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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


CAMPUS LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA
GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

Captação de recursos no Mato Alto I, um sambaqui do Litoral Sul de Santa Catarina

Lycia Macley dos Santos Silva

Laranjeiras
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA
GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

Captação de recursos no Mato Alto I, um sambaqui do Litoral Sul de Santa


Catarina

Lycia Macley dos Santos Silva

Trabalho de Conclusão de Curso na


Graduação Arqueologia

Orientadora: Dra. Daniela Magalhães Klökler

Laranjeiras
2018
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

902MACLEY, Lycia Santos Silva.

Captação de recursos numa paisagem sambaqueira do litoral meridional: o caso do


sítio Mato Alto I, Santa Catarina
[manuscrito] / Lycia Santos Silva Macley. – 2017.

109f. : il. ; 30 cm.

Monografia (bacharelado em Arqueologia) – Universidade Federal de


Sergipe, Aracaju, 2017.

“Orientação: Profa. Dra. Daniela Magalhães Klokler”.

1. Sambaquis. 2. Zooarqueologia. 3. Captação de Recursos. I. Klokler,


Daniela. II. Título.

CDU: 902

Bibliotecária responsável: Luciane Alves Santini - CRB 10/1837


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MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA APRESENTAÇÃO DO


TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

BANCA EXAMINADORA

Dra. Daniela Magalhães Klökler (Orientadora)


Universidade Federal de Sergipe – DARQ

1º Examinador (Membro Interno): Dra. Márcia Barbosa Guimarães


Universidade Federal de Sergipe – DARQ

2º Examinador (Membro Externo): Dr. Fernando Ozorio de Almeida


Universidade Federal de Sergipe

Suplente (Membro Interno): Dra Lorena Luana Wanessa Gomes Garcia


Universidade Federal de Sergipe – DARQ
4

Dedicatória:

Dedico todo este trabalho a mainha e Dona Zefinha (minha avó)!


5

Agradecimentos:

Agradeço a todos os professores que fizeram parte da jornada, contribuindo com o meu
aprendizado, iniciada desde o ensino escolar ao superior. Todos foram muito
importantes para minha formação enquanto profissional, e ser humano.Aos professores
do José Inácio (colegial), em especial ao professor Carlos Alexandre. E do Colégio
Manuel Messias (ensino médio).

A professora e orientadora Daniela Klökler pelo incentivo, confiança, oportunidade e os


ensinamentos em laboratório, aula e campo, durante esses 4 anos.

Ao professor Fernando Ozorio, por todas as oportunidades de aprendizado em campo e


em aula, pelo seu bom humor de sempre e obrigada por toda inspiração.Aos
professores: Leandro Duran, Lorena Garcia e Márcia Barbosa obrigada por seus
ensinamentos em sala de aula, e por seus incentivos profissionais.

Ao professor André Strauss pela oportunidade de participar do campo em Lagoa Santa.


E a todos que tive a oportunidade de conhecer nesta escavação. Aos professores
Fernando e Daniela pelos campos em Xingó, a equipe do Museu de Arqueologia de
Xingó – MAX, e da Califórnia em especial a professora Brenda.

Ao pessoal do grupo “galera da caatinga”, nosso primeiro campo, por toda união
envolvida, nossas risadas (apesar do sofrimento, caminhando no sol escaldante do meu
sertão rsrs): Eriká, Thiago, Carol, Vinicius Pedra.

A todos os colegas e amigos que fazem parte do laboratório mais badalado dessa UFS: o
LAPSO, por toda vivência, troca de aprendizado, e risadas também; Sandra, Ivan,
Adriana... Agradeço muito a chefinha/mãe Carol Sousa por todos os ensinamentos em
campo e fora dele, e pela sua amizade, sem você essa monografia não seria a mesma.
Juntamente com pai Felipe Neves sempre me aconselhando, incentivando em diversos
momentos.

Os meus amigos que fizeram parte dessa jornada de alguma forma, aos que fizeram
apenas uma passagem e em especial aos que permanecem firmes e fortes (rsrs).
Obrigada a todos por aguentarem essa ariana que vos fala. A vocês: Gabriel, Anthony,
Guiliana, pelos incentivos e longos papos sobre a arqueologia e a vida. A Anny e
6

Luciana pelos estímulos recíprocos, pelas longas conversas sobre as frustrações, e as


análises na hora de escrever.

A toda a família de Laranjeiras, pelos bons tempos. Vivemos muitas coisas juntos:
sempre em união,nos momentos de diversão nas longas madrugadas e tristezas. A todas
as republicas ali presentes, em especial ao pessoal da “Casa de Bonecas”, “Thia”, e
“Tchacaray” e a república a qual fiz parte. Em especial: Yuri, Raul, Del, Jadson, Malu,
Danilo,Wallace, Rafael Meneses, Nacagima, Rafael Dantas, Juliana, Karol, Denise,
Fernando, Lucas, Larissa...Vocês são lacrativas.

As minhas ‘viadas’ amigas que fiz através do grupo “arqueologia da sedução” pelos
grandes papos nas madrugadas, em especial a Anderson, Arlon e Bruno... Vocês
arrasam! As minhas manas: Hiago (foram anos dormindo de conchinha), Suellen
(melhor risada), Poliana (amiga arquiteta) e Enderson (rainha dos apelidos) pela nossa
convivência e amizade, de Laranjeiras para a vida. A Thauan (rainha dos memes),
Victor (garota do fogo) e Nicolas (melhor crush) pelo longo tempo de amizade e
parceria. A Eloildo (amiga arquiteta) e Lázaro (que está arrasando no Canadá).
Obrigada a todas por estarem presentes em momentos importantes da minha vida, bii,
vocês são destruidoras. Ao meu trio favorito (quero-quero/want-want), obrigada por
cada momento de cumplicidade, amor, carinho, incentivo, risadas e tudo que já vivemos
e vamos viver. Vocês são lindas e maravilhosas: Aíres e Eunice. E a minha mais nova
mana paraense Carol, pelos momentos divertidos. Obrigada a todas do vale!

As minhas amigas de longa data: Jaqueline (Jack), Gádria (meu carma rsrs) são mais de
10 anos de amizade na nossa história. As minhas novas amigas: Laís (panda), Sandry
(ariana das tretas), presentes nesta reta final. Obrigada a todas vocês por aguentarem
minhas ansiedades e minha loucuras.

A minha prima e amiga Kauana pelo presente que é minha afilhada Nicole. E aos meus
amigos Laís e Erlânio pela minha afilhada: Evelyn, meu segundo presente.

A minha família por todo apoio, em especial a minha mãe e meu irmão. E a todas as tias
e tios em especial a Suzana por todo seu apoio inicial. Sem vocês nada disso seria
possível.

E por fim, todos os grupos sambaquieiros (em especial do Mato Alto I), obrigada por
existirem!
7

Resumo

Os sambaquis são os principais vestígios da presença dos grupos pescadores-coletores-


caçadores no litoral meridional do Brasil. Esses registros são basicamente compostos
por materiais de origem faunística. O sítio objeto desta pesquisa é o Mato Alto I, situado
no município de Tubarão, litoral sul do estado de Santa Catarina. A pesquisa tem como
objetivo uma abordagem sobre a captação de recurso dos grupos que construíram o sítio
Mato Alto I, baseado nas análises do material faunístico, em especial malacológico e
ictiológico. O sambaqui foi trabalhado na década de 1990 pela equipe do projeto
‘Sambaqui e Paisagem’(DEBLASIS et al. 1997). O sítio possui aproximadamente 6
metros de elevação, apresenta datações de 2.245 e 2.535 anos AP (FISH et al.2000).O
Mato Alto I é um sambaqui cuja sua construção foi baseada na coleta de moluscos, entre
eles berbigões, mariscos e ostras. O consumo de vertebrados do grupo que construiu o
sambaqui teve como base a pesca, sendo bagre, corvina e miraguaia as espécies mais
utilizadas pelos grupos. Os dados apresentados sobre o sítio contribuem com
informações inéditas sobre a formação do sambaqui, reforçando a importância do seu
estudo para o contexto arqueológico de sua região.

Palavras Chaves: Sambaquis – Zooarqueologia – Captação de Recursos


8

Abstract

Shell-mounds are the main evidence of the presence of fisher-gatherer-hunter groups on


the southern coast of Brazil. They are basically composed of materials of animal origin.
This research focus on Mato Alto I site, located in the municipality of Tubarão, south
coast of the state of Santa Catarina. The goal of this research is to presente aresource
catchment analysis about the groups that built the Mato Alto I site, based on analyzes of
the faunal material, especially malacological and ichthyological material. In the 1990s
this site was studied by the Sambaqui e Paisagem project (DEBLASIS et al., 1997). The
site has approximately 6 meters of elevation, and has two radiocarbon dates of
approximately 2,245 to 2,535 years BP(FISH et al. 2000). The Mato Alto I construction
was based on the collection of mollusks, basically cockles, mussels and oysters. The
consumption of vertebrates the group was based on fishing, being catfish, corvina and
miraguaia the most important species. The data presented on the site contain
information about a sambaqui formation, reinforcing an aspect of its study to the
archaeological context of its region.

Key Words:Shell-mounds - Zooarchaeology –Resource catchment


9

Sumário

Dedicatória: ........................................................................................................ 4
Agradecimentos: ................................................................................................ 5
Abstract .............................................................................................................. 8
Sumário .............................................................................................................. 9
Lista de Figuras ................................................................................................ 11
Lista de Tabelas ............................................................................................... 12
Introdução ........................................................................................................ 13
CAPÍTULO I – Sambaquis: uma Abordagem sobre Captação de Recursos .... 15
1.1. – Sambaquis - uma breve contextualização................................................... 15
1.2. – A construção das paisagens arqueológicas ................................................ 17
1.3. – O estudo da Captação de Recursos a partir dos grupos humanos .................. 20
1.4. – Os estudos faunísticos baseados nas zooarqueologia (seu surgimento como
disciplina e conceitos) ...................................................................................... 21
1.5. – Os estudos zooarqueológicos em sambaquis no Brasil ................................ 23
1.6. – As conchas e os peixes dentro dos estudos zooarqueológicos ....................... 25
CAPÍTULO II – Mato Alto I: um Sambaqui do Litoral Sul de Santa Catarina .... 28
2.1. – Projeto de Intervenção Arqueológica ‘Sambaqui e Paisagens’ ..................... 28
2.2. – O Litoral Sul do Estado de Santa Catarina ................................................. 29
2.3. – Discussões acerca de trabalhos realizados na área do projeto ‘Sambaqui e
Paisagens’ ....................................................................................................... 32
2.4. – O Sambaqui Mato Alto I.......................................................................... 36
CAPÍTULO III - Metodologia ............................................................................. 39
3.1. – Métodos realizados em campo. ................................................................. 39
3.2.– Métodos realizada em laboratório. ............................................................ 44
CAPÍTULO IV - Dados obtidos de Mato Alto I. ................................................. 50
4.1. – Análises granulométricas do Perfil I em Mato Alto I .................................. 50
4.2. – Componentes faunísticos e arqueológicos presentes em Mato Alto I ............ 51
4.3. – O Sambaqui Mato Alto I e seus Perfis ....................................................... 54
4.4. –Perfil I .................................................................................................... 55
10

4.5. –Perfil II ................................................................................................... 59


4.6. –Perfil III ................................................................................................. 61
4.7. – NISP e NMI X Peso da Anomalocardia brasiliana do Mato Alto I ................ 63
4.8. –NMI dos vertebrados presentes no Mato Alto I ........................................... 67
4.9. – Conversão de carne X parte dura .............................................................. 72
CAPÍTULO V – Resultados e Discussão .......................................................... 75
5.1. – Levantamento biológico do modo de vida e habitats dos animais presentes em
Mato Alto I ..................................................................................................... 76
5.2. – A captação dos recursos presentes emMato Alto I ...................................... 82
5.3. – De onde veio este recurso? A utilização dos recursos pelos grupos
sambaquieiros ................................................................................................. 84
Considerações finais: ....................................................................................... 92
Referências Bibliográficas: ............................................................................... 94
ANEXO ........................................................................................................... 104
APÊNDICES ................................................................................................... 106
11

Lista de Figuras

FIGURA 1- REGIÃO ESTUDADA PELO PROJETO ‘SAMBAQUI E PAISAGENS’. FONTE: GOOGLE EARTH. .......... 29
FIGURA 2 - MAPA GEOLÓGICO DA ÁREA. FONTE: OLIVEIRA 2010. ........................................................... 31
FIGURA 3 - MAPA DA REGIÃO POR VOLTA DE 3.000 AP, COM O NÍVEL DO MAR 1,0 ACIMA DO ATUAL. FONTE:
KNEIP 2004.................................................................................................................................. 34
FIGURA 4 - MAPA DA REGIÃO POR VOLTA DE 1.500 AP, COM O NÍVEL DO MAR 0,5 ACIMA DO ATUAL. FONTE:
KNEIP 2004.................................................................................................................................. 35
FIGURA 5 - LOCALIZAÇÃO DO SAMBAQUI MATO ALTO I. FONTE: GOOGLE EARTH, FOTO DE 1984. ............ 37
FIGURA 6 - SÍTIO MATO ALTO I. FONTE: KLOKLER 2008. ........................................................................ 38
FIGURA 7 - CROQUI REALIZADO EM CAMPO DO PERFIL II. .................................................................................... 41
FIGURA 8 - MATERIAL DURANTE A TRIAGEM. ................................................................................................... 47
FIGURA 9 - LOCALIZAÇÃO DO UMBO EM UM BIVALVE / LATERALIDADE DOS BIVALVES, LADO DIREITO E ESQUERDO. ............. 49
FIGURA 10- PESO INICIAL (P0), FRAÇÃO TRIÁVEL (P1 A+B) (MEDIDAS EM GRAMAS). ................................ 51
FIGURA 11 - DISTRIBUIÇÃO DOS COMPONENTES EM MATO ALTO I. ....................................................................... 54
FIGURA 12-PESOS TOTAIS DOS COMPONENTES DOS PERFIS DO MATO ALTO I, UNIDADE DE MEDIDA
UTILIZADA EM GRAMAS. ............................................................................................................... 55
FIGURA 13 - PESOS TOTAIS EM GRAMAS DAS CAMADAS DO PERFIL I. ....................................................... 56
FIGURA 14 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL I. .............................................................................. 59
FIGURA 15 - PESOS TOTAIS EM GRAMAS DAS CAMADAS DO PERFIL II. ...................................................... 60
FIGURA 16 - MATERIAL FAUNÍSTICO DO PERFIL II. .................................................................................. 60
FIGURA 17 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL II. ............................................................................ 61
FIGURA 18 - PESOS TOTAIS EM GRAMAS DAS CAMADAS DO PERFIL III. ..................................................... 62
FIGURA 19 - COMPONENTES PRESENTES EM PERFIL III........................................................................................ 63
FIGURA 20 - NISP E NMI DA ANOMALOCARDIA BRASILIANA PRESENTES EM MATO ALTO I. .................... 64
FIGURA 21 - NISP E NMI DOS BERBIGÕES, PERFIL I. ............................................................................... 64
FIGURA 22 - PESO DOS BERBIGÕES, PERFIL I. .......................................................................................... 65
FIGURA 23 - NISP E NMI DOS BERBIGÕES, PERFIL II............................................................................... 65
FIGURA 24 - PESO DOS BERBIGÕES, PERFIL II. ......................................................................................... 66
FIGURA 25 - NISP E NMI DA ANOMALOCARDIA BRASILIANA DO PERFIL III. ............................................ 66
FIGURA 26- PESO DA ANOMALOCARDIA BRASILIANA EM GRAMAS NO PERFIL III. ..................................... 67
FIGURA 27 - T AMANHO MÉDIO DE CONCHAS POR PERFIS E CAMADAS EM MATO ALTO I. FONTE: OLIVEIRA
2017. ........................................................................................................................................... 67
FIGURA 28 - NMI DOS VERTEBRADOS PRESENTES EM MATO ALTO I. ...................................................... 68
FIGURA 29 - PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE)
DO SÍTIO MATO ALTO I. ................................................................................................................ 73
FIGURA 30 - PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE)
PERFIL I. ...................................................................................................................................... 74
FIGURA 31–PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE) DO PERFIL II. ..... 75
FIGURA 32- PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE)
PERFIL III. .................................................................................................................................... 75
FIGURA 33 - MAPA DA REGIÃO E SUAS LAGUNAS FONTE: DEBLASIS ET AL. 2007. .................................... 85
FIGURA 34 - MAPA DA REGIÃO POR VOLTA DE 3.000 AP, COM O NÍVEL DO MAR 1,0 ACIMA DO ATUAL.
FONTE: KNEIP 2004...................................................................................................................... 91
FIGURA 36 - FICHA DE ANÁLISE DOS VERTEBRADOS. FONTE: ARQUIVO DE DANIELA KLOKLER............... 105
12

Lista de Tabelas
TABELA 1 - T ABELA DE DATAÇÕES DO MATO ALTO I.............................................................................. 37
TABELA 2 - DESCRIÇÃO DAS CAMADAS DO PERFIL I. ............................................................................... 41
TABELA 3 - DESCRIÇÃO DAS CAMADAS DO PERFIL II. ............................................................................. 43
TABELA 4 - DESCRIÇÃO DAS CAMADAS DO PERFIL III. ............................................................................ 43
TABELA 5 - COMPONENTES PRIMÁRIOS PRESENTES EM MATO ALTO I. ..................................................... 52
TABELA 6 - COMPONENTES SECUNDÁRIOS PRESENTES EM MATO ALTO I. ................................................ 53
TABELA 7 - COMPONENTES INORGÂNICOS PRESENTES EM MATO ALTO I.................................................. 53
TABELA 8 - NMI DOS VERTEBRADOS, PERFIL I. ...................................................................................... 69
TABELA 9 - NMI DOS VERTEBRADOS, PERFIL II. ..................................................................................... 70
TABELA 10 - NMI DOS VERTEBRADOS, PERFIL III. .................................................................................. 70
TABELA 11 - T ABELA DE ANÁLISE DOS OTÓLITOS. .................................................................................. 70
TABELA 12 - SAMBAQUIS DO LITORAL SUL DE SANTA CATARINA E DATAÇÕES. ........................................ 86
TABELA 13–PORCENTAGEM DOS COMPONENTES PRESENTES EM 4 SAMBAQUIS DO LITORAL SUL DE SANTA
CATARINA. .................................................................................................................................. 86
TABELA 14 - TIPOS DE VERTEBRADOS PRESENTES NOS DIFERENTES SÍTIOS. .............................................. 86
TABELA 15 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL I. ........................................................................... 107
TABELA 16 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL II. .......................................................................... 108
TABELA 17 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL III. ........................................................................ 109
13

Introdução

Sambaquis são sítios arqueológicos apontados como o principal registro da


presença dos grupos pescadores-coletores-caçadores na costa brasileira. São
caracterizados pela acumulação intencional de materiais faunísticos, principalmente
malacológicos, visando crescimento, formando uns montículos de elevação
arredondada, com diferentes formas e tamanhos (GASPAR 2000, 2004; GASPAR et al.
2013). Sambaquis estão distribuídos principalmente em regiões lagunares. Essas regiões
possuem componentes ideais para a construção destes sítios. As construções desses
sítios propiciam na paisagem uma composição diferenciada, uma vez que esses
montículos se destacam na natureza pelas suas formas e/ou tamanhos. Essas construções
de composição faunística nos possibilitam a exploração de diversos aspectos como:
captação de recursos, processo de formação de sítio, e implantação na paisagem
(KLOKLER 2012).

O presente trabalho aborda o sambaqui Mato Alto I localizado no município de


Tubarão no litoral sul de Santa Catarina. Este sítio foi trabalhado na década de 1990
pela equipe do projeto ‘Sambaqui e Paisagem’(DEBLASIS et.al. 1997). O material
faunístico proveniente do sítio voltou a ser analisado em 2014 através do Projeto de
Iniciação Científica desenvolvido pela autora1. A partir dessas análises traçaremos
algumas discussões sobre a captação de recursos, buscando contribuir para a discussão
sobre a importância dos moluscos e peixes para populações sambaquieiras.

No Capítulo I iremos realizar uma abordagem acerca dos sítios arqueológicos


denominados sambaquis com enfoque em sua temporalidade, evolução dos estudos,
seguido de discussão sobre a importância dos recursos aquáticos para esses grupos. Para
completar este quadro geral, abordaremos um pouco sobre o surgimento da
zooarqueologia como disciplina e sua evolução histórica, e a interação cultural humano-
animal. Desta maneira também apontaremos sobre a importância dos estudos
zooarqueológicos no Brasil voltado para os sambaquis (compostos basicamente por
recursos faunísticos). Adentraremos nas discussões da importância dos estudos
malacológicos e ictiológicos, destacando a importância recursos para os grupos
humanos na região litorânea brasileira.

