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10º Ano
Cantigas de amor
Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher
amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor
não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do
feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (Meu senhor) e espera receber um
benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não
correspondido).
Cantigas de Amigo
O trovador usa o artifício de falar como uma menina enamorada, do povo, que se dirige ao
amigo ou amado, que fala dele à própria mãe, às irmãs, às companheiras ou ao Santo da sua
devoção.
Estas cantigas são postas na boca de uma mulher solteira (sujeito poético), donzela, que
exprime os seus pequenos dramas e situações da vida amorosa.
Forma:
Refrão
Personificação da natureza
Nas cantigas de amigo nota-se: o eu-lírico é feminino, apesar de escritas por homens;
ao contrário da cantiga de amor, onde o sentimento não se realiza fisicamente, na
cantiga de amigo (entende-se por amigo, o amado) há nítidas referências à saudade
física do amigo ausente.
Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é
uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o
significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.
Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas
vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa
satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.
Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras
eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.
Utilização da ironia.
A Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, na qual retrata a ambição
de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por aqueles que
duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma peça que comprove o
provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube".
Toda a peça gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena. As
didascálicas são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só pautada pela
entrada ou saída de personagens.
Todas as personagens desta farsa visam a critica social, por isso são chamadas
personagens tipo.
Resumo
Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja
astuto e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e casamento,
incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira Lianor Vaz, no
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entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e inculto. Pero Marques, nunca
viu sequer uma cadeira, e isso não deixa de provocar o riso, assim funcionando como
mecanismo subliminar o autoelogio da Corte.
Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre alguma cortesia, alguém que, à
boa maneira da Corte, saiba combater, fazer versos, cantar e dançar, alguém como Brás da
Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um pouco menos
sinceros e bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata representa apenas o
triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa -educação e bem-estar social, que
acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras.
Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido
astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá ordens ao seu
moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Brás da Mata,
era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote.
Três meses após a sua partida, Inês recebe a prazeirosa notícia de que o seu marido foi morto
por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que Lianor Vaz traz-
lhe a notícia que Pero Marques, continua casadoiro, de resto como este tinha prometido a Inês
aquando do primeiro encontro destes.
Inês casa com ele logo ali, e já no fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da
protagonista.
O ditado “mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser
melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros
até ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”.
Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida doméstica, jogando com o tema
medieval da mulher como personificação da ignorância e da malícia.
Personagens
Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa duas
vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na primeira
tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingénuo. Apesar de seu comportamento
impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus
passos.
Lianor Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava casamentos,
revelando que a base da família está corrompida.
Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e torna-se
cúmplice das atitudes dela.
Pero Marques: é o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar de ser ridicularizado por
Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o traía.
Escudeiro: Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de
"bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua casa mas ele é morto
por um mouro.
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Moço: era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com ela.
Tempo
Cómico
Estrutura da peça
Nesta farsa não existem divisões cénicas, mas é possível dividi-la em 3 atos. De assinalar a
importância da divisão em espaço interior e exterior. De notar o paralelismo presente nos
contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do monólogo e diálogo inicial da peça, e
no monólogo e diálogo ocorridos após a noticia da morte de Braz da Mata. É através destes
paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança ocorrida com Inês.
Concluindo
Desta ação pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade,
encontrada junto de Pero Marquez. A unidade da ação é dada pelo tema e pela personagem
principal, Inês Pereira.
Não há dúvida de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não acreditavam,
e com esta peça, ser de facto, o grande criador das obras que fazia representar.
Inês Pereira
Inês é a personagem-tipo mais complexa de toda a história. Ao longo da peça, sofre uma
evolução (degradante) e, por isso, vai representar vários tipos sociais.
Inês solteira, é uma rapariga leviana e preguiçosa. Vê no casamento uma forma de se libertar
da mãe e de gozar da sua liberdade. Logo desde o início e ao longo de toda a peça mostra ser
astuta a planear as suas ações, contudo “sai-lhe o tiro pela culatra” quando casa com Brás da
Mata e recusa Pero Marques: julga os pretendentes não pelo caráter, mas pela aparência.
Após o casamento, Inês torna-se a mulher oprimida, porque Brás da Mata não a deixa sair de
casa e recebe alegremente a notícia de que este tinha sido morto na guerra por um mouro.
Decide, então, casar-se com Pero Marques que, apesar da rudeza, mostrava ser ingénuo e
complacente: o marido ideal para Inês poder gozar da sua liberdade há tanto desejada. Nesta
altura, torna-se na mulher adúltera desta história, fase final e mais degradante da personagem:
aproveita-se do pobre marido para a levar de encontro ao seu amante, o Ermitão, e ainda troça
da sua imbecilidade. Revela-se detentora de um caráter imoral e sem-vergonha.
Por toda a peça, Inês expressa a sua inteligência e ironia no planeamento dos seus passos.
Pero Marques
Pero Marques foi o primeiro pretendente de Inês, sugerido por Lianor Vaz. Inicialmente, esta
personagem representa o camponês rude e sem maneiras, até imbecil. É a personagem mais
ridicularizada da história, através do cómico de personagem, de situação e de linguagem.
