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Laranjeiras
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CAMPUS LARANJEIRAS
DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA
GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
Laranjeiras
2018
2
CDU: 902
BANCA EXAMINADORA
Dedicatória:
Agradecimentos:
Agradeço a todos os professores que fizeram parte da jornada, contribuindo com o meu
aprendizado, iniciada desde o ensino escolar ao superior. Todos foram muito
importantes para minha formação enquanto profissional, e ser humano.Aos professores
do José Inácio (colegial), em especial ao professor Carlos Alexandre. E do Colégio
Manuel Messias (ensino médio).
Ao pessoal do grupo “galera da caatinga”, nosso primeiro campo, por toda união
envolvida, nossas risadas (apesar do sofrimento, caminhando no sol escaldante do meu
sertão rsrs): Eriká, Thiago, Carol, Vinicius Pedra.
A todos os colegas e amigos que fazem parte do laboratório mais badalado dessa UFS: o
LAPSO, por toda vivência, troca de aprendizado, e risadas também; Sandra, Ivan,
Adriana... Agradeço muito a chefinha/mãe Carol Sousa por todos os ensinamentos em
campo e fora dele, e pela sua amizade, sem você essa monografia não seria a mesma.
Juntamente com pai Felipe Neves sempre me aconselhando, incentivando em diversos
momentos.
Os meus amigos que fizeram parte dessa jornada de alguma forma, aos que fizeram
apenas uma passagem e em especial aos que permanecem firmes e fortes (rsrs).
Obrigada a todos por aguentarem essa ariana que vos fala. A vocês: Gabriel, Anthony,
Guiliana, pelos incentivos e longos papos sobre a arqueologia e a vida. A Anny e
6
A toda a família de Laranjeiras, pelos bons tempos. Vivemos muitas coisas juntos:
sempre em união,nos momentos de diversão nas longas madrugadas e tristezas. A todas
as republicas ali presentes, em especial ao pessoal da “Casa de Bonecas”, “Thia”, e
“Tchacaray” e a república a qual fiz parte. Em especial: Yuri, Raul, Del, Jadson, Malu,
Danilo,Wallace, Rafael Meneses, Nacagima, Rafael Dantas, Juliana, Karol, Denise,
Fernando, Lucas, Larissa...Vocês são lacrativas.
As minhas ‘viadas’ amigas que fiz através do grupo “arqueologia da sedução” pelos
grandes papos nas madrugadas, em especial a Anderson, Arlon e Bruno... Vocês
arrasam! As minhas manas: Hiago (foram anos dormindo de conchinha), Suellen
(melhor risada), Poliana (amiga arquiteta) e Enderson (rainha dos apelidos) pela nossa
convivência e amizade, de Laranjeiras para a vida. A Thauan (rainha dos memes),
Victor (garota do fogo) e Nicolas (melhor crush) pelo longo tempo de amizade e
parceria. A Eloildo (amiga arquiteta) e Lázaro (que está arrasando no Canadá).
Obrigada a todas por estarem presentes em momentos importantes da minha vida, bii,
vocês são destruidoras. Ao meu trio favorito (quero-quero/want-want), obrigada por
cada momento de cumplicidade, amor, carinho, incentivo, risadas e tudo que já vivemos
e vamos viver. Vocês são lindas e maravilhosas: Aíres e Eunice. E a minha mais nova
mana paraense Carol, pelos momentos divertidos. Obrigada a todas do vale!
As minhas amigas de longa data: Jaqueline (Jack), Gádria (meu carma rsrs) são mais de
10 anos de amizade na nossa história. As minhas novas amigas: Laís (panda), Sandry
(ariana das tretas), presentes nesta reta final. Obrigada a todas vocês por aguentarem
minhas ansiedades e minha loucuras.
A minha prima e amiga Kauana pelo presente que é minha afilhada Nicole. E aos meus
amigos Laís e Erlânio pela minha afilhada: Evelyn, meu segundo presente.
A minha família por todo apoio, em especial a minha mãe e meu irmão. E a todas as tias
e tios em especial a Suzana por todo seu apoio inicial. Sem vocês nada disso seria
possível.
E por fim, todos os grupos sambaquieiros (em especial do Mato Alto I), obrigada por
existirem!
