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TRANSCRIÇÃO: STEVE MORSE EM SOMETIMES I FEEL LIKE SCREAMING, DO DEEP PURPLE

O MUNDO DA GUITARRA EM SUAS MÃOS!

GUITAR PLAYER Nº  • ANO  • R$ ,


melody
editora

ENTREVISTAS
SILAS FERNANDES
OLY JR.
O MESTRE DO TIMBRE!

DAVID
LIÇÃO DE HARMONIA COM
MOZART MELLO!
GILMOUR
ESTILO • TRAJETÓRIA • EQUIPAMENTO • OS SHOWS NO BRASIL
LIÇÃO ESPECIAL COM 15 EXEMPLOS – VÍDEO NO SITE!
TESTES
GUITARRA TAGIMA T-484
AMP SWART SPACE TONE ATOMIC JR. AULAS COM ÁUDIO NA INTERNET
VIOLÃO TAKAMINE LTD2015 RENGE-SO DEREK TRUCKS, RICHIE SAMBORA, PAT MARTINO, SURF MUSIC,
FONTE LANDSCAPE ENERGY 10 GYPSY JAZZ, COUNTRY ROCK, VIOLÃO BOSSA NOVA, TÉCNICA #3NAIL
Índice
JANEIRO DE 2016 | ANO 21, NÚMERO 237

CAPA DEPARTAMENTOS
40 DAVID GILMOUR 10 EDITORIAL
Uma matéria especial que conta a trajetória do mestre do
12 COMUNIDADE
timbre: seus primeiros anos no Pink Floyd, os grandes álbuns
da banda, as mudanças em seu equipamento com o passar 124 PRODUTOS E SERVIÇOS
dos anos. Saiba ainda como foram os shows que Gilmour
127 ÍNDICE DE PUBLICIDADE
realizou no Brasil, em dezembro último. Para completar,
uma lição especial que ilustra o estilo do guitarrista. 128 BLOG DO KIKO LOUREIRO

RIFFS
14 A Comic Con e o mercado musical, festival de
blues em Caxias do Sul (RS) e muito mais!
TRANSCRIÇÃO
114 SOMETIMES I FEEL
LIKE SCREAMING,
ARTISTAS DEEP PURPLE
26 SILAS FERNANDES
32 OLY JR.

TESTES
80 TAGIMA T-484
82 TAKAMINE LTD2015 RENGE-SO
84 Test Drive LANDCAPE ENERGY 10
86 Invasão de Boutique SWART SPACE TONE ATOMIC JR.

GUITARRICES
88 HENRY HO
Gig de Emergência? Esteja Preparado!

92 ANDRÉ MARTINS
Que Som é Esse? (parte 2)

Material in this issue from GUITAR PLAYER Magazine is copyrighted © Vol. 43 (24, 82, 83) by Newbay
Media. Reproduction of material GUITAR PLAYER without permission of Newbay Media, 2800 Campus FOTO DA CAPA: NAIDERON JR
Dr., San Mateo, CA 94403 strictly prohibited. Material desta edição extraído de GUITAR PLAYER é marca FOTO DO ÍNDICE: RENATO JACOB
registrada © Vol. 43 (páginas 24, 82, 83) a Newbay Media. Reprodução do material de GUITAR PLAYER
sem permissão da Newbay Media, 2800 Campus Dr., San Mateo, CA 94403 é terminantemente proibida.

8 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
PROMOÇÃO DE ASSINATURA pág. 38

LIÇÕES
94 HARMONIA
PARA TODOS
A FORÇA DAS TRÍADES E 106 IMPROVISAÇÃO
ACORDES MAIORES NO JAZZ
MOZART MELLO PAT MARTINO
HOMERO BITTENCOURT
100 TOTAL BLUES
DEREK TRUCKS 108 SOLOS DE ROCK
TATIANA PARÁ RICHIE SAMBORA
MR. FABIAN
101 GYPSY JAZZ
LA POMPE LENTA 109 GUITAR PLAYER
MAURO ALBERT CONVIDA
#3NAIL TECHNIQUE
103 VERTENTES DO ROCK (PARTE 1)
SURF MUSIC RAFA SCHULER
WESLEY “LÉLY” CAESAR
111 COUNTRY ROCK
104 VIOLÃO BOSSA POWER CHORDS
JOÃO DONATO (PARTE 2) E BANJO ROLLS
RICARDO GIUFFRIDA GUTO VIGHI

JUNTE-SE À COMUNIDADE GP BRASIL!


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POR DENTRO DO MUNDO DA GUITARRA!

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 9
Editorial
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público leitor mais qualificado do Brasil.
Internet: www.guitarplayer.com.br

edu defferrari
E-mail: guitarplayer@guitarplayer.com.br
20 Anos! Tel: (11) 3044-1807

E sta é uma edição mais do que espe-


cial, afinal, 20 anos atrás, no mês de
janeiro, chegava às bancas de todo o país
ASSINATURAS
Serviços de Atendimento ao Cliente (SAC)
a primeira edição de Guitar Player Brasil. Para renovação, mudança de endereço,
Em 1996, a realidade era bem diferente troca de forma de pagamento e outros
do cenário que vivemos atualmente. Por serviços.
exemplo, poucos privilegiados tinham te- www.guitarplayer.com.br
lefone celular e acesso à internet. Na área
Tel: (11) 3044-1807
dos equipamentos musicais, a tecnologia
+55 (11) 96393.5808
de simulação, tão popular hoje em dia,
ainda estava engatinhando.
O mercado musical no Brasil também
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mostrava-se bem diferente e a chegada da www.guitarplayer.com.br
GP, por se tratar de um título de renome Tel: (11) 3044-1807
internacional, deu uma bela alavancada +55 (11) 96393.5808
no setor como um todo. Amantes da gui-
tarra ganharam um veículo rico em con- Horário de atendimento: de 2ª a 6ª,
teúdo informativo e didático, com texto e das 9h00 às 18h00.
visual atraentes. Importadores e fabrican-
tes passaram a ter uma revista de credibi-
lidade e prestígio na qual podiam anun-
EDIÇÕES ANTERIORES
ciar. Guitarristas brasileiros passaram a O preço cobrado é o da última edição
contar com uma publicação em que eles em banca (sempre que houver
David Gilmour, página 40
eram a atração principal e, assim, podiam disponibilidade no estoque). Faça seu
divulgar seus trabalhos. o Pink Floyd até seus trabalhos mais re- pedido pelo site www.guitarplayer.com.br
Muita coisa mudou nos últimos 20 anos centes –, o equipamento utilizado por esse ou entre em contato com o SAC pelo
e a GP acompanhou essas transformações, grande mestre do timbre em suas diversas e-mail guitarplayer@guitarplayer.com.br
mas a essência da revista continua a mes- fases, cobertura completa dos shows nas Tel: (11) 3044-1807
ma: informação confiável, de qualidade e três capitais pelas quais passou e detalhes +55 (11) 96393.5808
que busca suprir os anseios dos leitores, da entrevista coletiva que concedeu em
deixando-os a par das novidades e levan- São Paulo. Para completar, uma lição que
CORRESPONDÊNCIA
do-os a adorar cada vez mais esse instru- ilustra o bom gosto e o estilo único do gui-
Comentários sobre o conteúdo editorial
mento maravilhoso chamado guitarra. tarrista. Tenho certeza de que começamos
de GUITAR PLAYER, sugestões e críticas:
- Celebraremos os 20 anos de Guitar muito bem esse ano histórico para Guitar
Player Brasil durante todo o ano de 2016 Player Brasil. Boa leitura! guitarplayer@guitarplayer.com.br
e nada melhor do que iniciar as comemo-
rações com um guitar hero de primeira Rua Baluarte, 363, São Paulo - SP
grandeza. Em dezembro último, David CEP.: 04549-011
Gilmour se apresentou no país pela pri- Cartas e mensagens devem trazer o
meira vez. Ele tocou nas cidades de São nome completo, endereço e telefone
Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Após tantos do autor. Por razões de espaço ou
anos de espera, o ex-Pink Floyd foi recebi- clareza, elas poderão ser publicadas
do com grande entusiasmo por seus fãs.
de forma reduzida.
Aproveitando sua tão esperada passagem
Mande suas sugestões, opiniões e críticas
pelo Brasil, elaboramos uma matéria mais
do que especial, que inclui a trajetória de
ao editor-chefe David Hepner: melody
david.hepner@guitarplayer.com.br editora
Gilmour – desde seus primeiros dias com

10 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Quanto mais, melhor.

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Comunidade
EDIÇÃO DE DEZEMBRO
NO FACEBOOK
“Aí é covardia! Sou colecionador da revista e as
Harmonia Para Todos
A Força das Tríades
e Acordes Maiores
POR MOZART MELLO

OLÁ, GUITAR PLAYERS! TUDO EM PAZ? SEMPRE TIVE A IDEIA DE CRIAR UM T URMA A Turma B
Fig. 3

Fig. 4

Fig. 6

curso de harmonia que fosse prático – aprender tocando! –, com as expli- A Fig. 1 mostra os acordes maiores que servem como Vamos começar montando as tríades
cações teóricas aparecendo conforme a necessidade e elaborado de uma modelo para o sistema 5 (também conhecido como maiores em posição fechada. Em senti-

edições que mais gosto são exatamente as de


forma que estudantes de níveis diferentes pudessem aproveitar o conteú- CAGED). A bolinha preta indica a fundamental do acor- do horário, obtemos T-3-5, 3-5-T e 5-T-3
do igualmente. Assim que recebi o convite de Guitar Player para escrever de. Estude os acordes sempre em sentido horário (Fig. (Fig. 5). Na Fig. 6, veja a aplicação em D
um curso, não pensei duas vezes. Portanto, chegou a hora de tirar dos ar- 2), independentemente do acorde pelo qual você partir. maior. O primeiro acorde de cada linha
quivos os livros, papéis e pesquisas dos meus 40 anos dedicados à música! A Fig. 3 traz os cinco modelos em E maior. Já a Fig. 4 representa o modelo base para trans-
As aulas foram separadas em três turmas distintas, sendo que a primei- contém os desenhos em A maior. portar para outros tons. Pensando no
ra, que chamarei de turma A, é aquela que está entrando agora no universo Lição de casa: Toque a seguinte sequência de acor- primeiro acorde de cada linha da figura
da harmonia. A turma B é aquela que já toca, mas não tem uma compre- des: C, G, D, A, E, E. Esta é a harmonia da canção Hey 6, monte os modelos de A maior (Fig. 7).
ensão matemática do assunto. A última turma, C, é aquela que quer rever Joe, imortalizada por Jimi Hendrix. Aplique-a em cinco Lição de casa: Toque as tríades de C,
ou expandir seus conhecimentos. Uma observação: você pode andar para regiões do braço da guitarra, explorando os modelos G e D saindo de três regiões diferentes.

pedais. I love you, Guitar Player!” – Carlos Ramos


frente ou para trás em nosso curso! Sem problemas quanto a isso! apresentados nesta aula.

Fig. 5
Fig. 1

Fig. 2 Fig. 7

“Boa capa! Existem alguns excelentes pedais de


MAIS ONLINE

guitarplayer.com.br
» Assista aos vídeos desta
aula com Mozart Mello.

100 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | d
DEz
ZEMBRO 2015 D z E M B R O 2 0 1 5 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R
dEZ 101

boutique brasileiros.” – Thiago Maia

“E eu querendo controlar minha ‘gear acquisition MOZART MELLO


syndrome’... [risos]” – Caio Simoneti Muitos leitores se manifestaram no Facebook com
a notícia de que Mozart Mello estreou, na edição

“Quando compro uma Guitar Player, entro no de dezembro/2015, sua coluna mensal sobre

mundo dos efeitos.” – Cyro Guedes harmonia, para estudantes de todos os níveis.

“Sou um dos aprendizes de Mozart Mello.


Obrigado, professor, pelas aulas, conselhos e
MEU EQUIPAMENTO tantos outros ensinamentos. Os leitores da GP
só tem a ganhar.” – Marcos Pópolo (cofundador
Aqui está meu equipamento, Guitar Player! Minhas
e professor do Instituto Guitarisma e
guitarras são GBSpro Strato e JEM7V canhota, pois
colaborador de Guitar Player)
toco sem inverter as cordas. A amplificação é formada
por potência handmade de 300 watts e caixa 4x12, “Mestre Jedi das cordas. Maior professor de
também handmade. Os efeitos vêm de um rack Zoom guitarra do país!” – Adriano Barreiro
Studio 1201, pedais Fuhrmann e EFR Electronics Little
“Um dos gigantes da guitarra nacional. Parabéns,
Wah. Uso cabos Tiaflex, palhetas Lost Dog e cordas
Guitar Player!” – Rubens São Lourenço Neto
SG .009. – Jeyson Zímerer
“Um gênio da didática em se tratando de
Se você quer mostrar suas guitarras para os leitores de Guitar
guitarra. Grande mestre.” – Joe Rodrigues Souza
Player, envie texto e foto para guitarplayer@guitarplayer.com.br.
Seus instrumentos podem aparecer na seção Comunidade! “Show! O que já era bom agora vai ficar ainda
melhor.” – Bruno Sorriso

TOP 5!| GUITARRAS MAIS VALIOSAS EM LEILÕES


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1) 965.000 dólares
Fender Stratocaster “Newport Folk QUAL O SEU SOLO FAVORITO DE
Festival”, de Bob Dylan DAVID GILMOUR NO PINK FLOYD?
2) 959.000
Fender Stratocaster “Blackie”, de Eric Clapton COMFORTABLY NUMB 47%
3) 957.000
Guitarra “Tiger” custom, de Jerry Garcia

4) 567.000
TIME
35%
Gibson SG de George Harrison
utilizada no disco Revolver
SHINE ON YOU CRAZY DIAMOND
11%
5) 300.000
Fender Stratocaster “Woodstock”,
ECHOES
4%
de Jimi Hendrix

FONTE: INFOGRAPHIC GUIDE TO MUSIC, DE GRAHAM BETTS


ANOTHER BRICK IN THE WALL
3%
12 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
DIRETORA GERAL Teresa Melo
EDITOR-CHEFE David Hepner
DESIGN GRÁFICO Luiz Zonzini e

FACEBOOK DEBATE
Renato Canonico
EDITOR TÉCNICO Jaques Molina
DE EQUIPAMENTOS
EDITOR TÉCNICO DAS Flávio Gutok
LIÇÕES COM ÁUDIO
Qual é seu disco de blues favorito?
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO
TEXTOS: Alexandre Spiga, André Martins, Camila
Dourado, Fábio Carrilho, Guilherme Zanini, Henry Ho,
Heverton Nascimento, Homero Bittencourt, Kiko Loureiro,
Marcos Pópolo, Mr. Fabian, Mozart Mello, Ricardo
Giuffrida, Ricardo Vital, Sérgio Yazbek, Tatiana Pará,
ANDERSON
Wesley “Lély” Caesar.
ALISON ALMEIDA
Para mim, é DA SILVA FELIPE FOTOS: Camila Cara/Mercury Concerts, Cesar Ovalle,
Live Johnny Gosto de vários, ANDRADE Edu Defferrari, Fabiano Martins, Guilherme Santos,
Jefferson Corrêa, João Rafael Bortoluzzi, Lenara Guerra,
Winter And, por- difícil dizer o JOHN O primeiro
Naideron Jr., Nath Santos, Priscila Yazbek, Renato Jacob,
que foi o álbum favorito, mas FERREIRA disco de blues Rick Gould, Zé Carlos de Andrade.
que despertou vou citar Blues Gosto muito do que escutei e
minha paixão Blues Blues, do álbum Texas pelo qual sou TRADUÇÃO: Freddie Dardenne
pelo blues, mas Jimmy Rogers Bound, do exí- apaixonado LUKE DE
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também gosto All-Stars, e as mio bluesman até hoje: In HELD Antônio Gomes
muito de Texas 29 gravações do Nuno Mindelis. LEONARDO Step, de Stevie Burglar, de E-mail: guitarplayer@guitarplayer.com.br
Flood e Born lendário Robert Em minha ALMEIDA Ray Vaughan. Freddie King. Tel: (11) 3044-1807
Under a Bad Johnson. opinião, esse é Riding with the Ter ganho o Uma viagem por
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King, respecti- e Eric Clapton. ção de blues o rei Freddie no Tel: (11) 3044.1807 +55 11 96393.5808
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Leandro Souza e Danilo Oliveira

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PARA TODO O BRASIL:
Dinap Ltda. – Distribuidora Nacional de Publicações
GEORGE
REINA MARCELO Guitar Player (ISSN 1413-4721) é uma
Pergunta muito DONATI ALEXANDRE publicação mensal da Editora Melody Ltda.,
FÁBIO VAL difícil, mas Um disco de ALLIPRANDINI sob licença da Newbay Media (USA).
Tel.: (11) 3044-1807
LUTHIER arrisco respon- grande me- De longe, meu ALEXANDRE
Os editores não se responsabilizam pelas
Existem álbuns der Slowhand, mória afetiva disco favorito de CAVALCANTI opiniões emitidas por colaboradores
maravilhosos de de Eric Clapton, para mim é o blues é brasileiro: LEO MAIER Sou muito em artigos assinados.
blues, mas fico e o álbum de vinil Folk Singer To Change the Um disco que fã do álbum
SITE GUITAR PLAYER
com Gary Moore Freddie King (1964), de Things, de Fred me marcou Mandinga, do
Editor de conteúdo: Henrique Inglez de Souza
em After Hours, com a música Muddy Waters, Sun Walk & the muito foi Play mestre André Web Designer/Web Master: Gustavo Sazes
de 1992, que Same Old cuja banda Dog Brothers. the Blues, da Christovam.
contou com as Blues. No ce- tinha ninguém dupla Buddy Siga a Guitar Player Online:
guitarplayer.com.br
participações dos nário nacional, menos que Guy e Junior
facebook.com/guitarplayerbrasil
mestres B.B. King fico com #2, de Buddy Guy Wells. myspace.com/revistaguitarplayer
e Albert Collins. Artur Menezes, (violão base) twitter.com/guitarplayerbr
e Come Back e Willie Dixon guitarplayer@guitarplayer.com.br
Home, do Blue (baixo).
GUITAR PLAYER USA
Jeans. EDITOR IN CHIEF Michael Molenda
MANAGING EDITOR Kevin Owens
SENIOR EDITOR Art Thompson
ASSOCIATE EDITORS Matt Blackett,
Barry Cleveland, Jude Gold
CONSULTING EDITORS Jim Campilongo, Joe Gore,
Jesse Gress, Henry Kaiser, Michael Ross, Leni Stern,
David Torn, Tom Wheeler

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 13
Riffs

Licks Rápidos
Fender Signature, em Porto Alegre
GuitarraS que levam nomeS de Gran- presentada pelo repór-
des astros geram fascínio em músicos ter Guilherme Zanini,
de todo o mundo. Pensando nisso, a loja que mediou a conversa.
OpenStage, de Porto Alegre (RS), promo- Ainda participaram os
veu a primeira edição do Fender Signatu- guitarristas Paulo In-
re. O evento foi uma mostra de guitarras chauspe, Rafa Schuler
Fender com a assinatura de mestres. Foi e Cristiano Wortmann

FAB iAN O m A RTi N S


possível testar e perceber as diferenças (Hangar).
entre os instrumentos que levam os no- Em meio aos ques- Show de rafa Schuler no
mes de Eric Clapton, Buddy Guy, Eric Jo- tionamentos do pú- evento Fender Signature,
hnson, Dave Murray, Stevie Ray Vaughan, blico, foram reveladas na loja openStage.
entre outros. Baixistas também puderam algumas curiosidades, como o fato de a
testar modelos especiais de Roger Waters Fender Jazzmaster ter sido criada para
e Steve Harris. concorrer com a Gibson ES-335. Motta der Blues Junior. Na sequência, a banda
Além disso, foram realizadas uma sé- afirmou que sonha com a produção de Zerodoze fez uma ótima apresentação de
rie de atividades, como oficinas de luteria, uma Fender Custom Shop feita no Brasil. hard rock cantado em português. O final
troca de cordas e um bate-papo com os es- Após o bate-papo, Rafa Schuler reali- do evento foi em grande estilo, com o sor-
pecialistas Sérgio Motta (Fender) e Sylvio zou um show, no qual arrasou com sua teio de uma Fender Stratocaster. O vence-
Martins (Pride Music). Guitar Player foi re- Fender Stratocaster plugada em um Fen- dor foi Franz Hofstadler, de 15 anos.

RodRigo Nassif
Sou um compoSitor, arranjador e balho, gravei camadas de guitarras acertando
instrumentista de Porto Alegre (RS). Tenho exatamente as notas que iriam sair nas micro-
quatro discos lançados: Rodrigo Nassif, de fonias. Deixamos alguns sons, como um sino
2008, com o qual ganhei o Prêmio Açorianos que vazou da rua, entrarem no disco. marcos
de melhor intérprete instrumental, Fronteira Abreu, o responsável pela maravilhosa mas-
(2009), O Pulo do Gato (2011) e Todos os Dias terização, entendeu o espírito do disco, que
Serão Outono (2015) – o primeiro com o Rodri- envolve muita descontração na performance.
go Nassif Quarteto, que conta com Carlos Ezael Todos os Dias Serão Outono foi registrado em
(violão), Samuel Cibils (contrabaixo acústico e um único dia, no Estúdio Panamá, em Porto
elétrico), Leandro Schirmer (bateria e piano). Alegre. É possível ouvi-lo em todas as platafor-
Nesse projeto, toco violão, guitarra e piano. mas de streaming.
A formação do quarteto é resultado de uma
GuiLhE RmE SANTOS

busca incessante por novas fórmulas rítmicas,


em que podemos combinar texturas que sur-
maiS online
gem dentro do estilo que componho, como um
tango-milonga, e transmutam-se, de forma guitarplayer.com.br
espontânea, em levadas de hip hop, rock e jazz.
O disco, lançado em junho de 2015 pelo 180 PARTICIPE! Tem uma banda? Trabalho
» Ouça o álbum Todos os
Selo Fonográfico, tem apenas distribuição di- Dias Serão Outono. solo? Quer ter o seu projeto divulgado
gital e foi rapidamente ao topo das paradas » Veja o Rodrigo Nassif na Guitar Player? Mande seu material
Quarteto tocando a música
digitais no Brasil, nas quais chegou a ficar 30 História Diferente.
para guitarplayer@guitarplayer.com.br e
dias em primeiro lugar na categoria. Nesse tra- participe da seção Palco GP.

14 G u i TA R P L A Y E R . C O m . B R | j A N E i R O 2 0 1 6
5 PERGUNTAS PARA...
GEE rocHa
O novo álbum de estúdio do NX Zero, Norte,
mostra que a banda sabe se reinventar. Para
compor as 12 faixas, o quinteto, formado
por Gee Rocha (guitarra e vocal), Fi Ricardo
(guitarra), Di Ferrero (vocal), Caco Grandino
(baixo) e Daniel Weksler (bateria), buscou di-
ferentes referências para moldar um som mais
maduro, com guitarras bem elaboradas.
O disco foi gravado ao vivo no estúdio Tam-
bor, no Rio de Janeiro(RJ), e produzido por
Rafael Ramos (Pitty, Titãs, Matanza). A mi-
xagem foi dividida entre grandes engenheiros:
Mário Caldato Jr. (Beastie Boys, Jack Johnson,
Beck), Pedro Garcia (Far From Alaska), Vic-
tor Rice (Cícero, Maria Gadu), Tim Palmer
(Pearl Jam, U2, Ozzy Osbourne) e Jim Scott
(Foo Fighters, Rolling Stones, Red Hot Chili
Peppers). Saiba mais sobre Norte nesta con-

c esar ovalle
versa com Gee Rocha. - c a m i l a d o u r a d o

1
O NX Zero não lançava um disco de iné-
ditas havia três anos, desde Em Comum

2
(2012). Esse período foi importante para o Em relação ao som da banda, Norte Fender Tone Master e caixa Orange. Para
amadurecimento da banda? apresenta novos elementos. De que drives, optei por pedais Bogner Burnley e
Entre os álbuns Em Comum e Norte, lan- fontes vocês beberam nos últimos anos? Wampler Tweed ‘57. Usei ainda fuzz Full-
çamos um EP com quatro músicas, grava- O Rafa viu que queríamos realizar algo tone ‘70, Third Man Bumble Buzz, Boss
do na Praia de Juqueí (SP), onde ficamos, diferente e começou a mostrar discos de CE-1 Chorus, Danelectro Cool Cat, MXR
por um mês, enfurnados em uma casa que vários artistas, como Kasabian, Arctic EVH Phase 90, Strymon Timeline, Elec-
alugamos. Ficar um longo período juntos Monkeys, Jack White, Black Keys, The tro-Harmonix Micro POG, SiB! Mr. Echo,
era algo que não acontecia havia muito Raconteurs, Kendrick Lamar, The XX, Electro-Harmonix Holy Grail e três pe-
tempo. A gente tocava todos os dias e foi Mayer Hawthorne, The Neighbourhood, dais TC Electronic: Shaker Vibrato, Nova
bom para a banda. Tanto é que a vonta- Peter Bjorn and John, Big Data com Delay e Flashback.

