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CONCURSO
DE
SELEÇÃO
DE
PROJETOS
DE
DOCUMENTÁRIO
PARA
O

3º
PROGRAMA
DE
FOMENTO
À
PRODUÇÃO
E
TELEDIFUSÃO
DE

DOCUMENTÁRIOS
LATINO‐AMERICANOS
DOCTV
AMÉRICA
LATINA
III








ROCINHA
À
VISTA
























PROPOSTA
DE
DOCUMENTÁRIO















“A
peculiaridade
da
vida
turística
é
estar
em
movimento,
não
chegar”

Zygmunt
Bauman,
em
O
mal
estar
da
pós­modernidade

Cravada
na
luxuosa
Zona
Sul
do
Rio
de
Janeiro,
a
Favela
da
Rocinha
é
hoje
um
ponto
turístico
em

destaque
nos
mais
vendidos
guias
de
viagem
da
cidade.
Todos
alertam,
no
entanto,
que
a
visita
à

comunidade
deve
ser
ciceroneada
por
um
“guia
com
recomendações”.
Não
à
toa,
pelas
vielas
da

Rocinha
 circulam
 cerca
 de
 três
 mil
 turistas
 por
 mês
 disputados
 por
 uma
 dezena
 de
 agências
 e

guias
independentes
locais,
cada
qual
com
pacotes
e
roteiros
específicos
dentro
da
comunidade.

Ao
 excursionar
 pela
 anunciada
 “maior
 favela
 da
 América
 Latina”
 nota‐se
 que
 os
 tours
 já
 fazem

parte
do
cotidiano
dos
moradores,
os
quais,
por
sua
vez,
criam
as
mais
variadas
adaptações
de

sua
estrutura
sócio‐cultural,
ou
mesmo
as
encenam,
para
extrair
algum
proveito
no
recebimento

dos
gringos.



Como
 um
 guia
 mesmo
 definiu,
 “visitar
 a
 Rocinha
 é
 ao
 mesmo
 tempo
 uma
 experiência
 exótica,

arriscada
e
solidária”.
Para
além
de
uma
bela
vista
tropical,
o
principal
atrativo
dos
passeios
é
a

expectativa
 de
 contato
 com
 o
 “real”,
 de
 interação
 com
 pessoas
 e
 de
 vivência
 efetiva
 no
 espaço

“original”
–
mesmo
que
estes
apenas
se
simulem.
O
filme
“Cidade
de
Deus”,
verbalmente
citado

em
 qualquer
 passeio,
 é
 exemplo
 cabal
 da
 imagem
 atrativa
 da
 favela
 carioca
 projetada
 mundo

afora.
 Um
 lugar
 cool,
 recheado
 por
 estereótipos
 que
 vão
 do
 samba
 ao
 futebol,
 além
 de,
 mesmo

diante
da
pobreza
e
violência,
possuir
uma
alegria
contagiante.


“Safári”,
“zoológico
de
pobres”:
são
essas
algumas
das
polêmicas
associadas
à
atividade,
em
boa

parte
graças
ao
tratamento
simplista
e
espetacular
dispensado
pela
opinião
pública.
Distante
de

campanhas
pró
ou
contra,
ROCINHA
À
VISTA
é
um
tourmovie,
um
documentário
que
irá
passear

através
 da
 Rocinha
como
mais
um
visitante.
Tal
dispositivo
surge
a
partir
do
entendimento
 de

que
 é
 no
 processo
 de
 interação
 entre
 moradores,
 turistas
 e
 guias
–
 e
de
todos
com
a
câmera
 –

que
 estão
 presentes,
 em
 seu
 momento
 de
 suspensão,
 os
 elementos
 discursivos
 e
 imagéticos

capazes
de
explicar
a
existência
dessa
atividade.


Ademais,
imergir
no
universo
dos
passeios
com
uma
pequena
equipe
significa,
inevitavelmente,

dialogar
 com
 as
 tantas
 câmeras
 que
 lá
 clicam
 incontáveis
 fotografias
 e
 vídeos
 turísticos.

Memórias
de
viagem
que
guardam
em
seus
recortes
uma
gama
de
significados
reveladores
dos

desejos
 ali
 projetados,
 os
 quais
 serão,
 através
 da
 sua
 incorporação
 pontual
 à
 montagem,

investigados
pela
narrativa
de
ROCINHA
À
VISTA.
Pois
se
hoje
a
experiência
de
viajar
é,
como

nunca
dantes,
uma
experiência
de
e
com
imagens,
o
filme
tratará
de
guiar‐se

‐
e
perder‐se
–
na

composição
 de
 um
 inventário
 coletivo
 dos
 arquivos
 recolhidos
 juntos
 aos
 turistas
 ao
 final
 de

cada
passeio
filmado.


Afinal,
o
que
buscam
os
turistas
em
um
tour
por
uma
favela?
Quais
os
diferentes
papéis
exercidos

pelos
 operadores
 turísticos
 enquanto
 mediadores,
 e
 vendedores,
 desse
 “encontro”?
 Até
 que

ponto
capitalizam
os
sentimentos
de
seus
clientes
ou
tiram
vantagem
do
desejo
inconfesso
e
algo

voyerista
 de
 ver
 como
 os
 pobres
 são?
 De
 que
 forma
 a
 comunidade
 lida
 com
 o
 fato
 de
 ser
 um

“objeto
de
desejo”,
seja
para
os
turistas,
seja
para
um
filme
documentário?











ESCOLHA
E
DESCRIÇÃO
DOS
OBJETOS
















1_ A
Favela
da
Rocinha

Com
 aproximadamente
 120
 mil
 habitantes,
 a
 comunidade
 recebe
 turistas
 de
 forma
 massiva

desde
o
início
dos
anos
2000,
sendo
a
Rocinha
o
destino
escolhido
por
cerca
de
75%
dos
turistas

que
visitam
alguma
favela
carioca.
Desde
o
início
dos
tours
em
favelas
a
comunidade
despertou

grande
interesse
dos
operadores
por
sua
acessibilidade
e
pela
paisagem
física
e
social,
ao
mesmo

tempo
deslumbrante
e
contrastante
com
a
riqueza
dos
bairros
que
a
cercam.