Apesar de da primeira vez ter sido recusado por Inês, aceita casar-se com ela e não se
apercebe que está a ser traído por esta. É demasiado complacente com a mulher, deixando-a ir
onde bem entende e ainda carrega-a às costas para ir de encontro com o amante. Nesta fase,
tornasse no marido traído e enganado.
Brás da Mata
Brás da Mata aparenta ser, para Inês, o marido ideal: É um fidalgo discreto e meigo, que sabe
tocar viola. Todavia, a verdade é que não tem onde cair morto e o seu objetivo é o de casar
com uma rapariga rica e aproveitar-se do seu dote, para assim nunca mais ter de trabalhar.
Após o casamento com Inês, revela a sua verdadeira face: não deixa Inês sair de casa, nem falar
com ninguém e manda o Moço vigiá-la: é um marido tirano. Foi morto em combate por um
mouro o que, Inês revela, através da ironia, ter sido um ato covarde.
Temas românticos
Amor;
Morte;
Noite.
História Trágico-Marítima
A ação d’«As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)», parte da História
Trágico-Marítima, representa o lado desastroso de Portugal e decorre num período em que o
país se encontrava em decadência política, social e moral. A corrupção dos valores e a ganância
dos portugueses são criticados de forma subtil através da viagem narrada, representando a
nau Santo António uma metonímia de Portugal.
Os tripulantes e os passageiros da nau Santo António funcionam como uma personagem
coletiva cujas características contrastam com as qualidades e virtudes de Albuquerque Coelho.
São fortemente criticados não só pela sua falta de disciplina e de organização em momentos
críticos (l. 112: «levantaram-se grandes brigas e discórdias entre marinheiros e passageiros»)
mas também pela sua fraca personalidade, oscilando entre estados de otimismo e de
derrotismo (l. 387: «todos se alegraram muito»; l. 288: «cobertos pelo mar, todos se
convenceram de que se afogariam»).
As personagens deste grupo falham enquanto cristãos, dado que, perante condições
extremas de fome, medo e privação, perdem a fé e pensam em cometer atos abomináveis na
perspetiva da religião cristã, como o suicídio (ll. 429-430: «arrombar a nau para acabarem de
vez») e o canibalismo (ll. 424-425: «Certos homens, nesse transe, lembraram-se de pedir a
Jorge de Albuquerque a permissão de comerem aqueles cadáveres»).
Para além disso, também apresentam uma atitude cobarde e traiçoeira. Revelam falta de
coragem para enfrentar os adversários, já que pensam logo em se render aos corsários
franceses (l. 125) e apontam para Albuquerque como sendo o único responsável pela defesa e
resistência da nau, por medo das consequências (ll. 154-155).
Em contraste, Albuquerque Coelho constitui uma figura representativa do lado positivo da
ideologia patriótica. Sendo ele um indivíduo que incorpora os antigos valores da honra,
mantém-se fiel aos princípios e à prática da mensagem de Cristo, é abnegado (ll. 108-109:
«mandou colocar tudo adiante de todos e repartiu mui irmãmente pela companhia, sem nada
pretender para si próprio»), dedicado, corajoso e apresenta-se ao serviço da pátria e da fé (l.
34: «correndo risco de perder a vida no zeloso cumprimento dos seus deveres»). Não perde a
esperança mesmo nas mais difíceis circunstâncias, mostrando a sua personalidade forte
enquanto comanda e anima os companheiros (l. 44: «consolava e contentava a sua gente»).
Estes relatos representam o lado negro e anti-heroico de Portugal e do seu Império.
Metaforicamente, os naufrágios, decorrentes dos perigos e dificuldades da viagem,
manifestam-se como o resultado da ganância e corrupção dos portugueses da metrópole que
traíram os valores pátrios e religiosos. Critica-se a ganância, quando a nau revela problemas de
navegação por ir sobrecarregada (ll. 75-76: «por isso que a nau lhes mareava mal, pela muita
carga com que dali partira»).
Em conclusão, o texto recorre aos desastres marítimos como metáfora da decadência de
Portugal e apresenta um modelo de caráter a seguir pelos demais portugueses, o qual surge
personificado por Alburquerque Coelho.
11ºAno
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Clássico Romântico
Predomínio da razão. Predomínio do sentimento e da imaginação.
Culto da Antiguidade Clássica. Culto da Idade Média.
Objetividade. Subjetividade.
Equilíbrio, disciplina e clareza. Arrebatamento, exaltação.
Representação de um homem saudável, Representação de um homem carregado de
moralista, disciplinado. traumas, indisciplinado, instável e
egocentrista.
Gosto pela vida em sociedade. Gosto pela vida solitária e isolada.
A mulher é representada como deusa (um A mulher é representada como um anjo ou
reflexo do amor, divino, platónico). como um demónio.
Amor racional, intelectualizado. Amor sentimental e físico (sensorial).
Natureza luminosa, colorida, alegre e suave Natureza sombria, melancólica (locus
(locus amenus). horrendus).
Versificação rígida. Versificação livre.
