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rr Infeccao pelo Papilomavirus Humano: Histéria, Biologia e Epidemiologia Gutemberg Leao de Almeida Filho* Professor Assstente do Instituto de raldo Rio de Janeiro Fineeoogia da Universidade Fede Enderego do Autor: Instituto de Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rua Moncorno Filho, 90, Rio de Janeiro-RJ. Histérico As verrugas genitais sfio conhecidas desde a Antiguidade Consideradas como doenga de origem venéra e associadas 20 hhomossexualismo masculino, foram registradasem escritos médi- cos e despertavam interesse entre postas eréticos € satiricos. Suas denominagdes mais antigas s4o Thymus e Ficus. O termo Thymus, logo abandonado, era encontrado em eseritos médicos respeitveis, enquanto Ficus era utilizado no sentido obsceno € sobreviveu até o século XIX nos idiomas francés, sueco, italiano ‘espanol (BAFVERSTEDT, 1967). Outras denominagies, em dis- tintas épocas, foram verrugas venéras, verrugas gonocécicas & condiloma acuminado. No Brasil, as verrugas genitais so conhe- cidas popularmente como “crista-de-galo”, “cavalo-de-crista”” “Figueira” ‘O termo conditoma provém do grego antigo e significa algo como “tumor redondo” (BAFVERSTEDT, 1967), enquanto acuminado é derivado do latim acumminare, que significa “tornar pontudo” (BUTLER & STANBRIDGE, 1984). ‘As miltiplaslocalizagdes e expressées clinicas desta enfermi- dade levanr-nos a tepudiar tais denominagdes. O termo genético aceito atualmenteé virose do papiloma humano ou infe¢zo pelo virus do papiloma humano, devendo-se caracterizar atopografia da doenga. AAs verrugas genitais despertam real interesse apés a epide- ‘mia de sfilis, na Europa, nofinal do século XV. A partir de eno, todasas ilceras e descargas genitais passaram a ser atribuidas ao “veneno venéreo” daquala doenca, Assim, as verrugas genitais ram confundidas com 0s condilomas lata, fazendo com que du- rante muitos anos ndo fossem considerados como enfermidade independente, mas uma manifestagao clinica da sifilis (ORIEL, 17. PAGET (1865), relatando um caso de “doenga sifilitica do reto edo colon”, alertou para tipo de lesio perianal encontrada, que atribuiu a sflis. A confus4o clinica crstaliza um equivoco hist6- rico tdo importante que vale a pena reproduzir as palavras do autor “Blas (as lesdes) so erescimentos de pele agrupados ao re- dor do finus, cor-de-rosa, com textura macia, carnudas, brilhantes, {imidase tremendamente secretantes; com contortio itregular, bem agudas, cénicas ou achatadas como se por pressdo miitua ou pressdo entre as nédegas. Se pudessem ser comparadas com al- ‘guma coisa o seriam com cristas-de-galo, com as quais, realmente, Parecem muito, Eu ndo ousarei afirmar que estes crescimentos cutéineos 56 so encontrados com doenga sifiitica do reto, mas eles so muito comuns em associagao com ela e tao raras sem ela que eu ndo vi ainda um caso no qual existssem sazinhos ou com alguma outra doenga que nao a sifilis” BENJAMIN BELL foi oprimeiroa reconhecer que as verrugas, ‘genitais no tinam relagio direta com a sifiis. Todavia, eta cren- a errénea 96 foi abandonada no fim do século XVIII. (ORIEL, 1984), ‘Noséeulo XIX, as verrugas genitais passaram a ser atribuidas & gonorréia. STUMPKE, em 1914 (apud RAVOGLI, 1916), descresveu 0 desenvolvimento de vegetagdes em torno da ‘genitéria feminina e do anus a partir da gonorréia. Contudo, tal Ccrenga s6 foi desprezada apés a constatagao de que mais da me- ‘ade das pacientes com verrugas genitais ndo apresentavam si- naisclinicos de gonorréia Em meados do século XIX, surgiu a teoria do irritante ‘nespecifico, que vigorou até meados do nosso século, ¢ segun- doa qual as verrmgas genitais eram causadas por irritagdo cutnea determinada por corrimentos vaginais, esgema decompostoe hi- _giene genital precaria. RAVOGLI (1916), em excelente antigo ilus- trado por dois casos clinicos, defendia que o condiloma acuminado era