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Estruturalismo e

Sociolinguística
Aula 05
Norma Linguística
Prof. Ednéia de Cássia
Santos Pinho
Doutoranda em Estudos da
Linguagem
Mestre em Estudos da Linguagem
Especialista em Língua Portuguesa
Graduada em Letras
Prof. Juliana Fogaça
Sanches Simm
Doutoranda em Estudos da
Linguagem
Mestre em Estudos da Linguagem
Especialista em Língua Portuguesa
Graduada em Letras
Objetivos

Traçar um panorama histórico sobre o ensino


de Língua Portuguesa no Brasil.
Abordar os conceitos de norma.
O povo que chupa o caju, a manga, o
cambucá e a jabuticaba pode falar uma
língua com igual pronúncia e o mesmo
espírito do povo que sorve o figo, a pêra,
o damasco e a nêspera? (José de
Alencar, prefácio a Sonhos d’Ouro, 1872)
Para refletir...

O professor de Língua
Portuguesa deve ser o único
responsável pelas reflexões
linguísticas em sala de aula?
História da língua portuguesa no país

Conhecer a história nos ajuda a desembaraçar


alguns nós.
Precisamos destes saberes para uma
docência responsável e coerente com a
realidade brasileira.
História da língua portuguesa no Brasil

1500 – Descoberta do Brasil


Começo da ocupação do país - preocupação
em instruir os habitantes da colônia;
Responsáveis pelo ensino – Jesuítas;
Sistema jesuítico

Estrutura bifacetada:
desenvolvimento de uma pedagogia
utilitarista, por meio da catequese indígena;
formação de elites subordinadas à
Metrópole.
Jesuítas

Abrigavam nas escolas criadas, sem nenhuma


distinção, os índios, os filhos de colonos
brancos e mamelucos. Porém, no século XVII,
essas escolas passaram a oferecer o ensino
exclusivamente aos colonos brancos, filhos das
elites agrárias.
Ensino alheio à realidade da colônia.
Língua portuguesa no Brasil
Língua usada para a comunicação – Língua Geral
Língua de promoção e status social – Português

Inventário de Brás Esteves Leme, publicado


pelo Arquivo do Estado de São Paulo. Ao
fazer-se o referido inventário, o juiz de órfãos
precisou dar juramento a Álvaro Neto, prático
na língua da terra, a fim de poder
compreender as declarações de Luzia
Esteves, filha do
defunto, por não saber falar
bem a língua portuguesa”.
(BUARQUE DE HOLANDA,1976)
Língua portuguesa no Brasil

Reforma Pombalina (1759);


Paranaguá, 1821
Ensino da língua portuguesa no Brasil

Na década de 60 e início da de 70 o ensino de


Língua Portuguesa orientado pela perspectiva
gramatical ainda parecia adequado, dado que
os alunos que frequentavam a escola falavam
uma variedade linguística bastante próxima da
chamada variedade padrão e traziam
representações de mundo e de língua
semelhantes às que ofereciam os livros e
textos didáticos. (BRASIL, 1997, p. 17)
Assim....

O que pode justificar o dizer: A língua vai


(muito) mal no país?
Atividade 1

Quais são nossas referências padronizadoras?


O português europeu é melhor que o português
brasileiro?
Garimpo das origens do português brasileiro
PB PE não-padrão
Concordância de gênero
“cabelo grossa; éla é muito saído” “só tem as raízes
(FERREIRA) enterrado na
“ó meu sobrinho; uma duas arquerim de carne” (MIRA)
terra” (BAXTER; LUCCHESI) “A cedrêra é muito
“as coisa muito barato; esse daqui é a mulher bom p´ra chás”
dele” (CALLOU) (MIRA)
“qualquer uma coisa redondo; conhece êsse
uma aqui”? (ISENSEE)
Sobre a concordância de número no
português falado do Brasil

