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Resumos Literatura Portuguesa 1


Exames 2011

10º Ano
Cantigas de amor

o Elogio superlativo da dama (de elevada estirpe social);


o Amor cortês (distância respeitosa do trovador em relação à Senhora, cuja
identidade, por princípio, não revelará);
o Vassalagem amorosa;
o Queixume pela desgraça de amor devido aos rigores, indiferença ou desamor
da dama; (A dama não deixa, por esse motivo, de ser, a todos os títulos, digna
de amor e louvor).
o Quem nestas cantigas fala é um homem (sujeito poético) que se dirige ou se
refere a uma dona, oriunda de um estrato social superior (residindo em
ambientes palacianos).
o O trovador imaginava a “dona” como um “suserano” a quem “servia” numa
atitude submissa de “vassalo”.
o A coita de amor, sofrimento amorosa.
o Idealização da mulher amada.
Utilização da comparação.

Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher
amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor
não correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do
feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada (Meu senhor) e espera receber um
benefício em troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não
correspondido).

Estes meus olhos nunca perderan,


senhor, gran coyta, mentr’ eu vivo fôr;
e direy-vos, fremosa mia senhor,
d’estes meus olhos a coyta que an:
choran e cegan, quand’alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.

Guisado teen de nunca perder


meus olhos coyta e meu coraçon,
e estas coytas, senhor, mias son:
mays los meus olhos, por alguen veer,
choran e cegan, quand’alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.

E nunca ja poderey aver ben,


poys que amor já non quer nen quer Deus;
mays os cativos d’estes olhos meus
morrerán sempre por veer alguen:
choran e cegan, quand’alguen non veen,
e ora cegan por alguen que veen.
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Cantigas de Amigo

As Cantigas de Amigo, de forma mais simples, apresentam-nos, em geral, a mulher integrada


no ambiente rural: na fonte ou na romaria, lugares de namoro; sob as flores do pinheiro ou de
avelaneira; no rio, onde lava a roupa e os cabelos ou se desnuda para tomar banho; na praia,
onde aguarda o regresso dos barcos.

O trovador usa o artifício de falar como uma menina enamorada, do povo, que se dirige ao
amigo ou amado, que fala dele à própria mãe, às irmãs, às companheiras ou ao Santo da sua
devoção.

Estas cantigas são postas na boca de uma mulher solteira (sujeito poético), donzela, que
exprime os seus pequenos dramas e situações da vida amorosa.

Forma:

 O paralelismo constitui a característica formal mais importante deste tipo de cantigas-


2 versos e refrão.
 Leixa-pren: O segundo verso a estrofe ímpar repete-se como primeiro verso da estrofe
ímpar seguinte, acontecendo o mesmo com as estrofes pares.

 Refrão

Personificação da natureza

Nas cantigas de amigo nota-se: o eu-lírico é feminino, apesar de escritas por homens;
ao contrário da cantiga de amor, onde o sentimento não se realiza fisicamente, na
cantiga de amigo (entende-se por amigo, o amado) há nítidas referências à saudade
física do amigo ausente.

Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é
uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o
significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.

Em Lixboa sobre lo mar


barcas novas mandei lavrar,
ay mia senhor velida!

Em Lisboa sobre lo lez


barcas novas mandei fazer,
ay mia senhor velida!

Barcas novas mandei lavrar


e no mar as mandei deitar,
ay mia senhor velida!
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Barcas novas mandei fazer


e no mar as mandei meter,
ay mia senhor velida!

Cantigas de escárnio e maldizer

Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras diretas, chegando muitas
vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa
satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.

Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras
eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

Utilização da ironia.

Cantiga de escárnio e maldizer

 A cantiga de escárnio distingue-se da cantiga de maldizer pelo facto de na primeira a


sátira ser menos direta, baseando-se em trocadilhos e ironias, sem identificar a pessoa
satirizada, ao contrário do que sucede nas cantigas de maldizer, que por vezes chegam
a ser grosseiras.

Par Deus, infançom, queredes perder


a terra, pois nom temedes el-rei!
Ca já britades seu degred', e sei
que lho faremos mui cedo saber:
ca vos mandarom a capa, de pram,
trager dous anos, e provar-vos-am
que vo-la virom três anos trager.

E provar-vos-á, das carnes, quem quer,


que duas carnes vos mandam comer,
e nom queredes vós d'ũa cozer;
e no degredo nom há já mester;
nem já da capa nom hei a falar:
ca bem três anos a vimos andar
no vosso col'e de vossa molher.

E fará el-rei corte este mês,


e manda[rá]m-vos, infançom, chamar;
e vós querredes a capa levar
e provarám-vos, pero que vos pês,
da vossa capa e vosso guarda-cós,
em cas d'el-rei, vos provaremos nós,
que ham quatr'anos e passa[m] per três.

Crónica de D.João I (Fernão Lopes)


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É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de h


istoriar inovador. O seu desejo é "em esta obra escreververdade sem outra mistura", p
ara o que faz concorrer toda a gama dedocumentos possível, desde narrativas a docum
entos oficiais, confrontando-
os entre si para assegurar a veracidade dos registosexistentes. Ao mesmo tempo, esta c
rónica estabelece, de certa forma, o ponto de chegada das duas crónicas precedentes,
na medida em que estaspreparam os acontecimentos que culminam com a sublevação
popular e consequentemente, com a entronização de D. João I.
A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narraçãocélere dos epi
sódios quase simultâneos do assassinato do conde Andeiro,do alvoroço da multidão qu
e acorre a defender o Mestre e da morte dobispo de Lisboa. Ao longo dos capítulos, fu
ndamenta-se a legitimidade daeleição do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, n
a sequência daargumentação do doutor João das Regras, enquanto desfecho inevitável
imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento docronista na ani
mação de retratos individuais, como os de D. Leonor Telesou D. João I, excede-se na co
mposição de uma personagem coletiva, o povo, verdadeiro protagonista que influi sobr
e o devir dos acontecimentoshistóricos.
Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora dereconhecer o rei saíd
o das cortes, e
é de novo pela ação do povo que a glorificação do monarca é transmitida, como, por ex
emplo, no modo comoo acolhe a cidade do Porto. Um outro momento de maior relevo
é consagrado, nesta parte, à narrativa da Batalha de Aljubarrota, embora aínão ecoe o
mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte, colocaraem cena o movimento d
a massa popular.

Farsa de Inês Pereira (Gil Vicente)

A Farsa de Inês Pereira é uma peça de teatro escrita por Gil Vicente, na qual retrata a ambição
de uma criada da classe média portuguesa do século XVI. Desafiado por aqueles que
duvidavam do seu talento, Gil Vicente concorda em escrever uma peça que comprove o
provérbio "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube".

Toda a peça gira à volta da personagem principal Inês Pereira que nunca sai de cena. As
didascálicas são escassas, não há mudança de cenário, e a mudança de cena é só pautada pela
entrada ou saída de personagens.

Todas as personagens desta farsa visam a critica social, por isso são chamadas
personagens tipo.

Resumo

As farsas, baseiam-se em temas da vida quotidiana, tendo um enredo cómico e profano. A


Farsa de Inês Pereira parte de um provérbio: «mais quero asno que me leve, que cavalo que
me derrube». Esta farsa censura os «homens de bom saber» que constitui uma referência
direta ao público cortês. Esta era dotada de uma incontornável vertente não só dramática mas
acentuadamente teatral.

Inês Pereira, moça simples e casadoira mas com grande ambição procura marido que seja
astuto e sedutor. A mãe de Inês, preocupada com a sua filha, sua educação e casamento,
incita-a a casar com Pero Marques, pretendente arranjado pela alcoviteira Lianor Vaz, no
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entanto o lavrador não agrada Inês Pereira, por ser ignorante e inculto. Pero Marques, nunca
viu sequer uma cadeira, e isso não deixa de provocar o riso, assim funcionando como
mecanismo subliminar o autoelogio da Corte.

Inês Pereira recusa-o, pois pretende alguém que demonstre alguma cortesia, alguém que, à
boa maneira da Corte, saiba combater, fazer versos, cantar e dançar, alguém como Brás da
Mata, o segundo pretendente, que lhe é trazido pelos Judeus Casamenteiros, um pouco menos
sinceros e bem-intencionados do que Lianor Vaz. Mas Brás da Mata representa apenas o
triunfo das aparências, um simulacro de elegância, boa -educação e bem-estar social, que
acredita no casamento como solução para as suas dificuldades financeiras.