2_ Os
tours

As
excursões
guiadas
em
diversos
idiomas
através
da
Favela
da
Rocinha.
Os
passeios,
que
duram

de
 2
 a
 6
 horas
 e
 custam
 em
 média
 U$
 40,00
 por
 pessoa,
 são
 conduzidos
 e
 roteirizados
 pelos

agentes
 de
 diferentes
 maneiras.
 Tais
 variadas
 formas
 de
 apresentação
 da
 favela
 atraem
 cada

qual
um
tipo
específico
de
turista
e
criam
uma
vereda
de
atrações
ao
longo
de
seus
percursos.



3_ Os
agentes
de
turismo

A
 partir
 de
 pesquisa
 realizada
 nos
 últimos
 dois
 anos,
 
 dentre
 as
 dezenas
 de
 operadores
 que

vendem
 passeios
 pela
 Rocinha,
 selecionamos
 e
 convidamos
 cinco:
 três
 agências
 de
 fora
 da

comunidade
 (que
 juntas
 realizam
 cerca
 de
 80%
 dos
 tours)
 e
 dois
 guias‐moradoes.
 Essa
 pré‐
seleção
 levou
 em
 conta
 a
 representatividade
 de
 cada
 um
 na
 composição
 de
 um
 panorama
 dos

modos
de
condução
dos
tours,
a
clientela
específica
que
atraem
e
a
assiduidade
dos
passeios.


3.1_
Don´t
be
a
Gringo,
Be
a
Local
–
www.bealocal.com

“Mostrar
 o
 verdadeiro
 Rio
 de
 Janeiro,
 que
 só
 os
 locais
 conhecem”,
 afirma
 Márcio,
 sócio
 da

empresa.
Com
essa
premissa
a
agência
tem
em
jovens
e
“mochileiros”
hospedados
em
hostels

da
Zona
Sul
carioca
seu
maior
público.
De
forma
despojada,
informal
e
adventure,
os
passeios

são
conduzidos
todo
o
tempo
a
pé
pela
comunidade.
Aos
interessados
no
“Rio
real”
oferecem

um
pacote
combinado
de
tours:
favela,
baile
funk
e
torcida
organizada
no
Maracanã.


3.2_
Forest
Tour
–
www.foresttour.com.br

Contando
com
uma
frota
de
10
jipes
militares
adaptados,
a
empresa
visa
“proporcionar
uma

visão
 do
 contraste
 entre
 o
 oceano
 e
 as
 matas”
 e
 “entre
 condomínios
 de
 luxo
 e
 as
 favelas”,

segundo
Álvaro,
dono
da
empresa.
Seu
público
predominante
é
de
grupos
trazidos
ao
Brasil

por
grandes
operadoras
internacionais.
Os
jipes
cruzam
em
comboio
a
Rocinha
e
fazem
uma


ou
duas
paradas,
cujo
trajeto
inclui
quase
sempre
um
tour
pela
Floresta
da
Tijuca.



3.3_
Favela
Tour
–
www.favelatour.com.br

Marcelo,
 guia
 e
 fundador
 da
 agência,
 ressalta
 ser
 o
 pioneiro
 em
 tours
 em
 favelas.

Numericamente
é
líder
de
mercado,
com
um
efetivo
de
vans
e
guias
que
pode
realizar
até
seis

passeios
em
um
mesmo
dia.
Pretende
proporcionar
um
passeio
“informativo,
surpreendente

e
não
‘voyerístico’”.
Atrai
muitos
turistas
pois
enfatiza
suas
benesses
à
comunidade,
uma
vez

que
mantém
uma
escola
em
Vila
Canoas,
favela
próxima
à
Rocinha.


3.4_
Toninho

Nascido
 e
 criado
 na
 Rocinha,
 autodidata
 e
 poliglota,
 com
 20
 anos
 de
 experiência
 na
 área,

Carlos
Antônio
é
o
guia
freelancer
mais
assíduo
na
Rocinha.
Apesar
de
também
trabalhar
para

agências
na
alta
temporada,
seu
trabalho
é
valorizado
por
aqueles
que
preferem
conhecer
a

favela
 apresentada
 por
 um
 morador
 local.
 Na
 internet
 possui
 uma
 rede
 de
 contatos
 que

cresce
por
indicações
pessoais
de
turistas
que
ciceroneou.


3.5_
Zezinho
da
Rocinha
–
www.favelatour.org

Fruto
 da
 união
 entre
 uma
 norte‐americana
 e
 um
 morador
 da
 Rocinha
 na
 década
 de
 1960,

Zezinho
viveu
mais
da
metade
de
sua
vida
nos
EUA
‐
ainda
fala
português
com
dificuldade
–
e

retornou
 à
 favela
 em
 2005
 “em
 busca
 de
 suas
 raízes”.
 Seus
 tours
 podem
 durar
 até
 6
 horas,

com
almoço
e
uma
visita
à
sua
casa,
como
também
podem
ser
customizados
pelo
visitante.
DJ

em
bailes
funk,
possui
o
corpo
todo
tatuado
com
elementos
que
remetem
a
Rocinha.


4_ A
Comunidade
da
Favela
da
Rocinha

Um
 mosaico
 de
 moradores,
 estabelecimentos
 e
 localidades
 que
 exercem
 e/ou
 incrementam

atividades
 comerciais,
 artísticas,
 educacionais
 ou
 filantrópicas
 em
 função
 dos
 tours.
 Também

será
considerada
a
participação
de
indivíduos
com
relações
indiretas
e
causais
com
os
passeios
e

com
 o
 documentário.
 Mesmo
 levando
 em
 conta
 a
 permanente
 transformação
 dos
 atrativos
 na

comunidade,
segue
um
apanhado
de
seus
pontos
de
visita:


>
Os
moto­táxis:


Este
é
a
primeira
atração
apresentada
aos
turistas
guiados
pela
agência
“Be
a
local”.
Dentro

de
sua
proposta
de
vivenciar
o
cotidiano
dos
locais,
seus
visitantes
são
deixados
por
uma
van

no
“pé”
do
morro,
onde
sobem
na
garupa
de
uma
moto
rumo
ao
topo
do
morro.

