Você está na página 1de 9

1.

Introdução
A inovação aberta é um paradigma que as empresas podem usar para estimular o surgimento
de ideias de pessoas internas e/ou externas à uma corporação, para construção de um novo
modelo corporativo ou um novo produto, se submetendo à capitais intelectuais extras, tais
como métodos de terceiros. (CHESBROUGH, 2003).

Para Carmen (2016), impulsionar a criatividade para trazer para dentro de uma corporação
uma inovação se trata de combinar parceiros internos e externos, fazer com que a troca de
informações sirva como um catalisador para a auto percepção à criatividade.

É importante destacar, perante a concepção de Chesbrough (2003), que as empresas tendem a


um paradoxo: pois embora a inovação impulsione claramente o sucesso, a maioria das
inovações fracassa, isso porque o conceito de inovação não esteve claro ou não foi aplicado
corretamente.

As empresas, ainda na visão de Chesbrough (2003), têm dificuldade em extrair ideias e


transformar em algo que possa agregar valor tanto para a organização quanto para a esfera
inovadora do cenário empresarial.

A importância de esclarecer o conceito de inovação, para fins práticos, está diretamente ligado
com a competitividade e o crescimento econômico de uma empresa em relação ao seu
mercado, é como um diferencial. (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011).

É de suma importância dar valor aos conceitos de pesquisa e inovação, pois através de estudos
aprofundados e conceitos bem definidos cria-se potencial de aproveitar um produto para criar
algo novo: um subproduto ou uma nova tecnologia. Ou seja, é possível reutilizar o que muitas
vezes é descartado.

Contextualizando o tema inovação à frigoríficos de aves, compreende-se que eles


(frigoríficos) tendem a descartar ou vender por preços simbólicos o que não é aproveitado do
frango, em outras palavras, é descartado o que não se considera produto de varejo (vísceras).

O Ministério da Agricultura define vísceras como um produto resultante do cozimento de


subprodutos originados do abate de aves, constituído por partes cárneas, cabeças e pés. Seu
processamento ocorre conforme normas do próprio ministério. (PATENSE, 2013).

Este artigo tem por objetivo apresentar um estudo sobre inovação e inovação aberta,
mostrando a importância de suas aplicações em uma graxaria do frigorífico de aves Agroaves
LTDA, além de demonstrar como estas aplicações podem reduzir a margem de risco ao

1
decidir inovar em uma determinada área que apresenta potencial. E esclarecer conjunto de
decisões e resultados.

2. Objeto de Estudo
A Agroaves é um frigorífico de aves que surgiu na década de 80 no município de Itabira e até
hoje tem sua sede na cidade. Está desde 2002 (onde foi concebido pela prefeitura municipal,
um terreno, através da Lei Municipal 3571 de 04 de maio de 2000) instalada no Distrito
Industrial II. O principal objetivo da organização é cumprir com seu comprometimento
social, com geração de empregos e renda, de forma sustentável, além de atender da melhor
forma possível seus clientes, garantindo seu espaço no mercado e continuando sempre em
crescimento.

A organização conta com uma graxaria instalada em sua área, que é o principal objeto de
estudo deste artigo. Nesta graxaria é feito um processo de produção de óleo com a tecnologia
presente (aquisição própria da organização) para obtenção de subprodutos (óleo). O principal
objetivo da graxaria é utilizar a tecnologia e vender subprodutos de compostos dos frangos,
compostos que são comumente descartados por outros frigoríficos.

A graxaria da empresa é constituída de um bloco com aproximadamente 392m² e conta com


os seguintes equipamentos para a produção de farinhas proteicas integrais e óleos industriais:

2 peneiras estáticas;
1 silo de sangue;
2 digestores de 5000 lts;
1 tanque decantador de óleo de 2000 lts;
1 prensa expeller;
1 moinho 2000 kg/h.

Toda a matéria prima processada nos digestores é proveniente do abatedouro, portanto serão
ossos e vísceras, penas e sangue.

2.1. Características técnicas do local

 As fundações são do tipo “sapatas isoladas” em concreto armado. Onde foram


executadas pequenas contenções em blocos de concreto, espessura 0,20m;
 Possui cintas, vigas e pilares também de concreto armado;
 Alvenarias construídas em bloco de concreto (15x20x40), espessura 0,15m;

2
 A cobertura feita com telhas de aço galvanizado apoiadas sobre estrutura metálica
(também em aço);
 Os pisos são em argamassa de cimento e areia;
 Portão em chapa de aço;
 Janelas também em perfis de aço;
 Instalações elétricas;
 Instalações hidráulicas e sanitárias.

3. Metodologia
A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é
que ela tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram
tomadas, como foram implementadas e com quais resultados (SCHRAMM, 1971, p. 6).

