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DIVISÕES NA IGREJA
A rejeição do caráter autoritativo da Escritura como norma divina
da conduta cristã, um sinal do fim dos tempos.

Pr Odilon Mendonça, Th. M.


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“... As obras da carne são manifestas, as quais são: ... discórdias, dissensões,
facções...” (Gl 5.20, NVI, grifos nossos). Ou “as coisas que a natureza humana produz
são bem conhecidas. Elas são:... as inimizades, as brigas, as ciumeiras... a ambição
egoísta, a desunião, as divisões, as invejas...” (NTLH, grifos nossos).

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá
homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos... ingratos... sem afeto natural,
irreconciliáveis... sem amor para com os bons, traidores, obstinados... mais amigos dos
deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia
dela. Destes afasta-te (2Tm 3.1-5, grifos nossos).

“ Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e


idolatria...” (1Sm 15.23).
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ÍNDICE

INTRODUÇÃO GERAL

Primeira parte

Capítulo 1: ................................................................................... p. 9

VISÃO PANORÂMICA DO TEMA

Introdução a este capítulo

Aspectos da divisão

1. Entendendo a divisão
2. A divisão política
3. A divisão social e econômica
4. A divisão eclesial
5. Divisão, obra da carne
6. Pastor não é sacerdote

Conclusão deste capítulo

Capítulo 2: ................................................................................. p. 26

BÍBLIA: ÚNICA REGRA DA FÉ E NORMA DA CONDUTA CRISTÃ

Introdução a este capítulo


A Bíblia é de origem divina e eterna
A Bíblia é autoritária
A Bíblia é autoritativa
A rejeição do caráter autoritativo da Escritura
Conclusão deste capítulo

Segunda parte

Capítulo 3: ................................................................................. p. 36

A REBELIÃO DIVISIONISTA E A BÍBLIA

Introdução a este capítulo


4

Textos bíblicos

Exegese e comentários

Texto 1 (1Sm 15.22-26)

Texto 2 (Jr 23.1-4)

Texto 3 (Ez 34.1-11,27,30,31)

Texto 4 (Gl 5.19-21; 6.5,8)

Texto 5 (1Pd 5.3)

Texto 6 (Jd 16,19)

Texto 7 (Mt 24.12; Rm 13.10; 2Tm 3.2)

Texto 8 (Rm 16.17)

Recomendações apostólicas

“Notai o tal” (Rm 16.17a; 2Ts 3.14);


“Desviai-vos deles” (Rm 16.17b);
“Não vós mistureis com eles” (2Ts 3.14);
“Destes afasta-te” (2Tm 3.5);
“Conservai-vos a vós mesmos” (Jd 21).
Conclusão deste capítulo

Capítulo 4: ................................................................................. p. 51

A DIVISÃO E O ESTATUTO DA IEADA

Introdução a este capítulo

O estatuto da igreja e a divisão

a) Sobre a admissão de membros


b) Sobre os deveres dos membros
c) Sobre a disciplina dos divisionistas

CONCLUSÃO FINAL ................................................................ p. 62


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INTRODUÇÃO GERAL

A Bíblia nunca recomenda a divisão, pelo contrário, ordena a


união, a ordem, a decência, o ardente amor, etc. A vergonhosa crise
de constante divisão de igrejas é a maior prova da rejeição desses
líderes da todo-eficiência e suficiência autoritativa da Escritura
Sagrada em matéria de conduta cristã.

Deveria ser vista pelos crentes como um crime, porque esse


pecado merece essa consideração. O problema está afeto
diretamente ao ministério da igreja, ao clero, então podemos concluir
que a doença espiritual que a atinge é gravíssima e começa no
púlpito, na liderança. Não é difícil entender isso.

Com toda certeza podemos dizer que essa rejeição da


autoridade da Escritura como Manual de conduta é o caminho da
apostasia. É então que se estabelece a ‘distância entre o discurso e
a prática’, atualmente.

Pouca coisa desanima e desacredita mais do que ver isso em


um pastor; pregar e não viver. Isso deixou até “o Príncipe da paz”
indignado: “ai de vós escribas e fariseus, condutores cegos, que
dizem e não praticam. Serpentes, raça de víboras! Hipócritas. Como
escapareis da condenação do inferno?” (cf. Mt 23.3,13,16,24,27,33).

Que Deus tenha misericórdia de todos nós que pregamos o


evangelho; que nunca venhamos nos comportar como o faziam os
fariseus.

Não é correto darmos outros conceitos ou sentidos para as


palavras rebelião, rebelado, rebelde, divisão, cisão, etc., como os
rebeldes de hoje fazem. A rebelião é um pecado característico do fim
dos tempos, como bem dissera o apóstolo Paulo sobre “os tempos
trabalhosos” dos últimos dias em 1Tm 3.

Ele menciona “os traidores, os amantes de si mesmos, os


avarentos, os ingratos, os atrevidos, os obstinados, os
irreconciliáveis, os desobedientes...” (vv.1-4). Estes são alguns dos
tantos adjetivos que marcam os rebeldes dos tempos finais.
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Porém, lembre-se que a rebelião foi o pecado do Querubim


Lúcifer, ainda no Céu; ele promoveu uma rebelião contra a soberania
divina e conseguiu levar consigo um grupo de anjos, de tal maneira
que a partir daí a classe angelical ficou dividida em dois grupos: maus
e bons, e ele luta permanentemente com os homens para leva-los a
se rebelarem contra Deus, contra as autoridades por Ele
constituídas, desprezando assim, Suas Instruções sagradas.

Lembre-se que existe a Igreja, Corpo de Cristo, e existe uma


paródia dessa Igreja, é a “igreja (?) corpo do diabo”, constituída dos
rebeldes (anjos maus e pecadores não regenerados), como bem
ensinou o Senhor Jesus Cristo: “o joio”, que são “os filhos do maligno”
(id.v.38b; Jo 8.44), que também têm líderes; são eles os “falsos
apóstolos, os obreiros fraudulentos” (2Co 22.13), os “falsos irmãos”
(Gl 2.4; 2Co 11.26), que “causam divisões” (Jd 19).

Satanás, vivo e ativo no planeta, parece ter a rebelião como sua


principal missão no universo como ser decaído. Na sociedade – o
exemplo das divisões de classes, das castas, das discriminações, da
pecaminosa má distribuição de rendas – na política com guerras e
mortes, na economia com riquezas injustas, e miseráveis famintos a
mendigar. Os ricos se rebelam contra a equidade moral e a justiça, e
os ambos, ricos e pobres, contra a vida e a honestidade.

O certo e o errado estão na Bíblia, não compete aos humanos


defini-los; esse é papel do Ser Eterno, Deus e, Ele o fez de modo
claro na Bíblia. Ele determinou que seria certo a união do seu povo
numa só fé, num só batismo, numa só doutrina... (Ef 4.4-6; Sl 133) e
seria errado a discórdia, a divisão, o desamor... A união da Igreja está
ilustrada na união da Trindade divina (Jo 17).

A divisão não promove o bem, não contribui para a glória de


Deus, nem para o engrandecimento do seu reino. A divisão promove
o escândalo, interrompe o crescimento, prejudica sensivelmente as
ovelhas na sua caminhada.

Resolvi escrever esse trabalho visando ajudar ao rebanho do


Senhor devido aos muitos casos de constantes divisões de igrejas
em todo o Brasil. Os crentes não seguem a homens, mas a Cristo.
Não tenciono lançar objurgatória nem aumentar ainda mais o peso
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de consciência dos irmãos rebelados. Se conseguir o intento


desejado, inclusive se algum divisionista lendo estas linhas, se
arrependerem de tanto mal que tem causado às ovelhas a quem
deveriam apascentar e não assanha-las, dividi-las, faze-las tropeçar,
estarei com isso satisfeito.

Dividi este escrito em quatro capítulos cada capítulo com uma


pequena introdução explicando o objetivo do respectivo capítulo, e
uma conclusão finalizando a argumentação daquele capítulo,
interligando-o ao próximo capítulo. No primeiro capítulo, tencionamos
dar ao leitor uma visão geral sobre os vários aspectos do tema
‘divisão’, desde o aspecto político, social, econômico... e,
principalmente o aspecto eclesial, que é o motivo deste trabalho.

O segundo capítulo sobre nossa única regra da fé e prática (a


Bíblia), intentamos deixar o leitor precavido sobre possíveis desvios
de líderes que abandonam os sagrados ensinos da Escritura para
fazer prevalecer seus próprios desejos e pensamentos, se valendo
da amizade e da confiança dos seus liderados. É um tipo de traição
da confiança com engenhosas explicações.

O terceiro capítulo aborda a essência do tema, mostrando as


sutis artimanhas de Satanás em enganar pastores em nome de um
direito que eles equivocadamente pensam ter, e de uma injustiça que
imaginam ser vítima. Esses argumentos são comuns em
praticamente todos os divisionitas.

Visando convencer, fizemos pequenas exegeses de textos


bíblicos e tecemos comentários coadjuvados também por
comentários de abalizados e respeitáveis exegetas bíblicos.
E o quarto capítulo mostramos a importância das leis
estatutárias para o devido funcionamento da igreja como corpo social
em países democráticos e qual a posição da cisão e dos divisionistas
perante estas leis estatutárias.

Assim que convido o prezado leitor a examinar este estudo sem


ideias preconcebidas, sem sentimentalismo exacerbado em favor
deste e em desfavor daquele, pois, o errado é errado sem ou com
seguidores. Despido de opinião pessoal, mas somente com o desejo
firme de entender e se submeter aos ensinos bíblicos e fazer a
8

vontade de Deus expressa na Bíblia, o nosso Manual, vamos ao que


nos interessa.

Em tempo: A Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Anápolis


(IEADA), é chamada também só de ‘Igreja de Anápolis’. O Estatuto
da Igreja de Anápolis é chamado ‘Nossas Leis’, e existe ainda o seu
Regulamento Interno (RI). Existe também o Estatuto da Convenção
Internacional da Assembleia de Deus (de Anápolis) (CIAD).

Capítulo 1

VISÃO PANORÂMICA DO TEMA


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“Filho meu, Se os pecadores com blandícias te quiserem tentar, não consintas” (Pv 1.10).

“... Levantai os vossos olhos, e vede as terras...” (Jo 4.35)

“A vida só pode ser entendida olhando-se para trás, mas só pode


ser vivida olhando-se para frente” (a. d.)

Introdução a este capítulo

‘Visão panorâmica’ quer dizer, visão global ou geral do assunto,


grande extensão que se avista de uma eminência, como se o
espectador estivesse de cima de uma montanha contemplando tudo
lá em baixo.
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Nossa intenção, nesse capítulo, é mostrar os ângulos


abrangentes do estudo em curso. Cada um dos quatro capítulos em
que está divido nossa pesquisa, revelará uma face do tema visando
dar ao leitor, um entendimento mais geral e completo dessa crise que
tem atingido o púlpito evangélico moderno.

Não se trata de uma defesa de ofensas pessoais, pois divisão


de igreja atinge e prejudica o ministério dos pastores vítimas da
divisão, mas quase sempre não se trata de questão pessoal, da parte
da vítima. Se trata, sim, de questão pessoal da parte do agente ativo
da divisão.

Falaremos dos aspectos da divisão, da natureza divisionista


própria do coração não regenerado, como bem profetizou Ezequiel
prometendo um novo “coração não dividido” (Ez 11.19, NVI).
Falaremos, embora de modo passageiro, sobre as divisões políticas,
sociais, econômicas que provam a maldade da natureza
pecaminosa, também das divisões eclesiais, as menos esperadas.

Falaremos dos tipos de autoridade, com destaque para a


autoridade delegada e condicional do pastor, enquanto homem de
Deus. Tudo isso num esforço de mostrar bíblica e didaticamente que
as ovelhas têm necessidade de pastores que as guiem no caminho
certo, rumo a Cristo, em santificação ascendente e progressiva.
Quem está em posição de liderança na igreja não pode jamais
decepcionar a ovelha sem trágicas consequências pessoais.

O Senhor ama sobremodo as suas ovelhas que são “o rebanho


de Deus, a Sua herança” (1Pd 5.2,3). Escandalizar um só dos
pequeninos dEle é cometer suicídio (Mt 18.6,7; 26.24).

Aspectos da divisão

1. Entendendo a divisão. Dividir é partir, desunir, pôr em


discórdia, desviar-se, estabelecer desavença entre, separar, apartar,
dispersar esforços em detrimento de um interesse comum. O divisor
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é o agente ativo da divisão, da rebelião. É o rebelde ativo, o causador


da divisão.

A rebelião é uma sublevação, uma revolução, uma


desobediência a Deus e/ou a autoridade constituída. O rebelde é o
que não se sujeita às leis, às autoridades, é o revoltoso, o
insubmisso. O que quebra as ordens, então por extensão é o
desordeiro.
A recomendação bíblica é no sentido de que não “haja divisão
entre vós” (1Co 1.10). Que “não haja divisão no corpo”, da
congregação local (1Co 12.25; 11.18). Deus abomina a divisão entre
o seu povo. A prova disso é que recomenda a união constantemente
em sua Palavra.
Por exemplo, o Salmo 133 descreve a união com uma beleza de
poesia: “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em
união” (v.1). No hebraico esse “vivam em união” significa que os
irmãos “morem juntos”.

Reprovando a desunião na igreja de Corinto, Paulo pergunta


respondendo sarcasticamente: “Está Cristo dividido?” (1Co 3.13).
Jesus foi bem claro aos fariseus: “todo reino dividido contra si mesmo
não subsistirá” (Mt 12.25). Sobre a separação (divisão) de casais
com o divórcio, Jesus disse: “O que Deus uniu não separe o homem”
(Mt 19.6).
Para melhor compreensão do nosso estudo, vejamos a posição
da Bíblia em relação autoridades e os dois principais tipos de
autoridades.

a) Autoridade humana. Quando a autoridade é legitimamente


constituída, mesmo sendo ímpia, deve ser obedecida, caso a
obediência a ela não constitua desobediência a Deus. Quando o
apóstolo Pedro ordenou: “honrai o rei” (1Pd 2.17), esse rei era o Nero,
aquele terrível homossexual matricida e assassino de crentes.