PB
A apresentação das cores em duetos
OBEDECEM a uma harmonia que atende a
todos
A atuação da máfia do contrabando e o
crescente interesse de comerciantes em
descarregar mercadorias em bancas de camelô
ESTÁ inflacionando o mercado do
asfalto.
Sobre a concordância de número no
português falado do Brasil

PE
A interpretação semântica atribuída às expressões
derivadas pelo sistema formal PODEM SER
DETERMINADAS por regras “tardias” do próprio
sistema, ou...:”
“Acordo teórico apenas, pois, na prática, a
formulação de regras capazes de salvaguardar
esse
princípio VARIAM de autor para
autor.”
Há mais de quinhentos anos a língua portuguesa foi
trazida ao Brasil. Nos séculos XVI a XVIII foi rotulada
como o português no Brasil, pois era inteiramente
lusitana, e não tinha superado as línguas indígenas.
A partir do século XIX, a língua portuguesa tornou-se
majoritária, começou a distanciar-se do português
europeu, sendo então denominada português do
Brasil. A partir dos anos 80 do século XX, suprime-se
a preposição do, e começamos a falar em português
brasileiro. Sinaliza-se com isso que novos
distanciamentos tinham
ocorrido, servindo a expressão
para designar a identidade
linguística dos brasileiros“.
(CASTILHO, 2010, p. 31 – grifos
do autor)
Norma linguística
Existe mais de uma norma
linguística?
Como a respectiva norma é
fator de identificação do
grupo, podemos afirmar que
o senso de pertencimento
inclui uso da forma de falar
característica das práticas e
expectativas linguísticas do
grupo” (FARACO, 2004, p.
Norma 39)- agregado de valores
socioculturais articulados com
aquelas formas.
Norma culta
Norma culta x normal “inculta”?
Norma culta (legitimada historicamente pelos
grupos que controlam o poder).
Deve ser entendida como designando a norma
linguística praticada em determinadas situações;
Historicamente, os falantes desta norma se
apropriaram da cultura escrita como bem
exclusivo;
Processo unificador – busca pela
neutralização da variação e pelo
controle da mudança (resultado
da tentativa de estabilização:
norma-padrão)
Norma vernácula

De uso do falante, aquilo que, para além da


competência linguística inata, é compartilhado
por sua comunidade ou região. É o saber social
da língua, recebido primeiro no âmbito familiar
e, depois, ampliado na rede de convívio social
que se prolonga ao alcance do círculo humano
mais próximo, formando nossa memória afetiva
e identidade cultural de grupo.
(VIEIRA e BRANDÃO, 2014)
Norma-padrão x cultura letrada

Cultura letrada – prestígio por certas formas


léxico-gramaticais; valores articulados a todo
um arcabouço institucional;
Norma-padrão – apagamento de marcas
dialetais (por isso, torna-se uma referência
supra-regional e transtemporal);
Atividade 2

Qual a importância da norma-padrão?


O padrão é capaz de suplantar a diversidade?
O padrão não conseguirá jamais
suplantar a diversidade, porque para isso,
seria preciso o impossível (e o
indesejável, obviamente): homogeneizar a
sociedade e a cultura e estancar o
movimento e a história”.
(FARACO, 2004, p. 42)
Norma-padrão

Padrão brasileiro – construído de forma


excessivamente artificial (a norma culta
brasileira do séc. XIX não foi tomada como
referência; padrão: modelo lusitano);

O modelo não foi, portanto, a língua de


Portugal, como muitos pensam,
imaginando uma homogeneidade que, de
fato,
não existe”
(FARACO, 2004, p. 43)
Norma-padrão no Brasil

Reação a tentativas de abrasileiramento da


norma-padrão;
Atitude purista e normativista;
Norma-padrão – fator de discriminação e
exclusão sociocultural;
Variação e mudança linguística – erro, desvio.
Para refletir...

