Assunto de família, último longa do grande diretor japonês Hirokazu Koreeda, a Palma de
Ouro. Tendo sido indicado constantemente desde 2001 com Tão Distante, venceu o Prêmio do
Júri com o bonito longa Pais e filhos, no qual desenvolve uma trama inesperada de troca de
famílias tendo como centro de articulação o filho “de ambas”, um menino de
aproximadamente 8 anos.
Esse vazio torna-se o centro estrutural do longa que, dos que tive oportunidade de ver,
é sem dúvida sua obra-prima: Boneca Inflável (2009), que também concorreu em Cannes. O
enredo é uma grande alegoria sobre as relações vazias num mundo globalizado e
comercializado em larga escala, e gira em torno de uma boneca que durante o filme se tornará
cada vez mais humana, adquirindo sentimentos muitas vezes mais verdadeiros que os
“humanos” que contracenam junto a ela.
A crítica social está posta, mas – e parecido com o que acontece com parte do cinema
brasileiro contemporâneo –, o olhar é para dentro, ou seja, para a subjetivação nesse caso, e
não para fora, externando objetivamente o problema, mas detendo-se em mostrar como isso
afeta a/o personagem. Então acompanhamos a boneca em sua trajetória de objeto sexual
propriamente dito (e a crítica a indústria pornográfica compõe o centro da crítica social) para
uma mulher com descobrimento sua sensibilidade. Um filme sensível e inventivo como só um
japonês podia fazer; como só Koreeda podia fazer.