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O referencialismo inclusive está presente na obra de um importante autor criticado por wittgenstein:

ele mesmo em sua obra anterior, o tractatus logico philosofico. Como já foi discutido aqui, no
tractatus, apesar de Wittgenstein reconhecer uma mediação inexoravel da línguagem com a
realidade, que ele chama de teoria da figuração. Pintamos os fatos, mas ainda assim os fatos
existem, ontologicamente independentes do fenômeno da linguagem. Em sua afirmação mais
básica, “figuramos os fatos”, está pressuposta outra, a de que existem “fatos” para serem figurados.
Pressupõe então uma ligação entre linguagem e mundo, sendo os “fatos” e a “figuração” fenômenos
diferentes.

Ainda que apareça em Tractatus, esta concepção chamada aqui “referencial” tem reverberações
muito, muito mais amplas na modernidade.

Ele usa as definições ostensivas como o exemplo mais cabal da função “referencial” do significado.
Recorrendo à ostensão, como argumentam seus defensores, somos capazes de atribuir sentido aos
objetos sem passar pelo crivo da linguagem. Quando uma pessoa aponta um objeto para a outra,
ambas estão se relacionando de forma imediata com essa coisa, de uma forma livre das distorções
que alguns filósofos da linguagem insistem em apontar.

A crítica de Wittgenstein a este conceito é contundente. A definição ostensiva, por mais ostensiva
que seja pressupõe o uso de linguagem prévia a ela. Ao afirmar que “certos processos mentais
definidos parecem inseparáveis do funcionamento da

A linguagem é para definir processos mentais individuais. Sendo um instrumento para a


compreensão, mas cujo principal agente é a “razão”. Dotado de razão, cada indivíduo é capaz de
apreender objetivamente os fatos à sua volta, basta acioná-la. Não só à sua volta, mas os fatos
dentro de si, suas verdades introspectivas, mais do que ninguém. Institui-se aqui o liberalismo, o
individualismo, o cientificismo, e os demais “ismos” da modernidade.

O individualismo, pois vê o ser humano individual como ponto de partida do conceito. Sendo cada
qual seu universo, soberano. O liberalismo, pois cada indivíduo tem liberdade como o mais
significativo de seus direitos naturais, sendo um governo justo aquele que garanta e não interfira nas
“liberdades individuais”. O extenso poder adquirido pela ciência em detrimento das outras formas
de conhecimento também é derivado nessa função atribuida à racionalidade de representar (por
meio da linguagem) as coisas tal qual elas são.

Tão grandes os impactos, que toda crítica aos fundamentos da modernidade têm que passar por esta
noção, de Kant à critica à razão pura, marx em sua crítica ao fetichismo burguês e agora
wittgenstein em sua crítica à “linguagem privada”.

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