1
Titulo do trabalho: Os Vestígios Faunísticos do Sambaqui Mato Alto
14

Em seguida, no Capítulo II apresentaremos a região sul do litoral de Santa


Catarina, com uma breve discussão sobre a composição geológica da área.
Apresentaremos alguns aspectos do ‘Projeto Sambaqui e Paisagem’ e suas intervenções.
Por fim, apresentaremos o sítio arqueológico Mato Alto I, as intervenções realizadas
nele, além da sua composição e as datações obtidas.

Os métodos e técnicas utilizados nesta pesquisa serão apresentados e discutidos


no capitulo III. Também abordaremos a etapa realizada em campo, a proposta de
amostragem e recuperação de vestígios. Por fim, discutiremos as atividades realizadas
em laboratório, consistindo na triagem do material das amostras dos três perfis presentes
no sítio, seguidas das classificações taxonômicas das espécies e o processamento de
todo material (pesagem, contagem de NISP – número de mínimo de espécimes
identificados, e NMI – número mínimo de indivíduos).

Dando continuidade, no Capítulo IV apresentaremos os perfis do sítio Mato


Alto I e suas respectivas composições. Na sequência descreveremos os dados
processados, obtidos através das análises em laboratório. Começaremos com os dados
das análises granulométricas do perfil I e continuamos com as análises de NISP e NMI
dos vertebrados e dos moluscos, da espécie Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) por
fim nos utilizaremos dos dados de conversão de carne versus carapaça/ossos.

O último Capítulo abordará os resultados das análises malacológicas e


ictiológicas, levando em consideração discussões biológicas e ecológicas. A fim de
complementar as discussões sobre as práticas de captação de recursos por grupos
sambaquieiros no litoral sul - brasileiro iremos apresentar um breve levantamento das
espécies de moluscos e peixes encontrados no sambaqui e seus respectivos habitats. Por
fim, dialogamos com a literatura disponível sobre outros sítios da região e do contexto
litorâneo brasileiro
15

CAPÍTULO I – Sambaquis: uma Abordagem sobre Captação de


Recursos

Os sítios arqueológicos denominados sambaquis estão presentes na costa


brasileira há aproximadamente anos 8.000 AP (GIANNINI et al. 2010). Alguns desses
sítios possuem uma arquitetura considerada monumental, por se tratarem de construções
com elevações que podem ter chegado até 60 metros de altura durante seu tempo de
atividade, como é o caso do Garopaba do Sul (Santa Catariana) (DEBLASIS et al.
2007). Dessa forma, destacam-se no meio ao qual estão inseridos, modificando a
paisagem.

O estudo das relações entre seres humanos e animais, e a maneira como esses
grupos exploravam o ambiente ao qual estiveram inseridos é possível graças aos estudos
zooarqueológicos. Esta é a área da arqueologia fundamental para o estudo de sítios de
composição faunística como os sambaquis. Os estudos zooarqueológicos no Brasil
tiveram seu principal desenvolvimento nos trabalhos voltados para os sítios sambaquis
(KLOKLER 2001).

A seguir iremos apresentar as diferentes abordagens sobre os sambaquis e a


contextualização dos estudos desses sítios no Brasil, adentrando na utilização da
captação de recursos utilizados por grupos pescadores, coletores e caçadores.

1.1. – Sambaquis - uma breve contextualização

Sambaquis são “amontoados de conchas” construídos por grupos pescadores,


coletores e caçadores costeiros pré-coloniais. Esses sítios arqueológicos são também
conhecidos pelas denominações: berbigueiros, ostreiros, casqueiros ou sernambis
(ROHR 1984). Sítios construídos com conchas de moluscos são encontrados em vários
lugares do mundo, com nomenclaturas diferentes como, por exemplo, ”shellmounds”
nos EUA, ‘concheros’ ou ‘conchales’ em países da América Latina (ROHR 1984). No
Brasil esses sítios são considerados os principais registros da presença de grupos pré-
coloniais que habitaram a costa brasileira. As ocupações desses grupos ocorreram
principalmente entre 8.000 e 1.500 anos A.P. segundo Giannini e colegas (2010).
16

No litoral sul brasileiro, alguns sambaquis são conhecidos por sua dimensão
monumental e grande visibilidade na paisagem. De acordo com DeBlasis e colegas
(1997), os sambaquis de escala monumental foram criados como marco paisagístico.
Quando se pensa em funcionalidade das construções podemos atribuir sua dimensão
como pontos estratégicos, possibilitando uma visibilidade ampla do local, como
também poderiam ter um maior controle sobre as chegadas de cardumes (bastante útil
para grupos que tem a pesca incluída na sua base alimentar) (DEBLASIS et al. 1997).

Os principais locais de ocupação desses grupos estão ligados a recursos


aquáticos (lagunas, desembocaduras de rios, mangues), locais abundantes em peixes,
moluscos e crustáceos. A alta disponibilidade de recursos nos ambientes aquáticos é
essencial para a abundância faunística local, consequentemente responsáveis pela longa
permanência das ocupações humanas em suas proximidades. Para Klokler (2010) os
recursos aquáticos estruturam a vida de sambaquieiros.

Levando em consideração suas características físicas como: visibilidade e


posicionamento próximo ao litoral, os sambaquis foram certamente, os primeiros sítios
arqueológicos a serem encontrados no Brasil, chamando a atenção de curiosos,
missionários e viajantes não somente pela sua característica monumental, mas também
pela sua formação conchífera (KLOKLER 2001). O embate sobre a verdadeira origem
dos sambaquis inicialmente se desdobra em duas correntes os “naturalistas” e os
“artificialistas”, no caso da primeira corrente os pesquisadores acreditavam que se
tratavam de depósitos naturais resultantes de catástrofes ou acúmulo natural de
moluscos; na segunda corrente os pesquisadores defendiam a origem antrópica dos
sítios. Posteriormente surge uma terceira corrente considerada “mista”, na qual
acreditava que a origem dos sambaquis fosse uma combinação entre a ação humana e a
natural (KLOKLER 2001, BARBOSA-GUIMARÃES 2003, WAGNER 2009,
HILBERT 2011).

Os estudos da corrente “naturalista” começam a ocorrer no final do século XIX,


onde se acreditava que os sambaquis fossem provenientes do recuo do mar (KLOKLER
2001, BARBOSA-GUIMARÃES 2003, WAGNER 2009, HILBERT 2011). E a
presença de esqueletos seria explicada como o resultado dos naufrágios (Leonardo 1938
apud Klokler 2001). Com o desenvolvimento das pesquisas arqueológicas onde obteve
vários indicativos da atividade humana, a corrente naturalista perde suas forças.
17

De acordo com Barbosa-Guimarães (2003), entre a corrente “artificialista”


temos os pesquisadores que acreditavam que era construções intencionais, como o Rath,
que em seus estudos realizados no estado de São Paulo sistematizou o estudo desses
sítios. Na época, o pesquisador convidou o imperador Dom Pedro II para visitar um
sambaqui, deixando claro sua opinião de que os sambaquis eram construções feitas pelo
homem resultado da coleta de moluscos, e construídos para enterrar seus mortos
(BARBOSA-GUIMARÃES 2003). Em meio a todo esse desdobramento surge uma
terceira corrente considerada “mista”, que descrevia os sambaquis como uma
combinação entre a ação humana e a natural (KLOKLER 2001, BARBOSA-
GUIMARÃES 2003, WAGNER 2009, HILBERT 2011).

Na década de 1990 as pesquisas em sambaquis ganham força, sendo elaboradas


diversas teses e artigos sobre essas ocupações costeiras. Ao considerar a composição
desses sítios conchíferos acreditava-se inicialmente que a alimentação desses grupos
fosse baseada em moluscos (BARBOSA-GUIMARÃES 2003). Em seus trabalhos Levy
Figuti começa a pensar nos sambaquis como tendo sua alimentação baseada na pesca
(FIGUTI 1993, KLOKLER 2001, BARBOSA-GUIMARÃES 2003). Bandeira em seus
trabalhos no ano 2000 se utilizou dos restos alimentares para realizar abordagens para
determinar as relações entre os humanos e o meio circundante e as mudanças culturais
desses grupos (KLOKLER 2001).

Desta forma, é perceptível que os estudos zooarqueológicas vêm se


transformado e contribuindo de maneira significativa para a arqueologia com novas
abordagens. Esses processos podem estariam ligados aos crescentes avanços nesta área
de pesquisa, como também o número crescente de pessoas com diferentes perspectivas
de interesses na atuando na área, com uma grande abrangência nos temas de pesquisas
(temas que vão desde domesticação de vegetais, sedentarismo, identidade social,
territorialidade e organização social). Essas diferentes abordagens nos possibilitam um
maior entendimento sobre o modo de vida dos grupos que ocuparam o litoral
brasileiro, uma vez que entendemos que esses grupos humanos foram verdadeiros
modificadores da paisagem natural.

1.2. – A construção das paisagens arqueológicas


18

Da relação entre Homem e Ambiente apropriações simbólicas do espaço são


compreendidas dentro de um delimitador territorial que forma uma paisagem
cultural, representada, no registro etnográfico, pelos mitos associados aos
grupos humanos que mantêm uma relação duradoura com o local em que
vivem (SILVA-MENDES 2007).

A paisagem arqueológica surge a partir da interação entre o humano e o


ambiente (ASHMORE 2008). Essas relações vão além de um uso econômico da
paisagem, envolvem valores simbólicos/significado. Tratando-se de um ambiente
relacionados à dinâmica cultural, sendo fruto direto dos processos sociais onde os
grupos humanos estão inseridos, sendo denominada como palimpsestos de longa
duração da interação humana com a terra (ASHMORE 2008).

Essa construção da paisagem arqueológica é perceptível nos estudos


etnográficos de grupos indígenas da atualidade, a maneira como esses grupos lidam com
a paisagem e como esses locais estão diretamente ligados a memória e o
reconhecimento da paisagem como lugar de memória. Podemos utilizar como exemplo,
o caso do estudo realizado por Fabíola Silva ao discutir a temática com sociedades
tradicionais no Pará. De acordo com Silva (2013), os estudos etnoarqueológicos são um
modo de compreensão como as populações humanas exploram, transformam e
gerenciam as paisagens e os recursos, tais comportamentos resultam na formação dos
registros materiais. Ao se pensar em como as paisagens arqueológicas foram
manipuladas é necessário entender que as sociedades passadas possuem uma lógica
diferente do mundo ocidental (LÉVI-STRAUSS 1989). Desta forma, a maneira como
esses povos compreendem o significado de lugar também é diferente.

De acordo com Fagundes (2009), o manejo da paisagem envolve questões que


extrapolam as condições adaptativas e de subsistência, como muito se pensou
(RATZEL apud CARVALHO 1987), porém há muito a ser superado (MAUSS 1974;
BINFORD 1982). Esses autores e outros relacionam os aspectos da ordem cognitiva ao
apego sentimental ao lugar, as escolhas, estratégias, políticas ou ritualísticas, enfim faz
parte de uma rede de significação infinita. O lugar é a junção em que ambientes pessoas
e significado convergem em escalas múltiplas e, no processo, criam um registro de
comportamento, percepção e cognição humana (ZEDENÕ & BOWSER 2009).
19

De acordo com Binford em Archaeology of Places (1982), o arqueólogo deve


“expandir suas análises para além do sítio arqueológico”2, compreendendo as
características dos espaços topográficos em que diferentes tipos de sítios (e não-sítios).
Contudo, o estudo da paisagem arqueológica está diretamente ligado ao entendimento
das relações existentes entre humanos e seus ambientes como já afirmarmos aqui (e.g.
SILVA 2013). Estes estudos envolvem questões complexas sobre as maneiras com que
os grupos pré-históricos, conscientemente ou não, moldaram seus espaços sociais e
culturais, situações que envolvem uma variedade de processos tanto relacionados à
organização deste espaço quanto a sua modificação em função de uma diversidade de
propósitos que incluem subsistência, questões de ordem econômica, social, política,
cognitiva, simbólica ou religiosa (FAGUNDES 2009).

Para realização do estudo da paisagem em arqueologia é necessário a utilização


de diferentes áreas do conhecimento. Para os estudos arqueológicos de contextos pré-
coloniais faz-se necessária a compreensão da paisagem onde se inserem os sítios em
estudo, podendo partir de uma perspectiva natural, isto é, na sua materialidade, ou
quanto em sua condição simbólica (FAGUNDES 2009). As paisagens, de grosso modo,
foram (no momento de ocupação) e devem (no seu estudo) ser pensadas, interpretadas, e
simbolizadas e os grupos que as ocuparam fizeram parte de um todo de uma
organização social para sua existência (FAGUNDES 2009).

Enfim, o estudo arqueológico destes diferentes tipos de sítios, deixa evidente a


maneira como esses grupos exploraram o ambiente e os recursos nele presentes,
configurando o que chamamos de paisagem arqueológica.

2
Tradução nossa.
20

1.3. – O estudo da Captação de Recursos a partir dos grupos humanos

“(...) grupos humanos passam a explorar de forma mais


intensiva os recursos aquáticos dos oceanos e zonas estuarinas,
sobrevivendo de uma dieta baseada em peixes, crustáceos,
moluscos e mamíferos aquáticos (SILVEIRA; SCHAAN
2005)”.

Os recursos presentes na natureza sempre foram manipulados de alguma forma


pelos os grupos humanos, e a relação entre humanos e natureza nos deixaram registros
arqueológicos, como é o caso dos sambaquis no litoral brasileiro. Através desses
registros podemos compreender as interações desses povos. Os sambaquieiros se
utilizaram dos recursos naturais de diversas formas, desde alimentação à construção dos
próprios sítios.

No litoral sul brasileiro quatros grandes mudanças no nível do mar resultaram


em uma série de depressões ocupadas por lagunas, lagoas e lagos, e acumulações de
areia formando cordões de dunas paralelas à costa (FARION 2007). Todas essas
alterações propiciaram ao litoral um habitat ideal para a manutenção fauna local,
possibilitando aos povos que ocuparam o litoral a permanência dos recursos necessários
para a sobrevivência desses grupos humanos.

O território de captação de recurso é determinado de acordo com a probabilidade


e/ou intensidade de exploração da área; na medida em que os recursos básicos
diminuem, e a distância a explorada automaticamente aumenta, não é rentável o
investimento de energia gasto na procura dos recursos, portanto geralmente os grupos
deixam de explorar essas áreas (SANJUAN 2005 apud SILVA 2009). Desta forma,
podemos inferir que a área de captação de grupos humanos está diretamente ligada à
presença de recursos alimentares básicos.

A análise da área de captação de recursos é uma técnica criada para estudar a


área imediata que rodeia um sítio e que pode ter sido explorada pelos habitantes do
mesmo (SILVA 2009). Podemos compreender a análise da área de captação de recursos
como a tentativa de realizar uma descrição total dos elementos de um sítio e seus
lugares de procedência, ou seja, é a reconstituição arqueológica dos padrões de
interação dinâmica entre um dado nicho ecológico (a natureza e seus recursos) e uma
comunidade humana (sua tecnologia, população, organização socioeconômica, etc.)
(SILVA 2009).
21

Para avaliar a forma de captação de recursos dos grupos humanos se tem


proposto vários modelos, de diferentes complexidades e elaborações. Neste trabalho
optamos realizar o modelo proposto por Kent Flannery, et al. 1997 o autor combinou a
análise de captação e a análise de território de exploração em seu trabalho em Oaxaca
(SILVA 2009). O método utilizado por ele teve como base os recursos documentados
no assentamento, partindo da análise dos materiais documentados no sítio, questionando
em que pontos mais próximos ao sítio poderiam ser encontrados tais recursos,
estabelecendo a área de suporte do sítio (SILVA 2009).

1.4. – Os estudos faunísticos baseados nas zooarqueologia (seu surgimento como


disciplina e conceitos)

“O termo zooarqueologia engloba aspectos diversos, como o


estudo da domesticação, a alimentação humana, os rituais
funerários e as manifestações artísticas (CHAIX e MÉNIEL
2005)”.

A zooarqueologia é uma disciplina da arqueologia que estuda as relações entre


humanos e animais, sejam elas ocupações pré-coloniais ou pós-contato (históricas).
Essas interações são bastante perceptíveis na história da evolução da humanidade, onde
os primeiros registros desses contatos são evidenciados no continente africano há
aproximadamente 2,5 milhões anos AP com os primeiros hominíneos (LEWIN 1999).
Inicialmente através de informações da inclusão de carne na alimentação pelos
Australopitecus (LEWIN 1999), seguido dos Homo; sendo que o contato com os
animais estava voltado principalmente para a alimentação (MITHEN 1998; LEWIN
1999). Com o Homo sapiens o contato vai além da alimentação. Podemos notar a
inclusão dos animais no meio cultural, através das domesticações, a criação de
ferramentas de ossos, rituais funerários, entre outros (ARSUAGA 2005).

Embora a relação entre os humanos e os animais seja algo que se perpetua há


milhões de anos, o surgimento da disciplina que estuda essa interação é relativamente
recente; com o seu desenvolvimento a partir do século XX (CHAIX e MÉNIEL 2005).
Podemos enfatizar a presença de três escolas (Alemã, Americana e Inglesa) muito
importantes para o desenvolvimento da zooarqueologia (CHAIX e MÉNIEL 2005). Na
22

Alemanha, a escola que inicia em Munique, estava voltada para os trabalhos zoológicos.
(CHAIX e MÉNIEL 2005). A escola inglesa se utilizava da interdisciplinaridade tendo
a sedimentologia e a palinologia um papel importante. Seu principal pesquisador foi
Davis, sua melhor descrição da disciplina foi exposta em sua obra The Archaeology of
Animals (1987), considerando os animais como elementos do espaço arqueológico
(CHAIX e MÉNIEL 2005).

Foi com base nos estudos de Gautier e das escolas citadas acima, na qual foram
propostas as definições para a realização das pesquisas em arqueozoología (CHAIX y
MÉNIEL 2005). Dentro da disciplina arqueozoología e de outros estudos de restos de
animais recuperados em etapas arqueológicas, foram pensadas as seguintes etapas de
investigação:

- O reconhecimento e a descrição das espécies animais e com quais


grupos humanos se relacionaram;

- O estabelecimento da natureza e das relações entre grupos humanos e


espécies animais nos sítios arqueológicos (caça, pesca criação de gado,
comércio, etc.) e o uso do mesmo (alimentação, matéria prima, ritos,
força de trabalho, etc.);

- Abordar as consequências biológicas, ecológicas das intervenções


humanas sobre as espécies animais (raças domesticadas, modificações do
meio ambiente, etc.);

- A contribuição dos conhecimentos dos grupos sobre o meio ambiente,


de seu habitat, do modo de vida e da demografia, etc.

Essas definições citadas acima contribuem diretamente para o desenvolvimento


dos estudos zooarqueológicos, uma vez que iniciam as discussões sobre as relações
diretas entre os grupos humanos e animais, dando uma nova luz aos novos estudos. Para
a realização dos estudos zooarqueológicos foram necessários a adoção de classificações
e termos advindos da biologia, como é o caso da classificação de categoria ao qual os
animais são inseridos (mamíferos, aves, anfíbios, repteis peixes e as conchas de
moluscos).
23

Os primeiros trabalhos zooarqueológicos relacionavam os vestígios faunísticos a


refugos alimentares, porém com o desenvolvimento de novas perspectivas teóricas
houve a constatação da importância dos animais para grupos humanos, em outras áreas
da vida (CHAIX e MÉNIEL 2005). Entender os vestígios faunísticos puramente como
restos alimentares limita o potencial desses para com os grupos humanos, assim como
as nossas interpretações enquanto arqueólogos. Além de todas as questões que podem
ser respondidas pelos estudos de restos faunísticos, como alimentação, mobilidade,
sazonalidade, captação de recursos, o estudo da zooarqueologia visa compreender as
relações entre os humanos e os animais.

1.5. – Os estudos zooarqueológicos em sambaquis no Brasil

Os sambaquis são sítios arqueológicos formados basicamente por vestígios


faunísticos, principalmente por conchas de moluscos e ossos de peixes. Os estudos
desses remanescentes demonstram a abundância dos recursos ambientais no entorno dos
sítios arqueológicos, sendo a maior parte da fauna encontrada nos sítios arqueológicos
coletadas pelos grupos em seu entorno (KLOKLER 2001). A valorização dos estudos
zooarqueológicos nas pesquisas brasileiras em sítios conchíferos trouxe novas
abordagens que permitiram a ampliação dos nossos conhecimentos sobre as populações
pré-coloniais (KLOKLER 2001).

