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CONCURSO
DE
SELEÇÃO
DE
PROJETOS
DE
DOCUMENTÁRIO
PARA
O
3º
PROGRAMA
DE
FOMENTO
À
PRODUÇÃO
E
TELEDIFUSÃO
DE
DOCUMENTÁRIOS
LATINO‐AMERICANOS
DOCTV
AMÉRICA
LATINA
III
ROCINHA
À
VISTA
PROPOSTA
DE
DOCUMENTÁRIO
“A
peculiaridade
da
vida
turística
é
estar
em
movimento,
não
chegar”
Zygmunt
Bauman,
em
O
mal
estar
da
pósmodernidade
Cravada
na
luxuosa
Zona
Sul
do
Rio
de
Janeiro,
a
Favela
da
Rocinha
é
hoje
um
ponto
turístico
em
destaque
nos
mais
vendidos
guias
de
viagem
da
cidade.
Todos
alertam,
no
entanto,
que
a
visita
à
comunidade
deve
ser
ciceroneada
por
um
“guia
com
recomendações”.
Não
à
toa,
pelas
vielas
da
Rocinha
circulam
cerca
de
três
mil
turistas
por
mês
disputados
por
uma
dezena
de
agências
e
guias
independentes
locais,
cada
qual
com
pacotes
e
roteiros
específicos
dentro
da
comunidade.
Ao
excursionar
pela
anunciada
“maior
favela
da
América
Latina”
nota‐se
que
os
tours
já
fazem
parte
do
cotidiano
dos
moradores,
os
quais,
por
sua
vez,
criam
as
mais
variadas
adaptações
de
sua
estrutura
sócio‐cultural,
ou
mesmo
as
encenam,
para
extrair
algum
proveito
no
recebimento
dos
gringos.
Como
um
guia
mesmo
definiu,
“visitar
a
Rocinha
é
ao
mesmo
tempo
uma
experiência
exótica,
arriscada
e
solidária”.
Para
além
de
uma
bela
vista
tropical,
o
principal
atrativo
dos
passeios
é
a
expectativa
de
contato
com
o
“real”,
de
interação
com
pessoas
e
de
vivência
efetiva
no
espaço
“original”
–
mesmo
que
estes
apenas
se
simulem.
O
filme
“Cidade
de
Deus”,
verbalmente
citado
em
qualquer
passeio,
é
exemplo
cabal
da
imagem
atrativa
da
favela
carioca
projetada
mundo
afora.
Um
lugar
cool,
recheado
por
estereótipos
que
vão
do
samba
ao
futebol,
além
de,
mesmo
diante
da
pobreza
e
violência,
possuir
uma
alegria
contagiante.
“Safári”,
“zoológico
de
pobres”:
são
essas
algumas
das
polêmicas
associadas
à
atividade,
em
boa
parte
graças
ao
tratamento
simplista
e
espetacular
dispensado
pela
opinião
pública.
Distante
de
campanhas
pró
ou
contra,
ROCINHA
À
VISTA
é
um
tourmovie,
um
documentário
que
irá
passear
através
da
Rocinha
como
mais
um
visitante.
Tal
dispositivo
surge
a
partir
do
entendimento
de
que
é
no
processo
de
interação
entre
moradores,
turistas
e
guias
–
e
de
todos
com
a
câmera
–
que
estão
presentes,
em
seu
momento
de
suspensão,
os
elementos
discursivos
e
imagéticos
capazes
de
explicar
a
existência
dessa
atividade.
Ademais,
imergir
no
universo
dos
passeios
com
uma
pequena
equipe
significa,
inevitavelmente,
dialogar
com
as
tantas
câmeras
que
lá
clicam
incontáveis
fotografias
e
vídeos
turísticos.
Memórias
de
viagem
que
guardam
em
seus
recortes
uma
gama
de
significados
reveladores
dos
desejos
ali
projetados,
os
quais
serão,
através
da
sua
incorporação
pontual
à
montagem,
investigados
pela
narrativa
de
ROCINHA
À
VISTA.
Pois
se
hoje
a
experiência
de
viajar
é,
como
nunca
dantes,
uma
experiência
de
e
com
imagens,
o
filme
tratará
de
guiar‐se
‐
e
perder‐se
–
na
composição
de
um
inventário
coletivo
dos
arquivos
recolhidos
juntos
aos
turistas
ao
final
de
cada
passeio
filmado.
Afinal,
o
que
buscam
os
turistas
em
um
tour
por
uma
favela?
Quais
os
diferentes
papéis
exercidos
pelos
operadores
turísticos
enquanto
mediadores,
e
vendedores,
desse
“encontro”?
Até
que
ponto
capitalizam
os
sentimentos
de
seus
clientes
ou
tiram
vantagem
do
desejo
inconfesso
e
algo
voyerista
de
ver
como
os
pobres
são?
De
que
forma
a
comunidade
lida
com
o
fato
de
ser
um
“objeto
de
desejo”,
seja
para
os
turistas,
seja
para
um
filme
documentário?
ESCOLHA
E
DESCRIÇÃO
DOS
OBJETOS
1_ A
Favela
da
Rocinha
Com
aproximadamente
120
mil
habitantes,
a
comunidade
recebe
turistas
de
forma
massiva
desde
o
início
dos
anos
2000,
sendo
a
Rocinha
o
destino
escolhido
por
cerca
de
75%
dos
turistas
que
visitam
alguma
favela
carioca.