7
Resumo
Abstract
Sumário
Dedicatória: ........................................................................................................ 4
Agradecimentos: ................................................................................................ 5
Abstract .............................................................................................................. 8
Sumário .............................................................................................................. 9
Lista de Figuras ................................................................................................ 11
Lista de Tabelas ............................................................................................... 12
Introdução ........................................................................................................ 13
CAPÍTULO I – Sambaquis: uma Abordagem sobre Captação de Recursos .... 15
1.1. – Sambaquis - uma breve contextualização................................................... 15
1.2. – A construção das paisagens arqueológicas ................................................ 17
1.3. – O estudo da Captação de Recursos a partir dos grupos humanos .................. 20
1.4. – Os estudos faunísticos baseados nas zooarqueologia (seu surgimento como
disciplina e conceitos) ...................................................................................... 21
1.5. – Os estudos zooarqueológicos em sambaquis no Brasil ................................ 23
1.6. – As conchas e os peixes dentro dos estudos zooarqueológicos ....................... 25
CAPÍTULO II – Mato Alto I: um Sambaqui do Litoral Sul de Santa Catarina .... 28
2.1. – Projeto de Intervenção Arqueológica ‘Sambaqui e Paisagens’ ..................... 28
2.2. – O Litoral Sul do Estado de Santa Catarina ................................................. 29
2.3. – Discussões acerca de trabalhos realizados na área do projeto ‘Sambaqui e
Paisagens’ ....................................................................................................... 32
2.4. – O Sambaqui Mato Alto I.......................................................................... 36
CAPÍTULO III - Metodologia ............................................................................. 39
3.1. – Métodos realizados em campo. ................................................................. 39
3.2.– Métodos realizada em laboratório. ............................................................ 44
CAPÍTULO IV - Dados obtidos de Mato Alto I. ................................................. 50
4.1. – Análises granulométricas do Perfil I em Mato Alto I .................................. 50
4.2. – Componentes faunísticos e arqueológicos presentes em Mato Alto I ............ 51
4.3. – O Sambaqui Mato Alto I e seus Perfis ....................................................... 54
4.4. –Perfil I .................................................................................................... 55
10
Lista de Figuras
FIGURA 1- REGIÃO ESTUDADA PELO PROJETO ‘SAMBAQUI E PAISAGENS’. FONTE: GOOGLE EARTH. .......... 29
FIGURA 2 - MAPA GEOLÓGICO DA ÁREA. FONTE: OLIVEIRA 2010. ........................................................... 31
FIGURA 3 - MAPA DA REGIÃO POR VOLTA DE 3.000 AP, COM O NÍVEL DO MAR 1,0 ACIMA DO ATUAL. FONTE:
KNEIP 2004.................................................................................................................................. 34
FIGURA 4 - MAPA DA REGIÃO POR VOLTA DE 1.500 AP, COM O NÍVEL DO MAR 0,5 ACIMA DO ATUAL. FONTE:
KNEIP 2004.................................................................................................................................. 35
FIGURA 5 - LOCALIZAÇÃO DO SAMBAQUI MATO ALTO I. FONTE: GOOGLE EARTH, FOTO DE 1984. ............ 37
FIGURA 6 - SÍTIO MATO ALTO I. FONTE: KLOKLER 2008. ........................................................................ 38
FIGURA 7 - CROQUI REALIZADO EM CAMPO DO PERFIL II. .................................................................................... 41
FIGURA 8 - MATERIAL DURANTE A TRIAGEM. ................................................................................................... 47
FIGURA 9 - LOCALIZAÇÃO DO UMBO EM UM BIVALVE / LATERALIDADE DOS BIVALVES, LADO DIREITO E ESQUERDO. ............. 49
FIGURA 10- PESO INICIAL (P0), FRAÇÃO TRIÁVEL (P1 A+B) (MEDIDAS EM GRAMAS). ................................ 51
FIGURA 11 - DISTRIBUIÇÃO DOS COMPONENTES EM MATO ALTO I. ....................................................................... 54
FIGURA 12-PESOS TOTAIS DOS COMPONENTES DOS PERFIS DO MATO ALTO I, UNIDADE DE MEDIDA
UTILIZADA EM GRAMAS. ............................................................................................................... 55
FIGURA 13 - PESOS TOTAIS EM GRAMAS DAS CAMADAS DO PERFIL I. ....................................................... 56
FIGURA 14 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL I. .............................................................................. 59
FIGURA 15 - PESOS TOTAIS EM GRAMAS DAS CAMADAS DO PERFIL II. ...................................................... 60
FIGURA 16 - MATERIAL FAUNÍSTICO DO PERFIL II. .................................................................................. 60
FIGURA 17 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL II. ............................................................................ 61
FIGURA 18 - PESOS TOTAIS EM GRAMAS DAS CAMADAS DO PERFIL III. ..................................................... 62
FIGURA 19 - COMPONENTES PRESENTES EM PERFIL III........................................................................................ 63
FIGURA 20 - NISP E NMI DA ANOMALOCARDIA BRASILIANA PRESENTES EM MATO ALTO I. .................... 64
FIGURA 21 - NISP E NMI DOS BERBIGÕES, PERFIL I. ............................................................................... 64
FIGURA 22 - PESO DOS BERBIGÕES, PERFIL I. .......................................................................................... 65
FIGURA 23 - NISP E NMI DOS BERBIGÕES, PERFIL II............................................................................... 65
FIGURA 24 - PESO DOS BERBIGÕES, PERFIL II. ......................................................................................... 66
FIGURA 25 - NISP E NMI DA ANOMALOCARDIA BRASILIANA DO PERFIL III. ............................................ 66
FIGURA 26- PESO DA ANOMALOCARDIA BRASILIANA EM GRAMAS NO PERFIL III. ..................................... 67
FIGURA 27 - T AMANHO MÉDIO DE CONCHAS POR PERFIS E CAMADAS EM MATO ALTO I. FONTE: OLIVEIRA
2017. ........................................................................................................................................... 67
FIGURA 28 - NMI DOS VERTEBRADOS PRESENTES EM MATO ALTO I. ...................................................... 68
FIGURA 29 - PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE)
DO SÍTIO MATO ALTO I. ................................................................................................................ 73
FIGURA 30 - PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE)
PERFIL I. ...................................................................................................................................... 74
FIGURA 31–PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE) DO PERFIL II. ..... 75
FIGURA 32- PORCENTAGEM ESTIMADA DA MASSA COMESTÍVEL (CONVERSÃO DE CONCHA/OSSO X CARNE)
PERFIL III. .................................................................................................................................... 75
FIGURA 33 - MAPA DA REGIÃO E SUAS LAGUNAS FONTE: DEBLASIS ET AL. 2007. .................................... 85
FIGURA 34 - MAPA DA REGIÃO POR VOLTA DE 3.000 AP, COM O NÍVEL DO MAR 1,0 ACIMA DO ATUAL.
