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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Índice

ÍNDICE ................................................................................................................................. 1
PREFÁCIO............................................................................................................................ 3
NOTAS SOBRE A PRÁTICA DO TROMPETE .............................................................. 4
INTRODUÇÃO: A ARTE DA PRÁTICA....................................................................................... 4
DOIS INSTRUMENTOS IMPORTANTES: LÁPIS E CADERNO....................................................... 5
PRATICANDO A MAIOR ARTE: UTILIZAR-SE ........................................................................... 8
Um Aviso........................................................................................................................ 10
O ASPECTO MAIS IMPORTANTE DA PRÁTICA: A PRODUÇÃO DO SOM. ................................... 12
Aprimorando a Qualidade Sonora ........................................................................................ 13
Aprimorando Entonação..................................................................................................... 15
Aprimorando Resposta ....................................................................................................... 20
Aprimorando Vibração ...................................................................................................... 20
Aprimorando Centralização ................................................................................................ 21
Aprimorando Interpretação.................................................................................................. 21
O COMBUSTÍVEL DOS INSTRUMENTOS DE SOPRO: O AR....................................................... 24
Quatro Métodos de Respiração ............................................................................................. 25
A Respiração Completa ...................................................................................................... 27
Três Excelentes Exercícios .................................................................................................. 27
Doze Ótimos Exercícios Respiratórios ................................................................................... 30
O Trompetista no País das Maravilhas – O Mito da Respiração Diafragmática............................ 39
A PARTE MAIS IMPORTANTE DA PRÁTICA: O DESCANSO. ..................................................... 41
Freddie Hubbard Adverte: Cuidado! Revise a maneira que você toca trompete................................ 44
Tocando Relaxado: Eliminando as Tensões ............................................................................ 47
INICIANDO A PRÁTICA: O AQUECIMENTO. .......................................................................... 49
O REGISTRO PEDAL: COMEÇANDO DE BAIXO .................................................................... 50
AO TRABALHO: DECOLANDO PARA A PRÁTICA .................................................................... 54
Notas Longas ................................................................................................................... 54
Técnica ............................................................................................................................ 55
Flexibilidade..................................................................................................................... 58
Articulação....................................................................................................................... 59
Controle de ar ................................................................................................................... 60
Controle da embocadura ...................................................................................................... 61
Transposição..................................................................................................................... 61
Etudes ........................................................................................................................... 63
Excertos .......................................................................................................................... 64
Dinâmicas Extremas ......................................................................................................... 64
Improvisação..................................................................................................................... 65
O Registro Agudo.............................................................................................................. 66

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ROTINAS TÍPICAS ............................................................................................................... 70
Rotina 1 - Wynton Marsalis.......................................................................................... 70
Rotina 2 ........................................................................................................................ 71
Rotina 3 ........................................................................................................................ 73
Rotina 4 ........................................................................................................................ 73
10 DICAS SELECIONADAS DE RAFAEL MENDEZ ................................................................. 75
12 REGRAS PARA A PRÁTICA EFICAZ – WYNTON MARSALIS ............................................... 76
TESTANDO UM TROMPETE ................................................................................................. 77
ESCOLHENDO UM BOCAL................................................................................................... 80

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Prefácio

“Tocar trompete é simples. Tudo que você precisa é um sistema respiratório,


uma língua e três dedos”
Dr. Charles R. Meyer

Ao escrever esse pequeno livro, não pretendi esgotar todos os etcéteras da


prática do trompete. Minha intenção foi estabelecer certo panorama do tipo de
atividade na qual os músicos sérios desse instrumento estão envolvidos.
Estou ciente que esse assunto é um campo minado por polêmicas e
escolas de pensamento muitas vezes divergentes – cada tópico proposto é como
abrir a caixa de Pandora. Procurei, entretanto, me ater aos assuntos essenciais
enfatizados pelos decanos reconhecidos pela maioria dos mestres do trompete.
Afastei-me tanto quanto possível de discussões contraproducentes. Muitos
métodos enfatizam princípios puramente musicais, se atendo ao estudo do som,
interpretação e conhecimento do repertório típico, se afastando do aspecto físico
da prática. Há os que enfatizam demais questões físicas como embocadura,
respiração, equipamento etc. e não leva em conta o aspecto artístico. Procurei
não pender para um dos lados da dicotomia
Tenho certeza que, lendo esse texto, o calouro pode vislumbrar o caminho
central da prática do trompete, esquivando-se das veredas das confusões e mitos
com respeito a esse instrumento e construir uma postura mais séria e eficiente
para sua prática. O músico mais experiente, por outro lado, terá clareza mental
do processo por qual passa para progredir ainda mais na sua arte.

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Notas Sobre a PRÁTICA do Trompete

Sobre a prática: “Todos querem ser heróis, mas ninguém quer matar o dragão”
Wynton Marsalis

Introdução: a arte da prática.


“Freqüentemente ouço as pessoas falarem, ‘ele tem o dom, não precisa praticar’.
Isto está errado. Estou convencido que trabalho muito mais que todos os
outros” Maurice Andre

Praticar é uma arte, alguém já disse. É uma arte porque aprendemos lenta e
gradualmente por toda nossa vida. Exercitando-se é como os estudantes sérios
gastam mais tempo. Para se tornar um grande executante é indispensável
especializar-se na arte de praticar. Sem uma boa prática, entretanto, o
desempenho do músico declinará tão certo quanto o sol se põe. Agora, restam as
questões: COMO praticar? E ainda a questão tão crucial quanto aquela outra: O
QUE praticar?
O que se observa é que muitos estudantes do trompete desperdiçam seu
tempo de estudo ou simplesmente se destroem enquanto ‘estudam’, seja pela
prática desatenciosa e descuidada, seja pela impaciência para obter resultados
instantâneos. Para garantir a sobrevivência dos lábios sob a punição de uma
prática errônea e massacrante baseada no trinômio (Mais) Agudo-Alto-Rápido,
devemos sempre nos perguntar: “o que, de fato, estou exercitando ao praticar
esse exercício? Qual o meu alvo?”. Esse texto, além de propor rotinas típicas de
estudo, visa criar a consciência da prática inteligente e ajudar o estudante a
estabelecer um padrão mental elevado cada vez que apanhar seu instrumento.

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Dois instrumentos importantes: lápis e caderno.

“A batalha não é com o instrumento. A batalha é consigo mesmo”


Vincent Chicowicz

Uma das ferramentas indispensáveis ao músico é o lápis. Anote até mesmo


o que imagina que não vai esquecer: ritmos, ligaduras, marcas de respiração,
dinâmica, articulação, etc. Faça sinais de atenção em passagens complicadas ou
que errou. Leve o lápis para sala de ensaio e mantenha-o consigo enquanto
estuda seu instrumento.
Outro item importante é um caderno para uso como ‘diário de bordo’. É
excelente ter um caderno onde anotar os detalhes da prática (diária?), formular
idéias, monitorar o progresso e estabelecer estratégias de estudo. Tudo isso cria
uma consciência muito maior de onde estamos e onde pretendemos chegar.
Claro que essa prática é para aqueles que são estudantes sérios do seu
instrumento, que estão buscando proficiência ou transpor as barreiras que
porventura se instalaram em sua carreira musical.
Além de anotar suas metas, anote os exercícios que realizou com
comentários adicionais sobre como foi praticado. Por exemplo, se você fez o H.
L. Clarke Technical Studies No 2, especifique:
1- Velocidade (você deveria usar um metrônomo),
2- Modelo (ligado, staccato simples, staccato k, staccato duplo ou triplo,
combinações staccato – legato).
3- Duração (quanto tempo gastou exercitando?).
4- Dificuldades (em qual tom sentiu mais dificuldade. Por que?).
Para esse fim, mantenha o caderno perto de você enquanto estuda e anote
enquanto as idéias estão frescas na mente. Depois de uma semana, folheie e

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analise o progresso. Esse tipo de anotação também evita estagnação e vã


repetição de um mesmo material.
Teça comentários sinceros sobre como está tocando. Formule idéias e faça
autocríticas. Quando não realizar determinada passagem, não diga apenas, “isso é
difícil, não consigo fazer”. É melhor: “esse exercício é difícil de fazer porque
tenho ‘tal e tal’ deficiência específica na minha execução do trompete; pretendo
corrigi-la de ‘tal e tal’ maneira”. Pergunte sempre “quais meus pontos fracos e
fortes? Que direção devo tomar e onde devo focalizar meu estudo?” Não seja
muito rígido mas seja honesto. Ao identificar problemas persistentes é hora de
procurar ajuda. Aliás, essa é uma das vantagens de se ter anotado problemas
detectados na pratica: munir-nos de questões inteligentes para discutir com o
professor ou outros músicos mais experientes que nós. Segundo minha
observação, muitos bons músicos estão dispostos a compartilhar suas
experiências e conhecimentos; a questão é que quando estudantes os encontram,
geralmente perguntam questões tolas sobre marcas de bocal, marcas de trompete
ou qual a nota mais aguda que ele consegue dar.
A formulação de idéias claras sobre os objetivos e dificuldades na prática
do trompete estimula a criação das estratégias e táticas para transpor os
obstáculos e alcançar o alvo desejado. É fundamental para o progresso em
qualquer área do conhecimento a formação consciente desses arquétipos, ou a
prática se torna um jogo de tentativa e erro.
Sendo a prática do trompete uma experiência física e também cognitiva, ou
seja, estando envolvido em um processo de desenvolver um tipo de inteligência
(musical), pergunte-se sempre do que pretende alcançar com a sua prática.
Exercite também a imaginação para sua formação em longo prazo. Se houvesse
apenas um número mínimo de limitações, que tipo de músico pretende ser?

