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Série Gênesis – Passos tortos pelo Caminho reto – Mensagem 27

Série Gênesis – Passos tortos pelo Caminho reto – Mensagem 271

Deus é soberano apensar das trapaças humanas – parte 3.


(Texto: Gn 29:13~30)

1. Introdução.

Luiz Vaz de Camões (1524~1580), foi o maior escritor do Classicismo Português e um


dos maiores autores da língua portuguesa. Dentre os seus sonetos, um dos mais famosos
é "Sete anos de pastor Jacó servia".

"Sete anos de pastor Jacob servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,


Dizendo: — Mais servira, se não for a
Para tão longo amor tão curta a vida!"

Camões expressou muito bem todo o enredo da história de hoje. Mais uma vez, apesar
das trapaças humanas, hoje de Labão, Deus é soberano sobre a história, conduzindo
tudo para um fim: a Sua Própria Glória!

2. Exposição do texto. (Gn 24:1~20)



13
Logo que Labão ouviu as notícias acerca de Jacó, seu sobrinho, correu ao seu
encontro, abraçou-o e o beijou. Depois, levou-o para casa, e Jacó contou-lhe tudo o que
havia ocorrido. 14 Então Labão lhe disse: “Você é sangue do meu sangue2”.
Já fazia um mês que Jacó estava na casa de Labão, 15 quando este lhe disse: “Só
por ser meu parente você vai trabalhar de graça? Diga-me qual deve ser o seu salário”.
16
Ora, Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o da mais nova,
Raquel. Lia tinha olhos meigos3, mas Raquel era bonita e atraente. 18 Como Jacó
17

gostava muito de Raquel, disse: “Trabalharei sete anos em troca de Raquel, sua filha
mais nova”.

1
Pregado no MEP dia 26 de setembro de 2010.
2
29.14 Hebraico: meu osso e minha carne.
3
29.17 Ou sem brilho. Segundo Hamilton, in NICOT, a expressão "olhos fracos" deve ser reexaminada. O adjetivo $r
signifique "fraco" em poucos trechos como Gn 33:12 e Dt 20:8. Porém, é mais frequente o seu sentido de "delicado,
frágil, sensível e jovem". Pode significar que Lia tinha lindos olhos como de uma pessoa mais jovem.

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19
Labão respondeu: “Será melhor dá-la a você do que a algum outro homem.
Fique aqui comigo”. 20 Então Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram
poucos dias, pelo tanto que a amava.
21
Então disse Jacó a Labão: “Entregue-me a minha mulher. Cumpri o prazo
previsto e quero deitar-me com ela”.
22
Então Labão reuniu todo o povo daquele lugar e deu uma festa. 23 Mas quando
a noite chegou, deu sua filha Lia a Jacó, e Jacó deitou-se com ela. 24 Labão também
entregou sua serva Zilpa à sua filha, para que ficasse a serviço dela.
25
Quando chegou a manhã, lá estava Lia. Então Jacó disse a Labão: “Que foi
que você me fez? Eu não trabalhei por Raquel? Por que você me enganou?”
26
Labão respondeu: “Aqui não é costume entregar em casamento a filha mais
nova antes da mais velha. 27 Deixe passar esta semana de núpcias e lhe daremos também
a mais nova, em troca de mais sete anos de trabalho”.
28
Jacó concordou. Passou aquela semana de núpcias com Lia, e Labão lhe deu
sua filha Raquel por mulher. 29 Labão deu a Raquel sua serva Bila, para que ficasse a
serviço dela. 30 Jacó deitou-se também com Raquel, que era a sua preferida. E trabalhou
para Labão outros sete anos.

1. Chegada à Harã.

Depois de um longa jornada, finalmente, Jacó chegou ao seu destino. Deslocando-se


para o Leste, ele chegou em Harã. Uma das primeiras pessoas que ele encontrou ao
chegar lá foi Raquel, justamente a filha mais nova de Labrão, irmão de Rebeca, ou seja,
seu tio. Esse encontro é relatado como introdução ao trecho que lemos hoje, dos vss.
1~13 desse capítulo.

Ao saber quem Jacó era, Raquel correu para anunciar ao seu pai a notícia: seu sobrinho
estava lá. Sabendo disso, Jacó foi recebido e ficou na casa de seu tio por um mês.

2. A oferta de Labão.

"Já fazia um mês que Jacó estava na casa de Labão, quando este lhe disse: “Só por ser
meu parente você vai trabalhar de graça? Diga-me qual deve ser o seu salário”." (vss.
14, 15).

Imagine o que é viver na casa de um parente, durante um mês, sem fazer nada para
ajudá-lo só vivendo às custas dele. Parece que isso incomodou Jacó a tal ponto que ele
começou a ajudar seu tio nos afazeres da casa e também de sua propriedade. Vendo que
durante um mês ele estava ajudando, Labão chamou Jacó para lhe fazer a oferta: "Não é
justo que você trabalhe de graça para mim: me diga o que você quer como salário".

