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Raquel Tardin
Federal University of Rio de Janeiro
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Raquel Tardin
Copyright © 2008 Raquel Tardin
Todos os direitos reservados.
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)
Editora 7Letras
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CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Anexos
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7577-552-3
CDD: 712
08-4849. CDU: 712.25
Para Rodrigo, Davi e Lina
Agradecimentos. Ao Professor Antonio Font, pela seriedade, paciência e dedi-
cação na orientação do trabalho da Tese de Doutorado. Aos professores Carles Llop, Nuno
Portas e Álvaro Domingues, pela atenção, incentivo e as colaborações que ofereceram ao
trabalho ao longo de seu desenvolvimento. Aos professores Joaquim Sabaté, Joan Nogué e
Enric Batlle, pelas contribuições que realizaram ao projeto. À professora Lucia Costa, pelo
apoio constante. Aos entrevistados, pela amabilidade de conceder-me seu tempo. A todos os
que facilitaram documentos importantes para o desenvolvimento das análises pretendidas.
Ao Governo do Brasil, através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), por financiar parte do tempo necessário para a execução da Tese. Ao Go-
verno do Estado do Rio de Janeiro, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio de Janeiro (Faperj), por financiar a editoração deste livro. Aos que de alguma maneira
colaboraram para a finalização da pesquisa e que eu, injustamente, tenha omitido.
7
Sumário
Prólogo | 13
1 Introdução | 17
1A > Apresentação | 18
1B > Referentes disciplinares e objetivos | 25
1C > Metodologia | 29
Cartografiia e escala de análise | 29
Iconografia | 30
Fontes bibliográficas | 31
Entrevistas | 32
8 Bibliografia | 237
13
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
grande curiosidade, por muitas e diversas razões, mas, sobretudo, por uma: por conceder
ao espaço livre um papel protagonista no projeto territorial e na intervenção urbanística.
Raquel propunha “ler” de outra maneira os espaços livres para entendê-los em siste-
ma e como agentes ativos do projeto territorial, distintos de simples espectadores mudos,
passivos, isolados, na expectativa de ocupação ou proteção. Sempre achei que esta era
uma perspectiva não apenas sugestiva, mas necessária, e que poderia dar excelentes
frutos, tanto no caso do Rio de Janeiro, que a autora utilizava como caso de estudo,
como em muitos outros territórios. A autora é consciente disto e nos propõe um modelo
extrapolável a outros casos e uma metodologia aplicável a qualquer outro lugar. Pois bem,
conceder aos espaços livres este papel tão protagonista implica conhecê-los a fundo,
caracterizá-los, defini-los e propor a ordenação de seu sistema espacial. Daí a exaustiva
lista de atributos e indicadores que a autora nos apresenta, assim como suas pertinen-
tes reflexões sobre alguns aspectos fundamentais do sistema e sua ordenação, como os
limites destes espaços e as funções urbanas, ambientais e visuais que desempenham
somadas às sócio-culturais.
A perspectiva defendida por Raquel me interessou também porque, de certo modo,
coincide com a que estamos aplicando, a partir do Observatório de Paisagem de Catalu-
nha, aos denominados catálogos de paisagem*, ainda que, obviamente, em outra escala
e com um interesse voltado para intervenções mais políticas que físicas na paisagem. Pois
bem, ao conhecer o presente trabalho, não pude evitar estabelecer uma comparação entre
nossa experiência e a proposta pela autora e me encontrei com a agradável surpresa de
que, desconsiderando as diferenças entre escalas e objetivos, eram muitos os pontos de
contato: a visão integral da paisagem, a metodologia inter e transdisciplinar e, sobretudo,
o tratamento reservado aos espaços livres.
Também para nós estes espaços são considerados agentes prioritários no projeto
territorial, de acordo com o que já foi constatado no Convênio Europeu de Paisagem ao
afirmar: “A paisagem é um elemento importante para a qualidade de vida das popula-
ções, tanto nos meios urbanos como nos rurais, tanto nos territórios degradados como nos
de grande qualidade, tanto nos espaços singulares como nos cotidianos”.
Creio sinceramente que contribuições como a que este livro representa são fundamen-
tais para conseguir estender e difundir uma nova cultura de ordenação do território
14
Prólogo
* Os catálogos de paisagem são documentos de caráter técnico que a Lei catalã de proteção, gestão
e ordenação da paisagem, concebe como ferramentas para a ordenação e a gestão da paisagem a partir da
perspectiva do planejamento territorial e setorial. Os catálogos determinam os tipos de paisagem de Catalunha,
seus valores e estado de conservação, os objetivos de qualidade que devem cumprir e as medidas para conseguí-
los. São, portanto, uma ferramenta extremamente útil para a implementação de políticas de paisagem, com a
conivência e a participação ativa de todos os agentes sociais que intervém no território através de um intenso
processo de participação pública.
15
1
Introdução
Este livro trata do papel que podem desempenhar os espaços livres no projeto ter-
ritorial, com base no seu reconhecimento como um sistema com valores próprios, com
potencial para reestruturar o território urbano e ordenar uma possível futura ocupação.
Os espaços livres são vistos, a partir de sua estrutura espacial e funcional, como partes
do território não ocupadas pelos assentamentos e pelas infra-estruturas viárias. O território
é entendido como paisagem artificializada, lugar da natureza e do humano, isto é, espaço
passível de ser visto, interpretado, adaptado e transformado ao longo do tempo. Neste
marco, o sistema proposto reúne o conjunto de peças de espaços livres, relacionadas entre
si e com seu entorno, e é suscetível a sofrer mutações com o tempo.
Especificamente, se propõe a ordenação do sistema de espaços livres como uma es-
tratégia de projeto e possível elemento vertebrador do território, centrada na atuação
sobre unidades territoriais em vias de consolidação da ocupação urbana. A unidade ter-
ritorial conformada pelos Maciços da Pedra Branca e da Tijuca, o Oceano Atlântico, e a
Baixada de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, constitui o objeto
empírico deste livro.
O objetivo é a elaboração de um método interdisciplinar, que envolva o reconheci-
mento dos espaços livres territoriais, a análise e a avaliação de alguns de seus atribu-
tos mais significativos, de modo que permita uma aproximação às peças que convêm
17
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
1A > Apresentação
Nas últimas décadas, vários autores (Boeri, 1992; Ascher, 1995; Corboz, 1995, Demat-
teis, 1995; Font et al, 1999; entre outros) vêm estudando o fenômeno da transformação
ou mutação das cidades, a partir da perspectiva das novas formas de crescimento urbano,
responsáveis pelo desenvolvimento de um novo modelo de cidade frente às mudanças
ocorridas nas tecnologias de transporte, da informação e na ordem econômica. Neste
processo, a amplidão alcançada pela urbanização modificou a tradicional relação centro-
periferia, conformando manchas urbanas que ocuparam o território de forma desigual e
descontínua, formando uma intricada rede de relações com realidades físicas e funcionais
cada vez mais complexas.
Nas cidades amuralhadas era possível diferenciar claramente os tecidos urbanos dos
espaços livres territoriais, através dos limites dos muros. Também, até épocas bem recen-
tes do séc. XX, se podia identificar as partes do território e sua estruturação de modo mais
ou menos compacta, pois a cidade tinha um “fim”, mais ou menos perceptível.
Entretanto, os territórios atuais apresentam conformações inusitadas, com uma estru-
tura espacial descontínua e estendida, com centros compactos, que se misturam a assenta-
mentos dispersos e áreas naturais e rurais, conectados por uma rede viária potencializada,
e que conformam uma realidade urbana distinta, na qual a cidade invadiu as áreas rurais,
misturando ambas as instâncias, oferecendo uma visão conjunta entre cidade e campo no
território. Neste contexto de afetação mútua, os meios urbano, natural e rural passaram a
constituir uma só realidade, a realidade dos territórios urbanos. Estes são territórios ame-
açados pela ocupação desmedida e fragmentada, e que apresentam, por um lado, uns
18
Introdução
19
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
caráter plural destes espaços e que contribuam para reconduzir a construção do território.
Para tanto, utilizam-se instrumentos que derivam de disciplinas próximas, como o urbanis-
mo, a geografia, a ecologia e o paisagismo.
Longe de concepções protecionistas ou desenvolvimentistas que resultam em pai-
sagens fragmentadas e isoladas, seja através de tecidos urbanos que não se relacionam
entre si, seja através de espaços livres protegidos como ilhas da “natureza”, o que se
pretende é promover a coesão ao invés da separação, misturar, construir o território po-
tencializando uma estreita relação entre espaços ocupados e não ocupados, ao ponto de
a própria ocupação poder ser decisiva na manutenção de alguns espaços livres, quando
da constatação de que as funções urbanas que estes desempenham, como a possível
articulação entre tecidos, configurem uma condição singular para sua permanência sem
ocupação urbana, à parte seus valores biofísicos, perceptivos, entre outros.
Segundo Pesci (1999), é nas fronteiras entre realidades distintas que se apresentam
as oportunidades mais ricas de intercâmbio, de proximidade, de agregação, de atração.
Estas constituem lugares privilegiados para a compreensão dos processos funcionais na
paisagem com o objetivo de fornecer respostas compatíveis, enriquecedoras, inovadoras,
que resultem em espaços adaptáveis à realização de distintas dinâmicas. Correspondem
a lugares heterogêneos, onde importam a relação e o equilíbrio dinâmico entre eles e
não a homogeneização. Isto induz a um olhar intencionado sobre estes “encontros fron-
teiriços”, a fim de juntar as partes, costurar, inter-relacionar as diferenças em prol de um
território agregado e contínuo.
A eleição de um caso de estudo na América Latina, e em especial no Rio de Janeiro,
responde, por uma parte, a um interesse pessoal sobre esta realidade e, por outra, à consta-
tação da presença de algumas das maiores metrópoles mundiais nesta parte do continente
americano, que possuem muitos aspectos em comum quanto à conformação de seus ter-
ritórios, por exemplo: os graves problemas relacionados com a condução de um processo
de urbanização selvagem, ligado à presença de importantes reservas de espaços livres e a
poucos recursos para a reconversão deste quadro, o que agrava a condição atual.2
A isto se soma a coincidência das dimensões territoriais das paisagens na América, as
quais, diferentemente da maioria das metrópoles européias, geralmente compactas den-
tro do âmbito administrativo do seu núcleo central, apresentam imensas áreas em pleno
processo de ocupação urbana dentro destes âmbitos, que ultrapassam a dimensão dos
20
Introdução
3 4
21
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
tecidos urbanos em si mesmos e são definidos pelos espaços livres pertencentes a uma
escala mais ampla do território. Estas características e, especificamente, as dimensões dos
espaços livres que as conformam, as convertem, funcional e espacialmente, em exemplos
representativos de realidades territoriais com uma ocupação urbana não consolidada, onde
a intervenção em prol de sua consolidação tenderia a atuar a favor do “remate” destes
núcleos centrais que, na maioria dos casos, já apresentam infra-estruturas que poderiam
ser utilizadas na futura consolidação, evitando o consumo de solos mais distantes.
Dentro desta realidade, além dos problemas referentes à urbanização e às reservas de
espaço livre, o Rio de Janeiro constitui, por si mesmo, um símbolo mundial, pela relevância
da presença de uma paisagem inconfundível. O Rio não só é uma metrópole com um tipo
de crescimento e de ordenação urbanos extremamente complexos, e ainda carentes de
instrumentos de análise como os que se propõe neste trabalho, como possui uma grande
quantidade de espaços livres, que influenciaram, e ainda o fazem, na configuração espacial
de seu território, como marco de sua estrutura urbana muito mais que sua arquitetura, o
que demonstra o potencial vertebrador destes espaços dentro das dinâmicas de crescimen-
to da metrópole.
Para realizar as análises, a eleição do caso de estudo buscou atender alguns critérios que
o legitimariam dentro da intenção de trabalhar uma unidade territorial concreta, que fosse de-
limitada por elementos geográficos decisivos na conformação do território em sua totalidade
e que permitisse traçar o sistema de espaços livres como uma unidade espacial e funcional.
Segundo Font et al (1999), as unidades territoriais estariam representadas por alguns
fatores, como, por exemplo, estar ligadas a uma unidade fisiográfica e a um sistema par-
ticular de organização espacial, morfológica e funcional.
Neste sentido, a unidade territorial objeto de estudo apresenta algumas particulari-
dades significativas que tendem a reforçar as análises e a compreensão do fenômeno que
se quer explicar, principalmente com relação a:
• Sua fisiografia. A unidade apresenta uma geografia muito bem delimitada pelos maci-
ços, a planície e o mar, o que favorece a compreensão do sistema de espaços livres que se
22
Introdução
caso de estudo
23
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
propõe e as distintas escalas das partes componentes. Este marco de relações apresenta a
possibilidade de associar, em uma mesma unidade, distintas escalas de espaços livres como
oportunidades para a ordenação do sistema e para a reestruturação do território, realçando
a força do sistema como uma unidade representativa do conjunto de espaços relacionados
entre si e com seu entorno imediato.
Por suas peculiaridades, se considera que o caso de estudo escolhido pode represen-
tar um desafio para a demonstração do método interdisciplinar proposto ao ilustrar algu-
mas problemáticas representativas de muitas das tensões e necessidades que poderiam
apresentar os espaços livres dentro da dinâmica urbana do território.
Cabe ressaltar que o método apresentado pode ser repetido, isto é, pode ser aplicável
a outros territórios. O caso de estudo constitui uma de suas possibilidades de aplicação,
que certamente terá limitações e, portanto, não pretende ser ilustrativo de todas as possi-
bilidades de análises e propostas que abarquem a infinidade de elementos espaciais e as
funções correlativas que possam existir.
O que se pretende é contribuir, ainda que modestamente, para o enriquecimento do
marco teórico e prático do urbanismo com a intenção de, através de um enfoque inter-
disciplinar, superar discursos que muitas vezes se dão isoladamente, considerando que o
tema e todo o material acadêmico que este reúne, permite outros tantos olhares, inesgo-
táveis e legitimados pela crença em territórios urbanos mais humanos.
24
Introdução
25
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
alguns autores realizaram importantes contribuições teóricas, entre eles, Barba (1987) e
Batlle (2002), no contexto catalão.
Na sua Tese de Doutorado, Barba propõe a leitura do território a partir da identifica-
ção de sua composição geométrica e da caracterização de suas principais conformações,
através de uma análise abstrata da forma territorial, que permitiria determinar princípios
de intervenção na paisagem.
Na sua Tese de Doutorado, Batlle busca identificar o sistema de espaços livres da
metrópole e estabelecer como o projeto dos espaços livres pode considerar recursos eco-
lógicos e morfológicos para a melhoria da estrutura urbana e quais as linhas de projeto
que deveriam ser adotadas.
Este livro também pretende contribuir nesta linha de trabalhos, que se diferencia das
abordagens tradicionais de descrição e intervenção sobre o sistema de espaços livres
como diretriz para o Projeto Territorial.
De modo geral, o livro aponta um método de enfoque interdisciplinar, que envolve a
análise e a avaliação e que resulta em estratégias de intervenção sobre a ordenação do
sistema de espaços livres no território, sobre as seguintes bases:
• Reconhecimento dos espaços livres a analisar. As análises referidas a este tópico per-
mitem a identificação e caracterização dos espaços livres existentes e das dinâmicas urbanas
nas quais se inserem. Apontam a importância que tiveram os espaços livres na organização da
26
Introdução
• Análise e avaliação dos atributos dos espaços livres. Estas análises buscam avaliar
cada espaço livre, de acordo com os seus atributos, respectivamente, com respeito ao supor-
te biofísico, aos aspectos perceptivos, à acessibilidade e aos vínculos de planejamento. Os
critérios de avaliação buscam priorizar, entre outros fatores, os espaços cujos atributos favo-
reçam o desenvolvimento dos processos biofísicos e visuais, e que possam ter um importante
papel na reestruturação espacial e funcional do território3. Como síntese da avaliação se
propõe a elaboração de um diagnóstico relativo aos espaços livres analisados, destacando
as qualidades de cada peça segundo seus atributos, cujo objetivo é identificar os possíveis
espaços de oportunidade projetual para a ordenação do sistema e as relações espaciais que
estabelecem entre eles e com seu entorno, como dados para a intervenção no território.
Em primeiro lugar, são privilegiados os espaços com as melhores qualificações4 obtidas na
avaliação dos atributos biofísicos e perceptivos, aos quais se denominam espaços âncora, se
estes alcançam qualificações A/MA, e espaços referência se alcançam qualificações M/MB.
Por último, estão os demais espaços livres sem atributos significativos. Sobre este lastro, são
descritas as situações dos espaços no território com a identificação das principais continui-
dades e descontinuidades entre eles e as características de suas fronteiras, relativas a outros
espaços livres e aos tecidos urbanos. Em segundo lugar, são observadas as possíveis garan-
tias e ameaças pendentes sobre os espaços livres, relativas à avaliação final dos parâmetros
de proteção estabelecidos pelo planejamento que, a princípio, determinaria uma maior ou
menor tendência à ocupação. Constata-se que os espaços com uma avaliação final A/MA
são, atualmente, os mais propensos a permanecerem livres de ocupação.
27
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
sistema de espaços livres. Por um lado, se propõem alguns princípios de projeto, referentes
às relações espaciais e funcionais estabelecidas entre os espaços livres e seus entornos,
como determinantes de algumas diretrizes projetuais, que podem ser aplicadas a cada
um dos espaços e que possibilitariam a ordenação do sistema de espaços livres. Por outro
lado, sugerem-se algumas ações de projeto, estabelecidas segundo a avaliação prévia dos
atributos dos espaços e a situação que apresentam em relação a seu entorno, como resul-
tado de uma análise relacional que indicaria os possíveis papéis que desempenharia cada
peça de espaço livre na ordenação do sistema e seu potencial estruturador. Conjunta-
mente, se destacam os possíveis desafios e alternativas que corroborariam a consolidação
efetiva do sistema de espaços livres a partir dos instrumentos de planejamento.
Cabe ressaltar que em um enfoque amplo e de caráter interdisciplinar, como o proposto,
é impossível abarcar todos os aspectos e dados que este poderia gerar e, como já foi ex-
posto anteriormente, esta não é a intenção, ainda mais considerando-se que este trabalho
é fruto de um esforço individual e não de uma equipe interdisciplinar. O que se propõe é
um processo de investigação aberto que busca no pluralismo disciplinar, mais que na visão
unidirecionada, uma possível via de trabalho.
Neste sentido, se percebe a exigência cada vez maior, em relação às intervenções
no território, de uma tomada de posição que considere proposições estratégicas plurais,
com formalizações flexíveis, embora bem delineadas em sua intenção conceitual, como
diretrizes capazes de reconduzir uma possível ocupação urbana, de se adaptar e de gerir
a complexidade de acordo com as imposições das dinâmicas territoriais atuais.
Tendo em conta as características das intervenções urbanísticas tradicionais, comu-
mente embasadas em critérios de ocupação urbana, o livro destaca a importância de
considerar os espaços livres como um agente ativo na construção do território, como
espaços repletos de conteúdo dentro da estrutura territorial e não apenas como áreas não
urbanizáveis, manchas abstratas. Isto significa passar da definição de “manchas” à com-
preensão dos valores que estes espaços reúnem e como eles podem significar, de acordo
com seus atributos, oportunidades de intervenção com base na proposta de um sistema
relacionado com seu entorno e capaz de influenciar na sua configuração, mais que como
peças protegidas isoladamente e suscetíveis a intervenções pontuais.
Ao mesmo tempo, se questionam alguns modelos urbanísticos, sobretudo aqueles com
base na ecologia, que se preocupam com a proteção dos espaços livres e/ou com a relação
28
Introdução
respeitosa entre espaços livres e ocupados, sem considerar a complementaridade entre os fe-
nômenos existentes nestes espaços como parte de um todo, que é a paisagem artificializada,
na qual convivem e se relacionam espaços livres e ocupados e como estes últimos podem ser
determinantes para a permanência e ordenação dos espaços não ocupados. Assim, a inter-
venção nos espaços livres envolveria outras variáveis, além das ecológicas, e possibilitaria criar
novas oportunidades de projeto e soluções para a construção do território.
1C > Metodologia
29
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Iconografia
30
Introdução
documentação fotográfica como registro das principais visadas. Para tanto, a autora per-
correu as principais vias da unidade territorial em questão, nos dois sentidos, fotografou
as principais vistas, visitou os edifícios mais altos da área e os pontos panorâmicos, a fim
de captar as vistas gerais, e efetuou o reconhecimento dos parques existente e demais
espaços livres de dimensões mais relevantes.
Este trabalho de campo permitiu abarcar os atributos perceptivos mais significativos
do caso de estudo, que ficaram registrados em mais de 1.000 fotografias digitais, tomadas
desde dezembro de 2001 até julho de 2004 em visitas ao local para a pesquisa de campo
de uma duração variável entre um e dois meses.
Para a análise da história da ocupação urbana, além das fotografias obtidas na
pesquisa de campo, foram utilizadas fotografias históricas, ortofotos na escala 1:8.000,
que compreendem todo o caso de estudo (e que serviram de apoio à confecção da car-
tografia utilizada em outros itens), e fotografias aéreas que ofereceram uma visão geral
do âmbito estudado.
A iconografia também foi um recurso importante para a elaboração das estratégias de
intervenção, principalmente as que se referem a alternativas projetuais sobre os espaços
livres do sistema. Para isto, se levou a cabo uma ampla pesquisa, em revistas e livros, de
exemplos que poderiam ser ilustrativos do que se pretendia demonstrar em cada item.
Fontes bibliográficas
31
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Entrevistas
32
Introdução
No total foram 19 entrevistas, com uma duração aproximada de uma hora cada,
realizadas entre as pessoas representantes do setor público e da comunidade local. Em
geral, as entrevistas, todas gravadas, se desenvolveram de modo semi-estruturado, dei-
xando espaço para que o entrevistado pudesse se estender sobre outros aspectos que lhe
parecessem relevantes com relação ao tema proposto. O procedimento das entrevistas
aportou um material valioso para o livro, já que permitiu relacionar características físicas,
foco das análises, com as realidades sociais e culturais do caso de estudo referentes aos
espaços livres, proporcionando, assim, pistas para as estratégias de projeto, além de con-
tribuir para sua validação.
33
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Notas
1
“El concepto de ciudad sostenible reconoce que las ciudades deben responder a determinados objetivos
sociales, medioambientales, políticos y culturales, así como físicos y económicos. Se trata de un organismo di-
námico tan complejo como la propia sociedad y suficientemente sensible para reaccionar debidamente ante los
cambios. La ciudad sostenible es una ciudad con múltiples facetas:
– Una ciudad justa, donde la justicia, los alimentos, el cobijo, la educación, la sanidad y las posibilidades
se distribuyan debidamente y donde todos sus habitantes se sientan partícipes de su gobierno.
– Una ciudad bella, donde el arte, la arquitectura y el paisaje fomenten la imaginación y renueven el espíritu.
– Una ciudad creativa, donde la amplitud de miras y la experimentación movilicen todo el potencial de
sus recursos humanos y permitan una más rápida capacidad de respuesta ante los cambios.
– Una ciudad ecológica, que minimice su impacto ecológico, donde la relación entre espacio construido y
paisaje sea equilibrada y donde las infraestructuras utilicen los recursos de manera segura y eficiente.
– Una ciudad que favorezca el contacto, donde el espacio público induzca a la vida comunitaria y a la movili-
dad de sus habitantes y donde la información se intercambie tanto de manera personal como informáticamente.
– Una ciudad compacta y policéntrica, que proteja el campo de alrededor, centre e integre a las comuni-
dades en el seno de vencidarios y optimice su proximidad.
– Una ciudad diversa, en la cual el grado de diversidad de actividades solapadas anime, inspire y pro-
mueva una comunidad humana vital y dinámica” (Rogers, 2000, p.168).
2
As metrópoles latino-americanas possuem muitas características comuns na sua configuração urbana,
apesar das diferenças inerentes ao lugar ou ao tipo de influência que apresentam em relação a suas respecti-
vas regiões, como, por exemplo: a irreversibilidade do êxodo rural, a presença de grandes propriedades rurais
e urbanas, a variação nos ritmos econômicos, a presença de zonas de degradação urbana como as favelas,
altos índices de pobreza e desigualdade na distribuição de renda e, entre outros fatores, fortes pressões de
crescimento urbano e uma expansão descontrolada (Santos, 1982).
