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MicheL Trorer A FILOSOFIA DO DIREITO martins Marine Fontes ati ite et Sumario eTRODUGKO ‘cantrULo 1-0 QUE £FILOSOFA DO DIREITO: 1 ld die ei gra do ic. 1 lyf dn do ii lofi do das st Dini pose jeri Pade de dicipine ‘cartruLo 2-A;cIENcIR Do DIREITO ising en delta do dite 1 Objet da ici di defini do dco a, Bags inci di CcaPtroLo 5-4 ESTRUTURA DO DIRETTO tind ii ® APITULO4~0 RACIOCINIO EAC DIREZTO. nn Lg REFERENCIAS BBLIOGRAFICAS Introdugao Vivemas sob a império do direito. Desde o nascimento, & obrigatério registrar a crianga €o nome qu ea cer Ihe se 1 atribuide conforme cetasregras, bem como outeas de. terminario que sea matrculada em uma escola. Quando compramos a mais simples objec ou pegamos um dnibus, isso ocorre pela aplicagio de um conerato. Nés nos cast mos, trabalhamos€ nos tratamos de acordo com 0 dircito Contudo, por sais que sejamos conscentes dessa one senga do dirctoe capazes de aplicar ou de produit eg, _uitas vezestemosdifculdade em defini. Mas por que uma definigo seria necessiria? Como «em outros Fendmenos, a busca por definisdo ressalta 0 ques- tionamento sobre a nacureza ow 2 esséncia do ditcco. Mas & cambém indispensivel aa péprio tabalho dos juristas Com feqiénca, observamos que os fisicos no tardam em define a sia, nem 08 quimicos, a quimica. Da mesma for | RuosorW po Daero 1a, 0s jursas no podem disyensa a defnigio do dic Isso se deve, sobretud:20 Fo de que ase pode apliar uma regra ants de a idenifcado como regra de direc. Qual € difrenga ene a ordem dad plo ldo ¢ agucls dada pelo cobrador de impostor? Ambos exigem que thes aja entepue diner, «nos dois cass, umn set s3 nos deiaraexposos a conseqiénciasdesgradiveis, No entano,dizeos que somos forads,coagidos a obedecer a adrdo enquantoremos odever de acatar a ordem doco- braor de impostos. Em outs pala, idenifcames co mo juridco 0 dever de obedecer a cabrador de impostos de acordo com a defnigio do dict. Ess definigio aio rem nada de flséa. Eo piri dicta que deri cariter do que &juidico edo que, como a exgéncia do la- dri, mio pass de violagio do direito Basta, porcanto, pa ‘2a maloria de nossasnecessidades prticas, concer eses critrios, contidos nas regeas Todavia, oconhecimento dessescrtésios no nos in- forma nada sobre a natuseza do direito, Nio sabemos por ‘que foram adotados, seas regrassio mesmo obrigabrias e, ‘em caso posiivo, por que 6 sGo— por seem just, por em rarem do poder politico ou por teem origem em sangdes decorrentes de infragio? ‘Como saber seas regras que definem o que ¢jurii- 0 sio realmente juridias, se sio do dircto ou de qualquer ‘outta coisa? Essa questio ndo ¢juees, mas fossa, De rerwoougho Faro, 0 jursta nto decém, por profissio, nenhum elemento de resposta,Além disso, question interesss apenas lovofa do drcto, mas também a ourasdisciplinas, como Slosofa moral (e esta admite que € correc se submeter 30 dite, histéria ou antropologia (quando quetem saber se deteminada sociedade &dotada de sistema de dreto) ‘Contudo, sem ser jutidica, essa questio tuz, muitas venes,conseqizncias ao préprio dieito, Podemas ilustear 2 igs com o auxilio do exemplo a seguir inspirado em um caso real € que aparece como imagem invertida do mito de Antigona, Na Alemanha nazista, quaisquer comentirios hosts feiios a0 regime eram considerados criminosos em razfo de uma le, e todos aqueles que os ouvissem, inclu ve patentes e amigos, deveriam denunciar quem os fra [Apés 0 fim da guerra, uma mulher foi processada por er delaado 0 marido, ue hava sida reso, condenado & mor ee cxecutado, Essa mulher deve ser condenada? ‘A resposta depende unicamente da defnigio do di- reito, ¢ foi nesses termos que 0s tribunais apresentaram «o problema. A principio, podemos considerar que, quais- ‘quer que tenham sido as raxdes ds dlatoa, esta no di iam respelto nem & fidelidade a0 regime nem & vontade de respetara lei, mas 20 6dio. Independentemence do jul- gamenco moral que Fagamos dela, o que ela fez foi apenas seconformar como dieito vigente na épocs. Ela deveria, porcanto, ser absolvida Ta] Amoson oo ore No entanto, também podemos argumentar que a lei notsta