Este casamento depressa se revela desastroso para Inês, que por tanto procurar um marido
astuto acaba por casar com um, que antes de sair em missão para África, dá ordens ao seu
moço que fique a vigiar Inês e que a tranque em casa de cada vez que sair à rua. Brás da Mata,
era um escudeiro falido que casou com Inês de forma a poder aproveitar-se do seu dote.

Três meses após a sua partida, Inês recebe a prazeirosa notícia de que o seu marido foi morto
por um mouro. Não tarda em querer casar de novo, e é nesse mesmo dia que Lianor Vaz traz-
lhe a notícia que Pero Marques, continua casadoiro, de resto como este tinha prometido a Inês
aquando do primeiro encontro destes.

Inês casa com ele logo ali, e já no fim da história aparece um Ermitão que se torna amante da
protagonista.

O ditado “mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube”, não podia ser
melhor representado do que na última cena da obra quando o marido a carrega em ombros
até ao amante, e ainda canta com ela “assim são as coisas”.

Trata-se, portanto, de uma sátira aos costumes da vida doméstica, jogando com o tema
medieval da mulher como personificação da ignorância e da malícia.

Personagens

Inês: representa a moça casadoira, fútil, muito preguiçosa e interesseira, que se casa duas
vezes, apenas para se livrar do tédio da vida de solteira. Não conseguindo casar-se na primeira
tentativa, garante-se na segunda, com o marido ingénuo. Apesar de seu comportamento
impróprio, consegue até mesmo a simpatia do público pela inteligência com que planeja seus
passos.

Lianor Vaz: é a alcoviteira, mulher na época assim chamada que arrumava casamentos,
revelando que a base da família está corrompida.

Mãe: apesar de dar conselhos à filha, acha importante que ela não fique solteira e torna-se
cúmplice das atitudes dela.

Pero Marques: é o marido bobo mas um lavrador abastado. Apesar de ser ridicularizado por
Inês, ele casa-se como ela e deixa que ela o maltrate e o traía.

Escudeiro: Preocupado em encontrar uma esposa, finge, e engana, criando uma imagem de
"bom moço" que depois se revela um tirano, e deixa Inês presa na sua casa mas ele é morto
por um mouro.
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Moço: era um amigo do primeiro marido de Inês, que o ajuda a mentir para se casar com ela.

Ermitão: era o amante de Inês que depois se torna num padre.

Latão e Vidal: judeus casamenteiros.

Tempo

É um tempo dilatado, tendo o espectador dificuldade de se aperceber da sua passagem

Cómico

Encontramos, nesta farsa, cómico de situação ou de personagem em Inês, Pero Marquez e no


escudeiro; de situação na cena de ‘’namoro’’ de Inês com Pero Marquez; de linguagem na
carta e linguagem de Pero Marque e na fala dos judeus casamenteiros. Podemos considerar as
rezas e as pragas (esconjuros) como cómico de linguagem.

Objetivo da crítica vicentina

Gil Vicente critica:

 A mentalidade das jovens raparigas;


 Os escudeiros fanfarrões, galantes e pelintras;
 A selvajaria e ingenuidade de Pero Marquez;
 As alcoviteiras e os judeus casamenteiros;
 Os casamentos por conveniência;
 Os clérigos e os Ermitões.

Estrutura da peça

Nesta farsa não existem divisões cénicas, mas é possível dividi-la em 3 atos. De assinalar a
importância da divisão em espaço interior e exterior. De notar o paralelismo presente nos
contrastes que Gil Vicente estabelece na construção do monólogo e diálogo inicial da peça, e
no monólogo e diálogo ocorridos após a noticia da morte de Braz da Mata. É através destes
paralelismos e contrastes que Gil Vicente expressa a mudança ocorrida com Inês.

Podes esquematizar os 3 atos da seguinte maneira:


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Concluindo

Desta ação pode extrair-se que o que Inês mais queria, acabou por conseguir: a sua liberdade,
encontrada junto de Pero Marquez. A unidade da ação é dada pelo tema e pela personagem
principal, Inês Pereira.

Não há dúvida de que Gil Vicente demonstrou aos contemporâneos que nele não acreditavam,
e com esta peça, ser de facto, o grande criador das obras que fazia representar.

Caracterização das personagens:


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Inês Pereira

Inês é a personagem-tipo mais complexa de toda a história. Ao longo da peça, sofre uma
evolução (degradante) e, por isso, vai representar vários tipos sociais.

Inês solteira, é uma rapariga leviana e preguiçosa. Vê no casamento uma forma de se libertar
da mãe e de gozar da sua liberdade. Logo desde o início e ao longo de toda a peça mostra ser
astuta a planear as suas ações, contudo “sai-lhe o tiro pela culatra” quando casa com Brás da
Mata e recusa Pero Marques: julga os pretendentes não pelo caráter, mas pela aparência.

Após o casamento, Inês torna-se a mulher oprimida, porque Brás da Mata não a deixa sair de
casa e recebe alegremente a notícia de que este tinha sido morto na guerra por um mouro.

Decide, então, casar-se com Pero Marques que, apesar da rudeza, mostrava ser ingénuo e
complacente: o marido ideal para Inês poder gozar da sua liberdade há tanto desejada. Nesta
altura, torna-se na mulher adúltera desta história, fase final e mais degradante da personagem:
aproveita-se do pobre marido para a levar de encontro ao seu amante, o Ermitão, e ainda troça
da sua imbecilidade. Revela-se detentora de um caráter imoral e sem-vergonha.

Por toda a peça, Inês expressa a sua inteligência e ironia no planeamento dos seus passos.

Pero Marques

Pero Marques foi o primeiro pretendente de Inês, sugerido por Lianor Vaz. Inicialmente, esta
personagem representa o camponês rude e sem maneiras, até imbecil. É a personagem mais
ridicularizada da história, através do cómico de personagem, de situação e de linguagem.
Apesar de da primeira vez ter sido recusado por Inês, aceita casar-se com ela e não se
apercebe que está a ser traído por esta. É demasiado complacente com a mulher, deixando-a ir
onde bem entende e ainda carrega-a às costas para ir de encontro com o amante. Nesta fase,
tornasse no marido traído e enganado.

Brás da Mata

Brás da Mata aparenta ser, para Inês, o marido ideal: É um fidalgo discreto e meigo, que sabe
tocar viola. Todavia, a verdade é que não tem onde cair morto e o seu objetivo é o de casar
com uma rapariga rica e aproveitar-se do seu dote, para assim nunca mais ter de trabalhar.

Após o casamento com Inês, revela a sua verdadeira face: não deixa Inês sair de casa, nem falar
com ninguém e manda o Moço vigiá-la: é um marido tirano. Foi morto em combate por um
mouro o que, Inês revela, através da ironia, ter sido um ato covarde.

Brás da Mara é, deste modo, o ‘cavalo’ desta Farsa.


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Temas românticos

 Amor;
 Morte;
 Noite.

História Trágico-Marítima

A ação d’«As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)», parte da História
Trágico-Marítima, representa o lado desastroso de Portugal e decorre num período em que o
país se encontrava em decadência política, social e moral. A corrupção dos valores e a ganância
dos portugueses são criticados de forma subtil através da viagem narrada, representando a
nau Santo António uma metonímia de Portugal.
Os tripulantes e os passageiros da nau Santo António funcionam como uma personagem
coletiva cujas características contrastam com as qualidades e virtudes de Albuquerque Coelho.
São fortemente criticados não só pela sua falta de disciplina e de organização em momentos
críticos (l. 112: «levantaram-se grandes brigas e discórdias entre marinheiros e passageiros»)
mas também pela sua fraca personalidade, oscilando entre estados de otimismo e de
derrotismo (l. 387: «todos se alegraram muito»; l. 288: «cobertos pelo mar, todos se
convenceram de que se afogariam»).
As personagens deste grupo falham enquanto cristãos, dado que, perante condições
extremas de fome, medo e privação, perdem a fé e pensam em cometer atos abomináveis na
perspetiva da religião cristã, como o suicídio (ll. 429-430: «arrombar a nau para acabarem de
vez») e o canibalismo (ll. 424-425: «Certos homens, nesse transe, lembraram-se de pedir a
Jorge de Albuquerque a permissão de comerem aqueles cadáveres»).
Para além disso, também apresentam uma atitude cobarde e traiçoeira. Revelam falta de
coragem para enfrentar os adversários, já que pensam logo em se render aos corsários
franceses (l. 125) e apontam para Albuquerque como sendo o único responsável pela defesa e
resistência da nau, por medo das consequências (ll. 154-155).
Em contraste, Albuquerque Coelho constitui uma figura representativa do lado positivo da
ideologia patriótica. Sendo ele um indivíduo que incorpora os antigos valores da honra,
mantém-se fiel aos princípios e à prática da mensagem de Cristo, é abnegado (ll. 108-109:
«mandou colocar tudo adiante de todos e repartiu mui irmãmente pela companhia, sem nada
pretender para si próprio»), dedicado, corajoso e apresenta-se ao serviço da pátria e da fé (l.
34: «correndo risco de perder a vida no zeloso cumprimento dos seus deveres»). Não perde a
esperança mesmo nas mais difíceis circunstâncias, mostrando a sua personalidade forte
enquanto comanda e anima os companheiros (l. 44: «consolava e contentava a sua gente»).
Estes relatos representam o lado negro e anti-heroico de Portugal e do seu Império.
Metaforicamente, os naufrágios, decorrentes dos perigos e dificuldades da viagem,
manifestam-se como o resultado da ganância e corrupção dos portugueses da metrópole que
traíram os valores pátrios e religiosos. Critica-se a ganância, quando a nau revela problemas de
navegação por ir sobrecarregada (ll. 75-76: «por isso que a nau lhes mareava mal, pela muita
carga com que dali partira»).
Em conclusão, o texto recorre aos desastres marítimos como metáfora da decadência de
Portugal e apresenta um modelo de caráter a seguir pelos demais portugueses, o qual surge
personificado por Alburquerque Coelho.