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O passo seguinte é FOCAR, repetindo para si mesmo os alvos, revisando


as anotações com o fim de aplicar com eficácia os recursos que conquistou,
visando ao alcance dos objetivos estabelecidos. Tal processo levará o corpo e a
mente fazer ajustes para realizar o que objetivou, rejeitando o que pode frustrar
os planos. Nosso cérebro é uma máquina potente – a sua programação depende
de nós. Parafraseando Armando Ghitalla: um desejo forte é indispensável. Esse
ingrediente é o catalisador que faz o sucesso possível.

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Praticando a maior arte: utilizar-se

“Músicos habilidosos são resultado de uma série de bons hábitos”


Rafael Mendez

Todo músico deve buscar com afinco a postura adequada para a operação
seu instrumento. Antes de buscar técnica na execução do trompete, devemos
buscar a ARTE DE USAR A NÓS MESMOS.
Para usar a nós mesmos, para viver, nós temos que nos mover. O
movimento é uma das maneiras com as quais usamos a nós mesmos como
instrumentos, em toda e qualquer atividade que realizamos. Por exemplo: lendo
esse artigo, suas mãos têm virado as páginas, e seus olhos têm se movimentado
para que seja possível que você as leia. Movimento é vida. Uma pessoa
desenvolvendo a habilidade de tocar o trompete está, na verdade, aprendendo a
usar não somente um, mas dois instrumentos. É claro que ela tem que aprender
a estrutura do trompete, como ele funciona, quão pesado ele é, como segurá-lo,
como tirar sons dele - mas é sua mão que o segurará, seu corpo que terá que apoiar
o peso do instrumento, seus dedos é que terão de se mover para execução no
instrumento. E a maneira com a qual a pessoa usa a si própria determinará, até
que consideravelmente, a maneira com a qual ela toca o instrumento.
No nosso cotidiano, os movimentos expressam bem o nosso estado geral.
Quando estamos alegres e as coisas vão indo bem, nos sentimos mais leves e
mais livres do que quando estamos deprimidos. Se um amigo vem nos dar uma
boa notícia, antes de ele sequer dizer uma só palavra, através de seus passos, nós
sabemos que a notícia é boa. Enquanto que, se a notícia for má, ele parecerá
fisicamente mais pesado e ‘para baixo’. Antes mesmo de emitirmos som, nosso
corpo falará por nós exibindo medos, ansiedades, insegurança ou sensação de

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leveza, facilidade e liberdade de movimento. O músico se dará conta da


importância da facilidade e liberdade de seus movimentos e, se conseguir atingir
isso na sua vida cotidiana, ele será capaz, com o tempo, de obter essas qualidades
durante a execução musical.

Embora seja um assunto de simples compreensão, postura é a regra que é


mais comumente quebrada pelos trompetistas.

10 Regras Áureas da Postura de um Bom Trompetista

1. Estando em pé, fique numa posição bem balanceada. Distribua o apoio


nas duas pernas e pés. O ideal é que os pés estejam distantes de modo que
fiquem alinhados com os ombros.
2. Muita pressão com as mãos limita a energia e flexibilidade e machuca os
lábios. Diminua a pressão!
3. Quando tocando sentado, não escore displicentemente no encosto da
cadeira. Mantenha as costas eretas.
4. Não arquie para frente - isso impede o fluxo de ar. A postura para tocar
lendo uma partitura na estante deve ser similar àquela quando tocando
algo que foi memorizado.
5. Se estiver sentado, toque como se estivesse pronto para levantar, se estiver
em pé, como se estivesse pronto para correr.
6. Assuma uma posição e postura de comando. Qualquer audiência detecta e
reage a esse ponto.
7. Mantenha os braços confortáveis numa posição natural.
8. Coloque o polegar da mão direita na primeira válvula, sob o leadpipe.
9. A mão esquerda sustenta o trompete.
10. Bata nos pistões com a ‘bola’ dos dedos.

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A questão de bater o pé

Há muitos professores que advogam tocar batendo o pé para marcar o


andamento - Carmine Caruso, para citar um. Não digo que pode ou que não
pode, mas devemos atentar na maneira que fazemos isso, certo? Tem aqueles que
têm uma maneira estranha de bater o pé: fazem os tempos 2 e 4 (em um 4/4)
batendo o calcanhar. Alguns dos meus aluninhos – crianças que também tocam
em bandinhas da escola, batem os pés alternando: direito, esquerdo, direito,
esquerdo, como se estivessem marchando, mesmo sentados. E o som em uma
semibreve quer ir junto: TAa-Aa-Aa-Aa. Outro dia fui assistir uma banda de
estudantes e lá pelas tantas havia uma pausa e 4 tempos para todos os
instrumentos. Uns dois ou três desavisados fizeram o solo: Clap, clap, clap, clap.

Em passagens difíceis, mudanças de ritmo, escalas ou grupos grandes de


notas de valores iguais, bater o pé é um artifício que ajuda (embora muitos
discordem veementemente). Ouvi algo interessante de trompetistas preocupados
com a lateralidade do cérebro: Caso seja destro, bata o pé esquerdo e vice-versa -
isso poderia ajudar nos estímulos do lado criativo do cérebro do trompetista.
Usemos o discernimento e bom gosto também nesse ponto.

IMPORTANTE: Tocar trompete é tanto uma prática física altamente refinada


como uma arte musical. Pratique fisicamente como um atleta, mas toque com
emoção como um artista.

Um Aviso
Lembre-se que hábitos são formados muito cedo. Desde a primeira vez
que você pegou o trompete, hábitos começaram a se instalar. Estes serão bons

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hábitos ou maus hábitos – tudo depende de você. Um músico habilidoso é


resultado de uma série de bons hábitos, enquanto uma maneira medíocre de
tocar provém de maus hábitos. Infelizmente temos que concordar que maus
hábitos são mais fáceis de serem interiorizados e estão à espreita de cada
estudante desavisado.
Maus hábitos demoram semanas, meses, anos para ir embora. Cuidado!

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O aspecto mais importante da prática: a produção do som.

“O som seja teu guia”


Richard Windslow

O trompetista tem o dever de atentar para a sonoridade que ele produz em


seu instrumento enquanto pratica. Ele deve buscar qualidade e alto grau de
consciência do som produzido. Leia em voz alta a frase do mestre Maurice
André:

“Produzo meu staccato como o piano, meu registro grave com o calor
de um cello, melodias líricas como um violino e notas rápidas como um
clarinete”.

O trompete permite a execução de toda sorte de trinados, arpejos e cadências


ornamentais. Brilho é propriedade do trompete, embora seja capaz de mostrar
grande doçura quando tocado piano.
Enquanto trompetistas menos experientes se contentam apenas em tocar
as notas corretas com potência e projeção, o que não é desprezível, os mais
maduros, no entanto, prestam também especial atenção a dinâmicas
interpretativas e articulações – não apenas as escritas, mas aquelas sutis que
conferem apurado senso artístico ao seu som.
Quanto ao som, fatores importantes podem ser observados.

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Aprimorando a Qualidade Sonora


A qualidade sonora de instrumentos musicais é, muitas vezes, descrita
através de metáforas. As notas, geralmente, são vistas como tendo:

1. Tamanho (É grande ou pequena?).


2. Peso (É pesada ou leve?).
3. Cor (É brilhante ou escura?).
4. Textura (É áspera ou suave, penetrante ou embotada, densa ou difusa?).

Muitas das metáforas aplicadas à qualidade do som têm explicação física:

Um som ESCURO:
Significa aquele que possui muitos harmônicos soando simultaneamente.
Muitas vezes ele é falsamente produzido ao tocar a nota um pouco abaixo do
centro (isso na verdade remove os harmônicos superiores). Nos últimos anos
temos o aparecimento trompetistas apreciadores e especialistas em um som com
essa qualidade.
Um som DOCE e QUENTE:
Esse é produzido ao se tocar (geralmente piano) com adição de um
colorido talvez adicionado por um vibrato brando. Note bem: um vibrato
exagerado e insistente é de mau gosto e deve ser evitado.
Um som RETO ou LISO:
É desprovido de qualquer espécie de vibrato.
Um som BRILHANTE:
Obtém-se esse efeito ao se tocar no centro da nota, enfatizando os
harmônicos superiores. Essa é qualidade característica dos bons líderes de naipe.

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Um som AFIADO:
Pode ser aquele que, além de brilhante há ênfase no início da nota.
Um som GRANDE:
Talvez se refira aquele som que mescle característica de ser escuro e
brilhante, pleno de harmônicos, mesmo em dinâmicas fortes, produzido por uma
generosa coluna de ar. Um som GRANDE tem ativado na estrutura de cada nota
um amplo espectro de harmônicos que lhe conferem um caráter centrado e
ressoante. As notas são bem encaixadas, polidas e vívidas. Tem clareza, presença
e projeção. Para sua produção é necessário estar em sintonia com as propriedades
físico-acústicas do instrumento. Um som grande é ressonantemente opulento,
com miolo e rico. Essas metáforas significam que o tal som grande tem todo
espectro harmônico presente em cada nota. Esse som é paradoxalmente escuro e
brilhante. Qualquer falta de compreensão desses termos nebulosos é resolvida
com a audição cuidadosa dos bons trompetistas. Tudo isso pode ser clarificado
interiormente ao ouvirmos trompetistas como Adolph Herseth, Wynton
Marsalis, Charles Schlueter, Arturo Sandoval, Maynard Fergusson, Freddie
Hubbard e muitos outros.
Clareza, presença e projeção no som têm o potencial de gerar uma
impressão duradoura na audiência. Que tipo de som nós desejamos? Um som
vibrante e ressonante, enérgico, colorido e centrado é característica dos
excelentes trompetistas. Não despreze nenhuma oportunidade de se expor a esse
tipo de som, seja por meio de gravações, performances ou aulas desses mestres.
Esse estímulo externo é o primeiro passo para interiorização e busca de um som
de qualidade. Para esse fim, a audição sistemática dos grandes nomes do
trompete através de gravações ou em salas de concerto e casas de shows é de
valor inestimável. Se for possível tocar junto com músicos que produzem um
som pleno e rico, ainda melhor.