5
de de gravar um disco ao vivo no estúdio Joywave e Al Green. Na pré-produção do Lulu Santos fez um solo de guitarra em
surgiu na praia. Uma das músicas desse disco, o Rafa aparecia nos ensaios cheio Fração de Segundo. Como aconteceu
EP, Tira Onda, foi a única registrada dessa de energia e ideias. Vivíamos conversan- essa participação?
maneira. A canção Meu Bem, que está em do sobre sons legais, notícias, filmes etc. Ficamos maravilhados com a confirma-
Norte, também fazia parte das faixas que Foi praticamente um sarau. Bem massa. ção da presença de Lulu Santos no disco.

3
entrariam no EP. Mas, nesse meio tempo, Quais guitarras utilizou na gravação do Chegando ao estúdio de Rafael Ramos,
conhecemos Rafael Ramos, que se tor- álbum? no Rio de Janeiro, Lulu começou a passar
nou nosso produtor, e o lance dançante Registrei todas as músicas com uma Suhr a música para aprender a harmonia. Na-
de Meu Bem se destacou tanto, que o Rafa Strato, com exceção de Gole de Sorte, na quele momento, fiquei com aquela sensa-
deu a ideia de guardarmos essa canção qual usei uma Fender Telecaster Deluxe ção: “Estou aqui no estúdio, fazendo um
para um novo disco. Foi então que come- 1974 e amp Vox Night Train. Acho que som com o Lulu Santos!” Na verdade, eu
çamos a pensar em Norte. Nesse intervalo vários timbres que ando ouvindo têm só estava mostrando as notas para ele. O
de três anos, saímos de uma gravadora, mais a ver com crunch do que com dis- Lulu pediu para o Rafa deixar a música
montamos o próprio escritório, trocamos torção. Ao vivo, uso essas duas guitarras. rolando algumas vezes. Depois de quatro

4
de produtor e empresário, fizemos um EP Que outros equipamentos usou em ou cinco passadas, ele já estava com o
e tocamos todos os dias juntos. Isso fez Norte? solo e o arranjo na cabeça. Foi emocio-
toda a diferença no álbum. Para sons clean, utilizei um cabeçote nante vê-lo gravando. Obrigado, Lulu!

j a n e I r o 2 0 1 6 | G U I Ta r P l a Y e r . c o M . B r 15
Riffs

CCXP 2015
Épico também para o segmento musical
CAmil A Dou rA Do

A ComiC Con ExpEriEnCE (CCxp), EvEn- “Naquele ano, contávamos apenas cimento. Não tinha ninguém julgando se
to realizado entre os dias 3 e 6 de dezem- com um balcão para testes de nossas ele podia ou não tocar naquela guitarra”,
bro, no São Paulo Expo, é conhecida por guitarras e pedaleiras. Não achávamos comentou a gerente de marketing da Ha-
celebrar a cultura pop e reunir apaixona- que teria uma grande procura, mas nos bro Music, Renata Gomes.
dos por tudo o que envolve o universo surpreendemos! As estações de testes Tudo isso se deve ao resultado de uma
geek: séries, quadrinhos, filmes, RPG, ficaram lotadas, muitas vezes com músi- pesquisa realizada pelos organizadores
games, cosplay, animes etc. cos esperando sua vez para testar nossos da feira. Os dados mostram que 35% do
Na CCXP de 2015, a segunda edição instrumentos”, relembra Paulo Faysano, público da Comic Con toca algum instru-
do evento no Brasil – que teve a hashtag que, além de cuidar da área de marketing mento musical (15% são guitarristas) e
#VaiSerÉpico adotada pelos organizado- da Royal, circulou pelos corredores da fei- que rock é o estilo musical favorito de
res –, uma área chamou a atenção: Music ra como cosplay de Slash. “O objetivo de 82% desse público. “Percebemos isso no
Alley. Nesse espaço, estavam presentes convidar outras empresas para a segunda estande. Eram poucos os que não sabiam
grandes importadoras de instrumentos edição foi aumentar o mercado para to- tocar e pegavam uma guitarra apenas por
musicais: Pride Music (Fender, Squier, dos”, completa Faysano. curiosidade. Havia muitos músicos por
Vox, Gretsch, Jackson, EVH, Korg), Mu- Os produtos estavam expostos e dispo- lá, pessoas que sabiam tocar de verdade.
sical Express (D’Addario), Habro Music níveis para compra na loja Music Experien- O estande ficou cheio nos quatro dias”,
(ESP, Line 6, Godin, SX, Shelter, Walden) ce, operada pelo Mundo Geek, e o público explica Marcelo Juliani, coordenador de
e Royal Music (Gibson, Epiphone, Oran- teve a oportunidade de testá-los nos estan- marketing da Pride Music.
ge, Seizi, Zoom, Ernie Ball, DiMarzio, des. “Nosso interesse era fazer as pessoas Essa não é uma novidade para quem
Hotone), esta última presidida por René se sentirem artistas. Havia um espaço em está de olho nesse mercado, já que al-
Moura, o responsável por unir as empre- que podiam pegar um instrumento e tocar guns “mashups”, como bem definiu
sas e ampliar o espaço que a Royal já ha- sem se sentirem em um ambiente no qual Renato Fabri, sócio-diretor do Omelete
via ocupado em 2014. estivessem sendo avaliados por seu conhe- Group e da CCXP, já se realizaram. Um
FOtOS c Ed IdAS P EL AS I mPO RtAdORAS

ARQUIVO P ESSOAL

renato Fabri, sócio-diretor do


omelete Group (que trouxe princesa leia e Slash (paulo Faysano,
Frank miller assina uma Gibson SG – momentos a Comic Con para o Brasil) e da royal music) interagem pelos
que só a Comic Con proporciona. amante de guitarra. corredores da Comic Con.

16 G U I tA R P L A Y E R . c O m . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
exemplo é a linha Marvel, da PHX Ins-
trumentos Musicais, formada por guitar-
ras com pinturas que remetem a super-
-heróis, como Homem-Aranha e Capitão
América. A marca não esteve presente na
CCXP, mas já demonstrou que essa mis-
tura faz todo sentido.
Em 2014, quando a intenção de forta-
lecer a presença musical no evento já exis-
tia nos organizadores, ainda que de forma
tímida, um dos convidados foi Kirk Ham-
mett, do Metallica. “Ele foi o primeiro
nome que convidamos para participar da
edição de 2014, mas acabou cancelando.
O interessante é que ele não vinha para Homem-Aranha pesquisando acessórios Um Capitão América brasuca e
tocar, mas para falar sobre terror, já que é no estande da Musical Express. seu novo jogo de cordas.
um grande colecionador do gênero e tem
um livro sobre o tema [Too Much Horror
Business - The Kirk Hammet Collection]. rente dos eventos no exterior [são mais [dados oficiais apontam 142 mil] nos quatro
Essa é uma característica do nosso even- de 50 Comic Con anuais, em diversos países], dias de evento. Isso se refletiu em nossos
to: misturar um pouco de tudo”, comen- pensamos em fazer um evento mais plu- estandes, que proporcionaram muita in-
tou Fabri, que também é guitarrista. ral, abrangendo mais coisas além de HQs teração com o público. Foi positivo em to-
Essa mescla ficou bastante evidente e colecionáveis, que são o principal foco dos os aspectos. A expectativa para 2016
na CCXP 2015, quando Frank Miller (Sin das feiras lá fora. Nosso modelo é diferen- é ainda maior.”
City, Batman, 300) assinou uma Gibson te, porque não há música nas outras Co- No evento em que estiveram presentes
SG e Gerard Way, que foi líder da banda mic Con. Não desse jeito.”, afirma Fabri. grandes marcas, como Warner, Universal,
My Chemical Romance, falou sobre a série Sendo assim, as importadoras se ins- Netflix, Disney, Xbox, e nomes como os
de histórias em quadrinhos que roteirizou, piraram para experimentar esse público de Frank Miller, David Tennant (Doctor
Umbrella Academy, vencedor do prêmio e dialogar diretamente com eles. O re- Who, Jessica Jones), Krysten Ritter (Jessica
Eisner (o “Oscar” dos quadrinhos), dese- sultado? Muito positivo, como resumiu Jones, Breaking Bad), entre muitos outros,
nhado pelo brasileiro Gabriel Bá. Marcelo Jesuíno, gerente de marketing da ficou comprovado o quanto a música faz
“Na Comic Con, música é algo que a Musical Express: “Havia uma experiência parte da cultura geek. Para 2016, a área
gente já pensava desde o primeiro mo- completa para o público: venda de instru- prevista para o Music Alley é de 1.600
mento. Não apenas na questão dos ins- mentos, de acessórios e testes. Tivemos metros quadrados, com expectativa de
trumentos musicais, mas a gente queria uma saída muito grande. Falou-se em um público de 200 mil pessoas. Informa-
música de um modo geral, porque, dife- um número maior que 120 mil visitantes ções que fazem o mercado musical sorrir.

Test drive para o público no


estande da Royal Music. Modelos signature expostos no estande da Habro Music.

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 17
Riffs

Mississippi Delta Blues Festival 2015


em Caxias do Sul igor Prado é
um bluesman
brasileiro de
grande destaque
ricarD o v ita l no exterior, graças
Fotos: le nara Gu er ra e a sua técnica
João ra Fae l bortoluz z i exuberante e
performance
De 26 a 28 De novembro, a ciDaDe De caxias Do enérgica. a
apresentação da
Sul (RS) recebeu a oitava edição do Mississippi Delta igor Prado blues
Blues Festival, que teve 90 apresentações musicais, band contou com
que foram vistas por mais de 10 mil pessoas. Ha- a participação
via nada menos que seis palcos externos, por onde da cantora
norte-americana
passaram as dezenas de atrações, além do palco do
Whitney shay.
Mississippi Delta Blues Bar, onde saborosas jams
aconteceram até o amanhecer. Veja a seguir os gui-
tarristas que se destacaram no evento.

o guitarrista
ivan mariz
chama atenção
pelo groove
consistente
e solos
marcantes. ele
Gustavo Faraco

comandou a
última noite de
jams no palco
mississippi.
cristiano crochemore (à esq.) está lançando mais um excelente
disco ao lado da banda blues Groovers, que conta com o baixista
ugo Perrota, o baterista beto Werther e o guitarrista otávio
rocha (à dir.), que domina como poucos o slide e a arte de fazer
bases de blues.

o paranaense Décio caetano


tem farta bagagem em festivais Diogo morgado chama atenção por
nacionais e internacionais. ele conseguir extrair várias cores sono-
mostrou excelente domínio técnico ras da guitarra sem utilizar efeitos.
Guitarrista de londrina que está prestes a lançar e bom gosto na escolha de notas. na Por exemplo, movimentando sua
um novo disco, Blues from Redland, luke de Held sexta-feira, dia 27, ele abriu os shows seis-cordas para frente e para trás,
tocou em diversos palcos e comandou uma jam do palco principal tocando o hino ele cria um som semelhante ao de
“endiabrada” em uma das noites do festival. nacional. uma caixa leslie.

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Riffs

Ricardo Maca dedica-se ao blues tradicional. Com sua


banda, The Headcutters, ele acompanhou a lenda do
contrabaixo Bob Stroger. O grupo tem um DVD lançado e Grandes revelação do
está prestes a colocar nas lojas um novo trabalho. blues norte-americano,
Mr. Sipp fechou com chave
de ouro a última noite do Com seu carisma e guitarras de forma-
palco principal do festival. tos inusitados, Super Chikan levou a
Caxias do Sul a energia do Mississippi,
em um show muito divertido.

Filho do lendário bluesman Snooky


Prior, Rip Lee Pryor canta e toca
gaita e violão com muita energia.
Músicos como ele provam que a O brasileiro Alamo Leal (à esq.) realizou
chama do blues se manterá acesa um duelo impressionante com o norte-
Representante do tradicional blues por muito tempo. americano Chris Cain.
do Mississippi, Sherman Lee Dillon
demonstrou vitalidade sobre o palco, em
uma apresentação que misturou qualidade
musical com histórias da cultura blueseira
norte-americana.

Nath SaNtoS

Como integrante da banda do gaitista


Outro grande nome do blues nacional,
Jefferson Gonçalves, que comemora 25
Big Gilson empunhou uma Gibson
anos de carreira, Kleber Dias mostrou uma
Além de participar de diversas jams, o SG 1975. Ele foi acompanhado por
performance contagiante no palco principal.
guitarrista argentino Matias Cipiliano to- Pedro Strasser (bateria) e César Lago
cou no palco Front Porch, junto com Bob (contrabaixo), no palco do Mississippi
Stroger e a cantora gospel Zora Young. Delta Blues Bar.

20 G U I ta R P L a Y E R . C o M . B R | j a N E I R o 2 0 1 6
Téo Dornellas e Cacau Santos usam Power Play

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João Marcondes
Produção a Todo Vapor
Fábio Carr i lho

Transitando entre o jazz moderno, ba, samba rural, capoeira, ijexá e baião. pulsação ou não, se dobraríamos ou se
a música erudita e o samba tradicional, Depois, pesquisei ritmicamente – fiz um desdobraríamos. Ali, estabeleci apenas
a produção artística do guitarrista e vio- inventário de cada gênero e de suas prin- um conjunto de notas – e não uma escala
lonista paulistano João Marcondes é sur- cipais células. A partir daí, defini as mé- ou acordes. Em Catu, Marã, há uma seção
preendente. Com apenas 31 anos, ele tricas tradicionais e pontuei uma métrica para improviso que contrasta com o que
acumula 12 álbuns autorais, entre eles o ímpar e alguma outra métrica irregular foi proposto na melodia da primeira se-
recém-lançado Descompassado, um traba- que eu queria tocar com o quinteto. ção. Fizemos duas versões de cada uma
lho voltado ao jazz no qual teve a com- A variedade rítmica é marcante, mas o das sete músicas do disco. Pelo ambiente
panhia de Gustavo D’Amico (saxofones), aspecto melódico parece saltar mais aos de liberdade e interação, a improvisação
Bruno Belasco (trompete), Gustavo Sato ouvidos. Você compõe guiando-se mais conjunta flui como uma composição.
(contrabaixo) e Ricardo Berti (bateria). pela melodia? Você tem uma discografia impressio-
Como se não bastasse sua atuação prolífi- Sim. Após analisar os padrões rítmicos nante de sete álbuns de canções autorais.
ca enquanto líder de banda e compositor, dos gêneros escolhidos, passei a cantaro- Como anda seu lado cancionista?
Marcondes desenvolve trabalho didático lar ideias e as coloquei na pauta. Em um Componho uma média de 10 a 12 can-
no Conservatório Musical Souza Lima, segundo momento, desenvolvi cada tema ções por ano. A canção é minha primeira
em São Paulo (SP), onde é coordena- racionalmente. Veio-me uma vontade de matriz em termos de composição e, hoje,
dor pedagógico, e ainda encontra tempo não respeitar certas quadraturas, o que dedico-me a ela tanto quanto ao jazz ou
para administrar seu selo e editora BAC foi um desafio saudável, e procurei a bele- à música erudita. No campo da canção,
Discos. A seguir, ele comenta sobre suas za em cada melodia. Gosto que a música tenho três discos em fase de finalização.
diversas atividades e como faz para conci- seja apreciável, lírica. Um deles completa a trilogia com meu
liá-las em sua agenda. Por vezes, suas melodias seguem um amigo Joca Freire. O segundo é em parce-
caminho linear, com você evitando repetir ria com o compositor Guilherme Lacerda.
Como você definiria a proposta de Des- frases ou motivos. E, por último, o disco do compositor pau-
compassado? É o terceiro CD de sua safra Na música Descompassado, há uma lista Douglas Germano, intitulado Golpe
jazzística. O que ele traz de diferente em re- ideia de politonalidade, com dois tons de Vista, cuja produção é do selo BAC
lação aos dois anteriores? que se comunicam – convergindo e di- Discos e no qual sou violonista.
O processo foi totalmente cognitivo. vergindo. Para o desenvolvimento da Você tem forte ligação com o samba
Dos gêneros às métricas, das formas ao melodia na composição, utilizei relações tradicional e, inclusive, toca sete-cordas.
tipo de fraseado, da construção melódica espelhares, retrógrado, inverso ou retró- Como é fazer essa ponte entre o jazz e o
ao pensamento harmônico – tudo foi mi- grado-inverso. Em cada melodia, procurei samba?
limetricamente decidido, assim como a um tipo específico de desenvolvimento e, Sempre procuro a naturalidade. É pos-
forma de registro, que seria ao vivo, sem por essas intermediações, consegui um sível gostar de Schoenberg, Tom Jobim
edições, cortes ou overdubs. A única coisa certo grau de atonalismo. Foi uma busca e Paulinho da Viola. Ou de Villa-Lobos,
que não precisei planejar foi a música com que procurei concretizar. Miles Davis e Chico Buarque. Se nos ali-
conotação brasileira. O disco que antece- Em algumas faixas, como Para Fins, mentamos dessas fontes, a criação pode
de Descompassado, embora praticamente Para Nós e Catu, Marã, você insere seções ocorrer em algum momento. Por que
contemporâneo, apresenta uma obra ex- mais abertas para improvisações, inclusive negá-las e por que não incentivá-las? Não
perimental. E o primeiro trabalho foi fruto com instrumentistas improvisando simul- precisamos ser tolhidos de nossas von-
de inspiração pura, sem pretensão. taneamente. tades. O limite quem constrói para nós
É um CD com proposta jazzística de apre- São dois casos complementares. Em são os que nos rodeiam. Como artista,
sentação dos temas seguidos por improvisos. Para Fins, Para Nós, propus que impro- prefiro enxergar tudo como música e, a
Como trabalhou as composições? visássemos livremente. Poderíamos, na partir daí, vivenciar a alegria da criação.
Primeiro, planejei os gêneros: sam- abertura do chorus, resolver se haveria Para mim, não há música melhor ou pior,

22 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j a n eiro 2 0 1 6
JE ffERSon CoRRê A
só há música. E se a técnica é diferente, Você possui produtora, editora, grava-
vamos aos estudos. dora e selo próprios. Como faz para conci- EQUIPAMENTO DO ÁLBUM
DESCOMPASSADO
Você é coordenador pedagógico do Con- liar essas tarefas com as de músico e pro-
servatório Musical Souza Lima, em São fessor?
Paulo. Como tem sido esse trabalho e quais É meio maluco. Todos os dias, come-
caminhos a escola tem buscado seguir? ço estudando duas horas, de segunda a Guitarra: Gibson ES-165 Herb Elis
Estamos em um momento delicado segunda. Depois disso, inicio as ativida- Violão: Di Giorgio Modelo Espanhol
para a educação musical. O ingresso de des da produtora e gravadora. Gravo ou 1956, com tampo de cedro maciço e
novas tecnologias aponta para a necessi- mixo uma hora e meia, todas as manhãs. laterais e fundo de jacarandá baiano
dade de reconstruir a abordagem do con- Respondo e-mails da produtora e faço pe- maciço.
teúdo na relação entre professor e aluno. quenas ligações. Entre 13h e 22h, traba- Cordas: D’Addario .013 lisa (guitarra) e
Não é possível ensinar da mesma forma lho exclusivamente para o Conservatório La Bella de tensão alta (violão).
que aprendemos no século passado. Hoje, Musical Souza Lima. Dou 32 aulas sema- amplificador: Direto em linha, com
os alunos possuem internet, diversos re- nais e o restante do tempo me dedico à microfone na região do braço da gui-
cursos tecnológicos e instrumentos me- coordenação. Nesse período, realizamos tarra acústica.
lhores. Há tanto conteúdo que é possível reuniões com a direção e professores. efeitos: Reverb no violão e guitarra.
até se perder. Quem deve orientar somos Tudo é uma questão de organização. O
nós. Os músicos educadores precisam co- tempo precisa ser milimetricamente do- MaiS onLine
nhecer pedagogia. Não basta tocar bem sado a cada atividade, que deve ser manti-
o instrumento para ser um professor de da com total disciplina. Nos fins de sema- guitarplayer.com.br
música, pois há muito mais por trás des- na, ou componho ou toco o dia todo. Há
sa atividade e o mercado pede mais a cada certo saber popular que diz: só trabalha » Veja João Marcondes
dia. O cenário musical mudou e o músico quem não gosta do que faz. Amo o que tocando a música Salto de
contemporâneo precisa ser tão bom musi- faço. Ser músico não é fácil, mas é muito Aço, Casco de Cobra.

cista quanto detentor de outras expertises. recompensador.

J A n E I R o 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C o M . B R 23
Riffs

A Caçada Guitarrística De Joe Bonamassa


O pequenO Dumble marrOm
A históriA começA com um endere- ria se desfazer do antigo amp de Danny e, me encontrei com Howard/Alexander
ço errado. Meu amigo Rick Gould e eu como também sou colecionador, entendi e não sei como ele prefere ser chamado
pensávamos que nosso amigo/estrela de isso muito bem. Você acaba se apegando hoje em dia, portanto, coloquei as duas
cinema/ávido colecionador de guitarra a certas coisas – é uma característica do opções.) É um dos melhores amps com
Steven Seagal morasse em Brentwood, colecionismo. que já toquei e ele combina muito bem
Califórnia. Sim, Brentwood se tornou co- Mas você deve estar pensado: “O com pickups do tipo PAF. Com esse amp,
nhecida pela famosa perseguição de carro que tudo isso tem a ver com um am- finalmente entendi a paixão que as pes-
de O.J. Simpson. Steven havia concorda- plificador Dumble?” Bem, enquanto a soas têm pelos Dumble. Muitas vezes,
do em me vender um de seus incríveis avaliação dos Twin estava rolando sol- os modelos Dumble, para meus ouvidos,
amplificadores Fender Twin tweed. podem desapontar, por causa de
É claro, eu sempre quis um Twin toda a valorização e folclore que

RIC K GOU LD
tweed como o de Keith Richards e giram em torno deles. Construídos
quando é que alguém tem a opor- de acordo com o ouvido e gosto de
tunidade de escolher um entre sete cada guitarrista, eles são todos di-
exemplares em uma sala? Respos- ferentes. Fechei negócio pelos dois
ta: nunca. amps e me deparei com a questão
Chegamos ao portão da casa que de como transportá-los para casa.
achávamos ser de Seagal. Por coin- Steven me emprestou dois cases
cidência, Rick recebeu uma ligação de viagem e voltei ao hotel para
de Steven, que perguntou: “Vocês um encontro estratégico e tomar
estão perto?” Rick respondeu: “Se umas com Rick. Até de madruga-
estamos perto? Já chegamos e esta- da, Rick e eu ficamos retirando
mos prontos para a festa dos Twin.” válvulas, roubando travesseiros do
“OK, estou indo pegar vocês.” Cin- hotel e embalando os amps para a
co minutos se passaram, depois dez jornada até minha casa. (Observa-
e, então, recebemos outra ligação. ção: roubos são imperdoáveis, mas
Acabou que não estávamos apenas houve atenuantes, meritíssimo!)
na casa errada, estávamos no esta- De manhã cedo, levamos os ca-
do errado! Steven havia se mudado ses de viagem até a agência de uma
para o Arizona após a última foto empresa de remessas local. Grudei
que Rick fez com ele, alguns anos duas caras etiquetas FedEx neles e
antes. O que fazer? Ligar para a comecei a rezar! Peguei o voo para
companhia aérea Southwest, reser- casa e, quando cheguei, fiquei es-
var um hotel, alugar um carro e acordar ta, vi um pequeno Dumble Overdrive perando minhas novas aquisições. Foi a
cedo no dia seguinte para viajar até o pa- Special marrom, número de série #014, mais longa noite em minha memória re-
raíso dos Twin tweed. no canto da grande sala repleta de equi- cente. Na manhã seguinte, a FedEx che-
Quando finalmente chegamos à casa pamentos. Perguntei a Steven sobre o gou e, para meu alívio, ambos os amps
certa, fomos bem recebidos por Steven, amp e ele disse: “Se você está interessa- sobreviveram e soam muito bem até hoje.
que é um ótimo anfitrião, músico e en- do nele, eu venderia, porque não o uso Essa experiência entrou para a história
tusiasta de guitarras vintage. Havia um muito.” Jamais pluguei uma guitarra como uma das minhas mais incríveis
monte de coisas legais empilhadas por tão rápido. Imediatamente, notei uma caçadas de amps. O Twin tweed é, atual-
toda a sala: stacks Marshall de acabamen- enorme diferença entre esse amp e meus mente, meu principal amplificador de pal-
to amarelo, modelos Flying V Albert King dois Dumble Overdrive Special. Esse co e mudou minha vida como guitarrista.
etc. Rick e eu logo nos voltamos para os era mais comprimido e rugia com uma Mas as caçadas jamais envolvem apenas
Twin. A decisão estava entre um Twin que complexidade harmônica que eu jamais os equipamentos em si. Elas são especiais
havia pertencido a Danny Gatton e o que havia ouvido em um amp de Alexan- por causa das pessoas, histórias e amigos
acabei levando para casa. Steven não que- der/Howard. (Uma observação: jamais que você encontra durante a jornada.