11ºAno
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Diferenças entre o clássico e o romântico

Clássico Romântico
Predomínio da razão. Predomínio do sentimento e da imaginação.
Culto da Antiguidade Clássica. Culto da Idade Média.
Objetividade. Subjetividade.
Equilíbrio, disciplina e clareza. Arrebatamento, exaltação.
Representação de um homem saudável, Representação de um homem carregado de
moralista, disciplinado. traumas, indisciplinado, instável e
egocentrista.
Gosto pela vida em sociedade. Gosto pela vida solitária e isolada.
A mulher é representada como deusa (um A mulher é representada como um anjo ou
reflexo do amor, divino, platónico). como um demónio.
Amor racional, intelectualizado. Amor sentimental e físico (sensorial).
Natureza luminosa, colorida, alegre e suave Natureza sombria, melancólica (locus
(locus amenus). horrendus).
Versificação rígida. Versificação livre.

Sermão de Santo António Aos Peixes (Padre António Vieira)

Introdução

O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em
1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no Brasil. O Sermão de
Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente

imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários
peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos vícios daqueles
colonos. Com uma construção literária e argumentativa notável, o sermão tem como
objectivo louvar algumas virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade
alguns vícios dos colonos. Este sermão foi pregado três dias antes de Padre António Vieira
embarcar ocultamente para Portugal, onde pretendia obter uma legislação mais justa para
os índios, projudicando assim os interesses dos colonos europeus. Pode-se especular que a
sua saída precipitada do Brasil se devia, pelo menos em parte, ao receio de represálias por
parte dos colonos.

Estrutura externa do sermão

Exórdio - capítulo I - apresentação do tema que vai ser tratado no sermão, a partir do
conceito predicável (vós sois o sal da terra) e das ideias a defender e que, geralmente,
termina com uma breve oração, invocando a Virgem. Esta parte reveste-se de grande
importância dado que é o primeiro passo para captar a atenção e benevolência dos
ouvintes.
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Exposição e confirmação - capítulos II a V - Retoma a explicitação do assunto, com uma


breve explicação da organização do discurso; desenvolvimento e enumeração dos
argumentos, contra-argumentos, seguidos de exemplos e/ou citações. A exposição situa-se
desde o início do capítulo II até … Santo António abria a sua [boca] contra os que não se
queriam lavar. , no capítulo III; e a confirmação começa a partir de Ah moradores do
Maranhão, enquanto eu vos pudera agora dizer neste caso! e termina no final do capítulo V.

Peroração/epílogo - capítulo VI - conclusão do raciocínio com destaque para os argumentos


mais importantes. Saliente-se que esta é a parte que a memória dos ouvintes melhor
retém, pelo que deverá conter os aspectos principais desenvolvidos no sermão, de modo a
deixar clara a mensagem veiculada e a levar os ouvintes a pôr em prática os seus
ensinamentos.

Estrutura interna do sermão

Exórdio: o Padre António Vieira apresenta o conceito predicável, “Vós sois o sal da Terra” e
explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. Ou a culpa está no sal (pregadores),
ou na terra (ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não pregam a
verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque se pregam a si e
não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina,
ou antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites
e não os de Cristo.

Exposição e confirmação

Capítulo II - contempla os louvores aos peixes de carácter geral, que são os seguintes:

. ouvem e não falam;

. foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros que Deus criou);

. são melhores que os homens (e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os
peixes);

. existem em maior número (entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os
maiores);

. revelam obediência (aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra
de vosso Criador e Senhor);

. revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a
palavra de Deus da boca do seu servo António. (...) Os homens perseguindo a António
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(...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às suas
palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam.);

. não se deixam domesticar (só eles entre todos os animais se não domam nem
domesticam)

Estas qualidades são, por antítese, os defeitos dos homens.

Capítulo III – contempla igualmente os louvores aos peixes, mas agora de carácter
particular e apenas dos seguintes peixes:

do peixe de tobias: cura a cegueira [(...) sendo o pai do Tobias cego, aplicando-lhe o filho
aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista] e seu coração expulsa os
demónios [(...) tendo um demónio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou
com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração, fugiu dali o demónio e
nunca mais tornou];

da rémora: é pequena no corpo mas grande na força e no poder [“(...) se se pega ao leme
de uma nau da índia (...) a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder
mover, nem ir por diante.”; “Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta força
como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo!”;
“(...) a virtude da rémora, a qual, pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”];

do torpedo: faz descargas eléctricas para se defender e, consequentemente, faz passar o


bom e a virgindade do Espírito Santo (Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo
e a bóia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço.
Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito? De maneira que, num momento,
passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol, à linha, da linha à cana e da cana
ao braço do pescador);

do quatro-olhos: vê para cima e para baixo – dois olhos voltados para cima para vigiarem as
aves e dois olhos voltados para baixo para vigiarem os peixes – e representa a capacidade
de distinguir o bem do mal (céu/inferno) ["Esta é a pregação que me fez aquele peixezinho,
ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo olhar direitamente para cima, e só
direitamente para baixo: para cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me
que há Inferno"].

Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são antíteses aos defeitos
doshomens, assim simbolizando os seus vícios.

Capítulo IV – repreensão dos peixes em geral:


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. comem-se uns aos outros [(...) é que vos comedes uns aos outros];

. os peixes grandes comem os mais pequenos (não só vos comeis uns aos outros, senão
que os grandes comem os pequenos);

. “se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas
como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só
grande”.

Capítulo V – repreensão em particular

dos roncadores: embora tão pequenos, roncam bastante, simbolizando assim os arrogantes
(É possível que sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?);

dos pegadores: sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os largando mais e
simbolizando os oportunistas e os parasitas (Pegadores se chamam estes de que agora falo,
e com grande propriedade, porque sendo pequenos não só se chegam a outros maiores,
mas de tal sorte se lhe pegam aos costados, que jamais os desferram);

dos voadores: sendo peixes, também se metem a ser aves, simbolizando os vaidosos [Dizei-
me, voadores, não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos metei a ser aves? (...)
Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes];

dos polvos: tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo, mas na essência é
traiçoeiro, maldoso e hipócrita e faz-se de amigo dos outros e no fim, representando assim
os traidores e os hipócritas “abraça-os” [E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta
hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar].

Peroração: o orador retoma os pregadores de que falava no conceito predicável, servindo-


se dele próprio como exemplo alegando que não estava a cumprir a sua função. Alega
também que ele (homens) e os peixes, nunca vão chegar ao sacrifício final, uma vez que os
peixes já vão mortos e os homens vão mortos de espírito. Padre António Vieira diz que a
irracionalidade, a inconsciência e o instinto dos peixes, são melhores do que a
racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a vontade do homem.

Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta
última parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a
proximidade entre os ouvintes e o orador.

Recursos estilísticos predominantes


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O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida em que os peixes são a
personificação dos homens. O Padre António Vieira toma como ponto de partida uma frase
bíblica irrefutavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua época. A pessoa
gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda, visto que o seu objectivo é persuadir e
contar com a adesão dos ouvintes.

Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência
textual graças à utilização de recursos estilísticos, nomeadamente: a anadiplose, a antítese,
a apóstrofe, a comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação retórica,
a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a metáfora, o paradoxo, o quiasmo e
o trocadilho.
O discurso figurativo: a alegoria, a comparação, a metáfora; - outros recursos expressivos: a
anáfora, a antítese, a apóstrofe, a enumeração e a gradação.

Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco)

Características da novela

 Concentração de episódios conducentes à ação principal e consequente ausência de


episódios colaterais;
 Rapidez do ritmo narrativo;
 Número reduzido de personagens;
 Concentração do espaço e do tempo;
 Quase inexistência de descrição;
 Ausência de digressões;
 Frequência do diálogo como expressão dos momentos de tensão dramática;
 Extensão (menor do que a do romance).

Tempo da história

 A ação decorre nos finais do século XVIII, inicio do século XIX.


 A ação principal dura 6 anos: de 1801 a 1807.
o 1801 – Simão tem 15 anos; Domingos Botelho é corregedor em Viseu;
o 1803 – Teresa escreve a Simão, dizendo-lhe que o seu pai a ameaça de ir para o
convento;
o 1804 – Simão é preso com 18 anos;
o 1805 – 1807 – Simão encontra-se preso, antes de ser degredado;
o 1807 – Simão parte para o degredo, na Índia a 17 de março;
o 1807 – A 28 de março, Simão morre e é lançado, ao mar.

Personagens

 Simão
 Nasce em 1784.
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 Tem 15 anos, à data de inicio da ação, em 1801; estuda humanidades em


Coimbra.
 Características hereditárias psíquicas e fisionómicas (anúncio do realismo):
“génio sanguinário”, rebeldia e coragem, inconformismo político – herança de
seu tio paterno, Luís Botelho (que matara um homem, em defesa de seu irmão
Marcos) e de seu avô paterno, Fernão Botelho (que fora encarcerado por
suspeita de uma tentativa de regicídio, em 1758 (cf. Cap. I) e ainda de seu
bisavô Paulo Botelho Correia (que era considerado”o mais valente fidalgo que
dera Trás-os-Montes” (cf. Cap. I). É belo como a sua mãe, ainda que viril.
 Após a visão de Teresa, Simão transforma-se: distancia-se da ralé de Viseu;
torna-se caseiro; cumpre os seus deveres de estudante; passeia pelo campo,
procurando o espaço natural, em detrimento do espaço social.
 Quando Teresa é obrigada a sair da janela, local onde via Simão e,
posteriormente, quando lhe comunica o desejo do seu pai de que ela se case
com o seu primo Baltasar, Simão revela-se de novo rebelde. A par desta faceta,
irá porém surgir uma outra: a sua nobreza de alma, que se manifesta no
momento em que deseja poupar um dos criados de Baltasar, que tentara
matar Simão, pelo facto de o homem se encontrar ferido.
 Surge, entretanto, mais outra faceta de Simão: a de poeta, que se manifesta
nas cartas que escreve a Teresa (cf. Cap. X).
 O seu sentimento exacerbado de honra é também notável – ele manifesta-se
pelo facto de Simão enfrentar sempre aqueles que se lhes opõem, pelo facto
de se ter negado a fugir, depois de ter morto Baltasar, em legítima defesa, e
ainda por recusar qualquer ajuda da família, aceitando a sua condenação à
forca e, depois, ao degredo. O seu código de honra conduzi-lo-á, em última
análise, à sua tragédia. Este sentimento valer-lhe-á a admiração de
personagens como João da Cruz e ainda daquelas que se situam numa esfera
social marcada por valores conservadores, como é o caso do desembargador
Mourão Mosqueira.
 O sentimento de dignidade é, por outro lado, inseparável da possibilidade de
realização do seu amor – é assim que Simão não acede ao pedido de Teresa,
para que cumpra os dez anos de pena, em Portugal, na cadeia, afirmando:
“Quero ver o céu no meu último olhar, não me peças que aceite dez anos de
prisão. Tu não sabes o que é a liberdade cativa dez anos! Não compreendes a
tortura dos meus vinte meses.” Com efeito, para Simão o amor associa-se à
liberdade e à sua integridade pessoal. Simão representa o herói romântico
antissocial, por excelência. Ele significa a oposição a uma sociedade podre e
aos seus valores anti-humanos. Na sua última carta a Teresa, incluída no Cap.
XIX, escreve: “Vou. Abomina a pátria, abomina a minha família; todo este solo
está nos meus olhos coberto de forcas, e quantos homens falam a minha
língua, creio que os ouço vociferar as imprecações do carrasco. Em Portugal,
nem a liberdade tem opulência; nem já agora a realização das esperanças que
me dava o teu amor, Teresa!”.
 Morre a 28 de março de 1807, no beliche do navio que o transportava para o
degredo e o seu corpo é lançado ao mar.
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 Teresa
 Tem 15 anos.
 Destaca-se pela sua beleza.
 É o paradigma da mulher-anjo, pela sua delicadeza e pela grandiosidade dos
seus sentimentos.
 Revela autonomia, para a época, sobretudo, quando se recusa a casar com
Baltasar.
 É astuta, determinada e orgulhosa.
 Manifesta uma força de vontade e uma desenvoltura viris.
 Esta personagem não tem uma evolução psicológica, pelo que é considerada
uma personagem plana.
 Mariana
 Tem 24 anos.
 O narrador salienta a sua beleza física.
 Caracteriza-se pela sua intuição, pelo poder de predição, enfim, pelo
misticismo popular.
 Apresenta complexidade humana, ao nível das emoções que experimenta e da
esperança que acalenta de poder ser amada por Simão e ficar junto dele.
 Esta personagem apresenta a evolução psicológica, pois o seu amor motiva as
suas esperanças e os seus desalentos, oscilando entre emoções que fazem
vibrar a sua dimensão humana.
 João da Cruz
 É uma personagem que se aproxima bastante do protótipo do homem popular
português.
 Pela antítese das emoções que experimenta e pelas atitudes que apresenta, é
considerado o tipo do “bom bandido”.
 Ele é, simultaneamente, bondoso, grato, corajoso e violento.
 Caracterizam-no, ainda, a sua linguagem de cariz popular, pelo realismo da
expressão.
 Baltasar
 É a personagem que, pelos seus defeitos, se opõe a Simão, fazendo sobressair
as qualidades exemplares do herói.
 É cobarde, mesquinho e vingativo.
 A sua vaidade torna-o incapaz de esquecer o seu orgulho ferido e de
compreender o amor que Simão e Teresa sentem um pelo outro.
 Representa os valores sociais instituídos e fossilizados, contribuindo para a
tragédia final.
 Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho
 Representam o antagonismo motivado pelo preconceito de honra social.
 São inflexíveis nas suas decisões e baseiam-se no seu próprio orgulho e nas
suas conveniências sociais.
 Preferem perder os filhos, reduzindo-os à dimensão de objetos, a perder a
dignidade social.
 D. Rita Preciosa
 Representa a convencionalidade do sentimento materno – age mais por
obrigação familiar do que por motivos afetivos; ajuda Simão porque esse é o
seu papel e não porque o amor de mãe a leve a perdoar e a compreender as
atitudes do filho.
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 Ritinha
 Distingue-se das outras irmãs de Simão pela sua capacidade afetiva.
 Representa, para Simão, o único laço familiar genuíno. Porque é conduzida por
aquilo que sente e não pelas convenções que lhe são impostas.
 A sua ligação a Simão leva-a a ser ela a relatora da sua história ao autor da
obra, quando este era criança.