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Na BDG Magazine, Maio 1987, comentando sobre qualidade sonora,


Wynton Marsalis comenta que o trompetista deve tentar extrair do trompete um
som rico e puro, um som “não metálico”1 e cita Louis Armstrong como exemplo;
“seu som é realmente brilhante, mas não metálico – tem ‘miolo’ e é quente”. É
importante procurar tocar em todos os registros com um som centrado. Por
‘som centrado’ deve-se entender: o ponto de máxima ressonância e maior
facilidade de execução.
Agora, em que tipo de prática deveremos nos envolver para obter esse
som ideal?

Aprimorando Entonação
A primeira coisa que a audiência exige de um executante de algum
instrumento é entonação. A experiência de ouvir um som desafinado é tão
dolorosa que não é tolerada. No mínimo, devemos tocar afinado – esse ponto
justifica aguçada atenção.
Solfejo é fundamental para esse fim. Ouvir o som mentalmente antes da
sua execução é a essência da prática dos instrumentos de sopro – não é diferente
no trompete. Há a necessidade de desenvolver um ouvido relativo – um ouvido
que percebe claramente a relação entre as notas; isso significa conhecer os
intervalos, as distâncias entre as notas. Lembre-se que poderemos ir tão longe
com o trompete quanto nossos ouvidos forem capazes de nos levar.

Itens que contribuem para uma afinação deficiente incluem


1. Equipamento defeituoso – bocais fora do padrão, trompetes amassados
ou desajustados.
2. Desconhecimento de percepção e solfejo.
1
Unbrassy, no original.

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3. Falta de experiência e escassez de audição de bons músicos, o que gera


referências fora de padrão.

Aqui vão dicas para buscar uma melhor entonação.

1. Ajuste a bomba de afinação no ponto de maior ressonância


Isso significa que devemos, ao afinar a primeira nota, não nos ajustar ao
afinador (ou ao padrão dado por outro instrumentista) usando bends, o que altera
a qualidade sonora e aumenta a demanda de esforço, mas fazer com que a nota
produzida com menor esforço e maior vibração esteja afinada por ajuste na
bomba geral. No caso de uso de afinador, o ideal é que nem olhemos para ele,
mas que o colega diga se a nota está afinada ou não. Esse esforço físico para
afinar deve ser evitado tanto quanto possível, só usando como último recurso,
uma vez esgotadas as outras possibilidades.
Muitas vezes o músico trompetista afinando certa nota usando o afinador
cromático, acaba tentando, ainda que inconscientemente, mudar a afinação ‘no
bico’ – deslocando a nota do seu centro (ponto de maior ressonância), o que é
totalmente indesejável como primeiro recurso. [Isso pode até confundir o som
‘opaco’ resultante, com um som ricamente ‘escuro’, típico de trompetes de calibre
largo usados com bocais grandes e soprados com abundância de ar, o que não é o
caso, claro]. Adicionalmente, tanto quanto possível, pergunte-se qual o tom da
peça que você está para tocar – afine também baseado nisso.
A questão da afinação é algo que incomoda todo trompetista sério. Cedo
ou tarde temos que enfrentar o fato do trompete ser um instrumento
inerentemente desafinado. Devido à natureza do instrumento, não importa que
tipo de equipamento use ou quão talentoso seja o executante (palavra de
concertistas renomados), ajustes são necessários.

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Há dois problemas centrais com a questão da afinação do trompete

1. Problema relacionado à natureza do instrumento: há certas notas que são


naturalmente altas/baixas no trompete. Nesse ponto me refiro mesmo
aos melhores trompetes usados por profissionais.
2. Problema relacionado ao temperamento da escala.

2. Ajuste de notas inerentemente problemáticas


Há peculiaridades de afinação para cada nota do trompete. Especial
atenção deve ser dada principalmente às listadas a seguir.

Começando de baixo, sobre as tendências típicas de TODO trompete:


1. As notas que vão F# mais grave ao primeiro C não têm slot, encaixe. Essa
é a razão de ser muito fácil produzir bends nesse registro. Esse fato resulta
numa dificuldade de afinação. O F# e o G são particularmente
desafinados (altos) devido à combinação 1-3 e 1-2-3 dos pistos.

2. O C# é a nota mais desafinada do trompete. Muitas vezes mesmo abrindo


toda a terceira bomba, não se alcança a afinação desejada e a abertura da
primeira se faz necessária (em passagens rápidas essa desafinação é de
difícil solução).

3. Embora menos que o C#, o D é MUITO alto. Abrir a terceira bomba ao


tocar essa nota é crucial. A “família 1-2-3” é sempre problemática. Altas
demais. Abra a primeira e terceira bombas. Se teu trompete tem anéis e

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ganchos de afinação, você pagou por eles. Use-os. Se não tem, pague para
colocar e use-os.

4. D, D# e E, começando na quarta linha, são muito baixos. O agravante é


que o único recurso para resolver essa importante desafinação é o ajuste
com o descolamento desse ponto natural de vibração. Isso é realizado
principalmente pela ação da língua com um movimento semelhante àquele
que se faz ao vocalizar aaaiii.

5. O primeiro G acima do pentagrama tende a ser muito alto. O mesmo


ocorre com o A, seu vizinho, razão que muitos trompetistas tocam essa
nota com o terceiro pisto ao invés da tradicional digitação 12.

6. Menos comum, mas E e F, na primeira linha e primeiro espaço,


respectivamente, são altos em muitos instrumentos.

Dedos nos gatilhos/anéis de afinação, digitação correta e ajustes nos lábios


e língua devem cooperar com os ouvidos para tocar afinado!

3. A questão do temperamento da escala


Muitas desafinações são resultantes das séries harmônicas naturais de
instrumentos não temperados como o nosso. Tocar com piano (instrumento
temperado) é particularmente problemático. Quintetos de metais, por outro lado,
apresentam outros problemas, já que cada músico tem que ‘mostrar a cara’ quase
como solista; não há como se esconder. Quanto ao temperamento o problema
que surge é do tipo: Um A, 440HZ, como a fundamental em uma tríade, não
deverá ter a mesma afinação de um A sendo a terça de uma tríade de F, por

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exemplo (mais baixa no segundo caso). Para esse particular, um afinador é inútil
por razões óbvias.
Creio que para tocar afinado, há que desenvolver um ouvido afinado. Um
afinador cromático pode ajudar, mas já ouvi sérias contra-indicações de
trompetistas. O primeiro motivo é que você pode ficar louco; creio que outro
pode ser relacionado ao que foi dito anteriormente. De qualquer forma, o uso de
afinadores pode ajudar no DIAGNÓSTICO dos problemas.
Como construir tal ouvido afinado? Será dom de uma casta privilegiada pela
natureza? Não.

Há certos exercícios que servem muito bem para esse fim.


1. Use arpejos maiores descendentes na sua prática (Aquecimento A de Louis
Maggio);
a) Faça-os legato;
b) Não atente tanto aos tempos – portanto não carece bater pé ou
contar mentalmente. Apenas concentre-se na nota que está tocando e tente ouvir
a próxima antes de executar. Faça tudo lenta e calmamente. A questão da
afinação é um assunto associado à relação de intervalos entre as notas. Como
disse anteriormente, se tocamos os intervalos afinados, tocamos afinado;
b) Respire abundantemente.
2. Realize exercícios que utilizam as sete posições do trompete.
3. Toque intervalos de oitava; compare as duas notas. Que teu ouvido seja
teu guia.
4. Toque junto com pessoas afinadas; Pergunte aos músicos mais experientes
se tal e tal passagem está afinada.
5. Ouça boa música sempre.

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Aprimorando Resposta
Em se tratando da prática do trompete, resposta é a habilidade de iniciar
prontamente a vibração dos lábios que resulta na produção do som.
1. Pratique ataques com ar, apenas; sem o uso da língua.
2. Pratique tocar em dinâmicas bem suaves – isso permite a ‘sintonia fina’ do
som.
O ponto 2 acima é também advogado por H. L. Clarke como um
excelente meio de aprimorar a resposta imediata.
Essas práticas são ‘autocorretivas’. Dificilmente se toca fora do centro
(onde a resposta é mais difícil) se usamos essa técnica em nossa prática. Somos
trazidos de volta para o ponto onde a resposta é fácil e naturalmente ressonante.
Pratique em todos os registros.

Aprimorando Vibração
Uma vibração ótima resulta em ter os lábios ajustados para produzir rápida
e precisamente a nota em demanda. Além do buzz2 (vibração abelhinha com ou
sem bocal), exercitar-se com bends3 (tanto no bocal somente quanto no trompete)
e com o registro pedal ajuda na melhora da vibração. Faremos adiante uma
discussão mais completa sobre o registro pedal.