Desde
o
início
dos
tours
em
favelas
a
comunidade
despertou
grande
interesse
dos
operadores
por
sua
acessibilidade
e
pela
paisagem
física
e
social,
ao
mesmo
tempo
deslumbrante
e
contrastante
com
a
riqueza
dos
bairros
que
a
cercam.
2_ Os
tours
As
excursões
guiadas
em
diversos
idiomas
através
da
Favela
da
Rocinha.
Os
passeios,
que
duram
de
2
a
6
horas
e
custam
em
média
U$
40,00
por
pessoa,
são
conduzidos
e
roteirizados
pelos
agentes
de
diferentes
maneiras.
Tais
variadas
formas
de
apresentação
da
favela
atraem
cada
qual
um
tipo
específico
de
turista
e
criam
uma
vereda
de
atrações
ao
longo
de
seus
percursos.
3_ Os
agentes
de
turismo
A
partir
de
pesquisa
realizada
nos
últimos
dois
anos,
dentre
as
dezenas
de
operadores
que
vendem
passeios
pela
Rocinha,
selecionamos
e
convidamos
cinco:
três
agências
de
fora
da
comunidade
(que
juntas
realizam
cerca
de
80%
dos
tours)
e
dois
guias‐moradoes.
Essa
pré‐
seleção
levou
em
conta
a
representatividade
de
cada
um
na
composição
de
um
panorama
dos
modos
de
condução
dos
tours,
a
clientela
específica
que
atraem
e
a
assiduidade
dos
passeios.
3.1_
Don´t
be
a
Gringo,
Be
a
Local
–
www.bealocal.com
“Mostrar
o
verdadeiro
Rio
de
Janeiro,
que
só
os
locais
conhecem”,
afirma
Márcio,
sócio
da
empresa.
Com
essa
premissa
a
agência
tem
em
jovens
e
“mochileiros”
hospedados
em
hostels
da
Zona
Sul
carioca
seu
maior
público.
De
forma
despojada,
informal
e
adventure,
os
passeios
são
conduzidos
todo
o
tempo
a
pé
pela
comunidade.
Aos
interessados
no
“Rio
real”
oferecem
um
pacote
combinado
de
tours:
favela,
baile
funk
e
torcida
organizada
no
Maracanã.
3.2_
Forest
Tour
–
www.foresttour.com.br
Contando
com
uma
frota
de
10
jipes
militares
adaptados,
a
empresa
visa
“proporcionar
uma
visão
do
contraste
entre
o
oceano
e
as
matas”
e
“entre
condomínios
de
luxo
e
as
favelas”,
segundo
Álvaro,
dono
da
empresa.
Seu
público
predominante
é
de
grupos
trazidos
ao
Brasil
por
grandes
operadoras
internacionais.
Os
jipes
cruzam
em
comboio
a
Rocinha
e
fazem
uma
ou
duas
paradas,
cujo
trajeto
inclui
quase
sempre
um
tour
pela
Floresta
da
Tijuca.
3.3_
Favela
Tour
–
www.favelatour.com.br
Marcelo,
guia
e
fundador
da
agência,
ressalta
ser
o
pioneiro
em
tours
em
favelas.
Numericamente
é
líder
de
mercado,
com
um
efetivo
de
vans
e
guias
que
pode
realizar
até
seis
passeios
em
um
mesmo
dia.
Pretende
proporcionar
um
passeio
“informativo,
surpreendente
e
não
‘voyerístico’”.
Atrai
muitos
turistas
pois
enfatiza
suas
benesses
à
comunidade,
uma
vez
que
mantém
uma
escola
em
Vila
Canoas,
favela
próxima
à
Rocinha.
3.4_
Toninho
Nascido
e
criado
na
Rocinha,
autodidata
e
poliglota,
com
20
anos
de
experiência
na
área,
Carlos
Antônio
é
o
guia
freelancer
mais
assíduo
na
Rocinha.
Apesar
de
também
trabalhar
para
agências
na
alta
temporada,
seu
trabalho
é
valorizado
por
aqueles
que
preferem
conhecer
a
favela
apresentada
por
um
morador
local.
Na
internet
possui
uma
rede
de
contatos
que
cresce
por
indicações
pessoais
de
turistas
que
ciceroneou.
3.5_
Zezinho
da
Rocinha
–
www.favelatour.org
Fruto
da
união
entre
uma
norte‐americana
e
um
morador
da
Rocinha
na
década
de
1960,
Zezinho
viveu
mais
da
metade
de
sua
vida
nos
EUA
‐
ainda
fala
português
com
dificuldade
–
e
retornou
à
favela
em
2005
“em
busca
de
suas
raízes”.
Seus
tours
podem
durar
até
6
horas,
com
almoço
e
uma
visita
à
sua
casa,
como
também
podem
ser
customizados
pelo
visitante.
DJ
em
bailes
funk,
possui
o
corpo
todo
tatuado
com
elementos
que
remetem
a
Rocinha.
4_ A
Comunidade
da
Favela
da
Rocinha
Um
mosaico
de
moradores,
estabelecimentos
e
localidades
que
exercem
e/ou
incrementam
atividades
comerciais,
artísticas,
educacionais
ou
filantrópicas
em
função
dos
tours.