Nesses casos quem desobedece a autoridade “resiste a


ordenação de Deus” e trará “sobre si mesmo a condenação” (Rm
13.2), “porque ela (a autoridade) é ministro de Deus para teu bem.
12

Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque
é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal” (id. v.4).

A recomendação paulina, nesse caso, é que “lhe (à autoridade)


estejamos sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela
consciência” (id. v. 5). Na Carta a Tito Paulo repete: “Admoesta-os
(aos crentes) a que se sujeitem aos principados e potestades, que
lhes obedeçam, e estejam preparados para toda a boa obra” (1.1).

Sobre esse assunto o apóstolo Pedro ordena: “sujeitai-vos pois


a toda ordenação humana por amor do Senhor: quer ao rei, como
superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo
dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é
a vontade de Deus...” (1Pd 2.13,14). A sujeição voluntária é também
legal, mas “por amor do Senhor”.

b) Autoridade eclesial. Estas são constituídas por Deus com a


aprovação e declaração legítima da igreja local. É, portanto, uma
autoridade espiritual por delegação divina, com a legitimidade
espiritual e social recebida na ordenação feita pela igreja, e são
consideradas espúrias e ilegítimas todas as ordenações
acompanhadas de vícios.

Jesus deu ‘autoridade’ aos seus ministros: “... deu-lhes


autoridade...”, anotou Mateus (Mt 10.1, NVI). “Eu lhes dei
autoridade...”; agora quem falou foi próprio Senhor Jesus (Lc 10.19).
Também o dom de governar, ou presidir, ou liderar de Rm 12.7,
prescinde de autoridade recebida para o exercício da função.

A Escritura ordena: “Obedeçam aos seus líderes e submetam-


se à autoridade deles” (Hb 14.17a, NVI). A ARC diz: “Obedecei a
vossos pastores, e sujeitai-vos a eles...” No grego temos: “peiteste
toís egouménois umon kai upeikete, autoì...” Há aí, na frase, o
imperativo: ‘peiteste’, oriundo do verbo peithõ, na voz passiva com o
sentido de “obedecer por convencimento (não por coação),
concordar em obedecer”, mas tudo em virtude do evangelho. Não é
uma obediência jurídica, mas bíblica.
13

A sujeição da ovelha à autoridade do seu pastor é voluntária,


amorosa e condicional à fidelidade dele ao verdadeiro evangelho por
ele pregado, se assim for. Se o pastor prega o “evangelho da divisão”,
por exemplo, a ovelha está desobrigada do dever de obedecê-lo,
pois, nesse caso, desobedecerá a Deus. É esse o entendimento do
grego a seguir.
A palavra traduzida por “pastores e líderes” não é poimén
(pastor), mas egouménois, vindo de hegeomai, tem o sentido de líder
em geral, isto é, o rei, o pastor, o governo, o chefe, o professor...

Esta autoridade, homem de Deus, não pode ser um homem


“desobediente” (Tt 1.6). Esse homem é representante de Deus e de
uma igreja local. Se for excluído do Céu, ou riscado do livro da Vida
(Êx 32.32,33), é claro, não mais terá representatividade espiritual, e
se for excluído por justa causa da igreja a que está ligado, não mais
terá representatividade legítima eclesial; isso é óbvio. Ninguém é
representante de uma organização da qual foi excluído; isso é muito
claro, portanto, não deve ser seguido, obedecido, sob pena de
coparticipação no seu erro. A obediência do crente a seu pastor não
é incondicional, cega e absoluta. Não!

Nenhum ministério consagra obreiros para saírem dividindo


igrejas, não existe chamada divina para se dividir igrejas. Quem
segue um pastor rebelado, divisionista excluído, estará debaixo da
liderança de uma pessoa sem autoridade e sem legitimidade para a
função pastoral. Ele ou ela é um ex pastor, um ex missionário.
É preciso entender que a função pastoral não existe em si, de si
e por si mesmo, de modo independente, caso contrário não seria
necessário a ordenação da igreja. O sujeito poderia, nesse caso, se
auto-ordenar, ou mesmo não haveria a necessidade de ordenação
alguma.

O ministério pastoral é por chamada e vocação divina, como já


dissemos, a autoridade da qual está investido é por delegação de
Deus, e necessariamente reconhecida por uma igreja local que a
torna eclesiasticamente legítima na ordenação (consagração), e esta
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igreja tem poder para suspender essa legitimidade se a pessoa


ordenada fugir ao cumprimento das suas obrigações espirituais
bíblicas e eclesiais (Estatuto da CIAD, Art. 8, p. 22). Isso também me
parece bastante óbvio.

c) Diferença entre desligamento e divisão eclesiástica. Este


trabalho tem por objetivo esclarecer ao povo de Deus sobre rebelião
divisionista, ou seja, sobre divisão de igrejas sem entrar em outros
aspectos da rebelião.
Existem igrejas com personalidade jurídica própria, isto é, igrejas
independentes, que se ligam a outras apenas fraternalmente, ou
convencionalmente. Isso é comum na Assembleia de Deus. Esta é
uma das situações especiais, nesses casos, um desligamento da
igreja coirmã não implica em divisão.

d) Existem outras situações que podem justificar


eclesiasticamente uma divisão. Por exemplo, se o pastor de uma
igreja cai em pecado moral, ou por gestão fraudulenta comprovada,
ou é apenado por crime cometido, ou é acusado de modo público de
erros que inviabiliza ou impossibilita a continuação desse pastor no
pastorado da igreja (este autor conhece casos assim), mas ele não
admite entregar o pastorado e não há uma instância eclesiástica
superior que intervenha, os membros precisam tomar uma decisão,
e normalmente o pastor vai ter alguém do seu lado mesmo estando
errado. Há diversas outras situações.

2. A divisão política. A natureza humana depravada, por ser


essencialmente egoísta e soberba, é divisionista. A rebelião com
incredulidade é a raiz de todo pecado. É por isso que o Senhor
promete ao convertido “um coração não dividido” (Ez 11.19).
Paulo é claro ao incluir “discórdia, ciúmes, ira, egoísmo,
dissensões e facções” entre as obras da carne, em Gl 5.19, NVI. Esta
natureza decaída se manifesta onde quer que tenha domínio. Na
política, na religião, na família, no emprego...

Quais os principais motivos de guerras no mundo? Por que o


povo de Deus, Israel, tem enfrentado guerras através da história?
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Quais os motivos da Guerra dos Estados Unidos contra o Vietnã? Da


Inglaterra contra as Ilhas Folklans. Do Iraque contra o Kwaith? Do
Estado Islâmico contra a Síria que a devastou? Dos que dividiram a
Coréia em Coréia do Norte e do Sul? A Alemanha em duas, Oriental
e Ocidental? O Iemem em dois, do Norte e do Sul? A antiga Palestina
em Judá e Israel (=reino do norte e reino do sul)? A mente não
regenerada é exageradamente egoísta, interesseira, divisionista.

Quantas mortes houveram nessas guerras? Só Deus sabe


realmente. As divisões de igrejas também causa morte! Morte do
amor já claudicante, morte dos afetos, mortes de reputações, morte
da fraternidade, morte da credibilidade, morte da união, etc., e o
agente ativo dessas mortes é o divisionista ironicamente consagrado
para apascentar, unir.

Se não houvesse leis e organizações que garantissem a unidade


de cada país, cada estado e cada município, essas regiões
geográficas seriam reduzidas a pequenos lotes, prevalecendo
apenas os mais fortes. Por que há tantos partidos políticos? Tantas
religiões? E por que há tanta divisão de igrejas? O mesmo espírito
está atuando nos diversos setores da sociedade.

3. A divisão social e econômica. Esse ‘espírito’ da divisão é


cruel. Quantas classes sociais há no Brasil atualmente? O que é isso
senão fruto da distribuição criminosa de rendas, oriunda do interesse
egoísta e materialista humano?

O que faz o trabalhador brasileiro trabalhar cinco meses do ano


só para pagar impostos e em sua maioria viver quase sem a presença
efetiva do Estado? Ou seja: sem escola de qualidade, sem
segurança, sem meios de sobrevivência, sem casa própria, sem
perspectivas de melhorias, de futuro...

Dizem que cinquenta milhões de brasileiros vivem a baixo da


linha de pobreza, isto é, na miséria. Esses impostos pagos não são
exatamente para se ter funcionários públicos (políticos) trabalhando
16

pelo e para o povo, para se ter paz, meios de sobrevivência e


progresso?

A divisão da sociedade indiana em “eternas castas” é uma das


mais cruéis e malignas do mundo. Mas nesse aspecto, citando a
escravidão, todos os outros argumentos perdem sua força.

4. A divisão eclesial. A divisão de igrejas é de todas, a mais


escandalosa, a mais incoerente, a mais desavergonhada, a mais
blasfema e dissimulada porque feita em nome de Deus e por
“homens de Deus” (?). Apesar de o mundo ser hostil à Igreja,
ninguém espera que ela tenha o mesmo comportamento dos demais,
principalmente em se tratando de pastor.
Essas divisões também causam guerras!

A guerra da dissimulação e da hipocrisia que se desdobram em


porfias, difamações, injustiças, mentiras, inimizades, brigas até na
justiça, ataques e estraçalhamentos da honra, do nome, da
dignidade. A ingratidão, as desuniões de famílias, o ódio... Tudo isso
feito por gente que afirma com toda certeza servir a Deus e ter sido
chamada e vocacionada por Ele e ordenada pela igreja para fazer
sua obra. Unir o povo na mesma fé. Meu Deus!

A divisão de igrejas revela a rejeição da todo-suficiência


autoritativa da Escritura como norma divina de conduta cristã; é um
sinal do fim dos tempos. Ela revela também:

a) A perda da percepção espiritual. Esse sempre foi um


problema fatal para as pessoas. Nos dias de Noé toda aquela
civilização pereceu. Jesus afirmou que eles “não perceberam até
que veio o dilúvio e os levou a todo” (Mt 24.39, grifos nossos).

Com as cidades de Sodoma e Gomorra aconteceu o mesmo:


“... Da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam,
comprovam, vendiam, plantavam e edificavam, mas no dia em que
Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a
todos” (Lc 17.28,29). É uma grande displicência e falta de percepção
espiritual, viver neste mundo sem atentar para as realidades
espirituais; sem considerar os princípios bíblicos.
17

A cidade de Jerusalém não percebeu o interesse de Jesus em


salva-la, desprezou os seus avisos e as más consequências
perduram ainda hoje (Mt 23.37-39). O caso de Caim não foi diferente.
Sem percepção espiritual intentou prestar a Deus uma adoração do
seu jeito, rejeitou as instruções do Senhor (Gn 4.5-7), e o resultado
foi dramático (id. vv.9-16).

Todos esses rebeldes pagaram com a vida a sua rebelião. A


rebelião com divisão de igreja é muitas vezes pior: “ai daquele por
quem o escândalo vier”, afirmou Jesus. Uma divisão infundada, e
praticamente todas o são, nunca surge por amor, por fé, por
fidelidade, por obediência, por submissão, por e para a união, etc., e
Paulo nos afirma que “tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14.23).
Você entendeu?

b) A perda da visão da cruz. O pastor chamado e vocacionado


por Deus para fazer o seu serviço precisa estar certo de que foi
chamado para se sacrificar em todos os sentidos pelo Reino e pelo
rebanho que pastoreia. Para dar se preciso a própria vida, não
apenas se abnegar de luxo (At 1.8; Fp 1.39,30), isso é uma coisa fora
da perspectiva pastoral verdadeira.

Quem deseja ‘vida boa’, isto é, abastada, com passeios caros


e estilo de vida burguês deve procurar outra coisa a fazer. Que não
se meta no ministério evangélico, senão vai sofrer e fazer muita gente
sofrer. A visão do pastor é a do discipulado de Cristo. A de servir e
não de ser servido, como o fez o Salvador (cf. Mt 20.28).

O pastor é fiel (1Co 4.1,2), é exemplo dos fiéis (1Tm 4.12; Ef


4.12-16), é sim, sofredor (2Tm 2.3,9,10; Fp 1.29,30), honesto (1Tm
2.2; Tt 2.1,7). É inadmissível pastor comprar e não pagar por
negligência, faltar com a verdade, tratar e não cumprir... Os que
fazem assim são infiéis e devem ser banidos do ministério.

O pastor não pode tirar os olhos da cruz. No maior sermão


pregado por Jesus, o chamado ‘sermão do monte’, Ele foi claro: “não
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ajunteis tesouros na terra... mas ajuntei tesouros no céu... porque


onde estiver o vosso tesouro, ai estará também o vosso coração” (Mt
6.19-21). A vida do verdadeiro pastor é vivida para Deus e em
“conhecer o estado das ovelhas; e por o coração sobre o gado” (Pv
27.23). Não sobre as riquezas temporais. É claro, não estou
defendendo uma vida de miséria para o pastor, mas...

Em 1Sm 15.23 está escrito que “a rebelião é como o pecado da


feitiçaria e o porfiar ou a arrogância é como o mal da idolatria”.
No caso de você pertencer a uma igreja surgida por divisão, você
pertence à igreja de Deus, ou à macumbaria? Você é um crente ou
um médium? Seu líder é um pastor ou um feiticeiro? É um homem de
Deus ou um idólatra? Mais detalhe na interpretação desse texto à
frente.

Divisão de igreja é a busca desenfreada pelos tesouros da


terra, que levam pastores a rejeitarem os princípios bíblicos pelos
interesses materiais, “a torpe ganância” na linguagem bíblica (1Tm
3.3; 1Pd 5.2).

