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Eric J. Hobsbawm DA REVOLUGAO INDUSTRIAL INGLESA AO IMPERIALISMO 5 edigio Tradugao de: Donaldson Magalhies Garschagen Reviséio técnica de: Francisco Rego Chaves Femandes Selegtio e coordenagdo de: Femando Lopes de Almeida Francisco Rego Chaves Femandes tetra nfo constitafam uma forga politica vidvel na nagio. Ademais, fia. déeada de 1840_ 0s. fazendeiros reptesentavam_visivelmente um grupo minoritério, Néo ocupavam mais que um quarto da popule~ Gio e sun contribuigio para a renda nacional exa menor ainda, Quan fo a nobreza abandonoa a agricultura —~ como acontecex em 1846, f ainda mais clasamente em 1879 — mdo quanto restou foi um gru- fo de pressio. minoritério, epoiado por wm bloco de membros do Parlamento de menor importincia e amantes da caga A raposa NOTAS cit Lanted Sock the Elsheeni Conary C98, dh uma, isto me coe yi Lye eo: ne itn 100 6 INDUSTRIALIZACAO: A SEGUNDA FASE (1840-1895)* ‘A primeisa fase da industrializagio britinica, baseada nos ex tels, chegara a seus limites ou patecia estar prestes a fazélo. Feliz. mente, estava iminente o advento de uma nova fase do industrialis ‘mo, que proporcionaria alicerces muito mais fitmes pata o ctescimento cecondmico: a baseada nas indistrias de bens de capital, no catvio, no fetro e no ago. A era da crise do industrialismo téxtil foi a era da chegada do carvio € do ferro, a era da ‘construgio {errovidtia. Havia pora tanto duas razBes convergentes. A primeita foi a crescente indusirializagio do resto do mundo, ctiando um mercado em répido crescimento para aquele tipo de bens de capital que no podia ser importado em qualquer quantidade salvo da “oficina mech fica do mundo” e que ainda no podia ser produzido em quantidade suficiente internsmente. Em nenhuma outra época, enterior ou pos- terior, a taxa de crescimento das exportagdes britfnicas aumentou tan- to* como entre 1840 © 1860, sendo muito maior do que a verificada tno petiodo pioneito do algodio, 1780-1800, E dentro daqueles dois decénios sobtessai o petiodo 1845.55, quando « venda de produtos brivinicos no etxetior ctesceu a uma taxa de 7,3% ao ano. Essa ex- plosio das exportsedes beneficiou sobretudo os novos bens de capi- ‘tal, que em 1840-42 constitu‘am cerca de 119% do valor das expor- tages britinicas de manufaturados; em 1857-59 essa proporgio subi- ra para 22% e em 1882-84 para 279%. Entre 1840-42 € 1857-59 as exportagdes de carvio passaram de menos de 750.000 libras mais de 3 milhdes; as de ferro ¢ ago subiram de 3 milhées para mais de 13 milhdes, enquanto as de slgodio cresciam mais Jentamen~ te, muito embora quase dobrassem. Em 1873 situavamse, respecti> * Isto ¢, em relacio ao tamanho da populacto britiniea. Cf, W. Sehlote, British Overseas Trade (Oxford, 1952), pigs. 41-42. 101 vamente, ci £ 13,2 milhes, £ 37,4 milhoes © £774 milhes. A evelugio operada hos trrsportes pela estrada de ferro ¢ pela nave- gasio a vapor, importsntes mercaclos pare a3 exportagies britinicas de ferro, aso ¢ carvao, deu ainda outro impulso & aberwura de novos mercados € & expansio dos antigos.* "A segunda tazio, entretanto, pouco tinha a ver com o crescimen- to da demanda: foi a pressdo das cada vez mais ‘vastas acumulagdes de capital paca investimento lecrativo, ilustrado a perfeigio pela cons- trugio das estradas de ferre. . Eare 1830 ¢ 1850 foram construfdos na Gra-Bretanha cerca de 9.650 kin de estradas de ferro, sobreiudo em decorréncia de duas manifestagGes extraordindtias de investimento concentrado € continua- ddo de construgio — a pequena “mania ferrovidtia” de 1835-37 € a gigentesca de 1845-47, De fato, em 1830 a rede bisica de estradas de ferro praticamente ja existia na GraBretanha. Em todos os sen- tidos, tratouse de uma transformagao revolucionéria — mais ainda, 2 sui manera, gue a expansio da indGstia elgodoera, pois represene tava uma fase de industrializagio muito mais avangada e que afetava