Também
será
considerada
a
participação
de
indivíduos
com
relações
indiretas
e
causais
com
os
passeios
e
com
o
documentário.
Mesmo
levando
em
conta
a
permanente
transformação
dos
atrativos
na
comunidade,
segue
um
apanhado
de
seus
pontos
de
visita:
>
Os
mototáxis:
Este
é
a
primeira
atração
apresentada
aos
turistas
guiados
pela
agência
“Be
a
local”.
Dentro
de
sua
proposta
de
vivenciar
o
cotidiano
dos
locais,
seus
visitantes
são
deixados
por
uma
van
no
“pé”
do
morro,
onde
sobem
na
garupa
de
uma
moto
rumo
ao
topo
do
morro.
>
As
barracas
de
souveniers:
Ponto
comum
de
visitação
de
todas
os
guias
que
operam
tours,
está
localizado
no
alto
da
Estrada
da
Gávea
–
com
uma
bela
vista
para
a
Lagoa
Rodrigo
de
Freitas
e
para
o
Corcovado
–
onde
cerca
de
12
artesões
vendem
pinturas
e
souveniers
“Made
in
Rocinha”.
Utilizando
materiais
recicláveis,
elaboraram
peças
temáticas
como
camisetas,
canecas,
bolsas
e
até
cachecóis.
>
O
músico
Ivison:
Há
5
anos
ganha
a
vida
cantando
e
vendendo
seu
CD
para
os
turistas.
Por
ter
morado
alguns
anos
fora
do
Brasil,
fala
inglês,
ainda
que
com
dificuldade.
Aborda
os
turistas
próximo
as
barracas
de
souveniers
sempre
acompanhado
de
um
violão
e
do
seu
cachorro
Toni,
por
vezes
cantando
músicas
em
inglês
e
em
português,
num
repertório
que
inclui
de
Micheal
Jackson
a
sucessos
da
Bossa
Nova.
>
O
comércio
do
Largo
do
Boiadeiro:
Localizado
na
região
mais
baixa
da
Rocinha,
o
local
abriga
uma
feira
livre
regada
por
elementos
da
cultura
nordestina.
Os
guias
usam
a
visita
ao
Largo
para
contar
a
história
do
êxodo
rural
e
das
favelas
do
Rio.
Lá
os
turistas
têm
a
chance
de
experimentar
um
copo
de
açaí,
que
o
guia
explica
ser
uma
“fruta
original
da
Amazônia”.
>A
Laje
do
Carlinhos:
Carlinhos
cobra
R$
2,00
para
cada
turista
subir
na
sua
laje,
que
tem
uma
das
mais
belas
vistas
do
alto
do
morro:
pode‐se
tanto
ver
São
Conrado
e
a
Pedra
da
Gávea
quanto
o
Corcovado.
Possui
acordo
com
vários
guias
e
agências
e
cobra
R$
2,00
por
turista.
Com
a
evolução
dos
negócios,
passou
a
vender
água‐de‐coco,
cerveja
e
caipirinha,
além
de
ter
uma
televisão
de
42”
onde
exibe
DVDs
de
samba.
>
Artistas
plásticos
e
grafiteiros
da
Rua
1:
Uma
casa
na
Rua
1
(principal
viela
que
corta
toda
a
Rocinha)
é
o
espaço
de
trabalho
e
exposição
de
Augusto,
Jefferson
e
Felipe.
Os
pintores
e
grafiteiros
desistiram
de
vender
seus
quadros
em
feiras
livres
e,
com
a
ajuda
da
agiencia
“Be
a
Local”,
vendem
seus
trabalhos
a
preços
entre
R$
30
e
R$
500.
>
Padaria
do
Betinho:
Também
na
Rua
1,
em
uma
parte
afastada
do
centro
comercial
da
Rocinha,
Betinho
vende
todo
tipo
de
produtos
àqueles
que
moram
nas
proximidades.
Há
cerca
de
dois
anos
alguns
guias
passaram
a
incluir
uma
parada
no
que
anunciam
ser
uma
original
carioca
bakery,
onde
os
gringos
se
deliciam
com
bolos,
sonhos
(os
brazilian
donuts)
e
salgadinhos.
>
Salão
do
Che
Guevara:
No
roteiro
dos
guias
Toninho
e
Zezinho
os
visitantes
conhecem
o
cabeleireiro
Che
Guevara,
admirador
do
ícone
revolucionário
e
cujo
seu
salão
é
repleto
de
imagens
que
remetem
a
Guevara.
Em
destaque,
vemos
um
pôster
onde
o
“Che
da
Rocinha”
corta
o
cabelo
do
pop‐star
Bono
Vox,
enquanto
o
próprio
cabeleireiro
relata
o
fato
lendário
aos
turistas,
devidamente
traduzido
pelo
guia.
>
Igreja
Nossa
Senhora
da
Boa
Viagem
e
os
agentes
da
OMS:
Toninho
apresenta
a
Igreja
de
Nossa
Senhora
da
Boa
Viagem,
uma
réplica
diminuta
da
original
construída
em
Roma.
Lá
ele
media
uma
breve
conversa
com
agentes
de
saúde
ligados
à
Organização
Mundial
da
Saúde
que
se
organizam
pela
comunidade
vacinando
e
realizando
trabalho
de
prevenção
de
doenças.