Coração posto nos tesouros terrenos, a eles não importam as


consequências pessoais e para quem os segue. “Admirando as
pessoas por causa do interesse” próprio (Jd 19), vendo cifras nos
rostos das pessoas, esses irmãos causam os escândalos mais vis,
menos esperados, mais chocantes na sociedade em geral e jogam
lama no testemunho da igreja e no Evangelho de Cristo.
Não há divisão de igreja sem interesse próprio. Carnal. Quem
levaria uma divisão à frente sem interesses pessoais? Que ninguém
se engane.
A Bíblia afirma que entre as obras da carne estão: “a feitiçaria,
as pelejas, as porfias, os ciúmes, as facções” ou divisões (Gl 5.19).
5. Divisão, obra da carne. O Espírito Santo nunca poderá
aprovar uma divisão surgida de rebelião, porque estaria contra a
própria Palavra de Deus, coisa impossível de acontecer. Dizer que
uma rebelião divisionista nos moldes das que acontecem com
frequência no nosso país é obra de Deus, é blasfemar.
19

Deus não é e nem pode ser incoerente, contraditório; nesse caso


não seria digno de confiança, portanto, não seria Deus (Nm 23.19;
1Sm 15.29). A divisão de igreja é obra da carne, e se há um espírito
por trás de divisões de igreja, este, com toda certeza, não é o Espírito
Santo de Deus.
Esta ‘obra da carne’ se caracteriza e se desdobra em:

“torpe ganância” (cf. 1Tm 3.3,8; Tt 1.7,11; 1Pd 5.2)

A palavra grega para a frase portuguesa ‘torpe ganância’, em


1Tm 3.3, é afilárguron, ‘amante do dinheiro’. A frase aparece muitas
vezes no NT; em Tt 1.7b, foi usado um sinônimo de afilárguron, é a
palavra aischrokerdes, vindo de kerdos, ganho, do vergo kerdainõ,
ganhar, obter lucro, e precedido de arschros, como no caso de Tt 1.7,
quer dizer ‘imundo, torpe, ganancioso’. As divisões acontecem
sempre à base desse interesse material.

Denota “avidez por lucro vil, cobiçoso de lucro ou ganho


desonesto”, como em 1Pd 5.2 e nos outros textos. Refere-se aos que
se “dedicam” ao ministério de modo ávido, mas apenas e tão
somente como profissão, “cuidando que a piedade seja fonte de
lucro” (1Tm 6.5) e se apropriam das rendas da igreja como se tudo
fosse dele.

“Avareza” (1Tm 3.3).

Esse mesmo é o “amante do dinheiro”, aquele que “admira as


pessoas (bajula-as) por causa do interesse” (Jd 16). É a pior coisa
que pode acontecer com o membro da igreja; é ser visto como objeto,
fonte de lucro.
São os “roubadores de homens”, à semelhança dos fariseus que
roubavam as pobres viúvas com atitudes e palavras fingidas (Mt
23.14) fazendo pregações e orações, com puro pretexto maligno. Os
tais estão “acumulando Ira para si” até que o cálice divino se encha
(Rm 2.5; Ap 18.5,6; Is 51.17,22). A perdição deles “não dormita” (v.3).
Em 2Pd 2.2 a palavra ‘avareza’ é tradução do grego pleonezia,
“por avareza, ou em avareza”. Úmãs emporeúsontai, ‘vos (as
20

ovelhas), explorarão’. Na NTLH a frase é: “esses falsos mestres vão


explorar vocês” (v.3). Isso faz o povo blasfemar do Evangelho (v.2) e
sem dúvida trará consequências drásticas.

Judas afirma que esses são “os que causam divisões, pois são
dominados pelos seus desejos naturais e não têm o Espírito de Deus”
(v.19, grifos nossos).

A prova disso está no fato de que “o que amar o dinheiro (os


avarentos), nunca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância
nunca se fartará da renda” (Ec 5.10; Pv 28.20). Os políticos
desonestos que o digam. Os mesmos, os falsários e avarentos
religiosos,

cairão em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que


submergem os homens na perdição e ruina. Porque o amor do dinheiro (=filarguría)
é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça (avareza) alguns se desviaram da fé, e
se traspassaram a si mesmos com muitas dores (1Tm 6.9,10, grifos nossos).

A ordem epistolar dada aos pastores é no sentido de que “sejam


vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes;
porque ele disse: não te deixarei, nem te desampararei. E assim com
confiança ousaremos dizer: o Senhor é o meu ajudador...” (Hb
13.5,6).

O sentido do grego para a frase: ‘sejam vossos costumes sem


avareza’, é: ‘sede livres do amor do dinheiro’. E Tiago, irmão de
Jesus, explica os motivos porque devemos nos afastar do apego
aferrado ao dinheiro (=avareza): “porque onde há inveja e espírito
faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa” (3.16, grifos
nossos). Esse ‘espírito faccioso’ na NVI é ‘ambição egoísta’, que leva
as pessoas a buscarem os próprios interesses e não o Reino de Deus
e o bem das ovelhas. É desse interesse escuso que vêm “as guerras
e pelejas, as cobiças, as porfias, os combates...” entre os crentes
(4.1,2).

6. Divisão, obra maligna. A escandalosa divisão de igrejas nos


nossos dias é uma ação do diabo contra ela, a igreja, pois assim, ele
consegue fazer com que haja mentira, injustiça, calúnia,
21

escândalos... entre o povo de Deus, além de provocar insegurança e


inimizades entre os crentes. Não fala com base apenas nesse ou
naquele exemplo, mas nos ensinos bíblicos.

O divisor de igreja faz com que pessoas se desviam do


evangelho, as que acompanham o pastor divisionista acusam as que
não acompanharam de traição da amizade e de deslealdade ao
pastor divisor que para eles é um homem de Deus, as que não
acompanharam acusam as que acompanharam o pastor rebelde de
estar seguindo o homem e não a Cristo.

Alguns resolvem não tomar partido na questão, então desistem


de congregar (ficam em casa), outros vão para outra denominação,
mas nem sempre se adaptam. Muitos dos que vão e dos que ficam
adoecem psicológica e espiritualmente, e a cura é demorada. A
divisão causa divisão, e prejudica o crescimento da obra de Deus
durante um longo tempo. É assim em praticamente toda divisão.
Creio que a divisão é obra do diabo por alguns motivos, dentre
eles, destacamos:
(1) Porque a divisão é uma atitude de desprezo às normas
bíblicas do comportamento cristão (Mt 7.12; Jo 17.19-23);
(2) Porque é motivada por interesses carnais (Gl 5.19,20);
(3) Porque enfraquece o testemunho público da igreja; causa
escândalo (Mt 18.7; Fl 1.10);
(4) Porque não glorifica o Nome de Deus, nem honra o
evangelho (Êx 20.7; Is 43.7; 1Co 10.31);
(5) Porque, como dissemos, prejudica o andamento da obra e
adoece aos crentes (Mt 18.6);
(6) Porque é contrário à ética cristã (Mt 7.12; 1Co 10.32,33);
(7) Porque quebra o princípio do amor, da santificação e da paz,
em vez de promovê-las (Hb 12.14; 1Pd 3.11;Rm 12.18);
(8) Porque não é feita por fé, mas por instigação maligna (Mt
13.28; 1Co 13.2; Tg 2.20,26; Rm 14.23). Veja os exemplos bíblicos
arrolados neste trabalho. Etc.

Pastor não é sacerdote


22

Falávamos sobre autoridade eclesiástica. Não devemos, porém,


nivelar a autoridade especial delegada aos apóstolos, com a
delegada aos líderes seus sucessores. Nossa (dos pastores),
autoridade é menor, suficiente para a execução das nossas
responsabilidades.
Por exemplo: não temos o dever de lançar os fundamentos da
Igreja, os apóstolos já o fizeram (1Co 3.11; Ef 2.20), nem de
completar o Cânon das Escrituras. Quero lembrar ainda que há uma
ideia sacerdotalista corrente nos meios evangélicos que não é
evangélica.

Na Igreja de Jesus só há um único Sacerdote que também é


Sumo-sacerdote. Este é Jesus. Cristo é sacerdote por pelo menos
três motivos:
a) Porque os sacerdotes eram intermediadores humanos, entre
o povo e Deus, mas agora há apenas um único “Mediador entre Deus
e os homens”, e este é Jesus (1Tm 2.5; At 4.12; Jo 14.6; Hb
7.21,22,24; 9.15).. Ele “vive para interceder por nós” (Hb 8.24,25), e
“nos ajudar em tempo oportuno” (4.16; 1Jo 2.1,2). Ele é o único
sacerdote-mediador, como sua mediação é perfeita e perene, é uma
mediação eficiente e suficiente. Portanto, Ele é único (1Tm 2.5; Hb
7.22-24).
E b) é sacerdote em substituição ao sacerdócio fraco e falho da
lei, da antiga ordem terrena e temporal de Arão (Hb 7.28), que tinha
que oferecer sacrifícios por si, pois eles mesmos “estavam rodeados
de fraquezas” (Hb 5.1-3), e pecados (id. v. 3; 7.27; Lv 4.3). Então
depois de “oferecer sacrifícios primeiramente pelos seus próprios
pecados”, ofereciam também “pelos pecados do povo” (v.3a). Admitir
um sacerdócio com sacerdotes-ministros além de Jesus no NT é
rejeitar a perfeição e a todo-suficiência do Sacerdócio único de Jesus
(Hb 7.22-24).
c) O Ministério sacerdotal de Jesus é perfeito, de valor sempre
atual e suficiente, “pode salvar perfeitamente os que por ele se
chagam a Deus” (Hb 4.15-17; 7.24-28).

E Cristo é Sumo-sacerdote por pelo menos quatro grandes


motivos básicos:
23

a) Porque o sumo sacerdote (e todo o sacerdotalismo do AT),


era constituído por homens enquanto vigesse o antigo Pacto, ou “a
lei do mandamento carnal” (Hb 7.16); era pela Ordem de Arão,
portanto, tinha prazo de validade, e com a vinda de Jesus “mudou o
sacerdócio” (Hb 7.12), que é agora pela Ordem de Melquiseque, e
não mais pela de Arão (Hb 5.6; 7.17,18), e mudou também o
sacerdote, que agora é unicamente Jesus Cristo.

Ele é de “outra tribo” (7.13,14), foi feito, “não segundo a lei do


mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível”
(vv.16,17; 5.6). Cristo é Sumo sacerdote “de outra tribo”, de “outra
Ordem”, de “outra categoria” (Hb 4.13; 7.26). Filho de “outro Ser” (Hb
4.14), que “não se fez Sumo Sacerdote” (Hb 5.5), mas foi constituído
Sumo sacerdote por “Outro Ser”; Deus o Pai (Hb 3.4; 5.10; 6.20;
7.20,21,26,28).

Ele entrou e ofereceu “outro Sacrifício”, que é único (Hb 2.17;


9.11-14,26-28; 10.10,12,14), e foi oferecido em “outro Santuário” no
céu (Hb 4.14b; 8.1-4; 2.17,18; 9.11), com “outro Sangue” (v.12);
motivos que levam-nO a ser “o Grande Sumo Sacerdote” (Hb 4.14) e
Ele é único, repita-se (Hb 8.1; 10.21).
b) Porque é “perfeito para sempre” (Hb 7.28), portanto,
“permanece para sempre” (Hb 7.24), enquanto aquele “era
repreensível” e “imperfeito” (Hb 8.7,8), e por isso foi “impedido de
permanecer” (7.23), Jesus é “perfeito para sempre” (Hb 7.28b).

c) Porque o Sacrifício por Ele oferecido é perfeito, de valor eterno


e incomparável, não foi oferecido por Si, mas de modo vicário (Hb
7.27,28). Ele foi o Sacrifício e o sacrificador (Hb 9.14,15), e pôde, não
somente oferecer o Sacrifício e interceder, mas “pode salvar
perfeitamente” (v.25). Os outros não podiam.
E d), Porque este Sumo-sacerdote “vive para sempre” (Hb
7.3,24), “assentado à Dextra do trono da Majestade” nas alturas (Hb
8.1,2), é “separado dos pecadores... e “mais sublime do que os céus”
(7.26), diferentemente dos sumos sacerdotes do AT, que eram
mortais.
24

O sacerdócio do pastor é o mesmo de todos os crentes; um


sacerdócio espiritual, geral (1Pd 2.5,9; Ap 1.6; 5.10); não é um ofício
como o era no AT, como também agora é o pastorado. Nem os
termos gregos, hiereus, sacerdotes, e archiereus, sumo sacerdotes,
são usados no NT para se referir aos obreiros da Igreja.
Vine, sobre o assunto diz: “O Novo Testamento não reconhece
de modo algum uma classe sacerdotal em contraste com o laicato”.
É fácil, não reconhece porque não existe.

Conclusão deste capítulo

Neste capítulo procuramos ser abertos na exposição do tema,


dando uma visão mais abrangente do mesmo, falando de outros
aspectos que o envolve, para que seja possível ao leitor fazer
também uma leitura a mais completa possível, inclusive
mencionando os argumentos que geralmente são feitos na defesa do
logro.

Em se tratando dos despenseiros de Deus o que se espera é


que “ninguém engane a si mesmo” (1Co 3.18), mas que “cada um se
ache fiel” (1Co 4.2). Em quase todas as relações humanas a divisão
sempre é prejudicial à unidade e crescimento.
O pastor não pode promover divisões, pois que foi ordenado e
comissionado para proteger e unir as ovelhas no aprisco sob a chefia
do único supremo Pastor, Jesus. É certo que “estamos indo prestar
contas” dessas ovelhas ao Senhor delas e nosso (Hb 13.7,17).

E que nenhum pastor se defenda afirmando ser o sacerdote de


Deus, e assim, se colocando no lugar de Jesus Cristo. Este Ofício
(de sacerdote) no NT é unicamente de Jesus Cristo. No catolicismo
a ideia de sacerdote é exatamente a de um homem divinizado que
“em lugar de Cristo Lhe faz as vezes” (=vigário), substituindo-O, o
que caracteriza falcatrua religiosa.
Cristo é o único Sacerdote, o único “Apóstolo e Sumo Sacerdote
da nossa confissão” (Hb 3.1).
25

Capítulo 2

BÍBLIA:
ÚNICA REGRA DA FÉ E NORMA DA
CONDUTA CRISTÃ
26

“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17)

“Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119.105)

“Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu
caminho e então prudentemente te conduzirás” (Js 1.8)

“Cada fio de cabelo faz a sua sombra no solo” (ditado espanhol)

Introdução a este capítulo

Este capítulo visa lembrar aos leitores o que para nós, os crentes
em Jesus, é óbvio: a fé evangélica é pelo evangelho. Isto é, a Bíblia
é única fonte de fé verdadeira. Há no Brasil uma grande confusão
popular entre fé, crença tradicional, esperança e superstição.