a vida do cidadda comum, mesmo dos que viviam fora das dreas re- lativamente pequenas onde se localizavam as fabricas.. Essa transfor magio foi alcangé-io em algumas das drexs mais remotas do, interior fe nos centros das grandes cidades. Ela alictou a velocidade do movi- ‘mento — na verdade, da vida humana — pois que, de algumas milhas ppor hore passou a scr medids em dezenas de milhas horérias, © fez ‘surgir © conceito de uma rotina entrelagadora que ea ee gantesca, nzcional, complexa e exata — simbolizada i Kati dc ene. Es termaio sevedou poses do sso técnico como nada fizera até entio, pois era ao mesmo ter puma avancada que a maioria des outras formas de atividade técni- 52 onipresente, As fibricas de tecidos de 1800 jé eram obsolete 2m 1840; em 1850, porém, as estradas de ferro jd haviam atingis sum padiio de desempenko que $6 melhoraria substancialmente em smeados do sée. XX, com 0 ahandono do vapor; sat organizagio e seus ‘méiodos fo tinham paralelos em nenhuma outa atividade; c nio hhavia precedentes pata a manciza como utlizavam tesnologis noves © clentificas (como o telégrafo eléttico). As esitadas de ferro parec aetar varias geragbes a frente do resto da economia, e na verdade ‘© Principals exportagdes como percentage das exportugies totais, 1830-70: 183018501870 Fos ¢ artigos de algodio eI Ontrs proton textes ws Ferra, ago, maguinaria, veteu ag th Carvio, conve 102 estrada de ferro” tornou-se uma espécie de sindnimo de ultramode:- nidade na década de 1840, como “atdmico” seria depois da UL Guetta Mundial. © simples tamanho ¢ escala das estradas de ferro tonteava 4 imaginagio © apequcnava as mais colossais obras piblicas do passade. Embora seja natural supor que esse extraordinirio desenvolvimer- to refletisse as necessidades de transporte de uma economia indus. trial, pelo menos durante algum tempo tal néo sucedia. A maior pat te do pais tinha fécil acesso a transporte aquitico, por mut, rios ou canais,* © 0 wansporte hidrovidrio era entio — e rinda é — de lor ge 0 mais baraio para mercodorics a granel. A vclocidade tinha im portiocia relativamente secundaria para bens nio-pereciveis, desde que se mantivesse um fluxo regular de abastecimento, © os bens pe reciveis resiringiam-se praticemente aos. produtos agricolas pescado. 1h nenhum indicio de que dificaldades de transporte prejudi sein setiamente 0 desenvolvimento da indhtsivia em geral, embora i350 claramente acontecesse em determinados casos. Por outto lado, mui tas estradas construfdes etam e continuaram a ser inteiramente irts cionais segundo quaisquer critérios de wanspozte; conseqiientement= jamais readeram mais que lucros modestos, se tanto. Isso estava per. feitamente claro na época, ¢ na verdade, economistas como J. R. Me- Galloch mostearam-se publicamente cétices com relagio 4 maior par te das linhas construidas, com exeegio de algumas que transportavam produtos muito pesados, ‘antecipando assim em mais de um século as propostas de tacionalizacio da décads de 1960. Evidentementc, foram necessidades de transporte que detam oti gem estrada de ferro. Eta racional puxar vagonctes de carvio pot ‘cartis, da boca da mina até um canal ou vm tio, eta tacional pie Jos com méquinas a vapor estaciondriss, e era sensato inventar ums méquina a vapor mével (a locomotiva), que os arrastasse ou emput rasse. Fazia sentido ligat uma mina de carvio, distante de tios, até 4 costa por meio de uma longa fertovia de Darlington a Stockton (1825), uma vez que os clevados custos de consirugao dessa linha seriam mais que compensados pelas vendas de carvéo que ela possi bilitaria, mesmo que seus proprios luctos fossem modestos.