Segundo Klokler (2001), além da zooarqueologia estudar a alimentação dos


grupos pré-coloniais ela pode trazer informações sobre a formação dos próprios sítios.
As análises zooarqueológicas podem nos possibilitar o entendimento dos mecanismos
de coleta, utilização e deposição dos vestígios faunísticos nos sítios
arqueológicos;informações que também podem ajudar a caracterizar a relação entre
seres humanos e o meio ambiente. Realmente são inúmeras relações, podendo ser
simbólicas, econômicas, influenciando interações sociais. Os estudos zooarqueológicos
utilizam-se da interdisciplinaridade com outras áreas como a biologia, zoologia,
geologia, geografia, entre outras disciplinas, contribuindo ainda mais para o
enriquecimento dos estudos.

Segundo Klokler (2012), os sambaquis mostram-se como o ambiente ideal para


o estudo de padrões de subsistência pré-coloniais pela sua riqueza em recursos
24

faunísticos. Entre os vestígios presentes nos sambaquis mais comumente temos


moluscos bivalves (berbigões, ostras, mariscos), gastrópodes, peixes e crustáceos. Dessa
forma, os estudos dos remanescentes faunísticos presentes nos sambaquis (moluscos e
peixes) nos possibilitam um melhor entendimento do ambientes e paisagem.

Os estudos zooarqueológicos no Brasil nascem e se desenvolvem a partir dos


estudos de sítios costeiros (KLOKLER 2001). Dessa forma, optamos por pontuar alguns
trabalhos que tiveram grande importância nos estudos zooarqueológicos em sambaquis.
Garcia (1970) estudou o sítio Piaçaguera localizado no litoral de São Paulo, trabalhou
com o estudo de subsistência das populações litorâneas utilizando os vestígios
faunísticos, desta forma pode ser considerado o pioneiro por tratar da questão de
subsistência em populações costeiras. O autor em sua tese tenta abordar a possibilidade
de sedentarismo no grupo, porém não levou o trabalho adiante, por falta de um
evidencia conclusiva; Garcia (1972) trabalhou com os sítios Piaçaguera e Tenório, na
avaliação do grau de adaptação ecológica dos grupos que habitaram os respectivos sítios
(KLOKLER 2001). Em 1975, Schoor (1975) estudou 7 sítios cerritos no sudeste do Rio
Grande do Sul, com a identificação dos recursos usados na alimentação e locais de os
abastecimentos dos povos. Em seu trabalho evidenciou a importância das lagoas como
áreas de exploração dos peixes, uma vez que são os elementos mais consumidos
(KLOKLER 2001).

Em 1991, Lima apud Klokler (2001), elaborou pesquisas em sítios conchíferos


no litoral sul do Rio de Janeiro, em ilhas da Baía da Ribeira, com uma pesquisa que
procurava elementos para determinar a relação entre o humano e o meio e as evidencias
de mudança cultural dos grupos humanos através dos restos alimentares. Em 1992,
Bandeira trabalhou com o sítio Enseada I, localizado em São Francisco do Sul, Santa
Catarina, procurando por indicativos de padrões de subsistência (KLOKLER 2001). No
ano de 1997, Bonetti analisou a dieta alimentar dos grupos pescadores-caçadores-
coletores que ocuparam o Vale do Ribeira, procurando identificar alguma mudança, o
autor conclui que os grupos passaram a depender mais dos peixes do que dos moluscos
em determinado momento, porém o estudo não foi conclusivo, pois a metodologia
utilizada não era apropriada para alcançar os objetivos proposto (KLOKLER 2001).

Em seus trabalhos Figuti (1989, 1992, 1993) indica que as populações costeiras
sempre tiveram sua alimentação baseada na pesca, sendo o primeiro pesquisador no
25

Brasil a realizar a conversão do peso das carcaças dos animais para o peso de matéria
comestível salientando a importância da pesca e da coleta para as populações costeiras
(KLOKLER 2001). O autor em seus trabalhos salientava a necessidade da padronização
metodológica nas pesquisas zooarqueológicas para uma possível comparação dos dados
e a confirmação das hipóteses referente às pesquisas em sambaquis (KLOKLER 2001).

Em 1996, Figuti e Klokler analisam o processo de construção de Espinheiros II


(Joinville) baseado nos vestígios faunísticos, onde são identificados dois episódios
diferentes na sua construção, refletidos através dos diferentes modos de acumulação das
conchas. E os mesmos evidenciam a pesca como principal atividade de subsistência.
Em 2001, Klokler pesquisa o sambaqui Jabuticabeira II, localizados em Jaguaruna no
estado de Santa Catarina, visando estudar o processo de formação de sítio, a autora trata
a acumulação das diferentes camadas estratigráficas como resultante dos rituais
funerários presentes no sambaqui.

Acreditamos que o crescente trabalho em sítios arqueológicos de composição


faunística tenha contribuído para a valorização das pesquisas zooarqueológicas e
ampliação dos temas abordados permitindo ampliar nossos conhecimentos sobre as
populações humanas, principalmente grupos costeiros pré-coloniais.

1.6. – As conchas e os peixes dentro dos estudos zooarqueológicos

Atualmente conhece-se mais de 125.000 espécies de moluscos, e mais de 20.000


espécies de peixes, apresentando-se de uma maneira mais numerosa do que as espécies
mamíferas nos registros arqueológicos (CHAIX e MÉNIEL 2005). Os representantes do
filo Mollusca constituem o segundo maior grupo zoológico conhecido pela ciência. Os
moluscos são caracterizados pela presença de concha sólida (conhecida como carapaça),
composta essencialmente por carbonato de cálcio, que serve de proteção. Dentre os
moluscos temos os terrestres, de água doce, ou marinha (CHAIX e MÉNIEL 2005;
COLLEY et al. 2012). A ictiologia compreende o estudo do desenvolvimento, da
estrutura e de seus hábitos, a classificação dos diferentes tipos de peixes e o estudo de
sua distribuição geográfica e suas relações com o meio ambiente. Nos estudos dos
peixes observamos que é possível realizar uma boa estimação da idade do animal, assim
como a estação em que foi capturado (CHAIX e MÉNIEL 2005). Essa grande
26

quantidade e variedade de suas espécies de moluscos ratificam a importância das


pesquisas zooarqueológicas em sítios sambaquis.

Os moluscos são fundamentais para a manutenção do ecossistema ao qual estão


inseridos. Estão entre os animais mais evidentes e relacionados à sociedade humana,
desde as ocupações mais antigas até os dias atuais, sendo importantes como recursos
econômicos (COLLEY et al. 2012). Os recursos aquáticos foram amplamente utilizados
por grupos antigos no mundo, cujo uso foi da alimentação aos materiais construtivos,
simbólicos, sagrados, entre outros. Um dos fatores que possa ter contribuído para a
utilização dos moluscos por muitos grupos humanos seja sua abundância e riqueza nos
ambientes aquáticos.

Nas comunidades litorâneas os peixes e os moluscos representam um importante


papel cultural: podendo estar ligado as construções dos sítios, a alimentação dos grupos
e ao fator simbólico (KLOKLER 2001). Pesquisas arqueológicas têm evidenciado essa
importância para esses grupos antigos (FIGUTI e KLOKLER1996, KLOKLER 2001,
PAVEI et al. 2005, BARBOSA-GUIMARÃES 2007, NISHIDA 2007). Podemos citar
como exemplo de ligação simbólica com os peixes os grupos que ocuparam o sambaqui
Jabuticabeira II (localizado na mesma região do Mato Alto I) (KLOKLER 2001;
NISHIDA 2007). Esse sítio possui grande concentração de sepultamentos. Ao realizar
as análises faunísticas referentes aos vestígios advindos dos rituais funerários Klokler
quantifica os vestígios como sendo 75% deles peixes. A autora afirma que os depósitos
associados aos enterramentos seriam resultado de grandes banquetes realizados em
homenagem aos mortos (KLOKLER 2010).

Apesar de toda essa importância, os peixes têm sido muito subestimados entre os
vertebrados presentes nas escavações arqueológicas e, às vezes até ignorados. Isto se
deve a várias razões: como a fragilidade e o tamanho das peças ósseas (CHAIX y
MÉNIEL 2005). Podemos perceber que a ausência de uma padronização em pesquisas
zooarqueológicas unido a carência de profissionais nesta área devam ter contribuído
para o esquecimento da importância dos vestígios ictiológicos na pesquisa arqueológica.
Outro dado importante sobre os peixes é a possibilidade de estimação de peso e
tamanho através dos esqueletos dos mesmos. Em seus trabalhos, Levy Figuti foi o
pioneiro dessas transformações no Brasil, trazendo uma visibilidade para esses dados.
27

Sua pesquisa possui uma grande contribuição para o entendimento do consumo de peixe
entre esses povos em períodos mais remotos.
28

CAPÍTULO II – Mato Alto I: um Sambaqui do Litoral Sul de Santa


Catarina

O litoral meridional de Santa Catarina possui uma composição geológica com


um mosaico de lagoas, paleolagunas e lagos e essa constituição influenciou diretamente
para a composição de um ambiente ideal de diversificação da fauna local. Essa
composição ajudou a criar um ambiente propicio para a construção e permanência das
ocupações sambaquieiras (GIANNINI 2010).

Durante os anos de 1997 a 1999 foram realizadas intervenções arqueológicas em


alguns municípios do litoral sul de Santa Catarina, entre eles Jaguaruna, Laguna e
Tubarão. O projeto “Sambaqui e Paisagem”, sob coordenação de Paulo DeBlasis e
Madu Gaspar, entre outros e pesquisou diversos sambaquis da região, inclusive Mato
Alto I, o sítio abordado nesta pesquisa.

2.1. – Projeto de Intervenção Arqueológica ‘Sambaqui e Paisagens’

O projeto arqueológico “Sambaqui e Paisagem” realizada através da parceria de


distintas instituições: o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São
Paulo (MAE-USP), o Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro (MN-UFRJ) e
o Arizona State Museum da Universidade do Arizona (ASM-UA), com a participação
de pesquisadores do National Forest Service (NFS-CNP) entre outros. O projeto,
iniciado em 1997, teve como coordenadores: Paulo DeBlasis (MAE), Maria Dulce
Gaspar (MN), Paul R. Fishe Suzanne K. Fish (ASM).

O projeto teve como principal objetivo: investigar um conjunto de sambaquis; o


processo de formação dos mesmos; desenvolver procedimentos de pesquisa de campo
minimizando o impacto nos sítios e estimular sua preservação enquanto patrimônio
arqueológico e ambiental e através dos estudos etnoarqueológicos; além da comparação
entre as populações sambaquieiras e as comunidades pescadoras contemporâneas dessa
região (DEBLASIS et al. 1997).
29

2.2. – O Litoral Sul do Estado de Santa Catarina

O litoral do estado de Santa Catarina (figura 01) contém uma concentração de


sambaquis, despertando assim o interesse no desenvolvimento de pesquisas
arqueológicas no estado. A região é caracterizada pela ocorrência de planícies costeiras
quaternárias, terraços marinhos arenosos e depósitos eólicos arenosos (dunas)
(DEBLASIS et al. 1997). Os sítios arqueológicos da área são compreendidos pela
grande variedade de volumes, formas e composições, tornando-se os principais
testemunhos de algumas ocupações litorâneas, destacados pela concentração de sítios
(DEBLASIS et al., 2007).

A região estudada pelo projeto ‘Sambaquis e Paisagem’ está demarcada pelos


municípios de Laguna, Tubarão e Jaguaruna (figura 1). Nessa região encontra-se um
complexo mosaico de processos deposicionais eólicos, lagunares e marinhos
interdependentes (GIANNINI 2010). O sistema lagunar abrange um conjunto de
lagunas que se comunicam. Entre elas destacamos as lagoas de Santa Marta e Garopaba
do Sul, e uma sequência de lagos residuais de antigas lagunas (KNEIP2010).

Figura 1- Região estudada pelo projeto ‘Sambaqui e paisagens’. Fonte: Google Earth.
30

A área é banhada pelas bacias hidrograficas do rio Tubarão e dos rios Capivari e
Cubículo, além dos lagos e lagunas (OLIVEIRA 2010). A principal bacia de drenagem
é do rio Tubarão, que pode ser classificado como um rio de planície, apresentando boas
condições fluviais (CARUSO JR 1995).

A região apresenta uma grande ocorrência de dias de chuvas, ocasionando numa


não definição de uma estação de seca definida. No verão temos a estação mais chuvosa,
e no inverno temos um menor período chuvoso KLOKLER (2001). De acordo com a
Epagri (2002) et al Marques (2010), a partir da caracterização climática de Köepen, a
região se enquadra-se no tipo climático: Subtropical Mesotérmico Úmido e Verão
Quente “Cfa”. Com variação na temperatura média 12°C, nas localidades mais altas, a
20°C, nos locais de menores altitudes, a umidade relativa média fica entre 80 e 84%,
com insolação variando de 1600 a 2200 horas por ano de radiação solar (MARQUES
2010).

De acordo com Marques (2010), a cidade de Tubarão localiza-se sobre a Planície


Colúvio Aluvionar que se equivale a uma superfície plana com uma suave rampa para
leste, formada sobre depósitos de transição entre influências continentais e marinhas. As
áreas de influência continental apresentam predomínio de modelados planos
convexizados e formas de topos planos e baixos tabuleiros, enquanto naqueles de
influência marinha, ocorrem terraços marinhos e baixos tabuleiros com topos
remobilizados pela ação eólica (ROSA; HERRMANN, 1986 et al MARQUES 2010).Na
planície flúvio-marinho-lagunar, o material mineral é construído de areias, siltes e
argilas, de natureza mista, que geram lamas e lodos com grande percentagem de matéria
orgânica em decomposição (ISSLER; FERNANDES; FREIRE 1986 et al MARQUES
2010) (figura 2).

A área está localizada na costa atlântica, na porção meridional do estado de


Santa Catarina, a região delimitada nesta pesquisa foi descrita por Ab'Saber (2006)
como parte integrante de um setor da costa brasileira conhecida como "litoral de
Laguna", seguindo desde Garopaba, passando por Imbituba e se estende até o sul do
conjunto de lagunas meridionais catarinenses (ASSUNÇÃO 2010).
31

"Região de praias sincopadas, entre paredões de maciços


costeiros que foram paleoilhas. Pequenas lagoas no reverso dos
maciços costeiros, entre feixes de restingas3 de antigas
enseadas marinhas (...)”(Ab’Saber 2006).

Figura 2 - Mapa geológico da área. Fonte: Oliveira 2010.

A área abriga um ambiente de laguna dinâmico, facilitando assim as recorrentes


ocupações do litoral. De acordo com DeBlasis e Gaspar (2008/2009), a área de
concentração dos sambaquis é marcada pela presença de grandes ambientes lagunares,

3
É uma planície arenosa costeira, de origem marinha (incluindo praia, cordões arenosos, depressões entre
cordões, dunas e margem de lagunas), com vegetação adaptada ás condições ambientais
(site:ZonaCosteira.bio.ufba.br) acessado em 23/01/2018.
32

planícies de restingas e elevações cristalinas. Os sistemas lagunares estão diretamente


ligados as ocupações desses grupos.

Segundo DeBlasis (1997) na região de Laguna e Jaguaruna existem extensos


campos de dunas fósseis ou paleodunas, cobertos por vegetação. Alguns sambaquis
estão assentados na região citada acima como na região de Santa Marta. Nesta mesma
região encontra-se um amplo lençol conchífero natural, chamado Jabuticabeira
(DEBLASIS et al. 1997).

2.3. – Discussões acerca de trabalhos realizados na área do projeto ‘Sambaqui e


Paisagem’

Em seus trabalhos os autores Rohr (1969), Kneip (2004) e Giannini et al. (2010)
discutem a formação geológica da área e a formação dos sambaquis da região sul de
Santa Catarina. Rohr classificou os sambaquis do litoral sul de Santa Catarina em cinco
grupos diferentes, levando em consideração as formas e composições e implantação dos
sítios na paisagem. Andreas Kneip realizou a construção de um SIG (Sistema de
Informação Geográfica) com o qual discutiu a formação costeira baseado na
transgressão marítima, abordando em seus estudos a influência do recuo na formação
geológica e ocupação pré-colonial da área. Através das informações geomorfológicas,
geológicas e topográficas integradas no SIG, permitiram ao autor simular a
movimentação do nível do mar (NMM) do período de 5.000 anos AP até o momento
atual (KNEIP 2004). Paulo Giannini e colegas usaram como referência os dados
geomorfológicos da região, e a formação costeira no período do quaternário, relatando a
formação da área através dos levantamentos sistemáticos dos sítios e datações,
identificando os padrões de distribuição espacial nos sambaquis da região. Em suas
conclusões Paulo Giannini e colegas identificaram nos sítios da região cinco contextos
geológico-geomorfológicos, três padrões estratigráficos e quatro fases de ocupação
sambaquieira com base na quantidade de sítios e no tipo de padrão construtivo
(GIANNINI et al. 2010). Essas discussões contribuíram para uma melhor compreensão
da área arqueológica estudada por vários pesquisadores.
Ao classificar os sambaquis do litoral de Santa Catarina, Rohr (1969) inseriu
Mato Alto I no Grupo II, ou seja, sítios formados principalmente por Anomalocardia
33

brasiliana (Anomalocardia brasiliana), porém com uma quantidade considerável de


ostras (Ostrea sp). Os sítios deste grupo não são sambaquis de grandes elevações,
porém podem apresentar grandes extensões, e encontram-se localizados sobre
paleodunas ou encostas. Em geral possuem enterramentos numerosos, variando de
acordo com cada sítio. Rohr descreve que em alguns sítios a camada superior possui
como material construtivo sedimento de coloração preta (Cabeçuda, Carniça I, II, III, e
IV, Congonhas I, II, e III, Jabuticabeira I, II, e III, Mato Alto I e II, Morrote, Ponta do
Morro Azul, Porto Vieira I, e II, Riachinho e Santa Marta Pequeno). A seguir temos as
descrições dos outros respectivos grupos.

No grupo I são classificados os sambaquis formados principalmente de


Anomalocardia brasiliana (Anomalocardia brasiliana). Alguns são longos e extensos.
Geralmente se localizam a 1 km da praia, na extensão da barreira holocênica (que
separa o mar da lagoa), com um grande número de enterramentos. O grupo III é
formados por dois sambaquis, compostos principalmente por conchas de mariscos
brancos localizados a cerca de 100m da praia (não foram localizados pelos integrantes
do Projeto Camacho).Junto às conchas encontram-se lascas de sílex e cerâmica.
Apresentam-se a cerca de 200m da linha da praia atual, e a 1 km dos sambaquis do
grupo I. O grupo IV é formado por dois sambaquis, compostos por conchas de Donax
sp. Com uma indústria lítica classificada por Rohr (1969) como pobre. E no grupo V os
sítios possuem uma composição na qual é notada a falta de preferência por um tipo
especifico de molusco. São sambaquis semi-enterrados ou semi-submersos.

Em seu trabalho Kneip (2004), leva em consideração a classificação realizada


por Rohr, porém acrescenta o estudo sobre a transgressão marinha, onde o nível médio
marinho caiu aproximadamente 2 m acima do zero atual. De acordo com os dados
obtidos em trabalho, Kneip (2004) separou os grupos de sambaquis da região de acordo
com sua cronologia. O sambaqui Mato Alto I, esteve ativo entre aproximadamente
3.000 AP e 1.500 anos AP (figura 03) AP. Durante esse tempo de ocupação outros
sambaquis estudados pelo projeto também estiveram ativos. Por exemplo, temos o
Carniça I, Caieira, Congonhas I, Congonhas II, Garopaba do Sul, Jabuticabeira I,
Jabuticabeira II, Mato Alto I e Morrote.
34

Figura 3 - Mapa da região por volta de 3.000 AP, com o nível do mar 1,0 acima do atual. Fonte: Kneip 2004.

