Católica de Belém (FCB-PA), como parte das exigências para a disciplina de Seminário II em Agostinho de Hipona, ministrada pelo Prof. Pe. André Luiz Maia Teles.
Belém, 24 de novembro de 2017.
1. CONTEXTUALIZANDO A CONVERSÃO DE AGOSTINHO
A Ordem Agostiniana celebra com Solenidade no dia 24 de abril a festa da
Conversão de Santo Agostinho, uma data com profundo sabor pascal que traça muito bem o processo vivido pelo santo: uma caminhada autenticamente pascal que culminaria com seu batismo na noite da Páscoa de 387, com a idade de 33 anos. O caminho percorrido pelo Santo de Hipona até a fé católica foi longo, penoso e também tortuoso. Pode-se dizer, na verdade, de várias conversões de santo Agostino. Outra maneira de ver a conversão do Bispo de Hipona é considerá-la como uma só conversão, mas vivida em várias etapas bem diferenciadas. O importante é não esquecer que santo Agostinho viveu a vida em busca de Deus. Para encontrá-lo, ele O procurou em todas as instâncias de sua vida e com todas as forças que ele possuía. Todos os momentos importantes de sua vida foram momentos de conversão. Mesmo depois da conversão em Cassicíaco, ele continuou a ter momentos importantes e cruciais em sua vida que exigiram dele tomadas de posições que são verdadeiras conversões, e em cada uma delas ele se aproximou mais e mais a Deus. No ano de 386, então com 32 anos de idade, Agostinho, seu filho Adeodato, sua mãe Mônica e um grupo de amigos passaram a viver em uma pequena propriedade chamada Cassicíado, localizada perto de Milão. Eles partilhavam as tarefas do campo e da casa, estudavam e oravam juntos. Naquele lugar, Agostinho abraçou a fé católica e se converteu.
2. TOLLE ET LEGE, TOLLE ET LEGE (tradução: toma e lê, toma e lê)
Estas palavras que Santo Agostinho escutou marcam o momento de sua
conversão. Ele mesmo nos conta o acontecido em seu livro Confissões:
De repente ouvi a voz de uma criança que cantava: "toma e
lê!, toma e lê!" Entendi que era Deus quem me convidava a abrir a Bíblia que segurava entre as mãos. Apressei-me a ler o texto que tinha diante de meus olhos: "Nada de rixas e ciúmes, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo”. A conversão de Santo Agostinho aconteceu em 386. Agostinho vivia então em Milão, onde ia escutar com frequência o Bispo Católico Ambrósio. Ele inicia, com essas idas à Igreja, a aceitar e acertar o espiritual, a fé na Igreja e, finalmente, todo o credo católico. Depois do momento derradeiro do tolle et lege tudo mudou: terminando o período escolar, ele comunicou aos seus alunos de Milão sua firme decisão de abandonar o magistério e aconselhou-os a procurar outro professor de retórica. Além do mais, ele buscou a catequese para poder se preparar para o batismo. Nas Cartas de São Paulo Agostinho descobriu o significado de estar comprometido com a vida cristã. Um ano mais tarde, a Vigília Pascal da noite de 24 para 25 de abril de 387, Aurélio Agostinho foi batizado na Catedral de Milão pelo bispo Ambrósio. Foram batizados também seu filho Adeodato e o fiel amigo Alípio. A conversão de Agostinho foi tão profunda que ele deixou completamente seu antigo modo de ser e inaugurou a etapa de viver segundo o Evangelho. Novamente, é o próprio Agostinho quem escreve no seu livro Confissões: Fomos batizados e todo o medo da vida que tivemos até então deixou de existir em nós. Assim, ainda em 387, Agostinho volta à Roma para preparar sua viagem de volta à África, sua terra natal. Voltou com seus amigos para realizar o santo propósito de viver em comunidade ao serviço de Deus. Durante a viagem de volta sua mãe Mônica morreu em Óstia, um porto perto de Roma. Agostinho então retorna à Roma onde permanece de 8 a 10 meses visitando comunidades e mosteiros para conhecer melhor o estilo de vida que ele desejava viver. Finalmente ele volta à África, em julho ou agosto de 388. Ele se estabeleceu em Tagaste, sua cidade natal, onde, segundo o testemunho de são Possídio, junto com os que haviam se unido a ele vivia para Deus...e Agostinho partilhava sua doutrina aos presentes e ausentes com discursos e com livros. Santo Agostinho, junto com os seus, dedicou-se à vida em comunidade, à contemplação e à busca da verdade pela fé e pelo conhecimento. Santo Agostinho jamais abandonou tal projeto de vida, mesmo depois de se ter tornado sacerdote e bispo. Santo Agostinho e sua dinâmica vívida da conversão habita hoje na Família Agostiniana que lhe reconhece como Pai, no culto da Igreja que o venera como Santo, em todas as almas recuperadas que lhe devem o seu retorno a Deus e nas mentes privilegiadas que o admiram por seu gênio fecundo e disponível às conversões que aproximam cada vez mais de Deus.
3. SOBRE A SUBSTÂNCIA DE DEUS
Alcançando a Verdade, o homem também alcança Deus, ou estará Ele ainda
acima da Verdade? Agostinho entende “Verdade” em muitos significados. Quando a entende em seu significado mais forte, ou seja, como Verdade suprema, ela coincide com Deus. Por conseguinte, a demonstração da existência da certeza e da Verdade coincide com a demonstração da existência de Deus. Como os estudiosos já observaram há tempos, todas as provas que Agostinho fornece da existência de Deus reduzem-se, em última análise, a um esquema de argumentações. Primeiro passa-se da exterioridade das coisas à interioridade do espirito humano, depois da Verdade que está presente no espirito ao Princípio de toda verdade, que é precisamente Deus. Agostinho não demonstra Deus como, por exemplo, o demonstra Aristóteles, ou seja, com intenções puramente intelectuais e a fim de explicar o Cosmo, mas sim para “fruir a Deus”, e, portanto, para amá-lo, para preencher o vazio do seu espírito, para pôr fim à inquietude do seu coração, para ser feliz. Ser, Verdade, Bem (e Amor) são os atributos essenciais de Deus para Agostinho. Ele se exprime com clareza, unindo a ontologia grega com a Revelação bíblica. Os gregos tinham dito que Deus é o ser supremo (a substância primeira), na Bíblia Deus diz de si mesmo: “Eu sou o que sou”. Justamente enquanto ser supremo, Deus, criando as coisas, participa com eles o ser, mas não o Ser Sumo como ele é, e sim um ser com diferentes graus em escala hierárquica. Apesar de todas estas noções, permanece claro para Agostinho que é impossível para o homem uma definição da natureza de Deus e que, em certo sentido, é mais fácil saber aquilo que ele não é do que aquilo que ele é. No entanto, Deus é todo o positivo que se encontra na criação, sem os limites que nela existem.