** Os sir gazes quakers que reuniram o dinheico necessério tinham radio; a lk nba pegou 2,5% em 1826, 8,0% em 1832-33 e 15% em 1839-41 Uma vee demonstracla a viabilidade de uma estrada de ferro iucrati- va, era natuzal que outros grupos fora das reas de mineracio, ou, ‘mais precisamente, fora des minas de catvio do nordeste, copiassem wm ponto do pais fica a mais de 110 ke do mar e todas as Areas salvo algumas partes das Midlands, fieam bem mais proximas, s+ A linha Stockton-Darlington ainda fol operada.inicialmente como uma verdadeira estrada, ow seja, apenas fomecia os trilhos pare quem quisesse fazer corver um tem por eles, pagando uma taxa, 103 ¢ methorassem a idéia, como os mercadores de Liverpool ¢ Manches- ter ¢ scus financiadores de Londres, que perceberam as vantagens — ‘para os investidores ¢ para Lancashire — de quebrar © gargalo de tum canal a precos monopolistas. (Em scu tempo, alids, @ canal fora construido por motivos muito semelhantes}. Também tinhem razio, A linha Liverpool-Manchester (1830) cstava virtualmente limitada um dividendo maximo de 10% ¢ nao encontrou dificuldade para pagilo. TE essa, a primeira das estradas de ferro gerais, por seu tur- no inspirou outros investidores e homens de negécios ansiosos por expandir 0 comércio de sues cidades © conseguit um retorno adequa- do para seu capital. Entretanto, somente ama pequena fracdo dos £240 milhoes investidos em esttadas de ferro em 1850 tinha justi- ficativas assim racionais. ‘A maior parte desse dinheito investido nas ferrovias ndo deixou vestigios, pois na década de 1830 havia uma enorme acumulagio de capital queimando os bolsos de scus proprictétios — buscando quais- quer investimentos que prometessem rendimento maior que os 3,49% los titulos piiblicos.* Na década seguinte, 0 excedente anual gue as: sim clamava por scr investido, era estimado em £60 milhdes, ow ‘quase 0 dobro do valor estimado do capital total da indisttia algo- docira em meados da década de 1830. A economia simplesmente nic tinha como absorver um investimento industrial dessa _magnitude, © na verdade a crescente disposigio de empresitios calculistas em me- ter as mvios nos bolsos para fazer despesas em nada Iucrativas (como, Bor exemplo, 0s glgateicos, medoohos ¢ carksimos edifcos de pre feitures que as cidades do ‘notte comesarain a usar como arma em suas guerras de rivalidades, depois de 1848), atesta no s6 sua cres ente riqueza, como também suas poupansas cada vez maiores, em excesso ao que as inciistrigs Ioeais necessitavam para reinvestimento. O mais ébvio escoadouro disponivel gue havia para esse excedente de capital era 0 investimento no exterior, e é provével que as exportages de capital superassem as imporiagdes de capital mesmo ao fim do sé. XVIII. As guerras permitiram empréstimos aos aliados da Gri-Bre- ‘tanha, o pésguerra empréstimos para restaurar governos reaciondtios continentais. Tais operagies etam ao, menos previsfveis, porém a si- fra de empréstimos levantados na década de 1820 para recéminde- pendentes paises latino-americanos e balcinicos nada tinka de previ- sivel. Tampouco foram os empréstimos da década seguinte, concedi- dos a tomadores igualmente entusiastas ¢ pouco iddneos entre os Es- tados norte-americanos. A essa altura, no entanto, um mimero muito arande de investidores’havia queimado os dedos para estarem dispos- +” Na realidade, os retormos das estradas de ferro acabaram por se estabilizar ~ 6 fato nio pode deixar do ser sigaificativo — tum pouce acima do titulo piblico, eu se, numa média de aproximadamente 4% 104 tos a estimular novas evasdes de capital para os bolsos de adminis dores estrangeiros. O dinheiro que o britdnico abastedo tinha “em sua juventude... atitado a empréstimos de guerra © em sua idade adulta desperdigado nas minas sulamericanis”, *aquela acumulasio de riqueza que um povo industrial sempre suplanta os métodos d= investiméato ordinitios” (Para usarmos as palavras de um historie dor das estradas de ferro)? aguele dinheiso estava pronto pata se investido na Gri-Bretanha,’ onde o retorao era gorantido. A rigot le tomou o caminho das estradas de ferro por falta de qualquer coist que tivesse a mesma capicidade de absorver capital, © transformou