>
As
barracas
de
souveniers:


Ponto
 comum
 de
 visitação
 de
 todas
 os
 guias
 que
 operam
 tours,
 está
 localizado
 no
 alto
 da

Estrada
da
Gávea
–
com
uma
bela
vista
para
a
Lagoa
Rodrigo
de
Freitas
e
para
o
Corcovado
–

onde
 cerca
 de
 12
 artesões
 vendem
 pinturas
 e
 souveniers
 “Made
 in
 Rocinha”.
 Utilizando

materiais
 recicláveis,
 elaboraram
 peças
 temáticas
 como
 camisetas,
 canecas,
 bolsas
 e
 até

cachecóis.

>
O
músico
Ivison:


Há
5
anos
ganha
a
vida
cantando
e
vendendo
seu
CD
para
os
turistas.
Por
ter
morado
alguns

anos
 fora
 do
 Brasil,
 fala
 inglês,
 ainda
 que
 com
 dificuldade.
 Aborda
 os
 turistas
 próximo
 as

barracas
de
souveniers
sempre
acompanhado
de
um
violão
e
do
seu
cachorro
Toni,
por
vezes

cantando
músicas
em
inglês
e
em
português,
num
repertório
que
inclui
de
Micheal
Jackson
a

sucessos
da
Bossa
Nova.

>
O
comércio
do
Largo
do
Boiadeiro:


Localizado
 na
 região
 mais
 baixa
 da
 Rocinha,
 o
 local
 abriga
 uma
 feira
 livre
 regada
 por

elementos
 da
 cultura
 nordestina.
 Os
 guias
 usam
 a
 visita
 ao
 Largo
 para
 contar
 a
 história
 do

êxodo
 rural
 e
 das
 favelas
 do
 Rio.
 Lá
 os
 turistas
 têm
 a
 chance
 de
 experimentar
 um
 copo
 de

açaí,
que
o
guia
explica
ser
uma
“fruta
original
da
Amazônia”.

>A
Laje
do
Carlinhos:


Carlinhos
 cobra
 R$
 2,00
 para
 cada
 turista
 subir
 na
 sua
 laje,
 que
 tem
 uma
 das
 mais
 belas

vistas
 do
 alto
 do
 morro:
 pode‐se
 tanto
 ver
 São
 Conrado
 e
 a
 Pedra
 da
 Gávea
 quanto
 o

Corcovado.
 Possui
 acordo
 com
 vários
 guias
 e
 agências
 e
 cobra
 R$
 2,00
 por
 turista.
 Com
 a

evolução
dos
negócios,
passou
a
vender
água‐de‐coco,
cerveja
e
caipirinha,
além
de
ter
uma

televisão
de
42”
onde
exibe
DVDs
de
samba.


>
Artistas
plásticos
e
grafiteiros
da
Rua
1:


Uma
 casa
 na
 Rua
 1
 (principal
 viela
 que
 corta
 toda
 a
 Rocinha)
 é
 o
 espaço
 de
 trabalho
 e

exposição
de
Augusto,
Jefferson
e
Felipe.
Os
pintores
e
grafiteiros
desistiram
de
vender
seus

quadros
 em
 feiras
 livres
 e,
 com
 a
 ajuda
 da
 agiencia
 “Be
 a
 Local”,
 vendem
 seus
 trabalhos
 a

preços
entre
R$
30
e
R$
500.

>
Padaria
do
Betinho:


Também
 na
 Rua
 1,
 em
 uma
 parte
 afastada
 do
 centro
 comercial
 da
 Rocinha,
 Betinho
 vende

todo
 tipo
 de
 produtos
 àqueles
 que
 moram
 nas
 proximidades.
 Há
 cerca
 de
 dois
 anos
 alguns

guias
passaram
a
incluir
uma
parada
no
que
anunciam
ser
uma
original
carioca
bakery,
onde

os
gringos
se
deliciam
com
bolos,
sonhos
(os
brazilian
donuts)
e
salgadinhos.

>
Salão
do
Che
Guevara:


No
roteiro
dos
guias
Toninho
e
Zezinho
os
visitantes
conhecem
o
cabeleireiro
Che
Guevara,

admirador
 do
 ícone
 revolucionário
 e
 cujo
 seu
 salão
 é
 repleto
 de
 imagens
 que
 remetem
 a

Guevara.
Em
destaque,
vemos
um
pôster
onde
o
“Che
da
Rocinha”
corta
o
cabelo
do
pop‐star

Bono
 Vox,
 enquanto
 o
 próprio
 cabeleireiro
 relata
 o
 fato
 lendário
 aos
 turistas,
 devidamente

traduzido
pelo
guia.

>
Igreja
Nossa
Senhora
da
Boa
Viagem
e
os
agentes
da
OMS:


Toninho
 apresenta
 a
 Igreja
 de
 Nossa
 Senhora
 da
 Boa
 Viagem,
 uma
 réplica
 diminuta
 da

original
construída
em
Roma.
Lá
ele
media
uma
breve
conversa
com
agentes
de
saúde
ligados

à
Organização
Mundial
da
Saúde
que
se
organizam
pela
comunidade
vacinando
e
realizando

trabalho
de
prevenção
de
doenças.