3
Como referências, para estabelecer critérios de análise e avaliação dos atributos dos espaços livres, foram
utilizados os seguintes trabalhos: Lynch (1969); McHarg (1969); Bolós (1992); Gómez Orea (2001), entre outros.
4
Foram designados valores alto (A), médio-alto (MA), médio (M), médio-baixo (MB) e baixo (B), confor-
me o caso analisado.
34
Introdução
5
A cartografia se desenvolveu com base nas seguintes fontes:
• Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro:
– Plantas digitais na escala original de 1:10.000, 1999 (via Internet).
– Plantas digitais na escala original de 1:2.000, 1997.
– Informações provenientes do CD Atlas Rio (1998), principalmente referentes à cartografia de favelas e
loteamentos irregulares na área de estudo, e atualizadas segundo uma planta impressa na escala 1:80.000,
2001, produzida pela Secretaria de Habitação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
– Mapa impresso da cidade do Rio de Janeiro na escala 1:50.000, 1999 e 2003.
– Informações provenientes do CD Zoneamento Urbano 99, referentes à ordenação territorial existente.
– Plantas em PDF provenientes do Estudo de Impacto Ambiental para o Projeto de Recuperação Ambien-
tal da Macrobacia de Jacarepaguá. RJ: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, SMAC, 1998, V.2.
• Fundação CIDE, Estado do Rio de Janeiro:
– Plantas digitais na escala original de 1:50.000 correspondentes às folhas: 2744-4 e 2745-3 (Santa
Cruz e Vila Militar, respectivamente) referentes às informações sobre o uso do solo e cobertura vegetal, dinâ-
mica urbana e condicionantes físicos e ambientais.
– Planta digital da Região Metropolitana do Rio de Janeiro sobre o uso do solo e a cobertura vegetal a
escala 1: 200.000, 1994.
• Centro Nacional de Pesquisa de Solos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA):
– CD relativo ao estudo e caracterização dos solos do Estado do Rio de Janeiro, 2001.
6
As fontes da documentação fotográfica (não realizadas pela própria autora) são:
• Fotografias aéreas realizadas pelo arquiteto Rodrigo Rinaldi em 2001.
• Instituto Pereira Passos (IPP) – Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro:
– Ortofotos na escala 1:30.000, ENGEFOTO, vôo 12/07/99.
– Ortofotos na escala 1:8.000, 2000.
35
2
Algumas questões conceituais
Neste capítulo se analisam algumas contribuições teóricas que servem como base
para o desenvolvimento do livro.
Em primeiro lugar, se estuda como o sistema de espaços livres foi utilizado como eixo
estratégico para a intervenção no território ao longo da história, considerando distintos
enfoques e finalidades com relação ao crescimento das cidades.
Posteriormente, se definem os conceitos de território, paisagem artificializada, es-
paços livres territoriais e sistema e se traçam linhas gerais sobre o sistema de espaços
livres enquanto possível reestruturador do território, segundo seus atributos e os papéis
que pode desempenhar na integração de âmbitos fragmentados, vítimas de intervenções
urbanas pouco atentas ao equilíbrio territorial.
37
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Com esta proposta, Olmsted procurava integrar a cidade ao campo como partes de
um mesmo desenho, através do sistema de espaços livres. O espaço livre no sistema
adquiriu uma nova dimensão, para além dos parques públicos encerrados em si mesmos,
pois estavam conectados através de parkways. Estas, além de unir os parques entre si,
contribuíam com uma nova concepção para o desenho das vias, mais próxima do desfrute
da paisagem do que propriamente destinada a resolver as questões de tráfego, podendo
se apresentar como ruas arborizadas, caminhos panorâmicos ou elementos de continuida-
de paisagística, que cruzavam parques e outros espaços livres (Jellicoe, 1995).
Estas idéias que se aplicaram no início do séc. XX em outras cidades como Chicago
(1909) e Nova Iorque (1928), denotavam a preocupação em introduzir a natureza na
cidade e oferecê-la para o desfrute coletivo, conectando o estrato construído e o estrato
livre através do caráter contínuo das vias-parque, ao mesmo tempo em que atendiam ao
desejo de embelezar a urbe. De fato, as propostas se aproveitavam do projeto simultâneo
do espaço livre e das vias e sua respectiva consolidação espacial como guias para a cons-
trução da cidade.
Posteriormente, frente ao crescimento das cidades industriais, surgiu a proposta das
cidades-jardim de Howard como alternativa de ordenação do território. As cidades-jardim
buscavam evitar o excessivo adensamento urbano, a contaminação, os problemas sociais
e a separação abrupta entre a cidade e o campo. Em sua concepção se propunha a criação
de novos núcleos urbanos, fora dos grandes centros tradicionais, dotados de grande auto-
nomia funcional, com indústrias, agriculturas e equipamentos públicos, e com um desenho
que procurava integrar de forma harmônica a cidade e a natureza através de um sistema
de espaços livres (Hall, 1996).
Na ocupação do território, estas cidades tinham limites claros, tanto físicos quanto
demográficos. À medida que uma cidade se aproximasse de seu limite, se criaria uma nova
ao lado, e ambas estariam separadas entre si por seus próprios cinturões verdes (Hall,
1996). As cidades seriam ligadas por infra-estruturas viárias, e a idéia era garantir a ocu-
pação planejada do território incorporando o respeito pela natureza, embora as questões
de fundo fossem mais sociais que propriamente ecológicas ou de embelezamento.
Também com o objetivo de ordenar o crescimento da cidade e estabelecer novas
cidades, Le Corbusier iniciou o urbanismo do Movimento Moderno como alternativa aos
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Algumas questões conceituais
padrões densos e “sujos” da cidade industrial, no qual o sistema de espaços livres tem
uma presença importante. Na Ville Radieuse (1935), os assentamentos e o espaço livre
ocupavam lugares distintos, ao mesmo tempo em que, desde um enfoque funcionalista,
os usos do solo eram específicos e não se misturavam. A cidade do Movimento Moderno
incorporava o espaço livre na ordenação, embora de modo abstrato, como lugar idealiza-
do e como “fundo” do edificado.
Na verdade, neste modelo o espaço livre aparece, por um lado, como tapete verde, seja
como acompanhamento das vias (os espaços verdes lineares de Chandigard, 1950), seja
como superfície marcada pelas edificações. Por outro lado, o espaço livre aparece como
reserva de características singulares do território, cena paisagística. Nem uma nem outra
concepção deixa claro o caráter do espaço livre como elemento estruturador, e sim reforçam
seu afastamento da conformação espacial da cidade, fundamentada nos assentamentos e
nas vias (Jellicoe, 1995). Outros exemplos desta concepção são o plano para a cidade de
Brasília (1960) e as propostas do próprio Le Corbusier para o Rio de Janeiro (1929) (fig.9).
Na tentativa de ordenar o crescimento das cidades, que aumentava em um ritmo ver-
tiginoso, algumas urbes se empenharam em traçar planos gerais, que tinham no sistema
de espaços livres um importante aliado para sua ordenação.
A cidade-jardim e sua lógica de localização se incorporaram ao plano de Abercrombie
para a Grande Londres (1943), junto à previsão de estradas perimetrais e cinturões verdes
que separavam zonas mais ou menos concêntricas, ao mesmo tempo em que isolavam as
novas cidades do antigo centro (Hall, 1996). Como um conceito norte-americano, os cintu-
rões verdes também foram usados no Plano Regional de Nova Iorque, assim como as cunhas
verdes. Por uma parte, os cinturões verdes, conformados por espaços naturais ou rurais, fun-
cionavam como freio à expansão urbana e, por outra, as cunhas verdes penetravam nas cida-
des e estabeleciam um contato mais direto entre a ocupação urbana e os espaços livres.
Nesta mesma direção, o interesse dos países do norte da Europa pela natureza tam-
bém trouxe alternativas para sua introdução nos centros urbanos. No Copenhagen Fin-
ger Plan (1947) (fig.10), os “dedos verdes” invadiam a cidade, ajudados pela topografia
natural, permitindo um contato respeitoso entre o estrato construído e os espaços livres,
ao mesmo tempo em que ordenavam o desenvolvimento de novas ocupações. O objetivo
principal do plano era frear o crescimento da cidade e concentrar a ocupação urbana ao
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
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Algumas questões conceituais
redor destes eixos. O mesmo ocorreu no Plano Regional de Estocolmo (1967), que procu-
rava vincular a construção da cidade ao sistema de espaços livres (Jellicoe, 1995).
Entretanto, a explosão das cidades, a partir da década de setenta, teve impactos em
diversas instâncias: a perda da qualidade de vida nos centros urbanos, a tendência geral
à degradação dos espaços livres e o crescimento intenso e descontrolado, que resultou na
dispersão urbana pelo território.
As reações a estes fatos tiveram início ainda nos anos sessenta, com trabalhos orien-
tados para a qualidade de vida coletiva nos espaços livres públicos urbanos e a valoriza-
ção da paisagem7. Ao mesmo tempo, a partir dos anos setenta, começaram a se introduzir
preocupações de fundo ecológico expressas em trabalhos como o de McHarg (1969), na
criação do National Environment Policy Act (NEPA) nos Estados Unidos (1969), no desen-
volvimento de idéias de planejamento ecológico e de ecologia da paisagem na Holanda,
além de outras iniciativas que defendiam uma melhor integração entre as distintas instân-
cias da paisagem. Neste contexto, a importância dada pelos governos a esta problemática
deu origem à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocol-
mo, 1972) e à Cúpula do Meio Ambiente (Rio de Janeiro, 1992), que tentaram consolidar
as idéias sobre o desenvolvimento urbano sustentável, tema que foi objeto de muitos ou-
tros encontros internacionais (Rio+10, Kyoto, entre outros). Este tipo de desenvolvimento
deveria envolver três componentes básicos: a ecologia, a economia e as necessidades
sociais, originando as denominadas Agendas 21 para o desenvolvimento.
Neste sentido, a busca da sustentabilidade como parâmetro urbanístico começou a se
refletir em muitos planos, e a proposta do sistema de espaços livres, presente em diversos
deles, representa um mecanismo de ordenação que tenta integrar a ocupação urbana e o
respeito aos recursos do território.
Percebe-se esta tendência em algumas propostas de planejamento que surgiram na
década de noventa em cidades como Paris (fig.12), Berlim (fig.11) e Barcelona (fig.13).
Nestes planos, o sistema de espaços livres está composto por uma série de elementos
morfológicos que tanto resgatam tipos do passado quanto propõem novas soluções (as
cunhas verdes, os corredores verdes, as vias verdes, as redes ecológicas, os corredores
biológicos, etc.), ao mesmo tempo em que cumprem distintas funções que garantem a
sustentabilidade da paisagem.
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Algumas questões conceituais
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Algumas questões conceituais
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• Patches. São entendidos como fragmentos, peças do mosaico que possuem caracte-
rísticas homogêneas e que podem adquirir distintos formatos, alongados ou largos, com
limites retos ou curvos.
• Corridors. São definidos como elementos lineares que diferem de seu entorno e atra-
vessam um lugar. Podem ser de três tipos básicos:
– Trough corridors. São faixas com vegetação baixa comparada com a vegetação das
matrizes do entorno.
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Algumas questões conceituais
– Wooded strips. São corredores com vegetação mais alta que as matrizes adjacentes.
– Stream and river corridors. São faixas com vegetação, que pode ser mais alta ou
mais baixa que a das matrizes do entorno, e que contém um canal de fluxo de água.
Cada elemento do sistema possui uma margem, que é a fronteira que o separa dos
elementos adjacentes. Duas margens combinadas geram um boundary zone ou zona de
fronteira, que pode ser entre espaços livres ou entre espaços livres e estrato construído.
As escalas dos elementos do sistema são variáveis, pois podem ser grandes ou pequenas,
igualmente, a continuidade entre eles pode se dar em distintos graus. Entre os elementos do
sistema de espaços livres se distinguem os que são contínuos e os que são descontínuos. Os
elementos contínuos estão conectados entre si, como a água, por exemplo. Os elementos
descontínuos estão separados por porções do território que impedem sua conexão direta
e se apresentam como peças “satélites” do sistema contínuo. O fato de ser contínuo ou
descontínuo pode favorecer ou prejudicar o desenvolvimento dos fluxos no sistema, dado
que os fluxos, sobretudo os energéticos, são um elemento fundamental para que o sistema
funcione. Sem fluxos não existe sistema; os fluxos são a vida do sistema e, para que existam
fluxos, é muito importante a continuidade. Caso contrário, seriam componentes estanques
em si mesmos ou, no máximo, justapostos. Entretanto, ambas as peças, conectadas ou não,
grandes ou pequenas, são partes importantes do todo e podem ter um papel relevante com
relação à manutenção dos processos naturais que se dão em seu próprio seio.
Por outro lado, os espaços livres, contínuos ou não, possuem relações espaciais com
seu subsolo, suas fronteiras e seu entorno. Os fenômenos que ocorrem no subsolo aflo-
ram à superfície, como por exemplo, a água que nasce ou a planta que brota, e os que
ocorrem nas superfícies afetam o subsolo, como é o caso das impermeabilizações do solo,
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
que impedem o fluxo de água. Do mesmo modo, tudo o que sucede nas fronteiras e no
entorno também afeta diretamente os espaços livres, como as conseqüências das ocupa-
ções urbanas na conformação destes espaços e as interferências que podem ocasionar
nos seus processos naturais.
Em conjunto, as funções do sistema compõem um quadro integrado, com relações
entre seus próprios elementos e com seus entornos. Isto supõe que à função geral do
sistema, seguem situações de desenvolvimento local que se refletem em cada peça de
espaço livre em particular, condicionando seus fluidos.
Um sistema espacial constitui um todo dinâmico que varia com o tempo (Santos, 2002).
A influência do tempo no sistema de espaços livres se comprova na forma como, ao longo
dos anos, os espaços revelam sua força e sua debilidade; na observação de como intervém a
ocupação urbana; de como se movem as águas, enchendo e baixando seus cursos; de como
se modifica o clima e a vegetação; de como evoluem os solos, entre outros aspectos. Os
espaços livres podem passar de não ocupados a ocupados, de espaços com água a espaços
secos, de espaços explorados a espaços abandonados, etc. Além disso, as modificações não
são lineares e ocorrem simultaneamente, em diferentes direções e sobre distintos aspectos.
Nesta medida, o sistema não é um sistema de um tempo único, e sim a estratificação de dis-
tintas idades do sistema, no qual confluem as permanências e as modificações que sofreu ao
longo dos anos e que permitem identificar as cicatrizes e as simbioses existentes na atuali-
dade, cuja análise intencionada pode traduzi-las em estratégia de intervenção no território.
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Os fundos cênicos permitem visualizar o caráter de um lugar de forma genérica. Eles pro-
porcionam vistas que integram os elementos significativos que o conformam em relação aos
grandes rasgos de sua geografia, pelo que revelam o cenário da paisagem, geral ou parcial,
desnudando as metáforas das relações entre seus elementos componentes (Bolós, 1992).
A percepção das áreas de emergência visual, como enquadramentos de elementos cêni-
cos da paisagem possibilitados a partir do deslocamento pelas vias, marca a individualidade
das zonas onde estão localizadas e promove a orientação no percurso pelas vias, ao mesmo
tempo em que, por sua singularidade, podem ser pontos de enlace entre seqüências visuais.
Além disto, são espaços destacáveis que podem ser reconhecidos como um bem coletivo,
que deveriam ser compartilhados por toda a comunidade (Lynch, 1976; Spirn, 1998).
Os espaços livres de interesse histórico-cultural costumam ser testemunhas da transfor-
mação de um lugar, enquanto remanescentes da evolução urbana, que podem ter importân-
cia na conservação de alguns de seus rasgos mais representativos (McHarg, 1969).
Preservar os rasgos físicos significativos dos espaços não ocupados, portanto, pode
constituir um referente para a ordenação do sistema de espaços livres, e levaria à garantia
da manutenção da qualidade visual do território e ao fortalecimento de sua identidade.
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Algumas questões conceituais
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Notas
7
Os trabalhos de Lynch (1960) em A Imagem da Cidade, de Jacobs (1961) em The Death and Life of Great
American Cities, e Alexander (1965) em The City is not a Tree, são contribuições fundamentais neste sentido,
que reclamam uma maior atenção à relação entre assentamentos, acessos e espaços livres nas cidades.
8
Alguns autores distinguem natureza e artifício considerando a natureza como os meios biótico e abiótico
(organismos vivos e não vivos), que não necessitam energia externa para seu desenvolvimento, e o artifício
como o meio antrópico (a ocupação urbana) e o meio antropizado (exploração do meio natural), que necessi-
tam energia externa para seu desenvolvimento (Bolós, 1992).
9
“El paisaje [como sistema causal] es el resultado formal de diferentes relaciones físicas y biológicas; con-
secuencia simultáneamente, de un proceso y una estructura geológica, del moldeado que en la misma realizan
los elementos del clima, de la ocupación biológica de un soporte físico o de las relaciones entre diversos flujos
energéticos, entre otras causalidades naturales. En espacios intensamente ocupados por los seres humanos,
el paisaje es en gran medida un artificio, puesto que el espacio natural ha podido ser deforestado y roturado,
parcelado, construido y hasta alterado irreversiblemente en sus condiciones naturales más básicas. En estas si-
tuaciones, el paisaje suele ser comparado a un palimpsesto, figuradamente, en el sentido de que en él se puede
rastrear e interpretar las huellas de varios periodos históricos y de diferentes intervenciones humanas. El paisaje
contiene, materializadas, distintas soluciones que las diferentes generaciones, en distintas condiciones técnicas,
han ido dando a la ocupación y utilización de un territorio” (Zoido, 2002, p.24).
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Algumas questões conceituais
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“Um sistema se define por um nódulo, uma periferia e a energia mediante a qual as características
pioneiras elaboradas e localizadas no centro conseguem projetar-se na periferia, que será então modificada
por elas. É somente a partir deste esquema que seremos capazes de apreender sistematicamente as articu-
lações do espaço e compreender sua própria natureza. Isto deveria possibilitar a definição, de maneira exata
e particular, de cada pedaço de terra. Cada sistema espacial e as localizações correspondentes aparecem
então, como um resultado de um jogo de relações; a análise será tanto mais rigorosa quanto sejamos capazes
de escapar às confrontações entre variáveis simples que na maioria das vezes levam a análises causais ou
a relações de causa e efeito que isolam artificialmente certas variáveis e impedem de abranger a totalidade
das interações. Sempre um sistema substitui um outro porque o sistema espacial é sempre conseqüência da
projeção de um ou vários sistemas históricos. Como o espaço contém características das diferentes idades
correspondentes, tal enfoque deveria permitir uma interpretação mais cuidadosa e mais sistemática das so-
brevivências e das filiações” (Santos, 2002, p.79).
11
“Una visión renovada del planeamiento territorial, que por sus características actuales hemos preferi-
do denominar “proyecto territorial”, que sea capaz de hacer del territorio físico el protagonista del plan, frente
a la abstracción economicista de los equilibrios y de las iluministas vocacionalidades territoriales de la etapa
anterior, parece el perfil más adecuado para dar una respuesta eficaz a los problemas y situaciones actuales,
desde la diversidad de requerimientos sociales y desde los avances tecnológicos (Font, 1996, p.175).”
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Os maciços da pedra Branca e da Tijuca são as duas áreas naturais protegidas mais
importantes da cidade do Rio de Janeiro (além de serem reconhecidos pela UNESCO como
Reservas da Biosfera18), e têm um papel fundamental na estrutura urbana, já que cons-
tituem suas estruturas geográficas internas mais importantes e definem, junto a outras
montanhas e o mar, as planícies que conformam sua fisiografia e suportam seus principais
centros urbanos. Entre os quais, além da unidade de referência, estão: a zona sul e o cen-
tro, que ocupam a planície na vertente leste do Maciço da Tijuca (são áreas de serviços
e moradias do estrato mais rico da população); a zona norte, que ocupa as Baixadas de
Inhaúma e de Irajá, na vertente norte do Maciço da Tijuca (são áreas suburbanas caracte-
rizadas pela moradia e pela indústria), e o resto da zona oeste, que ocupa as Baixadas de
Bangu, Santa Cruz e Guaratiba, nas vertentes norte e oeste do Maciço da Pedra Branca
(cada uma com características funcionais distintas, que abarcam desde as atividades in-
dustriais ao redor da Avenida Brasil até as atividades agropecuárias em Guaratiba).
Sobre a ocupação da unidade influi uma série de interesses públicos e privados, dado
que se trata de uma área que oferece algumas condições de urbanização e turismo ade-
quadas, como os atrativos naturais combinados com a oferta de conexão viária com o
resto do território, a presença de equipamentos metropolitanos e a relativa proximidade
dos centros tradicionais da cidade (Villaça, 1998).
Desde meados dos anos oitenta, este âmbito adquiriu importância como nova centra-
lidade e como alternativa de residência fora dos centros mais congestionados, ao contar
com potentes infra-estruturas viárias, atrair sedes de grandes empresas e atividades ter-
ciárias e apresentar uma produção imobiliária, tanto residencial como de grandes centros
comerciais (Villaça, 1998). Entretanto, isto não exclui a presença de assentamentos irre-
gulares que, paralelamente, conformam um quadro de precariedade e pobreza urbana.
O processo de construção de infra-estruturas viárias que vem sofrendo a unidade
desde os anos setenta reforça os vínculos com o centro da cidade e as zonas norte e sul
e, ao mesmo tempo, significa a potencialização de seu crescimento (industrial, residencial,
comercial e de serviços). Basicamente, a unidade se estrutura através da auto-estrada
Avenida das Américas, paralela ao mar, que conecta a zona sul à zona oeste, da auto-es-
trada Avenida Ayrton Senna e da via-expressa Linha Amarela, que acentuam as conexões
com a zona norte da cidade.
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Jacarepaguá
Barra da Tijuca
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Caracterização da unidade territorial
Relevo e clima
• A planície. A grande planície central está constituída por uma sucessão de reentrâncias
em suas margens, devido à disposição dos maciços. É de formação quaternária e de formato
“triangular”. Está composta por colinas, lagoas e canais e termina no encontro com o mar.
Na realidade, os maciços estão formados por uma série de serras. Entre as serras
dos maciços orientados em direção à área de estudo se encontram as que pertencem ao
Maciço da Pedra Branca (Serra do Engenho Velho, Serra do Barata, Serra do Nogueira,
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Serra do Rio Pequeno, Serra do Quilombo, Serra do Caçambê, Serra do Alto do Peri, Serra
de Santa Bárbara, Serra do Rio da Prata, Serra Geral de Guaratiba, Serra do Grumari) e as
que pertencem ao Maciço da Tijuca (Serra do Inácio Dias, Serra dos Pretos Forros, Serra
dos Três Rios e parte da Serra da Carioca). Os cumes são lugares de difícil acesso, geral-
mente muito expostos ao sol e à chuva. São visíveis desde a planície e contêm os pontos
de máxima cota, que na área cartografada são: Pico da Pedra Branca (1.025 m), Morro
da Bandeira (964 m), Pedra do Ponto (938 m), Morro Santa Bárbara (857 m), Pedra do
Quilombo (735 m), Pico do Sacarrão (714 m), Morro dos Caboclos (696 m), Toca Grande
(577 m), Santo Antônio da Bica (482 m), Morro da Boa Vista (456 m), no Maciço da Pedra
Branca; Pico da Tijuca (1.022 m), Bico do Papagaio (989 m), Morro da Cocanha (982 m),
Pedra da Gávea (842 m), Pedra Bonita (696 m), Pretos Forros (482 m), Morro do Inácio
Dias (449 m), no Maciço da Tijuca. A maioria dos pontos mais altos é acessível por trilhas,
através das áreas florestais.
Os pontos de cota mais baixa correspondem ao encontro entre serras e se apresen-
tam como confluências das águas que descem desde os maciços. Estão distribuídos ao
redor das encostas das montanhas seguindo, em geral, a radialidade dos cumes.