FONTE: KNEIP 2004...................................................................................................................... 91
FIGURA 36 - FICHA DE ANÁLISE DOS VERTEBRADOS. FONTE: ARQUIVO DE DANIELA KLOKLER............... 105
12
Lista de Tabelas
TABELA 1 - T ABELA DE DATAÇÕES DO MATO ALTO I.............................................................................. 37
TABELA 2 - DESCRIÇÃO DAS CAMADAS DO PERFIL I. ............................................................................... 41
TABELA 3 - DESCRIÇÃO DAS CAMADAS DO PERFIL II. ............................................................................. 43
TABELA 4 - DESCRIÇÃO DAS CAMADAS DO PERFIL III. ............................................................................ 43
TABELA 5 - COMPONENTES PRIMÁRIOS PRESENTES EM MATO ALTO I. ..................................................... 52
TABELA 6 - COMPONENTES SECUNDÁRIOS PRESENTES EM MATO ALTO I. ................................................ 53
TABELA 7 - COMPONENTES INORGÂNICOS PRESENTES EM MATO ALTO I.................................................. 53
TABELA 8 - NMI DOS VERTEBRADOS, PERFIL I. ...................................................................................... 69
TABELA 9 - NMI DOS VERTEBRADOS, PERFIL II. ..................................................................................... 70
TABELA 10 - NMI DOS VERTEBRADOS, PERFIL III. .................................................................................. 70
TABELA 11 - T ABELA DE ANÁLISE DOS OTÓLITOS. .................................................................................. 70
TABELA 12 - SAMBAQUIS DO LITORAL SUL DE SANTA CATARINA E DATAÇÕES. ........................................ 86
TABELA 13–PORCENTAGEM DOS COMPONENTES PRESENTES EM 4 SAMBAQUIS DO LITORAL SUL DE SANTA
CATARINA. .................................................................................................................................. 86
TABELA 14 - TIPOS DE VERTEBRADOS PRESENTES NOS DIFERENTES SÍTIOS. .............................................. 86
TABELA 15 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL I. ........................................................................... 107
TABELA 16 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL II. .......................................................................... 108
TABELA 17 - COMPONENTES PRESENTES NO PERFIL III. ........................................................................ 109
13
Introdução
1
Titulo do trabalho: Os Vestígios Faunísticos do Sambaqui Mato Alto
14
O estudo das relações entre seres humanos e animais, e a maneira como esses
grupos exploravam o ambiente ao qual estiveram inseridos é possível graças aos estudos
zooarqueológicos. Esta é a área da arqueologia fundamental para o estudo de sítios de
composição faunística como os sambaquis. Os estudos zooarqueológicos no Brasil
tiveram seu principal desenvolvimento nos trabalhos voltados para os sítios sambaquis
(KLOKLER 2001).
No litoral sul brasileiro, alguns sambaquis são conhecidos por sua dimensão
monumental e grande visibilidade na paisagem. De acordo com DeBlasis e colegas
(1997), os sambaquis de escala monumental foram criados como marco paisagístico.
Quando se pensa em funcionalidade das construções podemos atribuir sua dimensão
como pontos estratégicos, possibilitando uma visibilidade ampla do local, como
também poderiam ter um maior controle sobre as chegadas de cardumes (bastante útil
para grupos que tem a pesca incluída na sua base alimentar) (DEBLASIS et al. 1997).
2
Tradução nossa.
20
Alemanha, a escola que inicia em Munique, estava voltada para os trabalhos zoológicos.
(CHAIX e MÉNIEL 2005). A escola inglesa se utilizava da interdisciplinaridade tendo
a sedimentologia e a palinologia um papel importante. Seu principal pesquisador foi
Davis, sua melhor descrição da disciplina foi exposta em sua obra The Archaeology of
Animals (1987), considerando os animais como elementos do espaço arqueológico
(CHAIX e MÉNIEL 2005).
Foi com base nos estudos de Gautier e das escolas citadas acima, na qual foram
propostas as definições para a realização das pesquisas em arqueozoología (CHAIX y
MÉNIEL 2005). Dentro da disciplina arqueozoología e de outros estudos de restos de
animais recuperados em etapas arqueológicas, foram pensadas as seguintes etapas de
investigação:
Em seus trabalhos Figuti (1989, 1992, 1993) indica que as populações costeiras
sempre tiveram sua alimentação baseada na pesca, sendo o primeiro pesquisador no
25
Brasil a realizar a conversão do peso das carcaças dos animais para o peso de matéria
comestível salientando a importância da pesca e da coleta para as populações costeiras
(KLOKLER 2001). O autor em seus trabalhos salientava a necessidade da padronização
metodológica nas pesquisas zooarqueológicas para uma possível comparação dos dados
e a confirmação das hipóteses referente às pesquisas em sambaquis (KLOKLER 2001).
Apesar de toda essa importância, os peixes têm sido muito subestimados entre os
vertebrados presentes nas escavações arqueológicas e, às vezes até ignorados. Isto se
deve a várias razões: como a fragilidade e o tamanho das peças ósseas (CHAIX y
MÉNIEL 2005). Podemos perceber que a ausência de uma padronização em pesquisas
zooarqueológicas unido a carência de profissionais nesta área devam ter contribuído
para o esquecimento da importância dos vestígios ictiológicos na pesquisa arqueológica.
Outro dado importante sobre os peixes é a possibilidade de estimação de peso e
tamanho através dos esqueletos dos mesmos. Em seus trabalhos, Levy Figuti foi o
pioneiro dessas transformações no Brasil, trazendo uma visibilidade para esses dados.