>
A
região
da
Roupa
Suja:
Região
da
Rocinha
localizada
na
parte
mais
baixa
da
favela
com
uma
estrutura
de
saneamento
bastante
precária.
A
água,
que
começa
limpa
em
nascentes
no
alto
do
morro,
chega
tão
suja
que
não
costuma
servir
nem
para
lavar
roupa:
esgoto
a
céu
aberto,
com
grande
fluxo
de
água
em
dias
chuvosos.
Nesse
ponto
do
tour
os
guias
enfatizam
a
importância
de
mostrar
o
lado
mais
precário
da
comunidade.
>
UMPMRS
e
a
Creche
Saci
Feliz:
Na
região
da
Roupa
Suja,
há
cerca
de
15
anos,
um
grupo
mulheres
passaram
a
realizar
trabalhos
voluntários
e
fundaram
o
grupo
União
de
Mulheres
Pró‐melhoramentos
da
Roupa
Suja
(UMPMRS),
que
cuida
da
creche
Saci
Feliz.
A
creche
recebe
diariamente
visitantes
e
aceita
qualquer
tipo
de
doação.
É
comum
a
presença
de
estrangeiros
realizando
algum
voluntariado
na
creche
e
imediações.
>
G.R.E.S.
Acadêmicos
da
Rocinha:
A
última
parada
do
roteiro
das
agência
“Forest
Tour”
é
a
Escola
de
Samba
Acadêmicos
da
Rocinha.
Eventualmente
a
quadra
é
o
palco
das
apresentações
carnavalescas
para
os
turistas.
Passistas,
mestre‐sala
e
porta‐bandeira,
ao
som
da
bateria
da
escola
interagem
com
os
gringos,
que
vestem
fantasias
e
ainda
se
arriscam
nos
instrumentos
de
percussão.
>
Escola
“Para
Ti”:
A
ONG
“Para
Ti”
é
uma
escola
fundada
por
um
grupo
de
italianos
na
Favela
de
Vila
Canoas,
localizada
na
Estrada
das
Canoas
em
São
Conrado.
Hoje
mantenedora
da
instituição
através
da
doação
de
parte
da
renda
dos
passeios,
a
agência
“Favela
Tour”
leva
seus
turistas
para
conhecer
o
espaço
onde
os
jovens
da
comunidade
têm
aulas
de
idiomas,
informática,
reforço
escolar
e
artesanato.
>
Rocinha
Wireless:
Zezinho
faz
uma
breve
ao
lado
de
uma
antena
para
chamar
a
atenção
para
a
possibilidade
de
acesso
à
rede
sem
fio
que
cobre
a
Rocinha.
O
guia
instiga
os
turistas
com
smartphones
a
acessarem
conferirem
se
receberam
algum
e‐mail
ou
para
postarem
nas
redes
sociais
que
estão
“conectados
de
dentro
de
uma
favela”.
>
Grupo
Carteiro
Amigo
(GCA):
Pela
infinidade
de
becos
e
vielas
da
Rocinha,
é
impossível
para
um
carteiro
localizar
ou
mesmo
conhecer
a
casa
de
todos
os
moradores.
Por
isso,
foi
criado
pela
comunidade
o
Grupo
Carteiro
Amigo,
responsável
por
entregar,
dentro
da
comunidade,
as
cartas
que
chegam
às
agências
dos
Correios.
Os
guias
Toninho
e
Zezinho
realizam
uma
breve
visita
à
central
de
distribuição
e
explica
seu
funcionamento
aos
turistas.
>
Bancas
de
CDs
e
DVDs:
Em
todos
os
roteiros
aqui
apresentados
é
comum
o
interesse
dos
turistas
pelas
diversas
lojas
e
bancas
de
camelôs
que
vendem
CDs
e
DVDs
pirateados.
Espalhados
por
toda
Rocinha,
alguns
vendedores
já
ensaiam
algumas
palavras
em
inglês.
Como
muitos
turistas
assistiram
“Cidade
de
Deus”,
alguns
guias
sugerem
a
compra
do
filme
“Tropa
de
Elite”,
o
qual
“revela
os
atuais
problemas
do
Rio”.
>
PAC,
UPP
e
Olimpíadas:
Um
novo
atrativo
surgiu
na
Rocinha
em
2010:
o
Programa
de
Aceleração
do
Crescimento
(PAC),
que
transformaram
a
paisagem
da
Rocinha,
com
a
abertura
de
ruas,
construção
de
prédios
e
pintura
colorida
nas
casas
em
algumas
poucas
regiões.
Desde
então,
com
falas
distintas,
os
guias
aproveitam
o
cenário
para
abordar
as
mudanças
do
país
nos
anos
do
Governo
Lula,
as
recentes
pacificações
de
favelas
cariocas
e
da
expectativa
para
as
Olimpíadas
de
2016.
5_ Os
turistas
Os
turistas
retratados
–
em
sua
maioria
estrangeiros
–
serão
aqueles
guiados
pelos
agentes
selecionados,
no
período
estabelecido
para
as
gravações
e,
fundamentalmente,
mediante
sua
disposição
em
participar.
Os
turistas
serão
convidados
na
véspera
ou
horas
antes
de
cada
passeio,
se
for
o
caso,
com
mediação
do
agente
de
turismo.