Popularmente todo tipo de manifestação religiosa é tida por fé,


esse é o motivo que leva muitos a pensar que fé é um salto no escuro.
É crer no absurdo sem embasamento algum. Para outros a Bíblia é
apenas um livro de bons conselhos.
27

A fé evangélica é crença ou confiança absoluta no que diz a


Palavra de Deus. A Bíblia disse, eu creio; isso é fé. Ela surge pela
Palavra, se estabelece e se estrutura na Palavra de Deus. É com
base nisso que Jesus mandou: “ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda a criatura, quem crer e for batizado será salvo,
quem não crer será condenado” (Mc 16.15).

Paulo pergunta: “Como crerão naquele de quem não ouviram?”,


o que claramente indica que se não ouvirem o evangelho não podem
crer corretamente (Rm 10.14). Jesus, que é a Palavra viva de Deus
(Jo 1.1,14; Hb 1.1; Ap 19.13), é o autor e consumador da fé (Hb
12.1,2). A “fé é de Jesus” (Ap 14.12b), por isso Ele ordena: “Credes
em Deus, crede também em mim” (Jo 14.1).

A Bíblia também é, para o crente, o único manual de conduta


cristã. As instruções bíblicas abarcam todo o campo das nossas
atitudes, atividades e ações. Todo o campo da atividade humana,
objetiva e subjetivamente. Sentimentos, pensamentos e ações.

Por isso o crente deve orar e pedir a Deus que os seus


sentimentos estejam em harmonia com o “mesmo sentimento que
houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5). E isso é com todo crente:
“para que sintais o mesmo... sentindo uma mesma coisa” (id. v.2). É
a “comunhão no Espírito” (v.1). A recomendação de Pedro é: “E,
finalmente, sede todos de um mesmo sentimento” (1Pd 3.8).

Sobre os pensamentos a Bíblia ensina: “Pensai nas coisas que


são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.2). É claro, ninguém
vai pensar que um crente é um maluco completamente alienado da
vida terrena, com base nesse versículo.

“...Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é


justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa
fama... nisso pensai” (Fp 4.8). “... Para que não andeis mais como
andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido”
(mente, pensamento, Ef 4.17).

E quanto as ações e obras (comportamento, ações, conduta),


os textos são límpidos e em toda a Bíblia as ordens e recomendações
são no sentido de sermos santos “em toda maneira de viver” (1Pd
28

1.15), porque, segundo o apóstolo Paulo: “somos feitura sua (de


Deus), criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus
preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).

No sentir, no pensar e no fazer (=conduta, comportamento,


ações), o padrão é Cristo. “Somente deveis portar-vos dignamente
conforme o evangelho de Cristo...” (Fp 1.27, os grifos são nossos).

O Plano divino é a completude, a perfeição do seu povo em


Cristo: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos... até que todos
cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a
varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo...” (Ef
4.12,13).

De sorte que a atitude correta do crente é perseguir esse alvo;


buscar a perfeição até o fim (Fp 3.13,14; Mt 5.48), até que se possa
apresentar “todo o homem perfeito em Jesus Cristo” (Cl 1.28b). Um
dos exemplos humanos foi Paulo, apóstolo; ele recomendou: “sede
meus imitadores” (1Co 11.1; Ef 5.1; Hb 6.12; 13.7; Fp 4.9).

Pois bem, a Bíblia não é um livro de boas sugestões, para ser


usada para remédio, só em momentos especiais ou como amuleto
religioso, ou como simples instrumentos de retórica, como muitos o
fazem. Ela é determinativa, é O MANUAL único de fé e conduta. É o
Livro de Deus em que basear nossa conduta. Despreza-la é a derrota
total. Negligencia-la é fracasso certo. Ela, para nós é divina, eterna,
autoritária e autoritativa.

A Bíblia é de origem divina e é eterna

Muitas pessoas têm dificuldade de aceitar a Bíblia como de


origem divina por ter sido escrita por homens. Indigna de confiança
seria se ela tivesse sido escrita por seres invisíveis, ou por animais.
Como não estivemos presente quando da escrita, como confiar?

Agora sendo ela escrita por personagens históricos, isso traz os


fatos para bem mais perto de nós, mesmo aquelas partes que foram
ditas e escritas por Deus. Alguém confiável viu e inspirado pelo
próprio Deus anotou-as e nos informou de tudo. É por isso que se diz
que a Bíblia é, de todos os livros, o incomparavelmente mais divino,
29

e sendo escrito por homens, e sempre atual também sobre as coisas


dos homens, é o mais humano de todos os livros.

Deus sempre falou aos homens, desde o princípio. Com Adão


(Gn 2.15-17), com Caim (Gn 4.5-7), com Noé (Gn 6.13), etc. Era uma
fala pessoal e não escrita. Depois, desejando que sua fala ficasse
registrada perpetuamente, e sendo impedido da comunhão com o
homem por causa do pecado (Is 59.1,2), tomou a iniciativa de
escrevê-las.

Ele escreveu alguns princípios e os deu a Moisés para que ele


repassasse ao povo (cf. Êx 31.18; 32.15,16). Na sequência Deus
escolheu e inspirou homens santos para escrever suas palavras, e
assim foi (Êx 4.12; 20.1-17; Dt 18.18-20).

As palavras da Bíblia são Palavra de Deus e não de homens. Os


homens de Deus escreveram na Bíblia as Ideias e as Palavras de
Deus. “Disse o Senhor a Moisés” (Êx 40.1; Lv 1.1; 4.1), “Ouví, ó céus,
e presta ouvidos, tu ó terra, porque fala o Senhor...” (Is 1.2). “Assim
diz o Senhor, teu Redentor, o Santo de Israel..” (43.14), e assim por
diante. É por isso que a Bíblia é chamada ‘Escritura’ Sagrada (cf. Êx
32.16; Mt 22.29).

É sagrada porque é divina. “Toda a Escritura é inspirada por


Deus...” (2Tm 3.16). “Homens santos de Deus falaram inspirados
pelo Espírito Santo”, e foi o que se escreveu na Bíblia (2Pd 1.21). Isto
é, a Bíblia possui vida: “é a vossa vida” (Dt 32.47; Jo 6.63). Ela é “viva
e eficaz” (Hb 4.12), e produz os resultados para os quais fora enviada
(Is 55.11). Ela é “pura” (Pv 30.5,6). É eterna, isto é, não terá fim (Sl
119.89,160; Is 40.8; Mt 24.35). Quando se deixa de praticar a Bíblia,
está desprezando sua origem divina.

A Bíblia é autoritária

Graças a Deus! A Bíblia preenche os requisitos divinos para ser


o único Livro autoritário sobre o povo de Deus. Com esta palavra
“autoritária”, não se pretende dizer que a Bíblia seja arbitrária,
autocrata, inconsequente, déspota. Pretende-se mostrar que a Bíblia
possui autoridade para determinar ao ser humano como se deve
viver, como se deve crer, em quem deve crer, o que ele deve fazer,
30

o que é certo e o que é errado, e ordenar que se faça o certo e se


evite o errado, etc.

Antes da Reforma Protestante, a igreja romana e seu chefe, o


papa, se punham acima da Bíblia, como o faz até hoje, mas a reforma
resgatou outra vez, na crença e na prática, a autoridade das
Escrituras para determinar, impor, mandar, e “não há de se admitir,
pois, que nenhuma autoridade humana ponha-se num plano igual ou
superior ao espírito de ambos os testamentos. A Palavra de Deus foi
reconduzida à sua posição perene como autoridade incontestável em
matéria de fé e conduta” (Dicionário de Teologia).

A Bíblia é o Manual do crente porque é de origem divina, é toda


inspirada, é viva, eficaz, infalível, inerrante e por isso sempre atual.
Ela é “apta” para gerar fé (Rm 10.17), é “proveitosa para ensinar,
para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o
homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a
boa obra” (2Tm 3.16,17).

Ninguém vive certo se crê errado, pois a conduta é a expressão


externa da crença interna. “O que confia no seu próprio coração é
insensato...” (Pv 28.26), porque o coração é “desesperadamente mau
e enganoso” (Jr 17.9). “Os loucos zombam do pecado” (Pv 14.9a), os
crentes não.

A Bíblia é autoritária porque é a Palavra de Deus e Deus é


soberano, pode ordenar. “O mandamento é uma lâmpada, e a lei uma
luz; e as repreensões da correção são o caminho da vida” (Pv 6.23).
O salmista inspirado escreveu: “tu ordenaste os teus mandamentos,
para que diligentemente os observássemos” (Sl 119.4). Isso é
aplicável a toda a Bíblia.

Ela, a Bíblia, sendo inspirada, infalível e inerrante, tem


autoridade para determinar porque era, é e sempre será atualíssima:
“A tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos teus
juízos dura para sempre” (id. v. 16). “A Palavra do Senhor permanece
para sempre” (1Pd 1.25). “Não passará” (Mt 24.35).

A Palavra de Deus é totalmente confiável, por isso é autoritária,


pode determinar, ordenar, exigir, corrigir, ensinar, repreender, etc. A
31

mentalidade mundana, também presente em muitos crentes,


inclusive em líderes, está levando suas vítimas a desprezar a
autoridade bíblica, colocando os interesses e as vontades das
pessoas até acima do Santo Livro.

O relativismo moderno tem seu lugar, seu cantinho na igreja


moderna, especialmente na vida dos divisionistas de igrejas. Este
capítulo tem por objetivo mostrar que o crente não pode se sobrepor
ao seu Manual, nem ficar aquém dele em assunto algum. Quem em
tudo determina a conduta (=comportamento) do crente é a Bíblia.

A Bíblia é autoritativa

Eis aí outra expressão teológica muito boa para explicar a ação


autoritária da Bíblia. Se sua origem divina e sua inspiração
peremptória e perpétua, a faz sempre o Livro atual, que trata de modo
vigente todas as questões do homem moderno, então ela é, não
somente autoritária, mas também é autoritativa. Isto é, ela não só tem
a autoridade e o poder de determinar, mandar, ordenar, mas ela o
faz legitimamente. Ela usa dessa prerrogativa de mando de modo
legítimo e legal. Não confundir autoritativo com autoritarismo.

O Decálogo é um exemplo. A Bíblia não só pode ordenar,


determinar, mas ela determina: “não adulterarás, não furtarás, não
matarás, não cobiçarás...” (Êx 20). “Não haja divisão no corpo” da
congregação local (1Co 12.25). “Oh! Quão bom e quão suave é que
os irmãos vivam em união” (Sl 133.1). “Rogo-vos, irmãos, que noteis
os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que
aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17). Isso é chamado
também de ‘autoridade normativa’, isto é, que tem força de norma.

Claudionor na obra citada, sobre esta autoridade escreve:


Prerrogativa que possuem as Sagradas Escrituras de impor, sobre o povo de Deus,
normas (regras ou padrões) em matéria de fé, prática e costumes. Tais normas baseiam-
se sobre estes atributos divinos: Santidade, justiça e sabedoria. É mister considerar que,
há na Bíblia, normas de caráter universal, como os Dez Mandamentos; de caráter nacional,
como os Números; de caráter individual, como os primeiros nove versículos de Josué; e
de caráter eclesiástico, como as Epístolas Paulinas. No que tange à jurisprudência, toda
a Bíblia pode ser tida como instrução ao povo de Deus. Sobre o assunto Paulo foi claro:
“tudo o que dantes foi escrito, para nossa instrução foi escrito” (grifos nossos).
32

A Assembleia de Deus de Anápolis, no seu Estatuto, prescreve


e adota a seguinte declaração de fé à cerca da Escritura Sagrada
que é a expressão escrita de sua submissão a Ela (Art. 3, cáput., p.
3): “A Igreja de Anápolis adota e mantém a seguinte Declaração de
Fé: Cremos... na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra
infalível da fé normativa para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-
17)...”

É exatamente o que estamos defendendo em todo este trabalho,


especialmente neste capítulo. Toda pessoa que desejar fazer parte
desta Igreja, é livre e convidado a fazê-lo desde que se converta a
Cristo e aceite a totalidade da sua Declaração de Fé. Aqui
mencionamos resumidamente, como está no Estatuto, apenas este
item. Aos pastores é determinado não só cumprir, mas “divulgar,
cumprir e fazer cumprir” as doutrinas bíblicas e o Estatuto, incluindo
a Declaração de Fé da Igreja (Art. 49, inciso IV, p. 17).

Os que se opuserem a cumprir os ensinos da Bíblia adotados


pela Igreja, e os seus estatutos, depois de os aceitar, serão
considerados “rebeldes” e a divisão de igrejas é considerado
“rebelião” pela Bíblia e pelos estatutos (cf. Art. 6, inciso III, § 3º, p. 5;
combinado com o Art. 7, inciso IX, § 1º, p. 6; com o Art. 11, inciso V,
p. 7, do Estatuto da Igreja, e combinado ainda com o Art. 4, § 5º,
inciso VI, e com o Art. 8, incisos VII a X, do Estatuto da CIAD).

De sorte que qualquer membro que desejar se desligar da Igreja


poderá fazê-lo quando quiser, tendo inclusive direito a uma carta de
mudança com recomendação dirigida à outra igreja para onde
desejar se mudar, desde que não se insurja contra suas doutrinas e
leis, nem lhe dê prejuízos.

A rejeição do caráter autoritativo da Escritura

Enumerarei algumas áreas onde os princípios da Palavra estão


sendo sistematicamente negligenciados entre o povo de Deus.
Evidentemente não queremos dizer que cumprimos fielmente todos
os ensinamentos da Bíblia. A vida cristã é uma caminhada
progressiva até o fim.
33

O que me refiro aqui é o desprezo e a rejeição de alguns


princípios bíblicos basilares por prevaricação. Devido nossa natureza
adâmica estamos sempre transgredindo a Palavra, mesmo sem
intenção. Mas uma coisa é desobedecer ocasionalmente por
ignorância, ou por fraqueza natural, por uma negligência não
proposital, e outra é desobedecer por não crer, ou por rejeitar do
‘jeitinho brasileiro’. Por exemplo:

01. A Grande Comissão é para todos os crentes, qual será a


porcentagem envolvida na pregação do evangelho? E quais são as
explicações e os motivos?
02. O namoro dos jovens da igreja é quase do mesmo jeito dos
do mundo. Qual o jovem que procura levar um namoro nos moldes
cristãos?
03. Quem realmente se preocupa com a salvação de seus filhos
criança? As nossas crianças não são ensinadas pelos pais a cultuar
a Deus; em casa os pais colocam-nas diante da TV e do celular, e na
igreja dão a eles algum brinquedo para se divertirem à hora do culto,
ou guloseimas para comer. Eis a razão porque nossa juventude, com
rara exceção, é analfabeta de Bíblia.
04. Por que existe um mercenarismo, uma exploração
desavergonhada no ministério pastoral e na música gospel? Cachê
para pregar o evangelho e para cantar “para Deus” com pagamento
adiantado e contrato assinado? Qual a diferença entre esses
evangélicos e os demais profissionais do mundo? A Bíblia não proíbe
a “torpe ganância”? A avareza? Sim, eu sei; deram outros nomes
para esses pecados.
05. E o que dizer da miserável e escandalosa divisão de igreja
em nome da “injustiça recebida” e da falaciosa “direção de Deus”?
Isso é blasfêmia! e mostra o abismo absurdo entre o discurso e a
prática.