Introdução
O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em
1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O Sermão de
Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente
imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários
peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos vícios daqueles
colonos. Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão tem como
objectivo louvar algumas virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade
alguns vícios dos colonos. Este sermão foi pregado três dias antes de Padre António Vieira
embarcar ocultamente para Portugal, onde pretendia obter uma legislação mais justa para
os índios, projudicando assim os interesses dos colonos europeus. Pode-se especular que a
sua saída precipitada do Brasil se devia, pelo menos em parte, ao receio de represálias por
parte dos colonos.
Exórdio - capítulo I - apresentação do tema que vai ser tratado no sermão, a partir do
conceito predicável (vós sois o sal da terra) e das ideias a defender e que, geralmente,
termina com uma breve oração, invocando a Virgem. Esta parte reveste-se de grande
importância dado que é o primeiro passo para captar a atenção e benevolência dos
ouvintes.
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Exórdio: o Padre António Vieira apresenta o conceito predicável, “Vós sois o sal da Terra” e
explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. Ou a culpa está no sal (pregadores),
ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não pregam a
verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque se pregam a si e
não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina,
ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites
e não os de Cristo.
Exposição e confirmação
Capítulo II - contempla os louvores aos peixes de carácter geral, que são os seguintes:
. foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros que Deus criou);
. são melhores que os homens (e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os
peixes);
. existem em maior número (entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os
maiores);
. revelam obediência (aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra
de vosso Criador e Senhor);
. revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a
palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António
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(...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas
palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam.);
. não se deixam domesticar (só eles entre todos os animais se não domam nem
domesticam)
Capítulo III – contempla igualmente os louvores aos peixes, mas agora de carácter
particular e apenas dos seguintes peixes:
do peixe de tobias: cura a cegueira [(...) sendo o pai do Tobias cego, aplicando-lhe o filho
aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista] e seu coração expulsa os
demónios [(...) tendo um demónio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou
com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu dali o demónio e
nunca mais tornou];
da rémora: é pequena no corpo mas grande na força e no poder [“(...) se se pega ao leme
de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder
mover, nem ir por diante.”; “Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta força
como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo!”;
“(...) a virtude da rémora, a qual, pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”];
do quatro-olhos: vê para cima e para baixo – dois olhos voltados para cima para vigiarem as
aves e dois olhos voltados para baixo para vigiarem os peixes – e representa a capacidade
de distinguir o bem do mal (céu/inferno) ["Esta é a pregação que me fez aquele peixezinho,
ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo olhar direitamente para cima, e só
direitamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me
que há Inferno"].
Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são antíteses aos defeitos
doshomens, assim simbolizando os seus vícios.
. comem-se uns aos outros [(...) é que vos comedes uns aos outros];
. os peixes grandes comem os mais pequenos (não só vos comeis uns aos outros, senão
que os grandes comem os pequenos);
. “se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas
como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só
grande”.
dos roncadores: embora tão pequenos, roncam bastante, simbolizando assim os arrogantes
(É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?);
dos pegadores: sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os largando mais e
simbolizando os oportunistas e os parasitas (Pegadores se chamam estes de que agora falo,
e com grande propriedade, porque sendo pequenos não só se chegam a outros maiores,
mas de tal sorte se lhe pegam aos costados, que jamais os desferram);
dos voadores: sendo peixes, também se metem a ser aves, simbolizando os vaidosos [Dizei-
me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos metei a ser aves? (...)
Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes];
dos polvos: tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo, mas na essência é
traiçoeiro, maldoso e hipócrita e faz-se de amigo dos outros e no fim, representando assim
os traidores e os hipócritas “abraça-os” [E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta
hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar].
Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta
última parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a
proximidade entre os ouvintes e o orador.
O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida em que os peixes são a
personificação dos homens. O Padre António Vieira toma como ponto de partida uma frase
bíblica irrefutavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua época. A pessoa
gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda, visto que o seu objectivo é persuadir e
contar com a adesão dos ouvintes.
Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência
textual graças à utilização de recursos estilísticos, nomeadamente: a anadiplose, a antítese,
a apóstrofe, a comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação retórica,
a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a metáfora, o paradoxo, o quiasmo e
o trocadilho.
O discurso figurativo: a alegoria, a comparação, a metáfora; - outros recursos expressivos: a
anáfora, a antítese, a apóstrofe, a enumeração e a gradação.
Características da novela
Tempo da história
Personagens
Simão
Nasce em 1784.
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Teresa
Tem 15 anos.
Destaca-se pela sua beleza.
É o paradigma da mulher-anjo, pela sua delicadeza e pela grandiosidade dos
seus sentimentos.
Revela autonomia, para a época, sobretudo, quando se recusa a casar com
Baltasar.
É astuta, determinada e orgulhosa.
Manifesta uma força de vontade e uma desenvoltura viris.
Esta personagem não tem uma evolução psicológica, pelo que é considerada
uma personagem plana.
Mariana
Tem 24 anos.
O narrador salienta a sua beleza física.
Caracteriza-se pela sua intuição, pelo poder de predição, enfim, pelo
misticismo popular.
Apresenta complexidade humana, ao nível das emoções que experimenta e da
esperança que acalenta de poder ser amada por Simão e ficar junto dele.
