2016
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Agradecimento
- à Auditora Fiscal do Trabalho Marta Dorneles Macedo, que participou das referidas
ações fiscais;
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Resumo
A acidentalidade por queda, em obras de construção civil, tem feito muitas
vítimas no Brasil. Daí a razão deste manual ter como objetivo mudar a cultura, revelar
os fatos com imagens reais, demonstrar a precariedade dos sistemas de proteção
contra quedas de pessoas de altura nos canteiros de obra brasileiros e também propor
sistemas eficientes para evitar as quedas de pessoas ou para evitar as consequências
dessas quedas.
Causa decepção o fato dos esforços envidados para controlar essas quedas não
surtirem o efeito esperado, o que é uma ilusão. O dicionário talvez nos ajude a
compreender isso. Ele nos permite ver de outra maneira. Se decepção também
significa “desilusão” e decepcionar é “desiludir-se”, então devemos nos perguntar se
não estávamos iludidos, se não vivíamos uma ilusão com os sistemas de proteção
contra queda de altura de pessoas regulamentados na NR 18 e ordinariamente
utilizados no Brasil. Tentemos ver pelo lado positivo. Perder as ilusões nos emancipa
do objeto/pessoa que nos iludia. Desiludir-se é estar livre, liberto!
Aquele que muito confia, muito se decepciona! Logo, para não nos
decepcionarmos mais, haveremos de reconhecer os riscos desse sistema, não confiar
mais nele e não o utilizar mais.
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Sumário
3. Conclusão e Recomendações.
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1. A precariedade do sistema de proteção contra quedas de pessoas de
altura regulamentado na NR 18 do MTPS para os canteiros de obra
brasileiros - combinação de Plataformas de Proteção em Balanço
(Bandejas), Sistema guarda-corpo rodapé - GCR, Telas par evitar a
projeção de materiais para fora das plataformas de proteção em balanço
e Pontos e/Linhas de Ancoragem (ou de Vida) feitas com precários cabos
de aço improvisados.
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esse motivo, a auditoria do trabalho recomenda a utilização de redes de proteção,
que também podem servir para aparar a queda de materiais. Há diversos tipos de
rede: as redes tipo forca, as redes horizontais e as redes verticais, todas previstas
no item 18.13.12.25 da NR 18. O tipo de rede a ser utilizado depende da atividade a
ser exercida.
Os dados desta tabela demonstram que, para uma queda de 6 metros (dois
pavimentos), é necessária uma projeção horizontal de 1,8 m para aparar a queda
do trabalhador. A plataforma secundária, prevista na NR 18, deve ter, conforme
disposto no item 18.3.7 da NR 18, um metro e quarenta centímetros (1,40) de
balanço e um complemento de 0,80 m de extensão, com inclinação de 45° a partir
de sua extremidade. Isso é insuficiente, portanto, para aparar a queda de
trabalhador que cai de dois pavimentos acima da bandeja secundária, de desnível
de 6 m acima da plataforma secundária, como no caso da CAT
0000201240000.HTM acima referida. Caso houvesse rede de proteção instalada um
ou dois pavimentos abaixo da laje de onde o trabalhador caiu, provavelmente ele
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teria sido aparado pela rede, que deve ter uma projeção horizontal de 3,70 m. Com
a rede prevista no item 18.13.12.25 da NR 18, desde 2006, provavelmente o
trabalhador nada teria sofrido, nem morte, nem fraturas.
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prescrito.
- o operador pode ter dificuldades para se posicionar num trabalho cuja prescrição é
às vezes obscura ou incompleta;
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redefinida.
- A atividade é o que se faz dentro de uma situação singular. Cada tarefa tem as
suas exigências (que dependem do sistema sócio-técnico, da organização...), e cada
individuo tem suas próprias exigências (físicas, fisiológicas, psicológicas...). A
atividade é a resposta que o indivíduo considera para realizar a tarefa. No caso em
tela ficou evidente a diferença entre a tarefa e a atividade.
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Foto de prédio em
construção com plataforma
primária e secundária
instaladas.
Se um trabalhador cai de
dois níveis acima da
plataforma, ela não tem
largura suficiente para
aparar a queda do
trabalhador em sua
trajetória.