2
Lip Buzzing é a famosa "vibração abelhinha", um zumbido produzido pelo ar proveniente dos pulmões,
vibrando os lábios levemente tencionados e posicionados como se estivessem para pronunciar a letra M.
Cuidado, não é o tipo de vibração que os cavalos fazem no frio, ou que as crianças produzem ao brincar de
carrinho.
Mouthpiece Buzzing, por sua vez, é quando esse zumbido é produzido no bocal, apenas.
Há ainda o Leadpipe Buzzing que é o zumbido produzido no bocal encaixado no cano receptor do bocal, mas
SEM A CURVA DE AFINAÇÃO GERAL.
Saliento que não estou advogando nenhuma das práticas acima, embora reconheça sua importância; apenas
elucido os termos.
3
Bend no trompete é a prática de mudar a afinação de uma nota como se fizesse um glissando

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Aprimorando Centralização
Tocar com um som centralizado consiste em encontrar o ponto de maior
ressonância de cada nota. Encontrar o centro de ressonância é constantemente
descrito como encontrar o ‘slot’ 4. Há um ponto da nota em torno do qual o
instrumento ‘quer’ soar naturalmente (Bata levemente com a palma da mão sobre
o bocal enquanto digita as sete posições dos pistões e ouça o som extraído). Esse
som naturalmente centralizado deve ser combinado, na nossa prática normal,
com o volume interno da boca para produzir um som centralizado para cada
nota. Isso é obtido através da prática diligente para internalização do som
plenamente ressonante que desejamos.

Aprimorando Interpretação
As habilidades que apreciamos e buscamos em nosso instrumento devem
ser o caminho, o processo, que culmina em fazermos MÚSICA questão passa,
sem dúvida pela capacidade de interpretação.
Um som grande combinado com boa interpretação é imbatível. Quando
tocamos, estamos, na verdade fazendo uma ‘leitura’. Quando fazemos a BOA
leitura de um texto devemos transmitir facilidade, nenhuma hesitação, baixar a
voz em alguns pontos, aumentar em outros, ler mais rápido aqui, mais devagar
acolá, enfatizar palavras e frases importantes, usando vários meios para dar
expressão às palavras impressas. O que caracteriza uma MÁ leitura? Hesitação,
incerteza, má pronúncia, pressa para chegar ao final da frase, monotonia etc.
Tudo isso se aplica à música. O pianista Artur Schnabel falou certa vez

“Quanto às notas, não manipulo melhor que muitos pianistas. Mas


quantos às pausas – Ah! é aí que a arte reside”

4
Encaixe

21
Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Observação do contexto é outro ponto importante. Cada nota e frase é


parte de uma idéia maior. Todos esses conceitos musicais devem ser claramente
concebidos mentalmente para, então, serem aplicados no trompete. Há uma
grande distância entre ser soprador e ser músico!
Outro ponto importante é ajustar a interpretação com os músicos com
quem estamos tocando simultaneamente. Há a necessidade de alterar o timbre se
estamos tocando em dueto com uma cantora, um fagote ou outro trompetista.
Experiência em várias formações é salutar. Não perca a oportunidade de se juntar
a vários tipos de grupos e não despreze a chance de executar os velhos exercícios
de novas maneiras e agarre cada oportunidade de ouvir um músico. Aumente o
repertório de articulações, aplicando legato, tenuto, martelato, staccatos duplos e
triplos, diferentes velocidades de ar, alterando dinâmicas – como um sussurro
aqui, com potência acolá – utilize outros tipos de expressões e sutilezas
controlando a abertura dos lábios para variados timbres. Há ainda muitas outras
coisas com as quais o executante deve se preocupar:

1. Duração (Quanto tempo a nota soa?).


2. Intensidade (Quão forte ou piano é a nota?).
3. Entonação [afinação] (É alta ou baixa, aguda ou grave?).
4. Ataque (Como a nota começa? Abruptamente ou gradualmente? Ela
explode antes de atingir força plena?).
5. Descaimento (Como a nota termina? Desaparece subitamente ou
paulatinamente? A entonação permanece constante, sobe ou desce?).
6. Há decorações tais como o vibrato (uma flutuação regular da entonação) ou
tremolo (uma flutuação regular da intensidade)?

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Na interpretação também devemos levar em conta a comunicação com a


audiência. Ninguém aprecia um músico que toca para o próprio umbigo.
Devemos usar nossa criatividade para desenvolver um vocabulário sonoro e
expressões corporais agradáveis ao nosso público. Veja que nosso som muda se
tocamos para a partitura à nossa frente ou para o público que nos assiste. Mire
aquele garotinho da última fila. Mostre a ele o que sabe. Comunicar com estilo –
seja esse um dos nossos alvos!

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

O combustível dos instrumentos de sopro: o ar.

“Tocar trompete não é mais difícil que respirar profundamente”


Claude Gordon

O trompetista deve ser capaz de tocar com energia e audácia, com um som
encorpado e poderoso. Muitas vezes, ainda, alto controle é exigido. Para tal, há
que desenvolver os músculos responsáveis pela inspiração e expiração. Um
controle inteligente da respiração aumentará a vitalidade e resistência do músico.
Respirando adequadamente na apresentação ou prática diária, teremos ainda
maior oxigenação cerebral, o que garante clareza mental e frescor de idéias. Adolf
Herseth comentou certa vez que todas as vezes que nosso som é bom, nossa
respiração é boa.

Uma respiração imperfeita consiste, na maioria dos casos, numa respiração


rasa, onde somente uma parte das células dos pulmões desempenha seu papel,
numa respiração que não usufrui a plena capacidade dos pulmões.
Respirar corretamente não só faz bem à pratica do trompete, mas à
vida. Quando respiramos profunda e naturalmente – da maneira que os recém-
nascidos fazem – tudo se move: diafragma, peito, costelas, abdômen e costas; é
como que uma massagem interna sendo realizada. Quando inalamos, o diafragma
faz massagem nos rins, baço e fígado. Quando exalamos, ele massageia os
pulmões e coração. Diz-se que o sistema linfático, que é responsável pela
desintoxicação do corpo, é também estimulado. Respiração rasa faz o corpo
aberto para enfermidades. Quanto mais oxigênio dispensamos às células, mais
saudáveis e vivas elas se tornam. Respiração profunda estimula as células do
cérebro, aumentando a criatividade e o poder de concentração. Quando

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

respiramos bem, nossa energia aumenta, o stress diminui (nada pode acalmar os
nervos tão rápido quanto a respiração profunda), dormimos melhor, temos mais
resistência. Tudo em nosso organismo é afetado pela respiração.
O aspecto físico mais importante da prática do trompete é a respiração.
Som, controle, dinâmica, tessitura e tudo mais está ligado à respiração e ao fluxo
de ar, particularmente. A qualidade do nosso fluxo de ar determina a qualidade da
nossa prática trompetística. Leia atentamente o que Rafael Mendez falou sobre
esse assunto.

“Como músicos que executam instrumento de metal, temos diferentes problemas


e diferentes prazeres em relação a executantes de outros instrumentos de sopro,
mas uma coisa que compartilhamos com eles é a produção e controle daquela
força vital que gera o som e classifica nossos instrumentos na mesma classe:
SOPRO”
Rafael Mendez

Quatro Métodos de Respiração

1. Respiração Alta
2. Respiração Média
3. Respiração Baixa
4. Respiração Completa

A Respiração Alta é também conhecida como clavicular. Alguém que


respira dessa maneira eleva as costelas e levanta a clavícula e o os ombros,
retraindo ao mesmo tempo o abdômen e empurrando seu conteúdo contra o
diafragma, que também se eleva. É o pior tipo de respiração, pois requer o
máximo de energia com o mínimo de benefício.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

A Respiração Média é também conhecida como intercostal. Nesse tipo


também o diafragma é empurrado para cima com o abdômen contraído. As
costelas se elevam e o peito é parcialmente expandido.
A Respiração Baixa é a respiração funda. Esse talvez seja o tipo mais
ensinado para músico de instrumentos de sopro em geral como respiração
diafragmática5.
A Respiração Completa é o tipo mais indicado pelos praticantes de yoga e
usado por trompetistas como Maynard Ferguson. Em quase todas as aulas,
cursos e masterclasses com proeminentes trompetistas brasileiros, eles explicitam os
benefícios da Respiração Completa. Esse tipo de respiração inclui os pontos
fortes dos três tipos anteriores. Ele coloca em atividade todo aparelho
respiratório. A cavidade peitoral é expandia em todas as direções.

5
Leia no final desse capítulo o texto O Trompetista no País das Maravilhas – O Mito da Respiração
Diafragmática..

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

A Respiração Completa
É compensador adquirir a habilidade de praticar a Respiração Completa
como o método natural de respiração. Deve-se empregar alguma diligência para
estar plenamente consciente dela. A respiração Completa não consiste em uma
prática forçada, anormal, contrária à natureza.

Três Excelentes Exercícios

"Controle adequado do ar é 98% do tocar bem o trompete"


Herbert L. Clarke

Exercício 1 - Parado

1. Fique em pé contra uma parede com os ombros para trás e o peito


erguido.

2. Inspire lentamente pelo nariz até que os pulmões estejam


confortavelmente cheios enquanto mantém o peito erguido.