Esta personagem apresenta a evolução psicológica, pois o seu amor motiva as
suas esperanças e os seus desalentos, oscilando entre emoções que fazem
vibrar a sua dimensão humana.
João da Cruz
É uma personagem que se aproxima bastante do protótipo do homem popular
português.
Pela antítese das emoções que experimenta e pelas atitudes que apresenta, é
considerado o tipo do “bom bandido”.
Ele é, simultaneamente, bondoso, grato, corajoso e violento.
Caracterizam-no, ainda, a sua linguagem de cariz popular, pelo realismo da
expressão.
Baltasar
É a personagem que, pelos seus defeitos, se opõe a Simão, fazendo sobressair
as qualidades exemplares do herói.
É cobarde, mesquinho e vingativo.
A sua vaidade torna-o incapaz de esquecer o seu orgulho ferido e de
compreender o amor que Simão e Teresa sentem um pelo outro.
Representa os valores sociais instituídos e fossilizados, contribuindo para a
tragédia final.
Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho
Representam o antagonismo motivado pelo preconceito de honra social.
São inflexíveis nas suas decisões e baseiam-se no seu próprio orgulho e nas
suas conveniências sociais.
Preferem perder os filhos, reduzindo-os à dimensão de objetos, a perder a
dignidade social.
D. Rita Preciosa
Representa a convencionalidade do sentimento materno – age mais por
obrigação familiar do que por motivos afetivos; ajuda Simão porque esse é o
seu papel e não porque o amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as
atitudes do filho.
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Ritinha
Distingue-se das outras irmãs de Simão pela sua capacidade afetiva.
Representa, para Simão, o único laço familiar genuíno. Porque é conduzida por
aquilo que sente e não pelas convenções que lhe são impostas.
A sua ligação a Simão leva-a a ser ela a relatora da sua história ao autor da
obra, quando este era criança.
Simbologia
As grades simbolizam, não apenas as grades materiais que aprisionam Simão, mas aos
grilhões sociais que o condenam e motivam a sua clausura.
A janela, elemento que aparece na história amorosa shakespeariana, Romeu e Julieta,
é o local onde os dois amantes se veem pela primeira vez. Elemento de ligação entre o
interior e o exterior, a janela está conotada simbolicamente com a interioridade de
Simão e de Teresa e com a sociedade. Ela funciona, então, como cisão entre as
personagens e o espaço social em que estas se inserem. Associada aos olhos, órgãos
de perceção (a janela também se liga à recetividade da luz exterior) que, por sua vez,
são “o espelho da alma”; a sua simbologia situar-se-á ainda ao nível de dois outros
espaços presentes na obra, através dos sentimentos das personagens: o aqui (espaço
terreno de hostilidade) que se opõe ao além (espaço da esperança e da ilusão
fecundante).
Os fios simbolizam a ligação eterna dos amantes, que não se desfaz após a morte (os
fios envolvem as cartas de Teresa a Simão); a sua significação remete para a união total
do par amoroso. Por outro lado, os fios são também o símbolo da união dos diferentes
estados da existência – Simão e Teresa acreditam que permanecerão unidos após a
morte. Aliás, o facto de as cartas e os respetivos fios que as envolviam terem sido
lançados ao mar, espaço ligado à criação e à vida, permite a reafirmação desta ideia. O
fio remete igualmente para o destino, ligado ao mito das três parcas (a primeira dá o
fio, ou seja, a vida, a segunda enrola-o – trata-se da fase que corresponde à vida do
individuo – e a terceira corta-o – é o momento da morte). Aqui, o tempo associa-se ao
destino que terá que ser cumprido. Os fios separam-se das cartas, após a morte das
personagens, quando mariana, suicidando-se, as remete para o elemento líquido.
Podemos ainda relacionar os fios com a aranha, isto é, o fio evoca, neste sentido, a
ilusão, a realidade enganadora. Não esqueçamos que as grades que aprisionaram
Simão e Teresa não são mais do que o alargamento e a equivalência simbólica dos fios
(os fios da aranha formam a teia, que aprisiona os seres que nela caem). Simão, após a
morte, é envolto num lençol, o lençol, que lembra o sudário de Cristo e representa o
amor, a paixão, o sofrimento e a morte dos humanos (etimologicamente paixão
significa morte). Cristo morreu para redimir os pecados dos homens; Simão morre
vítimas dos seus iguais.
O mar. O corpo de Simão é deitado ao mar, fonte de vida e, metaforicamente, local de
renascimento. O mar espelha o céu, o espaço em que os amantes acreditavam como
único local onde poderiam realizar o seu amor puro, mas condenado pelos homens.