A planície apresenta praticamente três subdivisões19: uma parte costeira, outra inter-
mediária, na altura das lagoas e seus canais, e outra no vértice norte da planície. Na pri-
meira, o relevo apresenta pequenas ondulações, geradas por processos de sedimentação
marinha ou eólica; na segunda, a superfície é muito plana; e na terceira, as terras são qua-
se horizontais, com uma suave declividade que converge em direção à linha da costa.
Neste contexto, as colinas presentes na planície constituem elementos destacados da
paisagem, entre as quais se identificam: a Pedra da Panela, o Morro da Freguesia, a Pedra
de Itaúna, o Morro do Amorim, o Morro do Cantagalo, o Morro do Portelo, o Morro do
Urubu e o Pontal de Sernambetiba.
Relativamente ao clima, o caso de estudo possui um microclima típico da região lito-
ral tropical. Além de temperaturas altas, os climas tropicais apresentam uma estação de
chuvas e uma estação seca, como as duas principais estações do ano, e, dependendo do
lugar, podem apresentar variações relacionadas com a latitude, a proximidade do mar, a
topografia e a presença eventual de frentes frias.
Em geral, o período pluviométrico mais intenso é no verão (de dezembro a março)
e o menos intenso no inverno, sendo julho o mês mais seco e janeiro o mais chuvoso. A
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
temperatura média anual é de 23,5ºC. A média anual de evaporação alcança os 700 mm,
e a umidade relativa do ar chega a 88% no verão e a 65% no inverno, o que determina
um clima muito úmido grande parte do ano (SMAC, 1998).
Hidrografia
A hidrografia da área pertence ao âmbito da Bacia de Jacarepaguá, que se distribui
por toda a planície e desemboca no oceano. Os cursos de água tendem a ser permanentes
e se conformam de modo radial a partir dos maciços, seguindo a direção das pendentes
até o mar ou a planície. Na planície, seguem como rios e riachos, conformam lagoas e
ilhas e são conduzidos a canais. Na realidade, a presença das águas na unidade tem
uma importância fundamental na sua configuração, e as maiores retenções superficiais
e subterrâneas se estendem por quase toda sua base até a altura das lagoas no meio da
planície. A hidrografia está conformada principalmente por:
• A frente marítima. São águas abertas do oceano Atlântico, em geral com forte movi-
mento de ondas, que se estendem em aproximadamente 20 Km de praias.
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29. Vista de parte do caso de estudo (Praia e Lagoa de Marapendi) (Foto: Autora, 2003).
30. Mapa da hidrografia.
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Caracterização da unidade territorial
• Brejo. É uma área permanentemente úmida, com vegetação de porte herbáceo. Trata-
se de um ecossistema muito frágil e, devido a antropização intensiva, em geral encontra-
se reduzido às margens dos canais e dos rios ou como manchas dispersas no meio de
outras áreas inundadas próximo ao Maciço da Pedra Branca, a oeste da planície.
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31. Vista de parte do caso de estudo (Campos de Sernambetiba) (Foto: Autora, 2003).
32. Mapa das principais comunidades vegetais.
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Caracterização da unidade territorial
• Restinga. Área de vegetação típica da costa, que cresce em solos arenosos e possui porte
arbóreo-arbustivo e arbustivo-herbáceo relativamente denso. Ocupa uma grande área na
porção inferior da planície, junto à Lagoa de Marapendi e seus canais. Apresenta fauna e
flora adaptadas às altas temperaturas, aos ventos e aos solos pobres em nutrientes.
Infra-estruturas:
Viárias, de serviços e de transporte coletivo
A organização espacial da rede viária estabelece vínculos estreitos com o suporte ter-
ritorial, sobretudo com o relevo e as águas. Apresenta distintas escalas de vias e conexões,
como também diferentes localizações, seções e capacidade de suporte de fluxos de veículos.
A partir destas variáveis se identificam três níveis de redes viárias: a rede principal de conexão
com a cidade e sua região; a rede secundária de vias, que conecta o caso de estudo com seu
entorno; e a rede geral de ruas de conexão entre a rede secundária de estradas e os bairros.
A rede principal de conexão com a cidade e sua região está constituída pelas auto-
estradas e a via-expressa, cujos percursos perpendiculares se localizam paralelamente à
linha da costa, entre o mar e a lagoa (a auto-estrada Avenida das Américas), e a partir da
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
linha da costa para o interior, entre as lagoas (a auto-estrada Avenida Ayrton Senna e a
via-expressa Linha Amarela). Os principais pontos de acesso de ambas vias são os túneis
que cortam o Maciço da Tijuca. Seu encontro é definido por uma rotunda de distribuição
de tráfico, chamada Trevo das Palmeiras.
Quanto às secções, na via-expressa Linha Amarela elas são constantes, apresentando
duas vias com três pistas em cada direção. Sua capacidade de fluxo é praticamente ho-
mogênea, com pequenas variações em alguns trechos relacionados com a demanda de
mobilidade do entorno.
A auto-estrada permite o deslocamento direto, praticamente sem interrupções, o que
reduz o tempo de percurso. Ao mesmo tempo, este canal expresso de mobilidade, de acor-
do com sua morfologia, estabelece poucos contatos com seu entorno; especificamente, os
pontos de contato se resumem aos nós de acessibilidade e às vias derivadas deles.
As secções da auto-estrada Avenida Ayrton Senna também são bastante homogêne-
as, com algumas variações no trajeto quanto ao número de pistas: duas vias centrais, com
três ou quatro pistas, e duas laterais, com duas ou três pistas. Embora também priorize o
tráfego rápido, em comparação com a auto-estrada, esta via apresenta um caráter mais
“aberto”, mais relacionado com seu entorno, pela localização das edificações em contato
direto com esta. Entretanto, devido a sua largura, as duas laterais se relacionam pouco
entre si. Nos últimos anos, por iniciativa do setor público, criaram-se ciclovias nas laterais
e no espaço central; um incentivo ao uso da bicicleta como transporte alternativo, apesar
de não ter obtido muito êxito. Nas respostas às entrevistas constatou-se a forte depen-
dência do uso do automóvel, em um lugar onde os deslocamentos são quilométricos e
vias como esta não são convidativas à presença humana.
A secção da auto-estrada Avenida das Américas é similar à da auto-estrada Avenida
Ayrton Senna, embora sofra mais variações no seu percurso. As mais notáveis são:
• A transformação da auto-estrada, com duas vias centrais, com três ou quatro pistas, e
duas laterais, com duas ou três pistas, em duas vias com seis pistas cada uma (a partir da
Avenida Salvador Allende).
• A transformação da auto-estrada, com duas vias com seis pistas cada uma, numa estra-
da de mão dupla com duas pistas (depois da estrada Vereador Alceu de Carvalho).
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Caracterização da unidade territorial
• Vias de contorno dos maciços: Estrada dos Bandeirantes, Estrada de Jacarepaguá, Estra-
da do Pontal e Avenida Estado da Guanabara.
• Vias de corte dos Maciços: Estrada dos Teixeiras, Estrada do Catonho, Estrada de Furnas,
Estrada do Joá, Estrada Grajaú-Jacarepaguá e Rua Cândido Benício.
• Vias longitudinais: Avenida Lúcio Costa, Avenida Embaixador Abelardo Bueno, Estrada
da Boiúna, Estrada do Cafundá, Estrada do Rio Grande, Estrada do Tindiba e Estrada do
Pau Ferro.
As secções das vias costumam ser homogêneas em todo seu percurso, com exceção de
algumas estradas. Entretanto, podem ser identificados dois tipos de secções:
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Quanto ao volume de tráfego, este tende a variar de acordo com o entorno e seu grau
de urbanização. No caso da Estrada dos Bandeirantes, por exemplo, nos bairros mais urba-
nizados, o fluxo de veículos, por dia, pode chegar a 57.136, enquanto nos bairros pouco
urbanizados, este mesmo índice cai para aproximadamente 6.115. Do mesmo modo, a circu-
lação do transporte público varia entre 9.305 veículos por dia, nos bairros mais urbanizados,
e 1.188 em outros trechos.
As vias da rede secundária diferem das anteriores, principalmente pela largura e por
seu caráter mais dirigido ao deslocamento local, permitindo a presença de pedestres e
bicicletas. Isto induz a velocidades muito mais reduzidas e a uma maior proximidade e
relação com os assentamentos nas suas laterais.
A rede geral de ruas, que conecta a rede secundária de vias e os bairros, possui
situações variadas, com menor capacidade de suporte de fluxo de veículos e, geralmente,
secções mais reduzidas que as outras vias citadas (embora algumas estejam superdimen-
sionadas com respeito à demanda de tráfego). Compõe-se das ruas principais dos bairros
e da rede geral de ruas. Algumas das vias ainda não se encontram totalmente urbaniza-
das, embora o setor público venha incentivando obras de melhoria e criação de ciclovias.
Entre as ruas principais cabe destacar: Avenida Zilke Machado, Avenida Gláucio Gil e Ave-
nida Alfredo Balthazar da Silveira, no Recreio dos Bandeirantes; Avenida Olegário Maciel
e Avenida Rodolfo Amoedo, no Jardim Oceânico; Rua André Rocha, na Taquara; Rua Edgar
Werneck e Geremário Dantas, na Freguesia; Estrada Benvindo de Novaes e Vereador Alceu
de Carvalho, em Vargem Pequena e Vargem Grande, respectivamente.
Quanto às vias previstas, podem ser identificadas as seguintes iniciativas:
• Ruas. Segundo determinação do Decreto No. 3.046, estão previstas as vias No. 2, 4 e
7, do projeto de alinhamento (PA) 8.997, e a via parque, parte já construída, presente no
projeto de alinhamento (PA) 9.822.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
acesso desde a zona sul até a zona oeste. No caso de estudo, especificamente, afeta a Avenida
das Américas, a Avenida Ayrton Senna e a via-expressa Linha Amarela, e segue algumas das
previsões já aprovadas para estradas e ruas, por exemplo, a RJ-091, a RJ-075 e a via 5. O pro-
jeto ainda está em execução e até agora conta com propostas preliminares.
– Obras para os Jogos Panamericanos (2007). Estão previstas modificações na Es-
trada dos Bandeirantes, e melhorias na Avenida Ayrton Senna, assim como a criação de
ciclovias, aumentando a rede já existente.
Resumindo, a rede viária da unidade está bem distribuída e apresenta conexões com
outras partes da cidade e sua região, caracterizando a boa acessibilidade da área. Entre-
tanto, as principais vias da rede principal se encontram “estranguladas” nos túneis que
cortam os maciços, onde a interrupção do tráfego costuma causar problemas em toda a
mobilidade da área.
No que tange à infra-estrutura de serviços, se constata que o rápido crescimento
urbano do caso de estudo não foi acompanhado por uma adequada rede de abasteci-
mento de água e de esgoto, além de apresentar muitos problemas de drenagem, devido
à topografia com cotas muito baixas em algumas áreas, inclusive abaixo do nível do mar.
Da mesma forma, a distribuição de energia elétrica é deficiente, principalmente nas áreas
menos acessíveis dos maciços, e, com freqüência, se estabelecem conexões clandestinas
na rede de energia, a maioria em áreas de ocupação ilegal.
Grande parte das estações de tratamento de água é particular, e a maioria dos resí-
duos é armazenada em fossas, ou vai diretamente para as lagoas e cursos de água, que
aumentam, assim, sua contaminação, originando graves problemas relacionados com a
ecologia do lugar. Por outro lado, existem conexões clandestinas que enviam as águas
residuais diretamente para a rede de águas pluviais, transformando os cursos de água em
esgotos a céu aberto.
A deficiente infra-estrutura de serviços, um dos maiores problemas da área, foi objeto
de algumas iniciativas realizadas pelo setor público nos últimos tempos, como, por exem-
plo, o emissário submarino, ainda não concluído.
Paralelamente a isto, cabe ressaltar a problemática gerada pela coleta insatisfatória dos
resíduos sólidos no caso de estudo, que vão parar nos espaços livres existentes, afetando
as águas e os solos da unidade. No caso das águas, o lixo colabora para sua contaminação
78
Caracterização da unidade territorial
e também para a proliferação de doenças e outros problemas. Sobre esta questão, falta
uma política eficiente de coleta e reciclagem seletiva do lixo, esta última praticamente
inexistente até o momento.
Quanto ao transporte público coletivo, a maioria dos deslocamentos se realiza através
de ônibus e vans. O terminal Alvorada é o principal terminal de ônibus da unidade e se
encontra na rotunda onde confluem a Avenida das Américas e a Avenida Ayrton Senna. Os
condomínios (áreas residenciais com população de alto poder aquisitivo) dispõem de trans-
porte coletivo privado. Em geral, a área apresenta carências na oferta de transporte público,
que é inferior à demanda da população. Neste sentido, as previsões se referem às novas
possibilidades de acesso através de VLT (veículo leve sobre trilho), metrô, barca e corredores
exclusivos para ônibus. Entretanto, as propostas de infra-estruturas de transporte coletivo,
ainda em processo de definição e/ou aprovação25, são somente as linhas 4 e 6 do metrô. A
linha 4 prevê a conexão da Barra da Tijuca com a zona sul, através de um percurso superficial
na Avenida das Américas, a linha 6 prevê a conexão da Barra da Tijuca com a zona norte da
cidade com alguns trechos superficiais, como, por exemplo, na Avenida Ayrton Senna.
Numa unidade territorial onde predominam os deslocamentos de carro, se destaca
a importância de melhorar a oferta de transporte coletivo e de promover formas alter-
nativas de transporte, como a bicicleta ou o VLT, para os percursos dentro da unidade,
e o transporte marítimo, para os acessos externos. Melhorar as condições de transporte
público implicaria em melhores condições ambientais e sociais, uma vez que contribuiria
para diminuir os índices de contaminação e proporcionaria a democratização da rede de
transporte ao oferecer oportunidades mais eqüitativas para o deslocamento e o acesso
das pessoas, numa área onde as desigualdades sociais são muito acentuadas.
Usos do solo
A observação dos usos do solo no caso de estudo revela que, em geral, os usos
comerciais e os serviços se distribuem pelas áreas mais ocupadas, tanto nas áreas pró-
ximas ao mar como no interior, sobretudo perto dos principais centros locais e ao redor
das principais vias. A extensão da Avenida das Américas, desde o Maciço da Tijuca até,
aproximadamente, o encontro com a Avenida Ayrton Senna, constitui o principal eixo de
79
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
37 38
37 e 38. Vista aérea de parte da Barra da Tijuca (Foto: Rodrigo Rinaldi, 2001).
80
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41
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
82
Caracterização da unidade territorial
83
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Quanto ao perfil dos residentes, em geral, o âmbito apresenta uma grande concen-
tração de população jovem (25% do total) e população produtiva (15 a 60 anos), que
chega a 67% do total, enquanto as pessoas mais velhas representam somente 8%. Este
dado poderia ser explicado pela cronologia de formação dos tecidos urbanos, já que é
uma área com um desenvolvimento urbano mais acentuado relativamente recente (a
partir de 1970), e que por suas características específicas, acabou por não atrair a popu-
lação de maior idade.
Relativo ao nível de instrução, a média dos anos de estudo (do cabeça de família) se
diferencia ligeiramente entre as regiões administrativas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá.
Na Barra da Tijuca esta média alcança os 10,91 anos, e em Jacarepaguá, os 8,33 anos, en-
quanto que na Cidade de Deus a média cai para 5,03 anos. De fato, os dados da Cidade de
Deus se aproximam da realidade da baixa escolaridade existente nas favelas da área.
O nível de renda dos habitantes revela uma diferença fundamental entre as regiões ad-
ministrativas. A Barra da Tijuca possui os índices mais elevados, aproximadamente 85% da
população tem uma renda acima de três salários mínimos28, em Jacarepaguá esta realidade
corresponde apenas a 50% dos habitantes, enquanto que na Cidade de Deus a média cai
para 30%. As atividades terciárias e de construção imobiliária destacam-se na economia
local, seguidas das industriais. A agricultura e a pecuária são as menos representativas em
termos gerais, e o turismo se apresenta como uma atividade em crescimento.
Estes dados indicam as desigualdades econômicas existentes no caso de estudo. Tam-
bém confirmam a existência das favelas como verdadeiros núcleos de pobreza o que, em
parte, caracteriza a segregação social a que está submetida a comunidade local. Neste
contexto, a desigualdade social, com uma desequilibrada distribuição das oportunidades
de desenvolvimento, tende a agravar um quadro de insegurança urbana que se desenvol-
veu ainda mais nos últimos anos, com um aumento da taxa de criminalidade em propor-
ção inversa à capacidade de vigilância e controle social.
Nas entrevistas realizadas, os discursos refletem a desigualdade social, onde os distin-
tos estratos sociais dificilmente conversam entre si, e possuem necessidades e objetivos,
muitas vezes, divergentes. Entretanto, estes discursos convergem em alguns pontos, que
podem ter uma relação direta ou indireta com os espaços livres. Por exemplo, a defesa
comum do uso da água de modo sustentável e com melhores condições de saneamento;
84
42
85
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Notas
12
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), URL <http:/www.ibge.gov.br> (consultada
em agosto de 2003).
13
A configuração geográfica do Rio e sua região próxima responde a um relevo e a uma hidrografia
particulares. As montanhas, as planícies e as águas são padrões constantes em sua geografia, chegando a
constituir os grandes eixos condutores das principais relações territoriais entre os assentamentos e as infra-
estruturas viárias.
A peculiaridade de seu litoral, entre o mar aberto e a baía, definiu as primeiras ocupações em terras
mais protegidas no seu interior, que resultou na localização atual do centro tradicional da metrópole. Por
outro lado, a água acumulada nas planícies próximas ao mar, nas lagoas e mangues, foi, ao longo da história,
e ainda o é na atualidade, um dos principais obstáculos para a construção dos assentamentos e das infra-
estruturas, e deu origem a uma necessária transformação da paisagem, entre aterros e modificação dos cursos
d`água, a fim de possibilitar a consolidação urbana (Amador, 1992).
Neste marco, as montanhas exerceram um importante papel como elementos condutores da urbaniza-
ção, além de constituírem verdadeiros pulmões urbanos. Historicamente, os maciços montanhosos atuaram
como um fator negativo na expansão urbana, como barreiras à urbanização, numa realidade que, freqüen-
temente, utilizou os rios, o litoral e as margens das principais infra-estruturas viárias que circundavam as
montanhas na planície, como diretrizes para a ocupação da metrópole (Abreu, 1992).
14
A observação da ocupação atual da região, a partir de infra-estruturas viárias e assentamentos, que
foram colonizando os espaços rurais e naturais, permite detectar alguns eixos de sua estrutura urbana ainda
não consolidada, com atenção aos fatores de acessibilidade e às principais atividades que sustentam a ocu-
pação (Abreu, 1992; Amador, 1992; Lobato, 1992; entre outros). Entre eles estão:
• A Baixada Fluminense. O centro tradicional da metrópole, assim como a zona sul e a zona norte da
cidade central, são áreas amplamente consolidadas. Historicamente, a partir desta última se originou um
continuum urbano em direção às cidades vizinhas, onde os eixos das estradas Presidente Dutra (principal
conexão entre Rio e São Paulo) e Washington Luis, junto a linha férrea e às estradas de menor porte, são
86
Caracterização da unidade territorial
os principais orientadores da ocupação da grande planície da Baixada Fluminense. Esta área se caracteriza,
principalmente, pela atividade industrial.
• O eixo Niterói-Manilha e a região oceânica de Niterói. No leste, a ocupação urbana segue, praticamente, o
percurso da estrada Niterói-Manilha, com vocação industrial, e a frente litoral, a partir da cidade de Niterói
até a cidade de Maricá, com uma forte vocação turística.
• O eixo da Avenida Brasil e a Baixada de Jacarepaguá. Na zona oeste da cidade central se verifica a ocupação
dos terrenos ao redor da Avenida Brasil e da linha férrea, com usos industriais, e da Baixada de Jacarepaguá,
entre os maciços da Pedra Branca e da Tijuca, com a expansão do setor terciário e a produção de moradias,
como as atividades mais destacadas, principalmente nas áreas mais próximas ao mar.
15
Fonte: SMAC, 2000.
16
Fonte: Anuário Estatístico da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de
Janeiro, Instituto Pereira Passos, 1998.
17
Fonte: SMAC, 2000.
18
Os maciços são parte da área que compreende o Consórcio Mata Atlântica no Brasil como Reserva
da Biosfera (1992), cujo âmbito inclui um amplo conjunto de áreas de mata atlântica em diversos estados
brasileiros, inclusive o Rio de Janeiro.
19
Fonte: Estudo e caracterização dos solos. Rio de Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), 2001.
20
Fonte dos dados: Mapeamento e caracterização do uso das terras e cobertura vegetal no Município do
Rio de Janeiro entre os anos 1984 e 1999. Rio de Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, SMAC, 2000;
Mapa de usos do solo e cobertura vegetal (folhas 2744-4 e 2745-3) (esc: 1:50.000). Rio de Janeiro: Estado
de Rio do Janeiro, Fundação CIDE, 1999; Mapeamento digital da cidade do Rio de Janeiro (esc: 1:2.000). Rio
de Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, IPP, 1997.
21
As comunidades vegetais compreendidas pelos brejos, os cultivos e os jardins foram desmembradas
das categorias originais contidas em SMAC (2000), a partir do detalhe na escala 1:2.000 segundo a cartogra-
fia digital do Instituto Pereira Passos (1997).
22
Dados do mês de outubro de 2000, obtidos na Secretaria de Transporte da Prefeitura da cidade do
Rio de Janeiro.
23
Segundo informações obtidas até julho de 2003.
24
Informações obtidas em entrevistas com os profissionais responsáveis pelos projetos e através de
material publicado pelas devidas instâncias da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.
87
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
25
Informações obtidas em entrevistas com os profissionais responsáveis pelos projetos e através de
material publicado pelas devidas instâncias da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.
26
Como centralidades se entende algumas zonas dos assentamentos com grande potencial de atração,
que se consolidaram na evolução urbana do lugar como polarizadoras de certas atividades como, por exem-
plo, o comércio.
27
“A reconversão urbana é intensa a oeste da baixada, no contato com a serra de Guaratiba, numa situ-
ação de piemonte. Os sítios estão num processo avançado de transformação em residências, sedes campestres
de colégios e empresas, havendo a presença de alguns haras” (Bicalho, 1992, p.308).
28
O salário mínimo em 2003 era de aproximadamente 80 US$.
88
4
Evolução urbana e espaços
livres a analisar
Neste capítulo são analisadas as transformações dos espaços livres no processo evo-
lutivo do território estudado, com o objetivo de identificar o papel que desempenharam
na configuração da ocupação urbana da área e as relações espaciais e funcionais que se
estabeleceram com:
O marco temporal adotado nesta análise aborda os fatos ocorridos em três períodos,
claramente diferenciados quanto às formas de interpretar e construir o território:
• Etapa 1: colonização (até 1940). Etapa rural e processo de colonização do espaço livre.
89
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
O planejamento
Nos anos trinta se levou a cabo o primeiro plano diretor da cidade, realizado pelo
urbanista francês Alfred Agache. O plano abarcava as áreas próximas ao centro da cidade,
sem alcançar a zona oeste, embora previsse a relação do crescimento da cidade com o
oeste, incluindo a área de estudo. Na unidade, o plano propunha a criação do Parque
Nacional da Tijuca, no Maciço da Tijuca, e também a criação de reservas “mais afastadas”
que interessariam ao futuro da cidade, entre as quais estavam os arredores das lagoas da
Baixada de Jacarepaguá29.
Tratava-se de um plano baseado em princípios de embelezamento e higiene urbanos,
e apostava em uma política territorial de espaços livres que poderia, inclusive, se estender
90
Evolução urbana e espaços livres a analisar
até as cidades do entorno do Rio, como um dado fundamental para o futuro desenvolvi-
mento da cidade.
91
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
As infra-estruturas viárias
92
Evolução urbana e espaços livres a analisar
Os assentamentos
Até os anos quarenta, a ocupação urbana se deu ao redor das sedes de fazendas e
igrejas localizadas nas propriedades agrícolas, com algumas edificações isoladas às mar-
gens dos caminhos e nas áreas próximas ao mar.