Juma valioss inovasio nos transportes num importante programa mi ional_de inyestimento do capital, Como de hébito acontece em iempos de exeesso de capital, de parte desse dinheiro foi investide de mancisa temeritia, € até insana. Os ingleses com excedentes, encorajados por projetist empreiteiros ¢ outros, cujos lucros exam ganhos ajo administtando estradas de ferro, ¢ sim consttuindoas ou plancjando-as, no se dei xavam amedrontar pelos custos extraordinariamente inflados das tradas de ferro, que tornavam a capitalizagio por milha de linha, Unglaterza ¢ no Pais de Gales, trés vezes maior do que na Prisis, cinco vezes maior do que nos Estados Unidos ¢ sete vezes maior do que na Suécia,* Grande parte do capital perdeu'se nas recessOet ue se seguiam is “manias ferrovidrias", Grande parte talvez tenha sido atraido menos por cilculos tacionais de Iuero © prejulao do que pela atragio romintica da revolugio tecnolégica, que a estrada de feo simbolizava com tamanha perfeigio, e que trazia & tona 0 que havia de sonhador (ov, em tcrmos ecoadmicos, de espetacular; em tctmos mundanos,de jogador) em cidaddos em tudo o mais circunspectos. Ainda assim, o dinheiro estava Id para ser gasto, ¢ se ao fim das €00- tas nfo rendeu muito em matéria de lucros, produzin algo mais vt liso: um novo sistema de transportes, um novo meio de mobili @ acumulagéo de capital de todos os tipos para fins industriais, ¢, ack ma de tudo, uma nova © vasta fone de emprego que representoy, ademais, um duradouro estimulo as atividades nacionais de bens de capital. Do ponto de vista de investidor individual, as estradas de fetro nfo passavam, com freqiiéncia, de outra versio dos emprést- ‘mos aos Estados Unidos. Do ponto de vista da economia em conjus- to, elas constitufram — mais por sorte que por deliberacio — uma solugio admirivel para a crise da primeira fase do capitalismo britt- nico. Em breve setiam suplementadas pelo navio a vapor, uma forma gran ® AS dospesas © custos legais preliminares eram estimados em £ 4,000 por ‘milha de Tinka, ‘© custo da terra na década de 1840 posia atingir £ 8000 por milha, $6 a desapropriagio de terrenos para a linha Londres-Birmingham ‘eustou £ 750.000, 105 ‘vex nos Estavlos Unidos nes pti- 0 nha sido expt de compete - i ais cficiente, até sobrevie a trans- iamente com o yeleiro, cada ve“ 7 ra formagan revoluciondria na estrutura dé bens de capital da ecor is ferrovias.* a i en ot sapesor #200 ia tha: invest nso, 84e4S) pare ceea de 200. rep se (se ope Lea tty pessone; & um esti nay esttades de ferz0 coube a maior par mpage de sc da. produnio patna de feo ee meados da década de 1830 ¢ meados da década ae 15408 1s mt se glo 18i5-47 —~ eoneribolam com talver 4070 de cod o" comune nacional, gue se eteiliu postriomente em 15% da producto, Ese essenimico esti Se aster do. seo ue a sconomia.pusivs Pe gportuno. Fora di Gri Betanha: om earn anit exper, de Dens de apa pt a ccs: io de estradas de ferto no exterior. ywlais Iron a a rs ee Uaees $50 € 1850 founeca ferco para 12 estradas de erro britanicas ¢ 16 estrangeirs Aiainds TEM, Bae anvetas g esgotou com a década de 1840. Gontudo, 0 estiulo nfo rovios eM odo © mundo continsos em sees vex maior, pelo menos até a década de 1880, como mostra SF apsies date ferzo eram construidis em grande ixoy a8 entradas de onstr Hi 9 aoa couse equmenton britnios, e mes ve z¢8 por empreiteitos. britiicos: ale transporte weniady pela prime meiros anos do séaulo, mas que CONSTRUCAO MUNDIAL DE ESTRADAS DE FERRO, POR DECADA an ee i : = er ie Ge 28 49 ee ee constr anual cle barcon a, vapor Lae TS a, ro. te, ‘nivel anual de 10,000 t; em 1855, ne eee pte ee Secale em volte), na cada do phfetanio, embora ama tones de cave eae navies se naais que uma de velef0, também produzia mais de a Sapo casas mais que ame de YO crag, meal, Const Ate mendos da década do, 1830 rarumente excedeu 3.000 toneladass 106 Essa extraordinéria expansio foi