O período de 3.000 AP no qual o Nível Médio do Mar esteve a 1,0 m acima do


atual, configura o momento em que houve um maior número de sambaquis ativos na
área (Carniça I, Caieira, Congonhas I, Congonhas II, Garopaba do Sul, Jabuticabeira I,
Jabuticabeira II, Mato Alto I), nesse período estiveram ativos sambaquis considerados
pequenos como é o caso do Mato Alto I e os sambaquis monumentais como a
Jabuticabeira II e Garopaba do Sul. O Jabuticabeira II é considerado sambaqui
monumental funerário (KLOKLER 2001; NISHIDA 2007; VILLAGRAN 2010), e o
Garopaba do Sul é considerado monumental pela sua elevação, chegando a ter mais de
60 metros (DEBLASIS et al. 2007; JUSTINA 2015). No período de 1.500 AP o Nível
Médio do Mar estava 0,5 m acima do atual, o Mato Alto I ainda estava ativo, porém a
concentração de sambaquis ativos na área era bem menor (Carniça I, Congonhas III,
Jabuticabeira II, Mato Alto e Morrote), esse período configurava o momento inicial da
retração e desaparecimento desses grupos no litoral (figura 4).
35

Figura 4 - Mapa da região por volta de 1.500 AP, com o nível do mar 0,5 acima do atual. Fonte: Kneip 2004.

De acordo com Giannini e colaboradores (2010), a parte costeira da região sul de


Santa Catarina, é formada por quatros sistemas deposicionais do quaternário costeiro,
são eles: Barreiras (ou Barra-Barreiras), Planície Costeira (ou de Cordões), Lagunas
holocênico e Eólico, descritos sucintamente abaixo.

O sistema lagunar holocênico abrange lagunas intercomunicáveis e uma série


de lagos de lagoas residuais de antigos fundos lagunares, os quais integraram complexos
de lagunas interligados durante níveis do mar mais alto que o atual. Esse sistema
deposicional foi formado por dois processos distintos: isolamento parcial do corpo
d’água por formação de uma barreira arenosa e afogamento de vales de dissecação
preexistentes. A formação resultada destes dois processos denominados baía-laguna e
vale laguna. A baía-laguna abrange as lagoas Garopaba do Sul, Camacho e Santa Marta.
36

De acordo com os estudos de Giannini e colegas (2010), o sambaqui Mato Alto I


está inserido na área de formação pelo sistema lagunar holocênico, pela sua localização
próxima a lagoa do Camacho. Desta forma, podemos compreender que os grupos PCC
utilizavam como estratégias de ocupação a preferência de áreas que se apresentam como
terrenos elevados, em meio ou próximos as lagunas (KNEIP 2004; DEBLASIS et al.
2007; GIANNINI et al. 2010).

2.4. – O Sambaqui Mato Alto I

O sítio Mato Alto I (figura 5) está localizado no município de Tubarão. Esse


sambaqui já foi conhecido como: Passo do Gado (ROHR 1969). De acordo com
DeBlasis e colegas (1997) e Kneip (2004), o sítio está georeferenciado pelas
coordenadas: 22J E698773. 00 m – S6842162. 00 m, com dimensão atual de 300m por
80m de base e 6 m de altura, perfazendo 24.000 metros quadrados. É considerado um
sambaqui monticular de acordo com Assunção (2010). Durante as prospecções foi
localizado um pequeno sítio nomeado Mato Alto II a cerca de 60 metros do primeiro.

Durante as intervenções foram aproveitados os barrancos localizados na frente e


na lateral do sítio para a abertura de dois perfis, o primeiro perfil com 4 metros por 5 de
altura, o segundo 2,5 por 5 metros de altura e o terceiro perfil alcançou sua a base do
Mato Alto I (KLOKLER 2015). Mato Alto I composto por solo argiloso de coloração
marrom, com um nítido contraste em relação à cor, composição e textura com as
camadas superiores do sambaqui (DEBLASIS et al. 2007).

O Mato Alto I foi parcialmente delimitado pelo projeto ‘Sambaqui e Paisagem’,


durante as intervenções realizadas foram recuperadas amostras de sedimentos totais para
análises estratigráficas e datações. Datações radiocarbônicas indicam que Mato Alto I
foi construído há aproximadamente 2.920 anos atrás (GIANNINI et al. 2010). De
acordo com Fish e colegas (2000) no sítio Mato Alto I podemos observadas uma
datação de 2.245 anos AP na base do Perfil II, e 2.535 anos AP no Perfil I/estrato 2,
datações realizadas por carvões (Tabela 1).
37

Figura 5 - Localização do sambaqui Mato Alto I. Fonte: Google Earth, foto de 1984.

Tabela 1 - Tabela de datações do Mato Alto I.

Mato Alto I – Datações


Idade Local Material Código do Sigma + Referência
(anos AP) datado laboratório Sigma
2.245 Base do Carvão Az - 10643 60 – 60 Fish e colegas
perfil II (2000)
2.535 Perfil Carvão Az - 10644 165 – 160 Fish e colegas
I/estrato 2 (2000)
Fonte: Fish e colegas 2000.

O Mato Alto I encontra-se sobre uma encosta de serra (figura 6). De acordo com
DeBlasis e colegas. (1997), o sítio foi bastante danificado ao longo do tempo, mas
principalmente nos anos 80 quando, segundo informantes, foram retiradas grandes
quantidades de sedimentos da parte mais elevada do sambaqui pela prefeitura local, para
a utilização do material na construção civil, devido ao seu potencial construtivo. O
cemitério da vila local encontra-se localizado sobre parte do sítio atualmente.
38

Figura 6 - Sítio Mato Alto I. Fonte: Klokler 2008.

De acordo com os dados de DeBlasis e colegas (1997) foi encontrado um


sepultamento no sambaqui, porém não foi possível realizar a identificação quanto ao
sexo e faixa etária do indivíduo. A partir da contextualização da área e do Mato Alto I
apresentados acima, vamos apresentar no capítulo seguinte as informações acerca dos
procedimentos metodológicos de realizados em campo e em laboratório.
39

CAPÍTULO III - Metodologia

Neste capítulo discutiremosas estrategias adotadas para o processamento e


análise do material arqueofaunístico do sítio Mato Alto I. Segundo Klokler (2013),
durante o desenvolvimento de metodologia em estudos zooarquelógicos deve-se
considerar alguns fatores que são importantes:adequação dos métodos,
representatividade e padronização das amostras, e cuidado na definição de índices de
quantificação; todos fatores fundamentais para responder às questões da pesquisa.

A partir das análises faunisticas traçaremos algumas discussões sobre a captação


de recursos, buscando destacar a importância dos moluscos e peixes para populações
sambaquieiras.

3.1. – Métodos realizados em campo.

A probabilidade de resultados mais sólidos para qualquer pesquisa depende de


fatores que vão desde métodos escolhidos, quantidade e qualidade das amostras
(SCHEEL-YBERTet. al 2005/2006). A padronização da coleta é considerada a mais
eficiente para o estudo da matriz sedimentar dos sambaquis em geral, possibilitando
uma melhor identificação de variações dos componentes das camadas (FIGUTI e
KLOKLER 1996). A estratégia de coleta de amostragem realizada em Mato Alto I tem
o mesmo padrão discutido e descrito por Figuti e Klokler (1996), Klokler (2001; 2013)
e Scheel-Ybert e colegas (2005/2006).

A recuperação de amostras representativas é fundamental para a validade dos


resultados e sua subseqüente interpretação, evitando assim a distorção ou subestimação
dos dados. Acreditamos que não exista uma metodologia correta, universal, mas sim a
mais adequada para os propósitos de determinada pesquisa (KLOKLER 2001).Desta
forma as amostras faunísticas são tratadas como amostras de sedimentos, evitando a
seleção de resto de animais específicos (podendo ser o mais preservado ou mais
conhecido).

A amostragem de vestígios em sambaquis vem sendo muito discutidapor


pesquisadoresnas últimas décadas (KLOKLER 2001e 2013; NISHIDA 2007;
SCHEEL-YBERT 2005/2006), trazendo grandes contribuições referentes a utilização de
40

métodos adequados para estes sítios particulares.Uma vez que sambaquis possuem uma
composição basicamente faunística, isso reforça a necessidade depensar em estratégias
específica para sítios com esta composição. Ao realizar trabalhos sobre padronização de
amostragem Klokler e Nishida (2016), concluíram que não é o tamanho da amostra que
garante a qualidade da pesquisa, uma vez que amostras muito grandes tendem a
apresentar resultados redundantes, enquanto as amostras muito pequenas podem não
possuir diversidade taxonômica. As autoras chegaram à conclusão que a padronização
do volume de coleta das amostragens é indispensável para garantir a realização de uma
boa pesquisa, pois a recuperação de amostras representativas é fundamental para a
validade dos resultados e posteriormente sua interpretação. Klokler (2008,2013) e
Klokler e Nishida propõem que amostras de 8 litros seriam a mais apropriadas para
capturar a diversidade taxonômica das especies em grandes sambaquis.

A utilização de amostragem por colunas é a mais interessante para estudar a


matriz sedimentar do sítio, pois permite a verificação vertical das mudanças na
deposição das camadas durante a formação do sambaqui (CASTELL 1970;
CLAASSEN 1991; WASELKOV 1987 apud KLOKLER 2001). A coleta é realizada
através de amostras de totais sedimentos totais, evitando assim uma seleção dos
espécimes a serem coletadas. Uma vez que uma coleta selecionada irá influenciar
diretamente nos resultados da pesquisa, acarretando na supervalorização de
determinadas espécies.

Durantes as intervenções de prospeccção realizadas em Mato Alto I (figura 7),


foram abertos 3 perfis; o perfil I e o II se completam, e foram localizados na face da
planície de inundação, local das intervenções, foram aproveitados os barrancos
localizados na frente e na lateral do sítio. O perfil III foi aberto na face do sambaqui
voltada para a estrada.Este últimoalcança a base do sambaqui, formada por sedimento
areno-argiloso de coloração marrom-amarelada, com um nítido contraste em relação à
cor, composição e textura em relação às camadas superiores do sambaqui (DEBLASIS
et al. 2007).

As amostras faunísticas (sedimento total) foram coletadas nos 3 perfis por colunas a
partir do momento em que foi estabelecida a sequência da estratigrafia de cada perfil.
Foram coletadas amostras de 15 centímetros cúbicos de cada camada considerada
relevante. No Perfil I a equipe de campo amostrou 14 camadas, sendo que nos demais
41

cinco camadas foram coletadas (tabelas 2). O Perfil II foi amostrado 5 camadas, no
qual totalizou 2,56m de comprimento com 4,37m de altura4 (figura 8) (tabela 3). E por
fim, o perfil III também foi amostrado 5 camadas, a seguir temos as apresentações das
tabelas com as informações das respectivas camadas (tabela 4).

Figura 7 - Croqui realizado em campo do perfil II.

Tabela 2 - Descrição das camadas do Perfil I.

Mato Alto I – PERFIL I

Camada 1 Camada húmica com presença de raízes, mariscos.

Camada 2 Camada com sedimento arenoargiloso, sendo identificada a presença de argila, carvão,
mariscos, ostras, Anomalocardia brasiliana e ossos.

Camada 3 Foi encontrada a presença de carvão, Anomalocardia brasiliana inteiros e mariscos


queimados: fogueira.

4
Os dados de campo sobre as intervenções realizadas em Mato Alto I foram anotações de campo cedidas
pela professora Daniela Klokler. Desta forma não temos disponibilizadas todas as informações dos
perfis.
42

Camada 4 Similar a camada 2, com uma maior concentração de mariscos./ Sedimento areno-
argiloso, fragmentos centímetricos de mariscos, poucos ossos de peixes, válvas
fragmentadas.

Camada 5 Lente de carvão e material argiloso, com resto de peixes.

Camada 6 Foi identificada presença de ostras grandes, com válvas inteiras.

Camada 7 Sedimento argiloso muito compactado foi encontrado ostras inteiras, mariscos
fragmentados e ossos de peixes.

Camada 8 Foi percebida alta concentração de restos de peixes.

Camada 9 Camada com muitos peixes, poucos mariscos e ostras.

Camada 10 Camada com sedimento argiloso compactado.

Camada 11 Camada com presença de mariscos compactados

Camada 12 Camada com ossos de peixes e mariscos

Camada 13 Camada com presença de berbigões.

Camada 14 Camada com muitos fragmentos de mariscos, lente fina.

Mato Alto I – PERFIL I5

Capa 1 Matriz arenoargilosa, cinza claro com conchas fragmentadas (mariscos e


anomalocardias) pouco carvão.

Capa 2 Matriz arenoargilosa, com conchas duas vezes mais esmagadas que a 1 (mariscos e
anomalocardias), o estrato possui uma coloração quase branca de tão cinza. Mais ossos
de peixes presentes neste estrato e há mais carvão vegetal, em seguida, estrato 1.

Feature1 É uma linha composta de anomalocardias, mariscos, e berbigões, não aparece terra
sobre ela 90% de berbigões, amostra inteira (próximas)

Feature 2 É uma camada de cinza escura (uma possível superfície) com conchas esmagadas, na
seção leste, há uma aproximação com a camada superior 8 (foi coletado carvão).
Existem os mesmos blocos de argila.

Statum 3 Matriz argilosa com mariscos fragmentados e alguns blocos de argila. Há presença de
muito carvão. Há presença de ostras distribuídas comparado com o estrato 2, este
estrato possui uma maior quantidade de conchas esmagadas.

Feature 3 Camada preta com presença de muito material orgânico de argila com ossos de peixe e
fragmentos de carvão e uma pequena proporção de mariscos.

Feature 4 A matriz é uma cova com um preenchimento composto de osso de peixe, carvão é
argila. Contido alguns mariscos esmagados é uma patela humana é visível no meio da
cova

Feature 5 É uma possível cova preenchida por conchas, com quase todas inteiras

5
As fichas a seguir foram traduzidas pela autora, a partir das anotações de campo realizadas pela
professora Daniela Klökler.
43

(anomalocardias).

Stratum 4 Matriz argilosa com conchas fragmentadas (mariscos e anomalorcadias). Muito similar
ao stratum 1 e 2.

Stratum 5 Igual ao estrato 4.

Stratum 6 Igual ao estrato 4.

Feature6 É uma camada de ostras, com muitas ostras esmagadas, fazendo um montículo. Com
presença de carvão e ostras na camada. Recolhemos o carvão com as ostras.

Tabela 3 - Descrição das camadas do Perfil II.

Mato Alto I – PERFIL II

Camada 1 Foram observadas 13 espécies, camada com presença de raízes, apresenta mariscos e
mariscos em maiores quantidades na sua composição. Camada com coloração marrom.

Camada 2 Foram observadas 7 espécies diferentes, camada com pequena concentração de


material. Com presença de raízes, sem grande variedade entre os componentes.
Anomalocardia brasiliana em maior quantidade. Camada com coloração marrom.

Camada 3 Foram observadas 9 espécies diferentes, sem muitas variações entre as espécies,
camada com presença de raízes. Com presença significativa de ostras (inteiras) e
berbigões. Camada com coloração marrom.

Camada 4 Foram observadas 10 espécies diferentes, sem muitas variações entre as espécies,
camada com presença de raízes. Com presença significativa de ostras (inteiras) e
berbigões. Camada com coloração marrom.

Camada 5 Foram observadas 10 espécies diferentes, camada com presença de raízes. Com
presença significativa de ostras (inteiras) e berbigões. Camada com coloração marrom.

Mato Alto I – PERFIL II

Statum 7 A matriz de argila é muito orgânica, as conchas espessas em toda parte, as ostras são
dispersas na matriz. A matriz é muito escura, preta com carvões.

Feature 7 É uma camada de ostras inteiras no topo desta camada, ao norte havia uma possível rocha
queimada coletamos todo o carvão a partir desta característica (estrato 2). É possível que
o fundo do sambaqui esteja aqui.

Tabela 4 - Descrição das camadas do Perfil III.

Mato Alto I – PERFIL III

Camada 1 Foram observadas 11 espécies diferentes, camada com presença de raízes. Com
presença significativa de Thais (com partes inteiras), ostras, berbigões, asa de anjo
(Cyrtopleuras) e mariscos. Camada com coloração levemente escurecida.
44

Camada 2 Foram observadas 17 espécies diferentes, camada com presença de raízes. Com
presença significativa de ostras, mariscos, concrenções de sedimentos e berbigões.

Camada 3 Foram observadas 17 espécies diferentes. Essa camada se destaca pela grande
quantidade de Anomalocardia brasiliana presentes, com uma concentração de mais de 1
kg.

Camada 4 Foram observadas 11 espécies diferentes. Camada com uma quantidade de mariscos,
concrenções de sedimentos, Anomalocardia brasiliana e carvões.

Camada 5 Foram observadas 11 espécies diferentes. Camada com uma quantidade considerável de
mariscos, seguido dos berbigões, ostras e carvões.

Além do material faunístico coletado em Mato Alto I, temos as coletas de um


lítico no Perfil I e camada 6, no estrato 2 foi realizada a coleta de carvão, na feição 6 foi
coletado uma camada de ostras, na feição 2 foi coletado 8 carvões. No perfil II foram
coletados 7 líticos e carvão do estrato 7, podendo se tratar de uma possível fogueira.

3.2.– Métodos realizada em laboratório.

O material proveniente do Mato Alto I já se encontrava parcialmente


processado, ou seja, a pesagem inicial da amostra, a lavagem e separação em duas
frações e a pesagem final com a amostra seca, realizadas por Daniela Klökler no
laboratório do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. A continuidade das etapas de
laboratório foi realizada em parceria com o discente Robson Thauan de Jesus Silva,
ambos vinculados a projetos de Iniciação Científica da Universidade Federal de Sergipe
- UFS (realizados no período 2014–2015). As análises do material faunístico6 foram
parcialmente realizadas nos laboratórios de Bioarqueologia de (LABIARQ) e de
Arqueologia Sensorial (LAS). Enquanto a finalização das mesmas ocorreu nas
dependências do Laboratório de Sociedade e Paisagem (LAPSO). Todas as etapas foram
realizadas sob a supervisão da Prof. Daniela Klokler.

6
O material faunístico do Mato Alto I encontrava-se alojado na Reserva Técnica do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e foi cedido para realização do projeto de
Iniciação Cientifica (2014-2015) sob a responsabilidade da Professora Daniela Klökler. É importante
destacar que parte da documentação de prospecção do sítio Mato Alto I foi perdida, por este motivo nem
todas as informações serão completas.
45

É importante frisar que o material do Mato Alto I, já se encontrava parcialmente


processado. Inicialmente as análises em laboratório foi realizado pela professora
Daniela Klökler consitindo na lavagem do material (necessária para a separação do
sedimento mais fino do material faunístico). Em seguida fora feita a pesagem inicial e
final da amostra (para estabelecer um maior controle da densidade do material
arqueológico presente em cada amostra), uma vez que realizada a lavagem das amostras
os sedimentos mais finos são eliminados.

Dando seguimento, as análises laboratóriais consistiram na escolha da malha a


utilizada.O diâmetro da malha escolhida condicionará não apenas a quantidade de restos
recuperados como também a sua variedade. A utilização de uma malha grande implica
na perda de parte dos vestígios arqueofaunísticos menores e, portanto, poderá ocorrer a
subestimação de certos grupos taxonômicos na amostra (BEJEGA GARCÍA 2008). O
tamanho adequado da malha poderá garantir uma maior variedade de espécies
recuperadas.

Para as análises faunísticas do Mato Alto I optamos por utilizar o material


proveniente da malha de 4 mm; esta fração permite um maior grau de identificação
taxonômica devido ao maior tamanho e à menor fragmentação dos vestígios. A fração
de 2 mm poderá ser analisada no futuro e os resultados comparados para verificar
diferenças nas proporções dos componentes e dificuldades em relação à identificação do
material. Segundo Klokler (2008) uma malha com fração menor de 2 mm pode tornar
inviável a identificação dos componentes faunísticos, principalmente de moluscos,
impossível devido à fragmentação. A escolha da utilização de dois tamanhos de malhas
além de facilitar a triagem, possibilitar a verificação do teor de compactação das
conchas em cada camada (KLOKLER 2001).

O terceiro procedimento adotado foi triagem do material (figura 9). Esse


processo consiste na separação dos componentes de acordo com sua categoria
taxonômica, possuindo um processo duplo:separação dos componentes e a identificação
taxonômica (BEJEGA GARCÍA 2008 e BEJEGA et al 2010). A separação permite
observar a variabilidade taxonômica presente no sítio. Para o auxílio no trabalho de
triagem foram utilizados: pinça e lupa binocular (para uma melhor visualização dos
espécimes que se encontravam com maior fragmentação). Em seguida passamos para a
identificação taxonômica de todos os componentes da matriz. Para essa identificação
46

nos utilizamos dos manuais de conchas e peixes: Conchas Marinhas de Sambaquis do


Brasil (SOUZA et al. 2011) e o Cambridge Manuals in Archaeology Fishes
(WHEELER e JONES 1989), alem de coleções de referências e anotações de campo da
professora Daniela Klokler. Nesta etapa inicialmente foi realizada a separação dos
componentes: bivalves, gastrópodes, ossos, carvão vegetal, raízes, concreção, argila,
rocha.