24 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
PXS29FRTBBM

PXZ-MM20FRWH

PXL200FHB

PXL10QWBM

PX-SOLAR17ETC

PXMTR20
Artistas

26 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Silas Fernandes
Peso Instrumental BrasIleIro
nos estados unIdos
H e v e rto n n asci m e n to

silas Fernandes é bastante conHe-


cido na comunidade brasileira da seis-
-cordas. Além de professor, produtor e ar-
tista solo com cinco álbuns lançados, ele
criou um canal no YouTube em que apre-
senta avaliações de equipamentos mu-
sicais, sempre com bom humor e muito
conhecimento técnico. Fernandes mora
atualmente nos Estados Unidos com a fa-
mília, mas, antes de se mudar, registrou
seu mais recente trabalho, ...Must Be the
Wrong Year!. Em entrevista, ele fala sobre
o conceito do disco, a mudança para os
EUA e seu equipamento.

As composições do álbum possuem


a mesma pegada. Elas foram compos-
tas na mesma época ou essa coesão é
uma questão de estilo?
Ótimo você achar isso, porque a di-
ferença entre as composições tem sido o
maior motivo de perguntas sobre o disco.
Há desde coisas bem modernas até tradi-
cionais, e o meu maior medo era não soar
coeso. Acho que se trata mais do estilo.
Há um momento na vida de um músico
em que ele deve parar de querer soar de
um jeito ou de outro e precisa começar a
soar como ele mesmo.

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 27
Artistas
Você assina as guitarras, baixos e as
programações de bateria e synth. Como foi
esse processo? Por que não utilizou uma
banda completa?
Nas faixas J.F. Message e Finally Peace, há
a participação do tecladista Junior Carelli,
da banda Noturnall. Gravar com uma
banda completa demanda tempo demais
de pré-produção. Como sou produtor, já
gravei bastante com programação para
vários artistas, portanto, preferi acredi-
tar em minha experiência e seguir esse
caminho, até porque a data para minha
mudança de país estava chegando e não
havia muito tempo sobrando. Mas a real
motivação para fazer isso são os primei-
ros álbuns de Joe Satriani. São fantásticos
e ele fez quase tudo sozinho!
O que usou para gravar? Registrou em
home studio?
Gravei no Dead Rabbits Room, meu
estúdio em São Paulo. Minha worksta-
tion digital foi Sonar X1 e a interface,
um Line 6 TonePort UX8. O trabalho foi
masterizado no Mr. Sound Studio, tam-
bém em São Paulo, pelo genial Eros Tren-
ch, guitarrista do Korzus e ganhador do do no Hospital do Câncer, em São Paulo, em uma tempestade elétrica e viaja 500
Grammy latino como produtor. e os médicos já haviam nos avisado que anos à frente. Daí a ideia de homenagear
Vamos falar de timbres. Quais são as ele não sairia mais do hospital com vida. Tesla e o invento conhecido como Torre
guitarras, amplificadores e pedais que es- Então, passei boa parte do dia 1º de janei- de Tesla. O áudio que está no CD é a voz
tão no disco? Utilizou plug-ins de efeitos? ro trancado no estúdio, tocando guitarra. do próprio Nikola Tesla, em uma gravação
Usei muita coisa. Impossível citar tudo. Foi nesse dia que a música surgiu. muito antiga, de, por volta, 1920.
No que diz respeito à guitarra, toquei Iba- Essa faixa tem uma vibe mais anos 1980 Você acabou não realizando shows des-
nez JEM 77, Gibson Les Paul Standard e do que as outras. se trabalho no Brasil.
Ibanez RG30 de sete cordas. Os amplifica- Bem, meu começo com a guitarra se A finalidade era deixar algo para as
dores foram Mesa/Boogie Dual Rectifier, deu nos anos 1980. Por mais que eu tente pessoas no Brasil antes de me mudar para
Mesa/Boogie Transatlantic e um Explend soar diferente, essa década me influen- os Estados Unidos. Procuro manter mi-
Model One, todos ligados a uma caixa ciou de forma muito marcante – Judas nha carreira no país por meio do YouTu-
Marshall 1960 com alto-falantes Celestion Priest, Van Halen, Ratt e muitas outras be e das redes sociais. O mais legal é que
Vintage 30. O microfone foi um Sennhei- bandas. Mas acredito que a mais anos tem funcionado bastante. A primeira tira-
ser MD421, com pré-amp e amplificador 1980 de todas seja For Those About Shred. gem do disco está no fim e faz pouco mais
valvulados de microfone da ART. Às vezes, Essa, sim, tem spray no cabelo [risos]. de seis meses que o álbum foi lançado.
usei um POD HD Pro, da Line 6, em linha. Em When I Meet Those People, há uma Sem contar as vendas digitais no Amazon
Também utilizei pedais Nux, Xotic, Bog- frase de Nikola Tesla. Você é fã desse cien- e iTunes, que estão indo muito bem. Es-
ner, Way Huge, entre outros. Em alguns tista e inventor? tou muito contente com o resultado.
momentos, coloquei boost de drive, em Sim, sou muito fã dele. A citação acon- O riff de Metal of Deafness está na vi-
outros, um chorus aqui ou ali. No estúdio tece por se tratar de um disco conceitual nheta de abertura de seu programa na in-
acontece muita coisa e não consigo me que conta a história do personagem da ternet, que traz reviews de equipamentos.
lembrar de tudo. Quanto a plug-ins, usei capa, que viaja no tempo. Se você reparar,
principalmente na bateria e baixo. verá que as músicas têm vibes diferentes,
mAis ONliNE
Algumas faixas possuem títulos curio- que vão dos anos 1970 até 2000. E isso
sos, como 2K13FD. De onde veio esse nome? justifica o nome do disco, ...Must Be the guitarplayer.com.br
Quer dizer “2013 First Day”. Foi o Wrong Year!, que significa “deve ser o ano
dia em que escrevi essa música. Foi meio errado!”. Certa vez, Nikola Tesla deu uma
» Assista a um episódio do
bizarro, porque eu estava em um estado entrevista dizendo que havia visitado o programa Rig on Fire, no
de espírito estranho. Era o primeiro dia futuro em uma das tempestades elétricas YouTube.
» Veja um vídeo de Silas
do ano e eu não estava interagindo muito causadas por seus experimentos. O pro-
Fernandes demonstrando uma guitarra ESP.
com as pessoas. Meu pai estava interna- tagonista da história do álbum se perde

28 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Artistas
Você continua fazendo esse trabalho mes- guitarra no Brasil. Não tem como dizer a ESP dos EUA. A marca têm em seu cast
mo morando nos Estados Unidos? que ele não me influenciou. artistas como Metallica, Slayer, Testament,
Sim, continuo a todo o vapor com o Como é sua relação com a guitarra atu- Bullet for My Valentine e, mesmo assim,
programa Rig on Fire, no YouTube. Gravo almente? Pratica todos os dias? chega um brasileiro que não conhecem e
nos Estados Unidos. O programa mudou Antigamente, estudava seis horas por eles fazem um vídeo e colocam na página
muita coisa em minha vida. Posso com- dia. Hoje, não mais. Continuo praticando, de abertura do site oficial e redes sociais
partilhar ideias e ajudar aqueles que estão mas de maneira esporádica. Sou casado e da ESP. Preciso dizer mais?
meio confusos nesse universo gigante de pai de três meninas. As coisas mudaram Você continua desenvolvendo produtos
amplificadores, efeitos e tudo o que en- bastante. Graças a Deus, casei-me com com a Deval?
volve tecnologia aplicada à guitarra. Além uma pessoa que me apoia totalmente. Te- Sim e não. Mantenho a parceria com
disso, graças ao programa, meu trabalho nho muita sorte. os pedais Nux, mas, agora, meu contra-
alcança mais pessoas do que antigamente. Muitos guitarristas pensam em tentar a to é direto com a Cherub Technology, na
Sua pegada parece ter algo sempre ron- vida nos Estados Unidos. Como está sendo China. Uma vez que a Deval é a distri-
dando guitarristas emblemáticos. Quem sua experiência nesse país? Há bastante buidora oficial da Nux no Brasil, continuo
são seus guitar heroes preferidos? trabalho para guitarristas? trabalhando indiretamente para eles.
Jake E. Lee, Steve Vai, Glenn Tipton, Faz apenas seis meses que estou aqui, Quais os planos para o futuro em sua
Yngwie Malmsteen,Vivian Campbell e portanto, é cedo para dizer. Mas, em pou- carreira?
muitos outros. Não saberia dizer qual co tempo, já iniciei uma parceria muito Estou agendando uma viagem ao Bra-
deles me influenciou mais. Muito difícil. legal com a ESP e consegui outros clientes sil para fazer o lançamento oficial do CD.
Sou uma mistura desses caras. Nunca para o programa, mesmo sendo direciona- Pretendo realizar workshops, clínicas e
tive professores – sempre fui autodidata. do para o público brasileiro. Nos Estados uma provável temporada de master clas-
O que mais estudei, sem sombra de dúvi- Unidos e China, o respeito e a relação das ses na EM&T. Acabei também de voltar
das, foram os livros de Mozart Mello. Ele empresas para com os músicos são muito de uma grande turnê pela China e preci-
é um grande mestre e responsável pela mais inteligentes e profissionais do que no so solidificar as relações com os contatos
organização e metodologia de ensino de Brasil. Prova disso é minha parceria com que iniciei nos Estados Unidos e Ásia.

CURSOS 2016 NÚCLEO MOZART MELLO • EM&T (JABAQUARA)


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m o z a r t m e l l o @ te r r a . c o m . b r
30 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Artistas
Zé Carlos d e and rade

32 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Oly Jr.
Quando o Blues
Encontra a MilOnga
R i ca R d o V i ta l

com uma caRReiRa iniciada em 1998,


Oly Jr. faz, atualmente, uma das mais in-
teressantes e originais misturas musicais
dentro do amplo espectro do blues nacio-
nal. Ele mistura o gênero norte-americano
com a milonga – estilo de música popular
comum na Argentina, Uruguai e Rio Gran-
de do Sul – e pitadas de rock e folk.
Esse gaúcho de 38 anos nasceu em
uma família de oito irmãos e os gastos
com essa galera diluíam o orçamento da
casa, sobrando pouco dinheiro para LPs
e fitas cassete. Como alternativas, restava
ouvir rádio e juntar uma grana com ami-
gos para comprar discos em sebos, que
depois eram copiados em cassete.
As influências iniciais de Oly iam da
música tradicional gaúcha, ouvida pelo
pai, ao rock, curtido pelos irmãos mais
velhos, e pop, por parte da mãe, que che-
gou a tocar baixo em uma banda feminina
amadora. A MPB também entrou nesse
caldeirão, via ondas de rádio.
Em entrevista, Oly Jr. fala sobre sua
formação e a gravação de seu mais recente
álbum, Dedo de Vidro (2015) que foi indi-
cado ao Prêmio Açorianos de Música nas
categorias Instrumentista e Álbum.

Quando e como o blues entrou em sua


vida?
Primeiro, por intermédio dos Rolling
Stones, que um de meus irmãos ouvia
muito. Também graças a bandas de rock
nacional, como Barão Vermelho e Garo-
tos da Rua, que dialogavam bastante com

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 33
Artistas
o blues. Mas eu não sabia a definição de da maneira que podia.
blues. Só fui saber quando me deparei com E a milonga?
um disco chamado Hein?!, de Nei Lisboa, Trata-se de um gênero musical do fol-
um artista respeitadíssimo no Rio Grande clore argentino, mas também uruguaio e
do Sul. Resolvi aprender a tocar a música gaúcho, amplamente executado por mú-
Faxineira, que está nesse álbum. Decorei a sicos e artistas da porção sul da América
letra e pedi para um conhecido do bairro do Sul. É um estilo de essência rural, mas
me dar uma força e tirar de ouvido. Ele que tomou formas urbanas ao longo da
aprendeu em questão de segundos e falou: história. Sempre me deparei com as duas
“Ah, isso é um blues em E maior.” Deu-se formas de manifestação milongueira – de
a luz. Ele me ensinou o lance dos graus I, artistas que representam o universo tradi-
IV e V. Resolvi ampliar meu conhecimento cionalista e campeiro a músicos urbanos
de blues e entrei de cabeça em uma pes- que usam a milonga como elemento de
quisa, que acabou por determinar minha vanguarda para reciclar e elaborar estéti-
força motriz no que diz respeito a compor cas contemporâneas. Três artistas são de
e tocar um instrumento. Fui me deparan- suma importância para minha formação
do com nomes representativos do gênero, milongueira: Bebeto Alves, Vitor Ramil e
como Muddy Waters, Robert Johnson, Bu- Mauro Moraes. Desde 1998, venho usan-
ddy Guy, B.B. King, Little Walter, Sonny do principalmente o blues, além do folk
Terry & Brownie McGhee, Blues Etílicos, e rock americano e brasileiro, mas nunca

Z é Carlos d e a n d rad e
Celso Blues Boy e André Christovam. Ao havia me aventurado pela milonga, pois eu
mesmo tempo, eu ia a shows de Solon tinha a impressão de que imitava grossei-
Fishbone, Fernando Noronha e outras ramente esses artistas que acabei de citar.
bandas e artistas que misturavam blues e Como e quando veio a ideia de fundir es-
rock. Fui me familiarizando com o estilo ses dois universos musicais?

34 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Artistas
Em 2008, aconteceram fatores simultâ-
neos determinantes para eu dar uma gui-
nada em minha carreira musical. Um deles
foi a compra de uma viola Del Vecchio de
dez cordas, de segunda mão. Além disso,
como tenho o hábito de frequentar sebos
que vendem LPs, livros e revistas usadas,
deparei-me com uma Guitar Player que ti-
nha Eric Clapton na capa, com a chamada
Brancos de Alma Negra [edição de agos-
to/1997]. Entre uma matéria e outra, achei
muito interessante uma reportagem sobre
violeiros, afinações, diferenças e tipos de
manifestações culturais referentes à viola
de dez cordas. Comecei a me aventurar no
instrumento e percebi que a afinação rio
abaixo era a mesma G aberto que muitos
bluesmen usavam, mas sem a sexta corda.
Keith Richards utilizava essa afinação em
uma guitarra que ele adaptou para cinco
cordas, retirando a sexta corda e afinando
a quinta corda em G e a primeira em D.
O restante era igual à afinação standard.
Como eu já tocava slide desde o início do
meu aprendizado, passei a praticar mais
na viola com afinação aberta, fazendo li-
Z é Carlos d e a n d rad e

cks de slide blues, mas com a sonoridade


da viola, que tem cinco pares de cordas.
Paralelamente à minha prática de slide na
viola, entrei na onda de escutar discos de
milonga desde meados da década 1990.
Em sua ampla maioria, a milonga é, tra-
dicionalmente, tocada em tons menores.
Existe um riff muito peculiar, chamado Fale sobre seus principais instrumentos. feito. Curti bastante. Acabei ficando com
bordoneio, tocado nas cordas graves. En- Estou usando uma viola Del Vecchio dois protótipos: um violão de cordas de
tão, afinei a viola em Gm, com a segunda de dez cordas, um violão Crafter de 12 náilon, que uso bastante em casa e na
corda em Bb, e fiquei viajando em uma cordas e uma guitarra de dez cordas que faculdade de música, e uma guitarra se-
harmonia de blues em 12 compassos, mas chamo de “guitarola”, que nada mais é miacústica. Algum tempo atrás, pedi para
com o bordoneio tradicional. do que uma Epiphone SG com braço de outro luthier, Pablo Riviera, especialista
Você encontrou rapidamente a melhor dez cordas – cinco pares, como em uma em instrumentos latinos, transformar
solução para essa fusão ou foi desenvol- viola –, feito pelo luthier André Moraes, uma Telecaster em uma guitarra resona-
vendo aos poucos? de Porto Alegre (RS). Há pouco tempo, tor. Mas gostei tanto do resultado sono-
O riff da milonga se encaixou como conheci Thiago Brum, que toca guitarra ro e estético das cigar boxes, que pedi ao
uma luva na harmonia de blues menor de e se aventurou a construir violões e gui- Thiago transformar essa Tele em um cigar
12 compassos, e pincelei o slide em uma tarras com restos de madeira, braços de box resonator.
pentatônica menor. Aos poucos, fui apri- instrumentos e captadores que ele tinha E quanto a amplificadores e efeitos?
morando essa questão musical, cruzando em casa – tipo cigar box, mais ou menos Tenho um amp valvulado Bugera de 5
escala pentatônica com harmônica e blue como a famosa guitarra de Bo Diddley. É watts, para estúdio e espaços pequenos,
note e testando diferentes abordagens de um processo antigo que muitos bluesmen e um Laney transistorizado de 100 watts
slide. Essencialmente, eu usava a viola usaram na infância, que consistia em usar que é “pau para toda obra”. Em shows,
de dez cordas afinada em Gm e um violão caixas de charuto como caixa acústi- uso dois pedais da Mooer: drive Blues
de seis cordas em afinação standard. Fui ca, acoplar um pedaço de pau para usar Crab e equalizador Graphic G. Tenho
estudando e procurando mesclar o maior como braço e esticar uma ou mais cordas ainda um pedal afinador e um Pitchclip,
número de elementos culturais e musicais para fazer um som em um instrumento ambos da Korg. No palco, ligo a viola de
que estavam a meu dispor. A partir daí, rústico. Outros aperfeiçoaram, colocan- dez cordas e o violão de 12 em linha, com
comecei a compor canções dentro dessa do captação e pegando braço de outro o pedal equalizador. Em estúdio, prefiro
estética sonora, usando tais elementos, o instrumento. Fui até a casa do Thiago e somente a captação de microfones.
que resultou no disco Milonga Blues. testei alguns instrumentos que ele havia Como foram as gravações de seu mais

36 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
recente trabalho, Dedo de Vidro? 6. A concepção do disco já estava pronta,
Esse álbum foi registrado no estúdio
Musitek, com a seguinte concepção: uti-
com as músicas compostas e arranjadas,
alguns meses antes de eu entrar no estú- OUÇA!
lização de slide em todas as faixas, toca- dio. Consegui gravar tudo em pouco tem-
das em viola e guitarra de dez cordas. Fiz po, porque tinha tudo objetivado. Apenas Milonga Blues (2008): Primeiro tra-
as bases de todas as canções com a viola, fui pincelando algumas coisas e acrescen- balho de Oly Jr. a trazer a mistura de
meu irmão Jacques Jardim tocou os bai- tando ideias do coprodutor, que tem o blues com milonga.
xos e as baterias foram revezadas por Ja- domínio da tecnologia. Creio que Dedo de Do Delta do Jacuí ao Deserto do Ata-
ques Trajano e Otávio Moura, coprodutor Vidro seja meu disco mais completo, com cama (2013): Gravado com o gaitista
do disco. Depois, gravei as vozes e slides. predominância de milonga e blues, além chileno Gonzalo Araya.
Em algumas canções, aproveitei a viola de pitadas de folk e rock. Nesse trabalho, Dedo de Vidro (2015): Em seu mais
da guia, na qual fiz base e slide ao mes- tive maior domínio do slide do que em recente álbum, Oly mergulha ainda
mo tempo. Por fim, convidei o incrível lançamentos anteriores. É praticamente mais fundo na linguagem que criou.
Luciano Leães para tocar piano em uma um álbum de violeiro e “slideiro”. Passei
faixa e o acordeonista Loureço Gaiteiro uma temporada ouvindo e absorvendo as
para participar de duas músicas. Equipa- mensagens de Almir Sater, Paulo Freire,
mentos e tecnologia foram os mesmos do Ricardo Vignini, Valdir Verona e tantos mais online
álbum Milonga Blues, com a diferença de outros violeiros, ao mesmo tempo em
que executei os slides na guitarra de dez que escutava Mississippi Fred McDowell, guitarplayer.com.br
cordas, plugada em meu amp valvulado Duane Allman, Elmore James, Bebeco
» Veja Oly Jr. tocando sua
Bugera de 5 watts, que permite também Garcia e muitos outros blueseiros. Co-
mistura de blues e milonga.
diminuir a potência para 1 ou 0,1 watt. loquei em prática meus devaneios e dei
» Ouça o guitarrista
Deixei o ganho no máximo e regulei o vo- ênfase a dois estilos que caem como uma executando a música Os Homens de Preto, ao
lume conforme a música, com o botão de luva para minhas ideias musicais: a mi- lado do gaitista chileno Gonzalo Araya.
tonalidade na metade e o reverb no 5 ou longa e o blues.

j a n e i R o 2 0 1 6 | G U i Ta R P l a Y e R . C o m . B R 37
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DAVID
GILMOUR
M EST R E D O T I M B R E

Guilherme Zanini

Quantos Guitarristas no mundo são imediatamente


reconhecíveis ao tocarem apenas duas ou três notas? Poucos.
Dentro desses raros exemplos, David Gilmour é um dos maiores
expoentes. Basta ouvir o pequeno arpejo de Shine On You Crazy
Diamond para identificar o estilo único do eterno guitarrista do
Pink Floyd. Mas a lista de qualidades não para por aí. Quem
nunca participou de uma conversa entre guitarristas na qual
alguém afirmou que não existe solo mais bonito do que o de
Comfortably Numb? E o que dizer do delay e bends perfeitos em
Another Brick in the Wall? Se fizermos uma lista de momentos
marcantes de Gilmour, com certeza seremos injustos.
Prestes a completar 70 anos, esse veterano da música segue
em frente com a reputação de quem dificilmente participa de um
trabalho de qualidade duvidosa. Por toda essa história e sua pela
recente passagem pelo Brasil, decidimos fazer uma grande matéria
e dedicar a capa deste mês a Gilmour. As próximas páginas trazem
detalhes de sua trajetória e de seus equipamentos, além da cober-
tura completa dos shows em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
De quebra, uma lição especial com exemplos para você tocar.