originado por agentes irritantes de natureza inespecifica, como ‘esxema ou corrimentos vaginais capazes deinflamar a pele ou a mucosa, produzindo escoriagdes que desnudariam as papilas dérmicas e promoveriam ocrescimento das vegetagées papilares. CELSUS, no primeiro século, referiu que as verrugas poderiam, localizar-se nas plantas dos pés, nas palmas das mos ou nos _genitais, sendo possivelmente o primeiro a perceber uma identi- dade etiolégica entre as verrugas cutdneas e as genitais (BAFVERSTEDT, 1957) No final do século XIX, as verrugas genitais passaram a ser correlacionadas as verrugas cutneas. Naquela época, observou- se a presenga de ambos os tipos de verrugas, com grande seme- Ihanga histologica, em alguns pacientes, ¢constatou-se 0 des volvimento de verrugas cutdieas em reas extra-genitais inocula- ddas com exirato de verruga genitais. Estes fatos levaram & suposi- ¢20 da origem tinica das verrugas, 0 que originou a chamada teoriaunitéria (ORIEL, 1971), _Experimentalmente, LICHT, em 1984 apud ROWSON & MAHY, 1967), foi oprimeiro a rlatar o desenvolvimento da verruga huma- na. O autor inoculou em sua propria pele material ndo-filtrado de verruga removida de seu irmo e verificou o desenvolvimento de uma verruga em um dos dois locais inoculados. ‘ras Dosngas Sex Transm, 72): dabe, 1995 11 ee ae JADASSOHN, em 1896 (apud GOLDSCHMIDT & KLIGMAN, 1958), confirmou a natureza infecciosa das verrugas cutneas Utilizando extrato ndio-filtrado de quatro lesbes diferentes (duas ‘verrugas planas e duas papilomatosas), inoculando-as em 74 are as de pele normal de maos e bracos de seis individuos, apés um periodo de incubagdo de dois a trés meses, surgiram lesdes vvernucosas planas em 31 locais inoculados. Todos desenvolvem pelo menos uma lesio e alguns, varias lesbes, CIUFFO (1907) foi o primeiroa provar a natureza viral das verrugas cutineas. Utilizando extrato filtrado de verruga plana suspenso em solugao salina, inoculou-o em Area escarrificada no dorso da prépria mo, observando, cinco meses depois, 0 desen- volvimento de pequenas pépulas WAELSCH, em 1917 (apud GOLDSCHMIDT & KLIGMAN, 1958), foi 0 primeira obter sucesso com a inoculaco de material de condiloma na pele humana, Foi também o primeiro a confirmar a hipétese de que o mesmo agente causava a verruga vulgar e 0 condiloma acuminado, Usarido material no-fltrado de condiloma de pénis, inoculou areas escarificadas da pele de trés voluntaris. Dois deles desenvolveram verrugas planas no antebrago, respec- livamente, apés és e nove meses. Surgiram, em uma voluntaia, lesGes tipicas de condiloma em pequeno labio, apés trés meses. SERRA (1924) estabeleceu a origem viral do condiloma ‘acuminado, Utilizando material fltrado de condiloma de pénis ino- cculado em areas escarificadas da pele de ts voluntérios, surgi- ram lesBes no dorso do pe e regio supra-pilbica, porém nenhuma leso desenvolveu-se na regio genital GOLDSCHMIDT eKLIGMAN (1958) empregaram material ndo- filtrado de condiloma de pénis inocaladoem sete voluntirios, em diferentes areas de pele normal e em outras preparadas especial- mente pela técnica da dermabrasio, Todos 0s individuos desen- volveram lesdes verrucosas nas dreas de pele normal. No entan- ‘0, ndo foi possivel reproduzir lesdes condlilomatosas na dea de pénis inoculada, ORIEL e ALMEIDA (1970) observaram, com muita proprieda- de, que 0s experimentados com inoculagao de extratos de condiloma acuminado sio poucos ¢ 0 material utilizado tem sido obtido sempre do pénis, enquanto que extratos de verrugas de vulva e nus nunca foram empregados. Por outro lado, extratos de verrugas cutdneas jamais foram inoculados com sucesso na reo genital STRAUSS et alii (1949) demonstraram a origem viral das ver- ‘gas cuténeas ao observarem em extrato de cinco papilomas cutdneos, através da microscopia cletrénica, a presenga de paticulas virais arranjadas em padrio de cristal. O exame histoldgico das lesBes