Com o início da ocupação da área, no fim dos anos trinta, criou-se uma nova frente urba-
na, ainda incipiente, mas que possibilitava novas oportunidades de lazer, recreação e moradia
em um lugar de natureza abundante, onde imensas extensões de praia se misturavam às
montanhas. Neste contexto, a população que mais se beneficiava da área e de suas oportuni-
dades de lazer era a que vivia nos subúrbios da zona norte da cidade, dado que a população
da zona sul e do centro (mais favorecida economicamente) já tinha suas praias e montanhas
ao alcance (como a praia de Copacabana e o Maciço da Tijuca) (Pinheiro, 2001).
Neste marco, o crescimento dos bairros ao redor das estações de trem, na zona norte,
provocou o início da ocupação urbana da planície de Jacarepaguá, ao norte da unidade,
no encontro dos maciços, que tinha nos traçados dos caminhos as principais estruturas da
urbanização. Estes pequenos núcleos começaram a se desenvolver com um forte caráter
suburbano, similar ao dos subúrbios que se distribuíam ao redor da linha férrea.
As urbanizações perto do mar eram poucas, sobretudo a leste, com os loteamentos de
Tijucamar e Jardim Oceânico, e a oeste no Recreio dos Bandeirantes. O desenho atribuído
ao Jardim Oceânico se assemelhava às urbanizações dentro do modelo das cidades-jar-
dim, com uma praça central a partir da qual se irradiavam vias longitudinais, paralelas ao
mar, transversais e diagonais, e se apoiava no caminho que se converteria na Avenida das
Américas e no caminho da frente marítima. Estes assentamentos eram balneários que, por
falta de infra-estrutura na área, impediam a residência permanente servindo, em muitos
casos, como segunda residência.
Os espaços livres
As terras do caso de estudo foram doadas no séc. XVI por Salvador Corrêa de Sá a seus
dois filhos, Gonçalo e Martim Corrêa de Sá. Desde então possuíam um caráter agrícola e,
mais tarde, se caracterizaram como lugar de grandes propriedades, de até 21km2.
93
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
94
Evolução urbana e espaços livres a analisar
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95
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
O planejamento
Uma das primeiras tentativas de ordenar a área de estudo foi tomada pelo setor público,
mediante o Plano de Diretrizes para as Vias Arteriais na Planície de Jacarepaguá (1950). Este
96
Evolução urbana e espaços livres a analisar
plano incluía a previsão de uma rede viária para a área e a Reserva de Parques de Preserva-
ção dos Ecossistemas Lagunares. A intenção era evitar a ocupação descontrolada nos arre-
dores das lagoas, e mencionava a criação da Reserva Biológica de Jacarepaguá, abarcando
todas as lagoas da unidade e a Restinga de Itapeba.
Já nos anos sessenta, efetuaram-se algumas propostas de desenvolvimento urbano
para a cidade-estado, que pretendiam traçar suas diretrizes urbanas até o ano 2000, e
que originou o Plano Doxiadis (1965) (fig.48 e 49). Em sua concepção, este plano consi-
derava a cidade e sua região metropolitana. Uma das principais idéias consistia em dividir
a cidade em uma série de comunidades autônomas e interconectadas por vias-expressas;
além disso, o plano tinha previsões para a habitação, o transporte e o saneamento (Leme,
1999). Relativo ao caso de estudo, especificamente, o plano considerava a necessidade
de criar um novo centro de negócios, que deveria se localizar em algum ponto entre a
unidade e o resto da zona oeste.
O espaço livre no Plano Doxiadis era considerado um espaço de recreio e lazer e, com
exceção dos grandes elementos geográficos, como os maciços, o mar e as lagoas, que
deveriam ser preservados e protegidos, este não era mais que um espaço compartimenta-
do em meio as comunidades divididas pelas vias-expressas. Isto é, se seguia o critério da
ocupação disseminada pelo território e se enclaustravam os espaços livres como superfí-
cies intermediárias.
O pensamento predominante era o da ocupação urbana extensiva, na qual o papel
dos espaços livres era pouco valorizado como elemento estruturador do território, no sen-
tido de que as determinações funcionais e espaciais dos espaços livres em si mesmos, de
acordo com as necessidades de manutenção e/ou restauração de suas funções fundamen-
tais, não eram consideradas como possíveis determinantes da estrutura urbana, que, além
de permitir ou não a ocupação, ou de serem belos, poderiam incidir sobre a consolidação
urbana e atuar como qualificador do ambiente como um todo. Cabe ressaltar que, neste
momento, os parâmetros da ecologia, ou da inserção da paisagem de maneira mais geral
na ordenação, ainda não eram vigentes. Deste modo, o pensamento desenvolvimentista
no qual se baseava o plano, aplicado ao longo dos anos, engendraria a necessidade de
uma abordagem mais sensível à paisagem, principalmente devido à deterioração ecológi-
ca e da qualidade visual causada pelo meio urbano.
97
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
No final dos anos sessenta surgiu o Plano Piloto (1969) (fig.50 e 51), para ordenar a
urbanização da planície. Encabeçado por Lucio Costa (1969) e baseado nos princípios do
Movimento Moderno, como na contemporânea Brasília, este plano tinha a singularidade
de tentar ordenar a ocupação urbana relacionada com algumas diretrizes ditadas pelo
espaço livre, trabalhando para manter ao máximo as conformações naturais existentes.
O Plano Piloto de Lucio Costa, diferentemente do Plano Doxiadis, estabelece vínculos
com a percepção da paisagem, até o ponto de ser, ela mesma, condicionante da ordena-
ção urbana, embora a questão ecológica, tal como no outro plano, ainda não constituísse
um guia para a ordenação.
No contexto do plano o edificado era considerado como uma série de edifícios sobre-
postos à superfície verde do espaço livre, dispostos como torres isoladas ou como conjuntos
horizontais de baixa densidade (cujas localizações foram desenhadas no plano mediante
uma zonificação rigorosa). Estes assentamentos estavam relacionados com os centros de co-
mércio e serviços e se encontravam interconectados por vias de pedestres. Em geral, o plano
seguia a idéia da natureza vista como cenário, sobre o qual “pousavam” as edificações.
As vias, concebidas para o uso exclusivo do automóvel e hierarquizadas entre si, contor-
nariam o mar, os maciços, as lagoas e as colinas da planície, e se previa a criação de faixas
de proteção contra possíveis espaços livres lineares ao redor das infra-estruturas viárias mais
movimentadas. A execução da Avenida das Américas e da Via 11 (atual Avenida Ayrton Sen-
na), perpendiculares entre si, articularia toda a área com o resto da cidade. Ao norte deste
cruzamento se desenvolveria o futuro centro metropolitano do Rio de Janeiro.
O espaço livre servia de referência para o traçado das vias. Na realidade, as vias princi-
pais seguiam o traçado dos antigos caminhos já existentes na área e foram previstas para
o tráfego rápido, através do transporte motorizado com o mínimo de interrupções possível.
Cabe ressaltar a previsão da Via Parque, que circundaria as lagoas de Jacarepaguá e da Tiju-
ca, pela sua margem sul, compreendendo grandes extensões de espaços livres ao redor.
O plano propunha, em geral, a urbanização longitudinal na base da planície, entre as
lagoas e o mar, em ligação direta com as infra-estruturas viárias e com os centros de ser-
viços e comércio principais (cada um em um extremo da planície, próximo ao mar), onde
as lagoas lhes serviam de fundo, com poucas conexões até o mar. A frente marítima de-
veria estar livre de edificações em toda sua extensão, com exceção do ponto de encontro
98
Evolução urbana e espaços livres a analisar
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
51
entre as duas grandes vias, que poderia contar com edificações em forma de torres, e com
alguns equipamentos para uso coletivo, de pouca altura, que se distribuiriam ao longo da
praia. Os maciços arrematavam todo o conjunto, em cujas margens, na planície a oeste da
unidade, se previa a manutenção do caráter rural existente.
Tratava-se da idealização do grande parque ocupado por edificações em algumas
áreas, que pretendia manter e proteger o ambiente natural original no meio da ocupação
urbana. Entre as áreas a serem preservadas se encontravam: a Lagoa de Marapendi e as
lagoas da Tijuca e de Jacarepaguá, suas margens e canais, e o Bosque da Barra.
Entretanto, na proposta do plano, embora o estrato livre e o ocupado mantivessem
uma relação respeitosa entre eles, permaneciam justapostos, sem entrelaçar-se, até certo
ponto, afastados entre si, como o cheio e o vazio. Os espaços livres eram, sobretudo, espa-
ços para serem contemplados e não necessariamente para conduzir a ocupação segundo
a integridade de seus valores. Constata-se assim, uma abstração existente entre as for-
malizações do território e os espaços livres, expressa, por exemplo, através dos conjuntos
geométricos de residências e as torres que, em muitos casos, se dispunham sobre o plano
verde como um todo homogêneo.
100
Evolução urbana e espaços livres a analisar
As infra-estruturas viárias
Neste período se produziram modificações significativas na rede viária da unidade,
com interferências diretas sobre a transformação da estrutura do território e a geração de
tensões determinantes para o futuro dos espaços livres na área.
Incentivar a ocupação da área era uma das metas estabelecidas pelo governo. Para
tanto, era importante estabelecer conexões de acesso direto para a zona sul e o centro,
então as áreas mais consolidadas da cidade. A intenção deixava clara a idéia de transfor-
mar o caráter rural da área, com uma produção agropecuária significativa, em um centro
comercial e industrial, e em um novo mercado imobiliário.
A construção do Elevado das Bandeiras (composto por diversos túneis e 1,3km de
ponte, que serpenteia as encostas do Maciço da Tijuca sobre o oceano) e da via-expressa
Lagoa-Barra, concluída no final dos anos sessenta, aumentou a acessibilidade às áreas
próximas ao mar. As vias uniam a zona sul à Barra da Tijuca, e seu traçado seguia pela
auto-estrada Avenida das Américas, paralelamente ao mar. Ao mesmo tempo, foi constru-
ída a Via 11 e a Avenida Alvorada, perpendicular à Avenida das Américas, consolidando a
conexão Barra-Jacarepaguá e possibilitando novas oportunidades de reforçar os acessos
a Jacarepaguá pela zona norte.
Devido às cotas muito baixas do relevo, foi necessário realizar aterros quilométricos
ao longo de toda a Avenida das Américas e da Via 11. Ao mesmo tempo, se fizeram me-
lhorias na urbanização das vias da rede secundária, com a implementação da pavimenta-
ção e infra-estrutura de serviços.
A tendência à concentração de esforços para a construção de infra-estruturas era,
claramente, próxima ao mar, pois esta constituía a área que prometia maior desenvolvi-
mento, tanto em relação às moradias de luxo, apoiadas na presença do mar e de amplas
visuais, quanto à previsão de modernos centros de comércio e serviços e ao aumento da
atividade turística, posto que o turismo vinha aumentando consideravelmente pelo uso
crescente da área para atividades de lazer, favorecidas por um clima que beneficiava as
atividades ao ar livre grande parte do ano.
Ambas as vias de maior tamanho, a Avenida das Américas e a Via 11, construídas segun-
do a previsão do Plano Piloto, seguiam por onde se cruzavam os antigos caminhos, paralela
101
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Os assentamentos
A subtração de solo livre, bastante estabilizada nos anos cinqüenta pela deficiência
na oferta de acessos à área, se intensificou nos anos sessenta com o incremento das infra-
estruturas viárias, que deram continuidade à expansão suburbana de Jacarepaguá junto à
expansão das áreas próximas ao mar.
Assim, se estimulava a intensificação dos assentamentos nas duas principais concen-
trações já existentes: Barra da Tijuca e Jacarepaguá. Na Barra da Tijuca se expandiram os
núcleos iniciais, isto é, Recreio dos Bandeirantes e Jardim Oceânico/Tijucamar, e se criaram
outros. Os núcleos existentes seguiam as margens do Maciço da Tijuca, a Estrada de Ja-
carepaguá, o traçado da Avenida das Américas, a então chamada Avenida Sernambetiba
e as margens das águas (principalmente a Lagoa da Tijuca, o Canal de Marapendi e o
mar). Até então, o mais comum nestes crescimentos era o uso residencial, como segunda
residência para fim de semana, e comercial; entretanto, ainda refletiam um modo de vida
102
Evolução urbana e espaços livres a analisar
quase rural. Em Jacarepaguá, o incremento dos bairros suburbanos tendia a seguir a Es-
trada dos Bandeirantes e avançava em direção aos maciços.
Por um lado, as construções residenciais na Barra da Tijuca vendiam a qualidade de
vida que se podia desfrutar na área, ligada à imagem moderna do Plano Piloto, à preser-
vação ambiental, aos assentamentos junto à natureza, além da baixa densidade edificada
e a promessa de atrativos comerciais e de serviços. Comparava-se esta área a uma novís-
sima zona sul, extensão dos assentamentos litorais de Copacabana, mas com um modo
de viver diferente deste, que já apresentava padrões edificados com altas densidades,
insegurança urbana, ruídos, contaminação, poucas áreas livres, edifícios que conformam
uma verdadeira barreira de concreto frente ao mar, etc., e caracterizava um processo de
ocupação desordenado (Leitão, 1999).
Por outro lado, Jacarepaguá ia se distinguindo como uma área à margem, literalmente,
dos avanços do modelo urbano adotado próximo ao mar, se consolidando como uma área
industrial voltada para a moradia da população com menor poder aquisitivo. Uma mostra
expressiva desta condição é a localização, por parte do setor público, de conjuntos habitacio-
nais para a população expulsa das favelas da zona sul (muitas das quais foram queimadas)
e reassentada em lugares “afastados” dos centros de alto poder aquisitivo, onde o preço
da terra era baixo e onde estes conjuntos não seriam um obstáculo aos empreendimentos
imobiliários. Exemplo desta prática é o bairro Cidade de Deus, no centro da unidade.
Os espaços livres
As melhorias nas infra-estruturas viárias da área se traduziram em um aumento da
ocupação urbana, com a valorização imobiliária das terras livres, que passaram a estar na
expectativa entre a ocupação e a preservação. Ao mesmo tempo, as vias e os assentamen-
tos provocaram modificações no relevo e na rede de água da unidade.
Os viadutos e os túneis constituíram intervenções significativas sobre o relevo dos
espaços livres. Por um lado, os túneis representaram a possibilidade de uma intervenção
pontual no relevo e sua respectiva cobertura vegetal. Por outro lado, os viadutos permi-
tiram transpor os obstáculos do relevo e da água, o que provocou uma interferência nos
espaços livres que, a princípio, poderia ser controlada nos pontos de contato/conflito
103
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
104
52. Viaduto Santos Dumont (1973) 52
(Foto: M. S. Rocha) (F.: Acervo AGCRJ).
53. Auto-estrada Lagoa-Barra. Túnel do Joá
(1971) (Foto: M. S. Rocha) (F.: Acervo AGCRJ).
54. Esquema da ocupação do caso de estudo
até 1970 (Detalhe: Avenida das Américas,
Ayrton Senna e túnel).
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Evolução urbana e espaços livres a analisar
1987). A diferença entre a Barra da Tijuca e o restante da metrópole era tal que, em 1988,
foi proposto um plebiscito para a sua emancipação como um novo município dentro do
Estado do Rio de Janeiro, embora a proposta não tenha tido sucesso.
O planejamento
Em 1974 se levou a cabo a fusão da cidade-estado da Guanabara (município do
Rio de Janeiro) com o Estado do Rio de Janeiro, e a criação da região metropolitana.
Produziu-se, então, um novo intento de reformulação do desenvolvimento metropolitano,
visando disciplinar o crescimento urbano e dotar o território de condições adequadas para
suportá-lo.
Nesta direção, a elaboração do Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro
(Pub-Rio) (1977) tinha como objetivo a distribuição de infra-estruturas relativas à habita-
ção e à produção, e propunha a integração das instâncias administrativas de gestão do
espaço urbano (Rezende, 1982).
Na realidade, o Pub-Rio, um plano físico-territorial, estabeleceu as bases do desen-
volvimento urbano com indicações para a ocupação edificada, para as infra-estruturas
viárias, para os serviços urbanos, etc., mas não fez referência ao tratamento dos espaços
livres como uma estratégia de ordenação territorial, restringindo-se a atuações isoladas
sobre estes, voltadas ao lazer e à necessidade de criar praças, jardins, etc., entre outras
intervenções de caráter pontual. Relativamente ao caso de estudo, o Pub-Rio mantinha as
indicações do Plano-Piloto.
Às estratégias gerais ditadas por este plano deviam se seguir planos especiais, deno-
minados Planos de Estruturação Urbana (PEU), desenvolvidos e aplicados sobre distintas
partes da metrópole. Nos PEUs, que ainda seguem sendo elaborados, os espaços livres ti-
veram algum protagonismo, onde prevaleceram as opções de proteção das características
ambientais que serviram de base para a elaboração das diretrizes de ordenação.
Em seguida foi elaborado o Plano Diretor da cidade (1992), ainda vigente. Este plano,
frente ao crescente interesse pela proteção do meio ambiente promovido desde a realização
da Cúpula do Meio Ambiente no Rio de Janeiro (1992), incorpora indicações de conteúdo
ambiental para a ordenação do caso de estudo, como área de “prioridade para estudos meio
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
ambientais e posterior alteração, por lei, da ordenação urbanística vigente, com o objetivo de
compatibilizar o uso e a ocupação do solo com suas características geológicas”.
Paralelamente ao Plano Diretor, foi elaborado o Plano Diretor de Meio Ambiente
(1991), ao qual se seguiram medidas de proteção da natureza contidas na Legislação do
Meio Ambiente (1994). A aplicação de ambos se reflete na área de estudo, e a estes se
soma uma série de projetos e decretos de leis municipais, estatais e nacionais, aprovadas
ao longo dos anos noventa31, que tratam de preservar e manter a natureza. Na realidade,
as medidas legais para a proteção dos espaços livres da unidade foram sendo tomadas
lentamente no correr das três últimas décadas. A primeira, relativa ao Parque Nacional da
Tijuca (em 1967), e a segunda ao Parque Estadual da Pedra Branca (em 1974), demons-
tram o reconhecimento, por parte das autoridades governamentais, da importância destas
duas reservas de espaços livres como elementos naturais.
O Plano Diretor define, entre outros parâmetros, as diretrizes da zonificação, da legis-
lação edílica e parcelária e da macrozonificação para a cidade. Em linhas gerais, suas prin-
cipais determinações seguem a premissa de que a ocupação urbana deve consolidar os
grandes vetores de crescimento da cidade, entre eles, a unidade territorial em questão.
Parte do plano constitui um instrumento de detalhe do Plano Piloto da Baixada de
Jacarepaguá e mantém suas definições, determinando o âmbito espacial da zona especial
5 (ZE-5). A ZE-5, segundo o decreto N.° 3.046, de 27 de Abril de 1981, se subdivide em
46 subzonas com as devidas condições de zonificação, parcelamento e edificação, e man-
tém os espaços livres protegidos previamente previstos pelo Plano Piloto. Para o resto da
unidade, o Plano Diretor estabelece diretrizes de ocupação distintas.
Em geral, o Plano Diretor não propõe a criação de novos acessos à área, considerando-
se que já existiam previsões de novas infra-estruturas viárias ainda remanescentes do Plano
Doxiadis (como a via-expressa Linha Amarela), das determinações do Departamento de Es-
tradas e Rodagens do Estado do Rio de Janeiro (DER), do Pub-Rio e do Plano Piloto. Deste
modo, o plano determina o incremento da acessibilidade à área a partir da implementação
das vias previstas, de uma maior conexão entre as infra-estruturas viárias existentes e do
fomento dos meios alternativos de transporte individual e coletivo, como a bicicleta e o VLT,
respectivamente. Ao mesmo tempo, ressalta a necessidade de fomentar a integração entre
os bairros da Baixada de Jacarepaguá e entre estes e a zona oeste e a zona norte.
108
Evolução urbana e espaços livres a analisar
As infra-estruturas viárias
Durante os anos setenta se assistiu à realização de inúmeras obras de infra-estrutura
viária e de serviços, com a expansão das principais avenidas e estradas. Estas obras já
anunciavam a transformação destas vias em corredores de transportes e eixos comerciais
e industriais, adaptados às demandas da ocupação urbana da unidade. Apesar da ex-
pansão das infra-estruturas, estas eram insuficientes para a demanda existente na área,
principalmente quanto ao abastecimento e ao saneamento da água e a distribuição de
energia elétrica.
Os anos oitenta foram anos de crise. No final dos anos setenta a economia brasileira
entrou em crise por causa, entre outros fatores, da alta dos preços do petróleo, o que
provocou uma forte queda nos investimentos em infra-estrutura e em construção. Mesmo
assim, a área de estudo continuou seu processo de ocupação urbana.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Somente no final dos anos noventa se produziu a principal intervenção viária no âmbito
de estudo, com a construção da via-expressa Linha Amarela, em 1997, que já estava prevista
no Plano Doxiadis. A via-expressa se estendia entre os bairros de Jacarepaguá e o Maciço da
Tijuca, como continuação da Avenida Ayrton Senna, e se apresentava como uma alternativa
de acesso à área e de conexão com a zona norte da cidade e com a região metropolitana.
Para a construção da via-expressa também foram feitos túneis e viadutos. Diferente-
mente das vias abertas do período anterior, os viadutos não apenas venciam distâncias
sobre a água, como também se sobrepunham aos assentamentos e aos acessos existen-
tes. Na realidade, em muitos trechos a via foi construída diretamente sobre o solo, e foram
realizados aterros e outras adaptações que criaram cortes na ocupação urbana existen-
te, sem estabelecer vínculos mais estreitos com o entorno. Por um lado, a sobreposição
causou modificações na rede viária original, a princípio, hierarquizada entre si. Por outro
lado, a segmentação resultou em espaços livres que sobraram ao lado da via, sem uma
função definida relativamente a esta, como também a seu entorno. Em ambos os casos
percebem-se as relações da via-expressa dirigidas à função urbana de via de trânsito
rápido, de conector entre áreas funcionais com suas distintas atividades, sem estabelecer
vinculações com os espaços livres e com o resto de seu entorno.
As conexões com a metrópole, permitidas pela via-expressa, não apenas determina-
ram novas oportunidades de acesso à área, como também amplificaram seus atributos de
atração, enquanto centro de comércio e serviços com grande potencial turístico.
Os assentamentos
A via-expressa aumentou significativamente a acessibilidade da área, ao retirar a
dependência de acesso quase exclusivo através da Avenida das Américas e ao facilitar a
ocupação urbana, incentivando novos investimentos imobiliários, que ainda são parte do
quadro atual de desenvolvimento da unidade. Estas ocupações tenderam a se localizar
tanto em Jacarepaguá como na Barra da Tijuca, ainda que a maior oferta de espaços livres
nesta última, provavelmente revele sua maior tendência ao crescimento urbano.
As fortes pressões imobiliárias na unidade, principalmente na Barra da Tijuca, aumen-
taram nos anos setenta. Durante esta década, a unidade contou com um órgão especial
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Os espaços livres
Entretanto, o destino do espaço livre previsto pelo Plano Piloto não se consolidou to-
talmente. Os espaços livres foram, paulatinamente, se transformando em espaço à espera
de ocupação, sem uma participação efetiva na conformação urbana do lugar, quase como
uma vítima da urbanização, devido à perda de sua identidade original ou ao tratamento
como espaços isolados, protegidos ambientalmente, muitas vezes ameaçados pela pres-
são da ocupação urbana.
Na realidade, se pode afirmar que, embora existam grandes áreas desocupadas na
unidade, tanto na planície como nas encostas, as pressões da ocupação se distribuem
por todos os lados, em maior ou menor grau, dependendo da existência favorável de
condições físicas (acesso, relevo, solo, infra-estruturas, etc.) e funcionais (especialmente
na oferta de serviços existentes), entre outros fatores.
Em termos gerais, o traçado das grandes infra-estruturas viárias de alta velocidade e
a urbanização com padrões de edificação como caixas “quase” anônimas ou conjuntos
fechados determinaram, entre outros aspectos, a fragmentação dos espaços livres, desen-
volvida desde a continuidade entre planície e maciços até o solo livre restante no meio da
urbanização extensiva.