Sendo
assim,
personagens
incapazes
de
serem
pré‐determinados,
tendo
sua
participação
em
função
do
acaso.
6_ As
imagens
turísticas
As
fotografias
e
vídeos
feitos
pelos
turistas
com
suas
câmeras,
os
quais
serão
utilizados
na
montagem.
Serão
copiados,
mediante
autorização
prévia,
as
memórias
o
material
bruto
dessas
câmeras,
em
qualquer
formato
e
suporte
que
se
apresente
(câmeras
digitais,
filmadoras,
celulares
e
outros).
Serão
utilizadas
ainda
imagens
turísticas
antigas
da
cidade
do
Rio
de
Janeiro,
do
período
colonial
ao
final
do
século
XX,
as
quais
deverão
compor
o
prólogo
do
filme.
ESCOLHA
E
JUSTIFICATIVA
PARA
AS
ESTRATÉGIAS
DE
ABORDAGEM
1_ Os
passeios
filmados
(abordagem
geral)
A
estratégia
de
abordagem
primordial
do
documentário
será
o
registro
da
íntegra
de
aproximadamente
20
passeios
à
Favela
da
Rocinha,
sendo
cada
agente
acompanhado
em
quatro
excursões.
Todas
as
filmagens
serão
realizadas
exclusivamente
ao
longo
desses
passeios
e
no
seu
processo
logístico
de
pré
e
pós.
Assim,
com
uma
pequena
equipe
(diretor,
fotógrafo/câmera,
técnico
de
som
e
produtor)
composta
por
pessoas
sem
relação
prévia
com
a
comunidade,
nossa
recepção
pela
comunidade
será,
mesmo
que
de
maneira
distinta,
também
a
de
estrangeiros.
Submeter‐se
à
essa
dinâmica
própria
dos
passeios
faz
parte
do
entendimento
de
que
não
há
um
recorte
mais
potente
para
evidenciar
as
causas
e
os
desdobramentos
do
turismo
em
favelas,
lugar
onde
as
representações
de
guias,
turistas
e
moradores
encontram‐se
em
estado
de
floração.
Trata‐se,
em
suma,
de
imergir
nesses
encontros
e
em
suas
miseenscenes.
Assim,
este
tourmovie
fará
uso
de
uma
linguagem
próxima
ao
Cinema
Direto
enquanto
um
observador
que
tentará
interferir
o
mínimo
na
condução
normal
dos
passeios,
não
se
refutando,
porém,
em
se
fazer
presente
e
interagir
com
os
documentados,
como
através
de
breves
e
informais
entrevistas
de
campo
individuais
ou
em
grupos
de
personagens.
2_ Da
relação
com
os
guias
Nas
horas
que
antecederem
cada
passeio
pré‐agendado,
nossa
equipe
encontrará
o
guia
em
seu
local
de
origem
(na
sede
da
agência
que
trabalha,
em
sua
residência,
escritório,
etc.)
visando
registrar
o
início
de
sua
rotina
de
trabalho.
Nesse
momento,
os
convidaremos
a
falar
de
sua
história
pessoal
e
profissional,
das
suas
motivações
ideológicas
e
financeiras
para
guiar
turistas
por
uma
favela
e
de
que
como
interpretam
o
interesse
de
seus
clientes
pelos
passeios.
Intencionalmente
ali,
a
poucos
momentos
de
guiar
mais
um
tour,
teremos
um
perfil
desses
personagens,
os
pontos
de
vista
e
justificativas
daqueles
que
fazem
da
mediação
e
venda
do
destino
“favela”
sua
profissão.
No
decorrer
dos
tours,
priorizando
os
momentos
de
pausa
na
sua
condução,
os
guias
serão
indagados
acerca
dos
polêmicos
rótulos
difundidos
de
sua
atividade,
sobre
seu
método
de
condução
e
sua
técnica
de
venda
dos
tours,
sobre
o
seu
relacionamento
com
os
moradores
e
as
benesses
à
comunidade,
a
relação
com
outros
agentes,
etc.
Personagens
centrais
desse
fenômeno,
elo
entre
turistas
e
comunidade,
os
guias
também
serão
indagados
a
falar
sobre
questões
e
situações
específicas
que
decorrerão
dos
passeios
filmados.
3_ Da
leitura
da
cartaconvite
pelos
turistas
O
primeiro
contato
presencial
com
os
turistas
acontecerá
no
momento
em
que
os
guias
os
encontram
em
seus
hotéis
para
levá‐los
à
Rocinha.
Nesse
instante,
aos
turistas
será
entregue
uma
carta‐convite
que,
em
um
texto
curto
e
sucinto,
apresentará
formalmente
o
projeto
e
os
convidará
a
fotografar
e
filmar
com
suas
câmeras
para
o
documentário.
Após
concordarem
em
participar
do
documentário,
será
proposto
ainda
a
alguns
turistas
a
gravação
do
áudio
de
sua
leitura
da
carta,
a
qual
estará
disponível
nos
cinco
idiomas
–
inglês,
francês,
espanhol,
alemão
e
hebraico
–
mais
comuns
entre
os
visitantes
da
Rocinha.