Em seguida foram iniciadas a classificação e identificação de todos os


vertebrados e moluscos, seguindo a metodologia utilizada por Klokler (2001, 2008) e
Nishida (2007). Durante essa atividade procurou-se realizar a identificação dos
espécimes (elementos ou fragmentos) no nível de taxón mais específico possível. No
caso dos moluscos e peixes foi possível chegar ao nível de espécie na maioria dos casos
porém; o mesmo não foi possível no caso da ave, devido a fragmentação e falta de
coleção de comparação específica que limitaram a identificação.

Nas análises dos ossos dos peixes as peças geralmente mais facilmente
identificadas taxonomicamente estão localizadas na parte do crânio (em geral são peças
que apresentam características morfológicas identificadoras, o que possibilita a
identificação em nível de família ou espécie, e os otólitos também localizados no crânio,
mas com composição distinta do resto do esqueleto7. Os espécimes separados foram
então analisados e uma série de oito atributos foram registrados em planilhas:

-O primeiro, o tipo de espécime foi determinado (por exemplo, raio de nadadeira


ou dentário);

- O segundo, seu lado (direito, esquerdo, único);

- O terceiro conjunto de atributos envolve possíveis modificações, grau de


queima, estado de preservação e presença de modificação antrópica (KLOKLER 2008);

7
Os otólitos são elementos são concreções acelulares de carbonato de cálcio e outros sais orgânicos que se
localizam no ouvido do peixe (Assis 2000).
47

Figura 8 - Material durante a Triagem.

Após a triagem os vestígios foram submetidos a pesagem dos componentes de


cada camada. Utilizou-se uma balança de precisão por tratarem sua maioria de
materiais leves, já que uma balança normal não teria a adequação para pesos além de
miligramas. A utilização do método de pesagem dos fragmentos de conchas e ossos de
vertebrados nos permite análisas as porcentagens relativas da abundância ados
componentes faunisticas e a estimaçãodo peso da parcela comestível dos bivalves e
vertebrados (KLOKLER 2001). De acordo com Klokler (2001), alguns autores vêem
problemas no método de pesagem, por conta das massas perdidas pelas conchas durante
o processo de decomposição, e durante a peneiração se perde ainda as partes muito
fragmentadas das conchas. Porém, optamos por utilizar mais de um método,
assegurando uma maior confiabilidade dos dados obtidos.

Na etapa seguinte as espécies foram submetidas a quantificação do NISP


(número de espécimes identificados) e estimativa de NMI (número mínimo de
indivíduos), os registros dos dados foram anexados as fichas de análises de material
faunístico, e posteriormente adicionadas ao banco de dados criado no Office Excel. A
quantificação de NISP e NMI não é viavél realizar com todos os componentes
faunisticos da matriz, o auto teor de fragmentação da fauna dificulta este tipo de
48

quantificação, uma vez que se é necessário a conservação das porções diagnosticas da


mesma. Os componentes presentes em Mato Alto I escolhidos para quantificação das
peças foram a Anomalocardia brasiliana (Anomalocardia brasiliana) e os ossos de
peixes. Optou-se por realizar esta quantificação apenas com a Anomalocardia brasiliana
por apresentarem uma maior preservação da porção diagnóstica (umbo) (figura 10). O
NMI desses moluscos foi realizadoatravés da lateralidade do umbo.

O NMI é considerado por muitos autores o método de índice de abudância


relativa mais adequado para estudos zooarqueológicos, por estimar o número mínimo de
indivíduos que representamos elementos esqueletais identificados a uma determinada
espécie (LYMAN 1994; REITZ E WING 1999 apud KLOKLER 2008). Segundo
KLOKLER (2008), o White (1953) definiu o NMI como a quantificação de elemento
mais abundante de uma espécie identificada separada por lado. Porém é importante
lembrar que esse método pode esbarrar em algumas problemáticas, os animais para os
quais a identificação depende de elementos não simétricos podem conduzir para
estimativas baixas do NMI (REITZ E WING 1999 apud KLOKLER 2008).

O NISP é utilizado com regularidade para estimar a frequência relativa dos


taxons, porém essa técnica é muito afetada pelos distintos graus de fragmentação e
diferenças no número de elementos esqueletais em diferentes animais (KLOKLER
2008). A fragmentação não é uniforme entre diferentes classes de animais, porque a
fatores tafonômicos afetam os táxons de várias maneiras, e os graus de identificação
variam muito, inflando os valores NISP de alguns animais (KLOKLER 2008). Desta
forma, optou-se por realizar métodos diferentes de análise (pesagem para todos os
componentes da matriz sedimentar e quantificação de NMI e NISP para a
Anomalocardia brasiliana e os vertebrados) para garantir uma maior eficácia dos
resultados obtidos.
49

Figura 9 - Localização do umbo em um bivalve / Lateralidade dos bivalves, lado direito e esquerdo.
50

CAPÍTULO IV - Dados obtidos de Mato Alto I.

Como já foi abordado anteriormente, o sítio Mato Alto I é composto por três
diferentes perfis (nomeados por perfil I, II e III), os quais foram analisados seus itens
composicionais, com o intuito de compreender a captação de recurso presentes no
sambaqui. A seguir neste capítulo iremos descrever os dados processados.

4.1. – Análises granulométricas do Perfil I em Mato Alto I

A análises iniciais em laboratório das amostras coletadas pela equipe do projeto


‘Sambaqui e Paisagem’, consistiram na pesagem inicial (antes da lavagem do material),
posteriormente foram lavadas em água corrente com a utilização de peneiras com malha
de 4 e 2 mm e pesadas novamente. Desse trabalho inicial foram gerados os dados
relacionados à granulometria baseados no peso inicial (P0) e peso final da amostra (P1
a+b). No processo de lavagem as amostras foram separadas em frações de 4 e 2 mm (P1
a) e (P1 b), segundo procedimento proposto por Klokler (2001) e Nishida (2007). A
escolha da malha dupla além de facilitar a triagem permite a verificação do teor de
fragmentação e compactação das conchas em cada camada (KLOKLER 2001).

A análise granulométrica do sítio foi realizada apenas nas amostras do Perfil I,


uma vez que para a presente pesquisa não tivemos acesso aos dados dos outros perfis (II
e III). Ao analisar o gráfico (figura 11) percebe-se que as camadas 1, 2 e 4 apresentam
os pesos da porção triável são semelhantes, variando entre 290 a 350 gramas, de acordo
com os dados de campo são camadas arenoargilosas com presença de mariscos, e
coloração cinza clara. Nas camadas a seguir houve um aumento nos valores de P1 a+b.
Na camada 3, foi observado um peso de 360g, foram observados mariscos queimados e
presença de fogueira. A camada 5 possui em peso de 450g, foram observados a presença
de material argiloso, e uma lente de carvão. Na camada 6apresentou peso de 470g,
sendo observada a presença de ostras inteiras. A camada 7 não demonstra o menor peso
(110g) de porção triável do perfil, de acordo com os dados de campo trata-se de uma
camada entre ostras, com sedimento argiloso compactado. Na camada 8, o peso da
porção triável apresentou um aumento (390g) ao se comparar com a camada anterior,
sendo observado em campo uma alta concentração de ossos.

Nas camadas seguintes houve uma nova diminuição no valor da porção triável,
na camada 9 apresentou 340g, continuou sendo observado a alta concentração de peixe.
51

E a camada 10 com peso de 275g, com a presença de sedimento argiloso compactado.


Na camada 11 o peso da porção triável houve um aumento (390g), foi observada a
presença de marisco compactado. A camada 12 apresentou peso de 355g, com presença
de ossos e mariscos. As camadas seguintes apresentaram os maiores pesos do perfil, a
camada 13 com 655g, sendo observada a grande presença de A.brasiliana, na camada
14 com peso de 515g, foi encontrada uma lente fina com mariscos fragmentados.

Granulometria do Perfil I
1,600
1,400
1,200
1,000
800 P0

600 P1 a+b

400
200
0
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14

Figura 10- Peso inicial (P0), fração triável (P1 a+b) (medidas em gramas).

4.2. – Componentes faunísticos e arqueológicos presentes em Mato Alto I

A seguir temos as listas das espécies presentes nas amostras do Mato Alto I,
seguindo uma subdivisão de acordo com a classificação dos componentes em primários,
secundários e inorgânicos (mencionados no capítulo anterior). Em relação aos
componentes primários incluímos somente representantes do filo dos moluscos (seres
de corpo mole, em geral é recoberto por uma concha calcária). Entre eles temos os
bivalves (organismos compostos por duas valvas) e gastrópodes (possuem uma concha
espiralada). Os bivalves são dominantes entre os componentes primários do sítio e os
gastrópodes têm uma representação menor entre os moluscos. Nos componentes
secundários temos a presença dos ossos de vertebrados (em sua quase totalidade peixes)
como maiores representantes. Os componentes inorgânicos não apresentam grande
52

destaque em relação à sua presença nas amostras, o componente de maior destaque é o


sedimento (concreções). A separação dos componentes do sambaqui permite observar
sua frequência no sítio, possibilitando as interpretações acerca da acumulação de
conchas (KLOKLER 2001).

Foi feita a classificação dos componentes do Mato Alto I, baseados no trabalho


de Klokler (2001), em: componentes primários, componentes secundários e
componentes inorgânicos. Componentes primários englobam os moluscos, considerados
os elementos mais importantes da matriz do sítio. Em Mato Alto I são mais frequentes
berbigões, mariscos, ostras entre outros bivalves, além de gastrópodes diversos
moluscos bivalves (A.brasiliana, ostreas sp, brachidontes sp, crepidula, cyrtopleura sp
etc.), gastrópodes (Stramonita haemastoma, Nassarius vibex, e etc.). Os componentes
secundários incluem os ossos de vertebrados, siris, cracas, caranguejos e fragmentos de
carvão. Por último aglutinamos em uma categoria os componentes inorgânicos: tais
como argilas, concreções e rochas (tabelas 5, 6 e 7).

Tabela 5 - Componentes primários presentes em Mato Alto I.


MATO ALTO I - COMPONENTES PRIMÁRIOS
Classificaç Nomes Nomes científicos Família Táxon Abrevi
ão comuns ação
Bivalve Berbigões Anomalocardia Veneridae Espécie anb
brasiliana (Gmelin, 1791)
Bivalve Mariscos Brachidontes sp Mytilidae Gênero brd
(Swainson,1840)
Bivalve Caryocorbula sp. (J. Corbulidae Gênero car
Gardner, 1926)
Bivalve Chione sp.(Gray, 1838) Veneridae Gênero chi
Bivalve Asa de anjo Cyrtopleura costata Pholadidae Espécie cyc
(Linnaeus, 1758)
Bivalve Erodona mactroides Erodonidae Espécie erm
(Bosc, 1801)
Bivalve Amêijoa Macoma sp. (Leach, 1819) Tellinidae Gênero mac
Bivalve Ostras Ostrea sp. (Linnaeus, 1758) Ostreidae Gênero ost
Bivalve Lambreta, Phacoides Lucinidae Espécie lup
sernambi, pectinatus (Gmelin, 1791)
almêjoa
Bivalve Mexilhões Protothaca sp. (Dall, 1902) Veneridae Gênero pro
Bivalve unha-de- Tagelus plebeius(Lightfoot, Solecurtidae Espécie tap
velho 1786)
Bivalve Tellina sp ( Linnaeus, 1758 ) Tellinidae Gênero tel
Bivalve Bivalve Não bni
Identificado.
Gastrópode Crepidula aculeata (Gmelin, Calyptraeidae Espécie cra
1791)
Gastrópode Nassarius vibex Nassariidae Espécie nas
53

(Nassarius Duméril, 1805)


Gastrópode Neritina Neritina virginea Neritidae Espécie nev
comum (Linnaeus,1758).
Gastrópode Caracól Parvanachis sp. Columbelidae Gênero par
marinho
Gastrópode Saguarita Stramonita Muricidae Espécie thh
haemastoma (Linnaeus,1767)
Gastrópode Gastrópode gni
Não
Identificado

Tabela 6 - Componentes secundários presentes em Mato Alto I.

MATO ALTO I – COMPONENTES SECUNDÁRIOS


Classificação Nomes comuns Nomes científicos Família Táxon Abrevi
ação
Crustáceo Caranguejos Ucides cordatus Ocypodidae Espécie uc
(Linnaeus, 1763)
Crustáceo Siris Callinectes sp. Portunidae Gênero cl
(Stimpson, 1860)
Crustáceo Cracas Amphitritre sp. Gênero am
Peixe Raia Rajidae Rajidae Família raj
Peixe Bagre Ariidae Ariidae Família ar

Peixe Sargo Archosargus Sparidae Espécie arp


probatocephalus
Peixe Pescada Cynoscion sp. Sciaenidae Gênero scc

Peixe Corvina Micropogonias Sciaenidae Espécie scmc


curvieri
Peixe Miraguaia Pogonias chromis Sciaenidae Espécie scpc

Ave Ave Não A


identificada
Carvões crv

Tabela 7 - Componentes inorgânicos presentes em Mato Alto I.

MATO ALTO I – COMPONENTES INORGÂNICOS


Componentes Inorgânicos Abreviações
Sedimentos sed
Argilas arg
Argila queimada arq
Rochas Roc

Dentre os dados aqui apresentados, os componentes primários mais encontrados


nas amostras do Mato Alto I são a A.brasiliana, ostrea sp. e brachidontes sp., juntos
eles correspondem a 73% do total do sítio, e entre os componentes secundários os ossos
54

de vertebrados e as cracas correspondendo juntos a 7% do total do sítio. Esses dados são


importantes para o entendimento sobre o modo de vida dos grupos que habitaram o
Mato Alto I, pois nos trazem informações como esses grupos estavam manipulando o
meio ambiente, desta forma trazendo informações dos respectivos lugares que os
sambaquieiros estavam captando seus recursos, através do vestígio material (figura 12).

100

75

Componentes Primários
50 Componentes Secundários
Componente inorgânicos

25

0
Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3

Figura 11 - Distribuição dos componentes em Mato Alto I.

4.3. – O Sambaqui Mato Alto I e seus Perfis

O peso total do Perfil I é de 2.805,33 gramas no total, possui o maior peso (em
gramas) da composição dentre os perfis estudados, com uma grande variação entre os
componentes do Mato Alto I, apresentando em 14 camadas, com diferentes
composições. Em seguida temos Perfil II com 503,7 gramas, com 5 camadas na sua
totalidade, apresentando a menor porcentagem da composição total do sítio, porém
neste perfil o material de todas as camadas apresenta uma coloração marrom escura,
provavelmente recorrente da grande deposição de materiais orgânicos. Por fim, temos o
Perfil III apresenta uma quantidade de 1.799, 06 gramas, segundo maior peso (em
gramas) do sítio, esse perfil também é representado por 5 camadas, chamando a atenção
para a camada 3 onde temos a maior quantidade de A.brasiliana entre todas as camadas
do sítio (figura 13).
55

Peso dos perfis


3000

2500

2000

1500

1000

500

0
Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3
Series1 2805.33 503.7 1799.06

Figura 12-Pesos totais dos componentes dos perfis do Mato Alto I, unidade de medida utilizada em

gramas.

A seguir apresentaremos alguns dados a respeito das camadas destes perfis. A


apresentação desses dados é importante para uma melhor compreensão da composição
material deste sambaqui.

4.4. –Perfil I

O perfil I apresenta o maior número de camadas e peso do Mato Alto I. Dentre


as camadas, temos a camada 7 com menor peso em gramas (38,1g), a camada 11
apresenta um peso 89,1g. As camadas 2, 10, 12 e 14, apresentam quantidades entre 114
a 149 gramas. As camadas 1, 4 e 9 apresenta quantidade ente 172 a 199 gramas. As
camadas 3 e 8 apresentam 246 e 234 gramas. As camadas 5, 6 e 13 se destacam pelos
seus respectivos pesos, as duas primeiras apresentam quantidade de 331 e 333 gramas e
a ultima apresenta uma quantidade de 450 gramas, com valores superiores em
comparação às outras camadas perfil (figura 14). A maior variedade de espécies está
presente nas camadas 3,4,5 e 6.
56

Perfil 1
C14
C13
C12
C11
C10
C9
C8
C7
C6
C5
C4
C3
C2
C1

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500


C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14
Series1 189.1 134 246.9 199.6 331.3 333.8 38.18 234.5 172 133 89.17 114.4 450.5 149.1

Figura 13 - Pesos totais em gramas das camadas do Perfil I.

Na camada 1, a Ostreas sp. aparece em maior quantidade totalizando 33% dos


componentes, temos a A.brasiliana perfazendo 25%, e a Stramonita haesmatona com
um total de 15%. Os ossos de vertebrados perfazem 7,6% do total, e as cracas totalizam
6,8%, algo que não aparece com frequência nos sambaquis do sul de Santa Catarina,
como Jabuticabeira I e II, Lageado e Caipora (KLOKLER 2001; OLIVEIRA 2010),

Na camada 2, os brachidontes sp. em maior quantidade totalizando 49% dos


componentes, temos as ostreas sp. perfazendo 11%, os ossos apresentam um total de
8,6%, a Cyrtopleura representa 7,8%, e as cracas 7% do total. Seguida da camada 3,
onde os mariscos novamente estão em maior quantidade totalizando 51% dos
componentes, a A. brasiliana perfazem 22%, as Stramonita haesmatona aparecem com
um total de 12%, enquanto os ossos perfazem 8% do total. Nessa camada temos a
presença de ossos queimados. Em seguida, na camada 4, temos os mariscos novamente
em maior quantidade totalizando 49% dos componentes, em seguida temos a
Cyrtopleura que totaliza 12%, as Stramonita haesmatona que contabilizam 9% e os
57

sedimentos que compõem 9% do total da camada. Logo após, temos a camada 5 na qual
os brachidontes sp. continua em maior quantidade totalizando 35% dos componentes,
seguido das Ostrea sp. com 24%, a A. brasiliana com um total de 12%, a Cyrtopleura
com 11,5% do total e os ossos que compõem 4% deste perfil (do total).

Em seguida, na camada 6, temos as ostras em maior quantidade totalizando 52%


dos componentes, a A. brasiliana com 16,5%, o brachidontes sp. com 14%, e os ossos
representam apenas 2,8% da totalidade. A camada 7 é a menos volumosa de todas as
camadas recuperadas no Perfil I. As Ostreas sp. ocorrem em maior quantidade
totalizando 28% dos componentes, logo depois temos o brachidontes sp perfazendo
22%, a Cyrtopleura em um total de 18%, as cracas com 9%, e os ossos têm uma
representação muito pequena com apenas 1%

Na camada 8, temos os mariscos em maior quantidade totalizando 36% dos


componentes, em seguida temos a A. brasiliana que totalizam 22%, seguido dos ossos
em um total de 16%, logo após temos a Ostreas sp. totalizando 7% do total. A camada
09, tem em sua composição Ostreas sp. representando 51% dos componentes, seguidas
do brachidontes sp. perfazendo 20,5%, as cracas totalizam 7%, e os ossos chegam a
2%. Logo após, temos a camada 10, na qual as ostras continuam em maior quantidade
totalizando 49,8% dos componentes, porém o segundo componente em maior
quantidade da camada são as concreções com 31,1%, o brachidontes sp. que totaliza
13,9%, e os ossos apenas 0,69% da sua totalidade.

Em seguida, temos a camada 11, na qual as cracas aparecem em maior


quantidade totalizando 22,3% dos componentes, em segundo lugar as ostras perfazem
21,5%, enquanto Stramonita haesmatona apresenta um total de 11,7%, temos os ossos
perfazendo 10%, e por fim a A. brasiliana totalizando 8% do total. Logo após, temos a
camada 12, as cracas continuam em maior quantidade totalizando 32,5% dos
componentes, em segundo lugar temos os mariscos que totalizam 24,5%, a A. brasiliana
apresenta 22%, e os representam 3,5% do total da amostra.

Posteriormente, temos a camada 13, na qual a A. brasiliana estão em maior


quantidade totalizando 78,3%, em seguida temos os brachidontes sp. que totalizam
10,5%, os sedimentos representam 5,9%, e os ossos 1,3% do total da camada. Por fim,
temos a camada 14, na qual os sedimentos aparecem em maior quantidade totalizando
58

46,6% dos componentes, em seguida temos o brachidontes sp. que totalizam 28,7%. A
A. brasiliana totalizando 15,2%, e os ossos representam 5,2% da amostra total.