40 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
nai deron jr

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 41
DAV I D G ILM OUR • M ESTRE DO T I MBRE

edu defferrari
Primeiros Anos Nessa fase, vivia sem emprego fixo e so- do então quinteto. Embora hoje seja re-
Nascido na cidade de Cambridge, Ingla- brevivia da maneira que conseguia. Du- conhecido como um dos maiores nomes
terra, em 6 de março de 1946, David Jon rante a jornada, acabou hospitalizado por da história da Fender Stratocaster e um
Gilmour viu seu interesse por música desnutrição. De volta à Inglaterra, voltou pesquisador de timbres e efeitos, o set do
crescer no início dos anos 1960. O fato a atuar no cenário musical, embora ainda guitarrista nessa fase inicial junto à ban-
de ser filho de dois professores o ajudou sem uma boa gig. Até que foi convidado da era bastante simples. Seu instrumen-
a ter contato com arte desde a infância. pelo baterista do Pink Floyd, Nick Mason, to principal era uma Fender Telecaster
Assim como a maioria dos jovens ingleses a ficar mais próximo das atividades da do início da década de 1960, a qual ele
daquele período, ele tinha uma profunda banda e atuar como segundo guitarrista ligava em amplificadores Selmer, marca
admiração pelo blues e rock norte-ameri- do grupo, já que Barrett enfrentava pro- bastante difundida na Inglaterra naquele
canos. A informação musical chegava por blemas sérios com drogas alucinógenas, período. Seu set de pedais consistia em
meio do rádio. Foi nessa época que apren- que comprometiam sua performance no um wah Vox e um Dallas Arbiter Fuzz
deu a tocar guitarra. Acabou ingressando grupo. A essa altura, o Pink Floyd já havia Face. Assim como para a grande maioria
na banda Joker’s Wild, a qual integrou lançado o disco de estreia e trabalhava no de guitarristas da época, a busca por um
por um ano. Também na adolescência, próximo repertório. timbre matador tinha como ponto de par-
passou a frequentar a escola Cambrid- Há quem idolatre a figura de Barrett tida a revolução que Jimi Hendrix estava
geshire College of Arts and Technology, e atribua a ele parte da genialidade da fazendo. Isso também atingiu David Gil-
onde estudavam Roger Waters e Roger banda, mas é inegável que a entrada em mour, mesmo que não ficasse nítido.
“Syd” Barrett, com quem criou um forte definitivo de Gilmour deu uma guinada
laço de amizade, sendo inclusive seu pro- positiva tanto na sonoridade geral como modo inglês de FAzer rock
fessor de guitarra. nas partes de guitarra. O resultado apare- Pela cronologia, o rock surgiu nos Estados
Após abandonar o Joker’s Wild, Gil- ceu logo no disco A Saucerful of Secrets, Unidos em meados dos anos 1950, atra-
mour viajou pela Europa por um ano. de 1968, segundo trabalho de estúdio vessou o Atlântico alguns anos depois e

42 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
ganhou força na Inglaterra. Nessa fase
inicial, os britânicos buscavam reproduzir
o que era feito pelos norte-americanos –
vide Beatles, Rolling Stones e Yardbirds.
Entretanto, a partir da segunda metade da
década de 1960, o experimentalismo e as
melodias mais elaboradas, com influências
que vinham até da música erudita, deram
uma cara nova ao rock inglês. Foi aí que o
Pink Floyd ganhou ainda mais relevância.
A parceria de Gilmour com Waters
abriu caminho para a banda ser um dos
grandes nomes do rock nos anos seguin-
tes. Àquela altura, grupos ingleses como
Yes e Jethro Tull somavam-se ao Floyd na
consolidação da cena do rock progressivo.
As composições, na maioria conceituais,
tinham foco em arranjos bem elaborados
e busca por experimentação. O conceito
de singles estava dando lugar a álbuns
complexos, com músicas extensas. Vale
lembrar que trabalhos conceituais não
eram novidade na cena inglesa – por
exemplo, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts
Club Band foi lançado em 1967. A nova
cena seria fundamental para o que houve
de mais rico na produção dos anos 1970.
Mesmo com o grupo enquadrado no
rótulo de rock progressivo, David Gil-
mour nunca foi fã do gênero: “O que a
maioria descreve como rock progressivo
não é a minha praia. As bandas classi-
ficadas dentro desse gênero nunca me
atraíram a ponto de eu querer ouvi-las e,
pessoalmente, não acho que nossa músi-
ca pertencesse a esse estilo”, disse ele em
entrevista para Guitar Player, em 2009.

Relação com a StRatocaSteR


Desde seus primeiros tempos de Pink
Floyd, Gilmour foi adepto de modelos
Fender. Em um primeiro momento, seu
instrumento era uma Telecaster branca
com corpo de ash e braço de rosewood.
No entanto, isso começou a mudar no
álbum More, quando ele incorporou a
Stratocaster como guitarra principal. Em
1969, Gilmour usava um modelo branco
renato jacob

de 1966. Essa seis-cordas o acompanhou


nas gravações e turnê de divulgação do ál-
bum Ummagumma (1969).

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 43
DAV I D G ILM OUR • M ESTRE DO T I MBRE

edu defferrari
A partir de Atom Heart Mother (1970), existem. É mais fácil reconhecer alguém direto no som do Pink Floyd. O álbum
a sonoridade de David Gilmour e da ban- tocando com Stratocaster do que com Meddle (1971) apresenta uma banda dife-
da passou por mudanças, em uma espécie Gibson, por exemplo”. rente, com canções mais marcantes. Logo
de ruptura com a “fase Barrett”. Durante O set de Gilmour sofreu outras alte- na faixa de abertura, One of These Days,
uma visita aos Estados Unidos, ele adqui- rações. A partir de 1970, ele começou a a Stratocaster entra com acordes fortes
riu uma Fender Stratocaster nova, na cor utilizar cabeçotes Hiwatt DR103 ligados a e um timbre rasgado – uma sonoridade
preta, com headstock grande. A partir de caixas WEM Super Starfinder 200, equipa- nunca explorada antes pelo grupo. O sli-
então, essa se tornou a principal compa- das com alto-falantes Fane. Essa combina- de cortante do guitarrista encaixa-se com
nheira do músico. “A Stratocaster era a ção serviu de base para a formação daquilo perfeição ao baixo pulsante de Waters, à
guitarra que eu mais queria ter quando que ficou conhecido como “o timbre David levada certeira de Mason, na bateria, e
criança, muito por causa de Hank Mar- Gilmour’. Ele explicou como faz para ob- aos teclados de Richard Wright.
vin, que tinha uma”, contou Gilmour à ter seu som característico: “Uso o captador Meddle foi aclamado pela crítica e che-
GP. “Eu adorava as Strato, mas não podia do braço para coisas mais blueseiras e o da gou ao terceiro lugar nas paradas britâni-
tê-las, então eu tocava com outros mode- ponte para timbres roqueiros. Para as par- cas. A liberdade guitarrística de David Gil-
los, como a Hofner Club 60, instrumento tes rítmicas, prefiro a posição intermediá- mour aparece em Echoes, canção com 23
que mais usei em minha cidade. Depois, ria de pickup da ponte junto com o capta- minutos de duração que ocupa todo um
quando eu tinha 21 anos, meus pais mo- dor do meio.” Outro elemento importante lado do vinil duplo. A minúcia em cada
ravam em Nova York e me deram uma em sua sonoridade, desde a fase inicial, é a nota tocada parecia ser uma preocupação
Telecaster. Foi a primeira Fender que tive, câmara de eco Binson Echorec II. constante. Embora essa música seja longa,
mas eu ainda queria uma Strato. Com- Com o passar do tempo, a guitarra não há excessos na execução. O estilo me-
prei uma assim que tive condições. Para de Gilmour foi ganhando timbres mais lódico de Gilmour faz tudo parecer natu-
mim, são as guitarras mais versáteis que pesados e distorcidos. Isso teve impacto ral, sem notas tocadas em vão.

44 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
A COLETIVA
O anúncio dos shows de David Gilmour foi
recebido com grande entusiasmo pelos seus
fãs no Brasil, afinal, ele e seu indefectível
timbre de guitarra eram esperados no país
havia mais de 40 anos. Antes de subir ao pal-
co em São Paulo, primeira cidade a receber
a milionária apresentação – Gilmour trouxe
dez toneladas de equipamento, incluindo to-
das as luzes que interagem com o telão em
formato de círculo –, o guitarrista recebeu a
imprensa para uma entrevista coletiva. Ele
estava acompanhado de Polly Samson, sua
esposa, que é escritora e parceira de letras

RENATO JACOB
desde o álbum The Division Bell (1994), Da esq. para dir.:
do Pink Floyd. Também estiveram presentes João de Macedo Mello,
Polly Samson, David Gilmour
Phil Manzanera, produtor e guitarrista, ex- e Phil Manzanera.
-membro do Roxy Music, e o curitibano João
de Macedo Mello, recém-contratado para as- O clima parecia bom entre vocês no show o preço do modelo caro, então, conversando
sumir o saxofone na banda de Gilmour. do Live 8 em 2005. Por que não voltaram com meu guitar tech, Phil Taylor, examinamos
Simpático, calmo e certeiro – exatamente com a banda depois dessa apresentação? cada detalhe da minha guitarra e trabalha-
como ele é quando empunha sua guitarra –, o Naquela noite, em 2005, foi muito diver- mos para que ficasse perfeita, inclusive com
astro respondeu a todas as perguntas com sere- tido. Eu sentia que tínhamos algo para termi- pickups que soassem próximos do meu som.
nidade, inclusive sobre sua antiga banda e os nar, porém, seria muito difícil, porque havia Ficou um pouco caro, mas não supercara. Im-
encontros com Roger Waters desde a separação. muito ressentimento vindo do passado. Ti- possível chegar a um resultado melhor com
A seguir, os melhores momentos da conversa. – vemos momentos bem dolorosos em nossa um modelo mais barato. Desculpe, foi o me-
HEVERTON NASCIMENTO história. Mas prefiro evitar clima de tensão. lhor que pudemos fazer.
Os ensaios para aquele show não foram tão Quais são os guitarristas que te influen-
Qual legado você acha que deixará para divertidos. Roger queria tocar certas músicas ciaram?
as próximas gerações? e tive de lembrá-lo que ele era um convida- Há centenas que considero referências
Meu Deus, não sei. Você é que pode me do do Pink Floyd. Havia, sim, uma boa oferta ou influências, como Leadbelly, Pete Seeger,
dizer. Eu apenas toco, não me preocupo em financeira, mas, naquele momento, eu não Joni Mitchell, John Fahey, Eric Clapton, Jimi
como isso vai chegar às pessoas e no que estava preocupado com isso. Hendrix, Hank Marvin, Jeff Beck...
elas vão pensar. Sua guitarra signature, a Black Strat, é Quais são seus cinco discos favoritos de
Você tocou em um show de Roger Wa- produzida pela Fender Custom Shop. Por- todos os tempos e qual é o artista que você
ters em 2011. Como foi esse reencontro? tanto, é bastante cara. Não pensaram em gosta nos dias de hoje?
A ideia inicial foi de Polly. Eu estava ten- fazer um modelo mais barato, acessível a Meu Deus, tenho muitos álbuns favoritos.
tando convencer Roger a participar de um mais guitarristas, inclusive iniciantes? Não sou capaz de enumerar cinco. A lista
concerto beneficente, em 2010. E, também A Fender queria fazer uma guitarra signa- muda o tempo todo. Tenho escutado muito o
por sugestão de Polly, a intenção era tocar To ture. Na verdade, eles queriam fazer dois mo- álbum Push the Sky Away, de Nick Cave. Eu
Know Him Is to Love Him, música de quando delos: um bem caro, cerca de quatro a cinco gostaria também de ver de novo um show de
Phil Spector estava no Teddy Bears [Gilmour vezes o valor de uma guitarra normal, e um Leonard Cohen.
revelou a Polly Samson que o Pink Floyd fazia bem barato. Mas rejeitei ambas as opções. A Você tem uma voz muito reconhecível.
passagens de som com essa canção, nos pri- guitarra barata iria apenas se parecer com a Porém, no último disco, Rattle That Lock,
mórdios do grupo]. Roger disse que a música minha – não vejo sentido em fabricar um ins- achei diferente. Foi uma busca especial?
estava fora de sua zona de conforto, então, trumento que tenha apenas a aparência da Não. Eu tinha uma backing track com as
para convencê-lo, eu disse que apareceria em Black. Seria como outra Fender da prateleira. melodias. Polly fez as letras, entramos no es-
um show dele. Por outro lado, também considerei um insulto túdio e gravamos. Não há mistério ou mágica.

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 45
DAV I D G ILM OUR • M ESTRE DO T I MBRE

O LadO EscurO da Lua pirado, que serviu de trilha sonora para o mercializadas mais de 50 milhões de cópias
Embora chamado de progressivo, o Pink filme La Vallée. Entretanto, esse registro em todo o mundo. Mais uma vez, a guitarra
Floyd soava diferente de seus pares, como serve de base para o próximo salto do de Gilmour é magnífica. Os arranjos primo-
o Yes, por exemplo. Aos poucos, a banda quarteto inglês, a obra-prima The Dark rosos e solos arrasadores, como o de Time,
ganhou uma identidade única e isso moti- Side of the Moon. fizeram desse disco um dos grandes clás-
vou voos mais altos e experimentalismos, Lançado em 1973, o disco foi um suces- sicos do século 20. O nome de David Gil-
como o show sem plateia realizado nas so de crítica e público e esteve na parada mour entrou de vez para a lista dos maiores
ruínas de Pompeia, na Itália. de sucessos da Billboard durante impressio- guitarristas britânicos de todos os tempos.
Em 1972, chegou às lojas o disco Obs- nantes 741 semanas, entre seu lançamento Nesse período, a pedaleira do músico
cured by Clouds, um trabalho menos ins- e 1988, um recorde. Ao todo, já foram co- cresceu. Entraram efeitos como o recém-

DaviD Gilmour,
seGunDo os Guitarristas Da GP
Convidamos colunistas de Guitar Player Brasil para revelarem suas opiniões sobre David Gilmour.

“David faz uma leitura macro de fatos e ideias, podendo ser crítica ou até mesmo bem-hu-
morada. Primeiro, vem o conceito. Depois, a música e letra. A guitarra está inserida nessa
concepção. Pessoalmente, não faço uma leitura técnica de sua guitarra, mas, sim, do que
ela quer transmitir. Por exemplo, não me chama atenção seu solo individual, pois ele está
sempre dentro da ideia da música e do que ela pretende transmitir. Apesar disso, seu som de
guitarra e solos são matadores. Em muitos casos, conseguimos cantá-los!” – mozart mello

“O que falar sobre esse deus da guitarra? Lembro-me como se fosse hoje do momento em
que ganhei do meu irmão o LP The Wall e ouvi o solo de Comfortably Numb. Parecia que o
mundo parava naquele momento e guitarra era a única coisa que importava. Percebi que lá
havia algo muito maior do que simplesmente notas musicais. Algo tão grande ou um senti-
mento tão forte que eu só iria entender após muitos anos de lapidação. Resumo David Gil-
mour em uma só palavra: perfeição. Como imaginar a história da guitarra sem ele? Impos-
sível! Sua música continua influenciando gerações de músicos em todo o mundo. Obrigado,
Gilmour, por cada nota!” – mr. Fabian

“David Gilmour tem uma importância fundamental para meu desenvolvimento como músi-
co, pois foi ouvindo sua obra que descobri a importância de saber se expressar e criar uma
voz própria com o instrumento. Todos os seus solos apresentam um significado e sempre
contam uma história, criando o clima certo para as músicas. Seu senso melódico e rítmico
são impressionantes!” – alexanDre spiGa

“Não me lembro ao certo quando foi a primeira vez que ouvi a guitarra de David Gilmour,
mas nunca me esqueço do dia em que eu voltava da escola, caminhando de noite com um
amigo, quando ele pegou um walkman e ajeitou a fita cassete no ponto do primeiro solo de
Comfortably Numb. Ele disse: ‘Escute isso.’ Ali, parados na esquina onde nos separaríamos
para que cada um seguisse seu destino, tive uma sensação inigualável, pois pude flutuar com
meus pensamentos, como se eu estivesse realmente voando. A música de David Gilmour me
levou aos interesses que mantenho até hoje. De maneira muito saudável, sem qualquer outro
estímulo que não fosse o som, a guitarra e os solos alados desse gênio me inspiraram e me
fizeram muito bem, em vários momentos de minha vida. Gilmour tem as grandes virtudes
que admiro em um músico. Ele não é um velocista dos dedos – nada contra quem seja! –,
NAI DERON jR

mas é muito técnico. Grande compositor e arranjador. Sabe timbrar uma Stratocaster como
ninguém e é muito criativo. Gilmour é sinônimo de feeling! Incomparável! – marcos pópolo

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naideron jr
lançado MXR Phase 90, Univox Uni-Vi- conta com uma performance brilhante comparação aos outros registros. Mesmo
be e Colorsound Power Boost, além do de Gilmour. O arpejo inicial com quatro assim, a performance do guitarrista foi
Dallas Arbiter Fuzz Face. Nas performan- notas e o longo solo de introdução dão irrepreensível. Foi nessa época que Gil-
ces ao vivo, ele usava um lap steel afina- a essa canção um status de obra de arte. mour deu a Pete Cornish a incumbência
do em G (D, G, D, G, B, E) em canções Até hoje, há quem diga que é uma das de criar uma pedaleira, ampliando o nú-
como Great Gig in the Sky. No restante melhores performances do guitarrista. mero de efeitos. Então, constavam em
das músicas, Gilmour seguia com sua fiel Neste álbum, Gilmour seguiu fiel aos seu pedalboard o fuzz Electro-Harmonix
escudeira: a Black Strat. Eventualmente, amps Hiwatt, mas também gravou alguns Big Muff, MXR Dyna Comp, MXR Noise
ele também usava uma Fender Telecaster trechos com um stack Fender Showman. Gate/Line Driver, MXR Phase 100, Dallas
equipada com humbucker Gibson PAF, na O violão usado na faixa que dá nome ao Arbiter Fuzz Face, Colorsound Power
posição do braço. álbum foi um Martin D-35. Boost e pedais construídos pelo próprio
A força do material de Dark Side tem Embora as relações no Pink Floyd já Cornish.
muito a ver com a criação coletiva de uma estivessem dando sinais de desgaste, o
banda bastante entrosada. No entanto, a que causou uma pausa nas turnês, em Enfim, Solo
partir de então, o trabalho se tornou mais 1976, a veia criativa seguia pulsante. Em O distanciamento de Roger Waters levou
isolado e a relação entre Gilmour e Wa- 1977, o grupo lançou Animals, disco cujo David Gilmour a investir em uma em-
ters começou a dar sinais de que ruiria. repertório começou a ser composto ainda preitada solo, paralela ao Pink Floyd. Em
O disco seguinte, Wish You Were Here em meio às sessões de Dark Side. As mú- 1977, após o lançamento de Animals, o
(1975), trata do tema solidão e ausência sicas são quase todas de Waters, sobran- guitarrista concentrou suas atenções em
e tem duas canções sensacionais: a faixa- do para Gilmour apenas a coautoria de um repertório próprio, o que resultou em
-título e Shine On You Crazy Diamond, que Dogs. O álbum tem um clima sombrio em um álbum homônimo, lançado em 1978.

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naideron jr
Embora não seja uma obra-prima, o dis- The Wall Hooker tocando um acorde de E maior,
co é bom, com excelentes faixas, como Projeto quase autobiográfico de Roger algo de Threepenny Opera, Kurt Weill
There’s No Way Out of Here e So Far Away. Waters, o disco duplo The Wall se tor- (compositor alemão) ou a guitarra meló-
Nesse período, Gilmour ampliou seu ar- nou um clássico do rock. O trabalho, que dica de Hank Marvin. Todas essas coisas
senal de guitarras e usou uma Gretsch possui tom de ópera-rock, obteve sucesso combinadas formaram a paleta que utili-
Duo Jet dos anos 1950 nas gravações. So- assim que saiu. O trabalho de guitarras zo. O blues é grande parte disso tudo”,
bre esse instrumento, ele diz que “é um de Gilmour, como sempre, foi deslum- disse Gilmour à GP, em 2009.
pouco difícil de tocar, mas essa Duo Jet brante. Não à toa, o solo de Comfortably Durante o período de The Wall, delay
preta se encaixa perfeitamente em algu- Numb é considerado um dos mais bonitos digital foi incorporado ao som de Gil-
mas coisas”. Outra guitarra que foi parar de todos os tempos. As frases de Another mour, por intermédio de uma unidade da
nas mãos de David Gilmour nessa época Brick In The Wall são de arrepiar e foram MXR denominada Digital Delay System.
é a famosa Fender Stratocaster com nú- aprendidas nota a nota por guitarristas de Sua pedaleira também ganhou um Cho-
mero de série #0001. Segundo ele, esse todo o mundo. E não para por aí. Can- rus CE-2, da Boss. De guitarras, a prin-
instrumento pertencia ao seu técnico, ções como Hey You, Mother e Young Lust são cipal mudança foi o uso de uma Gibson
Phil Taylor, que, por sua vez, havia com- outros hinos do álbum. Embora o clima Les Paul Goldtop, de 1955, equipada com
prado de Seymour Duncan. Mesmo com na banda fosse tenso, o que se ouve em captadores P-90 e ponte Bigsby. Esse ins-
essa numeração, o instrumento não é a The Wall é pura inspiração. Mesmo em trumento era usado ao vivo, em canções
primeira Stratocaster a ser fabricada. Ain- baladas e canções pop, o trabalho é re- como Another Brick in the Wall (Part 2).
da assim, é uma guitarra rara, com valor cheado de frases de blues no fraseado de O guitarrista entrou na década de 1980
para lá de histórico. Gilmour: “O blues é uma parte de meu com o Pink Floyd realizando uma grande
Sem uma turnê de divulgação do ál- vocabulário musical. Recebi uma gama turnê e carregando o rótulo de uma das
bum, as atenções de Gilmour foram vol- variada de educação musical, baseada no principais bandas mundo. Entretanto, o
tadas ao Pink Floyd novamente. Algo que tocava nas rádios da Inglaterra quan- desgaste entre os integrantes se agravou.
grandioso estava por vir... do eu era criança. Poderia ser John Lee Durante as sessões de gravação de The

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Wall, o tecladista foi Richard Wright foi resultou no disco duplo ao vivo Delicate tada com racks, algo bastante comum na-
demitido por Waters e retornou ao posto Sound of Thunder. Nessa fase, Gilmour quele período. Embora a banda estivesse
como músico contratado. intensificou o uso de captação ativa EMG sendo criticada por parte do público, que
Em 1983, o grupo lançou The Final em suas guitarras, especialmente na Stra- sentia falta de Waters, David Gilmour se-
Cut, considerado por muitos um álbum tocaster vermelha 1983, que se tornou guiu como um guitarrista de som único
solo de Waters. Mesmo assim, Gilmour seu instrumento principal. Também era – uma referência em timbre e bom gosto.
fez um competente trabalho de guitarra possível vê-lo usando uma Steinberger Em 1993, havia chegado o momento
e cantou Not Now John. Esse foi o último GL3T. Eram os anos 1980 em seu estado de o Pink Floyd voltar ao estúdio. O re-
material de Roger Waters com a banda puro. Sua paleta de efeitos foi incremen- sultado foi The Division Bell, lançado no
que fundou nos anos 1960.
As brigas não intimidaram Gilmour,
que, em 1984, lançou seu segundo álbum
solo, About Face. O trabalho, bem aceito
pela crítica, contou com a produção de
EquipamEntos
Bob Ezrin, além das participações de ar-
tistas conhecidos, como Steve Winwood
do mEstrE do timbrE
(Traffic), Jon Lord (Deep Purple) e o Em sua recente turnê pelo Brasil, David Gilmour trouxe, como de costume, um belo arsenal de
percussionista Ray Cooper. O material equipamentos. Confira o setup que viajou pelo país. – Guilherme Zanini
teve bastante uso de sintetizadores, uma
característica da época. Mesmo assim, a Guitarras: Fender Stratocaster “Black Caixas: WEm Super Starfinder 200 (4x12).
essência de David Gilmour estava pre- Strat” (corpo 1969, braço 1983), Gibson Les Efeitos: Electro-Harmonix Big muff, Lehle
sente, com boas canções e guitarras bem Paul Goldtop 1956 (equipada com ponte Parallel L, Electro-Harmonix Electric mistress,
colocadas. Bigsby e captação P-90) e Fender Esquire Chandler Tube Driver, BK Butler Tube Driver,
O setup do músico mudou um pouco. 1955 (com captador Seymour Duncan na Providence Chrono Delay, Free The Tone Flight
Amplificadores Mesa/Boogie e Fender fo- posição do braço). Time Digital Delay, Effectrode PC-2A Com-
ram incluídos em seu equipamento, além Violões: Gibson Western 1959 (cordas de pressor, Demeter Compulator, Origin Effects
de vários pedais Boss, como Super Over- aço, captador L.R. Baggs) e Taylor NS74 SlideRiG Compact Deluxe Compressor, Boss
drive SD-1 e distorção Heavy Metal HM- (cordas de náilon). GE-7 Equalizer, Sovtek Civil War Big muff, mXR
2. Mesmo assim, ele continuava soando Amplificadores: Hiwatt Custom de 50 wat- DDL ii, uni-Vibe, DigiTech Whammy 5, afina-
com um timbre próprio, prova de que o ts (foto), Alessandro Bluetick de 20 watts e dor Peterson Stomp Classic, seletor de linha
segredo de um som único está diretamen- Alessandro Redbone Special de 55 watts. Pete Cornish e pedal de volume Ernie Ball.
te relacionado às mãos.