27
Sua pesquisa possui uma grande contribuição para o entendimento do consumo de peixe
entre esses povos em períodos mais remotos.
28
Figura 1- Região estudada pelo projeto ‘Sambaqui e paisagens’. Fonte: Google Earth.
30
A área é banhada pelas bacias hidrograficas do rio Tubarão e dos rios Capivari e
Cubículo, além dos lagos e lagunas (OLIVEIRA 2010). A principal bacia de drenagem
é do rio Tubarão, que pode ser classificado como um rio de planície, apresentando boas
condições fluviais (CARUSO JR 1995).
3
É uma planície arenosa costeira, de origem marinha (incluindo praia, cordões arenosos, depressões entre
cordões, dunas e margem de lagunas), com vegetação adaptada ás condições ambientais
(site:ZonaCosteira.bio.ufba.br) acessado em 23/01/2018.
32
Em seus trabalhos os autores Rohr (1969), Kneip (2004) e Giannini et al. (2010)
discutem a formação geológica da área e a formação dos sambaquis da região sul de
Santa Catarina. Rohr classificou os sambaquis do litoral sul de Santa Catarina em cinco
grupos diferentes, levando em consideração as formas e composições e implantação dos
sítios na paisagem. Andreas Kneip realizou a construção de um SIG (Sistema de
Informação Geográfica) com o qual discutiu a formação costeira baseado na
transgressão marítima, abordando em seus estudos a influência do recuo na formação
geológica e ocupação pré-colonial da área. Através das informações geomorfológicas,
geológicas e topográficas integradas no SIG, permitiram ao autor simular a
movimentação do nível do mar (NMM) do período de 5.000 anos AP até o momento
atual (KNEIP 2004). Paulo Giannini e colegas usaram como referência os dados
geomorfológicos da região, e a formação costeira no período do quaternário, relatando a
formação da área através dos levantamentos sistemáticos dos sítios e datações,
identificando os padrões de distribuição espacial nos sambaquis da região. Em suas
conclusões Paulo Giannini e colegas identificaram nos sítios da região cinco contextos
geológico-geomorfológicos, três padrões estratigráficos e quatro fases de ocupação
sambaquieira com base na quantidade de sítios e no tipo de padrão construtivo
(GIANNINI et al. 2010). Essas discussões contribuíram para uma melhor compreensão
da área arqueológica estudada por vários pesquisadores.
Ao classificar os sambaquis do litoral de Santa Catarina, Rohr (1969) inseriu
Mato Alto I no Grupo II, ou seja, sítios formados principalmente por Anomalocardia
33
Figura 3 - Mapa da região por volta de 3.000 AP, com o nível do mar 1,0 acima do atual. Fonte: Kneip 2004.
Figura 4 - Mapa da região por volta de 1.500 AP, com o nível do mar 0,5 acima do atual. Fonte: Kneip 2004.
Figura 5 - Localização do sambaqui Mato Alto I. Fonte: Google Earth, foto de 1984.
O Mato Alto I encontra-se sobre uma encosta de serra (figura 6). De acordo com
DeBlasis e colegas. (1997), o sítio foi bastante danificado ao longo do tempo, mas
principalmente nos anos 80 quando, segundo informantes, foram retiradas grandes
quantidades de sedimentos da parte mais elevada do sambaqui pela prefeitura local, para
a utilização do material na construção civil, devido ao seu potencial construtivo. O
cemitério da vila local encontra-se localizado sobre parte do sítio atualmente.
38
métodos adequados para estes sítios particulares.Uma vez que sambaquis possuem uma
composição basicamente faunística, isso reforça a necessidade depensar em estratégias
específica para sítios com esta composição. Ao realizar trabalhos sobre padronização de
amostragem Klokler e Nishida (2016), concluíram que não é o tamanho da amostra que
garante a qualidade da pesquisa, uma vez que amostras muito grandes tendem a
apresentar resultados redundantes, enquanto as amostras muito pequenas podem não
possuir diversidade taxonômica. As autoras chegaram à conclusão que a padronização
do volume de coleta das amostragens é indispensável para garantir a realização de uma
boa pesquisa, pois a recuperação de amostras representativas é fundamental para a
validade dos resultados e posteriormente sua interpretação. Klokler (2008,2013) e
Klokler e Nishida propõem que amostras de 8 litros seriam a mais apropriadas para
capturar a diversidade taxonômica das especies em grandes sambaquis.
As amostras faunísticas (sedimento total) foram coletadas nos 3 perfis por colunas a
partir do momento em que foi estabelecida a sequência da estratigrafia de cada perfil.
Foram coletadas amostras de 15 centímetros cúbicos de cada camada considerada
relevante. No Perfil I a equipe de campo amostrou 14 camadas, sendo que nos demais
41
cinco camadas foram coletadas (tabelas 2). O Perfil II foi amostrado 5 camadas, no
qual totalizou 2,56m de comprimento com 4,37m de altura4 (figura 8) (tabela 3). E por
fim, o perfil III também foi amostrado 5 camadas, a seguir temos as apresentações das
tabelas com as informações das respectivas camadas (tabela 4).
Camada 2 Camada com sedimento arenoargiloso, sendo identificada a presença de argila, carvão,
mariscos, ostras, Anomalocardia brasiliana e ossos.
4
Os dados de campo sobre as intervenções realizadas em Mato Alto I foram anotações de campo cedidas
pela professora Daniela Klokler. Desta forma não temos disponibilizadas todas as informações dos
perfis.
42
Camada 4 Similar a camada 2, com uma maior concentração de mariscos./ Sedimento areno-
argiloso, fragmentos centímetricos de mariscos, poucos ossos de peixes, válvas
fragmentadas.