revelou corpos de incluso intranucleares DUNN e OGILVIE (1968), analisando extrato de verrugas penianas através da microscopia eletrGnica, demonstraram a pre- senca de particulas viraisintranucleares, embora em concentra omuitabaixa ORIELe ALMEIDA (1970),examinando 25 espéeimes de ver- rugas genitais através da microscopia eletrénica com coloragao negativa, identificaram a presenca de particulas virais intranucteares em treze deles. Na realidade, 0s virus causadores das verrugas cutineas e ‘genitais tm aparéncia similar Aluz da microscopia eletrénica To- davia, ALMEIDA et alii (1969) demonstraram, através da imunomicroscopia eletrGnica, que o virus das verrugas genitais diferiam antigenicamente daqueles isolados de verrugas cutdneas. A discussdo em torno da etiologia e a aceitagao por longo tempo da origem inica das verrugas desviou a atengao dos estu- diosos quanto ao modo de transmissio das verrugas genitais. BARRET et alli (1954) foram os primeiros a demonstrar clinica ‘mente apossibilidade de transmissao sexual das verrugas genitais, ao examinarem esposas de soldados norte-americanos epressos dda guerra na Coréia, ‘TEOKHAROV (1969), achando incomum a concomiténcia de verrugas genitais e cutineas, concluiu que as primeiras eram in- feccdio viral venéra independente e distinta das iltimas ORIEL (1971) erificou queas verrugas genitais sao de trans- ‘missio sexual provavel e confirmou a independéncia dos dois tipos de verrugas. Excetuou, no entanto, um pequeno grupo de pacientes com verrugas cutdneas que desenvolveram lesdes genitais semelhantes a Verruga vulgaris e que, provavelmente, teriam sido causadas pelo mesmo virus transferido para a érea ‘genital através das maos. Occonhecimento mais aprofundado da estrutura e da organi- ago viral permit 0 desenvolvimento de téenicas imunoquimicas que possiblitaram a deteccdo do virus através de seus antigenos. zzur HAUSEN etalii(1974) deram passo decisivono sentido da ‘demtificagdo viral, a0 fazerem publicaro primeiro trabalho sobre hibridizago molecular, utilizando sondas de RNA derivadas de verruga plantar. A técnica, aperfeicoada por SOUTHERN em 1975, permite distinguir 0s varios tipos de HPV existentes, segundo 0 rau de semeltianca de suas bases nitrogenadas. GISMANN e zur HAUSEN (1976), somente dois anos depoi da publicacdo pioneira, obtiveram sucesso com a hibridizaglo molecular e estabeleceram a pluralidade do virus do papiloma humano. Ocrescente e atual interesse pelo estudo das infecges cau- sadas pelo HPV deveu-se aos traballios de MEISELS e FORTIN (1976)e PUROLA SAVIA (1977), que caracterizaram os jconhe- cidos padrdes cito-histolégicos da infecgao cervical e ‘correlacionaram-nos as lesdes subelinicas cervicais descritas pela primeira vez, por MEISELS et ali (197). O conhecimento das lesdes subclinicas cervicais ¢ vaginais, originou a investizagdo de lesdes semelhantes na genitalia mas- culina e em outras partes da genitalia feminina. A utilizagio do colposcépio com esta finalidade possibilitou o surgimento da Peniscopia e da Vulvoscopia e, dessa forma, foram descritas as lesdes subclinicas do pénis, da vulva e do anus. zur HAUSEN (1976) admite a hipétese de envolvimento do HPV na etiologia do cancer genital. Em 1977, publicou extensa revisio da literatura sobre a possibilidade de envolvimento do HPV na génese dos carciniomas de células escamosas. © dominio e a diversificagSo das técnicas de hibridizago molecular possbilitaram que, em curto espago de tempo, fossem identificados varios tipos de HPV. Assim, foram caracterizados 0 tipo 6, derivado de um condiloma acuminado 9GISSMAN & zur HAUSEN, 1980), otipo 11, de um papitoma de laringe (GISSMANN ‘Beas Doangas Sex Transm, 7(2); Juno, 19950 12 ee etalii, 1982); otipo 16, debiopsias de carcinoma cervical (DURST et alii, 1983); ¢ 0 tipo 18, de pacientes com neoplasia genital (BOSHART etalii, 1984), Estas publicag6es vieram renovar e fortalecer o interesse