A
idéia
é
que
esse
material
sonoro
seja
usado
na
abertura
do
documentário
em
conjunto
com
imagens
turísticas
recolhidas
destes
mesmos
turistas
e
de
imagens
de
arquivo
dos
pontos
de
visita
tradicionais
do
Rio
de
Janeiro
‐
como
Pão
de
Açúcar,
Corcovado,
Copacabana,
etc.
A
construção
dessa
seqüência
de
abertura
visa
situar
o
espectador
das
regras
e
dos
processos
responsáveis
pelo
filme
porvir,
da
mesma
forma
que
introduzi‐lo
ao
universo
tradicional
turístico
do
Rio
de
Janeiro,
que
agora
possui
um
novo
destino.
4_ Da
relação
com
os
turistas
Seguindo
a
estratégia
de
registro
observativa
e
imersiva,
interessa
na
relação
com
os
turistas
registrar
tanto
sua
atuação
convencional
nos
tours
(fazendo
perguntas
ao
guia,
interagindo
com
elementos
da
comunidade,
tecendo
comentários
com
seus
acompanhantes,
etc.),
quanto
propô‐
los
determinados
questões
em
entrevistas
instantâneas
ao
longo
da
excursão.
Com
uma
equipe
fluente
nas
línguas
inglesa
e
francesa,
os
turistas
terão
a
liberdade
de
dar
seus
depoimentos
em
sua
língua
nativa,
buscando
assim,
uma
maior
espontaneidade
e
clareza
em
suas
falas.
Nossos
questionamentos
pretendem
estimular
os
turistas
a
discorrerem
sobre
a
imagem
prévia
que
possuem
de
uma
favela
e
a
partir
de
que
meios
(filmes,
reportagens
midiáticas,
produtos,
etc.)
julgam
terem
concebido
tal
visão.
Da
mesma
forma
que
o
turista
será
instigado
a
dissertar
o
que
o
levou
a
comprar
o
tour,
tentaremos
extrair
depoimentos
que
revelem
o
resultado
imediato
e
os
sentimentos
despertados
pelo
passeio
no
seu
decorrer.
Não
é
intenção
aqui,
entretanto,
apresentá‐los
como
meros
“deslumbrados”.
Muitas
vezes
os
visitantes
trazem
consigo
certa
bagagem
cultural
capaz
de
lançar
autocríticas
a
sua
condição
e
ao
modo
como
lhe
é
apresentada
a
favela.
5_ Da
relação
com
a
comunidade
da
Rocinha
O
contato,
ou
“choque”,
entre
comunidade,
guias
e
visitantes
se
sucede,
principalmente,
na
presença
de
moradores
com
atividades
ligadas
diretamente
aos
tours:
artesões
vendendo
souveniers,
artistas
se
apresentando,
comerciantes,
etc.
A
câmera
que
irá
assistir
de
perto
estas
cenas
também
suscitará
a
estes
moradores,
sempre
a
partir
de
situações
que
se
sucederem
nos
tours,
exporem
suas
opiniões
acerca
da
atividade
turística
como
um
todo:
das
benesses
ou
não
promovidas
pelos
passeios,
sobre
a
experiência
diária
de
receber
pessoas
de
outros
países
e
culturas,
sobre
quais
eles
pensam
ser
os
atrativos
da
favela,
etc.
Com
esse
mesmo
método
informal
pretendemos
realizar
entrevistas
com
àqueles
moradores
indiretamente
ligados
ao
turismo
(passantes,
moradores
na
porta
de
suas
casas,
etc),
que
por
acaso
acabem
interagindo
com
o
passeio
e/ou
com
a
câmera.
6_ Do
uso
das
imagens
turísticas
Memórias
de
viagem,
de
maneira
geral,
guardam
em
seus
conteúdos
o
desejo
pelo
acúmulo
de
lembranças,
as
sensações
que
se
deseja
rememorar
na
volta
ao
lar.
O
olhar
turístico
é
resultado
desta
condição:
converter
em
imagem
uma
experiência
real.
Apropriar‐se
dessas
imagens
amadoras
traz
para
o
documentário,
em
um
primeiro
momento,
o
desafio
de
investigar
o
que
aquelas
câmeras
apreendem
objetivamente
e
o
que
nos
revelam
a
respeito
do
consumo
da
favela
enquanto
destino
turístico.
Da
mesma
forma,
em
um
segundo
momento,
interessa
ao
filme
ampliar
o
seu
uso
ilustrativo
e
debruçar‐se
sobre
as
suas
formas
de
fixar
o
real.
Pretende‐se
investigar
na
montagem
como
essas
fotos
e
vídeos
se
relacionam
entre
si,
em
que
novos
imaginários
podem
se
desdobrar:
os
diferentes
olhares
sobre
um
mesmo
objeto
e
como
variam
de
acordo
com
o
discurso
dos
guias;
os
enquadramentos
idênticos
de
uma
mesma
paisagem,
como
a
vista
para
a
Pedra
da
Gávea
a
partir
das
lajes;
os
encaixes
e
formas
de
complementaridade
entre
as
imagens
para
composição
de
um
cenário.
Com
uso
fusões,
sobreposições
e
animações
serão
construídos
verdadeiros
inventários
narrativos
do
ponto
de
vista
dos
turistas.
Prevê‐se,
além
disso,
que
o
convite
prévio
para
que
se
filme
e
fotografe
instigará
muitos
turistas
à
produzirem
cenas
específicas
para
o
filme.