Simbologia

 As grades simbolizam, não apenas as grades materiais que aprisionam Simão, mas aos
grilhões sociais que o condenam e motivam a sua clausura.
 A janela, elemento que aparece na história amorosa shakespeariana, Romeu e Julieta,
é o local onde os dois amantes se veem pela primeira vez. Elemento de ligação entre o
interior e o exterior, a janela está conotada simbolicamente com a interioridade de
Simão e de Teresa e com a sociedade. Ela funciona, então, como cisão entre as
personagens e o espaço social em que estas se inserem. Associada aos olhos, órgãos
de perceção (a janela também se liga à recetividade da luz exterior) que, por sua vez,
são “o espelho da alma”; a sua simbologia situar-se-á ainda ao nível de dois outros
espaços presentes na obra, através dos sentimentos das personagens: o aqui (espaço
terreno de hostilidade) que se opõe ao além (espaço da esperança e da ilusão
fecundante).
 Os fios simbolizam a ligação eterna dos amantes, que não se desfaz após a morte (os
fios envolvem as cartas de Teresa a Simão); a sua significação remete para a união total
do par amoroso. Por outro lado, os fios são também o símbolo da união dos diferentes
estados da existência – Simão e Teresa acreditam que permanecerão unidos após a
morte. Aliás, o facto de as cartas e os respetivos fios que as envolviam terem sido
lançados ao mar, espaço ligado à criação e à vida, permite a reafirmação desta ideia. O
fio remete igualmente para o destino, ligado ao mito das três parcas (a primeira dá o
fio, ou seja, a vida, a segunda enrola-o – trata-se da fase que corresponde à vida do
individuo – e a terceira corta-o – é o momento da morte). Aqui, o tempo associa-se ao
destino que terá que ser cumprido. Os fios separam-se das cartas, após a morte das
personagens, quando mariana, suicidando-se, as remete para o elemento líquido.
Podemos ainda relacionar os fios com a aranha, isto é, o fio evoca, neste sentido, a
ilusão, a realidade enganadora. Não esqueçamos que as grades que aprisionaram
Simão e Teresa não são mais do que o alargamento e a equivalência simbólica dos fios
(os fios da aranha formam a teia, que aprisiona os seres que nela caem). Simão, após a
morte, é envolto num lençol, o lençol, que lembra o sudário de Cristo e representa o
amor, a paixão, o sofrimento e a morte dos humanos (etimologicamente paixão
significa morte). Cristo morreu para redimir os pecados dos homens; Simão morre
vítimas dos seus iguais.
 O mar. O corpo de Simão é deitado ao mar, fonte de vida e, metaforicamente, local de
renascimento. O mar espelha o céu, o espaço em que os amantes acreditavam como
único local onde poderiam realizar o seu amor puro, mas condenado pelos homens.
 O avental assume, na obra, um valor polissémico – por um lado, associa-se à condição
social de Mariana; por outro, liga-se ao sofrimento, pois é com ele que Mariana limpa
as lágrimas que chora por Simão. Este elemento do traje de Mariana encontra-se,
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também, no âmbito da referência ao seu estado de loucura ao saber que Simão ia ser
preso – é assim que, na cadeia da Relação do Porto, Simão tem sobre uma mesa um
caixote de pau-preto que, para além de conter as cartas de Teresa, “ramalhetes secos,
os seus manuscritos do cárcere de Viseu”, guardava igualmente o avental de Mariana,
“o ultimo com que ela, no dia do seu julgamento, enxugou as lágrimas e arrancara de
si no primeiro instante de demência”. Simão, antes, pedir a João da Cruz que cuidasse
de sua filha, pois ela tinha nascido “debaixo da [sua] má estrela”, o que a condenava a
um irremediável sofrimento motivado por um amor que não era correspondido. A
simbologia do avental reúne, deste modo, o trabalho e o martírio, significando o
percurso de Mariana na terra uma forma de purificação. No último capitulo, Mariana
atira-se ao mar para se juntar a Simão e o comandante do navio que transportava
Simão para o degredo viu “enleado no cordame, o avental, e à flor da água um rolo de
papéis que os marujos recolheram na lancha”.

Poesia

ANTERO DE QUENTAL

Antero de Quental é uma das figuras mais brilhantes da cultura e literatura portuguesas de
todos os tempos. Só se pode concordar com Brunello De Cusaris quando este diz:
“ Antero na minha opinião , tem uma tal dimensão que, numa hipotética escala de valores dos
escritores portugueses, ocuparia uma posição semelhante à de Camões e Pessoa, ou seja,
aqueles que são considerados os maiores, senão mesmo, segundo alguns, os únicos capazes de
representar Portugal no Olimpo literário. “ ( 1 )
Porém, embora sendo assim, e a maior parte das pessoas concordem, Antero tem sido
também uma figura bastante, ou frequentemente, esquecida. E, comparando a sua fama e
conhecimento com a fama e conhecimento que um Pessoa, um Camões ou mesmo um
Saramago usufruem, chegamos à conclusão que Antero pode ser considerado uma espécie de
marginal no Olimpo das letras portuguesas.

Antero de quental não só é uma das figuras mais brilhantes da literatura e cultura portuguesas,
como também uma das mais originais, diria mesmo uma figura única: que eu saiba não há nem
houve em toda a nossa literatura, para além dele, outro poeta-filósofo. Poeta –filósofo e não
só, ( também foi polemista, político e ensaista ) que brilhou em ambas as disciplinas. No
entanto, o que nos interessa nesta reflexão não é falar propriamente do filósofo, do político da
personalidade, ou da sua vida, mas sim do homem poeta como lírico de grande importância
dentro do panorama da literatura portuguesa.

Num artigo dedicado à importância da poesia de Antero de Quental dentro da tradição lírica
portuguesa, diz-nos David Mourão- Ferreira que ao poeta Antero:
“ Todos, ou quase todos, lhe reconhecem o lugar a que indiscutivelmente tem direito – e que é
um lugar de primeira plana, entre os maiores poetas de todos os tempos. É certo, no entanto,
que o valor especificamente “ poético “ dessa obra e a significação de que ela se reveste, como
“ acontecimento capital “ da nossa tradição lírica, são aspectos geralmente secundários, ou
inexistentes na bibliografia que lhe tem sido consagrada. “ ( 2 )
Segundo o mesmo autor, um pouco mais à frente, ainda no mesmo artigo, “ isto não admira
que assim aconteça.“ E, de facto, David Mourão-ferreira tem razão, pois a fascinante
personalidade de Antero com os nobres acidentes da sua acção social, tanto os reais como os
sonhados, teriam inevitavelmente que prender, em primeiro lugar, a atenção da crítica.
Relegando, assim, o poeta e o valor da sua obra lírica para um segundo plano. Porém, e de
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novo fazemos uso das palavras de David Mourão- Ferreira, “ talvez vá sendo tempo de a
apreciarmos também como “ fenómeno de poesia “ e de não a entendermos apenas como “
fenómeno de cultura. “ ( 3 )

Antero Quental foi sobretudo sonetista. Na sua linguagem poética há um “agudo sentido do
ritmo e um extraordinário poder de concisão. “ ( 4 ) Estas duas características da poesia de
Antero, são-lhe, no entanto, ( isto descobre-se logo à primeira leitura ) inerentes e naturais,
quase se pode dizer que a expressão poética de Antero é espontânea. Esta capacidade de se
exprimir de forma tão natural, ou mesmo à vontade, dentro de uma composição com uma
forma tão severa, como é o caso do soneto, só a encontramos, por vezes, em Bocage e em
paridade com Antero, em Camões.

E se é verdade que o Soneto é uma forma poética apropriada a uma linguagem conceptual
dialéctica, com a sua tese, antítese e síntese, e este facto fascine Antero, também é verdade
que Antero diz : “ há mais de vinte anos que faço sonetos , e todavia nunca escolhi esse género
nem estudei nos mestres os segredos especiais daquela forma; levou-me para ali uma
predilecção impensada e singular... “ ( 5 )
Quer isto dizer que a poesia de Antero, embora sendo conceptual, consegue-nos, graças à sua
força expressiva, espontânea e natural, falar ainda antes de qualquer tentativa de
interpretação. Quanto ao carácter espontâneo desta poesia diz-nos também o próprio poeta o
seguinte: “ nunca pretendi ser poeta nem me preparei para isso com estudo e aplicação: mas
não sei como, tenho sempre encontrado a poesia a meu lado, e espontaneamente, quase
involutariamente, têm revestido a forma poética o meu pensar e o meu sentir ( coisas que em
mim andam sempre muito irmãs ) ... “ ( 6 )

Ler um poema de Antero é, antes de tudo, sentir a potência do ritmo das palavras, a sua força
ontológica. O leitor sente-se maravilhado ao ser confrontado com aquela linguagem que
poderemos nomear de transcendental. Podemos deste modo afirmar que a poesia de Antero é
sobretudo musical, pois ela tem as suas origens no mundo do inconsciente, pré-racional. Ela,
tal como a música, faz-nos compreender tudo para além de toda e qualquer compreensão,
ainda antes de qualquer interpretação; deixa-nos ver com os olhos da alma, dirge os nossos
pensamentos e sentimentos para o alto. “ Ela é exclusivamente psicológica e dantesca: não
pode pintar nem descrever: acha isso quase indigno. “ ( 7 ) Nela vibra a autenticidade inerente
a toda a poesia moderna, a sua essência é, em primeiro de tudo atemporal – tal como a
própria música.