em torno dessa infeceao genital e estimular os pesquisadores a de- senvolver grandes esforcos no sentido de caracterizar as lesbes ‘com potencial de conversio maligna e definir o seu verdadeiro papel na oncogénese genital 0 Virus do Papiloma Humano Ascaracteristicas do HPV s6 comegaram a ser melhor estuda- das hd quatro décadas. CRAWFORD e CRAWFORD, em 1963, foram os primeiros a determinar a estrutura genética e © peso molecular dos virus do papiloma obtidos de verrugas humanas. ( género dos virus do papiloma (PV) e dos virus do polyoma (PY), que inctui o virus vacuolizante dos macacos (SV40), é co- hecido como 0 grupo dos Papovavirus. (Otermo Papoverira foi sugerido por MELNICK em 1962. Esta denominagdo foi obtida tomando-se-as duas primeiras letras dos rnomes dos virus na ordem em que foram sendo descobertos: P papiloma, PO=polyomiae VA=vacuolizante(ROWSON & MAHY, 1967), Estes géneros constituem a familia Papovaviridae, res- ponsivel por varias infecgdes superficiais e profundas em ani- ‘mais e humanos ‘OsPV acometem animais e humanos, os PY acometerm huma- ‘nos ¢ os SV40 acometem macacos, Pertencem ainda ao género dos virus do polyoma os virus JC e BK, que acometem humanos Todos estes zéneros, pelo fato de nfo serem envelopados, de apresentarem um capsideo protéico icosaédrico e uma molécula DNA dupla, circulare fechada, apresentam grande semethanga fisica entre si, No entanto, oestudo das seqiéncias do DNA dos PY eSV40 revela organizagao genética que tem pouco em comum com os PV. Os virus do papiloma tém diferengas significantes em relagdo 208 outros grupos. Seus capsidees so maiores (55 nm), seus cromossomos so mais longos (7900 pares de bases nitrogenadas) ea andlise das seqiiéncias de bases do seu DNA revela diferen- as marcantes. BROKER (1987) admite que é mais apropriado classificé-los como uma familia tinica e distinta, ‘As particulas do virus do papiloma isoladas de coclhos, de bois ou de homens infectades revelam aparéncias semelhantes. Os virions, analisados & luz da microscopia eletrénica, tém um capsideo de forma icosaédrica, composto por 72 capsémeros mui- tobem encaixados. Ao contrario dos virus envelopados. no con- ‘tém membrana ou qualquer componente lipidico e so consttui- os por poucas protefnias arranjadas de forma muito simples. A proteina major (L1) do capsideo tem peso molecular de 54.000 daltons. Esta proteina desnaturadea, tanto de PV de animais como de humanos, apresenta reagao cruzada antigenicamente, Isteo tem uso clinico © serve de bse para os estudos imunoquimicos. Comercialmente, é utilizada na confec¢do de reagentes para anticorpos contra HPV grupo-especitico. KURMAN et alii (1983) relatam que somente 50% das infecges genitals causadas por HPV produzem a proteina major, apercen- tagem é ainda menot nos graus mais avangados da neoplasia intra-pitelial ‘A proteina minor (L2) do capsideo tem peso molecular de 76.000 daltons, é bastante varidvel entre os HPV e serve como ‘marcador para estudos imunocitoquimicos, No entanto, por estar bastante protegida no interior do capsideo intacto, no serviria de base para uma possivel vacina. Maiores conhecimentos da estrutura viral poderdo redundar no desenvolvimento de vacina especifica ou possbilitar um alvo para interferéncia farmacolégica na maturagao viral. No momento, ainda ndo estd identificada a fase da replicagio doDNA viral que possa ser bloqueada por umia droga especifiea, sem que esta blo- queie também a replicagao do DNA da céhula hospedeira ‘Ocromossomo doHPV possui uma molécula de DNA de du- plafita, citculare fechada covalentemente, moléculado DNA constitu 12% do peso do virion, apresenta comprimento molecular cde 7900 pares de bases nitrogenaas, peso molecular de 5.200.000 daltons e a relagdo de pares de bases Adenina:Timina / Gitosina: Guanina é de aproximadamente 58/42%. ODNA viral pode apresentar-se de forma integrada ou no- integrada no interior da célula