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Língua Portuguesa:

Conceitos Gerais
Aula 1
Perspectiva teórica dos
estudos diacrônicos
Professora
Juliana Fogaça Sanches
Simm
Doutoranda em Estudos da Língua
Mestre em Estudos da Linguagem
Especialista em Língua Portuguesa
Objetivos
Abordar como os estudos históricos da língua foram
desenvolvidos ao longo do tempo;
Entender o que são as Leis Fonéticas e Analogia;
Conceituar Diacronia;
Definir Gramática Histórica;
Linguística História e Filologia;
O que estuda esta disciplina
Construto teórico do estudo diacrônico da língua
portuguesa;
Formação da Língua Portuguesa;
Norma e Gramática;
Fonética e Fonologia.
Reflexões históricas sobre a língua
Gramáticas dos Hindus - obras idealizadas a fim de
conservar os textos sagrados para que não sofressem
alterações ao serem citados ou cantados nos rituais.
Descrição do sistema fonético e gramatical dos textos
inseridos no Vedas.
Reflexões históricas sobre a língua
Platão - diálogo Crátilo, dedicado a questões linguísticas;
Nesse diálogo ele debate a questão da origem da língua e
trata da controvérsia entre naturalistas e
convencionalistas: ou seja, haveria, ou não, uma relação
natural entre o significado da
palavra e sua forma?
Reflexões históricas sobre a língua
Período helenístico:
Dois fatores contribuíram para o interesse em estudar a
língua como parte dos estudos literários: (1) o desejo de
tornar acessíveis aos contemporâneos as obras de
Homero, e (2) a preocupação
com o “uso correto” da língua
(pronúncia e gramática) a fim
de preservar o grego clássico
de corrupções.
Reflexões históricas sobre a língua
Romanos - buscaram registrar as peculiaridades
da língua latina, porém de forma mais normativa.
Gramática Lógica de Port-Royal, século XVII –
estabelecimento de princípios não restritos a uma
única língua.
Estudos históricos da língua
Gramática Comparativa: Franz Bopp – comparação entre
línguas, estabelecendo, relações históricas entre elas.
Entre elementos de línguas aparentadas “existem
correspondências sistemáticas (e não apenas aleatórias ou
casuais) em termos de estrutura
gramatical, correspondências
estas passíveis de serem
estabelecidas por meio duma
cuidadosa comparação”
(FARACO, 2005, p. 134).
LATIM FRANCÊS ITALIANO ESPANHOL PORTUGUÊ
S
caput chef capo cabo cabeça
cārus cher caro caro caro
campus champ campo campo campo
cabāllus cheval cavallo caballo cavalo
Leis fonéticas e analogia
Neogramáticos (Séc. XIX) - mudanças fonéticas tinham
um caráter de absoluta regularidade, ou seja, leis que não
admitiam exceções (leis fonéticas).
As aparentes exceções eram atribuídas à intervenção de
um processo gramatical
denominado analogia, pelo qual
elementos da língua tenderiam a
ser regularizados por força de
paradigmas estruturais
hegemônicos.
Exemplo de lei fonética
“Lei do menor esforço" ou "lei da simplifi cação
articulatória“- sempre quando falamos procuramos
deixar a língua mais fácil de ser pronunciada para o
aparelho fonador. Tendência da Língua Portuguesa de
evitar palavras proparoxítonas.
Exemplo: transformação da
palavra latina "óculu"
(proparoxítona) em "olho"
(paroxítona). óculu > oclu > olho.
- perda da vogal "-u-" e a
transformação do encontro
"-cl-" em "-lh-".
Problemas (leis fonéticas e analogia)
A mudança nunca alcança instantaneamente todas as palavras
que contêm o elemento sob mutação;
Não é possível considerar apenas os aspectos estruturais.
Deve-se considerar também os fatores sociais e geográficos.
Fatores que podem quebrar a regularidade das mudanças:
reação negativa dos falantes à
mudança; empréstimos lexicais de
outras línguas; movimentos
populacionais com eventual
alteração na composição étnica e
linguística duma dada população.
Atividade