reflexo de dois processos pari- Jelos, a indusitializagao nos paises “adiantados” e a abertura econd- mica das. diceas subdesenvolvidas, que transformaram o mundo nesses decénios vitorianos, fazendo com que a Alemanha* e os Estados Uni- dos logo se tornassern economias industziais comparéveis 4 britanica, abrindo areas como as pradarias norte-americanas, os pampas sul-ame- Ficanos ¢ as esepes do sul da Risisa para a agricultura, quebrando com esquadras a objesio da China e do Japgo ao comércio exterior ¢ langando os alicerces de economias tropicais e subtropicais baseadas tna exportacio dos produtos minerais e lavouras. As. conseqiiencias dessas, mudangas nao foram sentidas na GriBretanha senio 276s a ctise da década de 1870. Até entio scus principais efeitos eram pi tentemente benéficos ao maior (e em muitas partes do mundo, o Jinico) exportador de produtos industriais e de capital (ver Cap. 7). Podemos linhar trés conseqiigncias dessa mudange na orients. ‘so da economia brittnica. A primeira é a Revolugio Industrial na indistria pesada, que pela primeira ver suptin a economia com ferro em abunddneia e, mais importante ainda, com ago (que até entéo tinha sido produzide atr vés de métodos um tanto antiquades ¢ em quantidades insigaific cantes):** PRODUGAO DE FERRO GUSA, ACO E CARVAO (em 1,000 1) Ano Ferro gusa Avo Carsaey 1850 2.250 ” «9.000 1880, 7.750 1.440 147/000 © aumento da producio de carvio foi obtido basicamente atte vés de métodos aatigos, ou seja, sem qualquer utilizacao significativa de processos poupadores de mio-de-obra, o que significou que a ex- panséo da producio de carvio acarretou um enorme aumento do nt- mero de mineiros. Em 1850 havia am pouco mais de 200,000 mi- ngiros na Gri-Bretanha, por volta de 1880 cerca de 500.000 © em méquines € voiculos ete, setores profundamente afetados pela revolucto ferre: vidria, aumentou quase 40% entre 1841 © 1851. ‘Ou melhor, a tea que se transformou nz Alemanha em 1871 Em, 1850 produedo total de aco do mundo ocklental no fers chessdo ‘2-mais de 70,000 toneladas. A Gra-Brelanha Toi rexponsivel por cinco séiimos esse volume. 107 1914 muito uals de 1.200.000, trabalhando em sproximadamente 5.000 mings, ou quase tantos quanto toda a populagio agricola ¢ Guanto os trabalhadores da réxtil (homens © mulheres). Isto vitia teflletirse néo s6 no caréter do movimento trabalhista britinico, como: também na politica nacional, pois 0s mineixos, concentrados em aglo- meragées de aldcias pertencentes a uma tnica laboragio, cram an fos poucos grupos de tabalhacores manuais — e, no interior aoa ea tinicos — capazes de selar @ sorte de bancadas pirlamentares, O fato de o Congreso dos Sindicatos haver, jf na dé- Pda de. 1890, subscrito 0 slogan socialista da nacionalizago da ic- Giseria deveu-te em grande parte & pressio dos minciros, que por sua parte se devia 4 sua insatisiacio, geral ¢ amplamente justificada, ¢ provocada sobretudo pela itresponsabilidade ctiminosa dos proprieti- rios das minas pela seguranga © saide de seus homens naquela higu- ree assassina ocupagio.* » Ounce ee) produgio de ferro devew-se também a me- Ihorias em nada revolucionérias — principalmente a um notével au- mento na capacidade ot produtividede dos alcosfornos, os quais, aids, tendiam a manter a capacidade da atividade muito além de sua pro- ‘glo real, 0 que gerava uma tendéncia constante para baixa do preso do ferro, sinda que o produto sofeesse também amplas variagées de preco pot outros motivos: em meados da déceda de 1880 a produ- Gio britinies real era bastante inferior @ metede da capacidade po- rencial. . . "Par outro lado, a pradugio de ago foi, revolucionada pela inven- cio do conversor Bessemer em 1850, pela fornalha tipo: ‘Siemens-Mar- fin na década de 1860 c pelo processo bisico na década de 1870. A nova. possbilidade de produgio de ago em massa fez recradescer 0 Impulso geral dado pelos transportes a indistria de bens de capital, pols