À primeira vista pareceu um ato muito nobre de Labão oferecer uma recompensa pelo
trabalho de seu sobrinho. Jacó tinha a chance de construir a sua própria vida. Porém, o
que Jacó queria não era dinheiro e nem riqueza, mas o amor de uma mulher: Raquel, por
quem ele estava apaixonado.

3. Resposta à oferta.

"Ora, Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o da mais nova, Raquel.

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Lia tinha olhos meigos, mas Raquel era bonita e atraente." (vss. 16, 17).

Aqui, nos vss. 16 e 17, o narrador da história faz um pequeno parêntesis para identificar
as duas mulheres que vão ser personagens chaves nessa história: Raque e Lia. A
começar por Lia, a Bíblia descreve ela como sendo a irmã mais velha de Raquel.
Também ela é descrita como tendo "olhos meigos". Algumas versões como a A21
traduzem essa parte como Lia tendo "olhos sem brilho". Outras versões porém mantém
o "meigo" nos sentido de que Lia tinha olhos que lhe aparentavam como sendo mais
nova. Porém, Raquel, por quem Jacó havia se apaixonado, é descrita como sento "bonita
e atraente".

"Como Jacó gostava muito de Raquel, disse: “Trabalharei sete anos em troca de Raquel,
sua filha mais nova”. Labão respondeu: “Será melhor dá-la a você do que a algum
outro homem. Fique aqui comigo”. Então Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe
pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava." (vss. 18~20)

"Como Jacó gostava muito de Raquel", ele propôs um acordo. Ele trabalharia para o seu
tio Labão por sete anos para ter o direito de se casar com sua amada. Na antiguidade,
não se tinha uma visão tão romântica de um casamento. Era como um negócio. A
família no noivo geralmente fazia uma compensação financeira para a família da noiva,
o que hoje conhecemos como dote. Porém, Jacó não estava na situação de recorrer à sua
família lá em Canaã, em Berseba, para se casar com Raquel. O que Jacó podia oferecer
era o seu próprio trabalho: ele trabalharia como um servo de seu tio.

Jacó, assim, propôs a seu tio sete anos pela mão de sua filha mais nova. Labão
respondeu: "Labão respondeu: “Será melhor dá-la a você do que a algum outro homem.
Fique aqui comigo”" (vr. 19). É muito interessante que embora Jacó tenha especificado
qual das filhas ele queria, Labão dá uma resposta muito geral dizendo que seria melhor
"dá-la". Aqui vemos que, provavelmente, Labão sabia muito bem o que estava fazendo.
Jacó estava começando a provar de seu próprio veneno. Ele estava começando a ser
tratado nas mãos de Deus.

"Então Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo
tanto que a amava." (vr. 20). Talvez essa seja a declaração mais apaixonada de todo o
livro do Gênesis. Por causa do amor que ele sentia por Raquel, Jacó trabalhou duro por
sete anos que lhe pareciam mais com sete dias. É, o amor tem essa magia: ela supera a
barreira do tempo. O amor gera uma esperança tão viva que é capaz de "enganar" o
coração. Sete anos se passaram: todos os dias trabalhando com uma idéia fixa, ou seja,
conseguir a mão de Raquel!

4. A trapaça: a mais velha pela mais nova.

"Então disse Jacó a Labão: “Entregue-me a minha mulher. Cumpri o prazo previsto e
quero deitar-me com ela”." (vr. 21). No dialogo anterior, quem começou a conversa foi
Labão, porque ele, provavelmente, estava interessado em casar as suas duas filhas com
Jacó. Agora, quem abre a conversa é Jacó, aquele que mais está interessado em casar-se
com Raquel, apenas Raquel!

Cumpridos os anos de trabalho, Jacó foi a Labão cobrar pelo acordo feito sete anos
antes: "agora, tio, quero Raquel para casar!". Sem um "por favor" sequer, Jacó cobrou

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pela mão de Raquel, afinal, depois de sete anos, ele tinha conquistado o direito de casar-
se com ela.

"Então Labão reuniu todo o povo daquele lugar e deu uma festa." (vr. 22). Cumprindo
o acordo, Labão convoca todos para a grande festa de casamento. As festas de
casamento na antiguidade duravam cerca de uma semana. Quando todos estavam
alegres e bêbados, incluindo Jacó, começou a entrar em ação o plano de Labão: "Mas
quando a noite chegou, deu sua filha Lia a Jacó, e Jacó deitou-se com ela." (vr. 23).

Que trapaça é essa? É semelhante às aquelas feitas por Jacó com seu pai e seu irmão
mais velho. Quando chegou a hora H, Jacó não percebeu que quem estava lá na cama
era Lia e não a sua amada Raquel. Você pode perguntar como Jacó podia ter feito
aquilo? Como ele não desconfiou de nada? Era tarde da noite, não havia iluminação
como hoje, e provavelmente Jacó estava bêbado para perceber quem, de fato, estava
debaixo das cobertas. O fato é que quando Jacó acordou de manhã, ele percebeu que
havia "enfiado o pé na Jaca":

"Labão também entregou sua serva Zilpa à sua filha, para que ficasse a serviço dela.
Quando chegou a manhã, lá estava Lia" (vr. 24). Como presente, que também era o
costume da época, Labão ofereceu junto com Lia uma serva, a Zilpa.