Veremos logo a seguir que um dos problemas das Leis


Fonéticas e da Analogia é que não é possível que sejam
considerados somente os aspectos estruturais da língua,
ou seja, deve-se considerar
também os fatores sociais e
geográficos.
Por que os fatores sociais e
geográficos também precisam
ser considerados? Enviem suas
justificativas.
Saussure – Surgimento da linguística
Criação de um método para os estudos da
linguagem.
Assim: Saussure (dicotomia:
sincronia x diacronia)
O que é diacronia?
Estudo dos “[...] termos sucessivos que se substituem uns aos
outros no tempo”.
Não há língua que seja “imóvel”;
“[...] todas as partes da língua
estão submetidas a mudanças;
a cada período corresponde uma
evolução mais ou menos
considerável.”
Diacrônico - Histórico
[...] descrição diacrônica de uma língua percorre o
desenvolvimento histórico da mesma e registra
as mudanças que nela ocorreram entre pontos
sucessivos no tempo [...]” (LYONS, 1987, p.26).
A língua não é estática
As línguas mudam com o passar do tempo

Língua – organismo vivo

Objeto de estudo da Linguística


histórica
Toda língua muda
As línguas se modificam por entrarem em contato
umas com as outras.
Hoje em dia, esse fenômeno é facilmente observável,
basta vermos os estrangeirismos e empréstimos
linguísticos em português
oriundos de outras línguas.
Vídeo

Linguística histórica: ciência que revela as mudanças


da língua - Jornal Futura

Fonte:
https://www.youtube.com/watch?v=3N3dcu2
J9nQ
Gramática histórica
Defi nição: “a ciência que estuda os fatos de uma língua, no seu
desenvolvimento sucessivo, desde a origem até a época atual.”
(COUTINHO) .
Importante: postulados fixos, rígidos – leis
GRAMÁTICA HISTÓRICA ≠ GRAMÁTICA DESCRITIVA Gramática
expositiva e descritiva – ocupa-se em
estudar a língua em seu estado atual.
Diferente da gramática histórica, que
busca a origem das línguas, formação,
explica as transformações pela qual a
língua passou, na sua evolução
através do espaço e do tempo.
As gramáticas histórica e descritiva guardam relações
intimas entre si, sendo que uma complementa a outra,
uma vez que, em certos casos, uma irregularidade ou
exceção da gramática descritiva pode ser facilmente
explicada pela histórica.
Exemplo:
Por que as palavras proparoxítonas compõe um
número reduzido no léxico
português?
Qual a explicação
morfológica para as
desinências de gênero e
número no português?
Por que os gramáticos
condenam o verbo auxiliar
TER correlato com HAVER?
Linguística histórica
A Linguística Histórica se concentra no estudo do
desenvolvimento histórico de uma língua: como ela
surgiu, quais línguas influenciaram sua estrutura e
uso, o porquê de suas mudanças no decorrer do
tempo, etc. Além disso, se
preocupa com a reconstrução
de línguas antigas, sejam elas
mortas ou extintas.
Linguística histórica
Surgimento: Fins do século XVIII.
1878 até a publicação do manifesto dos neogramáticos
– período de formação e consolidação do método
comparativo;
1878 até os dias de hoje:
a) Caudatária do estruturalismo
e gerativismo (fatores internos);
b) Fundada nos estudos da
dialetologia e da sociolinguística
(fatores externos).
Filologia
É uma ciência histórica que tem por objeto o
conhecimento das civilizações passadas através dos
documentos escritos que elas nos deixaram: estes nos
permitem compreender e explicar as sociedades antigas.
A filologia estuda, sobretudo, os
testemunhos literários escritos.
(DUBOIS, 1993)
O documental e o experimental:
A documentação possível sobre o passado das línguas
chegou até nós por meio da escrita. Problemas:
a) línguas sem tradição escrita;
b) lacunas documentais;
c) Como depreender a história
da língua falada com bases nos
registros da língua escrita.
Uma das respostas a estes
problemas é o recurso à
experimentação –
reconstituição dos estágios
passados a partir dos estudos
de suas formas atuais.
A questão da historicidade
Ao propor estudar a língua de um ponto de vista histórico, é
preciso um posicionamento crítico:
A multiplicidade dos planos temporais da dinâmica dos
acontecimentos não são totalmente recuperáveis no
plano temporal do conhecimento (linearidade dos
acontecimentos X linearidade
da observação)
Trabalhamos com que o tempo
deixou e não com o que
aconteceu.
Atividade

Em grupos:
Considerando as discussões realizadas nesta aula,
respondam:
É importante que o
professor de língua
portuguesa tenha
formação em linguística
histórica? Por quê?

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