Camada 7 Sedimento argiloso muito compactado foi encontrado ostras inteiras, mariscos
fragmentados e ossos de peixes.
Capa 2 Matriz arenoargilosa, com conchas duas vezes mais esmagadas que a 1 (mariscos e
anomalocardias), o estrato possui uma coloração quase branca de tão cinza. Mais ossos
de peixes presentes neste estrato e há mais carvão vegetal, em seguida, estrato 1.
Feature1 É uma linha composta de anomalocardias, mariscos, e berbigões, não aparece terra
sobre ela 90% de berbigões, amostra inteira (próximas)
Feature 2 É uma camada de cinza escura (uma possível superfície) com conchas esmagadas, na
seção leste, há uma aproximação com a camada superior 8 (foi coletado carvão).
Existem os mesmos blocos de argila.
Statum 3 Matriz argilosa com mariscos fragmentados e alguns blocos de argila. Há presença de
muito carvão. Há presença de ostras distribuídas comparado com o estrato 2, este
estrato possui uma maior quantidade de conchas esmagadas.
Feature 3 Camada preta com presença de muito material orgânico de argila com ossos de peixe e
fragmentos de carvão e uma pequena proporção de mariscos.
Feature 4 A matriz é uma cova com um preenchimento composto de osso de peixe, carvão é
argila. Contido alguns mariscos esmagados é uma patela humana é visível no meio da
cova
Feature 5 É uma possível cova preenchida por conchas, com quase todas inteiras
5
As fichas a seguir foram traduzidas pela autora, a partir das anotações de campo realizadas pela
professora Daniela Klökler.
43
(anomalocardias).
Stratum 4 Matriz argilosa com conchas fragmentadas (mariscos e anomalorcadias). Muito similar
ao stratum 1 e 2.
Feature6 É uma camada de ostras, com muitas ostras esmagadas, fazendo um montículo. Com
presença de carvão e ostras na camada. Recolhemos o carvão com as ostras.
Camada 1 Foram observadas 13 espécies, camada com presença de raízes, apresenta mariscos e
mariscos em maiores quantidades na sua composição. Camada com coloração marrom.
Camada 3 Foram observadas 9 espécies diferentes, sem muitas variações entre as espécies,
camada com presença de raízes. Com presença significativa de ostras (inteiras) e
berbigões. Camada com coloração marrom.
Camada 4 Foram observadas 10 espécies diferentes, sem muitas variações entre as espécies,
camada com presença de raízes. Com presença significativa de ostras (inteiras) e
berbigões. Camada com coloração marrom.
Camada 5 Foram observadas 10 espécies diferentes, camada com presença de raízes. Com
presença significativa de ostras (inteiras) e berbigões. Camada com coloração marrom.
Statum 7 A matriz de argila é muito orgânica, as conchas espessas em toda parte, as ostras são
dispersas na matriz. A matriz é muito escura, preta com carvões.
Feature 7 É uma camada de ostras inteiras no topo desta camada, ao norte havia uma possível rocha
queimada coletamos todo o carvão a partir desta característica (estrato 2). É possível que
o fundo do sambaqui esteja aqui.
Camada 1 Foram observadas 11 espécies diferentes, camada com presença de raízes. Com
presença significativa de Thais (com partes inteiras), ostras, berbigões, asa de anjo
(Cyrtopleuras) e mariscos. Camada com coloração levemente escurecida.
44
Camada 2 Foram observadas 17 espécies diferentes, camada com presença de raízes. Com
presença significativa de ostras, mariscos, concrenções de sedimentos e berbigões.
Camada 3 Foram observadas 17 espécies diferentes. Essa camada se destaca pela grande
quantidade de Anomalocardia brasiliana presentes, com uma concentração de mais de 1
kg.
Camada 4 Foram observadas 11 espécies diferentes. Camada com uma quantidade de mariscos,
concrenções de sedimentos, Anomalocardia brasiliana e carvões.
Camada 5 Foram observadas 11 espécies diferentes. Camada com uma quantidade considerável de
mariscos, seguido dos berbigões, ostras e carvões.
6
O material faunístico do Mato Alto I encontrava-se alojado na Reserva Técnica do Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e foi cedido para realização do projeto de
Iniciação Cientifica (2014-2015) sob a responsabilidade da Professora Daniela Klökler. É importante
destacar que parte da documentação de prospecção do sítio Mato Alto I foi perdida, por este motivo nem
todas as informações serão completas.
45
Nas análises dos ossos dos peixes as peças geralmente mais facilmente
identificadas taxonomicamente estão localizadas na parte do crânio (em geral são peças
que apresentam características morfológicas identificadoras, o que possibilita a
identificação em nível de família ou espécie, e os otólitos também localizados no crânio,
mas com composição distinta do resto do esqueleto7. Os espécimes separados foram
então analisados e uma série de oito atributos foram registrados em planilhas:
7
Os otólitos são elementos são concreções acelulares de carbonato de cálcio e outros sais orgânicos que se
localizam no ouvido do peixe (Assis 2000).
47
Figura 9 - Localização do umbo em um bivalve / Lateralidade dos bivalves, lado direito e esquerdo.
50
Como já foi abordado anteriormente, o sítio Mato Alto I é composto por três
diferentes perfis (nomeados por perfil I, II e III), os quais foram analisados seus itens
composicionais, com o intuito de compreender a captação de recurso presentes no
sambaqui. A seguir neste capítulo iremos descrever os dados processados.
Nas camadas seguintes houve uma nova diminuição no valor da porção triável,
na camada 9 apresentou 340g, continuou sendo observado a alta concentração de peixe.