No processo de ocupação urbana da unidade, o espaço livre sofreu um rápido proces-
so de desmantelamento com a ocupação mais acentuada da planície e das encostas dos
maciços, iniciada no período anterior. As grandes conformações geográficas tenderam a
se isolar cada vez mais, tanto na relação maciço-maciço como na relação entre as lagoas
e entre estas e o mar. Os espaços livres, além das grandes reservas naturais, passaram a
apresentar uma leitura descontínua, cuja estrutura dispersa dissolve a percepção de seu
papel estruturador do espaço urbano.
As modificações no relevo, a maior probabilidade de incêndio, a poluição acentua-
da, as explorações clandestinas dos recursos naturais, a ocupação irregular de áreas de
risco, a ruptura das continuidades hídricas, e a retirada da vegetação, foram as principais
transformações provocadas pela construção das vias e dos assentamentos. Sobre os
espaços livres ocasionaram, entre outras conseqüências, uma diminuição da diversidade
dos mosaicos vegetais e a degradação dos cursos de água, com uma maior tendência
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Evolução urbana e espaços livres a analisar
perda das relações estabelecidas entre os espaços livres no primeiro período analisado, ao
retirar, ou corromper, os atributos que determinavam a qualidade ambiental da área.
Hoje, os espaços livres existentes na unidade são, na sua maioria, espaços de grandes
dimensões, resultantes do tipo de ocupação e loteamento34 (fig. 67) da terra ao longo da
história, cujas consideráveis porções pertencem a proprietários únicos, geralmente priva-
dos35, que estabelecem uma evidente política de reserva de terra, juntamente com agen-
tes imobiliários (Fridman, 1999).
O loteamento atual da área se caracteriza por uma situação jurídica confusa, não ha-
vendo, em muitos casos, títulos de propriedade. Situação que se repete em muitas outras
regiões do Rio. É comum identificar a ocupação dos terrenos por “posseiros”, gente que
se apropria ilegalmente dos terrenos, que invade a terra, estabelece sua propriedade e,
muitas vezes, promove novas divisões na terra e/ou a vende a terceiros, sem o título de
propriedade (fato que ocorre desde o séc. XVI)36 (Fridman, 1999).
O loteamento não segue um critério claramente definido, e as divisões são aparente-
mente aleatórias, embora a lógica da divisão dos lotes apresente alguma relação com os
acessos e a água, que facilitariam sua delimitação e estrutura, principalmente consideran-
do-se as poucas referências espaciais relativas ao relevo plano e a necessidade do terreno
ser acessível e drenado. Deste modo, a geometria é variável e não é possível estabelecer
um critério regular ou uma ordem repetível.
Em síntese, a análise da evolução histórica dos espaços livres na unidade territorial
demonstra que, geralmente, o processo de conformação destes espaços se baseou em
critérios distintos, entre eles:
• A configuração da forte topografia dos maciços e a natureza dos espaços, como, por exem-
plo, os campos inundáveis, que praticamente inibiram a ocupação urbana nestes locais.
119
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• A intenção conformadora e defensiva dos planos, que atuaram a favor da proteção dos
espaços livres e da definição de seus limites.
120
Evolução urbana e espaços livres a analisar
Na realidade, os planos urbanísticos até agora, desde o Plano Agache (1930), o Plano
Doxiadis (1965) ou o Pub Rio (1977), conceberam a cidade do ponto de vista da artificia-
lização e da tentativa de ordenação e controle. E, embora alguns planos, como o Plano
Diretor Municipal de 1992 ou os planos especiais (PEUs), tenham dado atenção ao tema dos
espaços livres, sua proteção e gestão, um plano integrado, que considere a relação entre os
espaços livres em sistema como condutores da ocupação urbana, ainda não foi concebido.
67
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Nos últimos anos, grande parte das ações do setor público no Rio recaíram sobre os
espaços livres públicos a escala local ou, inclusive, sobre a recuperação e revitalização do
edificado, geralmente em áreas com uma vitalidade urbana assegurada e com alta densida-
de. Este fato reforça a importância do tratamento e da reabilitação do espaço livre público,
mas estas intervenções respondem, principalmente, ao critério de justaposição de espaços
dentro de enfoques pontuais, que pouco contribuem para a integração dos espaços livres na
escala do território, não sendo, portanto, eficazes na atuação sobre os processos específicos
de fragmentação e desequilíbrio do espaço urbano de modo mais amplo.
68
68. Espaços livres atuais (adaptação de mosaico de ortofotos) (F.: IPP, 2000).
122
Evolução urbana e espaços livres a analisar
Notas
29
Um dado singular do planejamento na área foi a criação, em 1932, da “Reserva Biológica de Goethea”,
na Restinga de Itapeba, sendo a mais antiga reserva decretada no Brasil a nível municipal.
30
“Desde o século XVI esta região, ocupada por grandes concessões territoriais aforadas, dedicava-se eco-
nomicamente à pecuária e aos engenhos de açúcar. No século XVIII, as atividades se expandiram com a introdu-
ção dos cafezais, que conheceram seu auge e decadência durante o século XIX” (Fridman, 1999, p. 130).
31
O final dos anos oitenta esteve marcado pela municipalização das leis ambientais no Brasil, que antes
eram ditadas apenas em âmbito nacional ou estadual.
32
Algumas destas modificações no Plano Piloto foram regularizadas pelo decreto N.° 3.046 de 27/04/81.
Entretanto, apesar do aumento da densidade na área, as transformações espaciais não previstas pelo Plano
provocaram muitos problemas, entre eles, a ausência de uma adequada rede de saneamento básico, a satu-
ração do tráfego e a degradação ambiental (PCRJ, 1991).
33
Os condomínios se caracterizam, principalmente, por ser áreas fechadas em sentido literal, com muros
e grades que não permitem o contato com o entorno. Em geral, possuem amplos espaços livres e serviços,
que atendem às necessidades diárias da comunidade que vive ali, reproduzindo um pedaço de cidade. Alguns
também incluem equipamentos para uso coletivo, como escolas abertas à comunidade externa. Na realidade,
os condomínios são a adaptação das propostas de assentamentos de residências do Plano Piloto, embora
proponham, entre outras modificações, seu fechamento. Uma das idéias intrínsecas a estes lugares é a sa-
tisfação das necessidades sem precisar sair de seus âmbitos espaciais e sem permitir a entrada livre. Tudo
está controlado, se evita não apenas a mistura social, como também o contato com a cidade, ao criar ilhas
ensimesmadas que tendem à fragmentação espacial, funcional e social. Ilhas que se vendem como lugares
seguros, tranqüilos, sem as perturbações urbanas, e que acabam por conformar verdadeiros guetos.
34
Não foi possível obter a carta cadastral da área de estudo junto ao setor público municipal, O que se
apresenta é a leitura morfológica do loteamento dos espaços livres a partir da interpretação de ortofotos,
segundo a cartografia digital do Instituto Pereira Passos (1997).
35
“De um total de 15 km2 na região da Barra da Tijuca que engloba os bairros da Barra, do Recreio dos
Bandeirantes, do Joá e parte de Jacarepaguá, 7 km2 pertencem, desde 1958, à ESTA – Empresa Saneadora Ter-
ritorial e Agrícola S.A […] Esta empresa é parcialmente sucessora do banco de Crédito Móvel, que comprou as
123
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
terras de Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena em 1981. Ao Banco elas foram transferidas quando a
Companhia Engenho Central de Jacarepaguá foi extinta. Esta Companhias haviam comprado do Mosteiro de
São Bento que, por sua vez, recebeu grande parte das terras como doação de Dona Vitória de Sá em 1667.
Há 3 km2 que pertencem a Carvalho Hosken no local conhecido como Saco y Saquinho […], e 1 km2
no Recreio dos Bandeirantes. Há ainda 1 km2 pertencentes aos irmãos Ramos, empresários, […]. Há outras
grandes glebas que totalizam cerca de 3,8 km2. Deste total, 2,5 km2 são de empresas de construção civil“
(Fridman, 1999, p.246, 247).
36
Na área, especificamente, esta prática colaborou, na segunda metade do séc. XIX, com o loteamento
das grandes propriedades rurais, ao permitir que os “posseiros” mantivessem os lotes que ocupavam, através
da regularização de suas propriedades. Por outra parte, a abolição da escravatura, na mesma época, forçou
alguns donos das grandes propriedades a abandonar seus cultivos e a criação de animais, ao mesmo tempo
em que parcelavam e vendiam a terra, possibilitando sua urbanização (Fridman, 1999).
37
São exemplos de intervenções urbanísticas os projetos: Favela-Bairro, Rio-Cidade e Rio-Orla.
124
5
Análise e avaliação:
os atributos dos espaços livres
Neste capítulo são analisados alguns atributos dos espaços livres: os atributos do
suporte biofísico, os atributos perceptivos, a possibilidade de acesso e os vínculos de pla-
nejamento existentes. A proposta é avaliar cada atributo segundo parâmetros específicos
e compor uma escala de valores, a fim de determinar uma primeira aproximação aos
espaços livres mais adequados para constituir o sistema que se pretende vertebrar.
As análises são realizadas segundo os seguintes parâmetros:
125
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Para determinar a avaliação dos atributos biofísicos dos espaços livres, se busca iden-
tificar a vulnerabilidade à exploração e à ocupação urbana em cada peça, relativo à ma-
nutenção de seus processos naturais e, conseqüentemente, como um fator que atuaria a
favor de sua não ocupação. Para tanto, se descreve e avalia as seguintes variáveis:
• A edafologia. Busca-se detectar os terrenos mais aptos para o uso agrícola em com-
paração com os menos aptos, segundo reúnam condições favoráveis ao desenvolvimento
da agricultura. Os espaços livres, sendo mais aptos para a agricultura, podem ser um fator
privilegiado na eleição dos usos do solo e das atividades compatíveis ou adequadas a um
determinado lugar. Cabe ressaltar que a edafologia é considerada como dado a levar em
conta na caracterização dos espaços livres, embora não tenha feito parte da avaliação
final dos atributos biofísicos dos espaços.
126
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
Cobertura vegetal
Ao considerar a manutenção dos processos naturais no sistema de espaços livres, se
supõe que a conservação da cobertura vegetal atua na direção contrária à alteração de
um determinado ecossistema. Assim, quanto menos alterada determinada comunidade
vegetal, maior será a conservação de sua estrutura original e de seus processos natu-
rais. Ao contrário, as comunidades mais alteradas se encontram degradadas ou carecem
de outras fontes de energia, como o trabalho humano ou componentes químicos, por
exemplo. Conseqüentemente, em geral, são menos auto-suficientes e apresentam maiores
transformações na sua estrutura original que, muitas vezes, comprometem a qualidade de
seus ecossistemas (Hough, 1995; Odum, 1998; entre outros).
Nesta perspectiva, as comunidades vegetais menos alteradas representam elementos
de grande qualidade ecológica, fundamentais para o funcionamento dos processos na-
turais no sistema de espaços livres, enquanto que as mais alteradas têm distintos graus
de importância, desde um papel positivo, se são exploradas e estão adequadas ao fun-
cionamento dos processos naturais, até um papel negativo, se representam um risco para
estes processos, seja por seu elevado grau de degradação ou por incompatibilidades que
possam causar o tipo de exploração e/ou a maneira pela qual esta se realiza.
Assim, se toma como parâmetro de avaliação o grau de alteração de cada comunida-
de vegetal, onde se destacam:
Para medir os graus de alteração das comunidades vegetais no caso de estudo, foram
observados, além dos resultados dos estudos oficiais do Estado38, os usos atuais desenvolvi-
dos nos espaços livres e a forma como podem afetar a estrutura original do tipo vegetal.
As extensões de espaços livres com explorações mais significativas correspondem ao
uso agrícola e à pecuária, localizados em terrenos a oeste do caso de estudo. Nas áreas
de planície estão presentes, entre outros, cultivos de subsistência, flores e a pecuária. A
127
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
maioria das plantações de banana se distribui pelas encostas dos maciços. A introdução
da agricultura e da criação de gado, entre outros fatores, contribuiu para a transformação
da vegetação nas áreas inundáveis e para a retração das áreas florestais mais próximas à
produção agrícola. Entretanto, os brejos, embora sofram as conseqüências da exploração
agropecuária, principalmente pelos aterros e pela contaminação, não são áreas favoráveis
a este tipo de exploração devido às suas características como área alagadiça, portanto
mantém importantes aspectos de seu ecossistema original.
As extensões florestais incluem as sedes dos parques naturais, que comportam algu-
ma infra-estrutura de uso público, e despertam cada vez mais um maior interesse para as
atividades relacionadas com o lazer e o ecoturismo, mas sem comprometer as estruturas
florestais. Também se encontram áreas florestais em propriedades industriais e em algu-
mas zonas de equipamentos coletivos em bom estado de conservação. Como exemplo
cabe citar o hospital psiquiátrico Colônia Juliano Moreira (nas margens do Maciço da
Pedra Branca), que abarca parte da área florestal do Maciço. Em meio à floresta também
podem ser encontradas algumas pedreiras, umas ativas, outras desativadas, principalmen-
te nas margens do Pedra Branca, que constituem um dos mais importantes fatores de
degradação da vegetação nas encostas do Maciço (Costa, 2002). Mas, em geral, as áreas
florestais mais prejudicadas pelas explorações são as que apresentam sua vegetação de-
gradada. Correspondem a áreas que foram desmatadas e, geralmente, servem para pasta-
gem ou não são utilizadas. Os jardins correspondem aos espaços livres de dimensões me-
nores destinadas a sedes de clubes, e incluem, entre outros: o clube de golfe, os parques
aquáticos, os campings, os clubes privados, os jardins públicos e partes de propriedades
de equipamentos coletivos e industriais. Em geral, apresentam uma vegetação cultivada,
que não é a original, e que em alguns lugares está degradada.
Os mangues e as restingas não costumam ser alvos de um uso intenso, seja porque
estão em espaços protegidos, seja por apresentarem condições adversas a certas explo-
rações. Mesmo assim, se constata a tendência à localização de clubes nestas áreas, so-
bretudo naquelas originalmente cobertas pelas restingas, o que conduziria a uma retirada
desta vegetação e sua transformação em jardim. Em geral, estas comunidades vegetais
estão mais conservadas, embora sofram os efeitos da contaminação das águas, dos ater-
ros clandestinos e da retirada ilegal da cobertura vegetal, entre outros fatores.
128
129
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Neste marco, todas as comunidades vegetais são importantes para a manutenção dos
processos naturais no sistema de espaços livres, ao se considerar a possibilidade de sua
recuperação ou reabilitação, segundo seja conveniente. Conforme o interesse da conser-
vação, sem apresentar exclusões fundamentais, se atribuiu os graus alto e médio.
Através deste critério, foram identificados os seguintes grupos de comunidades vege-
tais, com valores classificados como alto e médio respectivamente:
Hidrologia
Resguardar os “lugares da água” significa agir a favor da manutenção dos processos
naturais no sistema de espaços livres. A águas superficiais ou subterrâneas e suas respec-
tivas dinâmicas de circulação e inundação são fatores determinantes para o bom funcio-
namento hídrico de um lugar. Neste contexto, além dos leitos dos mananciais e suas mar-
gens, essenciais para a manutenção das dinâmicas hídricas, cabe identificar as áreas que
podem sofrer inundações e/ou deslizamentos, por causas naturais ou artificiais. Identificar
estas áreas significa estar atento aos espaços necessários para o funcionamento da água
nos espaços livres, cuja ocupação ou exploração pode ter conseqüências catastróficas.
130
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
131
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• Médio: zonas susceptíveis. Áreas onde podem ocorrer inundações e/ou deslizamentos.
132
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Declividade
A observação da declividade é essencial para identificar os lugares mais vulneráveis aos
desmoronamentos, de acordo com as inclinações das encostas e as condições do solo que
apresentam. Estes lugares não deveriam ser ocupados e mereceriam uma atenção especial
com relação a possíveis explorações, de modo que fosse priorizada a preservação dos pro-
cessos naturais nos espaços livres. No que diz respeito à ocupação urbana, as condições
físicas das encostas condicionam o acesso, tanto de estradas quanto de infra-estruturas de
serviços, e podem representar riscos para a ocupação ou, até mesmo, impossibilitá-la.
A bibliografia que aborda o tema desaconselha a ocupação em encostas com declivi-
dade de mais de 20%, pois podem apresentar riscos de desmoronamentos ao intensificar
processos de erosão e desertificação, principalmente se coincidem com a presença de
solos, cuja textura, estrutura e permeabilidade, entre outros fatores, influenciam nesse
fato (McHarg, 1969).
Um estudo sobre o Maciço da Pedra Branca (Costa, 2002) revela que as declividades que
contribuem para os deslizamentos são as de 15 a 20% e, sobretudo, de 25 a 45%, associa-
das a solos pouco estáveis; dados que estão de acordo com as indicações anteriores. Mesmo
assim, estas indicações variam de acordo com o processo de ocupação urbana já existente,
que pode acentuar os riscos naturais de deslizamentos devido ao processo de artificialização
imposto, principalmente em áreas de fortes declividades, em geral não aptas à ocupação.
Com base nestas informações, são atribuídos os seguintes valores às superfícies se-
gundo sua propensão aos desmoronamentos:
A observação das declividades da área revela que desde a cota 0m até a de 25m
predominam as inclinações que variam de 0 a 20%. Entretanto, na parte sul do Maciço
da Tijuca, as inclinações se acentuam a partir da cota 25m, apresentando variações desde
20% até 60%, antes de alcançar a cota de 100m. As inclinações no Maciço da Pedra
Branca, na parte sul, chegam a 30% em algumas áreas, entre a cota 25m e a cota 50m,
134
135
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
mas em geral tornam-se mais acentuadas a partir da cota de 50m, fenômeno que se
repete no Maciço da Tijuca.
Neste contexto, a planície se mostra como uma grande superfície que tende a sofrer
pouca influência dos desmoronamentos. Em contrapartida, grande parte dos maciços,
com inclinações muito acentuadas, estaria mais propensa aos mesmos, portanto se de-
saconselharia por completo sua ocupação, ressaltando a importância da fiscalização das
explorações nestes lugares.
Edafologia
Um dos critérios para análise dos solos é seu maior ou menor potencial para o uso agrí-
cola. Este fator pode indicar, por um lado, o possível desenvolvimento de cultivos em certas
áreas e, por outro, a conveniência de limitar a ocupação urbana a favor da agricultura.
O crescimento efetivo da agricultura, de modo otimizado, depende da conjunção en-
tre a qualidade do solo (fertilidade, acidez, estrutura física, etc.) e outros fatores como a
drenagem e a declividade (Turner, 1998). Entretanto, alguns cultivos se adaptam a declivi-
dades mais acentuadas e muitos deles se aproveitam das transformações no relevo para
se desenvolver, o que demonstra que o relevo é adaptável e, em definitivo, não constitui
um elemento de exclusão.
Segundo o grau de aptidão maior ou menor que apresentam para a prática agrícola,
os solos podem ser:
• Solos muito aptos. São solos excelentes para o desenvolvimento das atividades agrícolas.
• Solos moderadamente aptos. São solos que necessitam medidas de correção para
o desenvolvimento agrícola.
• Solos não aptos. São solos onde não se recomenda o uso agrícola.
De acordo com esta classificação se atribui aos solos valores alto, médio e baixo,
respectivamente, segundo sejam muito aptos, moderadamente aptos ou não aptos, de
acordo com a tendência que apresentam mais ou menos favorável ao desenvolvimento
da exploração agrícola40:
136
137
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
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Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
Observa-se que a maioria dos solos da área estudada apresenta uma fertilidade fraca
ou moderada, localizando-se os solos mais férteis em algumas manchas concentradas no
Maciço da Pedra Branca, em áreas com declividades acentuadas e, geralmente, de difícil
acesso. É importante destacar que um desenvolvimento de cultivos nas áreas florestais
pode incrementar a já crescente substituição da floresta pela agricultura, o que não seria
aconselhável. Pode-se concluir que, de forma geral, a área não apresenta boas condições
para o uso agrícola.
139
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• Baixa (B)45. São espaços livres com uma avaliação baixa, cujos processos naturais apre-
sentam uma “alta” tolerância com relação à exploração e à ocupação urbana.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Para determinar a avaliação dos atributos perceptivos dos espaços livres no caso de
estudo, se busca identificar as características mais genuínas dos elementos físicos que com-
põem os espaços e que podem ser percebidos como parte da identidade visual da área, e se-
riam merecedores de conservação. Cabe ressaltar que este tipo de avaliação possui um alto
grau de subjetividade e está sujeita a distintas considerações sobre seu valor. Na análise dos
atributos perceptivos das superfícies livres se descrevem e avaliam os seguintes elementos:
É importante ressaltar que, neste item, não foram considerados os espaços livres com
importância relativa aos valores imateriais presentes na área, devido à amplitude da pesqui-
sa exigida e à impossibilidade de realizá-la sem o apoio de uma equipe. Mas, considera-se a
relevância de tal aspecto, que poderia ser acrescentado às análises realizadas como mais um
fator favorável à incorporação destes espaços livres ao sistema que se quer propor.
Elementos cênicos
Os elementos cênicos constituem os componentes naturais dos espaços livres com
maior atrativo visual, o que lhes confere uma qualidade intrínseca. A importância dos
elementos cênicos se reflete no caráter que imprimem à composição de determinada
paisagem, sendo parte significativa de sua identidade visual, como, por exemplo, as sin-
gularidades do relevo, da vegetação e da hidrografia.
144
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
O atrativo visual de um elemento pode ser medido pelas particularidades de sua com-
posição formal, por exemplo, os acidentes topográficos, que são quase esculturas a céu
aberto; a cobertura vegetal que apresenta uma variedade de cores, de estratos variados,
ou conforma uma massa densa com uma presença contrastante; ou a água com formas
distintas e amplas (González Bernaldez, 1981; Bolós, 1992; entre outros).
Neste contexto, se avaliam os elementos cênicos presentes no caso de estudo, cuja
localização é um dado importante que deve ser considerado para que permaneçam visí-
veis e preservados.
A percepção do relevo da área está influenciada pela sucessão de cumes que tipificam
a unidade territorial como um grande anfiteatro emoldurado por montanhas. As serras
que conformam os maciços ressaltam as principais formações que contém os pontos de
maior altura e se destacam na composição topográfica. Elas determinam uma geometria
singular em relação à planície e aos cumes, como linhas diretrizes em direção aos pontos
mais centrais dos maciços, dispostas de modo radial em distintas direções da planície.
Exemplificando, se pode nomear as serras do Engenho Velho, do Inácio Dias, dos Pretos
Forros e a Serra Geral de Guaratiba, as quais apresentam uma continuidade quase com-
pleta na zona norte da planície, onde se produz o encontro entre os maciços, e formam o
arco limite da planície. A Serra Geral de Guaratiba define a parte oeste da planície, como
um grande braço do Maciço da Pedra Branca, perpendicular ao mar.
Nos cumes, como seqüências de pontos mais altos, predominam as zonas escarpadas
e, no caso específico dos maciços estudados, em alguns pontos há grandes afloramentos
rochosos, que podem ser percebidos como esculturas naturais, monumentais, como, por
exemplo, a Pedra da Gávea e o Morro Dois Irmãos.
Os pontos de cota mais baixa, em geral menos visíveis, não apresentam caracterís-
ticas de interesse visual. Da mesma maneira, a grande extensão da planície, com seu
relevo muito homogêneo, também não oferece atrativos visuais. Entretanto, as colinas
na planície se apresentam como elevações topográficas que contrastam com a planura
e lhe emprestam um caráter especial. Além disso, algumas possuem uma conformação
particular, que as realça ainda mais, por exemplo, a Pedra da Panela, ou estão em lugares
muito específicos e claramente diferenciados dos demais, como o Pontal de Sernambetiba.
Algumas destas colinas se apresentam cobertas, total ou parcialmente, pela vegetação, o
que reforça as diferenças e o contraste com o plano.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
148
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
meio de transporte oferece possibilidades perceptivas distintas, que podem ser mais ou
menos diretas, com ou sem obstáculos, mais ou menos pausadas, entre outras.