hospedeira, A integragdo do mes- ‘mo acontece em um ou mais sitios do DNA celular, freqiientemen- te proximos a um proto-oncogem. Certas proteinas presentes no interior dos virions so capazes de eliminar a repressio sobre os pproto-oncogens, transforma-los em oncogens e, promovendo a ‘anarquia celular, determinar as graves lesoes epiteliais. © genoma do HPV contém seqiiéncias de nucledtides reco- nhecidas através de endonucleases de restri¢do que promovem a clivagem do DNA em duas moléculas lineares completas ou um fragmento subgendmico, caracteristico para cada tipo de virus do papiloma. Os fragmentos gerados pelo método, que permite o reconhecimento de simples sitio dentro de uma molécula do DNA. viral, s20 particularmente titeis na clonagem do DNA do virus dentro de vetores (plastnideo de Escherichia col). Ha poucos anos, acreditava-se que todas as verrugas eram, ccausadas por um tinico tipo de virus, Atualmente, sabe-se que o virus é espécie-especifico, isto é, o virus que ataca animais nao é ‘© mesmo que acomete o homem; da mesma forma, tem especificidade por um sitio no organismo e determina tipo espec fico de lesio. ‘Até hioje ndo se conseguiu cultivar o PV, nem reproduzi-lo in vitro, o que parece indicar que o mesmo est intimamente ligado a aspectos desconhecidos da diferenciagdo celular do hispedeiro. A inexisténcia de sistema de cultura celular ¢ de modelo animal experimental, que possibilitem a replicacao, dificulta seu estudo, (Os genomas dos PV sto clonados pela técnica dos DNA Tecombinantes e comparados com um outro para identificar o grau de relagdo entre eles. Quando o DNA submetido degradagio pela desoxiribonuclease resulta numa cadeia heterodiiplices ppareadas sio estudadas por sondas de DNA marcadas. Os tipos de virus do papiloma so identificados pelo grau de similitude de seus DNA. A homologia dos DNA das novos tipos de HPV varia de 45% a 90%; isto 6, dois tipos virais distintos apresentam obrigatoriamente menos de 50% de homologia. Os ‘eas Dosgas Sex Transm, 72) Junho, 1995 13 es QUADRO1 Tipos de HPV e suas manifestacdes clinicas (Transcrito e adpatado de SYRJANEN, 1989) ‘HPV MANIFESTACAO CLINICA HPV Ia,b,c ‘Verruga plantares tipo Myrmecia HPV 2a-e Verrugas vulgares, verrugas filiformes, verrugas plantares tipo mosaico, verrugas palatais HPV3a.b Verrugas planas, verrugas juvenis, jvenis, formas leves da EV HPV ‘Vernugas palmares e plantares tipo hiperceratotico HPV 5a,b,8 LLesdes maculares da EV, carcinomas de células escamosas (EV) HPV6a-£ Condiloma acuminado, CIN F-Il, VIN FI, papilomas laringeano, Tumores de Buschke-Lowenstein HPV7 \Verrugas vulgares da mao de manipuladores de carne e agougueiros HPV9, 12,15 Lesdes verrucosas miaculares e planas da EV 19,23, 24 25,47,60 HPV 10a, Verrugas planas HPV Ila.b Condilomaacuminado, CIN IIL papilomas laringeanos, conjuntivais,einvertides do nariz HPV 13a, 6 Hiperplasia focal epitelil em mucosa oral HPV 14a, Lesdes verrucosas maculares e planas da EV, carcinomas de eélulas escamosas (EV) a,b, 20 HPVI6 Condiloma acuminado, CIN -IIl, VIN I-III, papulose bowendide, carcinoma da cerviz, pénis, brénquios e seios para-nasais HPVI8 Condiloma acuminado, CIN I-IIl, VIN F-II, papulose bowendide, carcinoma daccervize penis HPV2I Lesbes verrucosa plans de EV HPV22 Lesdes maculares daEV HPV 26,27 \Verrugas cutdneas (Paciente imunodeprimido) HPV 28,49 Lesies vernicosas plans cutineas HPV 29,60 Vernugas cutaneas HPV30 Carcinoma escamoso de laringe, CIN I, I HPV31, 35, 45CIN II] carcinoma da erviz 52,51,56 HPV32 Hiperplasia epitetial focal em mucosa oral, papiloma oral HPV33 Papulose bowenéide, CIN l-Ill, carcinoma da cerviz. HPV34 Doenca de Bowen, CIN HPV36 Ceratose-actinica, lesdes benignas da EV HPV37 Cerato-acantoma HPV38, Melonoma maligno HPV39 Carcinoma da cerviz, CIN II, papulose bowenide HPV40 PIN,CIN HPV4I LLesdes miltiplas verrucosas planas da pele, cancer de células escamosas HPva2 Papilomas