>
A
região
da
Roupa
Suja:


Região
 da
 Rocinha
 localizada
 na
 parte
 mais
 baixa
 da
 favela
 com
 uma
 estrutura
 de

saneamento
 bastante
 precária.
 A
 água,
 que
 começa
 limpa
 em
 nascentes
 no
 alto
 do
 morro,

chega
 tão
 suja
 que
 não
 costuma
 servir
 nem
 para
 lavar
 roupa:
 esgoto
 a
 céu
 aberto,
 com

grande
 fluxo
 de
 água
 em
 dias
 chuvosos.
 Nesse
 ponto
 do
 tour
 os
 guias
 enfatizam
 a

importância
de
mostrar
o
lado
mais
precário
da
comunidade.

>
UMPMRS
e
a
Creche
Saci
Feliz:


Na
 região
 da
 Roupa
 Suja,
 há
 cerca
 de
 15
 anos,
 um
 grupo
 mulheres
 passaram
 a
 realizar

trabalhos
voluntários
e
fundaram
o
grupo
União
de
Mulheres
Pró‐melhoramentos
da
Roupa

Suja
 (UMPMRS),
 que
 cuida
 da
 creche
 Saci
 Feliz.
 A
 creche
 recebe
 diariamente
 visitantes
 e

aceita
 qualquer
 tipo
 de
 doação.
 É
 comum
 a
 presença
 de
 estrangeiros
 realizando
 algum

voluntariado
na
creche
e
imediações.

>
G.R.E.S.
Acadêmicos
da
Rocinha:


A
 última
 parada
 do
 roteiro
 das
 agência
 “Forest
 Tour”
 é
 a
 Escola
 de
 Samba
 Acadêmicos
 da

Rocinha.
Eventualmente
a
quadra
é
o
palco
das
apresentações
carnavalescas
para
os
turistas.

Passistas,
 mestre‐sala
 e
 porta‐bandeira,
 ao
 som
 da
 bateria
 da
 escola
 interagem
 com
 os

gringos,
que
vestem
fantasias
e
ainda
se
arriscam
nos
instrumentos
de
percussão.

>
Escola
“Para
Ti”:


A
ONG
“Para
Ti”
é
uma
escola
fundada
por
um
grupo
de
italianos
na
Favela
de
Vila
Canoas,

localizada
na
Estrada
das
Canoas
em
São
Conrado.
Hoje
mantenedora
da
instituição
através

da
 doação
 de
 parte
 da
 renda
 dos
 passeios,
 a
 agência
 “Favela
 Tour”
 leva
 seus
 turistas
 para

conhecer
o
espaço
onde
os
jovens
da
comunidade
têm
aulas
de
idiomas,
informática,
reforço

escolar
e
artesanato.

>
Rocinha
Wireless:


Zezinho
faz
uma
breve
ao
lado
de
uma
antena
para
chamar
a
atenção
para
a
possibilidade
de

acesso
 à
 rede
 sem
 fio
 que
 cobre
 a
 Rocinha.
 O
 guia
 instiga
 os
 turistas
 com
 smartphones
 a

acessarem
 conferirem
 se
 receberam
 algum
 e‐mail
 ou
 para
 postarem
 nas
 redes
 sociais
 que

estão
“conectados
de
dentro
de
uma
favela”.

>
Grupo
Carteiro
Amigo
(GCA):


Pela
 infinidade
 de
 becos
 e
 vielas
 da
 Rocinha,
 é
 impossível
 para
 um
 carteiro
 localizar
 ou

mesmo
conhecer
a
casa
de
todos
os
moradores.
Por
isso,
foi
criado
pela
comunidade
o
Grupo

Carteiro
 Amigo,
 responsável
 por
 entregar,
 dentro
 da
 comunidade,
 as
 cartas
 que
 chegam
 às

agências
 dos
 Correios.
 Os
 guias
 Toninho
 e
 Zezinho
 realizam
 uma
 breve
 visita
 à
 central
 de

distribuição
e
explica
seu
funcionamento
aos
turistas.

>
Bancas
de
CDs
e
DVDs:


Em
todos
os
roteiros
aqui
apresentados
é
comum
o
interesse
dos
turistas
pelas
diversas
lojas

e
 bancas
 de
 camelôs
 que
 vendem
 CDs
 e
 DVDs
 pirateados.
 Espalhados
 por
 toda
 Rocinha,

alguns
vendedores
já
ensaiam
algumas
palavras
em
inglês.
Como
muitos
turistas
assistiram

“Cidade
de
Deus”,
alguns
guias
sugerem
a
compra
do
filme
“Tropa
de
Elite”,
o
qual
“revela
os

atuais
problemas
do
Rio”.

>
PAC,
UPP
e
Olimpíadas:


Um
 novo
 atrativo
 surgiu
 na
 Rocinha
 em
 2010:
 o
 Programa
 de
 Aceleração
 do
 Crescimento

(PAC),
 que
 transformaram
 a
 paisagem
 da
 Rocinha,
 com
 a
 abertura
 de
 ruas,
 construção
 de

prédios
 e
 pintura
 colorida
 nas
 casas
 em
 algumas
 poucas
 regiões.
 Desde
 então,
 com
 falas

distintas,
 os
 guias
 aproveitam
 o
 cenário
 para
 abordar
 as
 mudanças
 do
 país
 nos
 anos
 do

Governo
 Lula,
 as
 recentes
 pacificações
 de
 favelas
 cariocas
 e
 da
 expectativa
 para
 as

Olimpíadas
de
2016.


5_ Os
turistas

Os
 turistas
 retratados
 –
 em
 sua
 maioria
 estrangeiros
 –
 serão
 aqueles
 guiados
 pelos
 agentes

selecionados,
 no
 período
 estabelecido
 para
 as
 gravações
 e,
 fundamentalmente,
 mediante
 sua

disposição
 em
 participar.
 Os
 turistas
 serão
 convidados
 na
 véspera
 ou
 horas
 antes
 de
 cada

passeio,
se
for
o
caso,
com
mediação
do
agente
de
turismo.
Sendo
assim,
personagens
incapazes

de
serem
pré‐determinados,
tendo
sua
participação
em
função
do
acaso.


