASSOU A SER ALMA VIVENTE”. Perceba! O
homem passou a SER alma, e não a TER uma. Nós somos alma, não temos uma.
A ideia de alma vem do dualismo de Platão, filósofo grego. Mas esta teoria não
encontra respaldo na mensagem bíblica.
5- Uma vez que o “castigo do pecado é a morte” (Rm 6:23), se Deus não destruísse
o os ímpios seria uma transgressão da própria consequência do pecado.
Portanto, convido cada um aqui presente a refletir profundamente nas Palavras de
Deus. Convido cada um para repensar sua posição, analisarem a mesma conforme a
Escritura, desvinculado de pressupostos filosóficos.
O tormento eterno ataca agressivamente o caráter de Deus, torna o ímpio imortal, e
torna Deus incapaz de destruí-lo. No Éden Satanás derrubou Eva dizendo:
“Certamente não morrerás”. Ainda hoje é possível ouvir a voz de Satanás “Certamente
não morrerás” ecoando na doutrina do tormento eterno!

Obrigada a todos.

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