Como fica o pastor divisionista com o pastor vítima da divisão?


Para conseguir dividir uma igreja é indispensável mentir, apresentar
só um lado da verdade, ou seja, falar só meia verdade e assim
confundir, atentar contra a honra, se fazer de vítima... quando na
verdade, isso tudo se trata de interesse próprio.
34

Não é isso obra da carne? Não estará o diabo por trás de tudo
isso? Não é isso uma rejeição dos princípios bíblicos e de modo
desprezível? Em que tudo isso vai dar? Esse é o caminho da
apostasia!
É simples; em que deu a rebelião divisionista de Coré, Datã,
Abirão e os crentes sem visão de Deus que os acompanharam? A
Bíblia os chama de “homens ímpios” (Leia Nm 16). O que aconteceu
com Miriã, a irmã de Moisés, quando de sua rebelião divisionista?
(Leia Nm 12). E o resultado da rebelião de Absalão? (Ler 2Sm 15).
Você se lembra do caso de Lúcifer? (leia Is 14.12ss e Ez 28). Os que
os seguiram não foram bem sucedidos.

A rebelião e a divisão de igreja não se justificam nem com a


anuência dos líderes maiores, se isso acontecesse, porque os líderes
não estão nem em pé de igualdade com a Bíblia, que dirá acima dela.
Só não seria ilegal e pecaminosa se com o consenso geral, de todo
o povo, o que perderia o caráter de divisão.

Como vimos na interpretação de 1Sm 15, em toda rebelião há o


assédio para se compactuar, apoiar o errado, segui-lo como propôs
Saul a Samuel (vv.24,25,30), e há oportunidade de dizer “não” como
o fez Samuel (vv.26-35). Há também explicações engenhosas,
enganosas (v.15) e equivocadas (vv.25-30), como nesse caso.
Quando se desobedece a Palavra do Senhor, se deixa de segui-lO
(v.10,11). Não haverá bênçãos (vv.25-30).

Conclusão deste capítulo

Em todo esse capítulo trabalhamos visando mostrar que a Bíblia


é o Manual único do crente para a fé e para a conduta vivencial, e
que a crise generalizada atual é fruto da rejeição das normas do
Manual, o que significa a adesão a um tipo de cristianismo popular
periférico, negligente, sem cruz e sem discipulado. Pecaminoso.

Pastores não dividem igrejas por causa de injustiças cometidas


por liderança, o que pode até acontecer, mas um erro não justiça
outro erro. As divisões de igrejas não acontecem por direção divina,
mas por interesses carnais, materialistas, econômicos, etc.
35

Ou em outras palavras, por causa de sua espiritualidade rasa e


equivocada, muitos desses obreiros não têm ministério, não foram
chamados e vocacionados por Deus para o ministério, são apenas e
tão somente profissionais da religião. Não estão e nunca estarão
dispostos a se sacrificar pelo Reino.

Alguns nem convertidos são. Desejo sinceramente que esses


mercenários se voltem para Jesus e sejam salvos, ou se é salvo, se
arrependam dessas práticas antibíblicas e venham servir a Deus e
ao seu povo.

Vamos agora analisar a divisão à luz da Bíblia.

Segunda parte

Capítulo 3

A REBELIÃO DIVISIONISTA E A BÍBLIA

“... Eu sou de Paulo; e, eu de Apolo; e, eu de Cefas; e, eu de Cristo. Está Cristo dividido?...”


(1Co 1.12,13).
36

“... Não haja divisão no corpo...” (1Co 12.25)

“Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalo contra a doutrina que
aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17).

“... A rebelião é como o pecado de feitiçaria...” (1Sm 15.23a)

Introdução a este capítulo

Neste capítulo pretendemos fixar nossa atenção nos textos


bíblicos para vermos o que a Bíblia realmente diz sobre rebelião e
divisão de igreja. Há algum respaldo bíblico, para que, em certas
circunstâncias “favoráveis” um pastor tome a iniciativa de dividir uma
igreja?

Não escrevo este trabalho por causa deste ou daquele “racha”


(divisão) que presenciei. Infelizmente já presenciei vários, alguns dos
quais praticados por preciosos irmãos e amigos pessoais. Pessoas
sérias que num determinado momento de sua vida, tomaram a
decisão errada, dividiram uma igreja; alguns desses já têm pago
muito caro pela rebelião praticada.
37

Este trabalho não tem um único endereço, visa alertar aos


irmãos para um pecado que chegou ao nível da trivialidade no Brasil
atingindo frontalmente o púlpito.

Em muitas destas divisões há até roubo de bens (apropriação


indébita), processos judiciais, brigas a “grosso modo”, difamações...
O desgaste emocional e da reputação é enorme para ambos os
pastores envolvidos (a vítima e o ‘réu’) e para a igreja vítima da
divisão.

O que esses pastores estão fazendo com a Igreja? Para que


serve, para eles, a Bíblia?

O que diz a Palavra de Deus, nosso querido Manual,


Receiturário da fé e da conduta sobre o assunto? É o que nos
interessa nesse capítulo e investigar o tema é nosso labor a partir de
agora. Vem comigo.

“Uma nação (ou igreja) que valoriza seus privilégios acima de seus
princípios, logo perde ambos (Dwight D. Eisenhower)

Textos bíblicos

Exegese e comentários

Texto 1

“A rebelião é como o pecado de feitiçaria”


Porém Samuel disse: tem porventura o Senhor, tanto prazer em holocaustos e sacrifícios,
como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que
o sacrificar, e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é
como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu
rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei. Então
disse Saul a Samuel: pequei, porquanto tenho transpassado o dito do Senhor e as
tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos à sua voz. Agora, pois, te rogo, perdoa-
me o meu pecado, e volta comigo, para que adore ao Senhor. Porém Samuel disse a
Saul: não tornarei contigo; porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, já te rejeitou o
Senhor, para que não sejas rei sobre Israel (1Sm 15.22-26, grifos nossos).
38

As frases grifadas têm propósitos definidos. Leia-as com


atenção redobrada. O texto apresenta uma contradição entre prestar
culto a Deus (oferecer sacrifícios) e obedecer a sua palavra. “O
obedecer é melhor do que o sacrificar”. Deus não aceita o culto
dissociado da vida, da prática, o culto do rebelde; do que está em
desobediência à sua Palavra (Is 1.10-17; Os 2.11). O texto considera
a rebelião, como a “rejeição da Palavra do Senhor” (vv.23,24,26).

No livro de Provérbios encontramos a seguinte declaração divina


a esse respeito: “o que desvia os seus ouvidos de ouvir (praticar) a
lei, até a sua oração será abominável” (Pv 28.9). O comentário de
Swaggart sobre esta declaração é a seguinte: “a adoração externa,
onde o coração recusa a obedecer ao Evangelho, é uma abominação
a Deus” (Bíblia do Expositor).

Ele considera a rejeição da autoridade da Escritura como


rebelião (Is 1.5; 1Sm 15.23) e o compara ao pecado da feitiçaria.
Essa prática era tão repugnante que Deus ordenou na Torá a
execução do praticante, do feiticeiro (Êx 22.18; Ml 3.5) e o NT proíbe
a entrada do feiticeiro no Céu (Ap 21.8).

A figura de linguagem (símile) indica a similaridade da natureza


de ambos os pecados: rebelião e feitiçaria, bem como seus iguais:
porfia, iniquidade e idolatria. Por trás de tudo estava o interesse
econômico (1Sm 15.19), a “torpe ganância”, a avareza.

A Bíblia de Estudo do Expositor traz a seguinte explicação sobre


o assunto; verso 23:
a raiz principal de todo o pecado é a ‘rebelião’; adivinhação ou seja feitiçaria é o
esforço para manipular o mundo espiritual por meio dos espíritos demoníacos;
quando é isto como a rebelião? Rebelar-se contra a ordem de Deus, que é ‘Cristo
e Ele Crucificado’, é tomar cartas no assunto, o que é como a adivinhação.

A rejeição da autoridade da Escritura para determinar o


comportamento, isto é, a desobediência à Palavra é rejeição “do dito
do Senhor” na expressão bíblica (vv.23,24), e isso sempre acontece
acompanhado da tentativa de justificar o ato argumentando. Esse foi
o caso de Saul, ele tentou jogar a culpa de sua rebelião no povo.

Quando Samuel, o líder, censurou-lhe a desobediência,


prontamente Saul retrucou-lhe: “ouvi a voz do Senhor” (v.20). Ele
39

disse: eu estou dentro dos planos de Deus, eu obedeci, o que fiz foi
por Deus. É assim ainda hoje. E jogou a culpa no povo justificando-
o: “o povo tomou do despojo vacas e ovelhas, as primícias do
interdito, para as sacrificar ao Senhor Deus...” (v.21). Veja que
primeiro ele tentou justificar o ato errado do povo, depois sendo
censurado justificou: “Quebrantei o Mandado do Senhor e as suas
palavras, porque temi ao povo, e consenti à voz deles” (v.24). Quer
dizer, eu não tenho culpa, fiz isso por culpa do povo.

Saul parece querer ser mais inteligente do que Deus, o produto


da sua rebelião contra Deus seria oferecido em sacrifício (culto) ao
próprio Deus, então quem sairia ganhando com sua rebelião era
Deus. Tanta petulância da natureza rebelde decaída. Sua obstinação
no erro, como o faz os divisionistas de igrejas, foi tida também por
“iniquidade e idolatria” (v.23b).

O comentário da Bíblia do Expositor diz: “a obstinação [teimosia]


é um espírito intratável que recusa acreditar na Palavra de Deus”.
Paulo disse que os rebeldes dos últimos dias seriam “irreconciliáveis”
(1Tm 3.3). Dificilmente um divisionista se retrata.

Com muito custo Saul “admitiu estar errado”, mas não por culpa
própria. Ele confessou: “pequei... quebrantei o mandado do Senhor”
(v.24), “perdoa pois agora o meu pecado...” (v.25), mas sua confissão
não foi sincera. Swaggart, na Expositor comenta: “todas estas
declarações eram falsidades. As confissões de Saul de
arrependimento eram falsas, porque ele somente pensava no castigo
ameaçador e na sua própria honra. O verdadeiro arrependimento é
para com Deus...”

Saul não demonstrou nenhuma preocupação com sua situação


diante de Deus; ele estava mesmo ocupado com seu cargo, sua
honra e seu povo (vv.24,25,30).

A rejeição da todo-suficiência autoritativa da Escritura também


em matéria de procedimento ou ‘modus vivendi’, tem consequências
para a vida. Samuel, o líder de Deus disse a Saul: “porque
desprezaste a Palavra do Senhor, o Senhor te desprezou para que
não sejas rei sobre Israel” (vv.24b,26). A Expositor comenta: “rejeitar
40

a Palavra do Senhor é ser rejeitado pelo Senhor”. É justa e bíblica a


exclusão de um pastor divisionista.

Saul perdeu a aprovação do seu líder espiritual e foi


severamente repreendido por ele (vv.19,22-24,26). Perdeu a
companhia do seu líder espiritual, Samuel, o homem de Deus: “e
Samuel nunca mais viu a Saul em toda a sua vida...” (vv.26,34),
mesmo amando-o e se compadecendo dele (v.35b), nada de
conivência; “não voltarei contigo”, recusou Samuel (v.26);

Saul perdeu a aprovação de Deus; ele foi rejeitado pelo Senhor


(vv.24b,26,28), e note que Saul não dividiu o povo, o que significa
que os irmãos rebeldes e divisionistas de igrejas estão em situação
pior do que a de Saul.

Texto 2

“Pastores que dispersam (dividem) as ovelhas”


Ai dos pastores que destroem e DISPERSAM (=dividem, espalham) as ovelhas do meu
pasto, diz o Senhor. Portanto assim diz o Senhor, o Deus de Israel, acerca dos pastores
que apascentam o meu povo: vós DISPERSASTES as minhas ovelhas, e as afugentastes,
e não as visitastes; eis que visitarei sobre vós a maldade das vossas ações, diz o Senhor.
Eu mesmo recolherei o resto das minhas ovelhas de todas as terras para onde as tiver
afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se multiplicarão. E
levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se
assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor (Jr 231-4, grifos meus).

O texto está falando literalmente dos líderes espirituais do povo


de Deus do AT (reis, profetas, sacerdotes...), mas a repreensão não
calha acertadamente ao comportamento desses pastores que
dividem igrejas em nossos dias? É claro que sim. O texto diz
claramente que aqueles líderes dispersavam as ovelhas; eles que
tinham o dever de uni-las e protege-las (vv.1,2).

Jesus se compadecia do povo “como ovelha sem pastor” (Mt


9.36), agora Ele se compadece das ovelhas que têm (?) pastor, se
ele for rebelde e divisionista, porque além de dispersa-las, ele as
manipula, explora a amizade, a confiança, as finanças, etc.

Texto 3

“Apascentando a si mesmos e não as ovelhas”


41

Veio a mim a Palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, profetiza contra os pastores
de Israel; profetiza, e dize aos pastores: assim diz o Senhor Jeová: ai dos pastores de
Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas?
Comeis a gordura, e vos vestis da lã; degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas.
A fraca não fortalecestes, e a doente não curastes, a quebrada não ligastes, e a
desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas
com rigor e dureza.

Assim ESPALHARAM, por não haver pastor, e ficaram para pasto de todas as feras do
campo, porquanto se espalharam. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os
montes, e por todo o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a
face da terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque.

Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que visto
como as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir
de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuram
as minhas ovelhas, pois se apascentam a si mesmos, e não apascentam as minhas
ovelhas; portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor: assim diz o Senhor Jeová: eis que
eu estou contra os pastores, e demandarei as minhas ovelhas da sua mão, e eles deixarão
de apascentar as ovelhas, e não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas
ovelhas da sua boca, e lhes não servirão de pasto.

Porque assim diz o Senhor Jeová: eis que eu, eu mesmo, procurarei as minhas ovelhas,
e as buscarei... e farei com elas um concerto de paz... quando eu quebrar as varas do seu
jugo e as livras da mão dos que SE SERVIAM DELAS... Saberão, porém que eu, o Senhor
seu Deus, estou com elas, e que elas são o meu povo... Vós pois, ó ovelhas minhas,
ovelhas do meu pasto: homens sois, mas eu sou o vosso Deus, diz o Senhor Jeová (Ez
34.1-11, 27,30,31, grifos nossos).

Meus pensamentos voam retrospectivamente, para o momento


atual e também para o futuro. Sinto-me atemorizado. Um temor com
cheiro de medo! Sou pastor a quase quarenta anos. Deus me deu o
imenso privilégio de pastorear pessoas. Ovelhas de Deus (Jo 10). A
difícil missão de unir as pessoas junto a Jesus e umas das outras a
qual tenho feito todo esforço para ser fiel a essa missão.

Nunca permiti que membros da igreja onde pastoreio


acompanhem-me quando transferido para outro lugar, pois se o
fizesse estaria consentindo na desestabilização da família e
demonstrando atitude não pastoral. Também sempre procurei em
caso de transferência, facilitar ao máximo o trabalho do meu
sucessor desde a recepção na nova igreja.

Sempre me senti muito honrado por Deus e também por minha


liderança, mesmo quando incompreendido e maltratado por algumas
ovelhas. Se as ovelhas fossem todas perfeitas não precisariam de
pastores. Deus, nesse texto, repete muitas vezes as palavras
42

‘ovelhas e minhas ovelhas’. Sim: fiel ou infiel, gratas ou ingratas,


espirituais ou carnais, as ovelhas são dEle! (1Co 1.1,2,7,11-13; 3.1-
3). Não significa que Ele irá leva-las todas para o Céu, mas isso não
é comigo. O Céu é de Deus (Sl 89.11; 115.16).

Jesus demonstrou a mesma preocupação do Pai, o mesmo


cuidado e o mesmo carinho com seu povo (cf. Mt 9.35-38; Jo 10). Ele
quer livrar suas ovelhas das mãos dos lobos cruéis, os
aproveitadores inescrupulosos, manipuladores, divisionitas (v.27b).

Ele deseja que chegue o dia em que determinou eliminar os


mercenários que só estão preocupados em “fazer o seu pé de meia”.
Meias de lã e de couros de ovelhas. Os desonestos cujos “rabos”
estão sempre presos na tesouraria da igreja. São os que vieram, não
para servir as ovelhas, mas para “se servirem delas” (Ez 34.27b). Os
divisionistas são especialistas nisso.

O texto menciona os líderes judeus que:

a) Não apascentavam as ovelhas, mas “a si mesmos” (3 vezes,


vv.2,8,10);
b) Eles mesmos “espalharam as ovelhas” em vez de rebanha-las
(3 vezes, cf. vv. 5,6);
c) Se “serviram das ovelhas”, e não as serviram (vv.27);
d) Negligenciaram as ovelhas (vv.4-6);
e) Assim as ovelhas foram vitimadas pelos inimigos (vv.5,8);
f) Dominavam “sobre elas com rigor, com jugo pesado” (v.4,27;
1Pd 5.2,3);
g) Não apascentavam as ovelhas (vv.2,4-6,8)
h) Irão prestar contas de tudo ao Senhor das ovelhas (v.10; Hb
13.17).

Texto 4

Divisão, obra da carne

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: ‘...


feitiçarias, inimizades, porfias, iras, pelejas, dissensões...’” (Gl
5.19,20). Lembra que a rebelião é “como o pecado de feitiçaria?” As
‘dissensões’, ou divisões se desdobram em tudo isso aí. Quem é
43

capaz de, em sã consciência, dizer que a divisão não é obra da


carne? Você vai blasfemar afirmando ser isso obra do Espírito?

E se é obra da carne leia novamente a Palavra: “O que semeia


na sua carne, da carne ceifará a corrupção...” (Gl 6.8). “Acerca das
quais (obras da carne) vos declaro, como já antes vos disse, que os
que comentem tais coisas NÃO HERDARÃO O REINO DE DEUS”
(Gl 5.21b, grifos nossos). Uma vez que “cada qual levará a sua
própria carga” (Gl 6.5), desejo que esses irmãos errados se
arrependam, caso contrário os rebeldes divisionistas terão que se
explicar e se arcar com as consequências dos seus pecados.

Texto 5

Divisionista, um autocrata avarento


Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbíteros
com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participantes da glória que se há
de revelar; apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado
dele, não por força, mas voluntariamente; nem TORPE GANÂNCIA, mas de
ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servido de
exemplo ao rebanho (1Pd 5.1-3, grifos nossos).

Autocracia é governo ditatorial, déspota. Destaquemos deste


texto os seguintes princípios da liderança pastoral:

a) Apascentar o rebanho de Deus. Temos aqui o princípio da


liderança pastoral; servir, o sentido original é alimentar e proteger
com paz;
b) Cuidar (cf.1Tm 3.5). Aqui temos o princípio que rege o
governo pastoral (cuidar), e não a do mando, o da chefia, por isso a
recomendação em forma de ordem: “não por força, nem como tendo
domínio sobre a herança de Deus”. Autocracia não é pastorado.
c) De ânimo pronto. Há aqui o princípio da entrega sacrificial e
do contentamento como recompensa; o fato de sentir-se
imensamente privilegiado por fazer o que há de mais relevante em
termos de serviço, com pronta disposição, sem sentir que o
pastorado é um peso;
d) Voluntariamente, não por ‘torpe ganância’, ou por avareza
(ler 1Tm 3.3; 2Pd 2.3). O princípio do uso do livre-arbítrio na livre-
44

entrega serviçal – a igreja sabe que o pastor precisa comer, beber,


vestir, viver;
e) Ser o exemplo, o princípio do modelo. Jesus não disse:
“ninguém VAI ao Pai”, mas “ninguém VEM ao Pai”; Ele é o modelo
infalível. Ele disse: “as minhas ovelhas ouvem a minha voz e me
seguem” (Jo 10.3-5). O pastor deve ser o modelo humano de servo
de Deus (1Tm 4.12), por isso Paulo disse: “sedes meus imitadores”
(cf. 1Co 11.1,2). As ovelhas seguem a Cristo vendo no pastor o
exemplo terreno. O rebelde e divisionista não é nada disso nem para
isso atenta.

Texto 6

Divisões, um sinal do fim dos tempos


Amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso
Senhor Jesus Cristo; os quais vos diziam que no ‘último tempo’ haveria escarnecedores
que andariam segundo as suas ímpias concupiscências (=cobiça, desejos). ESTES são
os que CAUSAM DIVISÕES... que não têm o Espírito” (Jd 16,19, grifos nossos).

O verso 16 qualifica os divisores: “Estes são murmuradores,


queixosos da sorte, andando segundo as suas concupiscências, e
cuja boca diz coisas mui arrogantes, ADMIRANDO AS PESSOAS
POR CAUSA DO INTERESSE” (grifos nossos). Esses são mais
dissimulados ainda, pois comporta como as demais pessoas do
mundo, mas em nome de Deus, o que é pior.

O texto é clássico sobre os apóstatas, mas os divisionistas, por


rejeitar a imposição autoritativa da Escritura como norma de conduta,
estão a caminho da apostasia, por isso o texto se aplica também a
eles. “Ninguém merece” ser liderado por uma pessoa que você sabe
que está de olho, não no seu bem-estar, mas nos seus bens.

Texto 7

Divisionismo, a falta de amor

“E por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase


todos” (Mt 24.12). Os divisionistas são por natureza “homens
amantes de si mesmos” (2Tm 3.2), pois que a divisão de igreja visa
a interesses pessoais, e não o Reino de Deus. Estes são os que não
amam, pois “quem ama os outros não faz mal a eles” (Rm 13.10,
45

NTLH). Esses “não cumprem a palavra, não têm amor por ninguém
e não têm pena dos outros” (Rm 1.31, NTLH). Quase sempre, quem
acompanha divisionista se arrepende depois.

Texto 8

Promovendo dissensões
E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalo contra a
doutrina que aprendestes, desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor
Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações
dos simples (Rm 16.17, grifos nossos)

Dissensão é um sinônimo de divisão, de discórdia, de discussão


que envolve disputa calorosa. O termo grego é diamerismos, que
significa “divisão, dissensão, discórdia, fragmentação, por exemplo,
de família (Lc 12.51,52), de grupos, de igrejas”. A divisão não é uma
questão simples. É grave erro.

Um sinônimo grego é ‘dichostasia’, dissensão, divisão como em


Rm 16.17 e Gl 5.19,20. Outro sinônimo grego é ‘schisma’, donde
nossa palavra portuguesa ‘cisma’, que denota ‘rachadura, fenda,
metaforicamente ‘divisão, dissensão’ como em Jo 7.43; 9.16; 1Co
1.10; 11.18, etc. A divisão é ‘promovida’ e para promove-la se requer
trabalho antecipado, maldosamente premeditado.

Recomendações apostólicas

“Notai o tal” (Rm 16.17; 2Ts 3.14;).

Esta expressão bíblica não denota tratamento fraterno e tem no


grego do NT a palavra é semeioõ, que significa ‘marcar, assinalar,
notar’; tem o sentido de “por uma marca em, prestar a atenção
monitória, ficar de sobreaviso com tal pessoa”; popularmente ‘ficar
armado, ficar com um pé atrás’ com tal pessoa.

Champlin é da opinião de que tais pecados exigem a retirada do


companheirismo, “provavelmente envolve a severa disciplina,
incluindo a exclusão”, pois o apóstolo termina ordenando a
separação:

“Desviai-vos deles” (Rm 16.17).


46

É ordenado imperativamente a retirada da companhia do divisionista;


que se evite a comunhão com ele ou ela. Há muitos casos em que
evitar a companhia é o melhor caminho, mesmo orando pela pessoa
e amando-a.

“Não vos mistureis com eles” (2Ts 3.14).

Os divisionistas são perigosos; eles contaminam. Conversa vai,


conversa vem, “queixosos da sorte”, muitas vezes conseguem
convencer pelo sentimentalismo. Pela dó, o que justifica a
determinação apostólica a que nos separemos dos tais. Em questões
espirituais quase sempre é recomendado um radicalismo firme e
saudável.

“Destes afasta-te” (2Tm 3.5).

A ordem é repetida agora de outra forma. O texto menciona de


modo genérico o que caracterizariam homens dos “últimos dias” dos
“tempos trabalhosos”, dentre estes homens, os “amantes de si
mesmos, os desobedientes, os irreconciliáveis, os traidores, os mais
amigos dos deleites...”, e o apóstolo recomenda o afastamento da
companhia deles. Que os fiéis se afastem, tome distância, retirem-
se, apartem-se, desviem-se para longe, arredem-se da companhia
dos rebeldes divisionistas, etc.

“Conservai-vos a vós mesmos” (Jd 21).

A responsabilidade é pessoal; o livre-arbítrio controlado pelo


Espírito evitará que nos entreguemos pelo emocionalismo, pela
amizade impensada... a atitudes erradas, como fizera Adão e Eva no
princípio. São muitas as recomendações bíblicas nesse sentido, para
que estejamos de sobreaviso sem permitir-nos enganar.

A Bíblia também dá os motivos porque nos separarmos deles:

Porque “eles (os divisionistas quando da divisão) não têm o


Espírito” (Jd 19b);

Porque “eles não são exemplo dos fiéis” (1Tm 4.12);

Porque “eles (nesse ato) não seguem a Cristo” (Rm 16.18);

Porque “eles não amam as ovelhas” (Jo 10.12);


47

Porque “eles não apascentam as ovelhas, mas a si mesmos”


(Ex 34.2,8);

 Eles são amantes de si mesmos


 São avarentos
 Enganam com suaves palavras
 Servem aos seus ventres
 Eles nunca estão contentes
 Eles admiram as pessoas por causa do interesse
 Eles estão cheios de torpe ganância (1Tm 3.3; 2Pd 5.2)
 Eles negociam o povo com palavras fingidas (2Pd 2.3)

A repetição da ordem apostólica indica a seriedade da questão


vista pelo Espírito através do apóstolo. “Os que promovem divisões”
devem ser evitados (Jd 19) sob o risco de contágio. Os divisionistas
sempre laçam mão dos seguintes recursos para levar outros consigo;
para fazer uma rebelião coletiva:

a) A persuasão
b) O logro
c) E a vitimação
Com a persuasão argumentam tentando convencer as
pessoas que lhes dão ouvidos. Veja que às vezes conseguem ‘fazer
a cabeça’ dos seus liderados a ponto de levar a fazer loucuras, até
dar a própria vida, como as 900 pessoas que tomaram veneno e
morreram para atender o seu “pastor”, o americano Tim Jones, que
também se suicidou na época. Isso justifica a ordem imperativa
apostólica: “desviai-vos deles, porque os tais não servem a nosso
Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre...”, e aos seus caprichos (Rm
16.17b,18). A aproximação é perigosa.

Com o logro os divisionistas “com suaves palavras e lisonjas


enganam os corações dos símplices” (id. v. 18b). Enganam a ponto
de o apóstolo os chamar de “roubadores de homens” (cf. 1Tm 1.10).
Na mesma linha de raciocínio, Pedro disse que tais pessoas
faccionistas a caminho da apostasia, seriam capaz de “fazer negócio
de vós”, os crentes (2Pd 2.1,2), como a Babilônia do futuro que fará
48

comércio com “as almas dos homens” (Ap 18.13). Eles são contrários
à sã doutrina da paz e da união entre os irmãos (Rm 16.17).
Com a vitimação os divisores de igrejas apelam para os
sentimentos. Se justificam argumentando que foram vítimas da
“cúpula”, como negativamente se referem à liderança. “São
queixosos da sorte”, nunca estão contentes, “admiram as pessoas
por causa do interesse” (Jd 16), isto é, são dissimulados, hipócritas.
Carecem do nosso amor e das nossas orações, não da nossa
aprovação e adesão.