6_ As
imagens
turísticas

As
 fotografias
 e
 vídeos
 feitos
 pelos
 turistas
 com
 suas
 câmeras,
 os
 quais
 serão
 utilizados
 na

montagem.
 Serão
 copiados,
 mediante
 autorização
 prévia,
 as
 memórias
 o
 material
 bruto
 dessas

câmeras,
 em
 qualquer
 formato
 e
 suporte
 que
 se
 apresente
 (câmeras
 digitais,
 filmadoras,

celulares
e
outros).
Serão
utilizadas
ainda
imagens
turísticas
antigas
da
cidade
do
Rio
de
Janeiro,

do
período
colonial
ao
final
do
século
XX,
as
quais
deverão
compor
o
prólogo
do
filme.











ESCOLHA
E
JUSTIFICATIVA
PARA


AS
ESTRATÉGIAS
DE
ABORDAGEM






1_ Os
passeios
filmados
(abordagem
geral)

A
 estratégia
 de
 abordagem
 primordial
 do
 documentário
 será
 o
 registro
 da
 íntegra
 de

aproximadamente
20
passeios
à
Favela
da
Rocinha,
sendo
cada
agente
acompanhado
em
quatro

excursões.
Todas
as
filmagens
serão
realizadas
exclusivamente
ao
longo
desses
passeios
e
no
seu

processo
 logístico
 de
 pré
 e
 pós.
 Assim,
 com
 uma
 pequena
 equipe
 (diretor,
 fotógrafo/câmera,

técnico
de
som
e
produtor)
composta
por
pessoas
sem
relação
prévia
com
a
comunidade,
nossa

recepção
 pela
 comunidade
 será,
 mesmo
 que
 de
 maneira
 distinta,
 também
 a
 de
 estrangeiros.

Submeter‐se
à
essa
dinâmica
própria
dos
passeios
faz
parte
do
entendimento
de
que
não
há
um

recorte
 mais
 potente
 para
 evidenciar
 as
 causas
 e
 os
 desdobramentos
 do
 turismo
 em
 favelas,


lugar
 onde
 as
 representações
 de
 guias,
 turistas
 e
 moradores
 encontram‐se
 em
 estado
 de

floração.
Trata‐se,
em
suma,
de
imergir
nesses
encontros
e
em
suas
mise­en­scenes.
Assim,
este

tourmovie
fará
uso
de
uma
linguagem
próxima
ao
Cinema
Direto
enquanto
um
observador
que

tentará
 interferir
 o
 mínimo
 na
 condução
 normal
 dos
 passeios,
 não
 se
 refutando,
 porém,
 em
 se

fazer
presente
e
interagir
com
os
documentados,
como
através
de
breves
e
informais
entrevistas

de
campo
individuais
ou
em
grupos
de
personagens.


2_ Da
relação
com
os
guias

Nas
horas
que
antecederem
cada
passeio
pré‐agendado,
nossa
equipe
encontrará
o
guia
em
seu

local
 de
 origem
 (na
 sede
 da
 agência
 que
 trabalha,
 em
 sua
 residência,
 escritório,
 etc.)
 visando

registrar
 o
 início
 de
 sua
 rotina
 de
 trabalho.
 Nesse
 momento,
 os
 convidaremos
 a
 falar
 de
 sua

história
pessoal
e
profissional,
das
suas
motivações
ideológicas
e
financeiras
para
guiar
turistas

por
 uma
 favela
 e
 de
 que
 como
 interpretam
 o
 interesse
 de
 seus
 clientes
 pelos
 passeios.

Intencionalmente
 ali,
 a
 poucos
 momentos
 de
 guiar
 mais
 um
 tour,
 teremos
 um
 perfil
 desses

personagens,
 os
 pontos
 de
 vista
 e
 justificativas
 daqueles
 que
 fazem
 da
 mediação
 e
 venda
 do

destino
“favela”
sua
profissão.
No
decorrer
dos
tours,
priorizando
os
momentos
de
pausa
na
sua

condução,
 os
 guias
 serão
 indagados
 acerca
 dos
 polêmicos
 rótulos
 difundidos
 de
 sua
 atividade,

sobre
seu
método
de
condução
e
sua
técnica
de
venda
dos
tours,
sobre
o
seu
relacionamento
com

os
 moradores
 e
 as
 benesses
 à
 comunidade,
 a
 relação
 com
 outros
 agentes,
 etc.
 Personagens

centrais
 desse
 fenômeno,
 elo
 entre
 turistas
 e
 comunidade,
 os
 guias
 também
 serão
 indagados
 a

falar
sobre
questões
e
situações
específicas
que
decorrerão
dos
passeios
filmados.


3_ Da
leitura
da
carta­convite
pelos
turistas

O
 primeiro
 contato
 presencial
 com
 os
 turistas
 acontecerá
 no
 momento
 em
 que
 os
 guias
 os

encontram
 em
 seus
 hotéis
 para
 levá‐los
 à
 Rocinha.
 Nesse
 instante,
 aos
 turistas
 será
 entregue

uma
 carta‐convite
 que,
 em
 um
 texto
 curto
 e
 sucinto,
 apresentará
 formalmente
 o
 projeto
 e
 os

convidará
a
fotografar
e
filmar
com
suas
câmeras
para
o
documentário.
Após
concordarem
em

participar
 do
 documentário,
 será
 proposto
 ainda
 a
 alguns
 turistas
 a
 gravação
 do
 áudio
 de
 sua

leitura
da
carta,
a
qual
estará
disponível
nos
cinco
idiomas
–
inglês,
francês,
espanhol,
alemão
e

hebraico
–
mais
comuns
entre
os
visitantes
da
Rocinha.
A
idéia
é
que
esse
material
sonoro
seja

usado
 na
 abertura
 do
 documentário
 em
 conjunto
 com
 imagens
 turísticas
 recolhidas
 destes

mesmos
 turistas
 e
 de
 imagens
 de
 arquivo
 dos
 pontos
 de
 visita
 tradicionais
 do
 Rio
 de
 Janeiro
 ‐

como
Pão
de
Açúcar,
Corcovado,
Copacabana,
etc.
A
construção
dessa
seqüência
de
abertura
visa

situar
o
espectador
das
regras
e
dos
processos
responsáveis
pelo
filme
porvir,
da
mesma
forma

que
 introduzi‐lo
 ao
 universo
 tradicional
 turístico
 do
 Rio
 de
 Janeiro,
 que
 agora
 possui
 um
 novo

destino.