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plataformas são montadas, desmontadas e limpas com pessoas se deslocando,
rastejando, se pendurando sobre elas em modo operatório inseguro e em desacordo
com a NR 35 - Trabalho em Altura do MTE e em desacordo com a alínea "b" do item
17.6.2 da NR 17 - Ergonomia do MTE. As treliças utilizadas na montagem das
plataformas têm dimensão mínima e não podem suportar o peso de mais de um
trabalhador. Dessa forma, as plataformas não suportam o peso de socorristas sobre
a plataforma para retirar um eventual trabalhador caído. Quantos trabalhadores
seriam necessários para suspender um trabalhador caído? A plataforma e a linha de
vida não estão dimensionadas para suportar o peso desses trabalhadores. Os
sistemas de ancoragem para afixação de cinto de segurança comumente utilizados
em plataformas de proteção em balanço não cumprem a NR 35 do MTE, inclusive
no que se refere ao plano de emergência necessário para que socorristas evitem a
permanência de trabalhador caído da plataforma em suspensão inerte. A operação
de montagem, desmontagem e limpeza das plataformas em balanço não atendem à
NR 35, pois falta o vão livre de 5,2 m para absorver a queda do trabalhador sem
impactar no piso da obra se ele cair da primeira plataforma. No caso de queda de
plataformas secundárias, o trabalhador fará movimento pendular contra a estrutura
da edificação nas plataformas secundárias, conforme ilustrado no desenho abaixo.
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Anestesiología y Reanimación. Hospital de Basurto. Bilbao), SEMAC (Sociedad
Española de Medicina y Auxilio en Cavidades).
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A rede instalada entre plataformas representa a exposição dos
trabalhadores a risco sem benefício, pois logo as redes rasgam.
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Outro aspecto crítico é a falsa sensação de segurança que as bandejas
transmitem. Olhando de dentro da obra para a bandeja, o que se vê é um amplo
assoalho de madeira e parece ser seguro pisar sobre ele. Isso é um grande
engano, pois as plataformas são extremamente frágeis, no que se distinguem dos
andaimes em balanço, que devem suportar o peso de pessoas sobre seu assoalho,
conforme projeto e exigências da NR 18. A falsa sensação de segurança gerada
pelas plataformas em balanço favorece o não uso de EPI.
A montagem e a desmontagem de guarda-corpos tipo GCR também implica
importante exposição ao risco de queda de pessoas, pois se permanece muito
tempo no perímetro da obra montando, serrando e pregando peças de madeira,
como se vê na foto abaixo.
Na foto há 3 trabalhadores. O
da direita está com o cinto
afixado em uma coluna. Os
dois à esquerda usam cinto
sem afixá-los em linha de vida,
em desconformidade com a
NR 18 e com a NR 35. Na
condição de montagem, eles
não conseguem manter o cinto
fixado o tempo todo. Isso é a
atividade real, diferente da
prescrita, da imaginada.
É um grande equívoco avaliar o risco pela atividade prescrita. O risco deve ser
avaliado pela atividade exercida. Avaliação de risco que permite a montagem e
desmontagem de plataformas em balaço e de sistema GCR desconsidera o
modo operatório que impõe muito tempo de exposição de parte ou do corpo
todo do operador para fora da laje. A regra de segurança básica a seguir é
"jamais colocar o corpo do trabalhador para fora da laje, sem um piso seguro,
quando outro sistema pode ser adotado".
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Este acidente foi investigado pelos Auditores Fiscais Claudio Cezar Peres e Marta
Dorneles de Macedo. O canteiro de obras foi embargado imediatamente.
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"Operário de obra cai de andaime, fica pendurado e é resgatado por
colegas”.
http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2015/02/operario-de-obra-cai-de-
andaime-fica-pendurado-e-e-resgatado-por-colegas.html
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“Seis pessoas despencam de andaime de obra em Guarujá e ficam
feridas”.
http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/01/seis-pessoas-despencam-de-
andaime-de-obra-em-guaruja-e-ficam-feridas.html
Seis pessoas ficaram feridas após queda (Foto: Nina Barbosa / TV Tribuna)
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“Operário fica 15 minutos pendurado no 11º andar de prédio no Distrito
Federal”.http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1304284-5598,00-
OPERARIO+FICA+MINUTOS+PENDURADO+NO+ANDAR+DE+PREDIO+NO+DF.ht
ml
A vida do operário, ainda não identificado, foi salva pelos colegas de trabalho, que
abriram um buraco na parede em obras e o puxaram para dentro do prédio.
Segundo os vizinhos da obra, o Corpo de Bombeiros chegou dez minutos depois do
resgate.