O avental assume, na obra, um valor polissémico – por um lado, associa-se à condição
social de Mariana; por outro, liga-se ao sofrimento, pois é com ele que Mariana limpa
as lágrimas que chora por Simão. Este elemento do traje de Mariana encontra-se,
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também, no âmbito da referência ao seu estado de loucura ao saber que Simão ia ser
preso – é assim que, na cadeia da Relação do Porto, Simão tem sobre uma mesa um
caixote de pau-preto que, para além de conter as cartas de Teresa, “ramalhetes secos,
os seus manuscritos do cárcere de Viseu”, guardava igualmente o avental de Mariana,
“o ultimo com que ela, no dia do seu julgamento, enxugou as lágrimas e arrancara de
si no primeiro instante de demência”. Simão, antes, pedir a João da Cruz que cuidasse
de sua filha, pois ela tinha nascido “debaixo da [sua] má estrela”, o que a condenava a
um irremediável sofrimento motivado por um amor que não era correspondido. A
simbologia do avental reúne, deste modo, o trabalho e o martírio, significando o
percurso de Mariana na terra uma forma de purificação. No último capitulo, Mariana
atira-se ao mar para se juntar a Simão e o comandante do navio que transportava
Simão para o degredo viu “enleado no cordame, o avental, e à flor da água um rolo de
papéis que os marujos recolheram na lancha”.
Poesia
ANTERO DE QUENTAL
Antero de Quental é uma das figuras mais brilhantes da cultura e literatura portuguesas de
todos os tempos. Só se pode concordar com Brunello De Cusaris quando este diz:
“ Antero na minha opinião , tem uma tal dimensão que, numa hipotética escala de valores dos
escritores portugueses, ocuparia uma posição semelhante à de Camões e Pessoa, ou seja,
aqueles que são considerados os maiores, senão mesmo, segundo alguns, os únicos capazes de
representar Portugal no Olimpo literário. “ ( 1 )
Porém, embora sendo assim, e a maior parte das pessoas concordem, Antero tem sido
também uma figura bastante, ou frequentemente, esquecida. E, comparando a sua fama e
conhecimento com a fama e conhecimento que um Pessoa, um Camões ou mesmo um
Saramago usufruem, chegamos à conclusão que Antero pode ser considerado uma espécie de
marginal no Olimpo das letras portuguesas.
Antero de quental não só é uma das figuras mais brilhantes da literatura e cultura portuguesas,
como também uma das mais originais, diria mesmo uma figura única: que eu saiba não há nem
houve em toda a nossa literatura, para além dele, outro poeta-filósofo. Poeta –filósofo e não
só, ( também foi polemista, político e ensaista ) que brilhou em ambas as disciplinas. No
entanto, o que nos interessa nesta reflexão não é falar propriamente do filósofo, do político da
personalidade, ou da sua vida, mas sim do homem poeta como lírico de grande importância
dentro do panorama da literatura portuguesa.
Num artigo dedicado à importância da poesia de Antero de Quental dentro da tradição lírica
portuguesa, diz-nos David Mourão- Ferreira que ao poeta Antero:
“ Todos, ou quase todos, lhe reconhecem o lugar a que indiscutivelmente tem direito – e que é
um lugar de primeira plana, entre os maiores poetas de todos os tempos. É certo, no entanto,
que o valor especificamente “ poético “ dessa obra e a significação de que ela se reveste, como
“ acontecimento capital “ da nossa tradição lírica, são aspectos geralmente secundários, ou
inexistentes na bibliografia que lhe tem sido consagrada. “ ( 2 )
Segundo o mesmo autor, um pouco mais à frente, ainda no mesmo artigo, “ isto não admira
que assim aconteça.“ E, de facto, David Mourão-ferreira tem razão, pois a fascinante
personalidade de Antero com os nobres acidentes da sua acção social, tanto os reais como os
sonhados, teriam inevitavelmente que prender, em primeiro lugar, a atenção da crítica.
Relegando, assim, o poeta e o valor da sua obra lírica para um segundo plano. Porém, e de
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novo fazemos uso das palavras de David Mourão- Ferreira, “ talvez vá sendo tempo de a
apreciarmos também como “ fenómeno de poesia “ e de não a entendermos apenas como “
fenómeno de cultura. “ ( 3 )
Antero Quental foi sobretudo sonetista. Na sua linguagem poética há um “agudo sentido do
ritmo e um extraordinário poder de concisão. “ ( 4 ) Estas duas características da poesia de
Antero, são-lhe, no entanto, ( isto descobre-se logo à primeira leitura ) inerentes e naturais,
quase se pode dizer que a expressão poética de Antero é espontânea. Esta capacidade de se
exprimir de forma tão natural, ou mesmo à vontade, dentro de uma composição com uma
forma tão severa, como é o caso do soneto, só a encontramos, por vezes, em Bocage e em
paridade com Antero, em Camões.