4_ Da
relação
com
os
turistas


Seguindo
 a
 estratégia
 de
 registro
 observativa
 e
 imersiva,
 interessa
 na
 relação
 com
 os
 turistas

registrar
tanto
sua
atuação
convencional
nos
tours
(fazendo
perguntas
ao
guia,
interagindo
com

elementos
da
comunidade,
tecendo
comentários
com
seus
acompanhantes,
etc.),
quanto
propô‐
los
determinados
questões
em
entrevistas
instantâneas
ao
longo
da
excursão.
Com
uma
equipe

fluente
nas
línguas
inglesa
e
francesa,
os
turistas
terão
a
liberdade
de
dar
seus
depoimentos
em

sua
 língua
 nativa,
 buscando
 assim,
 uma
 maior
 espontaneidade
 e
 clareza
 em
 suas
 falas.
 Nossos

questionamentos
 pretendem
 estimular
 os
 turistas
 a
 discorrerem
 sobre
 a
 imagem
 prévia
 que

possuem
de
uma
favela
e
a
partir
de
que
meios
(filmes,
reportagens
midiáticas,
produtos,
etc.)

julgam
terem
concebido
tal
visão.
Da
mesma
forma
que
o
turista
será
instigado
a
dissertar
o
que

o
levou
a
comprar
o
tour,
tentaremos
extrair
depoimentos
que
revelem
o
resultado
imediato
e
os

sentimentos
 despertados
 pelo
 passeio
 no
 seu
 decorrer.
 Não
 é
 intenção
 aqui,
 entretanto,

apresentá‐los
 como
 meros
 “deslumbrados”.
 Muitas
 vezes
 os
 visitantes
 trazem
 consigo
 certa

bagagem
cultural
capaz
de
lançar
autocríticas
a
sua
condição
e
ao
modo
como
lhe
é
apresentada

a
favela.


5_ Da
relação
com
a
comunidade
da
Rocinha

O
 contato,
 ou
 “choque”,
 entre
 comunidade,
 guias
 e
 visitantes
 se
 sucede,
 principalmente,
 na

presença
 de
 moradores
 com
 atividades
 ligadas
 diretamente
 aos
 tours:
 artesões
 vendendo

souveniers,
artistas
se
apresentando,
comerciantes,
etc.
A
câmera
que
irá
assistir
de
perto
estas

cenas
também
suscitará
a
estes
moradores,
sempre
a
partir
de
situações
que
se
sucederem
nos

tours,
exporem
suas
opiniões
acerca
da
atividade
turística
como
um
todo:
das
benesses
ou
não

promovidas
 pelos
 passeios,
 sobre
 a
 experiência
 diária
 de
 receber
 pessoas
 de
 outros
 países
 e

culturas,
 sobre
 quais
 eles
 pensam
 ser
 os
 atrativos
 da
 favela,
 etc.
 Com
 esse
 mesmo
 método

informal
 pretendemos
 realizar
 entrevistas
 com
 àqueles
 moradores
 indiretamente
 ligados
 ao

turismo
(passantes,
moradores
na
porta
de
suas
casas,
etc),
que
por
acaso
acabem
interagindo

com
o
passeio
e/ou
com
a
câmera.


6_ Do
uso
das
imagens
turísticas

Memórias
 de
viagem,
de
maneira
geral,
guardam
em
seus
conteúdos
o
desejo
pelo
acúmulo
 de

lembranças,
as
sensações
que
se
deseja
rememorar
na
volta
ao
lar.
O
olhar
turístico
é
resultado

desta
 condição:
 converter
 em
 imagem
 uma
 experiência
 real.
 Apropriar‐se
 dessas
 imagens

amadoras
 traz
 para
 o
 documentário,
 em
 um
 primeiro
 momento,
 o
 desafio
 de
 investigar
 o
 que

aquelas
câmeras
apreendem
objetivamente
e
o
que
nos
revelam
a
respeito
do
consumo
da
favela

enquanto
 destino
 turístico.
 Da
 mesma
 forma,
 em
 um
 segundo
 momento,
 interessa
 ao
 filme

ampliar
 o
 seu
 uso
 ilustrativo
 e
 debruçar‐se
 sobre
 as
 suas
 formas
 de
 fixar
 o
 real.
 Pretende‐se

investigar
 na
 montagem
 como
 essas
 fotos
 e
 vídeos
 se
 relacionam
 entre
 si,
 em
 que
 novos

imaginários
podem
se
desdobrar:
os
diferentes
olhares
sobre
um
mesmo
objeto
e
como
variam

de
 acordo
 com
 o
 discurso
 dos
 guias;
 os
 enquadramentos
 idênticos
 de
 uma
 mesma
 paisagem,

como
 a
 vista
 para
 a
 Pedra
 da
 Gávea
 a
 partir
 das
 lajes;
 os
 encaixes
 e
 formas
 de

complementaridade
 entre
 as
 imagens
 para
 composição
 de
 um
 cenário.
 Com
 uso
 fusões,

sobreposições
 e
 animações
 serão
 construídos
 verdadeiros
 inventários
 narrativos
 do
 ponto
 de

vista
 dos
 turistas.
 Prevê‐se,
 além
 disso,
 que
 o
 convite
 prévio
 para
 que
 se
 filme
 e
 fotografe

instigará
muitos
turistas
à
produzirem
cenas
específicas
para
o
filme.