51
Granulometria do Perfil I
1,600
1,400
1,200
1,000
800 P0
600 P1 a+b
400
200
0
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14
Figura 10- Peso inicial (P0), fração triável (P1 a+b) (medidas em gramas).
A seguir temos as listas das espécies presentes nas amostras do Mato Alto I,
seguindo uma subdivisão de acordo com a classificação dos componentes em primários,
secundários e inorgânicos (mencionados no capítulo anterior). Em relação aos
componentes primários incluímos somente representantes do filo dos moluscos (seres
de corpo mole, em geral é recoberto por uma concha calcária). Entre eles temos os
bivalves (organismos compostos por duas valvas) e gastrópodes (possuem uma concha
espiralada). Os bivalves são dominantes entre os componentes primários do sítio e os
gastrópodes têm uma representação menor entre os moluscos. Nos componentes
secundários temos a presença dos ossos de vertebrados (em sua quase totalidade peixes)
como maiores representantes. Os componentes inorgânicos não apresentam grande
52
100
75
Componentes Primários
50 Componentes Secundários
Componente inorgânicos
25
0
Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3
O peso total do Perfil I é de 2.805,33 gramas no total, possui o maior peso (em
gramas) da composição dentre os perfis estudados, com uma grande variação entre os
componentes do Mato Alto I, apresentando em 14 camadas, com diferentes
composições. Em seguida temos Perfil II com 503,7 gramas, com 5 camadas na sua
totalidade, apresentando a menor porcentagem da composição total do sítio, porém
neste perfil o material de todas as camadas apresenta uma coloração marrom escura,
provavelmente recorrente da grande deposição de materiais orgânicos. Por fim, temos o
Perfil III apresenta uma quantidade de 1.799, 06 gramas, segundo maior peso (em
gramas) do sítio, esse perfil também é representado por 5 camadas, chamando a atenção
para a camada 3 onde temos a maior quantidade de A.brasiliana entre todas as camadas
do sítio (figura 13).
55
2500
2000
1500
1000
500
0
Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3
Series1 2805.33 503.7 1799.06
Figura 12-Pesos totais dos componentes dos perfis do Mato Alto I, unidade de medida utilizada em
gramas.
4.4. –Perfil I
Perfil 1
C14
C13
C12
C11
C10
C9
C8
C7
C6
C5
C4
C3
C2
C1
sedimentos que compõem 9% do total da camada. Logo após, temos a camada 5 na qual
os brachidontes sp. continua em maior quantidade totalizando 35% dos componentes,
seguido das Ostrea sp. com 24%, a A. brasiliana com um total de 12%, a Cyrtopleura
com 11,5% do total e os ossos que compõem 4% deste perfil (do total).
46,6% dos componentes, em seguida temos o brachidontes sp. que totalizam 28,7%. A
A. brasiliana totalizando 15,2%, e os ossos representam 5,2% da amostra total.
Perfil I
100%
90%
80%
70%
tap
nas
60%
thh
cyc
50%
cra
ost
40%
anb
brd
30%
oss
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14
Figura 14 - Componentes presentes no Perfil I. Legenda: Oss- ossos; brd – Brachidontes sp., mariscos; and-
Anomalocardia brasiliana, berbigões; ost – Ostrea sp., ostra, cra - Crepidula aculeata;. cyc - Cyrtopleura costata;;
thh – Stramonita haemastoma; nas – Nassarius vibex; tap – Tagelus plebeius;
4.5. –Perfil II
Perfil II
C5
C4
C3
C2
C1
Na composição deste perfil, existe uma predominância maior das ostras como
material construtivo, seguido da Anomalocardia brasiliana (figura 18). Os mariscos
aparecem somente em uma camada do perfil. A pesca aparece em menor quantidade em
todo o perfil, em relação ao perfil I.
Perfil II
100%
90%
80%
70% tap
nas
60% chi
thh
50%
cyc
ost
40%
anb
30% brd
oss
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5
Figura 17 - Componentes presentes no Perfil II. Legenda: oss- ossos; brd – Brachidontes sp., mariscos; and-
Anomalocardia brasiliana, berbigões; ost – Ostrea sp., ostra; cyc - Cyrtopleura costata;; thh – Stramonita
haemastoma; chi – Chione; nas – Nassarius vibex; tap – Tagelus plebeius;
No Perfil III (figura 19) a quantidade de camadas é a mesma que o Perfil II,
porém este perfil apresenta mais de 1 kg de Anomalocardia brasiliana somente na
camada três, podendo estar relacionado a um evento diferenciado no sítio.
62
C4
C3
C2
C1
Perfil III
100%
90%
80%
70%
nas
thh
60%
cra
50% cyc
ost
40% anb
brd
30% oss
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5
Figura 19 - Componentes presentes no Perfil III. Legenda: oss- ossos; brd – Brachidontes sp., mariscos; and-
Anomalocardia brasiliana, berbigões; ost – Ostrea sp., ostra; cyc - Cyrtopleura costata; cra – Crepidula aculeata;
thh – Stramonita haemastoma; nas – Nassarius vibex;
1000
800
600
400
200
0
Perfil I Perfil II Perfil III
NISP 665 118 817
NMI 205 47 416
250
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
NISP 57 7 56 7 67 53 1 49 9 38 31 234 15
NMI 17 1 12 1 11 13 0 13 0 11 8 111 7
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Berbigões 47 3.4 54 2.7 49 55 0.2 53 0.3 7.3 25 352 23
70
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5
NISP 49 58 22 32 27
NMI 9 13 4 10 11
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1 2 3 4 5
Berbigões 39.01 16.71 17.2 35.11 22.48
Por fim, temos o perfil III no qual observamos uma similaridade entre os dados
de NISP, NMI e peso dos berbigões. A camada 3 apresenta o maior peso de berbigão de
todo sítio (mais de 1 kg), nesta camada podemos observar um bom estado de
conservação das valvas. E as demais camadas apresentam uma baixa frequencia de
Anomalocardia brasiliana (figuras 26 e 27).