genitais, papulose bowencide, condilomas planos, CIN HPV43,44, 53CIN 58,59 HPV 46 Lesées benignas da EV HPV4s Carcinoma de células escamosas da pele HPVS4 Conditoma acuminado HPVS5 Papulose bowendide HPVS7 CCIN, Vernugas da pele, papilomas invertidos nasais Neoplasia intra-epitelial cervical, vulvar, peniana (CIN, VIN, PIN), Epidermodisplasia verriciforme (EV) J Das Doss Sex Transm, 72): mh, 1995 14 di HPY com mais de 50%, porém menos de 100% de homologia do DNA, sito identificados como subtipos. s varios tipos de PV foram isolados de lesdes epiteliais hiperprotiferativas ou planas, localizadas na pele ou na mucosa oral, respiratoria ou genital e caracteristicamente, no causam do- engas sistémicas DANOS (1987) agrupa os PV em quatro subfamilias de acordo com sua organizagao genética: 1) infectantes da pele, 2) associa~ dos aos tumores genitais benignos: 3) associados aos tumores _genitais malignos e4) 0s que provocam fibropapilomas em animais, REID (1987) divide os HPV em trés grupos clinico-patolégicos: 1) 0s cuténeotrépicos isolados de individuos imunologicamente normais e que parecem nao ter potencial oncogénico: 2) os ‘cutdneotr6picos identificados em individuos imunodeprimidos (Epidermodisplasia verruciforme) que, atuanclo em conjunto coma luz solar, produzem transforma¢o maligna e 3) os mucosotrépicos que infectam a mucosa oral, respiratéria e genital ecujo potencial oncogsnico nao esta bem definido, ‘Odesenvolvimento das técnicas de hibridizacao molecular per- rmitia répido reconhecimento de grands numero detipos ¢subtipos de HPV. Até 1989, j4 haviam sido identificados 60 tipos diferentes de HPY. O trato genital pode ser infectado pelos seguintes tipos: 6, 11, 16, 18, 30, 31, 33, 34, 35, 39, 40, 42, 43, 44, 45, 60€ 51-59 (SYRJANEN, 1989) (Quadro 1), JENSON et alii (1987) admitem que o tipo de HPV parece ter importéncia na localizago anatémica, na aparéncia clinica ena his- téria natural das lesdes. Os HPV 6 e 11 sdo encontrados, comumente, ndo-integrados no interior do genoma da célula hiospedeira. Sao ditos de baixo risco e tém sido demonstrados em lesdes papilares e displasias leves genitais, papiloma de laringe ¢ outras lesées orais com risco rminimos de progredir para lesées mais graves (BROKER, 1987). OSHPV 16, 18, 30, 31, 33, 34.€35 sdo encontrades, freqiente- ‘mente, integrados ao genoma da eélula hospedeira, Sto ditos de alto isco e esto associados as displasias moderadas, acenturadas, carcinomas in situ, invasores e metastéticos genitais (BROKER, 1987), Para SYRIANEN (1989), as infecgdee que contém o HPV 16 sfoas que apresentam maior irsco de progresso clinica, entretan- to, 0s virus reconhecidos mais recentemente e encontrados ios mesmos tipos de lesSes deversio ter seu comportamento bioldgico melhor caracterizado. Dependendo do status imunolégico do hos- pecleiro, o mesmo tipo de HPV podera determinar lesbes benignas ‘ou malignas ‘A transmissdo da infecedo genital pelo HPV di-se através do ccontato direto epitélio/epitélio, Embora nao existam provas concre- tas de que a camada basal, seja o sitio primario da infecglo, na infecgG0 natural do epitélio, © HPV penetra através das células basais. Estas células so ditas ndo-permissivas porque ndo permi- tem a multplicagdo viral. Talvez seja necessaria pequena solugo de continuidade (microtraumatismo) no epitstio para possibilitar 0 acesso direto das particulas virais até as camadas mais profundas, O conseqiiente processo cicatricial, devido ao crescimento de ca- pilares eda acelerada multiplicagdo celular, contribui paraa instala- ‘20 da infecgio. A multiplicagéo celular é incrementada pela pro~ ppria presenga doDNA viral que estimula, por sua vez, a multipli- ‘ago do DNA celular. Nesta fase do processo, nfo ha replicagao auténoma do virus, Seguindo 0 processo natural de maturacao, as edlulas migram para. superficie eptelial, no mais se multipl- came tornam-se permissivas, possibilitandoa multiplicarao