No ComaNdo do PiNk Floyd


Em 1985, após brigas judiciais, Roger Wa-
ters anunciou que estava deixando o Pink
Floyd. Com isso, David Gilmour decidiu
assumir a linha de frente do grupo, que,
naquele momento, contava apenas com
ele e o baterista Nick Mason. Uma das pri-
meiras providências foi recrutar Richard
Wright novamente, mas ainda como mú-
sico contratado, já que uma cláusula legal,
imposta por Waters, não permitia que o
tecladista retornasse como membro ofi-
cial. Com repertório formado basicamen-
te por canções de Gilmour, o Pink Floyd
colocou no mercado A Momentary Lapse
Gui LH ERm E zANi Ni

of Reason, em 1987. Mesmo sem ser um


álbum de grande impacto, foi importante
por trazer o grupo novamente à tona após
um período de incertezas.
Na sequência, uma grande turnê, que

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DAV I D G ILM OUR • M ESTRE DO T I MBRE

os sHows no Brasil
durante o processo de overdose que está
passando. Um show inesquecível! – Hever-

to n n asc i m e n to

Curitiba, 14 de dezembro
Britânico típico, David Gilmour subiu ao pal-
co montado na Pedreira Paulo Leminski, em
Curitiba, um minuto antes do horário previs-
to. Com uma Gibson Les Paul Goldtop em

CAMi LA CA RA/MERCURy CO N CERTS


punhos, o guitarrista fez muita gente chorar
já nos primeiros bends que arrancou de sua
seis-cordas, em 5 A.M.. Era o prenúncio de
uma noite memorável. Na quarta música,
Wish You Were Here, o canto da plateia no
refrão foi complementado por lindas frases
executadas em um violão Gibson.
Aos poucos, a poeira começou a baixar e
o público foi se dando conta de que ali estava
David Gilmour, o músico dos solos memorá-
São Paulo, 12 de dezembro dos anos 1960, quando gravou seus primeiros veis, aquele que influenciou milhares de pes-
Em sua turnê pelo Brasil, David Gilmour reali- álbuns com o Pink Floyd, ou seja, tempo sufi- soas mundo afora. O show seguiu recheado
zou duas apresentações em São Paulo (SP), ciente de o público mergulhar em sua alma. de bons momentos, como Money, na qual
no Allianz Parque, dias 11 e 12 de setembro. O A quarta música foi Wish You Were Here, também se destacou o saxofone do brasileiro
show do lendário guitarrista é bastante visu- para delírio das dezenas de milhares de pes- João de Macedo Mello. Natural de Curitiba,
al, desde o primeiro segundo em que ele apa- soas, que cantaram a letra inteira. Durante o o jovem arrancou aplausos a cada solo que
rece com sua Fender Black Strat com corpo show, Gilmour alternou entre sua charmosa executou. O clássico álbum Dark Side of the
e escudo pretos, captadores e knobs brancos Fender Black Strat e a surrada Telecaster Moon seguiu em evidência com Us and Them.
e escala clara. Curiosidade: a correia utiliza- que aparece na contracapa de About Face Após um intervalo de 20 minutos, Gilmour
da por Gilmour, com detalhes de couro com (1984), seu segundo disco solo. voltou homenageando Syd Barrett, em Astro-
formato em “X”, pertenceu a Jimi Hendrix e foi O set list escolhido para a turnê mostrou- nomy Domine, faixa do primeiro disco do Pink
dada ao ex-Pink Floyd por sua esposa Polly -se primoroso, como comprovaram as can- Floyd, quando David ainda não era integrante
Samson, que a comprou em um leilão. Tudo ções Money, Us and Them e High Hopes. Esta da banda. Outra homenagem a Barrett veio
impressiona – elegância e tecnologia. Quan- última fecha o primeiro ato, com um maravi- logo depois, com a espetacular performance
do soa a primeira nota de 5 A.M., canção do lhoso solo de steel guitar. Após 20 minutos de Shine On You Crazy Diamond. O timbre da
novo álbum solo, Rattle That Lock, o impacto de intervalo, Astronomy Domine, dos tempos Fender Black Strat ligada nos amplificadores
sonoro é ainda maior que o visual. A clareza de Syd Barrett, abre a segunda parte – uma Hiwatt arrancou lágrimas das mais de 20 mil
de timbre, as notas certas... Um espetáculo homenagem não apenas ao grande amigo, pessoas presentes. Os tempos de The Wall
em todos os sentidos da palavra. mas a todos os fãs do Pink Floyd. foram relembrados em Run Like Hell, que
Acompanhado por uma banda excelente, Shine On You Crazy Diamond dispensa contou com uma série de efeitos multicolori-
que conta com Phil Manzanera (ex-Roxy Mu- adjetivos e, em meio a outras obras-primas, dos no palco. Entre o público, houve a distri-
sic), na guitarra base, e o brasileiro João de Gilmour tocou também Sorrow, Run Like Hell, buição de cartazes com a palavra “Run”, um
Macedo Mello, no saxofone, David Gilmour Time e Breath. O ápice foi, já no bis, Comfor- verdadeiro espetáculo dos fãs.
prosseguiu com músicas do novo trabalho – a tably Numb. A música tem um dos melhores No bis, mais clássicos do Pink Floyd: Time,
faixa-título e Face of Stone. O disco é recente, solos já registrados no rock. Ao vivo, fica tur- Breathe e Comfortably Numb, esta última
mas as composições parecem conhecidas, binado, com quase quatro minutos de dura- com uma performance arrasadora em um
porque cada uma delas reflete a alma de Gil- ção, que refletem a dor que o personagem da dos solos mais emblemáticos da história da
mour, que imprime sua marca desde o final letra, “confortavelmente anestesiado”, sente guitarra. – GuilHerme Zanini

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ano seguinte. Mesmo sem ser o registro
mais inspirado da banda inglesa, foi o
linda balada folk Fat Old Sun, que está no melhor trabalho desde The Wall. Há belas
álbum Atom Heart Mother, de 1970. Em canções, como Take It Back, High Hopes, A
Run Like Hell, ele abusou do delay. Great Day for Freedom e Lost For Words, esta
A banda de apoio também foi determi- última com envolvente trabalho de vio-
nante para que o show fosse tão intenso. lão. Nesse álbum, Gilmour abandona um
Na guitarra, Phil Manzanera demonstrou pouco os sons processados e recheados
ser um excelente escudeiro, com bases de reverb que vinha usando. Prova disso
precisas e sem excesso. Já Guy Pratt co- é a opção por guitarras com característi-
locou seu baixo “na cara”, sem tocar notas cas vintage, como uma Fender Telecaster
em excesso, mas mantendo um timbre reedição de 1952 e uma Gretsch Chet
espetacular e linhas pulsantes. Atkins. Seu amplificador principal nesse
No bis, a sequência matadora com período foi o Fender Bassman. Mesmo as-
Time, Breathe e Comfortably Numb. Dizer sim, os Hiwatt seguiam em seu set.
que os solos de Gilmour nesse final foram Após o lançamento de The Division
emocionantes é como chover no molhado, Bell, a trupe caiu na estrada para uma ba-
NAiDErON Jr

mas o registro se faz necessário. Ele é um dalada turnê, que resultou em outro dis-
mestre do talento, timbre e bom gosto. A co ao vivo, Pulse, de 1995. No repertório,
condição de ícone da guitarra não é à toa. a banda tocou os principais sucessos do
Ao som da plateia cantando “Olê, olê, passado, além de executar, na íntegra, o
olê... Gilmour, Gilmour!”, o guitarrista saiu icônico The Dark Side of the Moon.
Porto Alegre, 16 de dezembro do palco com um sorriso tímido estampa- Logo após a turnê, o Pink Floyd saiu
Assim como aconteceu nos demais shows no do em seu rosto, após todos os músicos de cena. David Gilmour envolveu-se com
Brasil, a apresentação de David Gilmour em de sua banda. Ele cumpriu a missão de projetos paralelos e participações em dis-
Porto Alegre levou uma multidão até a Arena ter emocionado milhares de fãs brasilei- cos de outros artistas, como Deuces Wild,
do Grêmio. Estima-se que 40 mil pessoas te- ros por onde passou. Sem dúvida, uma de B.B. King, e Run Devil Run, de Paul
nham assistido à performance do ídolo inglês das turnês mais marcantes que passaram McCartney, no qual gravou clássicos do
na capital gaúcha. pelo Brasil nos últimos anos. – Guilherme rock dos anos 1950. Ele participou do fa-
A pontualidade chamou novamente a Zanini moso show do ex-beatle no Cavern Club,
atenção – Gilmour subiu ao palco três minu- em Liverpool, que resultou em um DVD.
tos antes do previsto. A partir das primeiras Em 2001 e 2002, Gilmour realizou
notas de 5 A.M., o que se viu foi um show im- shows acústicos em Londres e Paris. Esse
pecável. Com poucas palavras, o guitarrista material originou o DVD In Concert. O
tratou de brindar a plateia com solos, riffs e que dá para notar nesse trabalho é um ar-
canções arrasadores. A recepção das músi- tista que prima pela riqueza das canções,
cas recentes, como Rattle That Lock, foi muito deixando um pouco de lado o aparato tec-
boa por parte da plateia. Em Wish You Were nológico que usou ao longo da carreira.
Here, a multidão soltou os pulmões, cantan- Seus instrumentos principais foram vio-
do os versos e o famoso refrão. lões Taylor e Martin e a guitarra Grets-
O set list foi o mesmo do show de Curi- ch Duo Jet. De amplificadores, Gilmour
tiba e contou com a belíssima Coming Back preferiu modelos Fender Tweed, dos anos
to Life, do álbum The Division Bell. A can- 1950, como um Deluxe e um Twin.
ção não havia sido tocada em São Paulo. Do Em 2005, o publico do Pink Floyd foi
mesmo disco, também figurou High Hopes, pego de surpresa com o anúncio do retorno
na qual Gilmour divide seu trabalho entre da formação clássica para um show no Live
vocais, violão de cordas de náilon e lap steel. 8, em Londres. Depois de mais de duas dé-
Sensacional! cadas e muitas diferenças manifestadas pu-
EDu DE ffErrAri

Depois do intervalo, uma sucessão de hits blicamente, David Gilmour, Roger Waters,
de tirar o fôlego. Em Shine On You Crazy Dia- Nick Mason e Richard Wright subiram em
mond, o coro da plateia foi emocionante. Com um mesmo palco. A performance foi trans-
violão em punhos, David Gilmour resgatou a mitida pela TV e arrancou arrepios de fãs
em todo o mundo. Esse show marcou ou-

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o est i lo d e dav id g ilm ou r

tro retorno, o da Black Strat, que não era escolha pelas “notas certas” mantêm-se grande parte, instrumental, com exceção
usada publicamente por Gilmour desde o como uma marca registrada do ícone bri- da belíssima Louder Than Words.
início da década de 1980. Para uma ocasião tânico. Aproveitando a maré boa, a Fen- As novidades não pararam por aí. Em
tão especial, ele não teve dúvida e recorreu der Custom Shop lançou uma réplica da setembro de 2015, saiu mais um registro
aos cabeçotes Hiwatt. Na pedaleira, efeitos Black Strat. Os instrumentos foram elo- solo de Gilmour, Rattle That Lock, um
clássicos, como Chandler Tube Driver e seu giados por Gilmour: “Em minha opinião, álbum excelente, que transita entre mo-
velho companheiro Big Muff. elas são tão boas quanto a minha Strato, mentos radiofônicos pulsantes, como a
Com a popularidade em alta de novo, talvez até melhores, e eu não hesitaria em faixa-título, e canções com sonoridade de
David Gilmour começou a trabalhar em usá-las em apresentações ao vivo.” jazz, como The Girl In the Yellow Dress. Foi
seu terceiro disco solo. Em 2006, saiu essa turnê que trouxe o ídolo ao Brasil no
On an Island, 22 anos depois do anterior, SurpreSaS mês passado.
About Face. Recheado de convidados de Após outro hiato, David Gilmour voltou O que nos aguarda adiante em termos
peso, como David Crosby, Graham Nash a ser notícia com o Pink Floyd. Em 2014, de David Gilmour? Difícil saber. Uma
e Willie Nelson, o álbum é um belo re- a banda anunciou o lançamento de um certeza, porém, existe: dificilmente esse
gistro, com canções muito inspiradas. Em novo disco de estúdio. No dia 10 de no- senhor fará algo de qualidade duvidosa.
2008, saiu mais um material ao vivo, Live vembro do mesmo ano, chegou às lojas Como bom britânico que é, Gilmour de-
In Gdansk. Como de costume, o guitar- The Endless River. O álbum duplo é uma monstra que o tempo passa, mas o talento
rista extraiu timbres exuberantes de suas compilação de sobras de estúdio da épo- fica. Seus solos são tão característicos que
guitarras. A economia no fraseado e a ca de The Division Bell. O material é, em ainda vão inspirar gerações de guitarristas.

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MALAGOLI
A ALTERNATIVA INTELIGENTE EM CAPTADORES!

C A P TA D O R E S. C O M . B R
Lição
O EST I LO D E
DAVID
GILMOUR
MARCOS PÓPOLO

Em dezembro, David Gilmour apresen-


tou-se pela primeira vez no Brasil. Foi um
grande presente de fim de ano para os fãs,
que puderam ver o guitarrista britânico
tocar novas composições e clássicos do
Pink Floyd, banda icônica que ele passou
a integrar a partir do segundo álbum, lan-
çado em 1968.
Ver e ouvir Gilmour de perto foi um
sonho para guitarristas de diferentes ge-
rações, inclusive para mim. Em meio ao
entusiasmo, Guitar Player Brasil decidiu
preparar uma lição especial que busca
traduzir a genialidade desse artista lendá-
rio. Tarefa desafiadora, afinal, a musicali-
dade de Gilmour transcende explicações
teóricas. Em cada exemplo, mostramos as
sutilezas do guitarrista, a fim de desper-
tar em cada leitor o interesse em observar
RENATO JACOB

que é possível fazer um banquete com


elementos simples.

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Exs. 1 e 2 Shine on You Crazy Diamond (4:19 a 4:27)
Para começar a demonstrar o modo espetacular como Gilmour explora a sonoridade da guitarra, vamos fazer uma pequena experiência.
O exemplo 1 traz uma maneira alternativa de tocar a melodia marcante de poucas notas da música Shine on You Crazy Diamond, do álbum
Wish You Were Here, do Pink Floyd. As notas escolhidas enfatizam Gm dórico – a sexta maior, E, evidencia esse modo. O exemplo traz
as mesmas notas da canção, mas executadas de modo diferente. Toque e ouça como soa.
Agora, execute o exemplo 2, que apresenta o lick original. Observe que Gilmour misturou cordas soltas e cordas presas e deixou
tudo soando, criando uma atmosfera sonora incrível. É simples e, ao mesmo tempo, perfeito, pois não há outra maneira de gerar esse
clima a não ser desse jeito. Na guitarra, notas de mesma altura se repetem em cordas diferentes. Isso não acontece no piano, por exem-
plo. Explorar os recursos peculiares ao nosso instrumento é algo que Gilmour sempre soube fazer muito bem.

Ex. 1

Ex. 2

Ex. 3 Another Brick in the Wall (Part II) (2:10 a 3:21)


O exemplo 3 mostra o solo completo de Another Brick In the Wall (Part II). O primeiro ponto a se observar é o que acontece na harmonia.
O baixo fica enfatizando a mesma nota (D) e isso dá uma ilusão de que tudo está parado, mas o teclado vai trocando os acordes no
decorrer do solo, gerando um clima incrível, totalmente modal. Quando surge o acorde de G/D, o modo dórico fica evidente, afinal, a
tríade de G maior (G, B e D) gera as tensões desse modo, principalmente por causa do B, que é uma sexta maior, seu intervalo mais
característico. Porém, a coisa muda quando surge um Bb/D. Bb é composto por Bb, D e F e, com o D no baixo como referência, essas
tensões fazem parte do modo eólio. Essas oscilações modais proporcionam sonoridades muito interessantes. Gilmour empregou a
pentatônica de Dm7 para passear por esses acordes, mas sempre incluindo as tensões modais que considerou interessantes.
Quanto à interpretação, há bends alucinantes que formam melodias a partir de uma única casa – esses bends chegam a dois tons
e meio! É o que acontece, por exemplo, no compasso 11, em que, com uma única palhetada, o guitarrista suspende a corda um tom,
depois dois tons e, em seguida, dois tons e meio, até retornar à nota original. Um impressionante controle de afinação em bends! Vale
lembrar que a rítmica é muito valorizada nesse solo, que possui um balanço funk, com bastante utilização de notas mortas e pausas.

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o Est i lo d E daVid g il m our

Ex. 4 Versão ao vivo de Comfortably Numb (8:20)


A canção Comfortably Numb, do álbum The Wall, apresenta alguns dos solos mais marcantes de David Gilmour. Na gravação original, a
música termina em fade out (diminuição de volume até o som desaparecer por completo). Faixas com esse tipo arranjo, quando exe-
cutadas ao vivo, costumam ter um novo final. Em shows, Gilmour faz um solo mais longo do que no disco de estúdio e, para chamar o
final, toca a frase do exemplo 4, que pode ser escutada na versão do disco ao vivo Pulse, por volta de 8:20. Existem várias outras versões
ao vivo em que Gilmour insere essa frase como uma chamada para o final, como na apresentação em Veneza, na Itália, em 1989. Afine
bem os bends que, ao serem tocados na segunda corda, devem produzir a mesma nota digitada na primeira corda. O vibratos são tam-
bém muito importantes e podem ser feitos com os dedos ou com alavanca.

Ex. 5 Echoes (3:48 a 4:13)


Extraído da música Echoes, do álbum Meddle, do Pink Floyd, o exemplo 5 traz um fraseado com cromatismos sobre os acordes de C#m
e A. Para produzir um som parecido com o da música, experimente palhetar mais perto da ponte, onde as cordas são mais rígidas. Isso
produz um timbre mais estalado e o resultado pode ser bem bacana.

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Ex. 6 No More Lonely Nights (2:11 a 2:27)
A canção No More Lonely Nights, do beatle Paul McCartney, conta com a participação especial de David Gilmour, que faz dois solos. O
exemplo 6 mostra o primeiro deles. O fraseado e interpretação do guitarrista evidenciam tanto sua identidade, que, logo nas notas ini-
ciais, pode-se reconhecer quem está tocando esse solo maravilhoso. Gilmour passeia pela escala de Dm, pois, com exceção de A, todos
os outros acordes são oriundos do campo harmônico de Dm. Sobre o A, acontece apenas um bend que visa a tônica, o que não evidencia
o modo utilizado. Há efeitos de modulação nesse solo. Um deles é o delay. O outro é similar a um phaser ou flanger de ondulação
discreta. Experimente os efeitos e tente chegar a um resultado próximo ao original.

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 63
o Est i lo d E david g il m our

Ex. 7 Sheep (8:06 a 8:32)


O exemplo 7 é muito interessante para entender como Gilmour explora sonoridades modais. Nesse ponto da música Sheep, do álbum
Animals, do Pink Floyd, o guitarrista explora tríades do campo harmônico de A, conforme demonstram as cifras sobre a pauta. O baixo
mantém-se tocando apenas a nota E. Dessa forma, fica claro o uso do modo mixolídio, pois E é o grau V (mixolídio) de A, o que justifica
a aplicação das tríades desse campo harmônico.

Ex. 8 Blue Light (introdução)


Gilmour sempre soube explorar efeitos eletrônicos em suas gravações e composições. Retirado da introdução da música Blue Light, do
álbum solo About Face, o guitarrista emprega delay de forma que as repetições não apenas criam ambiência sonora, mas fazem parte da
melodia e do contexto rítmico. O resultado é uma reprodução veloz de notas, mas com execução bem mais lenta. Você precisará de um
pedal de delay regulado de forma adequada. Primeiramente, coloque o volume da repetição mais ou menos no mesmo volume da nota
tocada – ataque a nota, escute a repetição e verifique se ela está equilibrada com a nota inicial. Depois, tome cuidado para que a quan-
tidade de repetições não esteja exagerada – não pode repetir mais do que três ou quatro vezes após cada toque. Nesse tipo de pedal,
esse controle costuma ser denominado “Feedback”. Por último, regule a velocidade da repetição: ligue um metrônomo, coloque-o em
andamento 160 e ajuste o pedal de modo que cada repetição alcance esse tempo junto com a batida. Com tudo pronto, toque o exemplo
com metrônomo regulado em 125 bpm. Depois que se sentir seguro, ligue o pedal. O resultado é muito legal. Isso é David Gilmour!

64 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
o Est i lo d E david g il m our

Exs. 9 e 10 On the Turning Away (3:28 a 4:53)


Os exemplos 9 e 10 encontram-se na música On the Turning Away, do disco A Momentary Lapse of Reason, do Pink Floyd. Dividimos esse
trecho do solo em duas etapas para ilustrar como Gilmour respeita e explora a dinâmica na música. O exemplo 9 ocorre em um momen-
to no qual bateria faz uma batida mais espaçada, portanto, há notas mais longas e vibratos fortes e lentos, além de bends “chorados”.
No exemplo 10, ocorre uma mudança na batida e as notas são mais curtas, com movimentos mais velozes. Há ainda notas percussivas,
que geram um balanço ritmado muito bacana.
O solo baseia-se na escala de G e na pentatônica de sua relativa, Em7, já que todos os acordes da harmonia são oriundos do campo
harmônico de G. Uma concepção simples, mas com notas escolhidas com muito bom gosto. Como sempre, o guitarrista imprime uma
interpretação ímpar. Ouça bastante para assimilar bem as ideias.

Ex. 9

66 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
o Est i lo d E david g il m our

Ex. 10

68 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
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O UNIVERSO DA
GUITARRA ROCK
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Ex. 11 Coming Back to Life (0:18 a 0:41)


Esse exemplo consiste no fraseado inicial de Coming Back to Life, do disco The Division Bell, do Pink Floyd. Gilmour utiliza a escala
de C e sua pentatônica relativa, Am7, para passear pelos acordes produzidos pelo teclado, que pertencem ao campo harmônico de C.
Quanto à interpretação, destaque mais uma vez para os bends não convencionais e vibratos intensos. Dica: após assimilar a ideia, toque
sobre a música, mas com sua guitarra sem volume. Isso fará com que você sinta seus movimentos em relação ao som. Depois de bem
sincronizado, aumente o volume, é claro!

70 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
TROQUE SUAS CORDAS

W W W. N I G M U S I C . C O M . B R
TÉO DORNELLAS NIG MUSIC: CORDAS PEDAIS BAGS FONTES
o Est i lo d E david g il m our

Ex. 12 On an Island (5:06 a 5:55)


Aqui está o solo final da canção On an Island, que se encontra em disco solo homônimo. O solo foi composto em torno da pentatônica
de Em7 e da escala menor natural de Em. Os acordes são originários desse tom, com exceção do B7, que é um dominante maior com
função de cadência V-I. Sobre esse acorde, Gilmour cita, em alguns momentos, a terça maior. No último compasso, ele toca a casa 7
na terceira corda e executa um bend de meio tom, alcançando D#, que é a terça maior de B7. Outro ponto a se observar é que o solo
possui um motivo melódico que parece uma continuação do canto da composição. Gilmour faz com que sua guitarra se encaixe na
música como um todo. Uma obra de arte.

72 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
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o Est i lo d E david g il m our

Exs. 13, 14 e 15 Dancing Right In Front Me (5:22 a 5:32), In Any Tongue (4:57 a 5:11) e Today (4:33 a 4:43)
Os últimos exemplos desta lição foram extraídos do mais recente álbum solo de David Gilmour, Rattle That Lock (2015). Nessas três
frases, é interessante observar três características essenciais ao estilo de Gilmour: bom gosto na escolha das notas, bends diferenciados
e rítmica valorizada. O objetivo da presença dessas frases na lição é que o leitor possa comparar timbre, divisão de tempo, alcance das
notas nos bends, vibratos etc. – tudo isso por meio de pequenos trechos, o que facilita a compreensão dos recursos empregados por
Gilmour.
Não deve ser o objetivo de um músico que visa compor ou improvisar tocar exatamente igual aos seus ídolos, mas é fundamental
aprender com nossos guitar heroes. Portanto, buscar reproduzir o som e interpretação de guitarristas lendários na hora do estudo é
algo muito válido. Depois, tendo absorvido os elementos valiosos que mestres como David Gilmour nos ensinam, é natural que cada
um descubra sua sonoridade e seu próprio jeito de tocar. Guitarra nas mãos e bom estudo!