Por outro lado, as variações também são afetadas pelo tipo de via: se é uma estra-
da herdada dos tempos históricos, uma auto-estrada, uma via-expressa, etc. A estrada
permite viver o entorno, quando se circula a uma velocidade moderada, compartilhando
impressões relativamente diretas e amplas com o exterior. Ao contrário, a auto-estrada e
a via-expressa estimulam a alta velocidade e certo desinteresse pelo entorno, na medida
em que o objetivo dos condutores é o deslocamento mais rápido possível.
De acordo com a escala de análise que se adota e com os tipos de vias presentes no caso
de estudo, nos centraremos na percepção visual a partir das seguintes vias: estradas, auto-
estradas e vias-expressas, e em termos motores, a partir do carro ou do transporte público, que
são as vias e os meios majoritários dos fluxos territoriais e os mais destacados na área.
Deste modo, a determinação dos pontos específicos a partir dos quais são visíveis as
áreas de emergência visual pode aportar dados importantes para futuras intervenções no
território, que tenderiam a potencializar seu valor visual. Neste sentido, são identificadas
as seguintes áreas de emergência visual no caso de estudo:
Relativas ao relevo:
– Morro da Freguesia, visto a partir da via-expressa Linha Amarela.
– Pedra da Panela, vista a partir da via-expressa Linha Amarela.
– Pedra da Gávea, vista a partir da Avenida das Américas.
– Morro do Rangel, visto a partir da Avenida das Américas.
– Pedra de Itaúna, vista a partir da Avenida das Américas.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Relativas ao relevo:
– Morro Dois Irmãos, visto a partir da Estrada dos Bandeirantes, da Avenida Salvador
Allende e da Estrada da Curicica.
– Pedra do Itanhangá, vista a partir da Estrada de Jacarepaguá.
– Morro da Freguesia, visto a partir da Estrada dos Três Rios.
– Pedra da Gávea, vista a partir da Avenida Lúcio Costa.
– Morro do Rangel, visto a partir da Estrada do Pontal.
– Pontal de Senambetiba, visto a partir da Estrada do Pontal e da Avenida Lúcio Costa.
– Morros Cantagalo, Amorim, Portelo e Urubu, vistos a partir da Avenida Salvador
Allende.
– Pedra da Baleia, vista a partir da Avenida Salvador Allende.
73 74
73. Vista do Pontal de Sernambetiba a partir da Av. Lucio Costa (Foto: Autora, 2003).
74. Vista da Pedra da Gávea a partir da Av. das Américas (Foto: Autora, 2003).
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75. Vista do Morro do Rangel a partir da Av. das Américas 75
(Foto: Autora, 2003).
76. Vista a partir da ponte na Av. Ayrton Senna em direção
à Lagoa de Marapendi (Foto: Autora, 2003).
77. Vista a partir da ponte na Av. das Américas em direção
à Lagoa da Tijuca (Foto: Autora, 2003).
78. Vista a partir da ponte na Av. das Américas em direção
ao Canal de Sernambetiba (Foto: Autora, 2003).
79. Vista dos Morros Cantagalo e Amorim a partir da Av.
Salvador Allende (Foto: Autora, 2003).
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Fundos cênicos
Os fundos cênicos correspondem às visadas mais amplas da paisagem permitidas
pelos espaços livres, que podem ser: vistas parciais, que abarcam uma parte mais limitada
da paisagem, e vistas panorâmicas, que podem ser contempladas a partir de pontos com
cota mais elevada e oferecem visadas mais gerais.
Os fundos cênicos melhor avaliados possibilitam reconhecer os traçados mais carac-
terísticos dos espaços livres junto com seu entorno. Nestas vistas, os elementos cênicos
conformam panoramas que combinam contrastes entre a topografia, a água e a vegeta-
ção, percebidos em conjunto.
As vistas parciais recortam a paisagem e explicitam a conformação morfológica local e
suas peculiaridades. Entre as vistas parciais mais significativas no caso de estudo estão as
percebidas a partir da Avenida das Américas e da Avenida Lúcio Costa, localizada na frente
marítima, a partir das quais é possível abarcar grande parte dos elementos cênicos mais
singulares da área, e o resultado de suas combinações formais, como atributos de grande
qualidade visual. Pela proximidade entre observador e paisagem observada, estas visadas
evidenciam também elementos de conflito visual nos espaços livres; como exemplo no caso
de estudo, cita-se a presença de favelas nas margens de alguns cursos de água.
As vistas panorâmicas oferecem visuais mais amplas da paisagem, abarcando em al-
guns pontos quase a totalidade da unidade territorial. As vistas panorâmicas transformam
a paisagem em espetáculo, e os contrastes, as diversidades e as variações entre as formas
alcançam seu clímax, o que denota sua qualidade visual.
Neste marco, algumas estradas que passam pelos maciços e os morros permitem,
pelas grandes diferenças de cota entre maciço e planície, a abertura de amplas visadas
com grande qualidade visual. Podem ser destacados os seguintes pontos:
152
Vistas Panorâmicas:
80. A partir da Av. Estado da Guanabara, em direção à praia da Barra da Tijuca (Foto: Autora, 2003).
81. A partir da Pedra da Gávea, em direção à Baixada de Jacarepaguá (Foto: Autora, 2003).
82. A partir do Morro da Freguesia, em direção à Baixada de Jacarepaguá (Foto: Autora, 2003).
83. Vista Parcial (Foto: Autora, 2003).
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• No Morro da Capela de Nossa Senhora de Montserrat, com vista em direção aos Cam-
pos de Sernambetiba.
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154
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
Marcos históricos
Em muitos casos, estes espaços livres comportam elementos edificados que estão visu-
almente incorporados a eles, como parte deles, e, conseqüentemente, formam parte de seu
significado, como, por exemplo, o Cristo Redentor e o Corcovado, no Rio de Janeiro, e a Acró-
pole e a colina, em Atenas (McHarg, 1969). Em alguns destes casos, a presença edificada
costuma ser um dos principais motivos pelo qual determinado espaço livre permanece como
tal, sem sofrer transformações físicas substanciais. No caso de estudo, a identificação de tais
marcos coincide com bens patrimoniais já considerados pelo setor público, entre eles:
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
86 Marcos históricos:
86. Morro da Freguesia com a Igreja Nossa
Senhora da Pena (Foto: Autora, 2003).
87 e 88. Colônia Juliano Moreira
(Foto: Autora, 2003).
89. Morro da Capela Nossa Senhora
de Montserrat (Foto: Autora, 2003).
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Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
• A Fazenda da Taquara.
• Elementos cênicos. No que toca ao relevo, são consideradas as serras dos maciços,
os grandes afloramentos rochosos dos picos e das colinas das planícies. Relativo à hidro-
grafia são considerados o mar, as lagoas da Tijuca, de Jacarepaguá, de Marapendi e a
Lagoinha e os canais lagunares da Joatinga, de Sernambetiba, de Marapendi e das Taxas.
Quanto às comunidades vegetais, são consideradas as grandes massas florestais, os frag-
mentos de florestas nos Campos de Sernambetiba, os mangues, as restingas ao redor das
lagoas e os jardins do Itanhangá Golfe Clube.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
5C > Acessibilidade
160
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
situações, as atividades podem ser incompatíveis com os atributos dos espaços livres, se-
jam perceptivos, biofísicos, ou outros. Por isso, o grau de acessibilidade dos espaços livres
pode servir como parâmetro de medição para futuras limitações aos possíveis usos.
Para medir o grau de acessibilidade dos espaços livres a partir das vias que os mar-
geiam são analisados certas variáveis, entre elas:
• O tipo de via. Faz referência à escala da via, ao alcance de suas conexões, ao tipo de
seção e a sua capacidade de suporte de fluxo de veículos.
• A velocidade de tráfego permitida nas vias. É uma variável que determina o tempo dis-
pendido para chegar a um espaço livre determinado.
• O alcance territorial das conexões. Mostra a extensão viária que pode ser percorrida a
partir das vias-expressas até às ruas do entorno, e desde aí até os espaços livres e, conse-
qüentemente, a quantidade de pessoas e lugares que podem ser conectados.
• As variações no relevo. Faz referência à facilidade dos deslocamentos nos relevos planos
e ao aumento da dificuldade quando estes se tornam acidentados.
Por estes critérios, a acessibilidade dos espaços livres é variável e apresenta distintas
características de acordo com as vias existentes:
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• Relativo às superfícies que margeiam as ruas principais. As ruas principais dos bairros são,
geralmente, bem conectadas à rede viária principal e secundária, admitem velocidades médias
e baixas e sua capacidade de tráfego é média, permitindo o acesso a partir de suas margens.
• Relativo às superfícies que margeiam a rede geral de ruas. A rede geral de ruas oferece distin-
tos graus de acessibilidade, embora, hierarquicamente, estes estejam abaixo das possibilidades
de acesso, de velocidade e de capacidade de tráfego, que possuem as ruas principais.
164
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
Macrozonas
• Macrozonas urbanas.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• Áreas agrícolas. São áreas delimitadas com a intenção de manter a atividade agropecu-
ária e compreendem áreas com vocação agrícola e outras inadequadas à ocupação urba-
na, recuperáveis para o uso agrícola ou indispensáveis para a manutenção do equilíbrio
biofísico. Por outro lado, as áreas agrícolas podem servir para usos residenciais com baixa
densidade, atividades comerciais e serviços complementares ao uso agrícola e residencial,
agroindústrias e atividades turísticas, recreativas e culturais.
• A áreas com condições adversas à ocupação e/ou inadequadas à urbanização. São áreas
sujeitas a inundações, deslizamentos e/ou desmoronamentos ou outras alterações que
podem afetar sua estabilidade. Para a ocupação destas áreas são exigidos estudos prévios
e obras técnicas, que condicionarão sua viabilidade.
• As áreas de proteção ambiental. São áreas que, na maioria dos casos, não devem ser
ocupadas. Mas, em algumas situações, podem ser compatíveis com usos residenciais,
agrícolas, de lazer ou de investigação, sempre que assegurada sua proteção e mediante
autorização prévia.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Superfícies protegidas
As superfícies protegidas incluem todas as superfícies livres submetidas a uma medi-
da legal de proibição da ocupação urbana. Pode ocorrer, em alguns casos, a superposição
de vários instrumentos de proteção em um mesmo âmbito espacial. Entre as superfícies
protegidas pelo plano se encontram:
• As unidades de conservação ambiental47 (ver Anexo 3). São áreas protegidas com
limites estritos, que se encontram sob um regime especial de gestão. Estas podem ser:
• As áreas não edificáveis. A zonificação urbana denomina áreas não edificáveis a cer-
tas porções do território, previamente definidas, que devem permanecer livres de ocupa-
ção. Também incluem as cessões obrigatórias de terra para possíveis ocupações urbanas
destinadas a espaços livres públicos.
Neste sentido, além da normativa específica do município, a Lei Federal Nº 6.766 (19
de dezembro de 1979) define as regras sobre o loteamento do solo urbano, onde fica proi-
bido o loteamento em, por exemplo, terrenos inundáveis, terrenos com inclinação igual ou
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169
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
superior a 30%, lotes onde as condições geológicas não aconselham a ocupação, áreas
de preservação ecológica, etc. Além disso, esta lei define as porcentagens relacionadas
com a densidade de ocupação prevista e com as cessões de solo para o setor público,
referentes à rede de circulação, à implantação de equipamentos urbanos e comunitários
e aos espaços livres de uso público.
De fato, se verifica que nem todas as figuras de proteção possuem a mesma especifici-
dade com respeito à delimitação física da área protegida, o que resulta em variações quanto
à especificidade da normativa sobre o âmbito concreto dos espaços livres. As unidades de
conservação ambiental e as áreas não edificáveis, previamente definidas, possuem sua deli-
mitação física bem estabelecida. Ao contrário, as áreas de proteção permanente e as zonas
especiais 1 são atribuições mais genéricas sem uma delimitação espacial específica.
Superfícies edificáveis
Em geral, as considerações relativas à ocupação do solo no caso de estudo levam em
conta o desenvolvimento das áreas que já possuem infra-estruturas, o que se constata
em Jacarepaguá, principalmente, e nos bairros do Pechincha, Freguesia, Taquara, Tanque
e Praça Seca.
A normativa prevê a consolidação das áreas destinadas ao uso industrial, que ocupariam
o centro da planície de Jacarepaguá e a margem sul da Estrada dos Bandeirantes. Por outra
parte, promove o incentivo ao desenvolvimento das atividades turísticas, desportivas e cultu-
rais, especialmente ao redor das lagoas da Tijuca e de Jacarepaguá e ao longo da praia.
A previsão de equipamentos se concentra em pontos específicos, também próximos
às lagoas da Tijuca e de Jacarepaguá. Ao contrário, as previsões de residências são mais
amplas e se distribuem por toda a planície. Estas se misturam com os usos comerciais em
algumas partes mais próximas ao mar e ao redor da Lagoa de Jacarepaguá, nas margens
da Estrada dos Bandeirantes e na planície de Jacarepaguá. Ao redor da Estrada dos Ban-
deirantes, próximo à margem sul do Maciço da Pedra Branca, também podem associar-se
a indústrias. O uso comercial é priorizado ao redor das vias com maior movimento, como
a Avenida das Américas e a Estrada dos Bandeirantes.
Neste contexto, se verifica que, além das áreas que já estão protegidas, sendo áreas
que não podem ser ocupadas, todo o espaço livre que permanece é susceptível à ocupa-
ção urbana (ver Anexo 3).
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
A síntese das análises anteriores oferece um panorama geral dos atributos conside-
rados e da forma como eles qualificam as peças de espaços livres, o que permite uma
primeira interpretação das superfícies mais adequadas à ordenação do sistema e reúne
indicações para a intervenção no território. Neste contexto, identificam-se alguns espaços
de oportunidade projetual, ressaltando suas principais características e as situações espa-
ciais que estabelecem entre eles e com o entorno. Em ordem decrescente com respeito à
174
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
Espaços âncora
Os espaços âncora são aqueles que obtiveram avaliações finais alta e média-alta com
respeito aos atributos biofísicos e que possuem uma notável significação visual, embora
possam apresentar distintos graus de acessibilidade. Por suas características, constituem
espaços-chave do sistema, que tenderiam a ser preservados frente à ocupação urbana.
Neste contexto, cabe ressaltar que os espaços âncora mais acessíveis merecem uma
maior atenção quando se trata de ordenar o sistema segundo a propensão que apresen-
tam à exploração e/ou ocupação urbana.
Eles possuem heterogeneidades que lhes conferem características especiais quanto
a seus atributos. As altas qualificações biofísicas e perceptivas compaginadas tendem a
caracterizar distintos espaços: entre eles, aqueles com uma feição claramente ecológica
ou reconhecidamente visual e aqueles onde se mesclam ambas as características. Na re-
alidade, pela coincidência entre as comunidades vegetais mais preservadas e sua grande
significação visual, a maioria dos espaços âncora possui fortes características ecológicas
e visuais conjuntamente. Entretanto, alguns espaços que não possuem um valor biofísico
notável também podem ser de grande significação visual, como alguns marcos históricos
identificados. Por outra parte, alguns espaços de alto valor biofísico não possuem uma
alta significação visual, por exemplo, os brejos.
A observação dos espaços âncora revela que, pela extensão que ocupam, sua presen-
ça é expressiva no caso de estudo. Algumas de suas referências importantes são os cursos
de água e as respectivas margens, as superfícies florestais e as restingas.
175
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Espaços referência
Os espaços referência são aqueles que obtiveram uma avaliação final média e média-baixa
com relação aos atributos do suporte biofísico, cuja significação visual não é notável, embora
possam apresentar distintos graus de acessibilidade. Isto indica que são espaços que possuem
a cobertura vegetal menos preservada, ou que estão sem vegetação, sendo medianas ou bai-
xas as possibilidades de sofrerem risco de inundação, deslizamento ou desmoronamento.
Por suas características eles podem desempenhar distintas funções no sistema, desde
a proteção até a ocupação; uma vez que se verifique a conveniência de uma ou outra
opção, segundo as relações que se estabeleçam nestas peças e entre estas e seu entorno,
seja livre ou ocupado. Por isso, os espaços referência que possuem alta acessibilidade po-
dem apresentar-se como espaços muito vulneráveis à ocupação urbana e/ou à exploração,
o que exigiria diretrizes claras relativas a seu desenvolvimento futuro.
Estes espaços ocupam a maior parte das terras da planície e se caracterizam, princi-
palmente, pelos campos antrópicos, a vegetação nas áreas inundáveis, os cultivos e os jar-
dins. Nas encostas estão representados pelas áreas com vegetação florestal degradada.
Continuidades
As continuidades, sobretudo dos espaços âncora, podem favorecer a manutenção e
o desenvolvimento dos elementos e processos naturais e possíveis conexões perceptivas.
Ao mesmo tempo, são lugares que, pela ameaça que representa a ocupação urbana,
mantêm sua condição de continuidade sob o risco constante de desaparecer e merece-
riam proteção. Entretanto, justamente por seu caráter contínuo, são espaços que, além de
contribuir para a qualidade ecológica, poderiam estabelecer uma estreita relação entre
tecidos urbanos e espaços livres.
A observação dos espaços de oportunidade projetual no caso de estudo revela que,
entre os espaços âncora, os cursos de água e suas respectivas margens representam os
elementos de maior continuidade. Ao contrário, as demais áreas compõem, em geral, um
quadro espacial muito fragmentado.
Fronteiras
As fronteiras são os “filtros” mais imediatos dos espaços livres e permitem seu tra-
tamento oportuno, segundo as características de cada peça em particular, a fim de favo-
recer a sustentabilidade entre o sistema e seu entorno. Isto é, são lugares que ressaltam
as questões relativas aos espaços livres em si mesmos (biofísicas, perceptivas, etc.), as
funções sociais que podem desempenhar e a integração física com o entorno ocupado
(Forman, 1995; Pesci, 1999; entre outros).
As fronteiras entre os espaços livres, principalmente aquelas entre espaços altamente
qualificados e os mais degradados, podem representar uma limitação dos processos natu-
rais e uma influência negativa na qualidade visual das peças. Do mesmo modo, a presença
de ocupação ou exploração pouco qualificadas (como ferros velhos, lixões, etc.), próximas
177
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
aos espaços âncora, tende a ser um fator degradante de sua qualidade visual, além de
poder ocasionar outros danos relativos a seus atributos biofísicos. Deste modo, são locais
que requerem atenção quanto às possíveis intervenções para a ordenação do sistema
visando promover sua requalificação. Ao contrário, as fronteiras que se estabelecem entre
espaços livres altamente qualificados são lugares com potencial para serem preservados.
Assim, entre as fronteiras, estão as mais vulneráveis à ocupação urbana e as menos
vulneráveis, segundo as condições físicas que apresentam. Ambas as situações podem
representar oportunidades de intervenção que respeitem os atributos dos espaços livres
e valorizem as melhores condições para seu desenvolvimento, junto a possíveis inter-
relações com seu entorno, como possibilidades de agregar os meios urbano e natural,
marcar suas diferenças e promover sua melhoria.
Entre as mais vulneráveis estão aquelas próximas às infra-estruturas viárias e as que
apresentam uma topografia pouco acidentada, associada a boas condições de solo e
drenagem, favoráveis à ocupação.
No caso de estudo podem ser citadas, principalmente, grande parte das peças no
centro e a oeste da planície, as encostas menos acentuadas dos maciços e a maioria das
peças livres na frente marítima.
Entre as fronteiras menos vulneráveis estão as que não dispõem de infra-estruturas
viárias e as que são pouco adequadas à ocupação, devido ao relevo muito irregular, solos
pouco estáveis e más condições de drenagem, entre outros fatores.
Como exemplo, no âmbito de referência, estaria grande parte das superfícies livres
dos maciços e dos brejos a oeste da planície, entre outros.
Descontinuidades
178
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
179
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• Não favoráveis. Situações nas quais estão previstos instrumentos de proteção qualifi-
cados como médio e baixo ou são peças edificáveis. Mudar esta realidade representa um
grande desafio que exigiria esforços de gestão (embora em determinados casos possa ser
sumamente importante), pois se considera latente a ameaça de ocupação.
A avaliação dos espaços de oportunidade projetual consoante seus atributos poderia
determinar a necessidade de uma maior ou menor proteção segundo cada tipo, mas este
fato pode entrar em conflito com as condições impostas pelo planejamento vigente, que
nem sempre coincidem com os resultados obtidos nesta avaliação.
Em todo caso, pode ocorrer que espaços âncora não tenham uma proteção notável
e, ao contrário, que espaços referência ou alguns dos espaços sem atributos biofísicos e
visuais relevantes se encontrem sob um potente instrumento de proteção.
Algumas áreas em situações favoráveis, segundo a avaliação final dos parâmetros
de proteção, coincidem com os espaços âncora, entre elas: grande parte das superfícies
florestais acima da cota de 100m dos maciços, as áreas dos mangues e grande parte
das restingas, algumas áreas consideradas marcos históricos, algumas áreas dispersas
pela planície, como, por exemplo, o Bosque da Freguesia e o Bosque da Barra, e outras
áreas mais a oeste da planície, que incluem, por exemplo, os Morros Cantagalo, Amorim,
Portelo e Urubu. A coincidência entre as situações favoráveis à proteção e os espaços
âncora reforça a sua alta qualificação, observada anteriormente, e tende a garantir sua
permanência para a ordenação do sistema.
Em outras áreas as situações favoráveis não coincidem com os espaços âncora, entre
elas: uma parte significativa das áreas florestais correspondentes ao Maciço da Tijuca, os
brejos, parte da praia do Recreio dos Bandeirantes e as áreas florestais da Colônia Juliano
Moreira. Este fato ressalta as ameaças de ocupação que pairam sobre estas áreas.
Por outra parte, embora sejam poucas as ocasiões, as situações favoráveis podem
coincidir com os espaços referência e demais espaços livres, o que, levando em conta
somente a questão normativa permitiria pensar na sua consideração para a ordenação do
sistema devido a seu estado de proteção já consolidado. Em geral, isto ocorre quando a
área protegida abarca dimensões maiores relativas ao que realmente interessa proteger
(como é o caso de muitas áreas de proteção ambiental),podendo esta proteção atuar
favoravelmente na preservação do meio.
180
Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
181
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Preservação
Cobertura vegetal
A/M
Risco de inundação e deslizamento
Hidrologia
A/M/B A/MA/M/MB/B
Risco de desmoronamento
Declividade
A/M/B
Aptidão agrícola Não considerada para a avaliação
Edafologia final dos atributos biofísicos.
A/M/B
Elementos cênicos A A
Fundos cênicos A A
Marcos históricos A A
Acessibilidade Acessibilidade
Via-expressa e auto-estrada A
Estradas MA
Ruas principais M
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Análise e avaliação: os atributos dos espaços livres
Parâmetros de proteção
Síntese da avaliação
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Notas
38
O setor público municipal ou estadual não oferece estudos detalhados sobre a fauna e a flora atuais
da região, o que limitou, em muitos sentidos, a análise desejada.
39
Fonte dos dados: Estudo de Impacto Ambiental para o Projeto de Recuperação Ambiental da Macrobacia
de Jacarepaguá. Rio de Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, SMAC, 1998, V.2; Mapeamento digital da
cidade do Rio de Janeiro (esc.:1:2.000). Rio de Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, IPP, 1997.
40
Fonte dos dados: Estudo de Impacto Ambiental para o Projeto de Recuperação Ambiental da Macrobacia
de Jacarepaguá. Rio de Janeiro: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, SMAC, 1998, V.2.
Compreendem os espaços livres que apresentam as comunidades vegetais mais preservadas e que
41
Compreendem os espaços livres que se apresentam como solos expostos, sem vegetação, e que pos-
45
186
6
Ordenação do sistema
de espaços livres:
a reestruturação do território
Neste capítulo final interessa propor algumas estratégias de projeto que permitam
ordenar o sistema de espaços livres, de forma a manter e desenvolver seus atributos e
relacioná-los entre si e com seu entorno, como uma oportunidade para a reestruturação
do território. Deste modo, as estratégias de projeto correspondem a indicações para a
ordenação dos espaços e consistem em:
187
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
A observação das relações funcionais que se estabelecem nos espaços livres pode per-
mitir equilibrar os usos do solo, como um fator de limitação física, caracterizando-se como
indícios de ordenação ao apontar os lugares mais ou menos aptos a serem ocupados, de
acordo com a conservação e o desenvolvimento dos recursos existentes no sistema.