Através das identificações taxonômicas dos componentes presentes sítio, nos


possibilitou a observação da predominância de três bivalves entre os moluscos (A.
brasiliana (anb), Ostreas sp. (ost) e Brachidontes sp. (brd), na composição das camadas
do Perfil I (figura 15). A alternância entre esses bivalves pode indicar que esse grupo
possuía uma coleta diversificada, demonstrando a importância desses bivalves. Outro
fator importante para destacar é disponibilidade desses recursos no meio, podendo estar
ligada diretamente à variedade desses moluscos no sítio. Essas características podem se
configurar um item importante na construção do sítio. Também é observada no perfil,
uma intensa atividade de pesca, onde se destaca as camadas 1, 2, 3, 8 e 11 pelos seus
respectivos pesos, mostrando um maior consumo de peixes nesse momento. Na camada
4 temos a presença de um osso de ave, podendo estar ligada à caça de outros animais
para a alimentação do grupo. A seguir apresentaremos o perfil II.
59

Perfil I
100%

90%

80%

70%
tap
nas
60%
thh
cyc
50%
cra
ost
40%
anb
brd
30%
oss

20%

10%

0%
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14

Figura 14 - Componentes presentes no Perfil I. Legenda: Oss- ossos; brd – Brachidontes sp., mariscos; and-
Anomalocardia brasiliana, berbigões; ost – Ostrea sp., ostra, cra - Crepidula aculeata;. cyc - Cyrtopleura costata;;
thh – Stramonita haemastoma; nas – Nassarius vibex; tap – Tagelus plebeius;

4.5. –Perfil II

Este perfil (figura 16) é o de menor representação do sítio, ao se comparar com


os volumes dos outros perfis. Porém, apesar de seu pouco volume, destaca-se entre os
outros, por ser o único perfil a possuir uma coloração marrom escuro (figura 17) em
todo seu volume. A coloração pode estar relacionada aos grandes depósitos de materiais
orgânicos nos vestígios faunísticos.
60

Perfil II
C5
C4
C3
C2
C1

0 100 200 300 400 500


C1 C2 C3 C4 C5
Series1 122.08 29.84 85.74 138.42 127.62

Figura 15 - Pesos totais em gramas das camadas do Perfil II.

Figura 16 - Material faunístico do perfil II.

Na camada1 temos os mariscos em maior quantidade totalizando 35% dos


componentes; a Anomalocardia brasiliana que totalizam 32%; as ostras que perfazem
10%; e os ossos representam apenas 4% da totalidade. Na camada 2, a Anomalocardia
brasiliana aparecem em maior quantidade totalizando 56% dos componentes, logo
depois temos, as ostras representam um total de 9%, Stramoniatas5% e os ossos 5%.Na
camada 3, temos as ostras em maior quantidade totalizando 65% dos componentes, em
seguida temos a Anomalocardia brasiliana que totalizam 17%, seguido dos Tagelus em
um total de 7%, logo após temos as e os ossos representando 5% do total.As ostras estão
em maior quantidade na camada 4 totalizando 55%, em seguida temos a Anomalocardia
brasiliana com 25%, as Stramoniatas representam 11%, e os ossos 3% do total da
camada.Por fim, temos a camada 5, na qual temos as ostras com 65%. A Anomalocardia
brasiliana totalizam 17 %, Tagelus com 7% e os ossos representam 5%.
61

Na composição deste perfil, existe uma predominância maior das ostras como
material construtivo, seguido da Anomalocardia brasiliana (figura 18). Os mariscos
aparecem somente em uma camada do perfil. A pesca aparece em menor quantidade em
todo o perfil, em relação ao perfil I.

Perfil II
100%

90%

80%

70% tap
nas
60% chi
thh
50%
cyc
ost
40%
anb
30% brd
oss
20%

10%

0%
C1 C2 C3 C4 C5

Figura 17 - Componentes presentes no Perfil II. Legenda: oss- ossos; brd – Brachidontes sp., mariscos; and-
Anomalocardia brasiliana, berbigões; ost – Ostrea sp., ostra; cyc - Cyrtopleura costata;; thh – Stramonita
haemastoma; chi – Chione; nas – Nassarius vibex; tap – Tagelus plebeius;

4.6. –Perfil III

No Perfil III (figura 19) a quantidade de camadas é a mesma que o Perfil II,
porém este perfil apresenta mais de 1 kg de Anomalocardia brasiliana somente na
camada três, podendo estar relacionado a um evento diferenciado no sítio.
62

Perfil III (medida em gramas)


C5

C4

C3

C2

C1

0 200 400 600 800 1000 1200


C1 C2 C3 C4 C5
Series1 172.36 187.74 1075.7 165.89 197.37

Figura 18 - Pesos totais em gramas das camadas do Perfil III.

Na camada1, temos a Stramonita em maior quantidade totalizando 27% dos


componentes, as ostras 24%, seguida da Anomalocardia brasiliana com 20%, as
Cyrtopleuras com 10%, os mariscos 7%, e os ossos apenas 2% da totalidade. Em
seguida, na camada 02, as ostras aparecem em maior quantidade totalizando 39% dos
componentes, logo depois temos os mariscos 22%, a Anomalocardia brasiliana com 8%,
e os ossos 1% da sua totalidade. Nesta camada 03, temos a Anomalocardia brasiliana
em maior quantidade, totalizando 95% dos componentes, em seguida temos os mariscos
2%, a Stramonita 2% e os ossos 1% do total. Seguidos da camada 4,na qual os mariscos
estão em maior quantidade totalizando 62%, a Anomalocardia brasiliana representam
8%, enquanto Nassarius e ossos correspondem a respectivamente 7% e 5% do total da
camada. Por fim, temos a camada 5, na qual, os mariscos aparecem em maior
quantidade sendo 41% dos componentes, em seguida temos a Anomalocardia brasiliana
que totalizam 15%, as ostras 13%, e os ossos representam 5% da amostra total.

Este perfil corresponderia à base do sambaqui, o que o conectaria diretamente ao


início da construção sambaqui. Pode-se pensar que neste momento houve uma coleta de
materiais específicos para a formação da base. Nas camadas 1 e 2 houve uma
preferência maior pelas ostras. Nas camadas 5 e 4 percebemos que houve a preferência
pelos mariscos. Na camada 3 houve a seleção basicamente de Anomalocardia brasiliana
sendo que temos a maior concentração desse molusco em relação ao restante do sítio,
essa característica diferencia o perfil do resto do sítio (figura 20).
63

Perfil III
100%

90%

80%

70%
nas
thh
60%
cra

50% cyc
ost
40% anb
brd
30% oss

20%

10%

0%
C1 C2 C3 C4 C5

Figura 19 - Componentes presentes no Perfil III. Legenda: oss- ossos; brd – Brachidontes sp., mariscos; and-
Anomalocardia brasiliana, berbigões; ost – Ostrea sp., ostra; cyc - Cyrtopleura costata; cra – Crepidula aculeata;
thh – Stramonita haemastoma; nas – Nassarius vibex;

Dentre os dados aqui apresentados, os componentes primários mais encontrados


nas amostras do Mato Alto I são os berbigões, ostras e mariscos, juntos eles
correspondem a 73% do total do sítio, e entre os componentes secundários os ossos de
vertebrados e as cracas correspondendo juntos a 7% do total do sítio. Esses dados são
importantes para o entendimento sobre o modo de vida dos grupos que habitaram o
Mato Alto I.

4.7. – NISP e NMI X Peso da Anomalocardia brasiliana do Mato Alto I


64

De acordo com a quantificação, o NISP dos berbigões presentes no total das


amostras foi 1.600 peças e o NMI estimado em 668 indivíduos. Em relação ao estado de
conservação das conchas presentes no sítio, podemos citar a fragmentação dos bivalves
e a alteração da coloração marrom. Esses eventos podem estar ligados a movimentações
no caso da fragmentação, e a coloração causada pelo contato com matéria orgânica,
deixando as conchas com coloração marrom, sendo evidente principalmente no perfil II
(figura 21).

1000
800
600
400
200
0
Perfil I Perfil II Perfil III
NISP 665 118 817
NMI 205 47 416

Figura 20 - NISP e NMI da Anomalocardia brasiliana presentes em Mato Alto I.

Ao analisar os dados do NISP, NMI e peso da Anomalocardia brasiliana no


perfil I, é notável uma similaridade entre os dados apresentado, uma vez que as camadas
2, 4, 7, 9 e 14 apresentam uma baixa frequência de berbigões. E a camada 13 apresenta
a maior quantidade de Anomalocardia brasiliana de todo o perfil. Na camada 10 é
notável a ausência do bivalve dentre os componentes (figuras 22 e 23).

250

200

150

100

50

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
NISP 57 7 56 7 67 53 1 49 9 38 31 234 15
NMI 17 1 12 1 11 13 0 13 0 11 8 111 7

Figura 21 - NISP e NMI dos berbigões, Perfil I.


65

400
350
300
250
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Berbigões 47 3.4 54 2.7 49 55 0.2 53 0.3 7.3 25 352 23

Figura 22 - Peso dos berbigões, Perfil I.

No perfil II ao comparar os gráficos de NMI e NISP e Peso dos berbigões, é


perceptível uma diferença entre os dados. Na análise de NISP as camadas de maior
frequencia de bivalves são as camadas 1 e 2 (acima de 40 espécimes) e as demais
camadas apresentam quantidades abaixo de 35 especiméns. Ao comparar com os dados
de NMI é notável a baixa frequencia de valvas inteiras, este fator deve estar ligado a
fragmentação dos bivalves. Ao analisa gráfico de peso, essa diferença fica ainda mais
evidente, e reforça o grau de fragmentação das conchas (figuras 24 e 25).

70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5
NISP 49 58 22 32 27
NMI 9 13 4 10 11

Figura 23 - NISP e NMI dos berbigões, Perfil II.


66

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1 2 3 4 5
Berbigões 39.01 16.71 17.2 35.11 22.48

Figura 24 - Peso dos berbigões, Perfil II.

Por fim, temos o perfil III no qual observamos uma similaridade entre os dados
de NISP, NMI e peso dos berbigões. A camada 3 apresenta o maior peso de berbigão de
todo sítio (mais de 1 kg), nesta camada podemos observar um bom estado de
conservação das valvas. E as demais camadas apresentam uma baixa frequencia de
Anomalocardia brasiliana (figuras 26 e 27).

800
700
600
500
400
300
200
100
0
1 2 3 4 5
NISP 72 23 698 24 45
NMI 11 7 296 3 10

Figura 25 - NISP e NMI da Anomalocardia brasiliana do Perfil III.


67

Berbigões
1200
1000
800
600
Berbigões
400
200
0
1 2 3 4 5

Figura 26- Peso da Anomalocardia brasiliana em gramas no Perfil III.

Oliveira (2017), ao realizar os as medições das conchas presentes em Mato Alto


I, percebeu uma diminuição nos tamanhos das valvas nas últimas camadas do perfil I e
II, enquanto no perfil III existe estabilidade no tamanho das mesmas. Ele observou que
os tamanhos das conchas de Anomalocardia brasiliana presentes no sambaqui
coincidem com o tamanho médio de valvas de indivíduos adultos recuperadas em
depósitos atuais do molusco, variando entre 23 e 28 mm de comprimento (Boehs et
al.2008). Em suas conclusões Oliveira aponta que apesar da pequena diminuição do
tamanho das valvas nos dois primeiros perfis, não é possível afirmar categoricamente
que houve uma superexploração desses moluscos por esses grupos (figura 28).

Figura 27 - Tamanho médio de conchas por perfis e camadas em Mato Alto I. Fonte: Oliveira 2017.

4.8. –NMI dos vertebrados presentes no Mato Alto I


68

Os animais têm um papel socioeconômico muito importante na vida dos grupos


humanos. Indicativos desta importância foram encontrados nos grupos antigos do litoral
brasileiro, sendo os peixes a base de sua alimentação, seguido de moluscos. De acordo
com FIGUTI (1998), o consumo de peixe pode estar associado a 70% a alimentação dos
grupos sambaquieiros. As análises detalhadas dos pescados podem nos trazer
informações sobre paleoambiente, diversidade do pescado, economia dos grupos e
métodos de pescas (BÉAREZ 1997).

De acordo com as análises dos vertebrados, foram contabilizadas 1.398 peças


ósseas (NISP) e 43 otólitos. Em sua maioria os fragmentos correspondem a ossos de
peixes. Dentre eles totalizamos cinco táxons de peixes ósseos e um corresponde a peixe
cartilaginoso. Em relação ao NMI contabilizamos82 espécies. Além dos vestígios
ósseos ictiológicos foi também encontrado um fragmento ósseo de ave, porém
infelizmente não foi possível identificar o táxon devido à falta de coleção comparativa
(figura 29).

NMI dos vertebrados


Bagre Corvina Miraguaia Pescada Raia Sargo Ave
1% 1%
1%

8%

12%
48%

29%

Figura 28 - NMI dos Vertebrados presentes em Mato Alto I.

O bagre é o táxon de maior destaque dentre os vertebrados do Mato Alto I,


correspondendo ao total de40 dos peixes identificados, seguido da corvina com 24
peixes logo depois da miraguaia com 10 peixes. Temos o sargo e a raia com um peixe
cada, e uma assim como a uma ave, sendo identificada apenas uma peça óssea. Houve
uma alta taxa de peixes não identificados, por conta da alta fragmentação das peças
ósseas.Por ser o táxon de maior representação entre os vertebrados do Mato Alto I, é
69

preciso cuidado para não superestimar os bagres devido à maior facilidade de


identificação em comparação com outras espécies (KLOKLER 2008).

As tabelas abaixo indicam que a atividade de pesca era contínua em Mato Alto I,
sendo o perfil I de maior destaque dentre os perfis analisados, quando pensamos em
quantidade e variedade de espécie (tabela 8,9 e 10). O Perfil I onde houve maior
deposição de restos de peixes, com 54 peixes no total, sugerindo um momento com
maior atividade pesqueira, podendo tratar-se de um momento diferenciado para o sítio.
Em seguida vem o Perfil II, com uma quantidade menor de componentes vertebrados, e
uma presença significativa de bagres (10 peixes), sendo a única espécie identificada
dentre os restos encontrados do perfil. O Perfil III é representado por 18 peixes, dentre
eles o bagre é espécie presente em todas as camadas, e a corvina é a segunda espécie
com maior representação.

Tabela 8 - NMI dos vertebrados, Perfil I.

Camadas Bagre Corvina Miraguaia Pescada Sargo Raia Ave


1 2 1
2 2 1
3 3 3 1 1
4 2 1 1 1
5 2 2 1 1
6 2 1
7 1
8 3 4 2
9 1
10 1
11 1 2
12 1 1 1 1 1
13 1 1 1
14 2 1
Total: 24 16 7 4 1 1 1
Tabela 9 - NMI dos vertebrados, Perfil II.

Camadas Bagre Corvina


1 2
2 3
3 1
4 1
5 2 1
Total: 9 1

Tabela 10 - NMI dos vertebrados, Perfil III.

Camadas Bagre Corvina Miraguaia Pescada


1 1 1 1
2 1 1
3 1 1
4 3 2 2
5 1 1 1 1
Total: 7 6 3 2

Os otólitos presentes no sítio foram analisados por Silva (2016) de acordo com
suas informações, foram identificados bagres (Ariidae), corvina (Micropogonias
furnieri), miraguaia (Pogonias chromis) e pescada (Cynoscion sp). Segundo o
autor,corvinas e bagres apresentaram maior frequência entre os otólitos com 64% e 36%
respectivamente da totalidade dos otólitos presentes, em Mato Alto I (SILVA 2016)
(tabela 11).

É importante frisar que apesar dos dados apresentados entre as análises dos
ossos e dos otólitos apresentarem diferenças entre si (através das análises dos ossos a
espécie de maior evidência é o bagre, seguido da miraguaia e depois a corvina, e quando
analisamos os otólitos, espécie de maior ocorrência é a corvina, seguida do bagre).

Tabela 11 - Tabela de análise dos otólitos.

Perfil/Camada Espécie Lateralidade Quantidade

P1 C2 Corvina E 1

P1 C3 Bagre E 1

Corvina D 1

Corvina E 2
71

P1 C4 Corvina D 1

P1 C5 Corvina D 1

Bagre D 1

Corvina E 1

Miraguaia D 1

P1 C6 Bagre E 1

P1 C8 Corvina D 4

Corvina E 1

Bagre E 1

Bagre D 1

P1 C11 Corvina D 1

P1 C11 Corvina E 1

P1 C11 Bagre E 1

P1 C12 Corvina E 1

Pescada D 1

P1 C13 Corvina D 1

Corvina E 1

P2 C1 Corvina D 1

Bagre E 1

P2 C2 Bagre D 1

Bagre E 3

P2 C4 Bagre D 1

P2 C5 Corvina D 1

Bagre E 2

P3 C1 Corvina E 1

Bagre D 1

P3 C2 Corvina E 1

P3 C3 Corvina E 1

P3 C4 Corvina E 1

Corvina D 1

P3 C5 Corvina E 1

Fonte: Dados de Silva 2018.

A baixa ocorrência de ossos de vertebrados terrestres pode estar ligado ao fato


dos grupos estarem voltados aos recursos advindos de ambientes aquáticos;
similarmente ao que pesquisadoras demonstram em outros sambaquis da região
72

(OLIVEIRA 2010; KOKLER 2012, 2008, 2001 e NISHIDA 2007) onde a incidência de
peixes (ósseos e cartilaginosos) sempre É maior que de outras classes de animais.
Dentre as amostras analisadas foi perceptível a grande fragmentação dos ossos. Apesar
dessa fragmentação foi possível a análise e identificação das espécies, uma vez em que
encontramos as partes diagnósticas das peças conservadas. Em relação ao estado de
conservação dos vertebrados, além da fragmentação, foi notada alteração causada pelo
contato com matéria orgânica, deixando os ossos de vertebrados com coloração
marrom, sendo evidente no perfil II. A seguir vamos nos utilizar dos dados obtidos
através da multiplicação do peso da concha e/ou osso por carne.

4.9. – Conversão de carne X parte dura

Para entender melhor a quantidade de material comestível do sítio, utilizamos a


metodologia sugerida por Figuti (1993). Essa metodologia consiste na multiplicação do
peso da concha e/ou osso por valores específicos para cada grupo taxonômico. Essa
multiplicação serve para estabelecer a quantidade de matéria comestível, ao qual
equivaleria ao peso da parte mole por gramas da parte dura. Utilizamos para o cálculo
os seguintes valores: Anomalocardia brasiliana 0,30g x 1g de concha, mariscos 0,34g x
1g de concha e ossos 20g de carne x 1g de osso (FIGUTI 1993).

A representatividade dos componentes faunísticos nas camadas pode ser


calculada através dos pesos dos seus respectivos componentes. Porém a avaliação
através apenas dos pesos dos componentes, pode subestimara presença dos táxons no
sítio. Ao observarmos, por exemplo, a quantidade de Anomalocardia brasiliana
(Anomalocardia brasiliana) e vertebrados baseado em seus pesos, pode-se ocorrer uma
subestimação elevada, uma vez que as conchas pesam mais que os ossos. Porém,
quando é realizada a conversão criada por Figuti (1993) fica evidente importância dos
peixes para a subsistência dos grupos que habitaram o Mato Alto I (figura 30).
73

Porcentagem estimada da massa


comestível

Berbigões
2
Mariscos
Ossos

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Figura 29 - Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) do sítio Mato
Alto I.

No perfil I a porcentagem de carne advinda dos peixes é igual ou superior a


80%, na maioria das camadas (com exceção das camadas 4,7,9,10 e 13). Com a
conversão para material comestível fica evidente o uso importante da pesca pelo o
grupo. Porém é na camada 8, onde temos o maior destaque na quantidade de
vertebrados presente do perfil, representando um momento de maior atividade no grupo,
tratando de um momento diferenciado no sítio. Na camada 7, por outro lado, temos a
menor representação de vertebrados do perfil. A camada apresenta um baixo peso,
seguido da menor variedade de componentes presentes, podendo representar uma
camada de menor atividade de coleta e pesca pelo grupo. E na camada 13, temos uma
quantidade de A. brasiliana, podendo estar ligada a momento de acúmulo do sítio.
Neste perfil em geral, podemos observar que as atividades construtivas tiveram a
utilização da Anomalocardia brasiliana e mariscos na maioria das camadas (figura 31).
74

Perfil I
100%

90%

80%

70%

60%
Berbigões
50%
Mariscos
40% Peixes

30%

20%

10%

0%
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14

Figura 30 - Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) perfil I.