3. Deixe o ar sair pela boca, mas NÃO DEIXE O PEITO CAIR.

4. Repita a série cinco vezes e gradualmente, com o passar do tempo, vá


aumentando até atingir dez repetições.

5. Pratique esse exercício várias vezes durante o dia até que manter o tórax
erguido enquanto respira comece a ser natural.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Exercício 2 – Andando

1. Ande com um ritmo confortável, nunca tenso (de preferência numa pista
de corrida) - Em cada passo tome pelo nariz uma pequena quantidade de
ar para dentro dos pulmões. Faça de tal modo que esteja cheio no quinto
passo (peito erguido).

2. Ande mais cinco passos mantendo o PEITO ERGUIDO e os pulmões


plenos.

3. Ande mais cinco passos permitindo que o ar saia pela boca. Faça de tal
modo que esteja vazio no quinto passo (Peito continua erguido).

4. Ande mais cinco passos mantendo os pulmões vazios e o peito erguido.

5. Repita o ciclo por dois ou três quarteirões. Descanse entre alguns ciclos
quando precisar (sentirá fadiga ou dor em diferentes músculos), mas
trabalhe para fazer todo o percurso sem parar os ciclos.

6. Cada semana adicione uma tomada de ar até que atinja


DEZ PASSOS INALANDO,
DEZ RETENDO O AR,
DEZ EXALANDO,
DEZ COM PULMÕES VAZIOS.

7. Quando estiver andando com o ciclo de dez respirações uma boa


quantidade sem deixar o peito cair, vá para o exercício 3.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Exercício 3 - Correndo

1. Volte a fazer o ciclo de cinco respirações correndo ao invés de andando.

2. Tente paulatinamente chegar ao ciclo de dez respirações.

3. Quando estiver correndo com o ciclo de dez respirações uma boa


quantidade mantendo o PEITO ERGUIDO, terá adquirido o hábito de
manter o tórax confortavelmente erguido enquanto respira.
Observe essa figura extraída do atlas de anatomia utilizado nos cursos de
medicina (Netter) e veja os músculos responsáveis pela respiração.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Doze Ótimos Exercícios Respiratórios

Li uma ou duas entrevistas com Maynard Ferguson, onde, quando


perguntado sobre respiração, citou um livro, que, segundo ele, o ajudou
grandemente nesse sentido - "The Hindu-Yogi SCIENCE OF BREATH By
Yogi Ramacharaka". Muitos dos conceitos e exercícios seguintes foram
adaptados à partir desse livro.

EXERCÍCIO UM
Exercício para aprendizagem da Respiração Completa

1. Fique em pé ou sente-se de maneira ereta. Inspire pelo nariz, inalando de


forma constante, enchendo a parte inferior dos pulmões - a ação do
diafragma, cujo movimento descendente exerce leve pressão sobre os
órgãos abdominais, empurra para frente as paredes frontais do abdômen.
2. Continue enchendo a região média dos pulmões, empurrando para fora as
costelas inferiores, o esterno e o peito.
3. Prossiga enchendo a porção alta do pulmão, projetando a parte superior
do peito, as costelas superiores. Neste último movimento, a região inferior
do abdômen se contrairá levemente. Este movimento proporciona ao
pulmão um suporte e auxilia no preenchimento das partes superiores do
pulmão. Os passos 1, 2 e 3 não consistem em três movimentos
quantizados, separados. O processo todo deve ser contínuo num
movimento uniforme. Uma série de sacudidelas deve ser evitada
4. Segure o ar por alguns segundos

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

5. Exale bem vagarosamente, mantendo o peito numa posição firme,


encolhendo e erguendo um pouco o abdômen enquanto o ar é expelido.
Quando o ar for completamente exalado, relaxe o peito e o abdômen.

O processo todo pode ser feito inicialmente em frente a um espelho,


colocando as mãos suavemente na barriga para sentir os movimentos.

EXERCÍCIO DOIS
Respiração para Resistência Pulmonar

O exercício a seguir é excelente para ser usado como conclusão de outros


exercícios de respiração e como um meio de ventilar e limpar os pulmões. Seu
efeito é de tonificar os órgãos respiratórios. Certamente é de grande valor não só
para o trompetista, mas também para outros instrumentistas de sopro, cantores e
pessoas que trabalham com a voz.

1. Faça uma Inspiração Completa.


2. Segure o ar por alguns segundos.
3. Faça um "bico" com os lábios como se fosse assoviar - mas não faça
bochechas.
4. Exale um pouco de ar pela abertura, com considerável vigor - esse é o
ponto importante.
5. Pare por um momento, retendo o ar.
6. Exale mais ar e repita o processo até o ar seja completamente exaurido.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Podemos continuar a exercitar a expiração com um auxílio de uma folha de


papel. Inicialmente podemos usar uma folha de caderno pequena. É
interessante amassar a folha um pouco para aumentar o atrito.

1. Colocando a folha na parede, na altura da boca, assopra-se bem no meio


da folha.
2. Retira-se a mão e tenta-se mantê-la imóvel o maior tempo possível.

Vários tamanhos de papel e várias distâncias deste, equivalem a várias


dinâmicas e diferentes regiões - grave/agudo - enquanto tocamos (uma folha
pequena à curta distância equivale uma nota aguda e piano - uma folha grande à
grande distância equivale uma nota grave e forte)

EXERCÍCIO TRÊS
Respiração para Expansão da Capacidade Pulmonar

É indicado para a expansão peitoral, mas tem inúmeros benefícios em


outras áreas. Faça esse exercício sem exageros.

1. Fique em pé de maneira ereta.


2. Faça uma Inspiração Completa.
3. Retenha o ar nos pulmões tanto tempo quanto você for capaz de fazê-lo
confortavelmente.
4. Exale vigorosamente pela boca.
5. Faça o EXERCÍCIO 2.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

EXERCÍCIO QUATRO
Respiração Estimulante

Esse exercício é designado para estimular as células nos pulmões. Não


deve ser feito com muito vigor. Se sentir alguma tontura nas primeiras tentativas,
dê uma pequena caminhada e descontinue e exercício por algum tempo. Evite
exageros.

1. Fique em pé de maneira ereta, com as mão nos lados.


2. Inale muito vagarosa e gradualmente.
3. Enquanto estiver inalando, bata gentilmente no peito com a pontas dos
dedos, mudando constantemente de posição.
4. Quando estiver com os pulmões cheios, retenha o ar e dê tapinhas no
peito com as palmas da mão.
5. Faça o EXERCÍCIO 2

EXERCÍCIO CINCO
Respiração para Mobilidade das Costelas

As costelas admitem considerável mobilidade. Esse movimento tem


importante papel na respiração adequada. O exercício seguinte é destinado à
preservação dessa elasticidade. Como sempre, evite exageros!

1. Fique em pé.
2. Coloque as mãos nos lados do tronco, tão alto em direção das axilas
quanto conveniente, com os polegares apontando para as costas, as palmas
ao lado do tórax e os dedos na direção do peito.
3. Faça uma Inalação Completa.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

4. Segure o ar por um pouco de tempo.


5. Suavemente pressione os lados, ao mesmo tempo exale de maneira
vagarosa.
6. Faça o EXERCÍCIO 2

EXERCÍCIO SEIS
Exercício Para Expansão Pulmonar

Não exagere com esse exercício.

1. Fique em pé.
2. Faça uma Inalação Completa.
3. Segure o ar.
4. Estique os braços para frente como os punhos cerrados em unidos em
linha reta com os ombros.
5. Mova os braços para os lados vigorosamente até que estejam rente com os
ombros (corpo em "T").
6. Volte para a posição 4.
7. Repita várias vezes esse movimento e então exale vigorosamente pela
boca.
8. Faça o EXERCÍCIO 2.

Variação (1)
No movimento dos braços para trás [passo (5)], faça-os ir nessa direção
tanto quanto possível.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Variação (2)
Faça movimentos circulares para trás algumas vezes. Mude então, e faça
movimentos circulares para frente. Varie, movimentando como se estivesse
nadando.

EXERCÍCIO SETE
Exercício Respiratório Caminhando

Esse exercício e as variações dele, pela sua importância já foram


introduzidos anteriormente.

1. Caminhe com a cabeça erguida, queixo inclinado LEVEMENTE em


direção ao peito, com passadas constantes.
2. Faça uma Inalação Completa enquanto conta mentalmente de 1 a 8, uma
contagem para cada passo, fazendo a inalação se realizar durante os 8
passos.
3. Exale contando outros 8 passos.
4. Descanse entre os ciclos, continuando a andar e contar de 1 a 8, uma
contagem para cada passo,
5. Repita até que esteja cansado. Comece novamente, se desejar.

Uma variação é segurar o ar durante 4 passos e então exalar durante 8

EXERCÍCIO OITO
Respiração Matinal

Já vi bons trompetistas indicar esse exercício e testemunhar que o realizava


antes de sair de casa para os ensaios.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

1. Fique pé, em posição de sentido, cabeça erguida, olhando para frente,


ombros para trás, joelhos retos e mãos aos lados do corpo.
2. Erga o corpo vagarosamente nas pontas dos pés, fazendo uma Inalação
Completa vagarosa e continuamente.
3. Segure o ar por alguns segundos enquanto mantém a mesma posição.
4. Volte à posição inicial enquanto exala pelo nariz.
5. Faça o EXERCÍCIO 2.