A recomendação de quais peças ocupar e quais não, além dos graus de urbanização
adequados a cada trecho de espaço livre, tem como objetivo proporcionar indicadores de
intervenção no território que se baseiam nas vantagens que pode representar a preservação
188
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
do meio, ao se propor uma atuação mais responsável do que a ocupação aleatória, expan-
siva e especulativa.
Além da possibilidade de preservação dos recursos frente à ocupação urbana, é ine-
gável a importância de sua exploração para a cultura e a vida urbana, por seus valores,
sejam sociais ou econômicos, na agricultura, no turismo, no lazer ou na extração de mate-
riais. Nesta direção, o uso consciente dos recursos representa a compreensão das relações
estreitas existentes entre o homem e o espaço livre, garantindo a sobrevivência de ambos
e uma convivência compatível.
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
água sobre o solo, principalmente se este se encontra em encostas acentuadas. Por isso, a
manutenção das florestas nas encostas pode atuar na prevenção da erosão e da retenção
hídrica, favorecendo, assim, o ciclo da água (Hough, 1995).
Dado que os processos naturais estão encadeados na matriz, os espaços livres te-
riam lógicas funcionais, gerais e superiores que, devido a seu alcance e importância no
desenvolvimento dos fluxos naturais do sistema, podem ser consideradas diretrizes das
possíveis ocupações e atividades futuras em cada peça, com vista ao conjunto de espaços,
na totalidade do sistema.
Isto leva a supor que as lógicas funcionais da matriz biofísica no sistema de espaços
livres podem ser traduzidas em princípios de intervenção urbanística, como parâmetros
para a ordenação do sistema a partir da escala local até a escala geral, que permitiriam
a avaliação das melhores condições para desenvolver a ocupação urbana e as atividades.
Para tanto, devem ser consideradas algumas indicações relativas a possíveis intervenções,
como, por exemplo, em casos de risco explícito de invasões urbanas, promover a proteção
da vegetação mais frágil com barreiras físicas ao crescimento, e limitar a ocupação de
modo que garanta a necessária permeabilização do solo em congruência com os proces-
sos naturais, entre outras possibilidades.
A visibilidade das características físicas mais significativas dos espaços livres pode
ser considerada uma referência para a orientação das atividades e o condicionamento de
possíveis ocupações, que respeitem a integridade física dos espaços como diretriz para a
reestruturação do território.
A permanência das características físicas de uma paisagem com maior significação
perceptiva tende a favorecer a apropriação dos espaços livres pela população como um
fato coletivo. A valorização desta apropriação costuma servir como um instrumento de
conservação ambiental e de validação do pertencimento do lugar à comunidade que o
vivencia cotidianamente (Lynch, 1976; Hough, 1995).
O caráter coletivo do espaço livre não significa, necessariamente, que ele deva ser
público. Sua coletivização se refere ao acesso, físico e/ou visual, independentemente de
190
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
que seja público ou privado, que faculte o estabelecimento de códigos e vivências comuns.
Embora, em alguns espaços livres privados possa ser conveniente sua transformação em
espaços de uso público, caso possuam grande interesse para a coletividade devido a seus
atributos singulares.
Alguns destes espaços, por estarem muito expostos, dada a sua qualidade visual, são
vulneráveis, sobretudo quando têm seus atrativos visuais afetados por uma ocupação
urbana ou exploração; por isso, exigem especial atenção quanto a possíveis intervenções,
que poderiam deteriorar suas estruturas físicas características, seja no seu entorno ou na
sua própria conformação.
A vulnerabilidade visual pode ser medida, principalmente, com relação à vegetação e
às características topográficas da área (orientação e declividade). Isto é, se uma área está
muito exposta, por exemplo, em uma encosta muito acentuada, será mais visível e mais
vulnerável a intervenções que causem dano na percepção do todo. Da mesma maneira,
uma área será mais vulnerável visualmente se possui conformações específicas que não
poderiam ocultar alterações provocadas pelo uso ou pela ocupação, como, por exemplo,
no caso da vegetação de menor porte ou de outra característica que não possa se susten-
tar visualmente mediante uma intervenção (Bolós, 1992).
Entretanto, os possíveis danos à percepção visual dos espaços livres podem corres-
ponder a alterações que afetam desde os elementos cênicos até os fundos cênicos, onde,
na realidade, ambos estão interconectados, sendo os elementos parte fundamental dos
fundos. Nesta medida, as intervenções nas composições visuais dos espaços livres deve-
riam estar atentas às escalas das alterações que possam ser produzidas e a seus respec-
tivos impactos, a fim de atuar na direção oposta à ocorrência de possíveis danos visuais
na paisagem.
As características visuais mais significativas costumam ser lugares propícios às ativi-
dades ou ocupações urbanas dedicadas, por exemplo, à recreação ou ao turismo; segundo
sua formalização, estes usos podem ser contrários à manutenção da qualidade visual des-
tas áreas, afetando-as irreversivelmente, razão pela qual exigem intervenções cuidadosas
e, preferencialmente, qualificadoras. Além disso, podem surgir situações de conflito visual
nos espaços livres diferentes destas, como as pedreiras e as linhas de alta tensão, por
exemplo, as quais merecem um controle efetivo.
191
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
A partir da acessibilidade
192
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
91
92
193
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
ao meio ambiente, como as pedreiras ou o turismo de massas nas áreas mais frágeis,
incluindo a sugestão de recondução das atividades a outras mais adequadas às condições
de cada lugar específico; limitar os pontos de maior fragilidade em contato com o sistema
viário, aqueles mais sujeitos a explorações, delimitando de modo expresso a proliferação
de atividades não desejadas em alguns pontos das vias, que prejudicariam as estruturas
espaciais dos espaços livres; controlar as atividades geradoras de resíduos sólidos ou
outros, e controlar os tipos de acessos aos espaços livres, de acordo com os valores e
possibilidades formais de cada comunidade vegetal.
194
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
“potencialidade” perceptiva de cada peça do sistema e seu enlace visual com o território
de modo geral, em busca de uma congruência entre os valores perceptivos dos espaços
livres e as intervenções urbanas.
As continuidades perceptivas podem se dar de distintas formas. Freqüentemente, es-
tão relacionadas com um tipo de acesso: uma via, um caminho, uma passagem, a água,
uma trilha, etc. Estes atuam como corredores perceptivos e tendem a oferecer uma visão
articulada do lugar, mais que a vivência de informações fragmentadas e descontínuas.
Estas continuidades podem propiciar a formação de uma imagem do lugar a partir da coe-
são perceptiva, o que permite ler a seqüência dos acontecimentos e facilita a identificação
coletiva e pessoal com o lugar (Lynch, 1976; Alexander, 1977; entre outros).
As continuidades perceptivas valorizam a percepção da diversidade dos mosaicos
espaciais existentes no sistema de espaços livres e podem ocorrer pela manutenção das
vistas existentes ou pela criação de acessos dirigidos, principalmente para o desfrute visu-
al, como itinerários que atravessariam as peças visualmente mais qualificadas e possibili-
tariam a integração dos elementos mais destacados.
Para a manutenção destas continuidades é imprescindível determinar as áreas sujei-
tas à intervenção cuidadosa, de acordo com a sua significação visual. Assim, se requer a
orientação espacial da ocupação urbana com o objetivo de possibilitar, entre outras coi-
sas, a reabilitação do patrimônio arquitetônico presente no espaço livre, a maior abertura
possível dos lugares visualmente mais significativos, a criação de novas perspectivas que
valorizem suas estruturas espaciais e não ocultem os traços do relevo mais destacados,
como, por exemplo, os morros e cumes, o que pode significar um cuidado especial com
o skyline das edificações e sua interseção com as vistas; do mesmo modo, deveria ser
evitada a ocupação das frentes de água que tendem a bloquear a visão dos cursos dos
rios e do mar, entre outras conseqüências, para valorizar a percepção visual do sistema de
espaços livres (Zoido, 2002).
196
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
mesma rede que, freqüentemente, pode significar a fragmentação do território e dos es-
paços livres entre si, também pode colocar os espaços livres e construídos em contato,
física e visualmente.
A rede de acessos se compõe de distintos tipos de vias, desde trilhas que margeiam
a água ou que entram na vegetação, caminhos rurais, a própria água e as infra-estruturas
viárias, entre outras alternativas.
No contexto dos territórios urbanos, os acessos, em suas diversas escalas, são os ele-
mentos que mais revelam a continuidade entre os espaços livres territoriais e os espaços
livres urbanos e, especificamente, os espaços livres públicos tradicionais, cuja malha final
determina o percurso pelo sistema e inter-relaciona as partes pertencentes aos diferentes
níveis, tornando visíveis os processos naturais e urbanos e permitindo a realização de
percursos que explorem o território (Lynch, 1976).
93
94 95
Exemplo de intervenção ilustrativa de princípios de projeto baseados em relações espaciais a partir da rede de acessos:
93 a 95. Generación del istmo de la Lanzada, Pontevedra, Espanha, 1994. Exemplo de proposta de uma rede de caminhos que cria percursos
que penetram no espaço natural (F.: Acervo Arqto. Fernando Agrasar).
197
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
São percursos que podem ressaltar os recursos que comportam os espaços livres e os
tecidos urbanos, como, por exemplo, os atributos biofísicos e os atributos perceptivos dos
espaços não ocupados, o patrimônio edificado, os equipamentos coletivos mais significa-
tivos, as centralidades, etc., presentes nas ocupações. Nos casos em que os espaços livres
funcionam como separadores entre as ocupações urbanas, provocando seu isolamento,
estas continuidades podem significar a transposição destas barreiras e a oportunidade de
uma maior integração entre as ocupações e entre estas e os espaços intermediários.
A rede de acessos denota uma possível conciliação entre os espaços livres territoriais,
que freqüentemente se encontram isolados ou abandonados, e os espaços livres urbanos;
pode, inclusive, ser um argumento para intervenções urbanísticas mais gerais, que não
estão centradas somente na recuperação dos acessos da rede local, mas também levam
em conta a extensão da rede no território, entre espaços ocupados e não ocupados, sem
esquecer a avaliação da capacidade dos espaços para suportar o aumento de sua acessi-
bilidade, segundo o tipo de via e a capacidade de fluxo de veículos e pessoas.
Portanto, convém definir a hierarquia das vias, propor a criação de percursos que
penetrem no espaço natural conectando a rede de caminhos rurais com um caráter lúdico
e cívico e a recuperação dos cursos dos rios de modo que comportem, em suas margens,
caminhos para pedestres, para bicicletas, cavalos, etc., entre outras possibilidades. Por
outro lado, se ressalta a importância de fomentar uma boa rede de transporte público, que
promoveria uma maior interação entre os tecidos urbanos e os espaços livres.
Relações sinérgicas:
a sutura entre espaços livres e ocupados
As relações sinérgicas supõem a sutura entre o sistema e seu entorno, mais que a
adaptação ou o respeito mútuo entre espaços livres e ocupados. Na sutura é onde ambos
se entrelaçam e onde podem existir outras formalizações do espaço livre distintas dos
parques e reservas tradicionais, originando um acordo de mão dupla entre espaço livre e
ocupado. Isto é, trata-se de situações nas quais o espaço livre seria capaz de aceitar uma
possível ocupação urbana e, ao contrário, a ocupação urbana garantiria algumas condi-
ções “vitais” dos espaços livres, e ambos se autocomplementariam (Hough, 1995; Batlle,
2002; Pesci, 2003, entre outros).
198
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
Deste modo, incluir a sutura entre as áreas não ocupadas e os tecidos urbanos tende
a conformar estruturas complexas, que permitem misturar instâncias formais e usos que
garantiriam a sustentabilidade do meio, conformando o que pode ser identificado como
espaços de sinergia, aproximando tecido urbano e espaço livre ao criar outras referências
para a estruturação do território. A sutura permite pensar em lugares que reuniriam as di-
versidades, no encontro entre as partes, na transição entre a ocupação e os espaços livres,
que significaria não agir apenas com vistas a soluções ecológica ou visualmente corretas,
mas também poderia representar outra maneira de ver, construir e interpretar o território
e implementar intervenções nos espaços livres e ocupados.
As naturezas urbanas
199
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Além disso, o uso otimizado dos recursos também pode significar boas condições de
manutenção e gestão dos espaços livres, com vantagens para os investimentos públicos e
privados, e uma maneira de controlar a ocupação do território (Hough, 1995).
Entretanto, alcançar este objetivo exigiria algumas medidas fundamentais, como, por
exemplo, definir as atividades compatíveis com cada espaço livre e sua respectiva delimi-
tação espacial; delimitar os lugares destinados à proteção integral ou que podem possuir
um padrão mais variável entre o natural, o recreativo, o rural ou o urbano; limitar as áreas
propícias para a instalação de equipamentos comunitários e áreas de uso público, e criar
infra-estruturas de suporte para atividades turísticas e de lazer compatíveis com o lugar, a
atividade e a quantidade de pessoas previstas para seu desfrute.
Paralelamente, as naturezas urbanas podem estar envolvidas nas dinâmicas urbanas,
ao redor das quais se desenvolvem a urbanização e várias de suas principais funções;
como exemplo podem ser citados os rios, que constituem o eixo central de alguns centros
urbanos e estabelecem as relações entre seus tecidos.
Em determinadas circunstâncias, recuperar tais naturezas, numa ação aliada à rees-
truturação do território, pode ser o início de um processo de reconversão de uma área
natural e uma área urbana ao mesmo tempo, onde a possibilidade de estabelecer novas
relações espaciais e funcionais pode criar sinergias que tenderiam ao uso sustentável e a
destacar a interseção entre a natureza e a ocupação urbana.
Os cenários recriados
200
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
com outras atividades, complementares às dos tecidos urbanos do entorno. São oportunida-
des para, entre outros aspectos, requalificar visualmente os campos agrícolas degradados e
potencializar interesses que possam existir, inclusive o turismo (Hough, 1995).
Neste contexto, frente à possibilidade de reconversão das agriculturas obsoletas, e conside-
rando que freqüentemente elas ocupam solos destinados à expansão urbana, principalmente
se a produtividade não se sustenta, se enfatiza a real necessidade de promover o crescimento
da cidade e a importância da permanência destas áreas para a ordenação do entorno, sem
falar de possíveis significados para a gente do lugar, nas suas tradições e práticas coletivas.
Por outro lado, os cenários recriados podem corresponder a intervenções totalmente re-
generadoras, ao atuarem sobre lugares muito degradados, em geral, marginais ou voltados
para usos pouco qualificadores, como é o caso dos lixões ou pedreiras. Estes lugares podem
constituir uma oferta de espaços livres públicos em áreas periféricas e gerar atrativos que,
em algumas situações, poderiam vir acompanhados de intenções de reforma urbana.
Os cenários recriados também podem possibilitar a criação de jardins em áreas residu-
ais, que sobraram na ocupação urbana, como, por exemplo, os terrenos dos grandes equi-
pamentos ou indústrias. Estes jardins podem combinar os elementos naturais das peças
com a agricultura em pequena escala, intervenções artísticas e funcionais e possibilidades
de lazer, que, além de requalificar visualmente os espaços em si mesmos oferecendo-os à
comunidade, poderiam ser associados a intervenções de renovação urbana em áreas com
uma ocupação em desuso (Hough, 1995).
As infra-estruturas paisagísticas
201
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
202
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
96 97
98 99
Exemplo de intervenção ilustrativa de princípios de projeto baseados em relações sinérgicas a partir dos cenários recriados:
96 a 99. Parc agrari del Baix Llobregat, Barcelona, Espanha, 1999. Exemplo de ordenação de área agrícola com a manutenção da atividade
agrária e a introdução de novos parâmetros de ordenação com repercussões em sua qualidade visual e biofísica e nas relações que estabelece
com seu entorno urbano (F.: Acervo Arqto. Joaquín Sabaté).
203
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Princípios de projeto
RELAÇÕES
Funcionais Espaciais Sinérgicas
REFERÊNCIAS
Manutenção dos proces- Manutenção das conti- Criação de naturezas
sos naturais nos espaços nuidades biofísicas. urbanas.
livres.
204
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
proteção acústica ou outros espaços ermos provenientes das vias, como espaços livres
potenciais a integrar o sistema (Lynch, 1966; Hough, 1995; entre outros).
A determinação das ações de projeto requer a prévia identificação dos espaços livres
sobre os quais atuar para a ordenação do sistema e a respectiva caracterização de seu
potencial estruturador. Para tanto, se observam os espaços já protegidos pelo planejamen-
to e os que não estão sob a sua égide e que sofrem a pressão da ocupação urbana. Com
este propósito, se desenvolve o seguinte processo:
Cabe advertir que as ações que se apresentam não correspondem a todas as ações pos-
síveis sobre os espaços livres, e sim constituem algumas modalidades, as mais importantes,
de incidir na ordenação do sistema e nas relações entre espaços livres e ocupados.
Neste marco, as ações de projeto podem ser resumidas em: acrescentar, demarcar,
conectar, adequar, articular e enlaçar. Algumas peças, apesar de apresentar uma maior
205
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
tendência em direção a uma ou outra ação, podem admitir mais de uma modalidade de
atuação, embora aqui se apontará a principal.
Acrescentar
206
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
preservadas e as ocupações urbanas do entorno, seja como espaços de controle de tais ocupa-
ções. Neste sentido, estes papéis, como espaços de sinergia ou de controle, podem ir juntos.
No que concerne à combinação de espaços naturais protegidos e ocupações urbanas,
como uma oportunidade de relação entre ambos os meios e de estruturação do entorno,
podem ser citadas algumas ordenações recentes para os parques regionais franceses. Estes
parques são considerados lugares adequados para a reconciliação entre meio urbano e
natural, segundo diretrizes que propõem, entre outras coisas, o desenvolvimento de agri-
culturas em suas margens, que colaboram na marcação de seus limites; e a referência do
parque, com seus recursos e fragilidades, como base para o incremento de possíveis novas
ocupações. Ao mesmo tempo, incentivam a participação da população dos tecidos urbanos
localizados dentro dos limites do parque e em seus arredores em programas de conservação
e na oferta de serviços e atividades diretamente relacionadas com a natureza, o que con-
tribui para sua manutenção50. Deste modo, se estabelecem alguns critérios que permitem a
proteção dos espaços livres e sua consolidação como referência da estrutura urbana.
100
207
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Como exemplo das possíveis peças a acrescentar, no caso estudado, estão as superfí-
cies contíguas aos grandes parques florestais da Tijuca e da Pedra Branca e parte da praia
do Recreio dos Bandeirantes.
Na realidade, as margens dos maciços têm, sobretudo, uma função clara como área
de “pré-parque”, que está envolvida com seus entornos, ocupados e explorados, e que
pode ser objeto de intervenções intencionadas para manter os atributos biofísicos e per-
ceptivos do lugar, o que, em alguns casos, pode impossibilitar qualquer uso.
Especificamente, em se tratando das áreas florestais com favelas próximas, as áreas
protegidas teriam um papel importante, cujo tratamento como espaços de sinergia e de
controle pode resultar em lugares capazes de qualificar a ocupação com equipamentos
para o lazer e a educação, por exemplo, e, ao mesmo tempo, frear seu desenvolvimento.
Nos espaços menores, as áreas a acrescentar podem ser áreas naturais relacionadas
com os espaços livres públicos urbanos do entorno, e constituem uma boa oportunidade
para realizar atividades ambientais com a comunidade.
Demarcar
Demarcar como ação de projeto significa colocar limite onde não existe um limite
estabelecido e, além disso, onde não existem referências de espaços protegidos ao redor.
De modo geral, demarcar indica a ação de proteção sobre os espaços âncora ainda
não considerados pelo planejamento com instrumentos de proteção mais específicos.
Tais como os espaços a acrescentar, os espaços a demarcar também tendem a atuar
a favor da continuidade biofísica e da preservação dos atributos perceptivos, incluindo
seus entornos.
Em geral, os espaços a demarcar são espaços problemáticos quanto à possibilidade
de ocupação e ainda não receberam a devida atenção quanto ao tratamento que devem
ter, relativo a possíveis diretrizes de intervenção. Portanto, eles podem cumprir os mesmos
papéis que os espaços a acrescentar e, como estes, estão sujeitos a distintas ações relati-
vas à intervenção urbanística, segundo suas escalas, recursos e vulnerabilidades, e podem
desempenhar as funções de espaços de sinergia e de controle entre as áreas que deveriam
ser protegidas e as ocupações, operando como possíveis estruturadores urbanos.
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Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
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ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Nos casos específicos relacionados com a água que deve ser protegida e que pode
atuar como eixo de estruturação urbana, um exemplo interessante é o tratamento dis-
pensado aos leitos dos rios e suas margens na zona de Denver (Colorado, EUA). Por lei
deve ser definido um corredor ao longo dos fluxos de água, que não pode ser ocupado e
que deve ser ordenado e controlado pelas prefeituras, a fim de mantê-los e evitar riscos
de inundação de zonas vizinhas. Para tanto, as áreas a serem protegidas deveriam ser
definidas antes da ocupação de seus entornos e mantidas como espaços livres destinados
à valorização de seus atributos naturais e visuais e à opções de lazer.
Para alcançar estes objetivos, a ordenação do Horseshoe Park (1986)51, em uma
zona de brejos, canais e rios, sugere a potencialização das conexões entre os leitos
fluviais em congruência com os brejos. Na proposta sugerida foram substituídas as tra-
dicionais estruturas de concreto que canalizavam os rios por soluções mais flexíveis,
utilizando plantas e desníveis nos leitos e nas margens, e foram criados espaços mais
adaptáveis ao lazer, à implementação de caminhos junto à água, à manutenção dos
habitats naturais, à estabilidade das margens e ao controle das inundações. Deste modo,
se pode consolidar o espaço fluvial e conceder-lhe força estruturadora diante de uma
possível ocupação urbana.
Na realidade, isto demonstra a necessidade de consolidação dos espaços protegidos
e a proteger, mediante uma ordenação eficaz, porque, quando relegados ao azar, tendem
a converter-se em áreas propícias às ocupações ilegais.
São exemplos de espaços a demarcar no caso de estudo, os brejos, distribuídos na
parte oeste da planície, e a maioria das margens das águas e áreas críticas aos riscos,
sobretudo, de inundação e deslizamento, presentes em distintas zonas.
Conectar
A ação conectar representa a possibilidade de unir, em termos biofísicos e percep-
tivos, espaços já protegidos e acrescentados aos espaços a demarcar, através de uma
superfície contínua.
Neste sentido, conectar quer dizer atuar nos espaços referência e nos demais espaços
livres a fim de estabelecer ligações entre as peças do sistema.
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Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
211
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Ordenação da frente litoral da Albufera (F.: Acervo Arqto. Alfredo Fernández de la Reguera):
104. Vista aérea de parte da área.
105. Detalhe das dunas.
106. Detalhe da área de estacionamento.
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212
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
elementos da ocupação urbana e sua substituição por dunas estabilizadas, mediante a in-
trodução da vegetação autóctone. A passagem através da restinga foi controlada, devido à
vulnerabilidade do sistema, com a criação de zonas de piquenique entre as dunas e equipa-
mentos concentrados em pontos específicos, que permitem a conexão dunas-praia de modo
fluído e o controle das atividades. O conjunto se completa com a recuperação de lagos no
meio da vegetação, que limitam à penetração no bosque. Deste modo, se conquistam as
conexões desejadas e se estabelecem as regras da relação com o entorno.
No caso de estudo, as principais oportunidades de espaços conectores estariam nas
áreas inundáveis com vegetação (que ocupam grande parte dos espaços livres da planí-
cie) e se relacionam diretamente com espaços descontínuos com importantes atributos
biofísicos e perceptivos.
Adequar
Adequar os espaços livres significa adaptar as suas condições a favor da integridade e da
diversidade de seus atributos biofísicos e perceptivos diante de possíveis ocupações urbanas.