O caminho utilizado para realização deste artigo foi estudar o funcionamento de graxarias e
em específico a graxaria da empresa Agroaves LTDA. Os dados coletados foram feitos através
de observações em campo, questionamentos com funcionários da empresa em estudo,
diretores, com o dono da organização e um especialista em projetos de graxaria.

O trabalho também possui base em revisões bibliográficas de autores como Chesbrough,


Cavalcante, Reis e Carvalho. Todas os conceitos e informações obtidas serviram como pilares
para construção deste material.

4. Coleta de dados

A análise de viabilidade e rendimento foram calculados junto ao especialista. As informações


mensuráveis foram requisitadas e coletadas entre os dias 07/03/2018 e 28/03/2018.

Parâmetro de funcionamento do abatedouro que orientam o projeto da graxaria:

Média de abate de 20.000 aves por dia;

 Peso médio das aves de 2,5kg;


 Produção média de 50.000kg por dia;
 Velocidade média de 3.000 aves abatidas por hora;
 Regime de trabalho consiste em um turno de 8 horas. Dados de funcionamento do
setor de penas e sangue:
 100 L de sangue em cada digestor por batelada;
 1.150 kg/h de penas e 345 kg/h de sangue produzidos na primeira fase;
 2 horas necessárias para completar 50% da capacidade de um digestor(5.000kg);
 30 minutos para hidrolisar os 2500kg; • 30 minutos para despressurização;
 3 horas para a secagem.

3
Dados de funcionamento do setor de vísceras e óleo:

 2 horas para completar 60% da ocupação do digestor (5.000kg);


 2 horas para processar as vísceras;
 10 horas de abate diário fornecem 10.235 kg de vísceras;
 7 horas para processar 10.235 kg de vísceras;
 2.764 kg de farinha após o processamento que são acondicionadas em sacos de ráfia
com capacidade de até 40kg;

 1.8242 L de óleo acondicionados em tanques de capacidade de 15m³ cada.

5. Desenvolvimento
Por meio de análises feitas no frigorifico Agroaves e entrevistas/questionários
semiestruturados feitas com os respectivos especialistas, consultor, diretor e outros
funcionários de linha, pôde-se constatar que cerca de 27,4% dos 50.000 kg de frango
produzidos diariamente são partes “descartáveis”, a tabela abaixo fornece uma distinção mais
precisa das partes do frango que são consideras descartáveis e o porcentual de cada um
respectivamente.

Tabela 1 - Quantidade de “rejeitos”


Item Percentual Quantidade
Frango 100% 20.000
Pena 12% 6.000
Vísceras 8,1% 4.050
Sangue/Pulmão 3,5% 1.750
Cabeça 3,8% 1.900
Total 24,40% 13.700
Fonte: Agroaves (2018)

Sendo assim ao estudar o setor da graxaria do frigorifico, foram definidos 3 tipos de processos
pelo qual ocorrem o processamento das vísceras de frango que são: produção da farinha de
penas/sangue, produção da farinha de vísceras/óleo e processamento do óleo de vísceras.

5.1. Produção da farinha de penas/sangue

4
Da linha de abate as penas retiradas dos frangos pela depenadora irão para graxaria junto com
a água por meio de uma tubulação de pvc com diâmetro de 400mm até uma peneira de
contenção estática, onde será realizada a separação de água e penas.
A água segue por meio de tubulação para a peneira estática final de fluxo e as penas seguirão
por meio de rosca para prensa desaguadora onde é retirado o excesso de água.

O sangue coletado na calha de sangria localizada no início do abate, é acondicionado em um


blow tanque e por meio de inserção de ar comprimido e tubulação de pvc é seguido para um
tanque de aço inoxidável localizado na laje da graxaria.

Assim, as penas e sangue são abrigados no digestor de hidrólise, a máquina é fechada, e


introduzindo vapor na camisa externa a uma pressão de 5kgf/cm2. É observado então, um
aumento gradual da pressão no interior do vaso até atingir as pressões de hidrólise,
estabelecidas pelos técnicos, geralmente em torno de 3,0 kgf/cm2, essa pressão é mantida por
certo tempo também estabelecido pelos técnicos.

Assim que o processo de hidrólise é concluído, a máquina é despressurizada e quando a


pressão estiver em torno de 0,5kgf/cm2 abre-se outro registro para retirada total e rápida da
pressão interna, somente depois destas operações é que será aberta a tampa de
descarregamento do digestor.

Inicia-se o processo de secagem e durante esse processo trabalha-se com o digestor sem
pressão interna, o aquecimento das camisas dá a capacidade de secagem do produto, quando
o produto no digestor estiver com teor de umidade entre 3 e 8% é aberta a tampa de descarga
da máquina, e o produto contido é lançado na caixa percoladora situado à frente da máquina.