74 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Pickups OS CAPTADORES DA GRIFE GUITAR PLAYER BRASIL
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Você

ESPECIFICAÇÕES
Ponte

Jaques Molina
POSIÇÃO
CONDUTORES 4
POLOS Reguláveis (parafusos
do tipo fenda)
ESPAÇAMENTO 52 mm “Já conhecia o timbre de humbuckin-
PARAFINAGEM Sim gs feitos com alnico 8 e sempre cur-
ÍMÃ Alnico 8 ti bastante, apesar de ainda serem
RESISTÊNCIA 17K raros. Idealizei a versão JM do pi-
(OHMS) ckup GP tendo em mente guitarras *Opções de cores da
TIMBRE Agressivo e encorpado Stratocaster de baixo/médio custo, versão JM: branco
INDICAÇÕES Classic rock, hard (standard) ou preto
que, em 100% dos casos, precisam
rock, prog-metal de um upgrade ao menos no pickup da
GANHO Alto ponte, para que possam produzir tim-
GRAVES 7 bres consistentes com drive. Trata-se de
MÉDIOS 7 um captador forte e agressivo, capaz de gerar
AGUDOS 8 toneladas de sustain mesmo em guitarras de madei-
PICO DE 4,80kHz ra leve. Possui médios marcantes, ideais para solos e
RESSONÂNCIA
frases, mas sem nunca soar nasalado ou comprimido
SAÍDA 400mV
demais. O alnico 8 faz toda a diferença!”

ESPECIFICAÇÕES

Henry Ho
POSIÇÃO Ponte
CONDUTORES 4
POLOS Reguláveis (parafusos
do tipo fenda) “O alnico 8 é um ímã moderno, ideal
ESPAÇAMENTO 52mm para sonoridades atuais, sobretudo
PARAFINAGEM Sim com afinações baixas. Porém, na
ÍMÃ Alnico 8 versão HH do pickup GP, procurei
RESISTÊNCIA 15K *Opções de cores da
criar um captador capaz de surpre-
(OHMS) versão HH: preto
ender os mais puristas: amantes do (standard) ou zebra
TIMBRE Graves parrudos,
rock clássico, blues, pop e outros es-
médios e agudos doces.
tilos. Trata-se de um captador ‘nervoso’,
INDICAÇÕES Classic rock, hard
mas bastante versátil.”
rock, heavy metal
GANHO Alto
GRAVES 6
MÉDIOS 4
AGUDOS 9
PICO DE 5,70kHz
RESSONÂNCIA
SAÍDA 365mV

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o Est i lo d E david g il m our

Ex. 13

Ex. 14

76 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
MODELOS 2015 B.C. RICH

BCR2 MOCKINGBIRD
CONTOUR DELUXE

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WARLOCK CORE

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Ex. 15
Testes

Tagima T-484 Jaques M o l i n a

A T-484 é uma espécie de divisora de cável dos furos de fixação das cordas na final fica por conta do belo escudo tor-
águas na história da Tagima, pois é a pri- parte traseira evidenciam a precisão que toise, que envolve o charmoso pickup de
meira guitarra fabricada totalmente por o CNC adicionou à linha de produção. braço de uma Tele típica, com capa cro-
uma monstruosa CNC, que fica dentro Graças a essa supermáquina, até mesmo mada. O instrumento veio bem ajustado
das modernas instalações da empresa. o braço possui formato impecável, com de fábrica e pronto para revelar todos os
Suas linhas gerais remetem a uma Tele- pegada firme e confortável e um shape em seus timbres, sem a necessidade de ajuste
caster Thinline, um modelo bastante icô- “C” de respeito, além de tarraxas alinha- algum.
nico e desejado, e a T-484 utiliza somente das com incrível exatidão. Os trastes são Após brincar um pouco com ela des-
madeiras nacionais em sua construção. perfeitamente instalados e polidos, com ligada, para apreciar a sutil vibe acústica
Por seu corpo ser de marupá e levemente excelente acabamento nas extremidades. que uma Thinline possui, pluguei a T-484
semiacústico, essa bela Tele brasuca tem A pestana é de osso, com 42 mm de lar- em um combo Vox Night Train e em um
peso ultraconfortável. Os contornos, en- gura e ótimo acabamento. A qualidade da Gato Preto Classics Hot Dog com caixa
caixes e até mesmo o alinhamento impe- pintura dourada é impecável e o charme Bruschi 2x12. Apesar de seu corpo de ma-

80 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j a n eiro 2 0 1 6
MODELo

Tagima T-484
CONTATO Marutec
Tel.: (11) 4343-2900
www. tagima.com.br

e S peci f ica ç õ es
largura da 42 mm
pestana
corpo Marupá
braço Marfim
escala Rosewood
comprimento 25,5”
rupá não proporcionar um timbre com o xa saída e a relação sinal/ruído fica com- de escala
mesmo ataque de um corpo de alder ou prometida em altos níveis de ganho. Mas trastes 22, vintage, medium
ash, essa madeira brasileira faz com que quem procura tal modelo certamente não captadores Dois single-coils com
a guitarra tenha um som bem musical e pretende utilizá-lo para sons extrema- ímãs de alnico
equilibrado, com agudos doces e graves mente pesados. Entretanto, para timbres controles Um knob de volume, um
generosos, ainda mais aerados que o de suaves ou um pouco mais encardidos de botão de tonalidade,
costume, em virtude da abertura em “f ”. overdrive, essa Tagima manda muito bem, chave de três posições
Os pickups garantem os timbres cle- com grande dose de personalidade sono- ponte TL Standard cromada
an clássicos oferecidos por uma dupla ra. Como a guitarra é bem construída e tarraxas Tagima, blindadas
de single-coils – com bastante definição, acabada, o modelo merece até mesmo a cordas .009-.042
graças aos ímãs de alnico. No território substituição futura de seus pickups por prós Construção precisa e
limpo, a T-484 saiu-se muitíssimo bem, outros ainda mais sofisticados, desde que ótimo acabamento.
com sons perfeitos para bases. Destaque do mesmo formato, pois o formato do Timbres clássicos de Tele,
para a posição dos dois pickups combina- escudo dificulta adaptações. Enfim, para bastante aerados devido
dos, capaz de fornecer um timbre quase vertentes como pop rock ou rock alternati- ao corpo semiacústico.
tão aveludado quanto o de um violão. vo, a T-484 é uma escolha muito atraente, Guitarra estilosa por um
Com drive, as coisas complicam um produzida com a mais alta tecnologia de preço bastante acessível.
pouco, pois os captadores possuem bai- fabricação, aqui mesmo no Brasil. contras Nenhum.

j a n eiro 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 81
Testes

Takamine
LTD2015 Renge-So
art t homPson

Para celebrar seus mais de 50 anos de múltiplos círculos, incluindo um de Em termos de tocabilidade, o Renge-
dedicados à fabricação de violões, a Taka- abalone, frisos duplos em preto e branco -So é um instrumento premium. O gene-
mine lançou o LTD2015 Renge-So, um no tampo e na parte de trás do corpo e roso braço com shape em “C” tem pegada
instrumento de edição limitada construí- friso simples branco no braço, headstock macia. Os trastes são muito bem traba-
do com corpo NEX – um shape desenvol- e encaixe do braço. O logotipo da Taka- lhados e suas extremidades suaves garan-
vido pela empresa. Com nome inspirado mine, na face frontal preta do headstock, tem fácil movimentação da mão pela es-
em uma flor que cresce na base do mon- também é de abalone. Acrescente um per- cala com friso de ébano. A regulagem de
te Takamine, no Japão, essa beleza negra feito acabamento de verniz em todas as fábrica mostrou-se excelente, com ação
apresenta maravilhosas incrustações de superfícies e o resultado é um violão que confortável e entonação perfeita em todas
abalone e madrepérola na escala e escu- chama atenção assim que você o retira de as posições. Tudo isso faz com que to-
do. Outros detalhes incluem uma roseta seu case rígido. car esse instrumento acusticamente seja

82 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
MODELO

TAkAMInE LTD2015 REnGE-SO


contato Sonotec
Tel.: (18) 3491-2022
www. sonotec.com.br

ESPECIfICAçõES
largura da 43 mm
pestana
braço Mogno
escala Ébano
comprimento 25½”
uma experiência muito prazerosa, pois opcional, como o Takamine Soundboard de escala
há volume e sustain abundantes, ótima Transducer, montado internamente. O trastes 20, médio-jumbo
resposta dinâmica – quem usa fingerstyle CTP-3 escorrega com facilidade para fora tarraxas Gotoh pretas (blindadas)
vai adorar a sensibilidade ao toque desse do corpo quando pressionamos os dois com cabeças peroladas
violão – e uma timbragem que oferece um grampos de segurança, e é assim que se corpo Top de spruce sólido, later-
som consistente sem que você precise se tem acesso às quatro pilhas AA. ais de rosewood laminado,
esforçar para obtê-lo. Plugado em um sistema de P.A. em fundo de rosewood sólido
O Renge-So é bem equipado para um recente festival ao ar livre, o Renge- ponte Ébano com saddle com-
performances ao vivo, graças ao seu pré- -So produziu um som excelente sem que pensado de duas peças
-amp CTP-3 CoolTube. Esta é a mais re- fosse necessário mexer muito nos contro- eletrônica Pré-amp CTP-3 CoolTube
cente versão de um sistema que já está les. Seu desempenho não apresentou pro- com válvula 12AU7. Pickup
no mercado há alguns anos e um de blemas de microfonia, mesmo no meio Palathetic (piezo).
seus recursos mais notáveis é a presença de uma banda que toca em alto volume controles Volume, equalização de
de uma válvula 12AU7 de dois tríodos e com os monitores de chão no máximo. três bandas (Low, Mid, Hi),
que atua em baixa voltagem para elevar O Renge-So pode passar a impressão de CoolTube Blend, Mid Fre-
o calor e o corpo do som. Um controle valorizar mais a aparência do que a per- quency, Notch, Aux Pickup
de mistura possibilita que você ajuste formance, mas não é bem assim, porque, Volume, chave de corte
a quantidade de sinal valvulado. O cir- na hora do vamos ver, o violão deu ple- de médios e agudos para
cuito também se mostra bastante efi- namente conta do recado, e com louvor. pickup opcional. Chaves
ciente para abrandar picos transientes Tanto em termos visuais como sono- Tuner, Pitch e Standby.
pontiagudos que podem ser gerados por ros, o Renge-So é um instrumento des- cordas DD’Addario EXP-16 Coated
pickups piezo. O pré-amp CTP-3 possui lumbrante, que comprova a incrível qua- de fábrica Phosphor Bronze Light
equalização de três bandas, filtro de mé- lidade e atenção aos detalhes que fizeram .012-.053
dios com controles Frequency e Notch, – e ainda fazem – da Takamine uma marca peso 2,5 kg
chave Standby com LED (para cortar o tão famosa e respeitada nesses mais de país de Japão
fabricação
sinal quando você está afinando ou du- 50 anos de vida. O Renge-So não é um
prós Tocabilidade e timbre
rante uma pausa) e um afinador cromá- instrumento barato, mas todo este refina-
imbatíveis. Visual
tico de fácil leitura. Há ainda um jack de mento vale cada centavo, e ele não tem
deslumbrante.
entrada e um controle de volume separa- como deixar de receber o prêmio Equipo
contras Nenhum.
do para adicionar um segundo captador de Ouro.

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 83
Testes

Test Drive
Landscape Energy 10
H e nry HO
de alimentação é bivolt e possui proteção
térmica, contra curtos-circuitos aciden-
tais e contra sobrecargas na entrada e sa-
ída. O produto vem acompanhado de dez
cabos com dois plugues P4, um adaptador
do tipo jack P4/plugue P2, um adaptador
de jack J4/plugue P4, 11 centímetros de
velcro adesivo, manual do usuário e certi-
ficado de garantia.
Para fixar a fonte na parte inferior da
pedaleira, utilizei o velcro adesivo e refor-
cei tudo com duas abraçadeiras de plás-
tico. É uma grande vantagem instalar a
fonte na parte de baixo, pois sobra mais
espaço na superfície e fica muito mais
fácil organizar as conexões dos cabos de
alimentação. Com relação aos cabos e
adaptadores que acompanham o produto,
são de ótima qualidade e oferecem aco-
plamento seguro.
Depois que montei a pedaleira e fixei a
fonte de alimentação, comecei a disposição
dos efeitos e ligações. Escolhi unidades
básicas com a seguinte cadeia de sinal, da
guitarra para o amplificador: afinador Boss
TU-2, EFR Little Wah, Ibanez TS10, Tom
O interesse pOr acessóriOs é imen- O sistema acomodou dez pedais compac- Tone Brown Eddie, Tom Tone Mr. Boogie,
so entre amantes das cordas e, recente- tos e a fonte de alimentação foi fixada na Boss CE-5 Chorus Ensemble, Boss DD-3
mente, recebi para teste uma fonte que parte inferior do pedalboard. As lacunas Digital Delay, Nux MD-6 Digital Delay,
está em fase de lançamento: Energy 10, entre as tiras de madeira são excelentes Boss PS-2 Pitch Shifter/Delay e footswitch
que pertence à série Energy, desenvolvi- para acomodar os cabos de interligação artesanal HH777 para o Nux MD-6.
da pela empresa nacional Landscape. São e condutores da fonte. Antes de finalizar O sistema ficou bem organizado e
nove modelos destinados à alimentação tudo, coloquei mais dois blocos de ma- a ideia de colocar a Energy 10 na parte
de unidades de efeitos. deira para reforçar a plataforma. de baixo da pedaleira foi ótima. Não tive
Decidi montar um pedalboard espe- O gabinete do modelo Energy 10 pos- problemas com ruídos, interferências ou
cialmente para a avaliação. Escolhi um sui chave liga/desliga, conexão para cabo chiados. Testei a unidade com 127 e 220
modelo de plataforma bastante peculiar: de força e dez saídas – oito conexões para volts. Em ambas as situações, a perfor-
sistema formado por tiras de madeira pa- 9 volts e duas para 18 volts. As saídas de mance mostrou-se excelente. Para avaliar
ralelas com aberturas entre elas, apoiado 18 volts estão discriminadas por conec- a conexão de 18 volts, acoplei um pedal
sobre duas placas com medidas desiguais tores vermelhos. Nas saídas de 9 volts, a Maxon OD-9 Overdrive e obtive maior
de altura, que deixaram o pedalboard le- autonomia é de 1500 miliamperes. Nas ganho e um timbre mais encorpado. Ex-
vemente angulado, com a parte inferior duas saídas de 18 volts, a autonomia é de perimentei a pedaleira durante vários
mais baixa que a parte superior. A super- 250 miliamperes. dias. Transportei-a para vários locais e até
fície superior tinha 45 x 37 centímetros e A unidade é leve, compacta (12,5 x 4,2 realizei uma miniexcursão com ela. Não
as duas placas de madeira das extremida- x 7,2 centímetros) e robusta, com gabine- ocorreu problema algum. Finalizei os tes-
des possuíam 5 x 7 centímetros de altura. te feito de aço carbono. Silenciosa, a fonte tes da mesma maneira que iniciei: tudo

84 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Pedaleira montada
para o test drive com
a Energy 10.

funcionando perfeitamente, com alta


qualidade de sinal e ausência de ruídos.
Da série Energy, o modelo 10 só perde
para o 16, que é top de linha e apresenta
seis conexões a mais. Ambas as unidades
utilizam cabos individuais para cada efei-
to, o que, em minha opinião, é mais legal
em termos de organização. Além disso,
pedaleiras com muitos efeitos costumam
apresentar chiados oriundos do compar-
tilhamento de um mesmo condutor com
vários plugues. Esse tipo de cabo não me
agrada. Com até oito pedais, creio que
não tem problema, porém, com dez uni-
dades, prefiro o cabeamento individual,
como na Energy 10.
O cabo de força que acompanha o pro-
duto é de padrão do tipo tripolar. Caso
queira deixar a chave liga/desliga aciona-
da, não há problema, pelo fato de o pro-
duto ser bivolt.
Conferi vídeos da empresa e de usu-
ários na internet em relação à unidade A Energy 10 foi fixada na parte inferior do pedalboard.
e minhas impressões coincidiram com a
opinião da maioria: a Energy possui qua-
lidade de alto nível e não deve nada a fon-
tes similares importadas. Com a alta do
dólar, é a melhor relação custo-benefício
do mercado. Em breve, encomendarei
uma para usar em minha estação de tra-
balho de guitar tech. O produto é com-
pacto, resistente e de confiança – quesitos
importantes para quem está na estrada e
suscetível a condições rígidas e, eventu-
almente, precárias. Enquanto o amigo
leitor lê este teste, é bem capaz que eu
já esteja com uma Energy 10 na estrada.
Parabéns à Landscape!

Contato Landscape
Tel.: (14) 3264-6980
www.landscapeaudio.com.br O produto vem acompanhado de dez cabos com dois plugues P4, um adaptador do tipo
jack P4/plugue P2, um adaptador de jack J4/plugue P4 e 11 centímetros de velcro adesivo.

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 85
Testes
Invasão de Boutique vídeo

Swart Space Tone Atomic Jr. S é rg i o Yaz be k

fotos : Prisc ila Yaz bek


Uma daS primeiraS providênciaS qUe Porém, depois de algumas apresentações mão e chave de ganho. O ST-Atomic Jr.
tomei quando cheguei aos Estados Uni- e muitas subidas e descidas de escada vem com uma válvula 6V6, que pode ser
dos, no início de 2014, foi comprar um (moro no terceiro andar de um prédio substituída por uma 6L6, e foi o que eu
amplificador de guitarra. Toquei no grupo sem elevador…), carregando guitarras, fiz – apesar de eu gostar muito da 6V6,
de reggae Cidade Negra por 15 anos e a pedaleira e o Boogie, que pesa 27 quilos, o amp ganha headroom com a 6L6. Além
banda costumava se apresentar em giná- cheguei à conclusão de que esse amp era disso, o modelo possui um belíssimo aca-
sios, estádios e grandes casas de shows. grande demais, tinha um som muito alto bamento de tweed, pesa apenas seis qui-
Eu podia contar com roadies e usava amps e, acima de tudo, era pesado para trans- los e mede cerca de 35 cm de altura, 33
de alta potência e caixas 4x12, mas eu sa- portar. Por mais que eu estivesse feliz e cm de largura e 19 cm de profundidade.
bia que aqui, nos EUA, seria diferente... me sentindo em casa com seu timbre, Todos os controles ficam na parte de trás:
Além de voltar a carregar meu equipamen- eu tinha de arranjar outra alternativa. chave de ganho e botões de volume, to-
to, eu tinha a noção de que, pelo menos Após algum tempo procurando, recebi um nalidade e reverb – este último, apropria-
no começo, os lugares seriam bem meno- telefonema de meu amigo Oz Hofstatter, damente chamado de “Space”. Diga-se de
res do que os que eu estava acostumado. da Austin Guitar House (www.austingui- passagem, o som que sai por trás do amp
Com isso em mente, após passar algum tarhouse.com). Ele disse para eu passar é muito interessante e musical, talvez tão
tempo adquirindo informações sobre no- na loja, pois tinha recebido um amp de 5 especial quanto o que sai pela frente, po-
vas marcas de equipamentos e revendo as watts que queria que eu experimentasse. dendo ser usado sozinho ou misturado
que eu já conhecia, bati o martelo em um O amp era um Swart Space Tone Ato- com o timbre do falante.
combo 1x12 de 30 watts, com uma chave mic Jr., que possui um dos reverbs mais Eu já havia ouvido falar da Swart, mas
que possibilita a redução da potência para lindos que já ouvi. Assim que pluguei nunca tinha tocado com um. O ST-Ato-
15 ou 5 watts. Excelente amplificador, o uma Strato nele, soube que minha pro- mic Jr. baseia-se nos Fender tweed dos
Mesa/Boogie Lone Star Special é uma má- cura havia acabado. Que som! Cheio, anos 1950, mas vai além, oferecendo um
quina e, apesar de ser um modelo diferen- detalhado e extremamente dinâmico. Ele som superdetalhado e complexo, com um
te, é da mesma marca dos amplificadores apresenta um alto-falante Weber de 8”, envolvente reverb valvulado.
que usei praticamente desde que come- circuito 100% valvulado com retificador Impossível parar de tocar, especialmen-
cei a tocar, ou seja, eu estava em casa! valvulado, fiação ponto-a-ponto feita à te guitarras com single-coils de baixa saí-

86 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
da, que soaram maravilhosos. Deixando o um overdrive para saturar mais. Sempre
volume entre as posições “8 horas” e “11 elogiam o som de minha guitarra depois
horas”, obtive incríveis timbres limpos das gigs. Quem não conhece a marca fica
com minha Strato. A partir de “meio-dia”, impressionado com o timbre que sai de
começaram a surgir os sons saturados. um amp tão pequeno. Nos Estados Uni-
Usando pickups de saída mais alta ou hum- dos, tenho tocado os mais variados estilos,
buckers, é quase impossível conseguir um como funk, soul, reggae e rock e o Atomic
som totalmente limpo, mas a saturação é me atende com perfeição em todos eles.
maravilhosa. A canção Rocky Mountain Way, Depois que me tornei usuário e fã des-
de Joe Walsh, sempre me vem à cabeça se fabricante, testei os modelos maiores.
quando plugo minha Les Paul no Atomic. Também soaram fantásticos. Alguns amps
Junto com o Swart, comprei um bom mi- da grife apresentam trêmolo, que, assim
crofone e um bom cabo de microfone e, como o reverb, soa sensacional – o melhor
assim, tenho usado esse pequeno amp em que já ouvi.
todas as minhas gigs, das pequenas (sem Comparando o preço com outros amps
microfonar) às de porte médio, desde que o dessa categoria, os Swart são bem compe-
lugar ou a banda tenha um sistema de P.A. titivos. Um ST-Atomic Jr. novo custa em
e monitoração decentes. Com seus 5 wat- torno de 1.150 dólares. O meu, comprei
ts, o Atomic trabalha no máximo o tempo seminovo, por 850 dólares. Não é barato, mais online
todo – é assim que se extrai o que há de me- mas, para um amp tão inspirador e que
lhor dos amps valvulados. Uso o Swart no me faz soar e tocar melhor, faço minhas as guitarplayer.com.br
limite do crunch, o que seria impossível de palavras de Mr. Pete Townshend na canção
fazer com amps maiores. Com isso, o som Bargain, do The Who: “I’d call it a bargain. » Ouça o Swart Space Tone
Atomic Jr. em ação.
da guitarra sempre vem rico e repleto de The best I ever had. The best I ever had.”
harmônicos. Quando quero ir além, plugo Contato: www.swartamps.com

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 87
Guitarrices Henry Ho
Dicas da Estrada
Gig de Emergência? Esteja Preparado!
Já pensou na possibilidade de ser tuno. Já me chamaram várias vezes em sem restrições quando a requisição for re-
recrutado agora mesmo para uma gig? tais condições e, nesta edição, darei as lacionada ao que você sabe fazer. Se você
O celular toca e a voz do outro lado diz: dicas para encarar o desafio. é um técnico overall – que sabe da técnica
“Precisamos de um técnico de guitar- Caso você tenha sido indicado por ou- de cordas, teclados e bateria –, então tudo
ra para esta noite.” Não se trata de algo tra pessoa, já existe uma referência, mas bem! Aproveite a oportunidade!
corriqueiro, mas pode acontecer e é uma evite trabalhar fora de sua especialidade. Quanto ao cachê, que é a grande dú-
oportunidade de ouro para ganhar mais Se você é guitar tech, cuide das cordas e vida de muitos, depende de muitas va-
visibilidade e, quem sabe, um cachê opor- não atue na bateria. Encare a empreitada riáveis. O fato de ter sido chamado em
caráter de urgência é um aditivo? Sem dú-
vida. A quantidade de horas de trabalho e
o número de integrantes dos quais você
irá cuidar também são elementos deter-
minantes. É bom ter uma base de remu-
neração definida. Fale com amigos técni-
cos que costumam atuar com artistas e
também com técnicos de backline. Estes
Workstation principal últimos possuem um cachê médio muito
de guitar tech. coerente para trabalhos de urgência.
Quando a verba da produção ou da
própria banda é restrita, julgue se vale a
pena. Se o evento ou banda acrescenta em
seu currículo, vá em frente! Já fiz técnica
com orçamento reduzido em emergên-
cias, mas fui chamado novamente depois,
ou seja, valeu a pena! O fato de fazer no-
vos contatos e conhecer profissionais di-
ferentes amplia o leque de possibilidades
em um futuro próximo.
Não deixe de pedir os dados da em-
presa promotora e o contato do tour ma-
nager da banda. Em geral, eles requerem
uma espécie de ordem de serviço com
tudo discriminado. Deixe um modelo
previamente pronto.
Para ilustrar melhor, vou contar uma
situação que aconteceu comigo. Recebi
uma ligação pelo celular, fechei o cachê
com a produção e pedi facilidade de aces-
so no local. Era para atender uma banda
gringa em um festival com várias atra-
ções. Convocado às pressas, deixei minha
escola de luteria na parte da manhã e fui
correndo para minha casa buscar minha
Workstation reserva, similar à principal. Guitar boat com as guitarras de Keb’ Mo’.
mala de ferramentas, um guitar boat e