er io abominivel~ ist ek conta 308 pin- ‘pis Fundamentas da moral ~ que nio mereciareceber nome de lei como de fato noo era deforma que a de- Jatora nfo cinka obrigago nenhuma de cumpeicla, mas de sdesobedect-la, Se a lei nazsta nfo era lel, nfo poderia ter substcudo a lei anterior que punia dentinciasabusivas, Ea. #0, a mulher devera ser condenada esse modo, o juiz vai se promunciar em um sent Su emota desc sonst cones nero do ict. Bl pode cama dean ake penn keel pad plc up trgcee ts lan um el ati. A princi deo scone 2h mates nga aconenin cbs ‘gianni wena dnt coreg Sept de cs lon aero, os jr depend spems dems di dedi mude dba ‘oes finda empress nol tnre Oconee ds cp te 2s peeferén- as politieas€ mors d locke qu am, Un ge ease osm vid thee te neh vu deg des mes, Ese contin nosh sic don espns pl dean mop swrnoougso FF ddependentemente dele, Tadavin, alguns autores admicem ue . cimento € acessve 3 razio humana, ¢ que concém princi pios de justiga que governam esas quescdes, Esse dircito natural é endo, objeto de uma filosfia do dirio, que se 1 relativo familia 0820 aborto.Além disso, ss ilosofa do dirito er4 dimensio normatva e recomendars 30 leis: lador adotar a regras em conformidade com os prineipios bjacence as kis existe um deeco narra, cujo conhe de justga que ela presumicé cer eesgatado. Contudo, mesmo as que no admiter a existéncia do Aireivo natural nia podem eviearareflexto acerca dos con- ceitos empregados pelo lgislador, quando estes dizem res: peito sinstiuigdes que ndo cém existéncia senfo no proprio dizczoe perante ele, Alguns so relatives & forma jurdica, como coastituigao ou contrat; outros, 0 Fundamento ou A base, como casamento ou propsiedade, As regras sobre conttato ou propriedade variam muito de um pais para ou. tro, porém sempre exstem, Flas traduzem idias sobre a narureza do cantata da propriedade, as quais os jurists dlevem conhecer para poder aplicar as repr. [A afiemagio da exsteacia derma regra juridia pres: supée uma defnisio gral do ditet, de sua eseutura e dos conceitosjuridicos, mas também uma concepgfo da cite ‘ia que pesmite aleangar 0 conhecimento dese cegea ou da validade dos raciocnios que ela si aplcados. Esses pres: supostos sio, com fieqiéncia, inconscientes ou fundamen Tr] A t0soF po piserTo ‘am unicamente o conhedimeno e a pritica do diria de lum 56 pals, ou, ainda, no sto ordenados. Desse modo, a Silosofa do diretoesténecessatiamente presente, deforma "amcoimplica quanto espon Estamos falando de filosofia do dizeizo em sentido ar Plo, para designar uma reflexio sstemética sobre a defini- <0 do dircto, sua relagSo com a justiga, a ciéncia do dizcieo, ‘eserutura do sistema ou o racocina juridico. Ela pode ct apresentada de diverss maneiras, eas obtasintculadas Fi lovfia do divcio 56 tener comm 0 ato de que oferccem Ponto de vista geal sobre o dircit, Algumas apresentam doutrnas: ouras, questies abordadas. A primeica aborda- gem tem a vantagem de prem evidéncia a coeréncia de um Pensamenco sobre um conjnto de problemas, mas incon venigncia de mascarara divessdade de opiniges sobre um ‘mesmo problema, As vantagens inconveniéncias do segui- «do método sioinverss, Uma ver que 0 excopo deste lvro ‘mosrar como se desenrla o debate floséfico sobre dite ‘o, empeegatemos a segunda abordagem. Contudo, esta no convida a um petcurso baizado, pois aio existe nenhuma ‘elago preestabelecda dos problemas a serem tratados, fe aremos srsecos com uma breve exposcdo de alguns dos ‘mais importantes ~os que dizem respeito& defnigo da losofa do direc ede seu objeto, a ciéncia do diveito, aes sua do sistema juidico eo tacioinio jude, 0 que é filosofia : do direito? 1 lise 0 so da expresio “losofia do dren sea pair do século xx, com 0s Principio da filoafia do ret, de Hegel (1821)*, porém a eflexdo sobre o direito € to antiga quanto pabpriodieico, Hoje os livros apresen- tados sob esse titulo so de extema dvetsidade, no apenas cm relagio aos pontos de vista doutrndrios, mas também em relagio ao conteido, Nao existe acordo sobre uma defnisio. do drcto ou dafilosfia do dieeico, nem sobrese ela ¢ramo

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