A poesia de Antero de Quental é, também e sobretudo, violenta, é uma poesia dos extremos.
O homem dionisíaco e o apolínieo gladiam-se constantemente. Já António Sérgio observava
que em Antero viviam duas almas: uma dionisíaca outra apolínea. E isto repercurte-se ao longo
de toda a sua poesia. Assim podemos compará-la a um grito ou a uma sinfonia de Beethoven.
Ela movimenta-se sempre à beira dos precipícios, nos limites. Como um equilibrista na corda
bamba, Antero avança e recua... umas vezes fala-nos o poeta da razão, dos meio-dias, da voz
clara , do equilíbrio, da suprema justiça, o cantor homérico, que acredita na medida e na razão:

Razão, irmã do Amor e da Justiça,


Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Ou:
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Eu amarei a santa madrugada,


E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.

Viva e trabalhe em plena luz: depois,


Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro Sol, amigo dos heróis.

Outras, por sua vez, fala-nos o homem nocturno, a voz do caos, vinda das profundezas
inavegáveis. São os daimonen erguendo-se do seu longo sono, arrastando o poeta consigo,
deixando-o provar o vinho dos imcompreendidos, a fome das almas nocturnas, a solidão e toda
a dor humana. O poeta sente-se dividido e abandonado. Agora ele já não acredita na igualdade
nem na fraternidade... já não acredita em nada. Ele vê-se caido num buraco sem fundo. A
realidade e o sonho são monstruosos:

Espectros que velais enquanto a custo


Adormeço um momento, e que, inclinados
Sobre os meus sonos curtos e cansados,
Me encheis as noites de agonias e sustos.

De que me vale a mim ser puro e justo,


E entre combates sempre renovados
Disputar dia a dia à mão dos fados
Uma parcela do saber augusto,

Se a minha alma há-de ver, sobre si fitos,


Sempre esses olhos trágicos e malditos!
Se até dormindo, com angústia imensa,

Bem os sinto verter sobre o meu leito,


Uma a uma verter sobre o meu peito
As lágrimas geladas da descrença!

Esta violência e revolta, bem como as duas almas dentro do mesmo homem, uma de carácter
luminoso, outra de carácter nocturno, vamos encontrá-las, mais tarde, igualmente na poesia de
dois poetas maiores do Modernismo português: Sá-carneiro e Pessoa. Ambos estes poetas
sofrem do mesmo mal que Antero - do drama da identidade e da unidade solar do sujeito.
A poesia de Antero pode ser, neste aspecto, considerada como precursora dos dois poetas
maiores do I Modernismo. Embora nenhum deles o tenha considerado como tal. Contudo,
ambos, tal como Antero, viveram o drama da divisão da identidade de uma maneira violenta.
Em Sá-Carneirno encontramos sempre o “ eu próprio “ e o “ outro “ ou “ aquele outro “ Este,
tal como Antero, encontra no suicídio o último recurso.... Pessoa, por sua vez, diz que não sabe
quem é, nem que alma tem. E por isso cria os heterónimos, conseguindo atingir um certo
equilíbrio entre o ser e a consciência individual, entre a razão e o misticismo, entre a forma e o
caos, escapando assim ao suicídio.
Como exemplo do drama-dual existente em pessoa, basta pensarmos no próprio Fernando
Pessoa de um lado e Ricardo Reis do outro ou em Alberto Caeiro e álvaro de Campos . Não
exemplificam cada um destes pares o conflito de dois espíritos diferentes em luta
permanente... tal como acontece no caso do nosso Antero?
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Contudo, a poesia de Antero, tal como toda a poesia moderna, embora partindo do dualismo,
aspira, antes de tudo, à dignidade cósmica e pretende, por isso, anular em si todos os
antagonismos e dicotomias que perseguem o homem... deste modo podemos encontrar em
muitos dos sonetos de Antero o desejo da anulação total do “eu “ de carácter budista, ou seja,
o Nirvana:

E quando o pensamento, assim absorto,


Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais,

À bela luz da vida, ampla, infinita,


Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais.

Não é também isto uma das características maiores de toda a poesia moderna: o desejo da
anulação do eu? Referindo-se a este desejo de anulação do eu, diz-nos Octavio Paz numa
conferência proferida em 1954 sobre o Surrealismo:
„ Com uma diferença de mais de dois mil anos, a poesia ocidental descobre algo que constitui o
cerne da doutrina budista, ou seja, que o eu não passa para lá de uma ilusão, de um enxame
de sensações, pensamentos e ambições. “ ( 8 )
Ora como vemos, Antero é um poeta verdadeiramente moderno, poi ele sabe ( não é
necessário que isto aconteça conscientemente ) “ que na poesia, pela voz encontrada do poeta,
nós somos o momento durativo presente, somos a infância, a duração futura, a anterior , um
átomo, a totalidade do cosmos.” ( 9 )

Para terminar, gostaria ainda de lembrar que Antero foi igualmente um dos primeiros poetas a
fazer crítica literária em Portugal, ou antes, a fazer crítica literária de uma maneira séria e não
lisonjeira e, também, grande cultivador do ensaio. Esta tendência de poeta e crítico literário,
bem como o cultivo do ensaio, solidificou-se entre os poetas do séc. XX com Pessoa, no
primeiro Modernismo, depois com José Régio no segundo Modernismo, continuando com
muitos outros e entre eles dois excepcionais: David Mourão-Ferreira e Vitorino Nmésio. Hoje
podemos dizer que existe em Portugal uma verdadeira tradição de poetas que são ao mesmo
tempo poetas, críticos literários e ensaistas . muitos dos poetas maiores da nossa lírica
comtemporânea fazem também critica literária e escrevem ensaios. Alguns exemplos: António
Ramos Rosa, Gastão Cruz, Fernando Guimarães, Ruy Belo, Luís Miguel Nava etc.
Ora, como acabamos de exemplificar, Antero pode ser considerado um verdadeiro precursor
desta tradição entre nós.

Por estas coisas e por muito mais poderemos dizer que Antero de Quental é um poeta
moderno clássico, por isso sempre atual; um poeta que ultrapassou as barreiras do tempo
histórico em que viveu e que merece ser lido e visto como um dos grandes “acontecimentos
poéticos “dentro da tradição lírica portuguesa de todos os tempos e um dos grandes
precursores da modernidade.

A angústia existencial. Configurações do Ideal. Linguagem, estilo e estrutura: - o discurso


conceptual; - o soneto; - recursos expressivos: a apóstrofe, a metáfora, a personificação.

COM OS MORTOS
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Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,

arrastados no giro dos tufões,

Levados, como em sonho, entre visões,

Na fuga, no ruir dos universos...

E eu mesmo, com os pés também imersos

Na corrente e à mercê dos turbilhões,

Só vejo espuma lívida, em cachões,

E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...

Mas se paro um momento, se consigo

Fechar os olhos, sinto-os a meu lado

De novo, esses que amei vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,

Juntos no antigo amor, no amor sagrado,

Na comunhão ideal do eterno Bem.

Antero de Quental, in "Sonetos"

Cesário Verde

A representação da cidade e dos tipos sociais. Deambulação e imaginação: o observador


acidental. Perceção sensorial e transfiguração poética do real. O imaginário épico (em “O
Sentimento dum Ocidental”): - o poema longo; - a estruturação do poema; - subversão da
memória épica: o Poeta, a viagem e as personagens. Linguagem, estilo e estrutura: - estrofe,
metro e rima; - recursos expressivos: a comparação, a enumeração, a hipérbole, a metáfora,
a sinestesia, o uso expressivo do adjetivo e do advérbio.

Poesia:
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- Parnasianismo: “arte pela arte”  Tendência artística que procura a confeção perfeita
através da poesia descritiva. Preocupação com a perfeição, o rigor formal, a regularidade
métrica, estrófica e rimática. Retorno ao racionalismo e às formas poéticas clássicas. Busca
da impessoalidade e da impassibilidade.

- Impressionismo:

 Acumula pormenores das sensações captadas e recorre às sinestesias.


 As palavras antecipam a simbolismo.

- Poeta-pintor:

 Capta as impressões da realidade que o cerca com grande objetividade;


 Transmite as perceções sensoriais.

- Pintura literária e rítmica de temas comuns e realidades comezinhas, escolhendo as


palavras que melhor os refletem.

- Não canta motivos idealistas, mas coisas que observa a cada instante; descreve ambientes
que nada têm de poético.

- Não dá a conhecer-se, nem dá a conhecer o que sente -> oposto ao romantismo

- Recorre raramente à subjetividade -> imaginação transfiguradora

- Poesia do quotidiano: nasce da impressão que o “fora” deixa no “dentro” do poeta

- Interesse pelo conflito social do campo e da cidade.

- Nível morfossintático: expressividade verbal, adjetivação abundante, rica e expressiva


(hipálage), precisão vocabular, colorido da linguagem, frases curtas e acumulativas,
quadras em versos decassilábicos ou alexandrinos.