E se é verdade que o Soneto é uma forma poética apropriada a uma linguagem conceptual
dialéctica, com a sua tese, antítese e síntese, e este facto fascine Antero, também é verdade
que Antero diz : “ há mais de vinte anos que faço sonetos , e todavia nunca escolhi esse género
nem estudei nos mestres os segredos especiais daquela forma; levou-me para ali uma
predilecção impensada e singular... “ ( 5 )
Quer isto dizer que a poesia de Antero, embora sendo conceptual, consegue-nos, graças à sua
força expressiva, espontânea e natural, falar ainda antes de qualquer tentativa de
interpretação. Quanto ao carácter espontâneo desta poesia diz-nos também o próprio poeta o
seguinte: “ nunca pretendi ser poeta nem me preparei para isso com estudo e aplicação: mas
não sei como, tenho sempre encontrado a poesia a meu lado, e espontaneamente, quase
involutariamente, têm revestido a forma poética o meu pensar e o meu sentir ( coisas que em
mim andam sempre muito irmãs ) ... “ ( 6 )
Ler um poema de Antero é, antes de tudo, sentir a potência do ritmo das palavras, a sua força
ontológica. O leitor sente-se maravilhado ao ser confrontado com aquela linguagem que
poderemos nomear de transcendental. Podemos deste modo afirmar que a poesia de Antero é
sobretudo musical, pois ela tem as suas origens no mundo do inconsciente, pré-racional. Ela,
tal como a música, faz-nos compreender tudo para além de toda e qualquer compreensão,
ainda antes de qualquer interpretação; deixa-nos ver com os olhos da alma, dirge os nossos
pensamentos e sentimentos para o alto. “ Ela é exclusivamente psicológica e dantesca: não
pode pintar nem descrever: acha isso quase indigno. “ ( 7 ) Nela vibra a autenticidade inerente
a toda a poesia moderna, a sua essência é, em primeiro de tudo atemporal – tal como a
própria música.
A poesia de Antero de Quental é, também e sobretudo, violenta, é uma poesia dos extremos.
O homem dionisíaco e o apolínieo gladiam-se constantemente. Já António Sérgio observava
que em Antero viviam duas almas: uma dionisíaca outra apolínea. E isto repercurte-se ao longo
de toda a sua poesia. Assim podemos compará-la a um grito ou a uma sinfonia de Beethoven.
Ela movimenta-se sempre à beira dos precipícios, nos limites. Como um equilibrista na corda
bamba, Antero avança e recua... umas vezes fala-nos o poeta da razão, dos meio-dias, da voz
clara , do equilíbrio, da suprema justiça, o cantor homérico, que acredita na medida e na razão:
Ou:
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Outras, por sua vez, fala-nos o homem nocturno, a voz do caos, vinda das profundezas
inavegáveis. São os daimonen erguendo-se do seu longo sono, arrastando o poeta consigo,
deixando-o provar o vinho dos imcompreendidos, a fome das almas nocturnas, a solidão e toda
a dor humana. O poeta sente-se dividido e abandonado. Agora ele já não acredita na igualdade
nem na fraternidade... já não acredita em nada. Ele vê-se caido num buraco sem fundo. A
realidade e o sonho são monstruosos:
Esta violência e revolta, bem como as duas almas dentro do mesmo homem, uma de carácter
luminoso, outra de carácter nocturno, vamos encontrá-las, mais tarde, igualmente na poesia de
dois poetas maiores do Modernismo português: Sá-carneiro e Pessoa. Ambos estes poetas
sofrem do mesmo mal que Antero - do drama da identidade e da unidade solar do sujeito.
A poesia de Antero pode ser, neste aspecto, considerada como precursora dos dois poetas
maiores do I Modernismo. Embora nenhum deles o tenha considerado como tal. Contudo,
ambos, tal como Antero, viveram o drama da divisão da identidade de uma maneira violenta.
Em Sá-Carneirno encontramos sempre o “ eu próprio “ e o “ outro “ ou “ aquele outro “ Este,
tal como Antero, encontra no suicídio o último recurso.... Pessoa, por sua vez, diz que não sabe
quem é, nem que alma tem. E por isso cria os heterónimos, conseguindo atingir um certo
equilíbrio entre o ser e a consciência individual, entre a razão e o misticismo, entre a forma e o
caos, escapando assim ao suicídio.
Como exemplo do drama-dual existente em pessoa, basta pensarmos no próprio Fernando
Pessoa de um lado e Ricardo Reis do outro ou em Alberto Caeiro e álvaro de Campos . Não
exemplificam cada um destes pares o conflito de dois espíritos diferentes em luta
permanente... tal como acontece no caso do nosso Antero?
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Contudo, a poesia de Antero, tal como toda a poesia moderna, embora partindo do dualismo,
aspira, antes de tudo, à dignidade cósmica e pretende, por isso, anular em si todos os
antagonismos e dicotomias que perseguem o homem... deste modo podemos encontrar em
muitos dos sonetos de Antero o desejo da anulação total do “eu “ de carácter budista, ou seja,
o Nirvana:
Não é também isto uma das características maiores de toda a poesia moderna: o desejo da
anulação do eu? Referindo-se a este desejo de anulação do eu, diz-nos Octavio Paz numa
conferência proferida em 1954 sobre o Surrealismo:
„ Com uma diferença de mais de dois mil anos, a poesia ocidental descobre algo que constitui o
cerne da doutrina budista, ou seja, que o eu não passa para lá de uma ilusão, de um enxame
de sensações, pensamentos e ambições. “ ( 8 )
Ora como vemos, Antero é um poeta verdadeiramente moderno, poi ele sabe ( não é
necessário que isto aconteça conscientemente ) “ que na poesia, pela voz encontrada do poeta,
nós somos o momento durativo presente, somos a infância, a duração futura, a anterior , um
átomo, a totalidade do cosmos.” ( 9 )
Para terminar, gostaria ainda de lembrar que Antero foi igualmente um dos primeiros poetas a
fazer crítica literária em Portugal, ou antes, a fazer crítica literária de uma maneira séria e não
lisonjeira e, também, grande cultivador do ensaio. Esta tendência de poeta e crítico literário,
bem como o cultivo do ensaio, solidificou-se entre os poetas do séc. XX com Pessoa, no
primeiro Modernismo, depois com José Régio no segundo Modernismo, continuando com
muitos outros e entre eles dois excepcionais: David Mourão-Ferreira e Vitorino Nmésio. Hoje
podemos dizer que existe em Portugal uma verdadeira tradição de poetas que são ao mesmo
tempo poetas, críticos literários e ensaistas . muitos dos poetas maiores da nossa lírica
comtemporânea fazem também critica literária e escrevem ensaios. Alguns exemplos: António
Ramos Rosa, Gastão Cruz, Fernando Guimarães, Ruy Belo, Luís Miguel Nava etc.