7_ A
repetição
de
cenas
nos
passeios
filmados

A
 partir
 de
 diversos
 passeios
 realizados
 para
 a
 pesquisa
 do
 documentário,
 fez‐se
 notar
 o
 quão

repetitivos
 e
 automatizadas
 são
 as
 performances
 de
 guias,
 moradores
 e
 mesmo
 o

comportamento
dos
turistas.
Tratam‐se
de
verdadeiras
cenas
diariamente
representadas,
onde

um
cicerone
as
conduz
e
as
comenta
enquanto
alguns
moradores
atuam
para
uma
platéia,
muitas

vezes
 com
 textos
 e
 performances
 mecanizados.
 Aos
 turistas‐espectadores,
 por
 sua
 vez,
 é

permitido
interagir
com
o
cenário
“real”
tornando‐se
parte
da
cena.
Evidenciar
essa
noção
teatral

dos
 passeios
 é,
 no
 entender
 do
 documentário,
 uma
 forma
 de
 criticar
 as
 formas
 de
 se
 fazer

turismo
 não
 só
 na
 Rocinha.
 Os
 tours,
 com
 seus
 roteiros,
 falas
 marcadas
 e
 tempos
 de
 visita

cronometrados,
 são,
 assim
 como
 o
 cinema
 documentário,
 uma
 zona
 limítrofe
 entre
 o
 real
 e
 a

ficção.
 Pois
 é
 na
 linguagem
 cinematográfica
 que
 se
 pretende
 tatear
 essa
 zona:
 a
 repetição
 de

enquadramentos
similares
em
diferentes
tours
e
sua
montagem
paralela;
a
sobreposição
sonora

de
variados
speaches
(os
discursos
decorados
pelos
guias)
sobre
um
mesmo
tema;
a
reprodução

de
 tentativas
 de
 venda
 de
 souveniers
 e
 as
 atuações
 ensaiadas
 pelos
 moradores;
 a
 sucessão
 de

perguntas
e
atitudes
semelhantes
dos
turistas
diante
de
uma
mesma
cena,
etc.




















SIMULAÇÃO
DAS


ESTRATÉGIAS
DE
ABORDAGEM


>
Um
portão
de
ferro
se
abre
e
um
jovem
recebe
a
equipe.
Dentro
de
um
galpão
decorado
com

temas
 militares
 vê‐se
 cerca
 de
 10
 jipes
 estacionados.
 Rafael,
 de
 uniforme
 da
 empresa
 Forest

Tour,
 nos
 fala
 sobre
 o
 conceito
 dos
 passeios
 em
 jipes.
 Para
 ele,
 “o
 turismo
 hoje
 não
 pode
 ser

apenas
de
cartão
postal”,
o
visitante
quer
“conhecer
a
cidade
além
dos
clichês”
e
que
os
tours
em

favelas
“são
fundamentais
para
o
visitante
entender
o
Brasil
e
seus
problemas
sociais”.
Ele
nos

apresenta
a
viatura
da
Segunda
Guerra
em
que
nos
levará
para
um
tour
em
seguida.



 

>
Marcelo
aguarda
no
saguão
de
um
hotel.
Observa
os
hóspedes
que
passam
tentando
identificar

seus
clientes.
Em
vão,
pergunta
a
um
grupo
se
estão
esperando
pela
Favela
Tour.
Agora
em
uma

van,
ao
microfone,
Marcelo
dá
as
boas‐vindas
aos
turistas
e
inicia
um
discurso
sobre
o
processo

ocupação
das
encostas
pelas
favelas
no
Rio.
Apresenta
as
turistas
determinadas
regras
do
tour

como,
por
exemplo,
apenas
fotografar
quando
ele
autorizar.
Toda
essa
seqüência
será
composta

por
 fragmentos
 de
 vários
 dias
 distintos
 em
 que
 o
 guia
 repetiu
 as
 mesmas
 informações,
 ora

sobrepondo
seus
sons
ora
os
encadeando
em
cortes
bruscos
nas
falas.



>
 Turistas
 observam
 pinturas
 com
 o
 tema

“favela”.
Um
deles
pega
um
quadro
e
tenta,
em

português,
 descobrir
 o
 preço
 com
 o
 artista.

Após
 se
 comunicarem
 por
 gestos
 ele
 acaba

comprando
 o
 quadro.
 Com
 a
 obra
 em
 mãos,
 o

turista
 ensaia
 uma
 análise
 estética
 da
 obra

para
 a
 câmera.
 Enquanto
 o
 depoimento

continua
 em
 off,
 uma
 seqüência
 de
 fotos
 de

outros
 turista,
 ao
 lado
 do
 mesmo
 artista,
 se

alternam
na
tela.




>
A
câmera
caminha
em
uma
viela
atrás
do
guia
Toninho.
Ele
pára
e
chama
atenção
dos
turistas

para
os
buracos
em
uma
parede.
Explica,
em
francês,
serem
tiros
de
fuzil
e
que,
ao
lado,
as
letras

pichadas
são
as
iniciais
da
facção
criminosa
que
domina
o
tráfico
de
drogas
na
Rocinha.
Um
deles

pergunta
se
são
comuns
as
guerras,
como
mostrado
no
filme
Cidade
de
Deus.
Corta
para:
câmera

caminhando
atrás
do
guia
Márcio
em
uma
viela.
Ele
pára
e
mostra
ao
turista
as
marcas
de
bala
na

parede
e
as
iniciais
da
facção
que
domina
o
tráfico.
Em
inglês,
um
turista
pergunta
se
Cidade
de

Deus
foi
filmado
na
Rocinha.