88 G U i Ta r P L a Y e r . C o M . B r | j a n e i r o 2 0 1 6
Guitar boat de Yngwie Guitarras de Steve Vai. Depósito de cases de
Malmsteen em um festival. equipamentos.

alguns cabos longos. Tenho duas malas detalhe. A empresa responsável pelo ba- flexíveis e adaptáveis.
de ferramentas idênticas. Uma fica sem- ckline não costuma disponibilizar equi- Depois da passagem de som, confira se
pre comigo e a outra, em meu estúdio. pamentos ou acessórios não requeridos. o equipamento está armazenado e organi-
Quando uma delas está desarrumada ou Se você está atendendo uma situação zado no backstage de maneira segura e com
acabou de voltar de uma gig, levo a ou- emergencial, terá sempre de pensar rápido facilidade de acesso – prontos para os pre-
tra. Pode parecer exagero, mas nem sem- e improvisar. Se não sabe nada sobre o ar- parativos técnicos que antecedem o show.
pre temos tempo para arrumar as coisas. tista ou banda, use a tecnologia. Enquanto Voltando ao meu exemplo, fui de táxi
Eventualmente, termino uma turnê e, estou me dirigindo ao local, já vou escu- ao festival e consegui estudar muita coisa
sem pausa, começo outra. tando músicas do grupo e desvendando pelo celular. Tive a sorte de chegar antes
Duas malas similares me salvam. O minúcias em relação a timbres, afinação e da montagem do backline sobre os pra-
que levo dentro delas? Uma estrutura outros detalhes. Deu uma passadinha em ticáveis. Lembra-se do input list enviado
para sobrevivência em shows. Consigo casa para pegar as coisas? Aproveite para pelo promotor do show para meu celular?
realizar desde o trivial até operações mais ver rapidinho um vídeo ao vivo e descobrir Eram quatro canais de guitarra com qua-
complexas, como nivelamento e troca de qual o layout dos músicos no palco. Além tro microfones. Ainda bem que dei uma
trastes, parte elétrica, adaptação de har- disso, peça a quem te recrutou o rider da espiada no vídeo quando passei em casa,
dware e reparos inesperados, como que- banda com o mapa de palco e o input list. pois descobri como os guitarristas posi-
bra de headstock. Em trabalhos urgentes, receber arquivos cionam o par de microfones ao vivo. Pude
Guitar boat é uma estante organizado- pelo celular é o mais comum. deixar tudo no lugar durante a montagem
ra de instrumentos. Possui divisões que E quando não temos nenhuma infor- do backline e aproveitei para realizar um
podem ser para poucas ou muitas guitar- mação ou tempo para pesquisar? Não checkline provisório na própria área do
ras. É a maneira ideal para acondicionar tem muito jeito: chegue ao local, colete backstage. As guitarras e efeitos já esta-
os instrumentos em standby. E os cabos os dados com os músicos e siga as orien- vam lá e fiz as conexões de acordo com
longos? Em festivais, o palco costuma ser tações. Não improvise em demasia. Faça as orientações do técnico de monitor – o
grande e convidativo para os integrantes o que a banda pede. Só mude seu proce- único técnico que a banda trouxe.
correrem e se espalharem. Transporto co- dimento se tiver certeza absoluta de que Como acertar o volume e os timbres?
migo pelo menos três cabos compridos. será melhor para todos, mas, ainda assim, Minha receita é simples: toco como se fos-
Nem sempre guitarristas levam cabos – às obtenha o aval dos músicos. Em festivais, se para mim, baseado no conceito e estilo
vezes, se esquecem ou nem pensam nesse exigências técnicas tendem a ficar mais da banda. Já trabalhei muito como técnico

j a n e i r o 2 0 1 6 | G U i Ta r P L a Y e r . C o M . B r 89
Mesa de trabalho de um guitar tech. Cabeçote reserva em standby, para
qualquer eventualidade.

de backline para artistas variados e em lo-


cais diferentes, portanto, memorizei uma
vasta biblioteca de ajustes em diversos ti-
pos de aparelhos, em todo tipo de palco.
Estudar a regulagem dos amplificadores
dos ídolos é uma boa dica. A internet é
uma fonte inesgotável de informações.
Aproveite ao máximo! Quanto aos tim-
bres, não faço firulas. Deixo a equalização
bem equilibrada e o acerto final fica por
conta do músico. Estude bastante os tipos
de conexão entre efeitos e amplificadores.
No que diz respeito ao backline, deixe o
Pesquise sobre regulagens de equipamentos dos guitarristas,
equipamento reserva por perto – de prefe- principalmente amplificadores.
rência, na parte de trás dos amplificadores
principais. Outra dica: coloque as peda-
leiras, cabos, pedalboards e multiefeitos
sobre os praticáveis – os mesmos dos am-
plificadores. Quando movimentarem os
praticáveis para a passagem de som, basta
transferir os pedais para a posição mais
adequada no piso. Dessa maneira, você ga-
nha tempo e não precisa buscar os efeitos
no backstage e depois posicioná-los.
Aproveitar o espaço dos praticáveis
significa ganhar tempo, poupar energia
física e melhorar a mobilidade do equipa-
mento e do técnico. Minha mala de fer-
ramentas e meu guitar boat geralmente
são posicionados sobre cases rígidos com
rodinhas da empresa de backline. Estude o layout de palco de vários artistas.
Quanto aos instrumentos, cheque
tudo e pergunte aos guitarristas se existe ambos fazem os vocais de apoio, a che- de ler o texto da edição anterior, no qual
alguma coisa que não esteja bem – algo cagem de altura define a regulagem dos falei sobre checklist. Na próxima edição,
que pode melhorar. Aproveite a conversa pedestais de microfones para voz. não perca a segunda parte desta série, so-
e cheque a altura dos músicos. Se um ou Se você curtiu esta coluna, não deixe bre o momento da passagem de som.

90 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Guitarrices André Martins
NOVAS FRONTEIRAS SONORAS
Que Som é Esse? (parte 2)
No mês aNterior, vimos como um
som acontece, se movimenta e é perce-
bido pelos ouvidos humanos. Agora, va-
mos falar sobre o som propriamente dito.
Quando você pluga sua guitarra em um
sistema de amplificação e efeitos sonoros,
o que está acontecendo nesse processo?
Por exemplo, quantos e quais captadores
você tem em sua guitarra? Quais cordas
(tipo e espessura) você usa? Vai tocar
com os dedos ou palheta? Com unha ou
sem unha? Palhetas heavy ou bem fini-
nhas? Como estão regulados os controles
de volume e tonalidade da guitarra? Estas
são apenas algumas perguntas a serem
respondidas antes de fazer ajustes e tocar.
Sempre digo a mesma coisa a todos
que me perguntam como tirar um bom
som da guitarra: comece simples. Parece
óbvio, mas a realidade mostra-se exa- O som da guitarra é complexo e viaja Pegue o jogo de cordas, mas ainda não
tamente o contrário. O fato é que, hoje por dezenas de caminhos, circuitos, pro- o coloque no instrumento. Plugue a gui-
em dia, dada a enorme e diversificada cessamentos e decodificações até chegar tarra no canal limpo de seu amplificador.
quantidade de softwares, aplicativos, pe- a seus ouvidos. No mês passado, falei, É importante que seja um canal limpo de
daleiras, pedais, acessórios, amplificado- de forma resumida, sobre a onda sonora verdade, sem nenhum tipo de saturação,
res, caixas, alto-falantes etc., optar por e como o som é formado e propagado. overdrive ou distorção. Abra todos os
pouco equipamento na hora de começar Agora, faremos um exercício mais práti- controles de volume e tonalidade do ins-
a criar seu timbre de guitarra é cada vez co, que será muito proveitoso para o en- trumento e deixe os controles de equali-
mais difícil e trabalhoso. tendimento das próximas colunas. Para zação de seu amplificador exatamente na
Antes de tudo, você deve tomar uma que esse exercício funcione e tenha um metade. Alguns modelos de amp traba-
decisão que será muito importante não bom resultado, faça com calma e siga os lham com acumulação e retirada em sen-
apenas para a concepção e construção de passos que mostrarei. A boa notícia é que tidos opostos, enquanto outros somente
seu som, mas, provavelmente, também você não precisa comprar nenhum novo adicionam graves, médios e agudos. Por
influenciará toda sua carreira musical equipamento. Você só necessita de sua ora, não importa o modelo de que você
e artística: você quer ser você mesmo, guitarra, um jogo de cordas novas (da dispõe, mas, sim, entendê-lo de forma
construir algo único e original, ou pre- marca e tipo que você já usa), sua palheta ampla e completa.
fere ter um som parecido com o de outra preferida e seu amplificador. Tudo o que Se seu amplificador tiver reverb embu-
pessoa, assemelhar-se a fulano ou beltra- vou sugerir é muito simples, mas, se você tido, deixe-o no zero. Não é hora de colo-
no? “Ah, claro que quero ser eu mesmo!” se concentrar e mudar sua mente e, prin- rir o timbre com nada – utilize apenas o
será a resposta instantânea da maioria. cipalmente, seus ouvidos, dando total sinal direto de seu instrumento. Deixe a
Mas será que é isso mesmo que você está atenção a esses exercícios, poderá criar chave de captadores no captador da pon-
buscando? Na verdade, grande parte dos um cenário propício para uma melhor te, o mais agudo. Agora, toque notas sim-
músicos, em especial os mais jovens, compreensão do timbre de sua guitarra e, ples, sem vibrato ou muita articulação,
gosta de equipamentos consagrados e consequentemente, ter maior base de co- e ouça o som produzido pelo amp. Aos
emprega tecnologia digital para emular nhecimento para confecção de um timbre poucos, tente escutar as diferenças do
sons considerados vintage. vigoroso e original. Mãos à obra! som entre as regiões mais graves e mais

92 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
agudas. Toque notas longas e ouça os har- você definiria um som “brilhante”? A
mônicos que resultam desses ataques. sustentação é maior? Ao tocar notas
Faça algumas perguntas mentalmente. longas e espaçadas, você consegue ouvir
Quais outras notas consigo ouvir a par- mais ou menos harmônicos?
tir da nota fundamental originalmente Em seguida, regule os controles –
tocada? Qual região tem mais brilho? um de cada vez! – de seu instrumento.
Quais regiões e tessituras possuem mais Primeiro, o knob de tonalidade. Analise
sustentação? O som dessas notas é encor- seu papel em cada captador. Onde está
pado? Que adjetivos, como gordo, magro, o ponto de corte? Como você defini-
grande, espalhado, opaco, seco etc., você ria o som com esse botão no mínimo?
atribuiria a essas notas? Qual a sua preferência: aberto, fechado
Após escutar esses sons e pensar um ou por volta da metade? Depois, passe
pouco, toque um mesmo grupo de três ou para o botão de volume. O que muda se
quatro notas e deixe-as com a maior sus- você diminuir o ganho do instrumento
tentação possível. Bem devagar, vá mudan- e mantiver o volume no amplificador?
do a chave dos captadores. Sua guitarra irá O som torna-se mais aveludado? Como
obedecer a uma das duas opções mais di- eu poderia descrever esse conceito se
fundidas para o instrumento: um conjunto precisar explicá-lo a um amigo(a)? Na
de captadores single-coil (bobinas sim- sequência, mexa nas regulagens de gra-
ples) com chaveamento de cinco posições ves, médios e agudos de seu amplifica-
ou um par de pickups humbucker (bobina dor – um controle de cada vez. Ouça as
dupla) com seletor de três posições. Pro- diferenças. Há mais ruído quando você
cure tocar o mais parecido possível cada altera alguma frequência em particular?
vez que mudar a chave e preste atenção Como você pode definir essas mudan-
nas qualidades citadas acima para cada ças? O que te agrada e o que te desagra-
uma das seleções de captadores. Pergunte- da nessas alterações?
-se: O que muda? Como posso definir a Creio que você entendeu a ideia. É
diferença de cada pickup? O que acontece um exercício de paciência e de extremo
quando há apenas um único captador li- autoconhecimento musical e sonoro. Se
gado e quando há dois (ou mais) pickups você desenvolver a calma – e a coragem!
ligados ao mesmo tempo? Se você possui – para realizar esse exercício, não irá se
uma chave push-pull para dividir as bobi- arrepender! Sugiro que faça anotações e
nas de um captador específico, utilize-a pense a respeito do que conseguiu iden-
nesse processo. O que foi alterado? tificar. Encontre nomes e sinônimos para
Procure não responder de pronto, com os sons diferentes que for obtendo. Es-
respostas padronizadas que você leu ou queça as regras de marketing e o que a
ouviu em algum lugar. Esqueça tudo o que indústria tenta vender a você. Ouça os
você já escutou falar sobre captadores de sons e procure identificá-los, confrontá-
bobina simples ou dupla, desta ou daquela -los, analisá-los e compará-los. Mês que
marca. Deixe de lado qualquer definição vem, continuarei com outros exercícios
prévia. A intenção aqui é escutar o som interessantes. Até lá!
real de seu instrumento, entendê-lo da
forma mais plena possível e comparar as André Martins é mestre em música pela
diferentes opções que sua guitarra oferece. USP. Graduado em guitarra pelo LA College
Após completar essa etapa, troque as of Music, nos Estados Unidos, e em Artes pela
cordas da guitarra, afine-as e repita todo UMESP. Trabalhou com Frank Gambale e já
o processo, com paciência e calma. O que lançou três CDs instrumentais, além de livros
mudou? Como você definiria a diferença didáticos e videoaula. Para conhecer mais o
entre o som antes e depois da substitui- trabalho e entrar em contato com o guitarrista,
ção das cordas? Há mais brilho? Como acesse o site www.andremartins.com.br.
VÍDEO

Harmonia Para Todos Aula



2

Tríades Maiores,
Menores e Inversões
POR MOZART MELLO
ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO: FERNANDO TAVARES

OLÁ, GUITAR PLAYERS! TUDO EM PAZ? VAMOS PARA NOSSA SE- uma tríade de C (C, E, G) são C/E e C/G. As inversões de uma tríade de
gunda aula de harmonia, lembrando que o curso está dividido em três Cm (C, Eb, G) são Cm/Eb e Cm/G.
turmas diferentes: A, B e C. Lembre-se: é importante sempre raciocinar e nunca decorar! Se-
guindo essa ideia, a tríade de A contém as notas A (tônica), C# (terça)
TURMA A e E (quinta). Já a tríade de Am possui A (tônica), C (terça menor) e
Observe o quadro 1, que traz a escala de C maior. Quando iniciamos E (quinta). A Fig. 1 mostra as tríades de A e Am – e suas respectivas
essa escala pela nota A, obtemos o quadro 2, que mostra a escala inversões –, de acordo com os modelos do sistema CAGED (que vimos
de A menor. na aula 1, na edição anterior).
Assim, chegamos às tríades maiores (T, 3 e 5) e tríades menores (T, Lição de casa: Toque a seguinte sequência de acordes: II A E/G# I
b3 e 5). Quando formamos um acorde com a terça (3 ou b3) ou a quin- F#m I D A/C# I Bm E II. Observação: dê uma espiada na lição da turma
ta (5) no baixo, ele é chamado de “inversão”. Portanto, as inversões de B, mesmo que você tenha dúvidas.

Quadro 1

C D E F G A B
ESCALA DE C MAIOR
Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si
TRÍADE MAIOR PADRÃO T 3 5
Terça Quinta
Tônica
Maior Justa

Da tônica para a terça = dois tons; da terça para a quinta = um tom e meio

Quadro 2

A B C D E F G
ESCALA DE A MENOR
Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol
TRÍADE MENOR PADRÃO T b3 5
Terça Quinta
Tônica
Maior Justa

Da tônica para a terça menor = um tom e meio; da terça para a quinta = dois tons

94 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
Fig. 1

MAIs OnLInE

guitarplayer.com.br
» Assista aos vídeos desta
aula com Mozart Mello.

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 95
Turma B
Chegou o momento de você transformar suas tríades abertas e fechadas (veja aula 1, na edição anterior) em tríades menores, incluindo suas in-
versões. Não é preciso decorar nada. Pratique com calma todas as tríades (abertas e fechadas) de D (D, F#, A) e Dm (D, F, A), mostradas na Fig. 2.
Realize o mesmo procedimento nos outros modelos. Na Fig. 3, veja alguns exemplos para a tríade aberta de D.
Lição de casa: Pensando no campo harmônico de A maior – formado pelos acordes de A (I), Bm (II), C#m (III), D (IV), E (V), F#m (VI), G#m(b5)
(VII) –, pratique a seguinte sequência com tríades fechadas em grupos de três cordas (Fig. 4): II A E I F#m I D A I Bm E II.
Depois, treine a mesma sequência, mas utilizando tríades abertas em uma mesma região ou próxima (Fig. 5). Pode-se usar qualquer inversão.

Fig. 2

Fig. 3

Fig. 4

96 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Fig. 5

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 97
Turma C
Observe os campos harmônicos de C e [Cmaj7, Dm7, Em7, Fmaj7, G7, Am7 e Bm7(b5)] e Cm melódico [Cm(maj7), Dm7, Ebmaj7(#5), F7, G7, Am7(b5)
e B7alt]. Comparando-os, pode-se notar as seguintes características:
- A única diferença entre ambos está nas notas E (campo de C) e Eb (Cm melódico).
- As notas comuns formam duas tríades: F e G (assista também aos vídeos das primeiras aulas das turmas A e C, disponibilizados no canal de
Guitar Player no YouTube).
Vamos separar acordes e modos muito importantes e juntá-los com essas tríades. Lembra-se dos conceitos estruturais da primeira aula? Você
precisa saber esses acordes nas cinco regiões (CAGED), de preferência que se adequem ao seu estilo de tocar. Como exemplo, a Fig. 6 traz os acordes
de B7alt (também mostrado na primeira aula) e Am7(b5) (lócrio 9). Agora, faça essa junção para “os seus” Fmaj7 (lídio), F7 (mixo #4) e Dm7 (dórico).
Aproveitando que estamos com foco no campo harmônico de Cm melódico, veja outra ideia para B7alt (T, b9, #9, 3, b5, #5, 7). Todos os acordes
do campo ajudam a resolver em um Emaj7-E7-Em7 (Fig. 7). Estes acordes estão relacionados ao alt7. Esse assunto (V-I) será estudado de forma de-
talhada em outras aulas. Lembre-se de que as lições de cada turma possuem vídeo específico no canal de Guitar Player no YouTube. Abraços a todos!

Fig. 6

98 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Fig. 7

Mozart Mello é uma verdadei-


ra instituição em se tratando de
ensino de guitarra. Ajudou na
formação musical de diferentes
gerações de guitarristas e já
lançou 11 publicações didáticas.
Durante seus 40 anos de estra-
da, tocou e gravou com inúme-
ros artistas, dos mais variados
estilos. Nos anos 1970, integrou
a banda de rock progressivo
Terreno Baldio. Na década de
1980, fez parte do lendário trio
de violões D’Alma. Desde 1988,
dedica-se a sua carreira solo.
Em 1998, foi eleito por Guitar
Player Brasil um dos dez me-
lhores guitarristas do país.

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 99
Lições
Total Blues
Tatiana Pará é bacharel em guitarra
pela FAAM desde 2003. Leciona em
seu home studio e pela internet.
Integra a banda Crats (cratsmusic.

Derek Trucks
com.br), que lançou recentemente
seu primeiro álbum instrumental.
Atua também como freelancer,
acompanhando artistas e bandas.
tatianapara.com
TATIANA PARÁ

DEREK TRUCKS COMEÇOU A TOCAR GUITARRA AOS NOVE ANOS utiliza, basicamente, a pentatônica de D maior e a escala de D maior.
de idade e, desde então, estudou incansavelmente para transformar seu O importante para soar bem tocando slide é usar a mão direita (ou
talento natural em incrível musicalidade. Seu tio, Butch Trucks, foi bateris- esquerda, para os canhotos) para abafar as notas que sobram, afinar
ta do Allman Brothers e, apesar de Derek não ter convivido com a banda bem as notas e escolher um slide confortável.
quando pequeno, uma de suas principais influências foi Duane Allman, Comece o Ex. 1 fazendo as oitavas vibrarem bastante. Abafe um
guitarrista original do grupo. Trucks também escutou bastante Elmore Ja- pouco as cordas com a mão direita antes de tocar a nota seguinte, para
mes, ou seja, ele foi influenciado por dois dos maiores guitarristas de slide que uma não soe sobre a outra. No breque da banda, capriche na rítmica
da história. Assim, desenvolveu um estilo próprio, versátil e sofisticado. e timing da frase, que são essenciais para dar a intenção de Derek.
Em 1999, quando tinha apenas 20 anos de idade, Derek Trucks No Ex. 2, o guitarrista inicia a melodia do refrão com muito feeling.
entrou no Allman Brothers e permaneceu na banda até 2014. Ele Capriche na afinação do intervalo de meio tom entre a nota F (blue
também tocou com Eric Clapton, Herbie Hancock, Bob Dylan, Buddy note, terça menor) e F# (terça maior). Essa frase é repetida duas vezes,
Guy, Willie Nelson, B.B. King e outros grandes nomes da música. mas com uma terminação diferente, como uma resposta.
Atualmente, ele se dedica à Tedeschi Trucks Band, ao lado de sua O Ex. 3 traz o mesmo motivo do exemplo 2, transposto uma oitava
esposa, a cantora e guitarrista Susan Tedeschi. acima e com finalização diferente. Fique atento às notas que devem
Os exemplos desta lição foram retirados da música Days Is Almost ser atacadas pela mão direita, pois a maioria delas são apenas ligadas
Gone, do álbum Already Free, lançado pela The Derek Trucks Band por meio do slide, e isso faz muita diferença para a dinâmica da frase.
em 2009. Apesar de a estrutura e harmonia não serem tradicionais de Trucks executa uma linda passagem no Ex. 4, na qual ele adiciona
blues, Derek transpira esse gênero em tudo o que toca. notas-chave à harmonia. Sobre o acorde de E7(b9), ele toca as notas F
Antes de começar, afine a guitarra em E aberto (do agudo ao grave): (segunda menor) e G (segunda aumentada). Sobre o acorde de Asus,
E, B, G#, E, B, E. A música está na tonalidade de D maior e Derek Trucks a nota D forma um intervalo de quarta justa e define o acorde sus.

Afinação E aberto

Ex. 1 Ex. 2

100 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
Ex. 3 Ex. 4

Gypsy Jazz
Mauro Albert é compositor e guitarrista de jazz
manouche. Tem oito álbuns instrumentais
lançados, sendo quatro dedicados ao gypsy
jazz. É um dos artistas do selo Hot Club

La Pompe Lenta
Records, referência mundial no estilo.
Realiza workshops direcionados ao jazz
cigano e a Django Reinhardt. Faz shows
com o M. Albert Quartet Jazz Manouche.
mauroalbert.com
MAURO A LBE RT

NA AULA DA EDIÇÃO ANTERIOR, ABORDAMOS OS RITMOS LA POMPE dos tempos do compasso. Consiste em aumentar a duração dos tem-
direta e la pompe manouche. Nesta lição, vamos estudar dois outros ti- pos 1 e 3 e, consequentemente, diminuir a duração dos tempos 2 e 4.
pos de la pompe: lenta e lenta com variação. Os exemplos apresentam Trata-se de uma variação dinâmica e sutil.
progressões simples, com desenhos de acordes à la Django Reinhardt. O Ex. 3 traz um aquecimento para nosso próximo assunto: arpejos
Na la pompe lenta (Ex. 1), o acorde é tocado por completo, sem e palhetadas. Separei um exercício sobre uma sequência em Am. Se-
divisão com os baixos. A palhetada é para baixo nos quatro tempos. guindo o “conceito Django”, os acordes são aproximados por intervalos
A escolha dos shapes dos acordes faz grande diferença na la pompe de meio tom na tríade do acorde. Essa aproximação gera um sotaque
lenta, principalmente em relação ao timbre. característico da linguagem do jazz manouche. Boas palhetadas e até
A variação sobre la pompe lenta (Ex. 2) acontece na acentuação a próxima edição!