A ingratidão é padrão nesse tipo de comportamento. Como


temos uma natureza decaída, precisamos vigiar, preciosos irmãos
podem ceder e cair em tais tentações, obras da carne (Gl 5.19).
Tornam-se corruptos e rejeitam os ensinos bíblicos autoritativos em
questões comportamentais, que é o caso em estudo. Precisamos
orar por eles e ter deles misericórdia, mas nunca acompanha-los
sendo-lhes coniventes.

A rebelião é uma insurreição contra a Palavra de Deus (Sl 133;


At 2.42-46), e contra a igreja vítima da divisão.

Contra a Palavra de Deus


Não se aparte da tua boca o livro dessa lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar
o teu caminho, e então prudentemente te conduzirás por onde quer que andares (Js 1.8).

A Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Anápolis, no art. 2 do seu estatuto


denominada Igreja de Anápolis, reconhece a Jesus Cristo como cabeça e aceita a
EXCLUSIVA AUTORIDADE DA BÍBLIA SAGRADA em matéria de fé, culto, doutrina,
disciplina, CONDUTA E GOVERNO, regendo-se pelo Novo Testamento, pelo direito civil
moderno, pelo seu estatuto e por este regimento interno... (Art. 2, cáput., p. 59, grifos
nossos).

Destaquei a propósito as frases: ‘exclusiva autoridade da Bíblia


Sagrada, conduta e governo’, pois são as duas autoridades em
desconsideração numa divisão. A Bíblia e o governo humano da
igreja local. A Palavra de Deus é autoridade última também em
matéria de ‘conduta’ (comportamento), como diz o verso 8 de Josué
1: “para que prudentemente te conduzas”, e o governo humano
constituído, são completamente ignorados na ara da divisão em
49

benefício do interesse próprio, do orgulho ferido e da carnalidade (Ez


34.2,8).

A Bíblia do começo ao fim ordena, recomenda, aconselha a


união e a comunhão entre o povo de Deus. A divisão despedaça o
corpo local e ainda desagrega famílias, coloca os crentes uns contra
os outros, fomenta a dissensão, o ódio, a mentira, a fofoca, a calúnia,
etc. Infelizmente tenho visto isso acontecer muitas vezes e nunca é
diferente.

O divisor se posiciona como vítima, e apela para os sentimentos


dos “amigos”, a quem considera, na prática, sua fonte de lucro. Todos
os divisionistas se desculpam com outros argumentos, mas no fundo
a verdade é a mesma; todos amam (?) “as pessoas por causa do
interesse”, mas os enganados se descobrem muito tarde.

Contra a igreja vítima da divisão

“... E por avareza farão negócio de vós...”


“... Amando as pessoas por causa do interesse...”

O divisionista, “cheio de interesse próprio”, interrompe e


atrapalha os planos da igreja a que divide, e prejudica o seu
progresso, se apropria das pessoas que se lhes seguem. Prejudica
o testemunho público da igreja e do Evangelho. É uma rebelião
contra as autoridades da igreja. Um contrassenso.

Conclusão deste capítulo

Por este capítulo podemos compreender biblicamente os erros


e suas graves consequências de uma rebelião divisionista por mais
“bem intencionada” que tenha sido engendrada. A única separação
recomendada pela Bíblia é a em relação ao pecado, ao mundo e à
carne.
Já é um problema não ser possível ser unido, na prática, com
todos os crentes de todas as diferentes denominações evangélicas;
a divisão entre os crentes da mesma denominação e o desamor entre
os seus próprios pastores é um fato incompreensível. Desunião e
divisão de uma congregação local é repugnante. Algo abominável. É
realmente merecedor de punição severa.
Os textos bíblicos que tratam da rebelião são, além de claros em
suas repreensões, severos nas suas ameaças, pelo que devemos
50

crer que a Palavra de Deus é a Verdade, tanto em suas promessas


de bênçãos e vitórias como em suas ameaças de castigos, porque
Deus “vela” por elas para fazê-las se cumprirem (Jr 1.12).
As 250 pessoas que seguiram Datã, Abirão e Coré foram
tragados pela terra juntamente com eles em sua rebelião. A família
de Acã teve a infelicidade de ser apedrejada e depois queimada a
fogo com ele (Js 7.19-26). Entre a família de Caim não se
pronunciava o nome de Deus. Jeroboão ficou conhecido na história
como o rei “que pecou e fez Israel pecar” (1Rs 14.16; 16.19,26).
A rebelião sempre tem seus afeitos, e os divisionistas de igreja
infelizmente têm sempre seus seguidores para sofrerem com eles as
mazelas de sua desobediência o que significa grande sofrimento
para todos e prejuízos para a Causa de Cristo (1Co 5.6,7; 12.26). Os
textos bíblicos estudados são bem claros a respeito. Porém havendo
arrependimento, confissão e abandono da prática, haverá
‘misericórdia’ (Pv 28.13).

“Uma curva na estrada não é o fim da estrada, a menos que você


falhe na direção (a.d.)

Capítulo 4

A DIVISÃO E O ESTATUTO DA IEADA

“Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles...” (Hb 13.7)

Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis
de todo irmão que andar desordenadamente... Porque vós mesmos sabeis como convém
51

imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós... Mas, se alguém
não obedecer à nossa palavra por esta carte, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para
que se envergonhe (2Ts 3.6,14)

“Maldito o homem que confia no homem...” (Jr 17.5a).

“Portanto ninguém se glorie nos homens...” (1Co 3.21).

Introdução a este capítulo

Nesse último capítulo vamos refletir sobre a desobediência


caracterizada na divisão de igrejas de maneira mais restrita,
consoante os estatutos da Igreja de Anápolis.

De acordo com as leis do país é necessário que as


organizações, igrejas também, tenham sua personalidade jurídica
própria, para seu funcionamento legal; para que não esteja
funcionando na ilegalidade. São estas leis estatutárias que normatiza
o funcionamento da igreja como organização social; como corpo
social.

Para o mundo, a igreja é apenas uma organização social


religiosa, portanto, filantrópica, mas como qualquer outra
organização filantrópica não religiosa. As leis estatutárias e
regimentais são importantes no tratamento da igreja como
congregação local, pois sem essas leis não poderemos evitar a
membrancia de pessoas não convertidas, como um idólatra, um
52

feiticeiro ou homossexual, por exemplo. São essas leis que restringe


à membresia da igreja a apenas aos crentes evangélicos.

A Bíblia é regra da fé e norma da conduta cristã, é a


CONSTITUIÇÃO UNIVERSAL espiritual da igreja, acima de toda e
qualquer lei mundial humana, mas sem essas leis estatutárias, não
haveria respaldo jurídico para o seu funcionamento.

O estatuto rege a vida dos membros da igreja como organismo


social, com direitos e deveres, e sobre obreiros, sobre fidelidade,
sobre disciplina e principalmente sobre questões financeiras. Caso
contrário qualquer pessoa ganharia na justiça qualquer causa
pleiteada em juízo contra a igreja.

Portanto, em qualquer questionamento sobre igreja no Brasil,


primeiro se observa o que a Bíblia diz, depois o que diz o estatuto,
porque a igreja é um organismo – visão bíblica - e uma organização
– visão social. Divisão de igreja é uma rebelião segundo a Bíblia e
também segundo o estatuto da Igreja.

O Estatuto da Igreja e a divisão

a) Sobre a admissão de membros da Igreja. Sobre a admissão


de membros da igreja, o Estatuto da IEADA, no Art. 6, alínea III, § 3º
diz: “Não serão admitidos como membros:...Os causadores de
rebelião ou divisão...” (op. cit. p. 5), e quando legisla sobre os
direitos dos membros em plena comunhão, ressalva no seu Art. 7,
alínea IX, § 1º, o seguinte: “A membro com atitude de rebelião ou
divisão não será fornecida carta de transferência ou mudança”
(id. p. 6). Isso é simplesmente uma coisa lógica, a carta de
recomendação ou mudança é um testemunho escrito de boa
conduta.

Sobre este mesmo assunto esclarece que “a carta de mudança


é concedida somente aos que estejam em plena comunhão”, e
somente “para outras igrejas da mesma fé e ordem” (Art. 9, cáput.,
p. 7), o que significa igrejas reconhecidas pela Igreja de Anápolis
como sendo igrejas legítimas e verdadeiramente evangélicas, o que
não é o caso de uma igreja fundada com rebelião, pois, nesse caso,
53

não há legitimidade e não se sabe se será fundada uma igreja


evangélica ou uma seita herética.

Também não se expede carta de mudança para ser guardada


em casa pelo seu solicitante. A carta de mudança é uma
recomendação da igreja que a expede, através do seu pastor, à outra
igreja coirmã, por isso é ideal que ela seja endereçada à outra igreja
pretendida pelo solicitante e tenha prazo de validade.

b) Sobre os deveres dos membros. Tratando dos deveres dos


membros ‘Nossas Leis’ (o Estatuto) determinam no seu Art. 8: “São
deveres dos membros da Igreja de Anápolis:

I – regrar a conduta para com os membros, congregados e


demais pessoas, coletiva e individualmente, de acordo com a Bíblia,
este estatuto e os bons princípios da moral e do cristianismo...

IV – desempenhar, integral e fielmente, qualquer missão


recebida, assim como qualquer cargo para o qual foi eleito e
investido, dele prestando contas a quem de direito...

V – honrar e propagar o evangelho de Cristo pela vida e pela


palavra;

VI – obedecer, honrar e respeitar as autoridades da sede, de


suas igrejas e congregações;

VII – zelar pela unidade da Igreja de Anápolis...”

Veja, são deveres dos membros da Igreja. Os deveres dos


pastores são ainda maiores, além dos deveres de membro, têm
deveres próprios da função de pastor, dentre eles o de ser bom
“exemplo dos fiéis”, o de “ensinar ao rebanho a Bíblia, os bons usos
e costumes e os princípios da moral e da ética” (Art. 38, inciso VII, p.
14). Isso, primeiramente com o exemplo de vida.

É da competência da Diretoria Geral e também dos pastores e


pastoras no exercício do pastorado, “cumprir e fazer cumprir o
estatuto e todas as deliberações oficiais”, conforme o Art. 21, inciso
I, p. 10. Estas leis exigem ainda que o pastor seja “apto para ensinar
e são na fé; irrepreensível na vida; eficiente e zeloso no cumprimento
dos seus deveres...” (cf. Art. 39, cáput. p. 14). Um divisionista é
54

alguém com alguma destas qualidades? Não! Nem de longe. Nem de


acordo com a Bíblia, nem de acordo com o Estatuto da igreja.

c) Sobre a disciplina. Tratando da disciplina, o Art. 11 (cáput.) do


estatuto da IEADA diz: “Ficam sujeitos à Disciplina Eclesiástica, sem
prejuízo de ação na área cível ou penal, se for o caso, todos aqueles
que de algum modo:

I – ‘Proceder na vida pública, eclesiástica ou particular


contrariamente à moral do evangelho de Cristo;

II – infringir este estatuto e outras deliberações oficiais da Igreja


de Anápolis, seus órgãos ou departamentos e suas igrejas e
congregações;

III – prejudicar os trabalhos da sede, de suas igrejas e


congregações, ou o seu bom nome e a doutrina bíblica...

V – participar de rebelião ou divisão’”.

O/a rebelde tripudia sobre todos esses itens do Estatuto.

O Ministério da igreja, que é “o conjunto dos obreiros (diáconos,


diaconisas, presbíteros, evangelistas, missionários, missionárias,
pastores e pastoras (cf. Arts. 33 e 34 cáputs.), tem a missão de, em
reunião denominada “Ministerial” (cf. Art. 40, p. 14), decidir, dentre
outras obrigações, sobre a disciplina dos errados. O artigo 41 diz:
“Além das atribuições previstas neste estatuto, a ‘Reunião Ministerial’
(cf. Art. 40) ocorrerá para:

I – O julgamento de grave acusação a membro ou obreiro da


Igreja de Anápolis, além de integrante da diretoria...

III – Decidir sobre rebelião individual ou de grupos...

V – promover a exclusão dos membros e obreiros incorrigíveis e


contumazes...

X – promover exclusões, nos interregnos da Convenção


Internacional da Assembleia de Deus ou de Convenções Filiadas” (cf.
p. 15).
55

Veja, o rebelde deve ser excluído. A Bíblia ensina e exige isso


(cf. 1Co 5.13) e o estatuto da igreja também.

A Convenção (CIAD) é o órgão oficial e legal da igreja


encarregado da ordenação de evangelistas, missionários,
missionárias, pastores e pastoras, e também de fiscalizar e
disciplinar esses obreiros e obreiras caso seja necessário. A CIAD
tem seu estatuto que rege a vida ministerial dos oficiais
mencionados. Nós, Igreja de Anápolis, somos uma multidão, e os
obreiros somam também milhares. O Art. 2, cáput., do estatuto da
CIAD diz: “São finalidades da Convenção Internacional:

II – zelar pela observância da doutrina bíblica, da lei e da


ordem...

V – estimular a ilibada conduta moral, ética e espiritual de seus


membros (obreiros e obreiras)...

VII – exercer a ação disciplinar sobre os membros” (obreiros/as).

A Igreja de Anápolis é séria não somente por exigir obediência à


Palavra de Deus, o que na verdade vem em primeiro lugar, mas
também por seus estatutos bem elaborados e coerentes.

Sobre a admissão de obreiros/as por consagração ou


recebimento, o estatuto diz (Art. 4º, § 5º): “Não serão admitidos como
membros da Convenção Internacional:

IV – indivíduos com desvio de conduta sexual (homossexuais e


outros)...;

VI – os causadores de rebelião ou divisão” (cf. p. 21).

Veja que nem o estatuto da igreja, nem o estatuto da CIAD


admitem o recebimento de membros causadores de rebelião ou
divisão. As leis são claras. Aos que se rebelarem e/ou causarem
divisão, o estatuto prevê punição (Art. 10): “Fica sujeito às medidas
disciplinares, sem prejuízo de ação na área cível ou penal, se for o
caso, todo membro (obreiro/a) que:

I - proceder da vida pública, eclesiástica ou particular


contrariamente à moral do evangelho de Cristo;
56

II - infringir leis, estatuto ou deliberações oficiais;

III - prejudicar os trabalhos;

IV - Macular o nome da Igreja Sede ou da Convenção


Internacional...;

VI - participar de rebelião ou divisão”.

