Texto 2
O trabalho com competências socioemocionais é um processo de “mão dupla”
no qual tanto crianças como adultos aprendem a colocar em prática as
melhores atitudes e habilidades para lidar com as emoções, alcançar objetivos,
demonstrar empatia, manter relações positivas e tomar decisões de maneira
responsável, além de outras atitudes que contribuirão para o objetivo final: a
formação de um cidadão íntegro e agente passível de transformações
positivas. Contudo, a entrada das competências socioemocionais na escola é
algo recente, que está acontecendo concomitantemente com a demanda
exigida neste século. A globalização das informações, tecnologias,
organizações sociais e econômicas fez com que as inquietações e as reflexões
quanto ao processo de formação humana e o papel da escola ultrapassassem
definitivamente os muros das universidades e alcançassem praticamente todas
as camadas da sociedade (ABED, 2014).
As competências socioemocionais, em conjunto com as cognitivas, exercem
um papel importante para impulsionar o sucesso das crianças na vida, e devem
ser consideradas e trabalhadas em diferentes contextos: escola, família,
comunidade e nas contribuições culturais de cada uma delas. Para a
consolidação das competências relacionadas ao fazer e às relações
interpessoais, é necessário desenvolver um conjunto de habilidades,
comportamentos e atitudes; e a mesma habilidade pode contribuir para
diferentes competências.
A importância de a educação não se restringir somente ao desenvolvimento de
competências cognitivas, mas considerar conteúdos que combinam as
dimensões cognitivas, sociais e emocionais do aprendizado não é uma
constatação recente. Mas, diante do cenário atual, a necessidade de trabalhar
com tais competências nas escolas tornou-se urgente. Os aspectos
socioemocionais são importantes porque capacitam as pessoas a buscar o que
desejam, a tomar decisões, a estabelecer objetivos e a persistir no seu
alcance, mesmo em situações adversas, para ser protagonistas do seu próprio
desenvolvimento. Elas assistem às competências cognitivas nas funções de
interpretação, reflexão, raciocínio, pensamento abstrato, assimilação de ideias
complexas, resolução de problemas e generalização de aprendizados,
contribuindo tanto para o sucesso acadêmico quanto para o sucesso na vida.
Anos de pesquisas revelam que alunos com competências socioemocionais
mais desenvolvidas apresentam maior facilidade de aprender os conteúdos
escolares. Isso porque o ato de aprender não envolve apenas competências
ligadas à velocidade de raciocínio e à memória, mas exige também motivação
e capacidade de controlar a ansiedade e as emoções.
O Casel (do inglês Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning),
um dos principais representantes do movimento para inclusão de
aprendizagem socioemocional em grades curriculares e programas escolares,
é uma liderança mundial na organização dos estudos relacionados aos
aspectos cognitivos e não cognitivos da aprendizagem. Trata-se de um grupo
formado por entidades, pesquisadores e políticos, com o referencial mais
utilizado por programas de intervenção e estudado em práticas pedagógicas.
Texto 3
O professor é um dos principais mediadores da transformação do fazer do
aluno, afinal é ele que está no “aqui e agora” com os alunos. Para que os
docentes ajudem a promover as habilidades socioemocionais em seus
estudantes, eles mesmos precisam do apoio para assumir esse papel na cena
pedagógica. Um ponto de dificuldade que cerca a maior parte dos professores
é a experiência prévia, que muitos vivenciaram no seu tempo de escola, de
uma educação “tradicional”, por vezes mecânica e esvaziada de sentidos. O
desafio torna-se maior ainda ao pensar que a proposta é ser “autor de
mudanças”, pois isso exige dos professores o desenvolvimento de suas
próprias habilidades. É preciso que os professores reflitam sobre os
paradigmas que sustentam suas práticas por meio de programas de formação
consistentes, tanto do ponto de vista teórico como prático, para que eles
possam, de fato, ser os agentes de mudança na educação.
Num cenário ideal, cada professor deverá ser um pesquisador de sua própria
realidade, de seu lugar e de sua função como educador. Um construtor de
“ações” que podem e devem ser compartilhadas para disseminar as práticas
bem-sucedidas.
Algumas contribuições teóricas colaboram nas reflexões sobre o “como”
colocar em prática os novos paradigmas para transformar em ações a
concepção de ensino-aprendizagem (ABED, 2014):
Para desenvolver as habilidades socioemocionais na escola é preciso investir
no professor, para que ele construa em si as condições para realizar a
mediação da aprendizagem de forma consciente e responsável, reconhecendo
e atuando nas múltiplas inteligências e nos diferentes estilos cognitivo-afetivos
dos seus alunos e de si mesmo, escolhendo e utilizando, de maneira
intencional, ferramentas que facilitem o desenvolvimento global dos
estudantes, como jogos e metáforas.
Na sua prática de sala de aula, o professor possui uma coisa que lhe é única: a
sua vivência, o seu fazer pedagógico. O professor não é simplesmente um
técnico transmissor de informações, é um educador que cultiva a criação e a
transformação dos saberes – nos alunos e em si mesmo (ABED, 2014).
Cabe ao professor construir as melhores condições possíveis para seus alunos
desenvolverem com excelência suas habilidades. É a paixão do professor pelo
conhecimento e pela tarefa de ensinar que pode contagiar os alunos,
despertando neles o desejo de se desenvolver e de aprender.