anos, observamos que os dogmas de nossa religião estão sendo alterados. Pela ânsia e ambição algumas pessoas estão recriando e inventando rituais, desrespeitando tradições e a historia de luta e resistência dos africanos escravizados, que com muita fé, nos deixaram um amplo legado cultural e religioso. Preservar e cuidar da memória dos nossos ancestrais são uns dos princípios básicos da nossa religião. Para manter viva a fé, e os cultos religiosos trazidos da África , nossos antepassados enfrentaram a desumanidade que é a escravidão, o massacre cultural e religioso, em uma época que era extremamente proibido qualquer manifestação cultural e religiosa realizada por africanos e afrodescendentes. Em outros tempos, mais tarde, após a falsa abolição, para manterem viva sua crença se submeteram ao sincretismo. Foram obrigados a esconder a sua religiosidade por trás de outros seguimentos religiosos. O culto as Divindades Africanas era considerado uma contravenção legal, passível de pena. Quando flagrados realizando algum dos nossos ritos sagrados, eram presos, torturados e ainda expostos a uma série de humilhações. Eram obrigados a andar com os atabaques na cabeça até a delegacia para que a elite racista tivessem a oportunidade de colocar toda a sua intolerância e racismo para fora. Eram alvo de deboche da burguesia. Em tempos mais recentes, até a década de 70, a perseguição era ostensiva. Para realizar qualquer cerimônia era preciso conseguir um alvará de funcionamento, que era emitido pela então Delegacia de Jogos e Costumes, que a cada celebração tinham que pagar altas taxas para louvar nossos Ancestrais . E ainda sim, mesmo seguindo as regras da intolerância e do racismo, pagando todos os impostos e taxas obrigatórias, muitas vezes seus atabaques eram silenciados pela invasão de “agentes da lei” e tinham que começar tudo de novo. Para manter viva a fé, em muitos momentos abdicaram do próprio alimento. Mesmo com fome, tiveram forças para construir os templos que deram origem ao candomblé. Templos estes, que guardam e preservam a cultura, tradição e conhecimentos. Legado da união de vários povos que se encontravam nas mesmas condições e juntos perpetuaram com muita luta sua fé e plantaram a aliança de várias etnias, de todas as nações, no eixo central destes Terreiros. Sendo um dos terreiros de candomblé mais antigo do Brasil, e recentemente considerado patrimônio histórico e cultural da nação, a Casa do Bate Folha não pode ser negligente e fazer de conta que não tem conhecimento de determinados fatos que comprometem a continuidade da nossa religião. Se calar mediante a fatos que alteram a essência dos fundamentos deixados por nossos ancestrais é ser conivente com os erros. Portanto, seguindo a nossa tradição ancestral, Iremos relatar as ultimas mudanças que agridem os princípios do candomblé com a intenção de contribuir para restauração do equilíbrio e tradições. • Apenas uma pessoa pode assumir o posto de Zelador (a ) dentro de um terreiro. Terreiros de Candomblé conduzido e administrado por mais de uma pessoa pode ser considerado, no mínimo, um equívoco. Em um Barracão somente um é o escolhido para governar a terra, este é o responsável pela força espiritual que existe neste terreiro , existe os postos que o auxiliam e também os que tomam conta da grande estrutura religiosa existente dentro de uma casa de candomblé. Mas, o título de Tatetu ou Mametu não pode, de forma alguma, ser dividido em uma mesma casa. Seria como se tivessem mais de um rei em um único reino. • É impossível imaginar o funcionamento de uma Casa de candomblé sem a existência de um Zelador ( a ) Mesmo tendo os mais altos postos o terreiro não pode ser dirigido por estes , Um terreiro não é uma empresa privada, que pode ser administrada por sócios. É um templo religioso que deve ser conduzido pela autoridade máxima, que é o Zelador ( a ) Em caso de sucessão, o Terreiro no período de luto é governado pela Mãe Pequena ; Este posto compete a ela transmitir o conhecimento para o próximo sacerdote supremo, pois ela é a Mãe do Segredo, a pessoa que tudo viu e aprendeu e tem o dever de passar para o sucessor que ira tomar posse após as devidas obrigações que encerram o período de luto • O desrespeito ao luto em virtude da perda do sacerdote. Após o falecimento do Sacerdote o terreiro deve permanecer em luto total,apenas se limitando as cerimonias fúnebres. O luto pode levar de um a sete anos conforme determinação dos Minkísi. -Este período é fundamental para restabelecer o equilíbrio do Terreiro mediante a perda do Zelador e também é o período em que o Nkísi determinara o próximo sucessor ou sucessora ( isto é , se o Nkísi já não fez isto durante a gestão do Zelador , então vivo ) • Iniciados abrindo ou dirigindo Terreiros sem serem apresentados a sociedade como sacerdotes. Completado os sete anos de iniciação e tendo o destino de se tornar sacerdote ou sacerdotisa o escolhido pelas Divindades deve edificar um templo e após estrutura-lo para liturgia do candomblé, seu Zelador deve lhe conferir o Titulo e apresenta-lo a sociedade como sacerdote ou sacerdotisa. Em caso de sucessão o escolhido deve ser apresentado por 4 autoridades religiosas as mesmas que consuturam o oráculo para saber quem assumiria o trono. • Sacerdotes e sacerdotisas zelam pelos Mutuê dos filhos e devem ter uma Pessoa Capacitada para zelar o deles. • Alteração na sequência de rituais como primeiro fazer oferendas aos Jinkísi e depois a oferenda para cabeça - Toda liturgia do candomblé foi cuidadosamente pensada pelos nossos ancestrais que tinham raízes e propriedades de conhecimento, todo ritual deve ser seguido minuciosamente conforme o legado deixado, primeiro deve se fortalecer a cabeça para depois cuidar do guardião da cabeça , a Divindade Pessoal • A recriação na maneira de vestir nossos Ancestrais. - Existe uma grande liturgia por voltada em torno das vestimentas dos Mesmos , estas são cheias de significados não devem, sob hipótese alguma, serem alteradas e devem respeitar as características individuais de cada Nkísi tomando o cuidado para não transformar nosso sagrado em alegorias carnavalescas. • Adeptos vestindo-se de tecidos reservados aos Jinkísi , Sempre se teve o carinho e dedicação em reservar o melhor tecido para a Divindade permitindo que sua veste se destaque no meio da diversidade de cores e bordados que são características das vestes do candomblé. os tecidos brocados com excesso de brilho sempre foram destinados somente para as Zeladoras . • A falta de discernimento nas liturgias religiosas. – Deve se respeitar e entender as tradições e rituais particulares de cada casa matriz de salvador, cada uma possui suas características próprias. Achar bonito e incrementar na sua casa, tira sua referencia enquanto raíz e a transforma em um proverbio dos antigos (colcha de retalho) • Embora cada terreiro descendente possa ter sua particularidade individual, de maneira nenhuma os princípios e dogmas podem ser transformados ou adaptados. Não fomos nos que criamos estas diretrizes, herdamos rico patrimônio cultural, símbolo de resistência devemos seguir tal como nos foi legado não nos compete a mudar uma tradição religiosa pentacentenária apoiada em uma cultura milenar. As tradições citadas acima se apoiam nos principais terreiros de candomblé bahianos Esperamos ter colaborado com a continuidade de nossa religião.