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 101
Lições
Ex. 1

Afinação padrão

Ex. 2

Afinação padrão

Ex. 3
Afinação padrão

102 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
Vertentes Do Rock Wesley “Lély” Caesar ensina
guitarra desde 1981. Fundou e
coordenou o primeiro IG&T, em

Surf Music
1987. É autor de vários métodos
didáticos e videoaulas. Leciona
no Conservatório Souza Lima,
em São Paulo, desde 1997.
wesleycaesar.com
WESL E Y “L É LY ” CA ESA R

CHEGOU A HORA DE INICIAR UMA NOVA SÉRIE DE LIÇÕES, DESTA de quartas justas sobre o acorde de Am, finalizando com double-stops
vez dedicadas exclusivamente a solos. Vamos destacar os aspectos em terças sobre o acorde de D. O lick 2 se inicia no compasso 3, no
mais importantes dessa prática que consagrou vários heróis da guitarra. acorde de F, sobre o qual aplico o modo dórico de Dm. No compas-
Para começar, aqui está um solo de oito compassos na tonalidade so seguinte, há uma sequência de notas dentro da escala tonal sobre
de Am eólio (A, B, C, D, E, F, G), extraído do livro O Universo da Guitarra o acorde de G. O compasso 5 traz novamente intervalos de terça em
Rock - Vol. 1 (Melody Editora), de minha autoria. A vibe é de surf mu- double-stops.
sic, vertente do rock que mistura elementos do rock and roll, rockabilly, O lick 3 (compasso 6) é formado por notas palhetadas em tremolo
jump blues e country music. de semicolcheia, sobre os acordes de F e G. Para finalizar, o lick 4 co-
A surf music surgiu no início dos anos 1960, liderada por artistas meça com um bend de meio tom seguido de um arpejo de Am.
norte-americanos, como The Beach Boys, Dick Dale e The Ventures, e A linha harmônica desse solo é semelhante à da música Apache,
ingleses, como The Shadows. No Brasil, destacou-se o grupo The Jor- gravada pelos Shadows em 1960. A guitarra na surf music caracteriza-
dans, formado em 1958 pelo lendário guitarrista Aladdin e seus com- -se pelo vibrato de alavanca e efeito de reverb.
panheiros. Após executar o solo lick por lick, ouça o playback e tente reproduzi-
Para assimilar o solo com mais facilidade, eu o dividi em frases. O -lo. Procure criar seus próprios solos seguindo os princípios aqui apre-
lick 1 começa em anacruse, seguida de notas executadas em intervalos sentados. Até a próxima aula!

Lick 1

Lick 2

Lick 3 Lick 4

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 103
Lições

Violão Bossa Ricardo Giuffrida é

João Donato (parte 2)


guitarrista, violonista
e compositor.
Realiza workshops e shows.
ricardogiuffrida.com

RICARDO G IU FFR I DA

NA LIÇÃO DESTE MÊS, VAMOS DAR CONTINUIDADE AO ESTUDO (C), sobre C7(9). No Ex. 3 (compasso 21 até o final), as notas Bb, C e A
do tema A Rã, do pianista e compositor João Donato. Na edição ante- (pertencentes à escala de G dórico) aparecem sobre os acordes de Bbm7
rior, abordei o acompanhamento da canção. Chegou a hora de apren- e Eb7(9), nos compassos 21 e 22. Essas notas mencionam as escalas de
der a melodia. Bb dórico, Bb menor melódica e Eb lídio dominante, respectivamente.
Antes de iniciar, escute o tema na íntegra para perceber como a me- Nos compassos 23 e 24, as notas A e Bb são executadas sobre o
lodia só faz sentido quando sobreposta à harmonia. O tema é constru- clichê “jobiniano” A7(13)-A7(b13)-Dsus-D7(b9), o que valoriza mais o
ído com um único motivo rítmico (Ex. 1), que se baseia no modo de G movimento harmônico do que o melódico. Nos compassos 25 e 26, A e
dórico. A re-harmonização de A Rã demonstra toda a genialidade de Bb são tocados sobre os acordes de B7M e Bm6, portanto, representam
João Donato. Utilizando notas da escala de G dórico, o músico explora graus das escalas de Bb maior e Bb menor melódica.
clichês harmônicos, mas sem resoluções convencionais. Nos compassos 29 e 30, A e Bb são utilizados sobre a progressão
Nos compassos 9 a 20 (Ex. 2), observe a aplicação da escala de G G7(13)-G7(b13)-Csus-C7(b9), que apresenta uma resolução inespera-
dórico, sobre o acorde de Gm7, e de seu modo mixolídio correspondente da no acorde de D7M, seguido de D7(5#), dominante de Gm7.

Afinação Standard

Ex. 1

Afinação Standard

Ex. 2

104 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
Ex. 3

j A n E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 105
Lições
Improvisação No Jazz Homero Bittencourt é músico
profissional e professor.
Realiza workshops e

Pat Martino
deve lançar em breve seu
primeiro CD instrumental
de jazz fusion.
fb.com/homerobittencourt
homero@hbaguitar.com
H OME RO BIT T EN COU RT

COM TÉCNICA INSPIRADORA, PROFUNDO LIRISMO E FLUXOS DE Evidence) (1968) e Desperado (1970). Essas gravações estabeleceram
notas com ataque belíssimo e poderoso, Pat Martino é um verdadeiro Martino como um importante artista da cena do jazz. Pela Muse Records,
herói da guitarra. Encorajado por seu pai a ouvir nomes como Wes Mon- o guitarrista gravou álbuns incríveis, como Live! (1972), Consciousness
tgomery, Johnny Smith e Les Paul, ele começou a tocar guitarra quando (1974), Exit (1976), entre outros. Com a Warner Bros., Martino registrou
tinha 12 anos e abandonou a escola aos 15 para pegar a estrada com duas incursões pelo fusion: Starbright (1976) e Joyous Lake (1977).
o organista de jazz Charles Earland. Martino foi também sideman do A arte da improvisação sempre foi uma das principais áreas de
saxofonista Willis Jackson e do tecladista Don Patterson, o que o levou exploração de Pat Martino. Nesta lição, mostro quatro passagens do
a conhecer Richard “Groove” Holmes e Brother Jack McDuff. mestre, para que aqueles que não estejam familiarizados com seu esti-
Mais tarde, Martino assinou contrato com a gravadora Prestige e gra- lo entendam sua articulação e fraseologia. O Ex. 1 traz uma frase sobre
vou El Hombre (1967), seu primeiro disco solo. Outros ótimos lançamen- II-V-I, na tonalidade de Bb maior. O Ex. 2 acontece sobre o acorde de
tos viriam depois, como Strings! (1967), East! (1968), Baiyina (The Clear Gm7. Os Exs. 3 e 4 ocorrem sobre o acorde de Cm7.
Ex. 1

Ex. 2

106 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
Ex. 3

Ex. 4

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Lições
Solos de Rock Mr. Fabian é guitarrista e compositor.
Graduado pela EM&T. Professor de
guitarra e violão no Instituto de
Música Guitarisma, em Bauru (SP).

Richie Sambora
Atualmente, dedica-se a seu trabalho-
solo instrumental. Em 2010, lançou o
álbum Solo Guitar Vol. 1.
mrfabian.com.br

MR. FA BIA N

O NORTE-AMERICANO RICHIE SAMBORA NASCEU EM 1959 E, DES- Richie Sambora tornou-se famoso pelas bases consistentes, melo-
de os 15 anos de idade, integrou diversos grupos, como Rebel, The Mercy, dias de bom gosto e solos marcantes que criou no Bon Jovi, uma das
Duque Williams & the Extremes, Richie Sambora & Friends, The Next, mais bem-sucedidas bandas da história. Em seu estilo, pode-se perce-
entre outros. Sambora cursou faculdade de psicologia por dois anos e ber a influência de Jimi Hendrix, Eric Clapton, Led Zeppelin e The Beatles.
costumava participar de disputas de bandas de garagem na universidade. O solo desta lição foi extraído da música Livin’ On a Prayer, do Bon Jovi.
Antes de estourar com o Bon Jovi, Sambora excursionou com Joe A canção está na tonalidade de Em e a harmonia é simples – Em (Im), C
Cocker e chegou a realizar um teste para ser membro do Kiss. Ele tam- (bVI) e D (bVII) –, mas traz uma forte ideia melódica dentro do modo me-
bém tocou no álbum Lessons, com a banda Message, lançado em CD nor eólio do tom (1, 2, b3, 4, 5, b6, b7). O segredo do solo é a interpretação,
pela Long Island Records, em 1995. ou seja, trabalhe muito bem a pegada, os bends e os vibratos.

108 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
Guitar Player Convida
Nesta aula especial, um músico convidado pela GP
divide seus conhecimentos com os leitores. Este mês,
o guitarrista Rafa Schüler, de Caxias do Sul (RS), VÍDEO
explica a técnica que ele chama de “#3Nail”.

#3Nail Rafa Schuler é formado pela LAMA (Los


Angeles Music Academy) desde 1998. Atua
como professor e integra a banda Estado
das Coisas, que, em 2014, lançou o

Technique (parte 1)
segundo DVD do projeto Rock de Galpão,
Volume II - Ao Vivo nas Missões.
Em 2015, o guitarrista colocou no
mercado seu primeiro álbum instrumental,
Rafa Schüler & Os Mostardas.
RAFA SCH ULE R

A #3NAIL É UMA TÉCNICA QUE VENHO DESENVOLVENDO HÁ AL- direita. Toque a primeira corda (E) solta em semínimas (100 bpm), co-
gum tempo. Consiste em, no lugar da palheta, usar as unhas dos dedos meçando pelo dedo indicador e prosseguindo com os dedos médio e
indicador, médio e anelar da mão direita (ou esquerda, para os canho- anelar, sempre nessa ordem.
tos) no ataque às cordas. Esse recurso proporciona uma sonoridade No Ex. 2, a ideia é tocar em colcheias, mas, para ter certeza de es-
única, diferente e muito bacana. tar executando a colcheia com perfeição, dobre o tempo e execute em
No processo de aprimoramento dessa técnica, fui obrigado a formatar semínimas. Faça a mesma coisa: primeira corda solta em semínimas,
um cronograma de estudo conforme as necessidades se apresentavam, mas, agora, com andamento de 200 bpm.
visto que era algo novo para mim. Tive de pensar em diversos pontos, des- Como são três ataques de mão direita, o passo seguinte é execu-
de posicionamento da mão direita, timbre, interpretação e pegada até o tar em tercina de colcheia em 100 bpm, ainda na primeira corda, como
entendimento da questão fisiológica e caminhos que eu poderia tomar. ilustra o Ex. 3.
Nessa primeira parte da aula, mostro esse processo exatamente No Ex. 4, utilize um dedo da mão da escala para fazer pull-off e
como aconteceu – os primeiros cinco passos. Depois, veio a utilização hammer-on, combinados com os três ataques da mão direita. Trata-se
das seis cordas da guitarra, tanto separadas como passando de uma de uma quintina (cinco notas por tempo). As coisas começam a ficar
para outra. Na segunda parte, que será publicada na próxima edição, interessantes, pois novas possibilidades se apresentam. Ajuste o me-
mostrarei licks que desenvolvi com a #3Nail. trônomo em 100 bpm e ataque a primeira corda em semínimas.
Minha dica para adquirir precisão de tempo na troca dos dedos e garan- O passo seguinte é usar dois dedos da mão esquerda, que fazem
tir uma boa execução, com pegada certeira, é repetir 40 vezes cada exem- dois pull-offs e um hammer-on, juntamente com os três ataques da
plo sem errar. Em seguida, eleve o andamento e repita o procedimento. mão direita (Ex. 5). Note que o estamos tocando em sextina de semi-
O Ex. 1 inicia o processo de ajuste da mão junto ao corpo da guitarra, colcheia (seis notas por tempo). Utilize metrônomo em 100 bpm e ata-
além de desenvolver precisão de tempo na troca dos dedos da mão que em semínimas. Divirta-se!

Afinação Standard

Ex. 1

Ex. 2

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 109
Lições
Ex. 3

Ex. 4

Ex. 5

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110 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | J A N E I R O 2 0 1 6
Para enriquecer ainda mais minhas colunas mensais sobre country, convidei guitarristas brasileiros especializados
no assunto para compartilhar seu conhecimento com os leitores. Este mês, Guto Vighi aborda um assunto muito
importante no country: técnica de banjo rolls. Boa aula! – F L ÁV I O G U TO K

Flávio Gutok é músico profissional. Trabalha com workshops e gravações. Com o primeiro livro de country lançado no
Brasil e uma videoaula, vem divulgando a guitarra country por todo o país. Lançou o CD Country Rock em 2010.
flaviogutok@terra.com.br

Country Rock
Power Chords Guitarrista profissional há 20 anos, Guto Vighi é
sideman e professor, além de desenvolver trabalho
próprio. Nos últimos dez anos, vem atuando

e Banjo Rolls
com frequência no circuito brasileiro de música
country, o que faz dele um especialista no gênero.
Seu segundo CD instrumental, que se baseia nessa
linguagem, está em fase de gravação.
gutovighi.com.br

GUTO VIG HI

GUITARRISTAS DE COUNTRY GOSTAM DA IDEIA DE EMULAR A exercício, as notas na corda E devem ser tocadas com a palheta, as da
sonoridade do banjo de bluegrass. Nesta lição, vou abordar uma forma corda A com o dedo médio e as da corda D com o dedo anelar. Obser-
de mudar a vibe de uma base tocada com power chords, para que ela ve que um hammer-on entre as notas A e B aparece duas vezes. Esse
passe a ter uma sonoridade mais voltada ao country. mesmo padrão é utilizado nos demais compassos. Se você usa dedeira
No bluegrass, o banjo não executa acordes de forma convencional, (thumbpick), como é o meu caso, utilize os dedos indicador e médio
mas faz progressões chamadas de “rolls”, em que se toca uma nota para fazer os rolls.
por vez, como uma espécie de arpejo, gerando um som característico. Esse padrão é montado dentro da estrutura de um power chord, por-
O exercício mostrado aqui consiste em um padrão de dedilhado que tanto, a ideia é, sempre que for conveniente, substituir a execução con-
se repete a cada compasso. Para que o estudo se torne mais agradável, vencional de power chord por um roll. Esse recurso funciona em vários
montei uma base com estrutura tradicional de blues de 12 compassos, andamentos, do lento ao rápido, e em diferentes progressões harmô-
slow change, na tonalidade de E. nicas. Além disso, pode ser aplicado em outros estilos, não apenas no
Para obter a sonoridade desejada, o padrão deve ser executado country. Use o exercício como base para desenvolver seus próprios pa-
com técnica de chicken picking. Considerando o primeiro compasso do drões. Assista ao vídeo desta lição no site de Guitar Player. Divirta-se!

J A N E I R O 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 111
Lições

112 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
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Transcrição
Sometimes I Feel Like Screaming,
do Deep Purple
al e xa ndRe spi ga

após a saída de Ritchie BlackmoRe mesmo tempo, não se torne cansativa.


da banda, em 1993, durante a turnê do Entre os compassos 29 e 36, a melodia
álbum The Battle Rages On..., o Deep é tocada com harmônicos naturais. Para
Purple chamou o guitarrista Joe Satriani produzir esses harmônicos, encoste o
para honrar os compromissos que falta- dedo indicador da mão da palheta sobre
vam. Após o término da excursão, Satch o traste indicado na nota entre parênte-
foi convidado para entrar no grupo, mas, ses e, simultaneamente, ataque com a pa-
educadamente, recusou o convite, pois lheta, que deve ser segurada pelos dedos
sua carreira solo estava caminhando mui- polegar e médio. A mão da escala digita
a melodia de Sometimes I Feel Like
to bem. Foi então que o Purple recrutou as mesmas notas, mas uma oitava abaixo.
Screaming gruda na cabeça e jamais
ninguém menos que Steve Morse, reno- Pratique devagar para conseguir uma boa se torna cansativa, graças às variações
mado guitarrista que já havia tocado com coordenação entre as duas mãos. empregadas por steve morse.
Dixie Dregs e Kansas, além de também Nos versos, assimile primeiro as for-
ter uma carreira solo de respeito. mações dos acordes e, em seguida, ouça
Em 1996, foi lançado o disco Purpen- com atenção para entender os padrões sica e você verá que o guitarrista nunca
dicular, o primeiro da fase com Morse. O rítmicos e as acentuações. A partitura é realiza o mesmo solo.
trabalho evidencia um novo direciona- sempre um bom guia, inclusive na parte Um detalhe interessante é que o acor-
mento na sonoridade da banda, que ab- rítmica, mas, nessa música, não há ne- de de G maior está fora da tonalidade de
sorveu as influências do guitarrista, mas cessidade de tocar nota por nota – o mais Dm e, quando ele aparece, Morse explo-
sem deixar de lado seu estilo clássico. Re- importante é tocar com suingue e fluidez. ra dois recursos: ou ele enfatiza notas da
sultado: um álbum ousado e com muita É importante também deixar os acordes tríade (G, B, D), como no compasso 91,
inspiração, que trouxe novos ares para a soarem o máximo possível. ou executa longas corridas ascendentes
banda. Os destaques são as faixas Vavoom: Os refrãos nunca são tocados da mes- (típicas de seu estilo) pela escala de G
Ted the Mechanic, Hey Cisco e a transcrição ma maneira. A cada repetição aparecem mixolídio (quinto grau do campo harmô-
deste mês, Sometimes I Feel Like Screaming. pequenas novas frases e variações, apesar nico de C maior), como nos compassos
A música está na tonalidade de Dm e foi de a estrutura e os acordes serem sempre 83 e 87. Preste muita atenção na afinação
composta a partir da melodia que se en- os mesmos. Ouça cada refrão com aten- dos bends e nos vibratos. Pratique sepa-
contra nos oito primeiros compassos. Essa ção para compreender essas variações. radamente as frases que você julgar mais
melodia aparece várias vezes ao longo da O solo começa no compasso 76 e é difíceis e, depois, junte-as com o restante
música, sempre com alguma variação in- bastante melódico, exigindo bastante pre- do solo. Até a próxima!
teressante. Nos primeiros compassos, ela cisão. Alguns momentos demandam bas-
é feita de maneira mais intimista, com vio- tante treino e paciência. O solo acontece mais online
lão de cordas de aço. Em outros momen- sobre a harmônia principal da música:
tos, ela aparece com guitarra distorcida e Dm-Bb / C-Am / Bb-C / G. A tonalidade é guitarplayer.com.br
harmônicos. Na parte final, é executada Dm e Morse varia entre as escalas penta-
em três tonalidades diferentes. A melodia tônica (D, F, G, A, C) e natural (D, E, F, G, » Veja o Deep Purple
nunca é repetida nota por nota – Morse a A, Bb, C), sempre com muita naturalidade tocando Sometimes I Feel
Like Screaming ao vivo.
reinterpreta de diversas maneiras, fazendo e sem se prender a licks predeterminados.
com que grude na cabeça do ouvinte e, ao Assista a alguns vídeos ao vivo dessa mú-

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Transcrição
So me t i meS i Fe e l lik e Scream i ng • De ep purple

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Transcrição
So me t i meS i Fe e l lik e Scream i ng • De ep purple

118 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
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Transcrição
So me t i meS i Fe e l lik e Scream i ng • De ep purple

120 G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R | j A n E I R O 2 0 1 6
LETRAS ADICIONAIS

VERSO 4
Yet again, I'm missing you
Won't be long, I'm coming home
Until that distant time, I'll be moving on
I'll be moving on.

j a n eiro 2 0 1 6 | G U I TA R P L A Y E R . C O M . B R 121
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j a n e i r o 2 0 1 6 | G U I TAR P L A Y ER . C O M . B R 127
Blog do Kiko Loureiro
Cuspir sangue, alfabeto
e ConsistênCia
Quem já foi a um show do Kiss
ou viu algum vídeo dos quatro mascara-
dos, seja em 1975, 1984 ou 2015, sabe
que, em algum momento, o demonía-
co baixista Gene Simmons vai esticar a
língua pontuda para fora, cuspir sangue
de faz-de-conta e, enquanto ele bate nas
cordas do baixo distorcido e todo respin-
gado de líquido vermelho cenográfico, a
fumaça do gelo seco começa a subir sob
seus pés, criando, assim, uma imagem
fantástica, assustadora e infernal, que fica
na memória de todos que já presenciaram
uma apresentação da banda em seus mais
de 40 anos de estrada.
Quando adolescente, aprendi a impor-
tância do abecê de uma forma meio empí-
rica – desenvolvi o hábito de tentar sem-
pre melhorar em meus estudos e treinos.
Agora, estou aprendendo o abecê nova-
mente, em uma nova perspectiva. Como
dizia Gonzaguinha, nada melhor do que
“a beleza de ser um eterno aprendiz” –
buscar evolução constante, melhorar um
pouquinho cada dia, reconhecer os erros, amigo guitarrista, sabe que, para tocar di- que não funciona, corrigir os erros e obter
corrigi-los e eliminá-los. reito, o abecê nos treinos das escalas, arpe- segurança para que surja a improvisação
A oportunidade de tocar no Megade- jos e fraseados é lei suprema. Estudo diá- do momento, e que ela seja tão boa que
th e estar cercado de profissionais de al- rio e repetitivo deve acontecer por alguns se torne também constante. Dessa for-
tíssimo nível tem colocado à prova meu anos até o resultado surgir. A partir daí, é ma, a execução e performance produzem
padrão de exigência, que desenvolvi em improvisar e criar situações interessantes, a espiral da excelência, geram momentos
ambiente tupiniquim. Até aqui, eu achava tendo a sedimentação e controle das ferra- memoráveis, criam mitos e cenas que
que esse padrão era bom, pois, inúmeras mentas musicais na ponta dos dedos. passam por gerações. Sem falhas, sem
vezes, fui o chato da rodinha por reclamar Porém, quando chega a hora dos sho- erros... esse é o grande objetivo, mesmo
do nosso “ah, já está bom” e abominar ws, eventos, produções e espetáculos, pa- que, quase vovô, você tenha de se fanta-
o “no final, tudo vai dar certo”. Por um rece que nos acomodamos com o abecê siar de belzebu com asas de morcego e
lado, sinto-me confortado, pois vejo que que fizemos no instrumento e subimos cuspir sangue de mentira.
não estava tão errado em minhas chati- ao palco apenas para curtir. Esquecemos
ces, mas, por outro, fico preocupado, pois que, da mesma forma, podemos aplicar a mais online
vejo que esse é apenas o padrão, o pré-re- métrica, constância, repetição e métodos
quisito, o feijão com arroz em outros ter- em todo e qualquer passo dentro dos di- guitarplayer.com.br
ritórios. Sendo assim, tenho de trabalhar versos microeventos que ocorrem em um
» Não deixe de visitar meu
e me desenvolver mais como profissional show. Desde antes de sair de casa até o blog no site Guitar Player.
se quiser me manter onde estou. retorno ao lar, a busca por implementar a Você pode sugerir temas para
O abecê americano, “always be cons- perfeição é diária. esta coluna pelo e-mail
info@kikoloureiro.com.br.
tant” (seja sempre constante), é o que te- Ser constante em tudo nos dá a opor-
» Siga-me também no Twitter.
nho reaprendido por aqui. Você, meu caro tunidade de perceber o que funciona e o

128 G U i Ta R P l a Y e R . C o m . B R | j a n e i R o 2 0 1 6
TROQUE SUAS CORDAS

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S Y D N E I C A R VA L H O NIG MUSIC: CORDAS PEDAIS BAGS FONTES
Guitar player BraSil janeiro 2016 • david gilmour g u i T a r P l a Y e r .C o m .B r
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