800
700
600
500
400
300
200
100
0
1 2 3 4 5
NISP 72 23 698 24 45
NMI 11 7 296 3 10
Berbigões
1200
1000
800
600
Berbigões
400
200
0
1 2 3 4 5
Figura 27 - Tamanho médio de conchas por perfis e camadas em Mato Alto I. Fonte: Oliveira 2017.
8%
12%
48%
29%
As tabelas abaixo indicam que a atividade de pesca era contínua em Mato Alto I,
sendo o perfil I de maior destaque dentre os perfis analisados, quando pensamos em
quantidade e variedade de espécie (tabela 8,9 e 10). O Perfil I onde houve maior
deposição de restos de peixes, com 54 peixes no total, sugerindo um momento com
maior atividade pesqueira, podendo tratar-se de um momento diferenciado para o sítio.
Em seguida vem o Perfil II, com uma quantidade menor de componentes vertebrados, e
uma presença significativa de bagres (10 peixes), sendo a única espécie identificada
dentre os restos encontrados do perfil. O Perfil III é representado por 18 peixes, dentre
eles o bagre é espécie presente em todas as camadas, e a corvina é a segunda espécie
com maior representação.
Os otólitos presentes no sítio foram analisados por Silva (2016) de acordo com
suas informações, foram identificados bagres (Ariidae), corvina (Micropogonias
furnieri), miraguaia (Pogonias chromis) e pescada (Cynoscion sp). Segundo o
autor,corvinas e bagres apresentaram maior frequência entre os otólitos com 64% e 36%
respectivamente da totalidade dos otólitos presentes, em Mato Alto I (SILVA 2016)
(tabela 11).
É importante frisar que apesar dos dados apresentados entre as análises dos
ossos e dos otólitos apresentarem diferenças entre si (através das análises dos ossos a
espécie de maior evidência é o bagre, seguido da miraguaia e depois a corvina, e quando
analisamos os otólitos, espécie de maior ocorrência é a corvina, seguida do bagre).
P1 C2 Corvina E 1
P1 C3 Bagre E 1
Corvina D 1
Corvina E 2
71
P1 C4 Corvina D 1
P1 C5 Corvina D 1
Bagre D 1
Corvina E 1
Miraguaia D 1
P1 C6 Bagre E 1
P1 C8 Corvina D 4
Corvina E 1
Bagre E 1
Bagre D 1
P1 C11 Corvina D 1
P1 C11 Corvina E 1
P1 C11 Bagre E 1
P1 C12 Corvina E 1
Pescada D 1
P1 C13 Corvina D 1
Corvina E 1
P2 C1 Corvina D 1
Bagre E 1
P2 C2 Bagre D 1
Bagre E 3
P2 C4 Bagre D 1
P2 C5 Corvina D 1
Bagre E 2
P3 C1 Corvina E 1
Bagre D 1
P3 C2 Corvina E 1
P3 C3 Corvina E 1
P3 C4 Corvina E 1
Corvina D 1
P3 C5 Corvina E 1
(OLIVEIRA 2010; KOKLER 2012, 2008, 2001 e NISHIDA 2007) onde a incidência de
peixes (ósseos e cartilaginosos) sempre É maior que de outras classes de animais.
Dentre as amostras analisadas foi perceptível a grande fragmentação dos ossos. Apesar
dessa fragmentação foi possível a análise e identificação das espécies, uma vez em que
encontramos as partes diagnósticas das peças conservadas. Em relação ao estado de
conservação dos vertebrados, além da fragmentação, foi notada alteração causada pelo
contato com matéria orgânica, deixando os ossos de vertebrados com coloração
marrom, sendo evidente no perfil II. A seguir vamos nos utilizar dos dados obtidos
através da multiplicação do peso da concha e/ou osso por carne.
Berbigões
2
Mariscos
Ossos
Figura 29 - Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) do sítio Mato
Alto I.
Perfil I
100%
90%
80%
70%
60%
Berbigões
50%
Mariscos
40% Peixes
30%
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12 C13 C14
Perfil II
100%
90%
80%
70%
60% Berbigões
50%
Mariscos
40%
30% Peixes
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5
75
Figura 31–Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) do perfil II.
Perfil III
100%
90%
80%
70%
60%
Berbigões
50%
Mariscos
40%
Peixes
30%
20%
10%
0%
C1 C2 C3 C4 C5
Figura 32- Porcentagem estimada da massa comestível (conversão de concha/osso X carne) perfil III.
A partir dos dados obtidos nas análises laboratoriais optou-se por realizar
um breve levantamento dos habitats das distintas variedades de moluscos, peixes e
crustáceos encontrados no sambaqui. Em seguida abordamos as possíveis práticas de
captação de recursos realizadas pelos os grupos que construíram Mato Alto I. Por fim,
dialogamos com a literatura disponível sobre outros sítios da região e do contexto
litorâneo brasileiro.