Tente fazer usando só a perna direita e então a esquerda

EXERCÍCIO NOVE
Espreguiçando

1. Fique em pé com as mãos ao lado do corpo.


2. Faça uma Inalação completa.
3. Levante os braços lentamente, mantendo-os rígidos, até que as mãos se
toquem acima da cabeça.
4. Retenha o ar por alguns instantes com as mãos assim, acima da cabeça.
5. Abaixe as mãos lentamente para a posição original enquanto exala
lentamente.
6. Faça o EXERCÍCIO 2

EXERCÍCIO DEZ
Flexões diferentes

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

1. Deite de bruços no chão com as mãos dos lados do corpo e palmas


voltadas para o chão (posição de apoio).
2. Faça uma Inalação Completa e retenha o ar.
3. Enrijeça o corpo e levante-se com a força dos braços até que fique
apoiado nas mãos e pontas dos pés.
4. Volte à posição original e repita o processo várias vezes.
5. Exale vigorosamente pela boca.
6. Faça o EXERCÍCIO 2

EXERCÍCIO ONZE
Outra flexão diferente

1. Fique em pé com as mãos contra a parede com se fosse empurrá-la.


2. Faça uma Inalação Completa e retenha o ar.
3. Abaixe o peito em direção à parede, apoiando o peso do corpo nas mãos.
4. Levante de volta à posição original usando apenas os músculos do braço,
mantendo o corpo enrijecido.
5. Exale vigorosamente pela boca
6. Faça o EXERCÍCIO 2

EXERCÍCIO DOZE
Akimbo

1. Fique em pé com as mãos na cintura e cotovelos para fora.


2. Faça um Inalação Completa e retenha o ar.
3. Mantenha as pernas e coxas enrijecidas e dobre bem para frente, como se
fosse fazer uma saudação japonesa enquanto exala vagarosamente.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

4. Volte à posição original e faça outra Inalação Completa.


5. Curve-se, então, para trás exalando lentamente.
6. Retorne à posição original e faça uma Inalação Completa.
7. Curve-se para os lados, exalando vagarosamente.
8. Faça o EXERCÍCIO 2.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

O Trompetista no País das Maravilhas – O Mito da Respiração


Diafragmática

Interesso-me (e me incomodo) muito pelos mitos, superstições e


preconceitos que pairam sobre a prática do trompete. Não pensem que os
trompetistas, mesmo os bons, são constituídos apenas de conceitos bem
fundamentados e atentam exclusivamente em produzir e apreciar música (som).
Fábulas, lendas e visões distorcidas passam de geração em geração e se ampliam
no imaginário coletivo dessas entidades.
A crença musical dos músicos em geral e do trompetista em particular,
também pode incluir uma construção mental de algo idealizado, sem
comprovação prática. Itens como embocadura, marcas e tamanho de bocais,
marcas de instrumentos, tessitura e afins, povoam o mundo encantado como
fabulações imprecisas. Lábio, dentes, língua, garganta, diafragma são os seres
maravilhosos que aparecem mais constantemente em versões romanceadas,
histórias fantasiosas, crendices, ladainhas e lengalengas.
Heróis e vilões são criados à partir de conceitos e histórias que carecem
comprovação. Se fulano usa o instrumento tal, é assim; se colocam o bocal
naquela posição, é assado.
Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano, o
trompetista-semideus será notabilizado por seus feitos guerreiros usando três
poderes básicos: "Maisalto", "Maisagudo", "Maisrápido".
Muitas vezes o pedigree do sujeito nos influencia mais que o seu som.
"Quem é seu professor, em que escola estudou, em que grupo toca?". Por essa
razão os examinadores fazem avaliações de candidatos para (boas) orquestras
com uma tela como tapume, impedindo de verem quem toca. Motivo: para não
serem influenciados por nada exceto o som.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Somos influenciados pela postura do executante, pela maneira que segura


o instrumento, pela cor da pele da face quando toca, pela marca do seu
equipamento, pelo seu professor, pela visão que nossos amigos têm dele e até
pelo seu sexo. Bem-vindos ao clube!

Bem, é sempre complicado abandonar os velhos paradigmas. Mas em


certo ponto da nossa caminhada do trompete, os mitos devem perder sua
posição. Sobre o diafragma, por exemplo, qual trompetista não ouviu sobre a
estranha prática na qual se exercita com uma pilha de livros sobre a barriga para
fortalecê-lo? No mínimo, quem ainda não foi exortado com a frase “respire pelo
diafragma”?
Com experiências científicas usando raios-X, Claude Gordon provou há
mais de 40 anos que a tão chamada "teoria da respiração diafragmática" é um
conceito errôneo. O Dr. Larry Miller que conduziu a experiência, deu várias
palestras com o tema The Diaphragmatic Breathing Fallacy.
Quem ainda não teve a chance ainda de ler a boa literatura desse mestre da
pedagogia do nosso instrumento, o Claude Gordon, não perca a chance.
Recomendo todos os seus livros, particularmente o Physical Approach to Elementary
Brass Playing and Daily Routines, Brass Playing is no Harder Than Deep Breathing e ainda
Systematic Approach to Daily Practice.
Há várias escolas de pensamento, mas ponderemos que Herbert Clarke,
Jean-Baptiste Arban, Louis Maggio, Max Schlossberg, Claude Gordon e todos os
outros grandes pedagogos do trompete não mencionaram diafragma em seus
métodos, mas enfatizaram a respiração profunda, inalando generosas quantidades
de ar para o único lugar possível ao ser humano – o pulmão. Boa postura com o
peito erguido pleno de ar. Sem nunca pensar diafragma.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

A parte mais importante da prática: o descanso.

“Entusiasmo é uma virtude, impaciência um obstáculo”


Don Jacoby

Um dos maiores segredos de uma prática eficiente é o uso adequado de


períodos de descanso. Alguém já disse que potência, boa extensão do grave ao
agudo e resistência é de propriedade dos que sabem descansar. Isso é
extremamente difícil para os de temperamento impetuoso. Há aqueles que
praticam até ao colapso. Bem, na nossa prática devemos construir e não destruir.
Ao se sentir cansado, pare! Nunca toque com a sensação de fadiga. Cada vez que
paramos um pouco, damos tempo ao corpo para reconstruir o tecido e fortificar
os músculos que estamos exercitando. Descanso significa manter o bocal longe
da boca! Timofei Dokschitzer recomenda que se vai gastar duas ou três horas
na prática, que ela seja dividida em dois ou três períodos de quarenta a sessenta
minutos na manhã, tarde e noite.

Três tipos descanso:

1. O DESCANSO ENTRE OS EXERCÍCIOS DE UM ESTUDO.


Esse tipo de descanso pode durar 10 segundos, 30 segundos, 1 minuto, 5
minutos ou até mesmo 10 minutos. Digamos que esteja praticando H. L.
Clarke Technical Studies No 1. Observe que há uma fermata entre os
exercícios. Isso significa que entre cada exercício deve-se introduzir um breve
descanso. Uma regra prática é essa: descanse, no mínimo, tanto quanto
tocou. Talvez haja necessidade de descansar mais se praticando exercícios

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

extremos (no registro agudo, por exemplo). Fazendo assim, você fará todo o
estudo sem fadigas extremas.

“Considero que devo praticar para resistência, e não cansar meus lábios
tocando demais. Alternando curtos períodos de descanso com períodos
tocando, mantenho meus lábios revigorados e flexíveis, permitindo-me
acabar a prática do dia com mais conforto e vigor que antes”
Herbert L. Clarke

2. O DESCANSO ENTRE OS ESTUDOS.


Há que se introduzir seções de descanso entre rotinas. É muito proveitoso
nosso estudo em vários blocos. Essa é a chave para se adquirir resistência e
manter o alto padrão em toda a prática. O tempo mínimo aqui é meia hora.

“Para desenvolver resistência é importante praticar muitas vezes durante o


dia, e não longamente de uma só vez. Toque 30 minutos, descanse 15. Então
toque 30 e descanse 30. Toque 30 e descanse 1 hora. Os lábios são músculos;
é importante descansá-los freqüentemente”
Maurice Andre

3. TIRAR UM DIA DE FOLGA.


Percebo que o dia em que estou tocando melhor é a segunda-feira. A razão é
que tiro o domingo de folga. No domingo não realizo rotinas completas e só
toco se tenho algum compromisso. Não é proibitivo tocar todos os dias, mas
um dia de folga é muito restaurador e os resultados são evidentes.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

“Potência, range e resistência pertencem aos que sabem descansar”


Robert Negel

Não temos oportunidade de ditar o ritmo de estudo em ensaios e


apresentações. Nesses casos, aproveite cada oportunidade para descansar. Seu
‘bico’ e os outros músicos agradecem.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Freddie Hubbard Adverte: Cuidado! Revise a maneira que você toca


trompete.

“Não cometa o erro o erro que cometi, não cuidando de mim mesmo”
Freddie Hubbard

O grande trompetista Freddie Hubbard teve uma dura experiência em sua


carreira musical; fato que deve alertar o trompetista, principalmente aquele mais
ambicioso, da maneira que pratica.

Freddie Hubbard viveu os dias gloriosos do bebop, vendo ainda o


florescimento do fusion e do jazz-rock. Em 1958, aos 20 anos, ele se encontrou
com Coltrane em uma jam session e foi convidado para trabalhar com ele. Estima-
se que ele tocou em 300 gravações. Fez contrato com a famosa Blue Note. O
final de sua careira, entretanto, não foi de igual modo glorioso. Aos 57 anos (em
1995) ele já não podia tocar trechos longos, resultado de um lábio rachado que se
infectou quando ele se recusou a cancelar uma série de compromissos em 93.