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“Operários despencam de uma altura de seis metros em construção em
SE”; http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2012/12/operarios-despencam-de-
uma-altura-de-seis-metros-em-construcao-em-se.html
Estrutura se soltou de um
lado e funcionários
despencaram (Foto:
Marina Fontenele/G1 SE)
Segundo o engenheiro de
segurança da construtora ...,
o equipamento é feito para
suportar 100 kg e nenhum
dos dois operários tem esse
peso. “Vamos encaminhar os
cintos que se romperam para
análise para identificar o que
houve, pois esse tipo de coisa
não deveria ter acontecido e
ainda mais dessa forma,
quando os cintos dos dois
rasgaram. A empresa se
preocupa com a integridade
física dos seus
colaboradores”, explica.
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“Operário morre após cair do quarto andar de edifício em MT”;
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/09/operario-morre-apos-cair-do-
quarto-andar-de-edificio-em-mt.html
Operário caiu do quarto andar de prédio em construção em Cuiabá (Foto: Iara Vilela/ TVCA)
Um servente de obras, de 20 anos, caiu, na manhã desta quinta-feira (9), da plataforma dez,
equivalente ao quarto andar, de um prédio residencial em construção, em Cuiabá (MT). O
Samu foi chamado, mas ao chegar ao local, já encontrou o operário morto. Segundo a polícia,
o servente estava sentado num caibro (estrutura de madeira) esperando a chegada de uma
extensão de energia, para iniciar o trabalho. Ele conversava com um colega de trabalho que
estava em pé na frente dele, quando a estrutura de madeira quebrou, e ele caiu de costas do
quarto andar. O amigo não se machucou. Segundo a polícia, um funcionário do instituto de
criminalística esteve no local e detectou que a vítima usava o macacão de obras, botas e
capacete, mas nem ele e nem o colega usavam o cinto de proteção, já que não tinham
começado o trabalho. O prédio também não tinha rede de proteção. O jovem de 20 anos
trabalhava para uma empresa terceirizada da construtora do edifício, que informou, em nota,
que os materiais de segurança foram entregues ao funcionário, bem como, dispõe de técnicos
para orientação e acompanhamento dos canteiros de obra numa ação preventiva de
acidentes de trabalho. A polícia vai apurar as circunstâncias da morte e se houve negligência
ou imprudência por parte da empresa ou dos trabalhadores. O corpo já foi liberado.
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Acidente 23/01/2015 | 12h23 em Caxias do Sul
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1.2 Sequência de desmontagem de bandeja na 5° laje em condição de
risco
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Estas taboas não
resistem ao esforço
gerado pela
eventual queda do
trabalhador.
O cinto de segurança está amarrado por uma corda atada a uma taboa na janela. A
corda permite a movimentação ao longo da plataforma, mas está em desconformidade com a
NR 35.
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As fotografias sequenciais, acima apresentadas, da desmontagem de uma
bandeja ou plataforma em balanço secundária evidenciam o grave e iminente risco
desta operação e justificam a iniciativa da Auditoria do Trabalho de orientar sobre o
não uso deste sistema.
- por ter treliças mais afastadas umas das outras em prejuízo da resistência
estrutural;
- por ter treliças não contra-pinadas para evitar sua oscilação por ação do vento;
- por ter treliças não estaiadas com cabos de aço para evitar oscilação causada pelo
vento;
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Foto - Medição com paquímetro digital
Foto - Medição com paquímetro digital - de 2,39 mm da espessura da treliça
verificou-se 2,02 mm da espessura da instalada, em contradição com o
treliça instalada, em contradição com o projetado de no mínimo 3,5 mm.
projetado de no mínimo 3,5 mm.
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Foto - idem
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2.
Sistemas eficientes para evitar as quedas de pessoas:
- Andaimes Fachadeiros e Andaimes em Balanço,
- Plataformas Cremalheira,
- PTA - Plataformas para Trabalho em Altura
Sistemas eficientes para evitar as consequências das
quedas de pessoas,
- redes de segurança.
A foto a seguir compara a execução da construção de um prédio com a
utilização de plataformas em balanço (bandejas) com a execução de um prédio com
a utilização de andaime fachadeiro envelopando a obra.
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exposição do trabalhador a riscos de queda não controlados. Os andaimes
fachadeiros telados oferecem sombreamento reduzindo a exposição ao calor,
reduzindo o risco de intermação ou insolação. Os andaimes fachadeiros também
podem proteger contra radiação UV nas fachadas, assim como podem fixar tela de
sombreamento na cobertura da construção.
Nestes eventos foi esclarecido que os sistemas utilizados no Brasil para prevenir
a queda da altura já não atendem o estado atual da arte, como se ilustra a seguir.