ti logo 0 ago comegou @ ser produzido em grande quantidade feve inicio um processo generalizado para substituigio do ferro, me- nnos dutavel. Isso fez com que as estradas de ferro, 03 navios a vapor etc. reocbessem, na verdade, dois insumos de ferro em pouco mais de wma gecagio. Como a produtividede por homem nessas atividades Creseesse acentuadamente, e de qualquer forma elas nunca exigissem grande volume de miodeobra, o efeito no emprego nio foi muito grande. Todavia, tal como a inddstria do carvdo e, naturalmeate, tal ‘como a vasta expansdo dos transportes que acompanhou a expansao- do ferro, do ago e do carvio, clas proporcionaram emprego para gente FGerca de mil mineicos morreram por ano em acidentes, no periodo 1856-86, havendo oeasionalimente grandes desasires, como o3 de High Blantyre {200 mortos, 1877), Haydack (189. morios, 1878), Ebbw Vale @2o8 mortoe, 1878), Risea (120 mortos, 1880), Seaham (164 mortos, 1880) e Pen-y-Craiy (101 octet, 1880) 108 que até eatio tinha dificaldade em conseguit trabalho: érabalhadores sem qualificago mobilizados entre a populagio agricola excedente (britfnica © irlandesa). Por conseguinte, a expansio dessas ativida- des teve utilidade ddplice: proporcionoa & mio-de-obsa desqualificada trabalho com melhor remuneracéo ¢, reduzindo o excedente agricola, ‘melhorou a situacio dos restantes trabalhadotes rurais, que comegou a melhorar nitidamente, de modo até espetacular, na déeada de 1850.* Contudo, a ascensio do setor de bens de capital proporcionoa estimulo .semelhante para o emprego de mao-de-obra quililicads no enorme inctemento da indiistria mceinica, construgio de méquinas, aavios etc. O numero de trabalhadores nesse setor também dobrou entre 1851 € 1881 ¢, 20 conttatio do que aconteceu com 0 carvio 9 ferro, tem continuado a crescer desde entao. Em 1914, os meta Krgicos coustitulam a maior categoria isolada de trabclhadores (ho- mens) na Gra-Bretanha, sendo consideravelmente mais numerosos que todos 0s trabalhadores, homens e mulheres, na téxtil, Assim, eles vie- tam reforgar substancielmente uma arisiocracia de miode-obra que se considerava. — com rizio — em condigées muito melhores da ‘que 0 grosso da classe itabalhadora.. E evidente, pois, que a segunda conseqiiéncia dessa nova era foi ‘uma seasivel melhotia do nivel de emprego em geral, ¢ uma transfer seoca em grinde cscala de saodeckea pam ocupesics, mais bom renmunetadas. Isto explica em gtandé parte 1 idéia goral de uma me- Ihoria do padrdo de vide c's redueio da tcnsi socal durante or anos Gureos de meddos do reinado da Rainha Vitéria, pois © salivio real de muitas catggorias de trabalhadores nfo melhoraram substan- cialmente, enquanto as condigdes de habitagio ¢ os servigos urbanos continuavam chocantemente ruins. ‘Uima terceira conseqtiéneia foi o notével aumento da exportagio de capital britinico pata o exterior. Em 1870 ao redor de £700 mi- Ihdes estavam investidos em pafses estrangeitos, € mais de um quar. to dese dinheio achavase aplicado na ctescente economia industrial dos Estados Unidos, tanto assim que o subscytiente ¢ extraordinétio crescimento das propriedades britinicas no exterior poderia ter-se zea. lizado sem muita exportacio adicional de capital, simplesmente atra- vés do reinvestimento dos juros e dividendos do que jé se achava no exterior. (Se isto foi o que realmente aconteceu é outra questiio. ) A emigtagio do capital reptesentava, € claro, apenas uma parte do notivel fluxo de Iuctos © poupangas em busca de investimento; e, gragas & transformacio do mercado de capital na eta das estendas de ferro, o capital dispés-se a procutar inversées nfo somente nos tra- = mimero de emupregades em transporte mais que dobrow na década de 1840, dobranco novamente entre 1851 © 1881, quando atingiu cerea de 900.000 pessoas, 109 dicionais bens iméveis ¢ em titulos do governo, como também em Sgdes industriais. Por seu taro, homens de negécies ¢ financistas (< Provével que os contemporineos dissessem homens de negécios,ini- Uoneos e financistas suspeites) viamese agora em melhores condigdes par Ievantar capital io apenss com sScios em potencial oa outros Investidores informados, mias junto a uma massa de investideres toca mente desinformados, que buscavam um reiorno para seu capital em ‘qualquer parte da durea economia mundial, e pata encontré-lo atta: Ye da mediagio de solicitantes e corretores de familia, muitas veres Femunerando-os por encamiahar tais recursos para eles. Uma nova lei permitindo a formagio de companhias por agées de responsabilidade imitada estimulou noves investimentos aveniurescos, pois se tal com- panhia ia’ faléncia, o acionista perdia apenas sea investimento, € lo, como se attiscava no passado, toda sua fortuna.” Bo ponte de vista econdmico, a cransformagio do mercado de capitais na exo das ferrovias — as bolsas de Manchester, Liverpool ¢ Glasgow foram todas elas produto» da “mania ferrovisria” da década de 1840 — constitulam um meio valioso, embora decerto nfo essen cial, para mobilizar capital para grandes empreendimentos fora da possibilidade de sociedades ov para empresas em partes remotas do Inundo. Do ponto de vista social, contudo, aquela transformagio re- fletiy outro aspecto da economia vitoriana: 6 desenvolvimento de uma classe de capitalistas que viviam dos lucros © poupangas das duas ov trés geragoes anteriores. Em 1871 havia oa Gri-Bretana 170.000 pewous com “linhagem e propriedade” sem ocupaséo visivel — qua- se todas eram mulheres, ou antes, [adies; ¢ um némero supreendente dessas ladies eram soltcizas.** Titulos e ages, inclusive agdes de fir- mas familiares ttansformadas em “companhias privadas” para esse fim, cram uma forma conveniente de prover o bem-estar de vitivas, filles ¢ outras parentes que aio podiam — ¢ jd nio mais necessita- yam — envolver-se com a administragéo de empresas © propriedades. ‘As avenidas elegantes de Kensington, as mansées de termas € os ‘rescentes centros turfsticos matitimos da classe média, bem como as ereanias de montanhas suicas ¢ cidades toscanas as zecebiam de bri- gos abertos. A era da linda férrea, do ferro e do investimento exte: Hor proporcionou também a base ‘econémica pata a solteirona € 0 esteta vitorianos. © B claro que, antes do_advento da responsabilidade Jimitada geal, tinham ‘specials para certos tipos de investimento em sociedades se Cerca de 2/5 dos acionistas do Banco da Esc6cia © do Banco Comercial da Esedela na década de 1870 eram mulheres; por outro lado, outros 2/5 de bens de capital, © que, por seu Indo, facilitwwa 0 advento da tere nologia ¢ da orginizagio modemas (ow do que passava por ser mo- demo uo sée. XIX) para uma grande variedade de atividades. A economia bri podia produzir qualquer coisa que desejasse. Su- Bera 4 ise ug do como da Revolote Indust © anda hiio comegara a sentir a cise do pais indusitial pioneizo gue deixa de oer « tna “ofits nedisio mane nea mange? Sonoma ns plenamenteinduscleads inplien por ia, a0 menos a permantneia de mais industializsgio, Um «os a ee pe ea mica, na vida social © na politica — foi a disposigao dos britinicos de acitar seu estilo de vide tevolucionivio como natural ou pelo me: nos itreversivel, e de se adaptar a ele, As diversts classes fizeram-no de maneira diferente. Convém que examinemos brevemente as duss classes mais importantes, a dos empregadores e « dos empregados Criat_ uma economia industrial nao € 0 mesmo que dirigir uma au 3 ects, as enonnes ener. da “clase média” briténica mo meio século que medeox entre Pitt ¢ Peel visaram c to primeizo deses objetvos. Police © sosalmenes to sipntcon tum esforgo concentrado para ganharcm confianga ¢ otgulho ei sua tarefa histériea — 0 comego do sée. XIX foi a tnica epoca em que senhoras da sociedsde escreviam optscules pedagsgicos sobre “Eco nomia Politica para que as outras seahoras ensinassem a seus filhos 