Ora, como acabamos de exemplificar, Antero pode ser considerado um verdadeiro precursor
desta tradição entre nós.
Por estas coisas e por muito mais poderemos dizer que Antero de Quental é um poeta
moderno clássico, por isso sempre atual; um poeta que ultrapassou as barreiras do tempo
histórico em que viveu e que merece ser lido e visto como um dos grandes “acontecimentos
poéticos “dentro da tradição lírica portuguesa de todos os tempos e um dos grandes
precursores da modernidade.
COM OS MORTOS
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Cesário Verde
Poesia:
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- Parnasianismo: “arte pela arte” Tendência artística que procura a confeção perfeita
através da poesia descritiva. Preocupação com a perfeição, o rigor formal, a regularidade
métrica, estrófica e rimática. Retorno ao racionalismo e às formas poéticas clássicas. Busca
da impessoalidade e da impassibilidade.
- Impressionismo:
- Poeta-pintor:
- Não canta motivos idealistas, mas coisas que observa a cada instante; descreve ambientes
que nada têm de poético.
Cidade Campo
Morte Vida
Poemas:
- “Bairro Moderno”:
- “Contrariedades”: -
Poesia do quotidiano.
Impressão que o “fora” deixa na alma do poeta (cruel, frenético, exigente,
impaciente)
Alteração do estado de espírito -> causa: depravação nos usos e nos costumes;
injustiça da vida pela doença que destrói a vizinha (abandono e exploração); recusa
dos jornais em publicarem os seus versos; fim do poema: intervencionismo,
denuncia e acusação do mundo injusto e pouco solidário.
- “Cristalizações”:
- “Nós”:
- “De Tarde”
- “Em Petiz”
-“De Tarde”
- “Deslumbramentos”
- “Vaidosa”
- “Esplêndida”
- “Frígida”
- “A Débil”
Deslumbramentos
Síntese
A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre
o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência-de-si
implica.
Pessoa considera que a arte “é o resultado da colaboração entre o sentir e o pensar”. Daí a
sensibilidade a fornecer à inteligência as emoções para a produção do poema.
Para exprimir a arte, o autor criativo precisa de intelectualizar o sentimento, o que pode levar a
confundir a elaboração estética com um ato de “fingimento”. O poeta parte da realidade mas
só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o
“fingimento”, que não é mais do que uma realidade nova.
Entrar no jogo artístico, fingir ao exprimir as emoções, mas com toda a dimensão de
sinceridade, implica e explica a construção da poesia de ortónimo.
Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela própria
efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da
consciência.
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar
e o sentir. A fragmentação esta evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido,
ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Obliqua.
O tempo, na poesia pessoana, é um fator de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a
desejar ser criança de novo. Mas, frequentemente, o passado é um sonho inútil, pois nada se
concretizou, antes se traduziu numa desilusão.
Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por
isso, uma felicidade passada, para lá da infância.
O fingimento artístico
Para Fernando Pessoa, um poema “é produto intelectual”, e por isso, não acontece “no
momento da emoção”, mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de “existir
intelectualmente”, o que só na recordação é possível.
A dor do pensar
Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela
própria efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento
e da consciência.
A nostalgia da infância
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O tempo, na poesia pessoana, é um fator de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-
o a desejar ser criança novamente.
Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora,
por isso, uma felicidade passada, para lá da infância.
Características Estilísticas:
- Adjetivação expressiva
- Pontuação emotiva
- Uso de símbolos
Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento
do sofrimento e da dor)
Verso geralmente curto
Predominio da quadra e da quintilha
Adejectivação expressiva
Linguagem simples mas muito expressiva (significados escondidos)
Pontuação emotiva
Uso de simbolos
Fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular
A poesia é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade
pura e a frustração que a consciência-de-si implica.
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar
e o sentir. O intersecionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como
tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica
com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr
tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção
da arte.