in- dependente do DNA viral. As eélulas maduras queratinizadas contém grande quantidade de virions que, liberados durante a descamago celular, infectam as eélulas vizinhas, finalizandoo chamado ciclo litico viral PITOT (1978) (apud CASAS-CORDERO et alii, 1981) eDe BRUX et alii (1983) demonstraram que, apés a infecga0, dois, caminhos podem ser percorridas: 1) A infecgo classica, na qual no ha integrago do DNA viral ao DNA da célula hospedeira imatura, A célula basal, conendooDNA viral, multiplica-se ace- leradamente, replicando seu DNA e impedindo a replicagio do DNA viral. No processo natural de maturacdo do epitslioacéu- Jaalcanga.a camada superficial, no mais se multiplica, pssibi- litando, entao, a replicagao viral auténoma e seu efeitocitopstico classico (coilocitose). A eélula coiloctética descamada peremite a liberagdo dos virions que, em processo continuo, infectam as étulas vizinhas, levando & formagao das lesdes planas e ppapilares conhecidas. 2) A célula basal infectada, devido nova infecgo por HPV ou ago de um mutigeno qualquer, sofre a integragdo do DNA viral e profundas alteragdes em sua fungao. © DNA viral integrado promove o aparecimento de sinteses protéicas anormais e, em conseqiiéncia, mitoses anarquicas e perda da diferncia¢do celular. O virus nao mais se reproduz na célula agora dita transformada, Todavia, esta célula guarda cé- pias de genomas completos ou subgenomas do DNA viral no seu interior. A infecedo traduz-se, clinicamente, por graves le- bes epiteliais REIDet alii (1987) ndo:admitem os HPV de baixo riscocomo facilitadores desse processo, pois os mesmos podem ser encon- trados em diferentes sitios na mesma paciente, mas no so encontrados dois tipos diferentes do virus na mesma biopsia VILLAe FRANCO (1989) observaram, em estudoepidemioligico realizado em Recife e io Paulo, que infecgao mista (HPV 6,L1/ 16,18) foi treze vezes superior a0 esperado, Terceiro caminhio foi apontado por FERENCZY et alii(1985), ‘a0 demonstrarem que a infecg%o pode permanecer latente sem ue haja qualquer expressdo clinica da aco viral. O autor defen- de que esta modalidade pode ser responsavel pelas constantes, recidivas observadas SYRIANEN (1989) acredita que, na realidad a infeoeao pos- sa ter curso flutuante, passando de clinicamente aparente para suibelinica efou latente e vice-versa AAs eélulas basais possuem pequena quantidade de DNA vital no seu interior, parecendo funcionar como reservatdrios de virus. Nas camadas profundas do epitélio, a deteegiio do DNA viral situa-se abaixo do nivel de detec¢ao mesmo através da hilbridizago molecular. Nas camadas superficiais, os antigenos virais sio facilmente identificaveis, mesmo com métodos menos sensiveis comoa microscopia eletrOnicae a imunoquimica A quantidade de particulas virais detectiveis pela microsco- J Beas Doengas Sex Transm, 72} Junho, 1995 15 DSL pia eletrénica e imunoquimica esta na dependéncia do tipo de virus infectante. Nas verrugas comuns, a quantidade de virus intraceleular 6 enorme, enquanto que nas vernugas genital é es- ‘cassa, Da mesma forma, a quantidade de particulas viras livres esta na dependéncia do grau de diferenciagio da leo. Nas le- ses dieferenciadas, o mimero de particulas é maior do que na- ‘quelas pouco diferenciadas ou indiferenciadas Quando a quantidade de particulas do virus no interior das células ¢ pequena, sua identificaco s6 se toma vidvel através da hibridizagdo molecular. No entanto, através deste método, a deteceiio do HPV s6 é possivel quando so encontradas cerca de ‘SO .épias do seu DNA em cada oélula, Atualmente, tem-se utiliza- doa técnica da PCR (Polimerase Chain Reaction) que, permitin- ‘doa amplificago doDNA do virus, tem a capacidade de detectar ‘uma e6pia do seu DNA por grupo deaté dez eélulas. Epidemiotogia 1. Incidéncia e Prevaléncia As verrugas genitais so comuns atvalmente, no havendo

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