Para você, o que significa a mudança na


língua?
Ora, a mudança linguística é certamente
um dos pontos mais complicados a ser
enfrentado em qualquer debate sobre a
língua, em especial sobre a norma-
padrão, porque o sentimento geral dos
falantes é de que a língua (identificada,
em certo imaginário social, com o padrão)
é estática; e desse modo, eles tendem a
confundir a mudança com uma ideia
de decadência,
degeneração,
desintegração da língua”
(FARACO, 2004, p. 49)
Quanto mais os envolvidos no debate estão
distante do trato científico da língua, mais
nebulosa fica a possibilidade de
enfrentamento desapaixonado da questão”
(FARACO, 2004, p. 46).
Linguistas – não são contra a norma-padrão e
seu ensino; combatem, na verdade, o caráter
excessivamente artificial do padrão brasileiro;
A linguagem verbal representa a experiência
do ser humano na vida social, sendo que
essa não é uniforme. A linguagem é
constructo e construtora do social e gera a
sociabilidade. Os sentidos e significados
gerados na interação social produzem uma
linguagem que, apesar de utilizar uma
mesma língua, varia na produção e na
interpretação. (BRASIL, 2000, p. 20)
Atividade 3

Já aconteceu de vocês presenciarem alguém


corrigindo outra pessoa (em sala de aula ou
fora dela) em relação a um desvio da norma
(padrão)? Como você avalia essa situação?
ENEM
Competência de área 8 – Compreender e usar a
língua portuguesa como língua materna, geradora de
significação e integradora da organização do mundo e
da própria identidade.
H25 - Identificar, em textos de diferentes gêneros, as
marcas linguísticas que singularizam as variedades
linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 - Relacionar as variedades linguísticas a
situações específicas de uso social.
H27 – Reconhecer os usos da norma
padrão da língua portuguesa nas
diferentes situações de
comunicação.
ENEM

Questões que Envolvem a Diversidade


Linguística
2009 7
2010 5
2011 7
2012 7
2013 2
Exemplos de questões
1. (Enem 2011) Motivadas ou não historicamente, normas
prestigiadas ou estigmatizadas pela comunidade sobrepõem-se
ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos
configuram uma norma nacional distinta da do português
europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as normas
do português de Portugal às normas do português brasileiro,
mas também as chamadas normas cultas Iocais às populares ou
vernáculas, deve-se insistir na ideia de que essas normas se
consolidam em diferentes momentos da nossa história e que só
a partir do século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação
das variantes continentais, ora em
consequência de mudanças ocorridas no
Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em
ambos os territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas.
In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino
de gramática: descrição e uso. São Paulo:
Contexto, 2007 (adaptado).
O português do Brasil não é uma língua uniforme. A variação
linguística é um fenômeno natural, ao qual todas as línguas
estão sujeitas. Ao considerar as variedades linguísticas, o
texto mostra que as normas podem ser aprovadas ou
condenadas socialmente, chamando a atenção do leitor para
a
a) desconsideração da existência das normas populares pelos
falantes da norma culta.
b) difusão do português de Portugal em todas as regiões do
Brasil só a partir do século XVIII.
c) existência de usos da língua que caracterizam urna norma
nacional do Brasil, distinta da de Portugal.
d) inexistência de normas cultas locais e
populares ou vernáculas em um
determinado país.
e) necessidade de se rejeitar a ideia de que
os usos frequentes de uma língua devem
ser aceitos.
Atividade 4

A partir da leitura do texto a seguir, responda


ao questionamento.
AULA DE PORTUGUÊS
Carlos Drummond de Andrade
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Considerando o trecho “o português são dois...”
presente no poema, explique em que consiste
essa afirmação e quais são esses dois
“português”.
Referências

COLLADO, Jesús-Antonio. Fundamentos de


lingüística geral. Povoa de Varzim, Portugal:
Norte Editora, 1980.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de
lingüística geral. 15. ed. São Paulo: Cultrix,
1989.
WEDWOOD, Barbara. História Concisa da
Lingüística. São Paulo: Parábola Editorial,
2003.

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