6, melkor ainda, aos pobres* — bem como uma prolongsda batalha contra» “avstoctacia” para a seformulacio das instiuigies da Gra Bretanha de um mencin condizente com o capital industal s seformat ca dé de 1830 e a istauasio do Live Coméicio em ais ow menos lograram esses objetives, pel a mi Gide em gue ino podia so lta som so corer isco te oases, bilizagio talvez incontrolével das massas trabalhadoras (ver Caps. 4 ¢ 12). Quando chegaram os “anos durcos”, tais batalhas j4 haviam sido vencidas, embora restassem ainda certas escaramugas com a re- taguarda do antigo regime. A préptia Rainha reptesentava um pilot visteel da respeiabilidade burguesa, ou parecia sé-o, e 0 Pattido Con. * Algumas delas foram Mrs. Marset, Harriet Martincau © a romancista Mu: Ha Edgevorth, ito admirada gor Ricardo. fida pea Jovem Princes Vi ria, “Um avior recente observa com perspedcia que a aiséncia cxtensWva {a Revolgie France dav sures Raelednies nos rommes Jo Jane usten @ Maria Edgeworth no. seria do ‘nteresse para a clas r Aen se ide interesse para a classe média res. iit servador, Srgio de todos os que antipatizavam com o industrialismo britinico, foi durante varias décadas uma permanente minoria poli- tica carente de ideologie ou de programa, Desapareceu o formidavel movimento dos trabalhadores pobres — 0 jacobinismo, 0 cartismo & mesmo 0 primitive socialismo —, deixando exiludos estrangeizos como Karl Marx a tentarem desconsoladamente arrumar-se como. pudessent com 0 liberakadicalismo e o respeicével sindicalismo que lhes toma- ram o jugar. Mas economicamente a mudanga foi acentuads. Os produtores manufacureites capitalistas da primeita fase da revolugio industrial eram — ou julgavamse — uma minoria pioneira que tentava im- plantar um sistema econdmico num ambiense que de modo algam the eta inteiramente favorével — cereados por uma populegio que des- confiava profundamente de seus esfozcos, empregando uma classe tra- Dalhadora ndo hbituada a industrislzagio sae lve esa. host, la tando (pelo menos inicialmente) por construir suas {abricas com’ mo- dlesto capital inicial com lucros resplicados —— tudo isto. gragis. 4 abstinéncia, ao trabalho arduo ¢ & exploragio dos pobres. A epopéia da ascensio da classe média vitotiana, registrada nas obres de Samuel Smiles, ia buscar inspiracio numa era mmitas vezes mitica de herdis do esforgo pessoal, rejeitados pela multidio reaciondria estdpida, mas regressando mais tarde em trinnfo de cartola. Cabe lembrar ainda que cram homens formados por seu passado — tanto mais que hes fal- tava educasao cientifica © orgulbavamse sobreinde de seu empitismo. Dai s6 em parte terem consciéneia da maneira mais racional de diri- girem suas empresas, Hoje pode parecer grotesco que economistas fossem capazes de argumentar, como Nassau Senior, criticando a Lei dias Dez Horas de 1847, que o lacro dos empregadeares fosse. obtido na ‘ltima hora de tabalho, e que, pottanto, uma. aeeducio. da. jornada scria fatal, mas havia abundancia de homens sisudlos que acreditavam. que a tiniea maneira de obter lucros estava em pagzar 0s saldrios mais fnfimos em troca do maior némero possivel de Tnotas de trabalho. Assim, a prépria classe dos empregadores niic> estava inteiramen- te familintizada com as regras do jogo industrial, ou nose inclinava a segui-las, Tais regras rezavam que as transagSees econdmicas eram governidas’essencinimente pela livte atuagzo das forgas no mercado — busca competitiva ¢ sem restrigdes de v=antagem econ6mica, por parte de todos os homens —, 0 que produzizmia automaticamente os melhores resultados para todos. Contudo, afora sua prdptia relu- tuincia em competir quando a corpetigao nao Tes convinha,* nio julgavain tais considcragSes aplciveis aos trabalhadores As’ vere, = Ainda que ears, ncondos de finagfo de propos ete. por essa spect, rae mente fossem duradouros ou efetivos, exceto em setor~

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