7_ A
repetição
de
cenas
nos
passeios
filmados
A
partir
de
diversos
passeios
realizados
para
a
pesquisa
do
documentário,
fez‐se
notar
o
quão
repetitivos
e
automatizadas
são
as
performances
de
guias,
moradores
e
mesmo
o
comportamento
dos
turistas.
Tratam‐se
de
verdadeiras
cenas
diariamente
representadas,
onde
um
cicerone
as
conduz
e
as
comenta
enquanto
alguns
moradores
atuam
para
uma
platéia,
muitas
vezes
com
textos
e
performances
mecanizados.
Aos
turistas‐espectadores,
por
sua
vez,
é
permitido
interagir
com
o
cenário
“real”
tornando‐se
parte
da
cena.
Evidenciar
essa
noção
teatral
dos
passeios
é,
no
entender
do
documentário,
uma
forma
de
criticar
as
formas
de
se
fazer
turismo
não
só
na
Rocinha.
Os
tours,
com
seus
roteiros,
falas
marcadas
e
tempos
de
visita
cronometrados,
são,
assim
como
o
cinema
documentário,
uma
zona
limítrofe
entre
o
real
e
a
ficção.
Pois
é
na
linguagem
cinematográfica
que
se
pretende
tatear
essa
zona:
a
repetição
de
enquadramentos
similares
em
diferentes
tours
e
sua
montagem
paralela;
a
sobreposição
sonora
de
variados
speaches
(os
discursos
decorados
pelos
guias)
sobre
um
mesmo
tema;
a
reprodução
de
tentativas
de
venda
de
souveniers
e
as
atuações
ensaiadas
pelos
moradores;
a
sucessão
de
perguntas
e
atitudes
semelhantes
dos
turistas
diante
de
uma
mesma
cena,
etc.
SIMULAÇÃO
DAS
ESTRATÉGIAS
DE
ABORDAGEM
>
Um
portão
de
ferro
se
abre
e
um
jovem
recebe
a
equipe.
Dentro
de
um
galpão
decorado
com
temas
militares
vê‐se
cerca
de
10
jipes
estacionados.
Rafael,
de
uniforme
da
empresa
Forest
Tour,
nos
fala
sobre
o
conceito
dos
passeios
em
jipes.
Para
ele,
“o
turismo
hoje
não
pode
ser
apenas
de
cartão
postal”,
o
visitante
quer
“conhecer
a
cidade
além
dos
clichês”
e
que
os
tours
em
favelas
“são
fundamentais
para
o
visitante
entender
o
Brasil
e
seus
problemas
sociais”.
Ele
nos
apresenta
a
viatura
da
Segunda
Guerra
em
que
nos
levará
para
um
tour
em
seguida.
>
Marcelo
aguarda
no
saguão
de
um
hotel.
Observa
os
hóspedes
que
passam
tentando
identificar
seus
clientes.
Em
vão,
pergunta
a
um
grupo
se
estão
esperando
pela
Favela
Tour.
Agora
em
uma
van,
ao
microfone,
Marcelo
dá
as
boas‐vindas
aos
turistas
e
inicia
um
discurso
sobre
o
processo
ocupação
das
encostas
pelas
favelas
no
Rio.
Apresenta
as
turistas
determinadas
regras
do
tour
como,
por
exemplo,
apenas
fotografar
quando
ele
autorizar.
Toda
essa
seqüência
será
composta
por
fragmentos
de
vários
dias
distintos
em
que
o
guia
repetiu
as
mesmas
informações,
ora
sobrepondo
seus
sons
ora
os
encadeando
em
cortes
bruscos
nas
falas.
>
Turistas
observam
pinturas
com
o
tema
“favela”.
Um
deles
pega
um
quadro
e
tenta,
em
português,
descobrir
o
preço
com
o
artista.
Após
se
comunicarem
por
gestos
ele
acaba
comprando
o
quadro.
Com
a
obra
em
mãos,
o
turista
ensaia
uma
análise
estética
da
obra
para
a
câmera.
Enquanto
o
depoimento
continua
em
off,
uma
seqüência
de
fotos
de
outros
turista,
ao
lado
do
mesmo
artista,
se
alternam
na
tela.
>
A
câmera
caminha
em
uma
viela
atrás
do
guia
Toninho.
Ele
pára
e
chama
atenção
dos
turistas
para
os
buracos
em
uma
parede.
Explica,
em
francês,
serem
tiros
de
fuzil
e
que,
ao
lado,
as
letras
pichadas
são
as
iniciais
da
facção
criminosa
que
domina
o
tráfico
de
drogas
na
Rocinha.
Um
deles
pergunta
se
são
comuns
as
guerras,
como
mostrado
no
filme
Cidade
de
Deus.
Corta
para:
câmera
caminhando
atrás
do
guia
Márcio
em
uma
viela.
Ele
pára
e
mostra
ao
turista
as
marcas
de
bala
na
parede
e
as
iniciais
da
facção
que
domina
o
tráfico.
Em
inglês,
um
turista
pergunta
se
Cidade
de
Deus
foi
filmado
na
Rocinha.
>
Plano
fixo
de
uma
laje
com
vista
panorâmica
para
a
imensidão
da
Rocinha
com
São
Conrado
ao
fundo.
Turistas
entram
em
quadro
tirando
fotos
da
paisagem.