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FUNDACENTRO, a NBR 7678:1983 e a NR 18 do MTE estão desatualizadas, se referem
à tecnologia superada, que não considera o risco da atividade real e permitem a
exposição de trabalhadores ao grave e iminente risco de morte por queda de altura.
Estão em contraposição à tecnologia atual já normatizada nas UNE EN 12810 e 13374.
≤ 0,20m
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- do lado interior: três casos são possíveis conforme a distância entre a parede da
fachada e o piso de trabalho do andaime:
- a menos de 20 cm da fachada: nenhuma proteção particular;
- entre 20 e 40 cm da fachada: um guarda-corpo deve ser colocado a uma
altura compreendida entre 70 e 90 cm acima do piso de trabalho do andaime;
- com mais de 40 cm da fachada: a mesma proteção do lado exterior.
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apenas montados no perímetro da laje, evitando assim a demorada exposição do
trabalhador ao risco de queda quando da montagem de cercas tipo GCR. Ver foto
abaixo.
Especificaciones del
producto, métodos de
ensayo.
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estrutura erguida com a combinação de redes e guarda-corpos pré-fabricados. O
uso de redes de segurança implica uso de gruas para elevação das peças metálicas
das redes. Essas considerações devem ser indicadas no PCMAT, justificando a
escolha do tipo de proteção coletiva.
No emprego de andaimes
fachadeiros deve-se ter o
cuidado de instalar a
estrutura do andaime de
baixo para cima, colocando
forração completa em cada
nível. Desta forma, se houver
queda de um trabalhador
internamente no andaime, ela
não passará de 2 m de altura.
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Foto de andaime
fachadeiro que foi
utilizado para auxiliar no
levantamento da
superestrutura. Está em
fase de desmontagem
simultânea com a
operação de acabamento
externo e pintura do
prédio.
3. Conclusão e Recomendações
A montagem, desmontagem e limpeza de plataformas de proteção em balanço
conforme usualmente é feita no Brasil é intrinsecamente insegura e representa risco grave
e iminente de morte por queda de trabalhadores em altura porque:
1°) a execução de bandeja (ou plataforma em balanço primária e/ou secundária) é feita em
desconformidade com o projeto, por ter treliças subdimensionadas estruturalmente
(espessura inferior à projetada, furação em desacordo com projeto), e/ou treliças mais
afastadas umas das outras em prejuízo da resistência estrutural, e/ou treliças não contra-
pinadas para evitar sua oscilação por ação do vento, e/ou treliças não estaiadas com cabos
de aço para evitar oscilação causada pelo vento, e/ou treliças apoiadas e/ou calçadas na
estrutura da edificação por calços improvisados e frágeis em madeira não previstos em
projeto que prejudicam a resistência estrutural;
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2°) há impossibilidade de atender às exigências da NR 35 no que se refere à zona livre de
queda nas operações de limpeza, montagem e desmontagem, assim como impossibilidade
de realizar o resgate de trabalhadores em suspensão inerte em tempo hábil de menos de
04 minutos;
3° ) verifica-se o não atendimento do disposto no item 18.13.1 da NR 18, pois as bandejas são
elementos rígidos e não absorvem o impacto de quedas de pessoas, não podendo ser
usadas como proteção contra queda de pessoas, diferentemente das redes de segurança
horizontais e tipo forca previstas no item 18.13.12 da NR 18 desde 2006 (Portaria n° 157, de
10-04-2006);
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pé, tela para evitar a queda de materiais, escadas de acesso etc. Por conseguinte, tanto
redes de segurança como andaimes em balanço e andaimes fachadeiros são equipamentos
utilizados para execução segura do levantamento da superestrutura da edificação, sendo
que os andaimes também podem ser utilizados para executar o acabamento. As redes
podem ser combinadas com equipamentos como plataformas cremalheira e como PTAs -
plataformas de trabalho aéreo. Há também plataformas de trabalho que são utilizadas em
construções de concreto armado executadas com placas metálicas, plataformas essas que
contornam o perímetro da edificação e que são elevadas à medida que a edificação ganha
altura. Outro sistema é de guarda-corpos pré-fabricados que são elevados a medida que a
alvenaria ganha altura.
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5 - Referências
- RABARDEL P.; CARLIN, N.; CHESNAIS, M.; LE JOLIFF, N. L. G.; PASCAL, M. Ergonomie
Concepts et Méthodes. Toulouse, 2010, Sixième réimpression. OCTARES EDITIONS – 1°
edition 1998.
- NR 17 - Ergonomia. MTE
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