76
MOLUSCOS
Bivalves:
Gastrópodes:
Crustáceos:
VERTEBRADOS
Peixes teleósteos
Peixes condrícteos
Silva (2009) baseou-se no trabalho realizado por Kent Flannery (1997) em seus
estudos sobre captação de recursos, no qual o autor realizou o mapeamento dos recursos
da área do sítio analisado. Procurando as áreas de fontes onde poderiam ser encontrados
83
grupos e o mar e ampliam as distâncias que podem ser percorridas a partir do uso
de embarcações, possibilitando novas explorações de vários ecotonos. Habitat
natural de alguns moluscos como: Anomalocardia brasiliana, Macoma sp.;
Nassarius vibex; Tagelus plebeius . Crustáceos - siris e caranguejos. Peixes como
- bagres, sargos, corvinas, miraguaia, pescada.
5.3. – De onde veio este recurso? A utilização dos recursos pelos grupos
sambaquieiros
8
http://www.zonacosteira.bio.ufba.br/vrestinga.html
85
Sítios Datações
Garopaba do Sul 4110 anos AP - 2705 anos AP
Jabuticabeira I 4840 anos AP - 2750 anos AP
Jabuticabeira II 2890 anos AP - 1805 anos AP
Mato Alto I 2535 anos AP - 2245 anos AP
Fontes: (DELLA-JUSTINA 2015; OLIVEIRA 2010; DEBLASIS et al. 2007; NISHIDA 2007; KLOKLER 2001).
(berbigões, ostras e mariscos), a partir dos dados de analise mostra que não exista uma
preferência entre as espécies utilizadas.
otólitos a corvina aparece em maior quantidade em relação aos bagres. Este fator deve
estar ligado ao fator anatômico dos bagres, por apresentarem características que permite
a fácil identificação dos vertebrados em relação às demais espécies.
De acordo com Silva (2016), esses grupos estavam pescando espécies juvenis de
corvinas e bagres, provavelmente por serem de mais fácil captura e por estarem
disponíveis durante o ano inteiro, sendo capturadas nas paleobaías próximas ao sítio.
- ostras: presentes da camada 1 a 12, com maior representação perto de 50% nas
camadas: 6, 9 e 10;
Por fim, o Perfil III – com uma alta concentração de Anomalocardia brasiliana
presentes em todas as camadas, com maior representação na camada: 3 – 95%;
Figura 34 - Mapa da região por volta de 3.000 AP, com o nível do mar 1,0 acima do atual. Fonte: Kneip 2004.
92
Considerações finais:
O Mato Alto I apresenta uma alta variabilidade interna no uso de moluscos como
material construtivo do sítio (Anomalocardia brasiliana, Ostrea sp. e Brachidontes sp)
reforçando a escolha desses grupos, baseado na captura dos recursos de locais
diferentes. Ao estudar o seu processo de formação é notável uma composição variada
entre seus perfis. A variação no material construtivo demonstra que os grupos estão
freqüentando as paleolagunas e os costões rochosos durante o período de atividade do
sambaqui.
Nos vestígios ictiológicos temos uma maior presença dos bagres, corvinas e
miraguaias, peixes predominantes lagunares que juntos correspondem a 89% das
espécies presentes no Mato Alto I. Análises dos otólitos de bagre e corvina
demonstraram a escolha da pesca dessas espécies durante a sua fase juvenil. Com base
nas espécies presentes no sítio, demonstra que os grupos estavam pescando em
paleolagunas próximas ao sítio.
93
Este trabalho corrobora com que Levy fala sobre os grupos estarem explorando
locais próximos ao sítio. Apesar dos sambaquis da região sul de Santa Catarina serem
bastante estudados, este é o primeiro trabalho que trata sobre a captação de recursos na
região.
94
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malacologiaA tripthroughMalacologyhistory. Estud. Biol., Ambiente Divers. 34(83),
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Campanha de Campo - 1997. Museu de Arqueologia e Etnologia. Universidade de São
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Editor. 2000.
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MIRTHEN, S.; A Pré-História da Mente. Editora UNESP. São Paulo, SP. 1998.
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100
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http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=180994
http://www.conchasbrasil.org.br/conquiliologia/familias/CALYPTRAEIDAE.asp?f=11
3
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=420930
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=138215
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http://www.conchasbrasil.org.br/conquiliologia/descricao.asp?id=130
102
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=516041
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=397073
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=138531
http://lobpa.com/portfolio/macoma-sp/
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=160438
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=138298
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=420800
http://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/zoologia/zooinvertebrados/zoomolusc
os/zoomol060.html
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=157001
http://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/zoologia/zooinvertebrados/zoomolusc
os/zoomol072.html
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=138533
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=415166
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=422170
103
https://www.suapesquisa.com/mundoanimal/caranguejo.htm
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=106921
http://especiesmarinhas.blogspot.com.br/2008/10/siri.html
https://www.anda.jor.br/2012/01/siri-azul-e-um-dos-animais-que-mais-produzem-ovos/
http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=367813
http://www.ZonaCosteira.bio.ufba.br
ANEXO
105
o a
ea ta ça x a o rçã eim lt 1 2 b a w so de S
Ár NP Da Z' Z" C Pe Ta L ad Po % Qu A Alt Tra Gn Pe Qt OB
APÊNDICES
107
Ariidae (bagre) Ar X X X X X X X X X X X X X X
Archosargus probatocephalus (sargo) Arp X
Cynoscion sp.(pescada) Scc X X X
Micropogonias curvieri (corvina) Scmc X X X
Pogonias chromis (miraguaia) Scpc X X X X X X
Ave A X
Carvões Crv X X X X X X X X X X X
Sedimentos Sed X X X X X X X X X X X
Argila Arg X
Argila queimada Arq X
Rocha Roc X
Total: 13 15 17 20 17 17 12 14 13 11 13 14 15 12
108