Inicia‐se
lentamente
a
sobreposição
de
fotos
e
vídeos
feitos
a
partir
daquela
vista.
Os
enquadramentos
se
coincidem
e
se
escapam
enquanto
turistas
aparecem
e
somem
da
tela.
Em
off,
ouvimos
o
depoimento
do
dono
da
laje,
Carlinhos,
que
nos
conta
ser
o
aluguel
da
laje
para
os
turista
sua
única
fonte
de
renda
há
cinco
anos.
>
Plano
aberto
e
fixo
da
fachada
da
ONG
Escola
Para
Ti.
Um
guia
conta
a
história
da
instituição
e
enfatiza
que
20%
do
valor
que
eles
pago
pelo
tour
será
revertido
para
a
manutenção
da
Escola,
onde
estudam
cerca
de
200
crianças.
Lentamente,
em
fusão,
outro
grupo
de
turistas
surge
na
imagem
e
o
anterior
desaparece,
um
outro
guia
continua
o
discurso,
explicando
que
essa
é
a
formula
de
turismo
sustentável
em
favelas
que
a
empresa
pratica.
SUGESTÃO
DE
ESTRUTURA
Analisando
a
estrutura
de
condução
dos
passeios
turísticos
pela
Rocinha,
mesmo
variando
entre
agências
e
guias,
nota‐se
que
todos
possuem
em
comum
esquemas
rígidos,
lineares
e
objetivos
de
apresentação
da
localidade.
Há
sempre
um
tempo
curto
e
limitado
para
cada
atrativo;
não
é
possível
desviar
de
suas
rotas,
nem
mesmo
voltar
para
rever
algo;
as
informações
dadas
pelos
guias
em
seus
speaches
obedecem
a
lógica
das
estatísticas
e
dos
clichês
sobre
as
favelas,
sendo
raros
os
casos
de
conversas
com
reflexões
livres
sobre
o
cenário.
A
idéia
de
se
fazer
um
tourmovie
passa
exatamente
pela
subversão
das
narrativas
empacotadas
dos
passeios.
Submetido
em
suas
filmagens
a
tais
limitações,
cabe
ao
documentário
usar
a
montagem
como
meio
de
reorganizá‐los,
evidenciando
a
lógica
industrial
e
cíclica
que
rege
a
atividade.
Estratégias
como
a
repetição
de
enquadramentos
em
determinados
cenários,
montagens
paralelas
entre
os
discursos
de
guias
e
animações
simples
com
as
imagens
turísticas
farão
parte
da
estrutura
narrativa,
procedendo
transições
entre
cenas
e
assim
ligando
os
diversos
passeios
durante
o
filme.
Vislumbra‐se
uma
estrutura
iniciada
por
um
prólogo
composto
por
fotografias
e
filmes
turísticos
antigos
do
Rio
de
Janeiro
serão
animados
junto
a
imagens
atuais.
Enquanto
vemos
alguns
turistas
no
Pão
de
Açúcar,
o
Corcovado
e
a
Praia
de
Copacabana,
o
plano
sonoro
será
composto
pela
leitura
da
carta‐convite
em
diversos
idiomas.
Aos
poucos,
vemos
esses
mesmos
turistas
postados
em
um
novo
destino.
Ao
contrário
da
cronologia
interna
dos
tours,
não
se
pretende
uma
estrutura
para
o
corpo
do
filme
que
obedeça
à
seqüência
dos
fatos:
1)
translado
da
Zona
Sul
à
Rocinha,
expectativas
e
apresentação
do
passeio;
2)
diversos
pontos
de
visita
ordenados
dentro
da
favela
e
o
contato
com
a
comunidade;
3)
considerações
finais,
desdobramentos
imediatos
dos
tours
no
retorno
ao
hotel.
Esses
três
momentos
comporão
aqui
uma
narrativa
fragmentada
e
acronológica.
Assim,
situações
ocorridas
no
final
de
um
passeio
podem
ser
antecipadas
para
revelar
as
mudanças
de
postura
dos
personagens
após
o
rito
de
passagem
que
é
o
tour.
Se
as
imagens
dos
turistas
são
objetos
fundamentais
deste
documentário,
não
o
são
somente
por
seus
conteúdos
e
formas.
O
seu
simples
uso
já
se
coloca
como
uma
tarefa
de
organização
das
memórias
alheias.
Nesse
sentido,
a
fragmentação
e
a
atemporalidade
surgem
como
meios
de
acessá‐las
valorizando
suas
subjetividades
narrativas.
Isso
porque,
no
universo
de
imagens
turísticas
clicadas
na
Rocinha,
mais
do
que
nunca,
a
noção
de
memória
não
está
vinculada
apenas
a
idéia
de
“passado”.
Como
diz
a
máxima
do
poeta,
“a
memória
é
uma
ilha
de
edição”.
Ou
seja,
as
imagens
dos
turistas
pautarão
a
narrativa
tanto
para
projetar
futuros
acontecimentos
como
para
rememorar
fatos
de
outrora,
criando
um
tempo
presente,
porém
descentralizado.
O
espectador,
ao
final,
perderá
a
referência
do
que
possa
ter
acontecido
antes
ou
depois,
ficando
com
a
sensação
de
que
as
lembranças
de
uma
viagem
estão,
naturalmente,
suspensas
no
tempo.