O perfil II apresenta a menor representação em peso do sítio, ao compara-se com


os outros perfis. Porém, podemos notar uma representação significativa dos vertebrados,
similar entre as outras camadas. Em geral notamos uma intensa atividade de pesca,
apesar do pequeno peso do perfil em relação ao outros perfis do sítio (figura 32).

Perfil II
100%
90%
80%
70%
60% Berbigões
50%
Mariscos
40%
30% Peixes
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5
75

Figura 31–Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) do perfil II.

No perfil III temos a menor quantidade de carne de peixes disponível para


consumo de todo o sítio, porém esse perfil está diretamente ligado a um momento com
atividades mais voltadas para a construção, devido ao alto peso de Anomalocardia
brasiliana presente no perfil. De acordo com a equipe de campo essa seria um perfil
correspondente à base do sítio. A camada 3 do perfil, nos chama mais atenção devido ao
seu alto peso de berbigão (superior a 1kg), demonstrando um momento de atividade
voltado para sua construção (figura 33).

Perfil III
100%
90%
80%
70%
60%
Berbigões
50%
Mariscos
40%
Peixes
30%
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5

Figura 32- Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) perfil III.

CAPÍTULO V – Resultados e Discussão

A partir dos dados obtidos nas análises laboratoriais optou-se por realizar
um breve levantamento dos habitats das distintas variedades de moluscos, peixes e
crustáceos encontrados no sambaqui. Em seguida abordamos as possíveis práticas de
captação de recursos realizadas pelos os grupos que construíram Mato Alto I. Por fim,
dialogamos com a literatura disponível sobre outros sítios da região e do contexto
litorâneo brasileiro.
76

5.1. – Levantamento biológico do modo de vida e habitats dos animais presentes


em Mato Alto I

Para discutir as práticas de captação de recursos por grupos sambaquieiros no


litoral sul de Santa Catarina especialmente os grupos relacionados ao sambaqui Mato
Alto, optamos por realizar um breve levantamento das espécies de moluscos, peixes e
crustáceos encontrados no sambaqui e seus respectivos habitats, informações
importantes para a realização de um zoneamento dos recursos disponíveis na região, a
partir das informações retiradas do levantamento dos táxons presentes em nossas
amostras.

MOLUSCOS

Bivalves:

Anomalocardia brasiliana (berbigões) - (Gmelin, 1791), são bivalves marinhos,


pertencentes à família Veneridae. Vivem em áreas com fundos arenosos e lodosos,
enterradas ou sobre eles, são encontradas em uma profundidade de até 30 cm. Possuem
um tamanho médio de 31 mm. Necessitam mais de água salobra para sobreviver. São
abundantes na costa brasileira, nos sambaquis de Jaguaruna-SC e também comum em
Mato Alto I (OLIVEIRA 2010; WORLMS WOLRD REGISTER OF MARINES
ESPECIES).

Brachidontes sp (mariscos) - (Swainson, 1840), são bivalves marinhos,


pertencentes à família Mytilidae, são abundantes em mares mais frios, onde muitas
vezes formam camas contínuas em margens rochosas na zona intermareal e na sub-
média rasa, vivem sob ou sobre pedras. Possuem tamanho médio de 16 mm. Espécie
aparece com freqüência no Mato Alto I(WORLMS – WOLRD REGISTER OF
MARINES SPECIES).

Caryocorbula sp. - (J. Gardner, 1926), bivalves marinhos, pertencentes à família


dos Corbulidae. Vivem em fundos de cascalho de coral, pedra ou conchas (WORLMS
– WOLRD REGISTER OF MARINES SPECIES).
77

Chione sp. - (Gray, 1838) são bivalves marinhos, pertencentes à família


Verenidae.Vivem em fundos arenosos, enterrado ou sob ele são encontradas a uma
profundidade de 0 a 10 cm (CONQUIOLOGISTAS DO BRASIL, OLIVEIRA 2010,
WORLMS – WOLRD REGISTER OF MARINES SPECIES).

Cyrtopleura costata (asa de anjo) - (Linnaeus, 1758),são bivalves marinhos,


pertencem à família Pholadidae. Vivem em fundos arenosos e lodosos, enterrados ou
sob eles, são encontradas a uma profundidade de 0 a 10 cm. Possuem tamanho médio
entre 70 - 110 mm (WORLMS – WOLRD REGISTER OF MARINES SPECIES,
OLIVEIRA 2010).

Erodona mactroides - (Bosc, 1801), são bivalves marinhos, pertencentes à


família Erodonidae. Vivem em fundos de cascalho de coral, pedra ou conchas,com
profundidade de 0 a 10 cm. Possuem um tamanho médio de 39 mm (WORLMS –
WOLRD REGISTER OF MARINES SPECIES).

Macoma sp.,- (Leach, 1819), bivalves marinhos, pertencentes à família


Tellinidae. Vivem em fundos arenosos, enterrados ou sob ele, ou ainda em fundos de
cascalho de coral, pedra ou conchas, são encontradas a uma profundidade de 0 a 10 cm.
Possuem tamanho médio de 40 mm (LOBPA, OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD
REGISTER OF MARINES SPECIES).

Ostrea sp., (ostras, gureri) – (Linnaeus, 1758), são bivalves


marinhos,pertencentes a família Ostreidae. Vivem nos substratos lodosos e arenosos que
existem próximos a canais abertos aonde o forte fluxo de marés mantém o sedimento
nas colônias. Ocorrem também fixadas a colchões rochosos e raízes de Rhizophora, são
encontradas em geral na profundidade que vai de 0 a 10 cm. Possuem um tamanho
médio de 40 – 50 mm. Em geral se alimentam de plantas e algas. Apresentam uma
frequência comum em parte do litoral do Brasil, sendo uma das mais comuns entre os
sambaquis da região pesquisados pelo projeto “Sambaqui e Paisagem” (OLIVEIRA
2010, KLOKLER 2008). E aparecem com grande frequência em Mato Alto I (Macley,
2015) (OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD REGISTER OF MARINES
SPECIES).
78

Phacoides pectinatus (almêijoa) - (Gmelin, 1791), são bivalves marinhos,


pertencente à família Lucinidae. Vivem em fundos arenosos e lamosos no infralitoral,
com profundidade de até 6m (MUSEU NACIONAL UFRJ, WORLMS – WOLRD
REGISTER OF MARINES SPECIES).

Protothaca sp.- (Dall, 1902), são bivalves marinhos, pertencentes à família


Veneridae. Vivem em fundos arenosos, ou enterrados sob ele, em profundidade de 0 a
30 cm. Possuem tamanho médio de 33 mm (WORLMS – WOLRD REGISTER OF
MARINES SPECIES).

Tagelus plebeius (mariscos brancos, unha-de-velha) - (Lightfoot, 1786),são


bivalves marinhos, pertencentes à família Solecurtidae.Vivem em fundos lodosos e
arenosos, no infralitoral nas margens de baías, próximos a vegetação entre 1 a 6 metros,
encontrados a uma profundidade de 0 a 10 cm. Possuem um tamanho médio de 40 – 55
mm (MUSEU NACIONAL UFRJ, OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD
REGISTER OF MARINES SPECIES).

Tellina sp., - (Linnaeus, 1758), são bivalves marinhos, pertencentes à família


Tellinidae. Vivem em fundos arenosos, enterrada ou sob ele. Com profundidade de
aproximadamente 30 cm. Possuem em média 40 mm (WORLMS – WOLRD
REGISTER OF MARINES SPECIES).
79

Gastrópodes:

Crepidula aculeata – (Gmelin, 1791), são gastrópodes marinhos, pertencentes à


família Calyptraeidae, comum no litoral brasileiro. Vivem sob ou sobre pedras, ou
parasitando outros seres vivos, são encontrados a uma profundidade que variam de 0 a
30 cm da superfície, alimentam-se de plantas e algas (CONQUIOLOGISTAS DO
BRASIL, OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD REGISTER OF MARINES
SPECIES).

Nassarius vibex – (Say, 1822), são gastrópodes marinhos, pertencentes à família


Nassariidae. Vivem em fundo lodoso, arenoso, enterrado ou sob ele, em cascalho de
coral, pedras ou conchas, são encontrados em profundidades de 0 a 10 cm. Possuem um
tamanho médio que variam entre 11 e 18 mm. Alimenta-se de animais mortos
(OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD REGISTER OF MARINES SPECIES).

Neritina virginea - (Linnaeus, 1758), são gastrópodes marinhos, pertencentes à


família Neritidae. Vivem em uma grande variedade de ambientes de água salgada, em
fundos lodosos, arenosos enterrados ou sobre eles, são encontrados em profundidades
de 0 a 10 cm. Possuem um tamanho médio que variam entre 15 – 20 mm. São
animais herbívoros, alimentam-se de plantas em decomposição e algas, principalmente
as diatomáceas (OLIVEIRA 2010, PLANETA INVERTEBRADOS).

Parvanachis sp- (Radwin, 1968), são gastrópodes marinhos, pertencentes à


família Columbelidae. Vivem sob ou sobre pedras e em algas marinhas, alimenta-se de
outros animais. Possuem um tamanho médio de 4 mm (WORLMS – WOLRD
REGISTER OF MARINES SPECIES).

Stramonita haemastona - (Linnaeus, 1767), são gastrópodes marinhos,


pertencentes à família Thaididae. Vivem em fundo de cascalho de coral, pedra ou
conchas, encontrados a profundidade de 0 a 10 cm. Possuem um tamanho médio entre
25 a 80 mm. Alimentam-se de outros animais (OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD
REGISTER OF MARINES SPECIES).
80

Crustáceos:

Callinectes sp. (Siri) - (Stimpson, 1860), pertencentes à família dos Portunidae,


as espécies dessa família ocorrem em todo o mundo em ambientes marinhos e em
estuários (zona de transição entre o mar e rios). A salinidade é um fator importante na
distribuição desses organismos no ambiente. Alimentam-se de crustáceos menores,
moluscos e uma infinidade de outras espécies, em geral mortas ou em estágio de
decomposição. Podem chegar a até 15 cm de envergadura. Possuem cinco pares de
patas, sendo que o último par é modificado para uma função parecida com a de um
remo, para uma melhor locomoção do animal, essa característica os diferenciados
caranguejos. Os siris também possuem uma carapaça mais larga que a dos caranguejos,
com espinhos terminais (ANDA, OLIVEIRA 2010, WORLMS – WOLRD REGISTER
OF MARINES SPECIES).

Ucides cordatus (caranguejo) - (Linnaeus, 1763), também conhecidos por


uçás. Pertencentes a família dos Ocypodidae. Habitam as regiões litorâneas, sendo que
algumas espécies preferem área de mangue. Eles possuem nas costas uma carapaça
protetora. Em geral alimentam-se de peixes e outras espécies de animais mortos. O seu
tamanho varia de 8 a 20 cm em média (algumas espécies são maiores). Possuem cinco
pares de patas (ANIMAIS MARINHOS E SUA PESQUISA.COM, OLIVEIRA 2010,
WORLMS – WOLRD REGISTER OF MARINES SPECIES).

VERTEBRADOS

Peixes teleósteos

Archosargus probatocephalus (Sargo) – pertencentes à família Sparidae.


Distribui-se por todo o litoral brasileiro, desde Rio Grande do Sul até o Amapá,
podendo ser finalmente encontrado durante todo o ano em águas costeiras e rasas com
profundidade de até 50 metros, onde as pedras se encontram com areia. Penetra também
em águas estuarinas por onde nada pequenos cardumes. É encontrado em canais
litorâneos e fundos pedregosos, coral ou outros locais que possuem frestas e tocas, onde
costumam abrigar, sendo normalmente mais ativos durante a noite. Pode medir 90 cm e
alcançar de 10 a 12 kg. É um peixe onívoro, se alimenta de invertebrados e vertebrados
pequenos (OLIVEIRA 2010).
81

Genidens sp. (bagre) – Pertencente à família Ariidae, comum em toda costa


brasileira, característico pela presença de barbilhões (apêndice carnoso e filamentos e
apresentam células sensoriais que auxiliam na localização de alimento sobre o fundo
próximo a boca. Peixe de couro; corpo achatado, nadadeira peitoral e dorsal com
espinhos. Os maiores alcançam 1m de comprimento total e cerca de 5 kg. Sua
alimentação é baseada em pequenos peixes, vegetal e matérias orgânicas. Após a
desova, os machos incubam os ovos na boca. Seus ambientes são praias, estuários,
manguezais, foz de rios e entram na água doce para desovar. Não são encontrados em
águas muito profundas, em geral até 50m. Vivem em grupos de 5 a 100 indivíduos e
tem hábitos noturnos, porém durante o dia em águas turvas é possível capturá-los. Sua
distribuição geográfica vai do Amapá ao Rio Grande do Sul (LESSA, R., NOBREGA,
M.F, 2000; SZIPELMAN M., 2000; SILVA, M. et al., 2006; BEMVENUTI &
FISCHER 2010; OLIVEIRA, T., 2010).

Micropogonias furnieri (Corvina) – Pertencente à família Sciaenidae, espécie


comum em toda costa brasileira (do Amapá ao Rio Grande do Sul), principalmente no
Sul e Sudeste. Peixe de escamas, boca voltada para baixo; pré-opérculo fortemente
serrilhado. A coloração é prata com reflexos roxos, podem apresentar listras
longitudinais pretas ao longo do corpo, especialmente nos indivíduos jovens. Possui
alguns pares de pequenos barbilhões na mandíbula. Alcança cerca de 80 cm de
comprimento total e 6 kg. Espécie costeira vive nos fundos arenosos ou barrentos, em
estuários, baías, em profundidades até 100m. Os jovens e alguns adultos costumam
frequentar os manguezais e estuários, alimentam-se principalmente de crustáceos,
complementando com os peixes pequenos, caranguejos, siris e mariscos. Também pode
entrar na água doce. Formam cardumes pequenos (LESSA, R., NOBREGA, M.F, 2000;
SZIPELMAN M., 2000; SILVA, M. et al., 2006; BEMVENUTI & FISCHER 2010;
OLIVEIRA, T., 2010).

Pogonias chromis (Miraguaia/ Piraúna) - Pertencentes à família Sciaenidae,


peixe comum em toda costa brasileira (do Amapá ao Rio Grande do Sul),
principalmente no Sul e Sudeste. Alcança 1,7m de comprimento total e 50 kg. São
espécies costeiras, vivem sobre fundo de areia, lodo ou cascalho, principalmente em
áreas estuarinas próximas a rochas e em canais. Sua alimentação é baseada em moluscos
82

(principalmente mariscos), crustáceos e peixes. Migram para águas mais quentes


durante o inverno, época da reprodução, quando pode ser encontrada junto a costões
rochosos. Os juvenis entram frequentemente nos estuários (LESSA, R., NOBREGA,
M.F, 2000; SZIPELMAN M., 2000; SILVA, M. et al., 2006; BEMVENUTI &
FISCHER 2010; OLIVEIRA, T., 2010).

Cynoscion sp.(Pescada) - Pertencentes à família Sciaenidae, peixe comum em


toda costa brasileira (do Amapá ao Rio Grande do Sul), principalmente no Sul e
Sudeste. Peixe de escamas, na costa brasileira ocorre mais de 30 espécies de pescadas.
Entre as características mais interessantes desse grupo está a capacidade de produzir
sons por músculos associados à bexiga natatória. As espécies podem apresentar de 45
cm e 1,5 kg a 1 m e 30 kg, a depender da espécie. As espécies vivem cardumes nos
poços e regiões profundas, durante o dia nadam ao fundo e a noite é encontrada na
superfície. Alimentam-se preferencialmente de crustáceos, como camarões, e de
pequenos peixes (LESSA, R., NOBREGA, M.F, 2000; SZIPELMAN M., 2000; SILVA,
M. et al., 2006; BEMVENUTI & FISCHER 2010; OLIVEIRA, T., 2010).

Peixes condrícteos

Rajidae (Raia) - As espécies dessa família possuem cauda grossa e alongada,


com duas dorsais em posição terminal, e ausência de nadadeira caudal. Normalmente
vivem solitárias, junto ao fundo arenoso ou pequenas pedras, durante a época de
migração podem formar pequenos grupos. Sua alimentação é baseada em moluscos,
crustáceos e peixes. As raias marítimas são relativamente comuns, podendo apresentar
de 1,5m, 1,9m (SZIPELMAN M. 2000; OLIVEIRA T. 2010).

5.2. – A captação dos recursos presentes em Mato Alto I

Silva (2009) baseou-se no trabalho realizado por Kent Flannery (1997) em seus
estudos sobre captação de recursos, no qual o autor realizou o mapeamento dos recursos
da área do sítio analisado. Procurando as áreas de fontes onde poderiam ser encontrados
83

tais recursos no entorno do sítio permitiu a identificação das possíveis unidades de


explorações utilizadas no passado.

Partindo desse pressuposto, a delimitação da área de exploração dos grupos que


construíram o Mato Alto I foi realizada através dos componentes encontrados no sítio.
A análise aqui apresentada tem como base os recursos faunísticos coletados sem incluir
outros elementos da cultura material (como artefatos líticos e/ou vestígios
arqueobotânicos) já que não foram disponibilizados estudos detalhados sobre os
mesmos. Através do levantamento de dados dos respectivos habitats dos componentes
faunísticos presentes no sambaqui, pode-se delimitar as possíveis áreas de trajeto dos
grupos ao procurar os recursos necessários para distintos usos. Levando em
consideração o registro arqueofaunístico traçaremos a distância razoável provavelmente
percorrida no passado e os ambientes explorados. Para delimitação da área nos
utilizamos de questão inicial, a mesma utilizada por Silva em seus trabalhos de 2009 e
2010: “de onde veio esse recurso?”.

Diante da questão levantada Silva, considerando os registros arqueológicos e o


levantamento da área da qual o sítio está inserido, identificou os elementos presentes na
região: mata, laguna e mar (SILVA 2010). Esses componentes da paisagem abrigam as
matérias-primas necessárias para a construção do sítio e sobrevivência dos grupos ali
presentes.
A partir dos estudos realizados por Caruso Jr (1995), Klokler (2001), Assunção
(2010), Marques (2010) e Oliveira (2010), foi desenvolvido o levantamento da
composição da área focando na contextualização e a disponibilidade dos recursos
presentes em cada unidade da região onde o sambaqui está inserido e destacamos as
seguintes observações (tabela 12):
- Mata: possui uma vegetação litorânea estendendo-se pela planície costeira,
abrangendo principalmente a vegetação de restinga. Podendo abrigar alguns
animais (como mamíferos, aves), servindo de fonte de recurso para utilização de
coleta de plantas silvestres e matéria-prima.
- Laguna: A região abriga um conjunto de lagunas que se comunicam.
Destacamos entre elas as lagoas de Santa Marta e Garopaba do Sul, e uma
sequência de lagos residuais de antigas lagunas (KNEIP 2010). Como afirmamos
anteriormente os sistemas lagunares estão diretamente ligados as ocupações
desses grupos na região. Eles proporcionam um meio de comunicação entre os
84

grupos e o mar e ampliam as distâncias que podem ser percorridas a partir do uso
de embarcações, possibilitando novas explorações de vários ecotonos. Habitat
natural de alguns moluscos como: Anomalocardia brasiliana, Macoma sp.;
Nassarius vibex; Tagelus plebeius . Crustáceos - siris e caranguejos. Peixes como
- bagres, sargos, corvinas, miraguaia, pescada.

- Mar: o Oceano Atlântico, fonte de recursos variados: como peixes (raias),


moluscos.

- Costões rochosos: regiões de transição entre os meios terrestres e marinhos.


Abrigam moluscos como: Ostrea sp., E. haemastoma, crepídula sp., brachidontes
sp., (mariscos). E alguns peixes como: bagres, sargos, raia.

- Planície de restingas: é uma planície arenosa costeira, presentes nas áreas


lagunares, praias e cordões arenosos (ZONA COSTEIRA 20188). Está presente na
costa atlântica, na porção meridional do estado de Santa Catarina, descrita como
vegetação da área litorânea, abriga espécies arbustivas, apresenta a predominância
de gramíneas (KLOKLER 2001, DEBLASIS e GASPAR 2008/2009). Local de
abrigo de aves e pequenos mamíferos e área importante para caça e captura destes
animais.