Infringe todos esses itens do artigo o divisor de igreja. O estatuto


proíbe não somente praticar a divisão como agente ativo, mas
também participar ou acompanhar o rebelde. Este infringe todos
esses incisos do estatuto, além dos princípios bíblicos. O estatuto da
CIAD, como o da igreja, prevê três tipos de disciplina dependendo da
gravidade da falta, que são:
1) admoestação, que consiste em aconselhamento e exortação de modo verbal ou por
escrito.
2) Afastamento; consiste na supressão dos direitos até que o (a) faltoso (a) dê provas
de arrependimento,
3) exclusão, que consiste em eliminar o (a) faltoso (a) do rol de membros, quando o (a)
mesmo se mostrar incorrigível e contumaz.

Sem sombra de dúvida, a rebelião ou divisão é uma falta


gravíssima merecendo a exclusão, como no texto estatutário. De
acordo com esses estatutos a exclusão pode ser feita pelo Ministério
Geral da Igreja Sede, dependendo o caso, pela Convenção
Internacional e pelas Convenções filiadas e o (a) excluído/a “perde
todos os direitos dos membros em plena comunhão” (Art. 13, inciso
I, p. 24).

O Regimento Interno (RI) da Igreja de Anápolis também regula


o comportamento dos seus obreiros e membros. O Art. 29, sobre a
competência dos pastores e pastoras dirigentes de igrejas, a alínea
VIII, letra d, diz:
será considerada fraudulenta, e punida na forma do estatuto, a gestão que descumprir
normas, quer seja obstaculizando ou desconsiderando-as, que deixar de fazer repasses
de valores pertencentes à Sede, à CIAD ou às Convenções Filiadas nos prazos
estipulados, que der informações incorretas, que fizer retenções alheias, que causar
qualquer prejuízo à Igreja de Anápolis ou que não exigir o uso da sua literatura (cf. p. 69).

Um divisionista fere todos esses princípios regimentais.


Descumpre todas as normas da Bíblia e das leis da igreja, bem como
57

as recomendações oficiais da liderança, obstaculiza os trabalhos da


igreja dividida, presta informações falsas, mentirosas, causa
prejuízos enormes não somente econômicos a igreja dividida, como
também à Sede, mas muito mais prejuízos espirituais e na
convivência e comunhão do povo inclusive de famílias.

O RI decide que carta de mudança ou transferência de obreiros


é competência da CIAD e das Convenções Filiadas e que a mesma
só será dada a quem estiver em plena comunhão, e, que o obreiro
que pegar sua carta de mudança e fundar igrejas autônomas “não
podem ser recebidos pelas Convenções Filiadas nem pela CIAD” (cf.
Art. 29, alínea XII, letras a e b, pp. 69/70).

“É melhor você se manter limpo e brilhante; você é a janela pela qual


você deve ver o mundo” (George Bernard Shaw)

Entre dois caminhos

“Escolhei hoje a quem sirvais... porém eu e a minha casa


serviremos ao Senhor” (Js 24.15).

Uma última palavra dirigida às ovelhas vítimas de intenção


divisionita de algum desvairado pastor, que às vezes é um homem
de Deus, mas num determinado momento de sua vida, sai dos planos
de Deus e parte para uma divisão da igreja a que pastoreia ou onde
serve como pastor auxiliar. Segui-los em sua rebelião divisionista, ou
não, é a questão tratada neste subitem.

Deus não anula o livre-arbítrio de ninguém e jamais deixará de


responsabilizar o errado por ter cometido erros na boa intenção, ou
por obediência e amor a alguém errado, ou por transigir com alguém
errado, nem que esse errado alegue ter sido vítima de injustiça, ou...
Um erro não justifica outro erro.

A Bíblia é clara: “ao culpado Deus não tem por inocente...” (Êx
34.7; Na 1.3; Nm 14.18; 1Co 11.27). Transigir é concordar, anuir,
ceder, ser conivente. A transigência é um desvio parcial de um
princípio, a fim de chegar-se a um acordo; um desvio da norma
bíblica com justificativa própria para apoiar um erro, ou um errado.
Às vezes o argumento parte de premissas verdadeiras, mas com o
58

fim de apoiar um comportamento errado, como a divisão de uma


igreja, por exemplo.

Os casos de Miriã e Arão, os irmãos de Moisés, por nós citados


neste trabalho, são típicos de rebelião com divisão levados a efeito
com argumentos verdadeiros, visando justificar ciúmes e inveja, por
certo, acompanhados de outros interesses; o de liderar também.
Sandedrs (1985) diz:

parece que ela havia instigado uma campanha de murmuração contra Moisés, usando o
casamento dele com uma mulher etíope, como desculpa para desafiar sua autoridade...
Está bem claro que Miriã e Arão não estavam contentes em assumir o segundo lugar, em
relação a Moisés e, sob instigação de Satanás, tentaram derrubá-lo de sua influente
posição (op. cit. p. 121).

Quantas igrejas mantém um sentimento de desprezo e aversão


pela liderança maior por culpa do seu pastor local que está sempre
semeando descontentamento. Veja o argumento de Miriã que
caracteriza sua rebelião e pode ser aplicado em um sem número de
situações modernas: “Porventura tem falado o Senhor somente por
Moisés? Não tem falado também por nós?” (Nm 12.2). Isto é, eu
também sou um ungido do Senhor, homem de Deus. Deus tem falado
comigo também, e por aí vai.

O texto resume a atitude inicial de Deus apenas com a frase: “E


o Senhor o ouviu”. Os divisionistas podem se defender como for, o
Senhor vê os seus motivos carnais. Ofensa pública exige disciplina
pública. O verso oito registra a indignação divina: “Como, pois, não
temeste falar contra o meu servo, contra Moisés?” E então o
julgamento do Senhor se abate sobre os divisionistas: “assim a ira do
Senhor contra ELES se acendeu; e foi-se” (v.9).

O castigo do povo veio de modo coletivo: “a nuvem se desviou


de sobre a tenda” (v.10a), “e o povo não partiu...” (v.16). Ele trouxe
problemas para o povo. A nuvem simbolizava a presença do Senhor
com eles, quando a nuvem se deslocava o povo se deslocava sob
sua proteção (cf. Nm 9.15 ss). Sobre Miriã o castigo veio de modo
pessoal: “E eis que Miriã era leprosa como a neve...” (v.10b). Ela
tinha sido o pivô da rebelião; sua disciplina foi pessoal e pública (1Tm
5.20).

Agora veja o caso da rebelião de Coré (Nm 16). Veja como é


próprio dos rebeldes e divisionistas usarem argumentos verdadeiros,
ou meias verdades para justificarem atitudes erradas. Coré
59

conseguiu “fazer a cabeça” de muita gente, inclusive líderes, para


segui-lo em seus planos de rebelião.
Eles disseram a Moisés: “Demais é já (=basta!), pois que toda a
congregação é santa, todos eles são santos, e o Senhor está no meio
deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do Senhor?”
(Nm 16.3).

A primeira parte da fala dos divisinistas era verdade, toda a


congregação de Israel era o povo de Deus e Deus estava no meio
deles, isso o próprio Deus havia falado. O engano está registrado na
última parte da fala deles: “Por que, pois, vos elevais sobre a
congregação do Senhor?” Decepcionado e entendendo
perfeitamente a trama, Moisés nada respondeu de imediato: “caiu
sobre o seu rosto” (v.4) e correu para Deus (v. 5).

A rebelião foi tão grande que Coré conseguiu uma “congregação


para si” de 250 pessoas (vv. 2,3,5,6,11,16,19,21,40). O povo de Deus
ficou divido entre os dois líderes. Leia sobre as justificativas do povo
dividido nos versículos 5-19.

A ordem do Senhor foi: “apartai-vos do meio desta congregação,


e os consumirei como num momento... Levantai-vos do redor da
habitação de Coré, Datã e Abrião” (v.21). “Desviai-vos, peço-vos, das
tendas destes ímpios homens, e não toqueis nada do que é seu,
para que porventura não pereçais em todos os seus pecados” (v.26,
grifos nossos).
Os rebeldes e divisores são ímpios, homens pecadores. Nada
de unir-se a eles, para evitar ser participantes dos seus pecados e
não incorrer nas mesmas disciplinas.
O atrevido divisionita Coré “fez ajuntar contra eles (Moisés e
Arão) toda a congregação à porta da tenda da congregação” (v.19).
Então veja a operação da Mão de Deus:

a terra que estava debaixo deles se fendeu; e a terra abriu a sua boca, e os tragou com
as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a toda a sua
fazenda. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao sepulcro (mundo dos mortos,
abismo, inferno, hades), e a terra os cobriu, e pereceram no meio da congregação. E todo
o Israel, que estava ao redor deles, fugiu do clamor deles; porque diziam: para que
porventura também nos não trague a terra a nós. Então saiu fogo do Senhor, e consumiu
os duzentos e cinquenta homens que ofereciam o incenso (cf. Nm 16.31-35).

Os líderes tiveram juízo mais severo, aos gritos foram tragados


vivos pela terra. Os transigentes, seus seguidores, foram consumidos
pelo fogo do Senhor. Mas Coré e seus companheiros na liderança da
rebelião eram do tipo que convence. Mesmo com todo esse juízo
60

severo impetrado por Deus na presença de todo o povo de Israel


(v.41), e ainda sendo levantado um memorial para que se não
esquecesse o fato histórico (vv.38-40), ainda assim, no dia seguinte,
o restante do povo apresenta outro argumento contra Moisés:

Mas no dia seguinte toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moisés e
contra Arão, dizendo: ‘vós matastes o povo do Senhor’. E aconteceu que, ajuntando-se a
congregação contra Moisés e Arão, e virando-se para a tenda da congregação, eis que a
nuvem a cobriu, e a glória do Senhor apareceu. Vieram pois Moisés e Arão perante a tenda
da congregação. Então falou o Senhor a Moisés, dizendo: ‘levantai-vos do meio desta
congregação (saí do meio deste povo), e a consumirei como num momento...’ grande
indignação saiu de diante do Senhor; já começou a praga. E os que morreram daquela
praga foram catorze mil e setecentos, fora os que morreram por causa de Coré (vv.41-
46,49).

Veja, foram quase quinze mil mortos por causa da rebelião


divisionitas. Os que acompanham os rebeldes estão lhe dando apoio
na prática do seu pecado, e, portanto, são culpados também,
merecendo castigos igualmente severos.
Quanto sofrimento causou ao povo de Israel o rebelde Absalão
depois de “furtar-lhe o coração” com palavras conquistadoras (2Sm
15), como o faz todos os divisionistas. De uma vez morreram “vinte
mil” na guerra (v.7b), e o rei Davi “com o rosto coberto, gritava em
alta voz”, chorando e lamentando pela morte de seu filho (v.33; 19.1-
4). Os rebeldes e divisionistas sempre causam sofrimentos, dores, e
até mortes (da paz, da amizade, da reputação, morte espiritual).
61

CONCLUSÃO FINAL
(Ler 1Tm 6.3-10; 2Tm 2.5)

Finalmente, depois de analisar a questão a fundo, e bater forte


contra a divisão de igrejas, queremos dar uma última palavra. Nossa
intenção, como repetimos por duas vezes, não é aguilhoar a
consciência já atordoada daqueles quem caíram na fraqueza de
causar tantos males a tanta gente que o seguiram na boa fé, para
mais tarde se arrepender e não ter a coragem de retornar pedindo
perdão.

Tenho bons amigos, não somente um, que caíram nessa


tentação. Conservo a amizade, apesar da decepção. Jamais lhes
darei uma só palavra de aprovação nessa questão. Se quiserem
manter a amizade, é nessas condições. Não posso chamar o amargo
de doce e vice-versa (ver Is 5.20,21). Oro sempre por estas pessoas.

Há atualmente muitos pastores adoecendo as ovelhas vítimas


de suas murmurações, resmungos, frustrações, maus tratos, vida
cristã devocional também doente, etc.

Na introdução geral tivemos o propósito de chamar sua atenção


para a grave e séria questão da divisão de igreja, problema esse
afeto diretamente à liderança, e como pretendíamos aborda-lo de
62

modo imparcial e geral, sem peias e sem rodeios, convidando o leitor


para refletir de modo espiritual e também racional e imparcial sobre
o tema.

No preâmbulo quisemos mostrar a abrangência e a trivialidade


com que esse pecado está sendo tratado. As justificativas
infundadas, os objetivos escusos, o desprezo pela Palavra e pelas
leis civis que regem a comunidade cristã, devem nos convencer da
gravidade do problema para que jamais entremos por esse caminho
que tem sido o último passo ministerial de muitos pastores. Ninguém
vê com bons olhos um pastor que foi rebelde com sua denominação
e uma igreja que surgiu como fruto de divisão.

Depois quisemos mostrar que Deus, mesmo sabendo todas as


coisas, jamais nos daria a Bíblia se não esperasse amor, respeito e
obediência nossa em completa submissão e gratidão a Ele e por ela.
A Bíblia é a Palavra Viva de Deus dada a nós. Sem ela não teríamos
como nos guiar em sentido algum, a não ser pelo nosso coração
“desesperadamente mau e enganoso” e por nossa mente
profundamente “entenebrecida” e extremamente egoísta. A divisão
de igreja é o desprezo por seu (da Bíblia) caráter autoritativo divino.

No terceiro capítulo, no intuito de clarear o tema ainda mais, e


de modo definitivo, fizemos pequenos comentários exegéticos de
textos bíblicos, apoiando-nos também em comentários e ideias de
ilustres teólogos.

E, por último refletimos sobre a rebelião divisionista sob aspecto


legal, com base no Estatuto da Igreja. Vimos, portanto, que em todos
os aspectos a divisão é perniciosa.

Orando e desejando que esses irmãos divisionistas consertem a


vida e se recomecem como servos, e que os seus seguidores façam
o mesmo, nos despedimos com este pensamento:
63

“O que eu temo não é a estratégia do inimigo, mas os nossos erros”


(Péricles)

Odilon, na milícia da fé.

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