É o quem eu me suponho
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
O Livro do Desassossego foi publicado pela primeira vez em 1982 (quase 50 anos depois da
morte de Fernando Pessoa) e resulta da junção de textos avulsos encontrados no espólio de
Fernando Pessoa. Esse espólio junta fragmentos autobiográficos, textos introspetivos, reflexões
e pequenas descrições (assim, é constituído por diferentes géneros, como o diário, a crítica, o
conto, a crónica). O “autor”, Bernardo Soares, que assina esses textos, é o Heterónimo
pessoano que mais se aproxima do Ortónimo Fernando Pessoa pois surge como um auto
retrato do próprio autor. Não é por acaso que Bernardo Soares diz ser ajudante de guarda-
livros de um escritório da baixa de Lisboa, pois o próprio Fernando Pessoa, foi correspondente
de línguas num escritório nessa mesma zona e chega a colocar como personagens do Livro do
Desassossego, pessoas do escritório onde trabalhava, mantendo alguns nomes e alterando
outros como o do patrão Moitinho de Almeida, que na obra se chama Vasques.
Como é escrito sob a forma de diário sem datas, o Livro do Desassossego é uma obra
fragmentária, sempre em estudo por parte dos analistas pessoanos, tendo estes interpretações
diferentes sobre o modo como organizar o livro. A organização desses textos, deu origem a
edições distintas que variam consoante os critérios utilizados pelos editores. É por isso que não
é raro encontrar diferentes edições do Livro do Desassossego em que a disposição e a
organização dos textos são diferentes.
Temas:
Bernardo Soares faz da Deambulação a principal matéria da sua prosa, isto é, comporta-se
como um observador acidental da sociedade exterior. A essência da existência de Soares é
marcada pela centralidade dos atos de sonhar e de olhar, empregando, assim, com frequência
os verbos ver, reparar e persentir. Para além disso, foca a vida citadina evidenciando a
modernidade do imaginário urbano, enternecendo-se com o quotidiano. As pessoas com quem
se cruza são-nos apresentadas de forma emotiva e introspetiva, levando a que nos tornemos
íntimas delas. A observação da realidade exterior e a focalização do pormenor são, na prosa de
Bernardo Soares, o ponto de partida para a transfiguração poética da realidade e para uma
introspeção intensa que culmina numa vida interior vivida de uma forma impar.
O imaginário urbano – A descrição da cidade de Lisboa na sua vertente física e humana; A
inspiração em Cesário Verde.
O Quotidiano – A fixação instantânea do dia a dia; A rotina da vida quotidiana; A atenção
conferida aos espaços e aos figurantes do quotidiano lisboeta
Deambulação e sonho: o observador acidental – A deambulação pela cidade de Lisboa; O
ambiente envolvente como inspiração; A observação pormenorizada do real; A constante
ideação (imaginação); A mistura de sensações e sonhos.
Perceção e transfiguração poética do real – O mundo exterior como ponto de partida para
divagações subjetivas; A análise intimista de realidades objetivas; A transfiguração da rotina da
vida quotidiana.
Notas:
Não é uma narrativa com princípio, meio e fim. É um anti livro. É uma compilação de
fragmentos organizados depois da morte de Fernando Pessoa, pois não existe uma
ordem definida pelo mesmo.
Pela voz de Bernardo Soares, Pessoa confia ao leitor a sua angústia existencial, as suas
reflexões sobre o sentido ou ausência de sentido das coisas, o refúgio efémero
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encontrado no sonho, a sua incapacidade de viver a sua própria vida, de ser ator da sua
própria existência.
Assim, O Livro do Desassossego apresenta muitas semelhanças com um Diário
(“autobiografia sem factos”).
O narrador lê o mundo sobre a “forma de uma nuvem, um encontro num café, o som
de um elétrico, a geografia de um bairro”. - O mais pequeno detalhe do quotidiano
torna-se num mundo gigantesco e em pura poesia.
HETERÓNIMOS
ALBERTO CAEIRO
Poeta Bucólico
Primado das sensações
Poeta anti metafísico (recusa o pensamento)
Poeta da natureza (campo, bucólico)
Poeta sensacionista (sensações: olhar-visão)
Poeta da objetividade
MESTRE DOS OUTROS HETERÓNIMOS
PAGANISMO- DEUSES DA NATUREZA
Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
Vive só no presente.
O que é o presente?
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
RICARDO REIS
Poeta clássico
A consciência e a encenação da mortalidade
TEMÁTICAS:
EPICURISMO: Viver a vida em tranquilidade, sem preocupações a fim de evitar
sofrimento.
ESTOICISMO: DESTINO—DEUSES—HOMEM. Aceitação do que o destino e os deuses
nos concedem.
Carpe Diem: Viver o dia a dia.
Paganismo: Intervenção de vários deuses na vida do Homem.
Símbolos clássicos:
Rio: Passagem da vida.
Laço (nó): União.
Fado: Destino.
Deuses: Paganismo
Flores/perfume: Bens efémeros
Sê Rei de Ti Próprio
Ao abrirem-te as mãos
Nada te cairá.
Da estatura da sombra
E sê rei de ti próprio.
ÁLVARO DE CAMPOS
POETA DA MODERNIDADE
SUJEITO, CONSCIÊNCIA E TEMPO, NOSTALGIA DA INFÂNCIA
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Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Não exageremos!
No azul da manhã...