Em vários esportes, executantes freqüentemente realizam suas práticas


lesionados, tentando colocar a mente acima da questão, a fim de completar um
compromisso importante. Hubbard e outros tantos trompetistas confiaram
completamente na força de vontade, subestimando um lábio incomodativo ou
algum outro impedimento. O obstáculo, no caso de Hubbard, se mostrou grande
demais. Em 95 ele já estava há dezoito meses fora da estrada, e só com muito
esforço que conseguiu completar as gravações do seu álbum MMTC (Monk, Miles,
Trane, & Cannon) – O álbum demorou 10 meses para ser finalizado.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

A história toda, segundo Hubbard, começou em 92, quando ele foi tocar
na Europa com a Big Band de Slide Hampton, ao lado dos trompetistas Roy
Hargrove and Jon Faddis. Ele falou numa entrevista a Downbeat “Comecei tocar
notas agudas com Faddis e me deixei levar”. Ele continua, “Notas agudas não
eram meu forte. Voltei para Filadélfia e toquei com alguns caras, sem nunca me
aquecer. Nesse ponto meu lábio arrebentou. Depois fui ainda para Nova Iorque
e toquei por mais uma semana. Era aí que deveria ter sossegado”.

Hubbard não parou por aí. Voltou à Europa para tocar com uma big band,
e logo depois percebeu que seu lábio tinha infeccionado. Quando voltou para
Los Angeles, um médico fez uma biópsia, temendo se tratar de um câncer. Não
era câncer, mas vários compromissos foram cancelados pois seus lábios estavam
tão magoados que o deixava impedido de tocar com o entusiasmo, a inspiração, a
energia e a confiança que o fizeram famoso.

À Downbeat Magazine Hubbard ainda fala que outros trompetistas que


tiveram experiências semelhantes. “Isso aconteceu com Louis Armstrong. Miles
ficou fora por cinco anos. No final das contas você fala ‘caramba, me deixe dar
um tempo e dar um descanso am meu bico’. Eu sempre toquei com muita
energia – talvez demais. Então, eu tive que mudar minha embocadura por voltar
aos rudimentos e aprender a aquecer e tocar leve. Antigamente eu simplesmente
pegava o trompete e soprava violentamente. Eu tive que voltar, adquirir alguns
livros e consultar professores de trompete clássico. Eu não podia tocar uma nota
por um instante porque (meus lábios) estavam sensíveis demais. É muito
frustrante não fazer soar da maneira que eu fazia”. Ele conta sobre sua prática,
“Houve um período que eu estava gravando 2 vezes por semana e à noite ainda
tocava em clubes noturnos”.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Houve ainda um agravante. Havia uma rivalidade entre Hubbard e um


jovem trompetista chamado Lee Morgan. Hubbard confessou que o único
trompetista novato que o intimidava. Isso o levava a fazer coisas além do seu
limite. Comentou: “Ele tinha muita paixão e um feeling natural. Eu tinha mais
técnica, mas ele tinha aquele feeling. As pessoas pareciam gostar dele mais que
gostavam de mim no início. Mas andávamos juntos, comprávamos carros
esportivos e pegávamos as mesmas meninas. Era um tempo diferente. Hoje tudo
é negócio”.

Essa experiência ensinou Hubbard a mudar completamente sua visão de


como tocar, dando atenção à respiração, fluxo de ar. Ele viveu numa época em
que os músicos de jazz tocavam até as 4 da manhã e então iam procurar um lugar
para tocar mais. Hoje tem-se que dormir cedo para gravar num estúdio na manhã
seguinte.

1- Seis conselhos de Freddie Hubbard para trompetistas:

1. Não cometa o erro o erro que cometi, não cuidando de mim mesmo.
2. Mantenha o bico legal e não sopre exageradamente.
3. Se vai tocar muito, certifique-se que fará um aquecimento.
4. Faça um plano de saúde – nunca se sabe quando se precisará dele.
5. Lembre-se que quando chegar a uma idade mais avançada, seus lábios lhe
darão o troco por qualquer exagero.
6. Encorajo os aprendizes a usar bocais grandes. Isso os fará durar mais.

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Tocando Relaxado: Eliminando as Tensões

“Tocar trompete é difícil porque é fácil”


Charles Schlueter

A redução das tensões enquanto tocamos é ponto para ser


cuidadosamente estudado. Tocaremos mais fácil se estivermos relaxados. Como
ficam suas mãos, ombros, lábios e garganta quando toca? Principalmente: há
tensão demasiada na coluna de ar? O excesso tensão quando nos direcionado ao
registro agudo interrompe o fluxo de ar e impede a vibração dos lábios.
Devemos todos os dias exercitar a liberação o ar dos pulmões de maneira
relaxada, como se estivesse respirando profundamente. Isso nos levará a tocar
trompete de maneira suave e expressiva quando desejarmos.
A ansiedade tem sido a grande vilã de muitas performances nas salas de
concerto. Dá para ler na face de muitos executantes: “Deus Poderoso, apenas
não me deixe falhar no Mi bemol no começo da segunda página”. Em função
disso a música inteira é comprometida. Em recente reportagem na Veja pôde-se
ler que músicos de grandes orquestras estão lançando mão de medicamentos –
beta-bloqueadores – para diminuir a taquicardia na apresentação. Outros se
valem de bebidas alcoólicas ou outras drogas. Será possível controlar os males da
ansiedade?
O primeiro gerador de ansiedade é o despreparo. Não perca nenhuma
oportunidade de estudar antes do recital ou apresentação. “Na hora sai” é para
músicos medíocres. Caso tenha tocado bem nos ensaios e durante os estudos é
muito provável que fará novamente. Se possível, grave a si mesmo antes da
apresentação, ouça e faça ajustes. Convide um músico de confiança e toque para

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

ele, ouça os conselhos com critério. Aqui vale lembrar Roger Voisin: “Minha
melhor recomendação é que ouçam seu professor e não outros estudantes”.
Estando preparado, aproveite a adrenalina liberada e canalize essa energia
para o melhor. Você foi escolhido para estar naquele momento no palco, o que
indica que é a pessoa mais indicada para essa tarefa. Ainda que estejam presentes
na audiência outros trompetistas “melhores” que você, nenhum deles tem som
com o teu nem fará uma interpretação como a tua. Mesmo bons profissionais
experimentam um “frio na espinha” antes de suas apresentações. Se uma reação
do nervosismo for boca seca, experimente passar a ponta da língua nos dentes
superiores.
Não pense que os que estão assistindo vieram para pinçar os erros que
porventura ocorrerão. Desejam se expor ao prazer único proporcionado por
apresentações ao vivo. Não seja muito rígido consigo mesmo e não execute auto-
análise quando estiver tocando. Estabelecer altos padrões é bom, mas se forem
muito altos, é perigoso e cria medos.
Para performances com improvisos, estude e decore a harmonia aplicada.
Cuide da alimentação no dia do concerto ou recital, se achar prejudicial, evite
estimulantes como café, refrigerantes com cafeína e chocolate.
Para provas e concursos pratique com afinco. Memorize a música, ainda
que vá ler na hora H. Descanse antes da apresentação. Caminhe calmamente para
o lugar onde se apresentará, caso tenha que subir escada, faça-o lentamente.
Lembre da regra de ouro: respire profundamente. Transmita sua mensagem
musical.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Iniciando a prática: o aquecimento.

“O aquecimento nos coloca na plataforma de lançamento para a decolarmos à


prática”
Carl "Doc" Severinsen

A prática do trompete envolve mais atividade física que se imagina e,


como em toda atividade física, a realização de um aquecimento é de extrema
importância. O aquecimento não somente prepara o corpo para o exercício que
se segue, como também nos motiva com uma preparação mental. Ímpeto e
direção são motivados por um aquecimento adequado. Como ter um meio e um
fim, sem um início?
Agora, que tipo de aquecimento realizar? Considero o Aquecimento A de
Louis Maggio como um aquecimento típico.
Esse aquecimento é, paradoxalmente, também utilizado como um
DESAQUECIMENTO. O princípio é que essas linhas descendentes, entrando
no registro pedal, promovem maior irrigação sangüínea nos lábios fazendo-os
revigorados e flexíveis. Depois de uma prática diária muitas vezes exaustiva, a
incorporação dessa rotina é de muito benefício como uma massagem labial para
o início da restauração dos tecidos para o dia seguinte.
Outro ponto importante a ser notado é que o aquecimento é um
preparativo para a prática. Sendo assim, práticas de naturezas diferentes pedem
aquecimentos distintos.

IMPORTANTE: Faça o aquecimento tão musicalmente quanto possível.


O mais importante no aquecimento é ouvir o próprio som de desenvolvê-lo

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

O Registro Pedal: começando de baixo

“Tive centenas de alunos, dos quais, todos dominaram o registro pedal”


Claude Gordon

O registro pedal consiste daquelas notas abaixo do primeiro F# na linha


suplementar inferior:

[Figura 1]

No que diz respeito à técnica empregada para produção do som, há não


um, mas três registros pedais.