5.3. – De onde veio este recurso? A utilização dos recursos pelos grupos
sambaquieiros

Os sambaquis Jabuticabeira I, Jabuticabeira II, Garopaba do Sul e Mato Alto I


estão localizados na mesma região e estavam ativos concomitante há 3 mil anos atrás
(figura 35). Apesar de estarem na mesma região, esses sítios podem apresentar
distinções em seu material constitutivo. Este fato pode estar diretamente ligado às
seleções de material construtivo daqueles grupos humanos e a disponibilidade dos
recursos. Os grupos sambaquieiros estavam se utilizando tanto de recursos próximos às
suas áreas de ocupação, como também recursos próximos a costa. Ao estudar o
sambaqui Mato Alto I, foi perceptível a variação de material construtivo do sítio (entre
Anomalocardia brasiliana, Ostrea sp. e Brachidontes sp) deixando clara a seleção
desses grupos, uma vez que os materiais estavam sendo captados nas lagunas e nos

8
http://www.zonacosteira.bio.ufba.br/vrestinga.html
85

costões rochosos. O Mato Alto I é um sambaqui voltado para o interior da região, a


alguns quilômetros da costa atual, encontra localizado sobre encosta.

Figura 33 - Mapa da região e suas lagunas Fonte: DeBlasis et al. 2007.

Para uma melhor compreensão foram utilizadas observações já existentes sobre


variações de composição, juntamente com suas respectivas contextualizações dos
sambaquis citados (tabela 12, 13 e 14).
86

Tabela 12 - Sambaquis do litoral sul de Santa Catarina e datações.

Sítios Datações
Garopaba do Sul 4110 anos AP - 2705 anos AP
Jabuticabeira I 4840 anos AP - 2750 anos AP
Jabuticabeira II 2890 anos AP - 1805 anos AP
Mato Alto I 2535 anos AP - 2245 anos AP
Fontes: (DELLA-JUSTINA 2015; OLIVEIRA 2010; DEBLASIS et al. 2007; NISHIDA 2007; KLOKLER 2001).

Tabela 13–Porcentagem dos componentes presentes em 4 sambaquis do litoral sul de


Santa Catarina.
Sítios A. Brachidontes Ostrea
brasiliana sp. sp

Garopaba do 79,73 1,54 12,26 2


Sul
Jabuticabeira I 66,70 4,07 19,61 1,41
Jabuticabeira 76,26 17,35 sem 6,37
II dados
Mato Alto I 25,03 19,78 23,34 3,87

Tabela 14 - Tipos de vertebrados presentes nos diferentes sítios.


Sítios Tipos de vertebrados

Garopaba do Sul bagre, corvina, miraguaia, sargo, tainha e roedor


Jabuticabeira I baiacu, sargo, miraguaia, raia, bagre, corvina, pescada, tartaruga, tatu, paru
Jabuticabeira II corvina, bagre, miraguaia, sargo, tainha, pescada-branca, baiacu, raia, tubarão, roncador, robalo,
betara, salteira, cangoá, paru, ave e mamífero
Mato Alto I bagre, corvina, miraguaia, pescada, sargo, raia e ave

O sambaqui Mato Alto I encontra-se com maior proximidade das lagunas


presentes na área, onde provavelmente os grupos estão coletando a A. brasiliana para a
construção do sítio e crustáceos para o consumo. A presença das ostras e mariscos no
sítio indica que os grupos estavam indo nos costões rochosos, próximo do litoral
capturar os moluscos para a construção do sítio. A variedade dos recursos construtivos
indica que os grupos estavam freqüentando os dois ambientes (lagunas e costões
rochosos) uma vez, que entre os três principais componentes construtivos do sítio
87

(berbigões, ostras e mariscos), a partir dos dados de analise mostra que não exista uma
preferência entre as espécies utilizadas.

A pesca em Mato Alto I

Quando analisamos o consumo de peixes podemos observar a presença de ossos


e otólitos em todas as camadas, indicando uma atividade de pesca constante em Mato
Alto I. A análise desse material demonstra a exploração de um ambiente lagunar-
estuarino similar ao atual.

Ao observar os dados de pesca do Mato Alto I percebemos que o bagre é o táxon


de maior presença entre os pescados, com uma representação de 48%, seguido da
corvina com 29% e a Miraguaia com 12%, somente essas três espécies correspondem a
89% dos peixes representados no sítio. Os bagres, corvinas e miraguaias são
essencialmente peixes de ambientes lagunares. A presença de uma placa dentária de raia
no sítio, não seria indicador suficiente para caracterizar a pesca em ambiente marítimo
já que, de acordo com Klokler (2001), essa espécie vive próxima a costa, e podem
adentrar nos canais que ligam a laguna ao mar.

O ciclo anual do ecossistema da costa sul é determinado pela variação de


temperatura e pluviosidade permitindo a disponibilidade de alimentação para os
organismos aquáticos (FIGUTI 1998). A variação sazonal é dividida em um período frio
(junho a setembro) e dois períodos quentes (primeiro de: outubro, janeiro/ fevereiro, e o
segundo de: janeiro/ fevereiro até maio (FIGUTI 1998). Durante o tempo frio a
abundância e diversidade dos pescados diminuem, portanto as atividades de pesca são
bastante influenciadas por fatores ambientais.

De acordo com Silva (2016) as espécies pescadas em Mato Alto I foram


captadas ainda juvenis, existindo pouca variação de peso e tamanho nos indivíduos
recuperados no sítio. Mais da metade das corvinas são consideradas juvenis (possuindo
uma média de 20 cm de comprimento e peso de 90 g). Já os pesos dos bagres variam
bastante, entre aproximadamente 30g a 200 g, e 20,5 cm de comprimento. Eles também
são em sua maioria juvenis. Isto se mostra um fato interessante, pois a escolha dessa
fase de desenvolvimento das espécies seleciona uma alternativa ao abastecimento
durante o ano inteiro. Apesar da disponibilidade das corvinas o ano todo, entre os ossos
não foram encontrados muitos vestígios dessa espécie; porém durante as análises dos
88

otólitos a corvina aparece em maior quantidade em relação aos bagres. Este fator deve
estar ligado ao fator anatômico dos bagres, por apresentarem características que permite
a fácil identificação dos vertebrados em relação às demais espécies.

De acordo com Silva (2016), esses grupos estavam pescando espécies juvenis de
corvinas e bagres, provavelmente por serem de mais fácil captura e por estarem
disponíveis durante o ano inteiro, sendo capturadas nas paleobaías próximas ao sítio.

A coleta de moluscos em Mato Alto I

As espécies de moluscos encontradas em Mato Alto I em geral são regularmente


encontradas em outros sambaquis do litoral sul de Santa Catarina. Observamos registro
similar em outros sítios da região, como: Jabuticabeira II (KLOKLER 2001; NISHIDA
2007), Caipora (OLIVEIRA 2010), Lageado (OLIVEIRA 2010), Jabuticabeira I
(OLIVEIRA 2010) e Garopaba do Sul (DELLA-JUSTINA 2015). Primeiramente
podemos observar a variedade dos locais das coletas realizadas pelos diferentes grupos,
uma vez que os recursos são encontrados em locais diferentes. A Anomalocardia
brasiliana em geral são encontrados em sistemas lagunares (bancos naturais de
moluscos), as ostras e mariscos em geral são encontrados em substratos rochosos
(costões rochosos), embora possam existir algumas exceções.

Ao pensar captação de materiais construtivos utilizados pelos diferentes grupos,


a partir dos dados apresentados na tabela 13, observamos que os sambaquis
Jabuticabeira I e Garopaba do Sul apresentam também similaridade nas escolhas de
materiais construtivos (Anomalocardia brasiliana, Ostrea sp.,Brachidontes sp)
(DELLA-JUSTINA 2015 e OLIVEIRA 2010). O sambaqui Jabuticabeira II é
majoritariamente construído por Anomalocardia brasiliana, apresentando como
segundo elemento construtivo Brachidontes sp., porém com baixa representatividade
comparado com o primeiro elemento (KLOKLER 2001). Os sambaquis Garopaba do
Sul, Jabuticabeira I e II estão localizados próximos a lençóis conchíferos (KLOKLER
200, e VILLAGRAN 2012). O sambaqui Mato Alto I também está próximo a esses
concheiros naturais, porém ao observarmos o material construtivo do sítio, percebemos
a preferência dos grupos em utilizar três tipos de moluscos bivalves (Anomalocardia
brasiliana, Ostrea sp. e Brachidontes sp.). Segundo Klokler 2001, durante as
89

construções dos sambaquis do sul do Brasil os grupos utilizavam como matéria-prima


principalmente Anomalocardia brasiliana e Ostrea sp., em episódios de rápida
acumulação, com o objetivo de formar um montículo criando depósitos mais espessos,
enquanto que as camadas mais finas são geralmente compostas por mariscos (figura 37).

Klokler (2008) chamou a atenção para a presença do concheiro natural


Jabuticabeira, situado entre os sambaquis Mato Alto I, Jabuticabeira I e Garopaba do
Sul, localizado no sistema de barra-barreira. Devido à extensão do concheiro natural, a
autora defende que as coletas poderiam ter sido realizadas em diferentes locais, devido à
variação e frequências de espécies presentes nos sítios.

Ao analisarmos as composições do Mato Alto I, devido a sua composição é


notável que os grupos construtores do Mato Alto I optaram por utilizar Anomalocardia
brasiliana, Ostrea sp. e Brachidontes sp., como material construtivo.Esses componentes
representam: Anomalocardia brasiliana com 25%, seguido das ostras com 23% e os
mariscos com 19%, ou seja, aparecem de forma equilibrada na composição do sítio,
similarmente ao que Figuti e Klokler detectam nas camadas mais superficiais do sítio
Espinheiros II (1996). Em seus trabalhos (FIGUTI & KLOKLER 1996; KLOKLER
2001), apontaram uma diferença nos padrões de construção do sítio, uma vez que na
camada mais antiga as quais visavam à acumulação do sítio são compostas por
Anomalocardia brasiliana e ostras.

Ao analisar os perfis separadamente notamos as seguintes características:

O Perfil I apresenta uma alta concentração de mariscos;

- mariscos: presentes em quase todas as camadas, exceto na camada 1, com


maior representação nas camadas: 2 – 49%, 3 – 51%, e 4 – 49%;

- ostras: presentes da camada 1 a 12, com maior representação perto de 50% nas
camadas: 6, 9 e 10;

- berbigões: presentes em quase todas as camadas, exceto na camada 10, com


maior representação na camada: 13 – 78%;

O Perfil II apresenta uma alta concentração de ostras, presentes em todas as


camadas, com maior representação nas camadas: 4 – 55% e 5 – 65%;
90

- mariscos: presentes apenas na camada 1, com maior representação 35%;

. - berbigões: presentes em todas as camadas, com maior representação na


camada: 2 – 56%;

Por fim, o Perfil III – com uma alta concentração de Anomalocardia brasiliana
presentes em todas as camadas, com maior representação na camada: 3 – 95%;

- mariscos: presentes em todas as camadas, com uma maior representação nas


camadas: 4 – 62%, 5 – 41%;

- ostras: presentes nas camadas 1, 3 e 5, com uma maior representação na


camada: 2 – 39%;

- Stramonita – maior concentração na camada 1 - 27%.

Essas diferenças podem estar ligadas as diferentes ocupações ocorridas nele,


deixando claro que as preferências pela utilização dos recursos variam de acordo com
cada grupo, uma vez que existe uma variação de material construtivo em cada camada.

Observamos uma frequência maior de mariscos na datação mais antiga do sítio


feita com base em material coletado na camada 2 do Perfil I. E a predominância de
ostras no perfil II com datação mais recente (2.245 AP). Alguns autores ligam a
presença de ostras e Anomalocardia brasiliana nos sambaquis às camadas mais antigas,
na qual os grupos visavam à acumulação do sítio. Porém no Mato Alto I, a datação mais
antiga tem o marisco como o maior representante do material construtivo.

Essas observações demonstraram que os grupos que habitaram o Mato Alto I


optaram por utilizar mais de um tipo de material construtivo, reforçando a escolha dos
diferentes locais (lagunas e costões rochoso) para a captura dos recursos. Desta forma,
podemos afirmar que o material construtivo e a economia pesqueira do Mato Alto I
indicam que os grupos que os grupos que o construíram estariam voltados
principalmente para os estuários, lagunas e substratos rochosos, devido a presença das
ostras e mariscos utilizado para a construção do sítio (figura 35).
91

Figura 34 - Mapa da região por volta de 3.000 AP, com o nível do mar 1,0 acima do atual. Fonte: Kneip 2004.
92

Considerações finais:

Os sambaquieiros manipularam os recursos naturais e o ambiente de várias


maneiras: através da construção dos sítios, exploração de animais para alimentação,
elaboração de rituais, etc. Os estudos zooarqueológicos dos sambaquis demonstram a
abundância dos recursos ambientais no entorno desses sítios, a ponto de não forçar a
exploração de regiões distantes. Ao observar as localizações e a composição dos
sambaquis, é nítido o grande interesse desses grupos por recursos aquáticos.

O Mato Alto I apresenta uma alta variabilidade interna no uso de moluscos como
material construtivo do sítio (Anomalocardia brasiliana, Ostrea sp. e Brachidontes sp)
reforçando a escolha desses grupos, baseado na captura dos recursos de locais
diferentes. Ao estudar o seu processo de formação é notável uma composição variada
entre seus perfis. A variação no material construtivo demonstra que os grupos estão
freqüentando as paleolagunas e os costões rochosos durante o período de atividade do
sambaqui.

O sambaqui Mato Alto I é considerado um sítio de pequeno porte, tendo em


vista seu tamanho (5 metros de altura), porém sua composição nos chamou a atenção
pela variação de material construtivo, uma vez que os grupos ali presentes utilizaram
berbigões, ostras e mariscos para a construção do sítio.

A análise zooarqueológica permitiu o estudo da composição do sítio, baseado na


fauna proveniente das atividades de construção do sambaqui e subsistência de grupos
pescadores-coletores-caçadores e desta forma nos permite uma maior compreensão do
sistema de captação de recursos. Os resultados das análises dos vestígios faunísticos do
sítio destacam a importância dos moluscos na construção do sambaqui, e o uso dos
vertebrados especialmente os peixes como base econômica. Deixando claro a
preferência dos grupos pelos ambientes lagunares e costeiros.

Nos vestígios ictiológicos temos uma maior presença dos bagres, corvinas e
miraguaias, peixes predominantes lagunares que juntos correspondem a 89% das
espécies presentes no Mato Alto I. Análises dos otólitos de bagre e corvina
demonstraram a escolha da pesca dessas espécies durante a sua fase juvenil. Com base
nas espécies presentes no sítio, demonstra que os grupos estavam pescando em
paleolagunas próximas ao sítio.
93

Os dados que apresentamos neste trabalho, trazem informações inéditas sobre a


formação do Mato Alto I, reforçando a importância do estudo deste sambaqui para o
contexto arqueológico, podendo trazer novas contribuições para as pesquisas dos
sambaquis da região com novas percepções sobre as seleções dos recursos realizados
pelos grupos que ali estiveram presentes.

Os vestígios analisados em Mato Alto I referem se apenas a uma parte do


material (amostragem é pequena, 1,5 litro) coletado durante as atividades interventivas
no sítio. Faz-se necessário que novas pesquisas dêem continuidade nas análises dos
vestígios arqueológicos visando a exploração do potencial do sítio e da região em
estudo, para uma melhor compreensão acerca da composição de sua composição,
evidenciando a importância da construção do sambaqui Mato Alto I.

Este trabalho corrobora com que Levy fala sobre os grupos estarem explorando
locais próximos ao sítio. Apesar dos sambaquis da região sul de Santa Catarina serem
bastante estudados, este é o primeiro trabalho que trata sobre a captação de recursos na
região.
94

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104

ANEXO
105

o a
ea ta ça x a o rçã eim lt 1 2 b a w so de S
Ár NP Da Z' Z" C Pe Ta L ad Po % Qu A Alt Tra Gn Pe Qt OB

Figura 35 - Ficha de análise dos vertebrados. Fonte: Arquivo de Daniela Klokler.


106

APÊNDICES
107

Tabela 15 - Componentes presentes no Perfil I.


MATO ALTO I – COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL I
Componentes Abrev. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Anomalocardia brasiliana (berbigões) Anb X X X X X X X X X X X X X
Brachidontes sp (mariscos) Brd X X X X X X X X X X X X X
Caryocorbula sp. Car X
Chione sp. Chi X X X X X X X X X
Cyrtopleura costata (Asa de anjo) Cyc X X X X X X X X X X X X X X
Erodona mactroides Erm X X X X X X X X
Macoma sp. (amêijoa) Mac X
Ostrea sp. (ostras) Ost X X X X X X X X X X X X X X
Phacoides pectinatus (lambreta, sernb.,almj.) Lup X X
Protothaca sp. (mexilhões) Pro X
Tagelus plebeius (unha-de-velho) Tap X X X X X X X X X
Tellina sp Tel X X X X
Crepidula aculeata Cra X X X X X X X X X X X X X
Nassarius vibex Nas X X X X X X X X X X X X X
Neritina virginea (neritina comum) Nev X
Parvanachis sp. (caracol marinho) Par X X X X
Stramonita haemastoma (saguarita) Thh X X X X X X X X X X X
Ucides cordatus (caranguejos) Uc X X X X X X X
Callinectes sp. (siris) Cl X X X
Amphitritre sp.(cracas) Am X X X X X X X X X X X X X X
Rajidae (raia) Raj X

Ariidae (bagre) Ar X X X X X X X X X X X X X X
Archosargus probatocephalus (sargo) Arp X
Cynoscion sp.(pescada) Scc X X X
Micropogonias curvieri (corvina) Scmc X X X
Pogonias chromis (miraguaia) Scpc X X X X X X
Ave A X
Carvões Crv X X X X X X X X X X X
Sedimentos Sed X X X X X X X X X X X
Argila Arg X
Argila queimada Arq X
Rocha Roc X
Total: 13 15 17 20 17 17 12 14 13 11 13 14 15 12
108

Tabela 16 - Componentes presentes no Perfil II.

MATO ALTO I – COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL II


Componentes Abrev. 1 2 3 4 5
Anomalocardia brasiliana (berbigões) Anb X X X X X
Brachidontes sp (mariscos) Brd X X X
Caryocorbula sp. Car
Chione sp. Chi X X
Cyrtopleura costata (Asa de anjo) Cyc X X X X
Erodona mactroides Erm
Macoma sp. (amêijoa) Mac
Ostrea sp. (ostras) Ost X X X X X
Phacoides pectinatus (lambreta, sernb.,almj.) Lup X X
Protothaca sp. (mexilhões) Pro
Tagelus plebeius (unha-de-velho) Tap X X X X
Tellina sp Tel X X
Crepidula aculeata Cra X X X
Nassarius vibex Nas X X X X X
Neritina virginea (neritina comum) Nev
Parvanachis sp. (caracol marinho) Par
Stramonita haemastoma (saguarita) Thh X X X X X
Ucides cordatus (caranguejos) Uc X X
Callinectes sp. (siris) Cl
Amphitritre sp.(cracas) Am X X X
Rajidae (raia) Raj
Ariidae (bagre) Ar X X X X X
Archosargus probatocephalus (sargo) Arp
Cynoscion sp.(pescada) Scc
Micropogonias curvieri (corvina) Scmc
Pogonias chromis (miraguaia) Scpc
Carvões Crv X
Sedimentos Sed X X X X X
Argila Arg X
Argila queimada Arq
Rocha Roc X
Total: 13 8 12 11 12
109

Tabela 17 - Componentes presentes no Perfil III.

MATO ALTO I – COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL III


Componentes Abrev. 1 2 3 4 5
Anomalocardia brasiliana (berbigões) anb X X X X X
Brachidontes sp (mariscos) brd X X X X X
Caryocorbula sp. car
Chione sp. chi X
Cyrtopleura costata (Asa de anjo) cyc X X X X X
Erodona mactroides erm X X
Macoma sp. (amêijoa) mac
Ostrea sp. (ostras) ost X X X X
Phacoides pectinatus (lambreta, sernb.,almj.) lup
Protothaca sp. (mexilhões) pro
Tagelus plebeius (unha-de-velho) tap X X
Tellina sp tel X
Crepidula aculeata cra X X X X X
Nassarius vibex nas X X X X X
Neritina virginea (neritina comum) nev
Parvanachis sp. (caracol marinho) par X X
Stramonita haemastoma (saguarita) thh X X X X
Ucides cordatus (caranguejos) uc X X X
Callinectes sp. (siris) cl
Amphitritre sp.(cracas) am X X X X X
Rajidae (raia) raj
Ariidae (bagre) ar X X X X X
Archosargus probatocephalus (sargo) arp
Cynoscion sp.(pescada) scc X X
Micropogonias curvieri (corvina) scmc X
Pogonias chromis (miraguaia) Scpc X X
Carvões Crv X X X
Sedimentos Sed X X X
Argila Arg
Argila queimada Arq
Rocha Roc
Total: 13 16 10 14 12

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