Através de uma conexão do equipamento de secagem e uma elevação, alimenta-se o moinho


onde é feita a moagem da farinha que será acondicionada em um silo de ensaque através do
qual o produto é ensacado em sacos de polietileno para ser estocado em área definida para
esta finalidade, onde será guardado até a sua comercialização.

5
Figura 1 - Fluxograma produção de farinha de penas/sangue

Fonte: União (2018)

5.2 Produção farinha de vísceras/óleo


As vísceras geradas pelo processo de evisceração no abatedouro seguirão para a graxaria
junto com a água por meio de uma tubulação de pvc com diâmetro de 400mm até uma
peneira de contenção estática, onde será realizada a separação de água e das vísceras. A água
seguirá por meio de tubulação para a peneira estática final de fluxo e as vísceras

6
acondicionadas em um blow tanque que por meio de inserção de ar comprimido serão
transportadas para uma caixa de contenção e dosagem.

Os resíduos da carne são carregados nos digestores, com saída dos gases aberta, sem geração
de pressão interna, a transformação ocorre num processo de fritura (rompimento das células
do tecido adiposo liberando gordura livre).

Concluído o processo no digestor, é aberta a tampa de carga da máquina, a massa e o óleo


resultantes são lançados na caixa percoladora situado na frente da máquina, este equipamento
é dotado de rosca de descarga conectada a uma outra de elevação que alimenta a prensa
expeller para retirada do óleo impregnado na massa, a torta seca resultante é encaminhada à
rosca de elevação que alimenta o moinho onde é feita a moagem de farinha e
condicionamento em silo de ensaque, através do qual a farinha é ensacada em sacos de
polietileno para ser estocada em área definida para esta finalidade até a sua comercialização.

Figura 2 - Fluxograma produção de farinha de vísceras/óleo

7
Font
e: União (2018)
5.3. Processamento do óleo de vísceras
O óleo, retirado na prensa expeller segue por tubulação própria e por meio de bombeamento é
lançado em dois tanques decantadores para sedimentar os particulados contidos, ao término
do processo de sedimentação o óleo seguirá também por meio de bombeamento para dois
tanques de depósito onde fica estocado até a sua comercialização.

6. Considerações finais
Por pesquisas realizadas em campo, buscas por conceitos sobre inovação/inovação aberta e a
realização do artigo, foi perceptível a importância da ciência da inovação e sua
aplicação.

O estudo feito no frigorífico de aves Agroaves LTDA, mais especificamente na graxaria da


empresa, permitiu concluir que o intelecto, as interações e as colaborações internas e
externas à instituição são fatores importantes para abrir novas oportunidades. Os

8
resultados permitem afirmar, através da análise do objeto em estudo, que é possível
inovar com uma pequena margem de risco.

Em suma, Ito, Hayashi, Gimenez and Fensterseifer (2012), garantem que a inovação agrega
valor a um produto sem necessariamente aumentar seu valor de custo e preço, ou seja,
inovar é criar vantagens competitivas, para tanto, considera-se que inovação possa ser
um capital intelectual externo a fim de agregar valor à uma nova fonte de renda da
corporação.

Portanto, o conceito de inovação aberta tem intimidade com o estudo feito, tendo em vista que
a utilização de uma nova tecnologia no frigorífico para criação de um subproduto é
considerado um uso de capital intelectual externo na perspectiva de Ito, Hayashi,
Gimenez and Fensterseifer (2012).

Para possíveis trabalhos futuros pode ser realizado um estudo de como a tecnologia foi
implementada na graxaria do frigorífico, os impactos causados pelas mudanças
estruturais da empresa atreladas ao processo, além de propor uma análise sobre
possíveis métodos desenvolvidos na implementação de um novo setor.

REFERÊNCIAS

BRANQUINHO, Carmen Lucia; Crowdsourcing: uma forma de inovação aberta. - Rio de Janeiro:
CETEM/MCTI, 2016.194 p.

CARVALHO, H. C. de; REIS, D. R. dos; CAVALCANTE, M. B. Gestão da Inovação.Curitiba: Aymará, 2011.


p. 99-113.

CHESBROUGH, Henry W. Open innovation: the new imperative for creating and profiting from technology.
Boston: Havard Business School Press, 2006.

PATENSE, Farinha de vísceras. Disponível em <http://www.patense.com.br/pt/views/farinhavisceras.php>.


Acesso em: 01 abr. 2018

SCHRAMM, Wilbur. Notes on case studies of instructional media projects. Educational Resources
Information Center, Washington DC, 1971.

TO, N. C.; HAYASHI JÚNIOR, P.; GIMENEZ, F. A. P.; FENSTERSEIFER, J. E. Valor e Vantagem
Competitiva: Buscando Definições, Relações e Repercussões. Revista de Administração Contemporânea,
v. 16, n. 2, p. 290-307, 2012.

Você também pode gostar