Os espaços a adequar estão representados por espaços referência e demais espaços
livres. Considera-se que, devido a suas peculiaridades, com respeito aos atributos percep-
tivos e do suporte biofísico, estes espaços seriam peças susceptíveis de suportar certo grau
de ocupação urbana.
Entretanto, algumas limitações podem ser necessárias de acordo com a vulnerabili-
dade dos espaços livres à ocupação. Deste modo, estas limitações podem ser argumento
não apenas para inserir as características dos espaços livres nas ocupações, como também
para estruturá-las.
De modo geral, as limitações à ocupação urbana responderiam, além da consideração
das continuidades e dos valores biofísicos e relativos à preservação da qualidade visual
do lugar, à boa acessibilidade e a algumas peculiariadades dos assentamentos, que estão,
direta ou indiretamente, relacionadas com os espaços livres.
Por uma parte, relativo à acessibilidade, se esta é boa, a partir das vias atuais, pode
propiciar a ocupação cuidadosa que utilize as qualidades biofísicas e perceptivas como
guias da ordenação e pode representar uma boa alternativa para a programação de novos
213
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
usos do solo. Com relação à acessibilidade prevista, a adequada ocupação do solo exigi-
ria maiores detalhes e estudos, pois pode ser conveniente pensar em resolver questões
relativas à necessidade de criar assentamentos sem construir mais vias. Entretanto, se a
acessibilidade é ruim, a ocupação não seria aconselhável, entre outros fatores, pela au-
sência de vias, o que poderia implicar na criação de mais infra-estruturas, expondo mais
solo livre à possível ocupação.
Por outra parte, em relação a algumas características que já apresentam os assen-
tamentos atuais, os espaços a adequar para a ocupação urbana deveriam responder a
outros critérios com vistas a beneficiar a consolidação do sistema, como, por exemplo, a
observação das centralidades atuais e a possibilidade de concretizar a ocupação ao redor
destes centros sem promover mais dispersões, e a conveniência que pode representar a
existência prévia de equipamentos, serviços, etc., o que facilitaria novos crescimentos.
Cabe ressaltar a importância, no controle da expansão urbana e na transição entre
esta e as áreas naturais, da preservação de certos usos presentes nas peças a adequar,
como, por exemplo, cultivos produtivos e jardins qualificados ou, inclusive, a recupera-
ção ou estabelecimento de outros usos, como a conversão de lixões ou antigas pedrei-
ras em parques.
Com relação à construção de novas ocupações, os espaços a adequar supõem a
delimitação clara das áreas que podem suportar a ocupação, explicitando as condições
oportunas para sua formalização e, se possível, a inserção dos elementos dos espaços
livres na futura ordenação urbana. Entretanto, a definição de que espaços podem ou não
ser ocupados, ao fim e ao cabo, responde mais a estudos de demanda da necessidade
de crescimento urbano, embora isto não exclua a observação da capacidade de suporte
destes espaços segundo seus atributos.
Um exemplo da tentativa de propor a compaginação do espaço livre com a ocupação,
respeitando os atributos destes espaços e utilizando-os como estruturadores urbanos,
é a ordenação da região de Ørestad (Copenhague, Dinamarca, 1994)53. Sem entrar em
detalhes sobre as polêmicas que rondam o projeto, ao envolver uma possível reserva
natural, e com foco na solução urbana proposta, pode-se dizer que esta procura a união
entre natureza e ocupação, a fim de integrar ambas dentro das indicações contidas no
Copenhagen Finger Plan (1947).
214
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215
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Na região de Ørestad a nova ocupação urbana foi concebida com o objetivo de pre-
servar as áreas úmidas existentes integrando-as aos novos acessos e assentamentos,
mantendo as continuidades da água e entrelaçando-as às funções urbanas. Criou-se, des-
ta maneira, um grande eixo vertical cujo protagonista é a água, que circunda os espaços
sob distintas formas e escalas, desde os grandes mangues até lagos, canais e lagoas. A
água funciona como um lugar de percurso e circulação, ao mesmo tempo em que rela-
ciona os espaços ocupados e cria espaços livres públicos e canais de mobilidade. O canal
mais externo coincide com a criação da via que conecta a parte nova à já ocupada, junto
com ciclovias, em cujo subsolo estaria prevista a instalação de uma nova linha férrea. A
ordenação da área propôs aumentar a densidade edificada em altura para liberar mais
solo e tentar propor espaços livres como “dedos” entre a ocupação que, além de pre-
servar a natureza e relacionar as áreas ocupadas, constituiriam uma área de lazer para
a comunidade. Deste modo, se preservariam os atributos essenciais dos espaços livres e
estes seriam utilizados como elementos de estruturação urbana.
Alguns exemplos de áreas a adequar no caso de estudo são as que possuem florestas
degradadas, pedreiras, vegetação em áreas inundáveis, pastos, áreas de cultivo e jardins.
São áreas que podem aceitar certo grau de ocupação, ao mesmo tempo em que poderiam
contribuir para a manutenção de importantes funções do sistema.
Articular
A ação articular representa a possibilidade de atuar nos espaços livres que relaciona-
riam tecidos urbanos sem interação entre si, ou que seriam pontos de articulação dentro
dos próprios tecidos, juntando partes destes, o que pode ser um fato muito importante,
sobretudo em contextos urbanos fragmentados.
Portanto, articular corresponde à ação sobre as peças que, independentemente da
qualificação de seus atributos, se localizam nos tecidos urbanos existentes, ou entre eles,
e, em geral, podem comportar certa vitalidade e dispõem de uma boa acessibilidade.
Neste sentido, os espaços articuladores podem reunir espaços âncora, espaços referência
ou os demais espaços livres e, inclusive, espaços já protegidos que se encaixariam no perfil
descrito. Portanto, estes espaços podem apresentar distintos atributos e perfis, mais ecológicos
216
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
ou visuais, passando pelos de interesse histórico; além disso, os espaços sem atributos notáveis,
que podem ser lugares potenciais de atuação, poderiam significar a reconversão do quadro de
degeneração que apresentam a favor de sua qualificação espacial e funcional.
Em geral, estes espaços reuniriam lugares propícios para o incentivo da urbanidade,
que permitiriam promover a convivência coletiva, o reconhecimento visual do lugar e a
aproximação da natureza aos cidadãos, e podem ser peças importantes no âmbito local
ou, segundo suas dimensões, promover o interesse na escala da unidade ou superior.
Os espaços articuladores também podem atuar para a melhoria e controle da ex-
pansão dos tecidos urbanos, como limites à ocupação urbana e como oportunidades de
equipá-los, de fomentar atividades coletivas, de designar espaços para hortas comunitá-
rias, para câmaras comunitárias, para festas populares, etc. Podem trazer um equilíbrio
às densidades edificadas e a restauração de alguns espaços atuais degradados, e sua
conversão em lugares de convivência.
Como exemplo de articulação pode ser citada a ordenação do Parque da Juventude
em São Paulo (São Paulo, Brasil, 2003)54. O terreno do parque (240.000 m²), a princípio,
uma área residual resultado da desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru, lo-
calizado em uma área urbana densamente consolidada, inclui parte do edifício do antigo
presídio e as ruínas de um presídio inacabado. A estrutura do parque proposto alberga
áreas de vegetação pré-existente a serem preservadas e efetua a relação com a cidade
através de áreas arborizadas setorizadas em três partes: um parque esportivo, uma área
central para o lazer contemplativo, que contém a área de proteção da vegetação e as
ruínas, e um parque institucional, dotado de uma estação de metrô, teatro e espaços para
atividades culturais. No meio do parque, atravessando as três partes, foi proposta uma
alameda, que conecta as partes do parque e os acessos a este. De modo geral, se cria
um espaço que articula o tecido urbano do entorno e torna possível a oportunidade de
equipá-lo, de promover a vivência coletiva e com a natureza, além de permitir percursos
alternativos e de limitar seus crescimentos.
Entretanto, para definir com precisão os espaços articuladores são indispensáveis
estudos detalhados que considerem as necessidades do entorno, como, por exemplo, a
carência de espaços livres públicos, a possibilidade real de que estes espaços sejam uti-
lizados de acordo com as práticas coletivas locais, as condições dos assentamentos, se
estão degradados ou abandonados, entre outros fatores.
217
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
No caso de estudo, algumas áreas que poderiam ser possíveis espaços articuladores
são os fragmentos de espaços livres localizados, sobretudo, na parte central e ao norte
da planície, que, em sua maioria, se encontram em tecidos urbanos consolidados, ou
entre eles, e que poderiam colaborar para uma maior relação entre as ocupações, em sua
melhoria e controle.
110
Parque da Juventude:
110. Planta de implantação (F.: Acervo Arqta. Rosa Kliass).
218
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
111
112
113
Parque da Juventude:
111 a 113. Detalhes do projeto
(Foto: José Luiz Brenna).
219
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Enlaçar
Enlaçar é a ação de projeto a ser adotada sobre os espaços livres que se encontram
em superfícies descontínuas devido à presença de algum elemento de interrupção, como,
por exemplo, as vias, e que poderiam atuar favoravelmente no enlace de algumas peças
do sistema, especialmente aquelas com alta significação visual e biofísica, que pudessem
ser desfrutadas para o lazer, através da criação de caminhos com um entorno aprazível.
Na realidade, a ação enlaçar se aplicaria aos espaços referência e aos demais espaços
livres que possam colaborar na composição da rede de acessos do sistema. Estes espaços
representam a possibilidade de criar conexões, permitindo a passagem e a seqüência
entre os espaços livres que estão, a princípio, segmentados.
Desta maneira, a ação enlaçar tenta criar enlaces, literalmente, em espaços desa-
gregados, privilegiando o fato de ir e vir através deles, ao mesmo tempo em que permite
a criação de áreas de lazer e equipamentos coletivos ao longo de suas rotas, as quais,
freqüentemente, necessitariam requalificação.
Muitos destes espaços estão sujeitos à ocupação urbana. Portanto, cabe ressaltar que
os espaços propícios à ação enlaçar poderiam ser previstos antes de uma futura ocupação,
e projetados e geridos com o objetivo de serem consolidados como verdadeiros itinerários
paisagísticos, para que a possível ocupação esteja de acordo com suas condições de pas-
sagem, além de respeitar as limitações do entorno biofísico e visual.
No caso de estudo, os possíveis espaços a enlaçar se encontram, sobretudo, pró-
ximos às lagoas e à frente marítima e poderiam colaborar na melhoria dos acessos a
estes lugares.
220
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
muito valorizadas, com outras do sistema igualmente qualificadas; a conquista das con-
tinuidades da água; a requalificação de alguns espaços, quando necessário; e uma maior
relação entre espaços livres e ocupados. Estas intervenções poderiam supor atuações nas
ocupações urbanas e explorações existentes a fim de possibilitar as conexões necessárias
relativas ao sistema, assim como diretrizes para futuras ocupações e possíveis transforma-
ções das atuais, tendo como eixo estrutural o sistema de espaços livres.
Em conjunto, isto significa uma mudança na percepção dos espaços livres cujas peças,
que até agora foram massacradas pela ocupação urbana, poderiam assumir as rédeas de
sua vertebração, sobretudo as águas (lagoas, rios, canais, etc.) e a vegetação mais qualifi-
cada, sem esquecer os espaços não qualificados, mas com grande potencial estruturador,
como os espaços articuladores, por exemplo.
Embora as ações de projeto se refiram aos espaços livres mais importantes, cruciais
para a conformação do sistema, devido à escala das análises desenvolvidas, não se consi-
derou outras peças que, entretanto, podem ter uma participação significativa nele.
Neste sentido, são observadas as peças menores que, devido à sua localização e
dimensões, se apresentam como fragmentos de espaços livres distribuídos pela área.
Estas peças, que podem possuir atributos de grande interesse ou simplesmente serem
terrenos sem qualidade, teriam potencial para serem consideradas, em função de uma
análise apropriada, possíveis espaços livres capazes de fomentar a urbanidade e a vi-
vência coletiva local e representariam a possibilidade de incrementar a rede atual de
espaços livres públicos.
Neste marco, se incentivaria a permanência de espaços livres com usos coletivos já
existentes, como os pequenos parques, clubes ou como parte dos equipamentos públicos,
independentemente das determinações do planejamento de outros possíveis usos futuros,
como uma oportunidade de manter a harmonia paisagística aliada a usos pouco impac-
tantes e incentivadores de práticas coletivas.
Na mesma direção, se incentivaria o tratamento das margens das vias como ligação
social, como eixo cívico e, ao mesmo tempo, de circulação, incluindo as bicicletas e os
pedestres, aliados da qualificação ambiental.
Além das observações sobre os espaços livres, a atenção à estrutura social do lugar é
um fator de suma importância para a concretização do sistema se se deseja alcançar os
221
222
223
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
objetivos propostos, pois a ordenação do sistema de espaços livres não se sustenta se não
existe uma interação humana, em particular ao se tratar de lugares onde as desigualdades
sociais são muito fortes e corroboram para a fragmentação urbana devido à vivência seg-
mentada dos espaços e a existência de regras, muitas vezes silenciosas, de exclusão social.
Neste sentido, promover a democratização do sistema de espaços livres diz respeito, em
última instância, a uma postura ética sobre que cidade projetar, que cidade se deseja,
através do incremento de áreas públicas.
Na sua totalidade, a ordenação do sistema significaria reconsiderar as bases da
ocupação urbana até então vigentes e propor outra estrutura para o planejamento do
lugar e, conseqüentemente, para a configuração urbana futura, privilegiando, sobretu-
do, a determinação do sistema de espaços livres como uma possível diretriz do projeto
territorial.
224
Ações de projeto
Espaços de
Ações de projeto Conceito Situação oportunidade
projetual
225
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
226
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
227
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
• A determinação e defesa de áreas específicas que permaneçam sem ocupar, nas quais
existam interesses para a configuração do sistema. Por exemplo, a permanência das conti-
nuidades biofísicas e perceptivas que podem ser parte das cessões obrigatórias, das áreas de
servidão, das negociações sobre transferência de índices de edificação ou, inclusive, quando
resulte necessário, das aquisições pelo setor público como parte de seu banco de solo.
• A proposta de gestão público/privada dos espaços livres, com gestão pública de solo
privado, quando for de uso público, ou gestão privada sob controle público.
• O emprego das grandes operações urbanísticas como um motivo para consolidar mais
espaços livres, como, por exemplo, a duplicação de infra-estruturas viárias, a criação de
vias de metrô, a reconversão de zonas obsoletas, a construção de centros comerciais e
empresariais ou grandes condomínios residenciais, etc.
228
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
229
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
consolidação de cada peça particular, onde o espaço livre tenderá a assumir uma regula-
mentação variável, e se desenvolverá sob uma gestão estrita da urbanização.
Para tanto, surge a exigência de adaptação da legislação urbanística às necessidades que
possam aparecer ao longo dos anos, relativas ao crescimento urbano e às novas demandas
da população, nos modos de vida e de habitar, entre outros fatores, o que obrigaria à flexi-
bilização dos planos, de maneira que permitam a consolidação do sistema de espaços livres
relativo à temporalidade de sua realização, em um horizonte a priori difícil de determinar.
Nos modelos tradicionais de planejamento se constata a falta de instrumentos que
possibilitem esta flexibilidade, isto é, a partir de posturas mais estratégicas que definido-
ras do território em todos os seus conteúdos.
Neste sentido, alguns autores abordam esta questão da flexibilização propondo so-
luções de plano mais processuais, que não determinem uma imagem final preconcebida.
Assim, os planos mais territoriais determinariam as estratégias a seguir, e os planos mais
locais promoveriam a concretização de tais estratégias e, inclusive, poderiam oferecer
outras referências às diretrizes mais amplas, mediante a análise detalhada do lugar, que
corroboraria os estudos anteriores ou conflitaria com estes, e poderia sugerir adaptações
às indicações já realizadas (Sabaté, 2000a; Font, 2003; entre outros)56.
A flexibilização da planificação implicaria em planos ajustáveis ao longo dos anos,
através da manutenção de estratégias-chave e da clareza das bases conceituais para a
proposta de futuras mudanças. Isto se refere a determinar as regras fundamentais para a
concretização do sistema e a ordenação da ocupação urbana a partir da proposta de fle-
xibilidade dos planos dentro de intenções estritas, contra posicionamentos imutáveis, que
ao final acabam por sofrer, irremediavelmente, uma série de modificações pontuais, sem a
necessária consideração do todo, fragmentando ainda mais o território já fraturado.
Neste contexto, cabe ressaltar possíveis distinções entre estabilidade e flexibilidade,
termos que, a princípio, podem parecer incongruentes se são considerados como equi-
valentes aos conceitos de rigidez e instabilidade. Deste modo, a estabilidade dos planos
se referiria, sobretudo, ao rigor do planejamento e não à rigidez, ao estabelecimento
de alguns pontos inflexíveis, isto é, pivôs ao redor dos quais poderiam ser manejadas
as diferenças territoriais. Por outra parte, a flexibilidade do planejamento remeteria aos
matizes dos planos dentro de sua estabilidade, de acordo com as heterogeneidades que o
230
Ordenação do sistema de espaços livres: a reestruturação do território
231
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Notas
50
Institut d´Amenagement et d´Urbanisme de la Région d´Île-de-France. “Les parcs naturels régionaux,
un enjeu pour I´Île-de-France”. In: Les Cahiers, 109-110, 1995, pp. 6-10.
51
Wenk, William. “Denver: parcs de drenatge”. In: Quaderns 196, 1992, pp.64-66.
52
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Valencia, España”. In: Balcells, Conxita; Bru, Josepa (Coord.). Al lado de: límites, bordes y fronteras. Barcelona:
Gustavo Gili, 2002, pp.18-23.
53
Kvorning, Jens. “Ørestad: Copenhagen´s finger in green space”. In: Topos 17, 1996, pp. 95-99.
54
Kliass, Rosa. “Parque da Juventude”. In: Kliass, Rosa. Desenhando paisagens, moldando uma profis-
são. São Paulo: Editora Senac, 2006.
55
Por exemplo, na Catalunha, em geral, existem, na escala do território, planos territoriais e planos terri-
toriais parciais e setoriais; na escala da cidade, planos diretores urbanísticos, planos de ordenação urbanística
municipal e planos urbanísticos setoriais e, na escala de partes da cidade, planos parciais, especiais e de
melhoria. No Rio de Janeiro, na escala da cidade, estão os planos diretores municipais e, na escala de partes
da cidade, os planos de estruturação urbana.
56
“Els nous instruments que necessitem, o la utilizació diversa dels que ja disposem, ja no podran treballar
a llarg termini i amb objectius i escenaris alternatius i processos per aproximarnos-hi. Els plans no podran ser
omnicomprensius, sinó selectius, cercant efectes multiplicadors d’unes poques intervencions estratègicament
triades. Els processos d’aproximación a la proposta seran més circulars que lineals, més temptatius que definitius,
més estratègics que globals. Ens hem d’acostumar ja a treballar sobre hipòtesis en contínua revisió, més que
sobre supòsits inalterables.
Potser ens cal una nova aproximació, una metodologia interactiva d’ordenació-projecte-verificació i ajust
per abordar problemes específics de cada situació i oferir solucions progressives i contextuals.
Potser caldrà apostar per un doble ritme en el projecte territorial, reprenent la lliçó que ens ofereixen
els bons projectes urbanístics, desllindant els elements essencials, estructuradors, que vertebren la proposta,
d’aquells altres de caràcter accessori, que poden evolucionar i adaptar-se en el temps, que són susceptibles de
definició posterior, de mirades esbiaixades” (Sabaté, 2000a, p.96).
232
7
Epílogo: por um projeto
territorial renovado
233
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
transformado com uma margem de tolerância relativamente ampla com relação a possí-
veis intervenções, dado que permitem uma extensa gama de configurações.
Esta proposta descortina um novo olhar sobre os espaços livres, que deixariam de ser
considerados apenas como espaços que sobram no “fundo” da ocupação (que freqüente-
mente estão representados pelos solos não urbanizáveis ou urbanizáveis ainda não ocupa-
dos), passando, ao contrário, a serem vistos como espaços com força suficiente para reverter o
quadro ocupado, requalificar e orientar a ocupação, como uma diretriz do projeto territorial.
Neste sentido, o sistema de espaços livres na ordenação territorial vai além das tradi-
cionais propostas de configuração de espaços conectados entre si, posto que o enfoque
recai sobre estes espaços como elementos vertebradores com uma função estrutural clara,
que relaciona, integra, atrai e possibilita outra perspectiva para a construção urbana.
Portanto, os espaços livres seriam elementos ativos na composição da paisagem arti-
ficializada, do território humano, cuja contribuição para sua ordenação levaria a uma con-
cepção complexa desta realidade, capaz de reunir no projeto territorial os fenômenos dos
espaços ocupados e dos não ocupados, relacionando ambas as partes. O sistema de espaços
livres ganha relevo, salta da condição opaca a que, freqüentemente, foi relegado, à condição
de diretriz da ordenação, através da consciência de seus potenciais estruturadores.
O método desenvolvido constitui uma aproximação à realidade dos espaços livres
sobre um território concreto, como uma tentativa de ordenação do sistema e sua inserção
no projeto territorial, a fim de verificar sua viabilidade projetual efetiva.
O raciocínio elaborado ressaltou, sobretudo, a necessidade de reconhecer, analisar,
avaliar e propor diretrizes de intervenção sobre os espaços livres dentro da realidade
urbana do âmbito estudado, em um intento de conhecer o que é próprio destes espaços,
seus matizes, debilidades e fortalezas, seus traços característicos e os de seu entorno, com
um enfoque marcadamente propositivo. Portanto, se valorizou a importância de mapear
o território palmo a palmo, identificar seus pontos mais e menos vulneráveis, a situação
relativa a seus entornos e as condições indicadas pelo planejamento vigente, de acordo
com um processo de análise onde foi necessária a observação desde baixo, da condição
de cada peça específica, até mais em cima, na visão panorâmica do todo, e vice-versa.
Este quadro geral permitiu traçar algumas estratégias de projeto para a ordenação do
sistema de espaços livres e a reestruturação do território, que se pretende aplicáveis, não
apenas neste âmbito concreto, como também em outros que apresentem espaços livres
potenciais para uma nova proposta de construção do território.
234
Epílogo: por um projeto territorial renovado
235
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
236
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Bibliografia
245
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
246
Anexo 1:
Mapas realizados para o livro
Capítulo 3
Mapa do relevo.
Mapa da hidrografia.
Mapa das principais comunidades vegetais.
Mapa das infra-estruturas viárias.
Mapa dos usos do solo.
Mapa do estrato construído.
Capítulo 4
247
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Capítulo 5
Capítulo 6
248
Anexo 2:
Entrevistas realizadas
249
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Comunidade
250
Entrevistas realizadas
251
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
Comunidade
• As atividades desenvolvidas pelas pessoas nos espaços livres e a forma pela qual
estas afetam suas vidas, seja para o lazer, a produção, a convivência próxima à residência,
entre outros.
• Como as pessoas ocupam os espaços livres e como consideram os elementos com-
ponentes destes espaços (a vegetação, a água, o relevo, etc.) na sua construção.
• Como as pessoas se deslocam pela área, seja de bicicleta, ônibus, carro ou outro
meio de transporte, e como são as condições de transporte coletivo no caso de estudo,
segundo seus pontos de vista.
• Quais são os principais centros de comércio e serviços que utilizam.
• Quais são os aspectos físicos dos espaços livres da área que consideram mais
significativos.
• A participação das pessoas na conservação dos espaços livres do lugar.
• Quais sãos as condições da infra-estrutura de serviços da área.
• A existência de plataformas de defesa e ONGs relacionadas com os espaços livres
e seus respectivos objetivos.
252
Anexo 3:
Unidades de conservação ambiental 57
––––––––
57
Fonte: Página web, URL <http://www.rio.rj.gov.br/smac> (consultada em agosto de 2003).
253
ESPAÇOS LIVRES: Sistema e Projeto Territorial
254
Unidades de conservação ambiental
255
Este livro foi composto em Frutiger, sobre
couché 115g/m2.. A impressão e o acabamento
se deram na Sol Gráfica em novembro de 2008.