>
 Plano
 fixo
 de
 uma
 laje
 com
 vista
 

panorâmica
para
a
imensidão
da
Rocinha

com
 São
 Conrado
 ao
 fundo.
 Turistas

entram
 em
 quadro
 tirando
 fotos
 da

paisagem.
 Inicia‐se
 lentamente
 a

sobreposição
 de
 fotos
 e
 vídeos
 feitos
 a

partir
daquela
vista.
Os
enquadramentos

se
 coincidem
 e
 se
 escapam
 enquanto

turistas
 aparecem
 e
 somem
 da
 tela.
 Em

off,
 ouvimos
 o
 depoimento
 do
 dono
 da

laje,
 Carlinhos,
 que
 nos
 conta
 ser
 o

aluguel
 da
 laje
 para
 os
 turista
 sua
 única

fonte
de
renda
há
cinco
anos.


>
Plano
aberto
e
fixo
da
fachada
da
ONG
Escola
Para
Ti.
Um
guia
conta
a
história
da
instituição
e

enfatiza
que
20%
do
valor
que
eles
pago
pelo
tour
será
revertido
para
a
manutenção
da
Escola,

onde
 estudam
 cerca
 de
 200
 crianças.
 Lentamente,
 em
 fusão,
 outro
 grupo
 de
 turistas
 surge
 na

imagem
 e
 o
 anterior
 desaparece,
 um
 outro
 guia
 continua
 o
 discurso,
 explicando
 que
 essa
 é
 a

formula
de
turismo
sustentável
em
favelas
que
a
empresa
pratica.














SUGESTÃO
DE
ESTRUTURA



Analisando
a
estrutura
de
condução
dos
passeios
turísticos
pela
Rocinha,
mesmo
variando
entre

agências
e
guias,
nota‐se
que
todos
possuem
em
comum
esquemas
rígidos,
lineares
e
objetivos

de
apresentação
da
localidade.
Há
sempre
um
tempo
curto
e
limitado
para
cada
atrativo;
não
é

possível
 desviar
 de
 suas
 rotas,
 nem
 mesmo
 voltar
 para
 rever
 algo;
 as
 informações
 dadas
 pelos

guias
em
seus
speaches
obedecem
a
lógica
das
estatísticas
e
dos
clichês
sobre
as
favelas,
sendo

raros
os
casos
de
conversas
com
reflexões
livres
sobre
o
cenário.



A
idéia
de
se
fazer
um
tourmovie
passa
exatamente
pela
subversão
das
narrativas
empacotadas

dos
 passeios.
 Submetido
 em
 suas
 filmagens
 a
 tais
 limitações,
 cabe
 ao
 documentário
 usar
 a

montagem
 como
 meio
 de
 reorganizá‐los,
 evidenciando
 a
 lógica
 industrial
 e
 cíclica
 que
 rege
 a

atividade.
 Estratégias
 como
 a
 repetição
 de
 enquadramentos
 em
 determinados
 cenários,

montagens
paralelas
entre
os
discursos
de
guias
e
animações
simples
com
as
imagens
turísticas

farão
 parte
 da
 estrutura
 narrativa,
 procedendo
 transições
 entre
 cenas
 e
 assim
 ligando
 os

diversos
passeios
durante
o
filme.



Vislumbra‐se
 uma
 estrutura
 iniciada
 por
 um
 prólogo
 composto
 por
 fotografias
 e
 filmes

turísticos
 antigos
 do
 Rio
 de
 Janeiro
 serão
 animados
 junto
 a
 imagens
 atuais.
 Enquanto
 vemos

alguns
 turistas
 no
 Pão
 de
 Açúcar,
 o
 Corcovado
 e
 a
 Praia
 de
 Copacabana,
 o
 plano
 sonoro
 será

composto
 pela
 leitura
 da
 carta‐convite
 em
 diversos
 idiomas.
 Aos
 poucos,
 vemos
 esses
 mesmos

turistas
postados
em
um
novo
destino.


Ao
 contrário
 da
 cronologia
 interna
 dos
 tours,
 não
 se
 pretende
 uma
 estrutura
 para
 o
 corpo
 do

filme
 que
 obedeça
 à
 seqüência
 dos
 fatos:
 1)
 translado
 da
 Zona
 Sul
 à
 Rocinha,
 expectativas
 
 e

apresentação
 do
 passeio;
 2)
 diversos
 pontos
 de
 visita
 ordenados
 dentro
 da
 favela
 e
 o
 contato

com
a
comunidade;
3)
considerações
finais,
desdobramentos
imediatos
dos
tours
no
retorno
ao

hotel.
Esses
três
momentos
comporão
aqui
uma
narrativa
fragmentada
e
acronológica.
Assim,

situações
ocorridas
no
final
de
um
passeio
podem
ser
antecipadas
para
revelar
as
mudanças
de

postura
dos
personagens
após
o
rito
de
passagem
que
é
o
tour.


Se
as
imagens
dos
turistas
são
objetos
fundamentais
deste
documentário,
não
o
são
somente
por

seus
 conteúdos
 e
 formas.
 O
 seu
 simples
 uso
 já
 se
 coloca
 como
 uma
 tarefa
 de
 organização
 das

memórias
 alheias.
 Nesse
 sentido,
 a
 fragmentação
 e
 a
 atemporalidade
 surgem
 como
 meios
 de

acessá‐las
 valorizando
 suas
 subjetividades
 narrativas.
 Isso
 porque,
 no
 universo
 de
 imagens

turísticas
clicadas
na
Rocinha,
mais
do
que
nunca,
a
noção
de
memória
não
está
vinculada
apenas

a
idéia
de
“passado”.
Como
diz
a
máxima
do
poeta,
“a
memória
é
uma
ilha
de
edição”.
Ou
seja,
as

imagens
dos
turistas
pautarão
a
narrativa
tanto
para
projetar
futuros
acontecimentos
como
para

rememorar
fatos
de
outrora,
criando
um
tempo
presente,
porém
descentralizado.
O
espectador,

ao
 final,
 perderá
 a
 referência
 do
 que
 possa
 ter
 acontecido
 antes
 ou
 depois,
 ficando
 com
 a

sensação
de
que
as
lembranças
de
uma
viagem
estão,
naturalmente,
suspensas
no
tempo.


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