Jacó ficou completamente furioso: "Então Jacó disse a Labão: “Que foi que você me
fez? Eu não trabalhei por Raquel? Por que você me enganou?”" (vr. 25). Sete anos
para nada! Era isso que Jacó podia ter sentido! O que deve ter deixado Jacó ainda mais
irado foi a resposta de seu tio Labão: "Labão respondeu: “Aqui não é costume entregar
em casamento a filha mais nova antes da mais velha. Deixe passar esta semana de
núpcias e lhe daremos também a mais nova, em troca de mais sete anos de trabalho”."
(vss. 26,27)

Por que, se o costume era esse, Labão não deixou claro tudo no começo? Simples!
Labão queria mesmo era passar a perna em Jacó! É muito interessante notar que da
mesma maneira que a trapaça de Jacó consistia em ser o primogênito, Jacó acaba tendo
que casar com a filha mais velha daquela família. Meus irmãos, aqui temos uma lição
muito importante: embora Jacó tivesse tido um encontro com Deus, embora ele tivesse
sido escolhido pelo Senhor, isso não significava que ele estava imune à justiça de Deus.
Da mesma forma que ele trapaceou sua família, agora ele era a vitima. O pecado sempre
traz as suas conseqüências. O que Deus pode anular é o pecado, mas as conseqüências
ficam para nos ensinar a não mais fazer a mesma coisa! Deus nos disciplina porque nos
ama:

"“Escolhi apenas vocês


de todas as famílias da terra;
por isso eu os castigarei
por todas as suas maldades”." (Am 3:2)

"“Meu filho, não despreze


a disciplina do Senhor,
nem se magoe
com a sua repreensão,
pois o Senhor disciplina

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a quem ama,
e castiga todo aquele
a quem aceita como filho”" (Hb 12:5,6)

5. Mais sete anos...

"Jacó concordou. Passou aquela semana de núpcias com Lia, e Labão lhe deu sua filha
Raquel por mulher. Labão deu a Raquel sua serva Bila, para que ficasse a serviço dela.
Jacó deitou-se também com Raquel, que era a sua preferida. E trabalhou para Labão
outros sete anos." (vss. 28~30)

Labão ofereceu Raquel, porém, por troca de mais sete anos. E Jacó concordou. Eu acho
que Jacó, nesse momento, se lembrou de tudo o que fizera. Por isso, não teve como
recusar a proposta. Também, o que levou Jacó a dizer "sim", foi o seu amor,
incondicional a Raquel, a quem "ele amava mais" (vr. 30 A21).

Depois que terminou a semana de celebração do casamento, Jacó casou-se com Raquel.
Da mesma maneira que Zilpa foi dada por Labão como presente de casamento, agora
Bila é dada como serva de Raquel. Porém, Raquel só tornou-se esposa de Jacó com a
promessa de mais sete anos de trabalho, sete anos que Jacó cumpriu até o fim.
Calculando, foram quatorze anos gastos por uma mulher!

Um belo final para essa história seria: "e viveram felizes para sempre". Porém, por
Raquel ser a "preferida" de Jacó, muitos problemas ainda estourariam. Mas isso fica
para os próximos capítulos.

Conclusão:

Quais são as lições que podemos extrair dessa história? Primeiramente, Deus não exime
dos seus escolhidos a conseqüência de seus pecados. A justiça de Deus não se trata no
esquecimento e anulação dessas conseqüências. Tais conseqüências são meios que Ele
usa para nos corrigir e disciplinar. Se Deus nos disciplina, é porque Ele nos ama.

Em segundo lugar, Deus é soberano apesar das trapaças humanas! Depois de toda essa
história, como Jacó casou-se sem querer com Lia, é dela que saem as tribos mais
importantes de Israel: Levi e Judá. E da tribo de Judá, quem é que vem ao mundo?
Jesus! Não somente isso, Zilpa e Bila, inicialmente servas, se tornaram concubinas de
Jacó fazendo-se cumprir a promessa divina que Jacó será pai de muitos descendentes.
Pode parecer que toda a trama do enredo saiu do controle, porém, no final, vemos que
Deus estava sim no controle soberanos de todas as coisas! Para Ele, nada é surpresa. Por
isso, podemos ter a mais absoluta certeza de que ele também nos levará a um bom fim.

Em terceiro lugar, podemos ver a força do paixão. Quatorze anos de trabalho por uma
mulher. Mas essa paixão que levou a tanto, também produziria mais problema na frente.
A preferência exagerada e descarada que Jacó dava a Raquel, seria uma grade pedra de
tropeço para Jacó mesmo no decorrer na narrativa de Genesis. Isso nos mostra que o
verdadeiro amor não deve ser cego, mas sim, sábio, equilibrado.

Porém, Jacó ainda teria uma longa jornada com Deus, mas isso fica para o próximo
capítulo!

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