- O mito de Anteu permite caracterizar o novo vigor que se manifesta quando há um


reencontro com a origem, com a mãe-terra. É assim que se pode falar deste mito em
Cesário Verde na medida em que o contacto com o campo parece reanimá-lo, dando-lhe
forças, energias, saúde.

Binómios e Dicotomias em Cesário Verde:

Cidade Campo

Mulher fatal Mulher angélica

Morte Vida

- Cidade: - deambulação do poeta; melancolia; monotonia; “desejo absurdo de viver”;


vícios; fantasias mórbidas; miséria; sofrimento; poluição; cheiro nauseabundo, seres
humanos dúbios e exploradores; ricos pretensiosos que desprezam os humildes; incomoda
o poeta e os trabalhadores que nela procuram melhores condições de vida.
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Mulher citadina: fatal, frígida, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem


sentimentos, erótica, artificial, predadora, vampírica, formosa, fria, altiva.

Subjetividade do tempo e a morte: cidade = certeza para a morte

- Campo: - vida rústica de canseiras, vitalidade, saúde, liberdade, rejuvenescimento, vida,


fertilidade, identificação do poeta com o povo campesino, local de trabalho onde acontece
alegrias e tristezas (oposto ao local paradisíaco defendido por poetas anteriores).

Mulher campesina: proporciona um amor puro e desconfinado, frágil, terna, ingénua,


despretensiosa.

Subjetividade do tempo e a morte: Salvação para a vida.

Poemas:

- “Bairro Moderno”:

 Poema representativo da cidade


 Transfiguração de elementos do campo para a cidade
 Poesia do quotidiano

- “Contrariedades”: -

 Poesia do quotidiano.
 Impressão que o “fora” deixa na alma do poeta (cruel, frenético, exigente,
impaciente)
 Alteração do estado de espírito -> causa: depravação nos usos e nos costumes;
injustiça da vida pela doença que destrói a vizinha (abandono e exploração); recusa
dos jornais em publicarem os seus versos; fim do poema: intervencionismo,
denuncia e acusação do mundo injusto e pouco solidário.

- “O sentimento dum Ocidental”:

 Poema representativo da cidade em várias fases do dia


 Poesia do quotidiano
 Capturação de factos sem referir causa/efeito
 Opção pelas formas impessoais, construções nominais e sinestesias (materializar o

- “Cristalizações”:

 Poema representativo da cidade


 Poesia do quotidiano

- “Nós”:

 Poema representativo do campo


 Crítica à cidade
 Campo: refúgio dos males da vida e recordação da família.
 Oposição entre sociedades industriais e sociedades rurais
 Oposição entre proprietários e trabalhadores
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- “De Tarde”

 Poema representativo do campo

- “Em Petiz”

 Poema representativo do campo

-“De Tarde”

 Tom irónico em relação aos citadinos


 Recordação do passado: companheira e campo

- “Deslumbramentos”

 Poema representativo da mulher citadina

- “Vaidosa”

 Poema representativo da mulher citadina


 A mulher arrasta para a morte

- “Esplêndida”

 Poema representativo da mulher citadina


 A mulher arrasta para a morte

- “Frígida”

 Poema representativo da mulher citadina


 Mulher -> símbolo direto da própria morte

- “A Débil”

 Mulher campesina retratada na cidade.

Deslumbramentos

 Mulher, produto de convenções mundanas e identificação com a cidade: 1.ª


estrofe.
 Mulher fatal de humilhante indiferença como a mulher de "Les Fleures du Mal" de
Baudelaire: "gestos de neve e de metal", "Grande dama fatal, sempre sozinha/E
com firmeza e música no andar!"
 Mulher, arcanjo e demónio: 6.ª estrofe.
 Erotismo de humilhação: redução do amante à condição de servo: vv.15, 16; 26-28.
 Transposição do plano individual para o plano coletivo: vingança contra a ordem
social personificada pelas "miladies": duas últimas estrofes.

Fernando Pessoa Ortónimo


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Resumos Literatura Portuguesa 1
Exames 2011

O fingimento artístico. A dor de pensar. Sonho e realidade. A nostalgia da infância.


Linguagem, estilo e estrutura: - recursos expressivos: a anáfora, a antítese, a apóstrofe, a
enumeração, a gradação, a metáfora e a personificação

Síntese

 Em Fernando Pessoa, há uma personalidade poética ativa, designada de ortónimo, que


conserva o nome do seu criador e uma pequena humanidade, formada por heterónimos, que
correspondem a personalidades distintas.

 No ortónimo, coexistem duas vertentes: a tradicional, na continuidade do lirismo português, e


a modernista, que se manifesta como processo de rutura. Na primeira, observa-se a influência
lírica de Garrett ou do sebastianismo e do saudosismo, apresentando suavidade rítmica e
musical, em versos geralmente curtos; na segunda, encontramos experimentações modernistas
com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.

 A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre
o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência-de-si
implica.

 Pessoa considera que a arte “é o resultado da colaboração entre o sentir e o pensar”. Daí a
sensibilidade a fornecer à inteligência as emoções para a produção do poema.

 Para exprimir a arte, o autor criativo precisa de intelectualizar o sentimento, o que pode levar a
confundir a elaboração estética com um ato de “fingimento”. O poeta parte da realidade mas
só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o
“fingimento”, que não é mais do que uma realidade nova.

 O fingimento artístico não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de


exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

 O conceito de fingimento é o de transfigurar, pela imaginação e pela inteligência, aquilo que


sente naquilo que escreve. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as
emoções ou o que quer comunicar.

 Entrar no jogo artístico, fingir ao exprimir as emoções, mas com toda a dimensão de
sinceridade, implica e explica a construção da poesia de ortónimo.

 A dialética da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.

 Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela própria
efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da
consciência.

 Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar
e o sentir. A fragmentação esta evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido,
ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Obliqua.

 O intersecionismo entre o material e o sonho, a realidade e idealidade surge como tentativa


para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
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Exames 2011

 O tempo, na poesia pessoana, é um fator de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a
desejar ser criança de novo. Mas, frequentemente, o passado é um sonho inútil, pois nada se
concretizou, antes se traduziu numa desilusão.

 Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por
isso, uma felicidade passada, para lá da infância.

 O ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde os tempos de Orpheu e do


Paulismo.

O fingimento artístico

 Para Fernando Pessoa, um poema “é produto intelectual”, e por isso, não acontece “no
momento da emoção”, mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de “existir
intelectualmente”, o que só na recordação é possível.

 Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser


um produto direto da emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-
se com um “fingimento”.

 Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autentica


sinceridade, representar com palavras ou outros signos o “fingimento”, que não é mais do que
uma realidade nova, elaborada mentalmente graças à conceção de novas relações
significativas, que a distanciação do real lhe permitiu.

 O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de


exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

A dor do pensar

 Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela
própria efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento
e da consciência.

 O pensamento racional não se coaduna com verdadeiramente sentir sensitivamente.

 A dialética da sinceridade / fingimento liga-se à da consciência / inconsciência e do


sentir /pensar.

 A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.

A nostalgia da infância
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Exames 2011

 Frequentemente, para Fernando Pessoa o passado é um sonho inútil, pois nada se


concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Daí o constante ceticismo perante a vida real e
de sonho.

 O tempo, na poesia pessoana, é um fator de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-
o a desejar ser criança novamente.

 Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora,
por isso, uma felicidade passada, para lá da infância.

 Há uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento


possível de felicidade.

Características Estilísticas:

- Simplicidade formal (rimas externas e internas, redondilha maior), dá uma ideia de


simplicidade e espontaneidade.

- Sensibilidade musical (eufonia/harmonia de sons, aliterações, encavalgamentos, transporte,


rimas, ritmo, verso curto, predomínio da quadra e da quintilha)

- Adjetivação expressiva

- Economia de meios (linguagem sóbria e nobre, equilíbrio clássico)

- Pontuação emotiva

- Uso frequente de frases nominais

- Associações inesperadas (por vezes desvios sintáticos – “Pobre velha música”)

- Comparações, metáforas originais, oximoros

- Uso de símbolos

- Reaproveitamento de símbolos tradicionais (água, rio, mar…)

 Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento
do sofrimento e da dor)
 Verso geralmente curto
 Predominio da quadra e da quintilha
 Adejectivação expressiva
 Linguagem simples mas muito expressiva (significados escondidos)
 Pontuação emotiva
 Uso de simbolos
 Fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular

Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes; a tradicional e a modernista. Algumas das


suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosimo;
outras iniciam o processo de rutura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências
modernistas.
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Exames 2011

A poesia é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade
pura e a frustração que a consciência-de-si implica.

Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar
e o sentir. O intersecionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como
tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.

A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica
com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr
tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção
da arte.

Entre o Sono e Sonho

Entre o sono e sonho,

Entre mim e o que em mim

É o quem eu me suponho

Corre um rio sem fim.

Passou por outras margens,

Diversas mais além,

Naquelas várias viagens

Que todo o rio tem.

Chegou onde hoje habito

A casa que hoje sou.

Passa, se eu me medito;

Se desperto, passou.

E quem me sinto e morre

No que me liga a mim

Dorme onde o rio corre —

Esse rio sem fim.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Bernando Soares- O livro do Desassossego


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O imaginário urbano. O quotidiano. Deambulação e sonho: o observador acidental. Perceção


e transfiguração poética do real. Linguagem, estilo e estrutura: - a natureza fragmentária da
obra.

O Livro do Desassossego foi publicado pela primeira vez em 1982 (quase 50 anos depois da
morte de Fernando Pessoa) e resulta da junção de textos avulsos encontrados no espólio de
Fernando Pessoa. Esse espólio junta fragmentos autobiográficos, textos introspetivos, reflexões
e pequenas descrições (assim, é constituído por diferentes géneros, como o diário, a crítica, o
conto, a crónica). O “autor”, Bernardo Soares, que assina esses textos, é o Heterónimo
pessoano que mais se aproxima do Ortónimo Fernando Pessoa pois surge como um auto
retrato do próprio autor. Não é por acaso que Bernardo Soares diz ser ajudante de guarda-
livros de um escritório da baixa de Lisboa, pois o próprio Fernando Pessoa, foi correspondente
de línguas num escritório nessa mesma zona e chega a colocar como personagens do Livro do
Desassossego, pessoas do escritório onde trabalhava, mantendo alguns nomes e alterando
outros como o do patrão Moitinho de Almeida, que na obra se chama Vasques.

Como é escrito sob a forma de diário sem datas, o Livro do Desassossego é uma obra
fragmentária, sempre em estudo por parte dos analistas pessoanos, tendo estes interpretações
diferentes sobre o modo como organizar o livro. A organização desses textos, deu origem a
edições distintas que variam consoante os critérios utilizados pelos editores. É por isso que não
é raro encontrar diferentes edições do Livro do Desassossego em que a disposição e a
organização dos textos são diferentes.
Temas:
Bernardo Soares faz da Deambulação a principal matéria da sua prosa, isto é, comporta-se
como um observador acidental da sociedade exterior. A essência da existência de Soares é
marcada pela centralidade dos atos de sonhar e de olhar, empregando, assim, com frequência
os verbos ver, reparar e persentir. Para além disso, foca a vida citadina evidenciando a
modernidade do imaginário urbano, enternecendo-se com o quotidiano. As pessoas com quem
se cruza são-nos apresentadas de forma emotiva e introspetiva, levando a que nos tornemos
íntimas delas. A observação da realidade exterior e a focalização do pormenor são, na prosa de
Bernardo Soares, o ponto de partida para a transfiguração poética da realidade e para uma
introspeção intensa que culmina numa vida interior vivida de uma forma impar.
 O imaginário urbano – A descrição da cidade de Lisboa na sua vertente física e humana; A
inspiração em Cesário Verde.
 O Quotidiano – A fixação instantânea do dia a dia; A rotina da vida quotidiana; A atenção
conferida aos espaços e aos figurantes do quotidiano lisboeta
 Deambulação e sonho: o observador acidental – A deambulação pela cidade de Lisboa; O
ambiente envolvente como inspiração; A observação pormenorizada do real; A constante
ideação (imaginação); A mistura de sensações e sonhos.
 Perceção e transfiguração poética do real – O mundo exterior como ponto de partida para
divagações subjetivas; A análise intimista de realidades objetivas; A transfiguração da rotina da
vida quotidiana.

Notas:
 Não é uma narrativa com princípio, meio e fim. É um anti livro. É uma compilação de
fragmentos organizados depois da morte de Fernando Pessoa, pois não existe uma
ordem definida pelo mesmo.
 Pela voz de Bernardo Soares, Pessoa confia ao leitor a sua angústia existencial, as suas
reflexões sobre o sentido ou ausência de sentido das coisas, o refúgio efémero
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Resumos Literatura Portuguesa 1
Exames 2011

encontrado no sonho, a sua incapacidade de viver a sua própria vida, de ser ator da sua
própria existência.
 Assim, O Livro do Desassossego apresenta muitas semelhanças com um Diário
(“autobiografia sem factos”).
 O narrador lê o mundo sobre a “forma de uma nuvem, um encontro num café, o som
de um elétrico, a geografia de um bairro”. - O mais pequeno detalhe do quotidiano
torna-se num mundo gigantesco e em pura poesia.

Pontos de Contacto da Poesia de Bernardo Soares:


 Com Cesário Verde é comum a deambulação pela cidade e a transfiguração poética do
real.
 Com Fernando Pessoa Ortónimo é comum a dor de pensar e a forma de pensamento

HETERÓNIMOS

Linguagem, estilo e estrutura: - formas poéticas e formas estróficas, métrica e rima; -


recursos expressivos: a aliteração, a anáfora, a anástrofe, a apóstrofe, a enumeração,
a gradação, a metáfora e a personificação; - a onomatopeia.

ALBERTO CAEIRO
 Poeta Bucólico
 Primado das sensações
 Poeta anti metafísico (recusa o pensamento)
 Poeta da natureza (campo, bucólico)
 Poeta sensacionista (sensações: olhar-visão)
 Poeta da objetividade
MESTRE DOS OUTROS HETERÓNIMOS
PAGANISMO- DEUSES DA NATUREZA

Agora que Sinto Amor

Agora que sinto amor

Tenho interesse no que cheira.

Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.

Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.

Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.

São coisas que se sabem por fora.

Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.

Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.

Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.


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Alberto Caeiro, in "O Pastor Amoroso"

Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade

Vive, dizes, no presente,

Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;

Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?

É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.

É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.

Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.

Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas

como cousas.

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.

Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;

Vê-las até não poder pensar nelas,

Vê-las sem tempo, nem espaço,

Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.

É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


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Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

RICARDO REIS

 Poeta clássico
 A consciência e a encenação da mortalidade

TEMÁTICAS:
 EPICURISMO: Viver a vida em tranquilidade, sem preocupações a fim de evitar
sofrimento.
 ESTOICISMO: DESTINO—DEUSES—HOMEM. Aceitação do que o destino e os deuses
nos concedem.
 Carpe Diem: Viver o dia a dia.
 Paganismo: Intervenção de vários deuses na vida do Homem.

Símbolos clássicos:
 Rio: Passagem da vida.
 Laço (nó): União.
 Fado: Destino.
 Deuses: Paganismo
 Flores/perfume: Bens efémeros

Obsessão com a passagem do tempo:


 Preocupação constante com a efemeridade da vida.
 Questionamento do fluir indiscutível do tempo.
 Medo da morte.

Sê Rei de Ti Próprio

Não tenhas nada nas mãos

Nem uma memória na alma,

Que quando te puserem

Nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos

Nada te cairá.

Que trono te querem dar

Que Átropos to não tire?

Que louros que não fanem

Nos arbítrios de Minos?


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Que horas que te não tornem

Da estatura da sombra

Que serás quando fores

Na noite e ao fim da estrada.

Colhe as flores mas larga-as,

Das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica

E sê rei de ti próprio.

Ricardo Reis, in "Odes"

Cada um Cumpre o Destino que lhe Cumpre

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,

E deseja o destino que deseja;

Nem cumpre o que deseja,

Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros

O Fado nos dispõe, e ali ficamos;

Que a Sorte nos fez postos

Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento

Do que nos coube que de que nos coube.

Cumpramos o que somos.

Nada mais nos é dado.

Ricardo Reis, in "Odes"

ÁLVARO DE CAMPOS

 POETA DA MODERNIDADE
 SUJEITO, CONSCIÊNCIA E TEMPO, NOSTALGIA DA INFÂNCIA
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Exames 2011

O Dia Deu em Chuvoso

O dia deu em chuvoso.

A manhã, contudo, esteve bastante azul.

O dia deu em chuvoso.

Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?

Não sei: já ao acordar estava triste.

O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.

Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.

Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.

Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?

Dêem-me o céu azul e o sol visível.

Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.

Até amaria o lar, desde que o não tivesse.

Chego a ter sono de vontade de ter sossego.

Não exageremos!

Tenho efetivamente sono, sem explicação.

O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...

É preciso ser-se criança para os ter...

Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!

O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,


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Polpa de fruta de um coração por comer...

Quando foi isso? Não sei...

No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

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