Primeiro registro pedal: de F a Db


[Figura 2]
Essas notas são também chamadas de “pedais falsos”

Segundo registro pedal: de C a F#


[Figura 3]
Essas notas são também chamadas de “pedais verdadeiros”

Terceiro registro pedal: do segundo F em diante


[Figura 4]

A prática dessas notas, embora quase não usadas no contexto musical, é de


muito valor pedagógico. Herbert Clarke as incluiu como parte integrante da

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

tessitura do trompete. Pedais não é nada novo. Hoje, entretanto, a prática desse
registro é muitas vezes ou desprezada ou superestimada por trompetistas em
geral. O equilíbrio deve ser buscado.
Embora o estudo das notas pedais é parte integrante no desenvolvimento
total trompetista, tocá-las não é o “cura-tudo” que resolve todos os problemas,
nem o “segredo” para tocar agudo, fato que não parece evidente para todos. As
notas pedais são particularmente úteis para o aprendizado do uso da plena
capacidade dos pulmões, já que generosas quantidades de ar são necessárias para
produzi-las. Quando corretamente praticadas são proveitosas, ademais, para
correção da embocadura. Para esse fim, deve-se atentar que não se deve
desenrolar os lábios, fazendo um “bico de pato” para produzir uma vibração
“frouxa”. É melhor não praticar as notas pedais que praticá-las erroneamente.
Nesse ponto, já devemos saber que a prática demasiada nos extremos faz mais
mal que bem. Entretanto, maior poder e fluência, melhor vibração, som
encorpado em todos registros, mais resistência e relaxamento dos lábios e
músculos da embocadura são suficientes justificativas para o estudo do registro
pedal.
Considero desaconselhável usar uma digitação diferente. Digite as posições
da mesma maneira que nos outros registros com 13 para G e 123 para F#.
Os que desejam começar se aventurar no terreno do registro pedal podem
fazer os exercícios seguintes.

2- O Primeiro Registro Pedal


Para a produção dessas notas, seu instrumento não ajudará – elas não estão
no trompete, você as “empurra” para dentro dele. A abordagem correta é realizar
bends.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Faça cada um dos compassos abaixo primeiro usando a digitação normal


para ouvir a afinação, e então repita as notas usando a mesma posição do C (com
nenhuma válvula pressionada).

[Figura 5]

Para conseguir isso, mantenha o ar se movendo, não afrouxe os lábios,


pense OH ao fazer a ligadura e deixe a mandíbula cair um pouco. Ao tocar o G,
você o fará como se fosse uma nota pedal.

Repita a operação com a linha abaixo, primeiro usando a digitação normal


para ouvir a afinação, e então faça as notas usando a mesma posição do B (com a
segunda válvula pressionada para as duas notas).

[Figura 6]

Ao tocar o F#, você o fará como se fosse uma nota pedal.


O exercício abaixo tem o mesmo princípio. Primeiro use a digitação normal para
ouvir a afinação – no último compasso faça primeiro uma oitava acima – então
faça as notas usando a mesma posição do Bb (com a primeira válvula pressionada
para as duas notas).

[Figura 7]

Pronto, você chegou à primeira nota pedal, o F. Como observado, o F é


realizado como um Bb com um bend uma quarta abaixo. Seguindo o mesmo
princípio, podemos realizar todo o Primeiro Registro Pedal

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

[Figura 8]

3- O Segundo Registro Pedal


O segundo registro pedal está no instrumento pois as notas que o compõe
são fundamentais na série harmônica. O C, por exemplo, sai fácil, embora muito
desafinada inicialmente – até uma quinta abaixo. Isso não deve incomodar no
princípio. A atenção inicial deve ser focada em produzir um som “grande” com
boa vibração. Afinação vem mais tarde. Não seja impaciente e fuja de qualquer
truque para produção do som almejado. Faça arpejos e escalas descendentes para
dominar esse registro.

4- O Terceiro Registro Pedal


Esse registro é fácil. As notas são afinadas e é só uma questão de tempo e
prática para desenvolver a vibração necessária pra produzi-las.

Perfer et obdura; dolor hic tibi proderit olim

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Ao trabalho: decolando para a prática

“Certifique-se que cada nota tem um som classe ‘A’”


Raymond Crisara

O que praticar? – essa é uma pergunta que povoa a mente de todo


estudante que deseja progredir. A pratica do trompete pode ser sistematizada em
vários aspectos; isso ajuda a isolar e detectar os problemas, concentrar-se e mirar
resultados tangíveis. Deve-se, entretanto, ver cada aspecto no contexto total da
prática. Eis os pontos a serem fortalecidos.

Notas Longas
Prática diária de notas longas ajuda a desenvolver a tessitura, a resistência e
a potência no som. Nem sempre exercícios de notas longas são executados
necessariamente com uma única nota, mas se caracterizam por não abranger uma
ampla região do pentagrama nem alternar rapidamente entre as notas. Exercícios
de notas longas devem ser usados em equilíbrio com exercícios de flexibilidade.
Notas longas desenvolvem vários aspectos da prática do trompete.
Controle, potência, resistência, tessitura e afinação são melhorados. Há um tipo
de exercício advogado por H. L. Clarke que pode ser considerado um legado para
a próxima geração de trompetista. Esse tipo de exercício consiste em tocar uma
nota até que o ar se esgote e ainda um pouco mais.

1- Respire profundamente e com o peito erguido sopre qualquer nota no


registro médio de maneira confiante.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

2- Quando o ar começa a acabar, você sentirá o estômago tremer – continue


soprando ainda mais forte.
3- Quando a nota pára de soar, mantenha o peito erguido e sopre ainda mais
forte esse último fôlego. Empurre cada vez mais até que o ar se esgote e
ainda um pouco mais. Não importa o tempo que a nota soa, portanto não
economize – o que importa é soprar até que o ar cabe e ainda um pouco
mais.
4- Não toque esse exercício no registro agudo.
5- Pratique também no registro pedal.

Material interessante para esse exercício: Daily Drills de Max


Schlossberg, Systematic Approach to Daily Practice de Max Schlossberg e
os primeiros exercícios do Arban’s Method.

Esses exercícios são fantásticos por envolver os músculos responsáveis


pela prática do trompete de uma maneira ótima. Antes de fazer esses exercícios,
saber descansar é fundamental.

Técnica
O Technical Studies de Herbert L. Clarke é uma excelente fonte onde
buscar o desenvolvimento técnico do trompete.
1- Esses exercícios devem ser praticados como se fosse possível passar o
dia inteiro tocando-os sem se fadigar – devem ser executados sem esforço e com
muita tranqüilidade.
2- Deve-se inicialmente praticar os exercícios de maneira lenta e com
perfeição.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

3- É recomendável tirar o dedo mínimo do gancho (ou anel) sobre o


leadpipe para executar os exercícios.
4- Usar os modelos de articulação recomendados por Clarke – legato,
staccato T, staccato K e combinação desses.

Sobre Clarke há testemunhos que era capaz de tocar uma escala cromática
de três oitavas, quatro vezes em um só fôlego. Ele coloca esse exercício no
Estudo 9: Com a seguinte introdução:

"Nenhum esforço é necessário"

"O exercício seguinte é meu teste de resistência diário. Ele deve se praticado
quatro vezes em um só fôlego" H. L. Clarke (negrito meu)

[Exerecicio 184 Clarke]

Bem, o exercício está no método; mas como realizá-lo? Meu palpite é:


estudando-o do começo!

As recomendações de Clarke para o primeiro estudo são: Não exceder a


dinâmica marcada nos exercícios para evitar fadiga e esforço demasiado. Danos
permanentes à embocadura pode ocorrer se o som é forçado. Praticar cada
exercício de oito a dezesseis vezes em um fôlego, mantendo lábios e dedos
flexíveis. Contrair os lábios levemente nas linhas ascendentes e relaxar nas linhas
descendentes.

Podemos adicionar que esses exercícios não devem ser praticados à toda
velocidade logo na primeira abordagem. O mais importante é tocar inicialmente

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

LENTA e METICULOSAMENTE. Não estamos ensinado os dedos, e sim a


cabeça! Que velocidade? tão vagarosamente quanto necessário para fazer cada
exercício sem erros. Velocidade, facilidade de execução, fluência e talento
artístico, nascem da atitude que partem da vontade de interiorizar a tarefa de
maneira aplicada, detalhista a cuidadosa.

Esse método possui também os melhores exercícios para o


desenvolvimento da habilidade no dedilhado do trompete. Sobre essa questão, é
interessante frisar: Não pressione as válvulas simplesmente: erga os dedos bem
altos e bata nelas com força.

É essencial DESCANSAR ENTRE OS EXERCÍCIOS. Clarke tinha um


propósito ao colocar fermatas em cada barra dupla final. O ideal é descansar
tanto quanto tocou.

Fazer "resumos" integrando exercícios. Depois de executar os exercícios


de 1 a 7, fazer o seguinte:

[Figura exemplo]

e assim por diante.

NÃO PARE NO EXERCÍCIO 25. Tente ir um pouco mais além, mas


não force! Como alternativa, comece com o exercício 7 e faça ½ tom acima e ½
tom abaixo, e assim sucessivamente.

MAIS TARDE, TRABALHE para adquirir VELOCIDADE E


CONTROLE. Depois use o ritornello, buscando EXECUTAR NA
QUANTIDADE DE VEZES RECOMENDADA por Clarke EM UM
FÔLEGO e MUITO SUAVEMENTE, NUM SUSSURRO.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Quando for possível fazer cada um dos 25 exercícios 4 vezes em um


fôlego, ESTUDAR O ETUDE. Finalmente, FAZER O ETUDE COM O
RITORNELLO.

É claro que há excelentes exercícios sobre técnica em outros métodos


além do Technical Studies for the Cornet de Herbert L. Clarke. Há, por exemplo,
bons exercícios técnicos no Saint-Jacome's Grand Method for Trumpet or
Cornet.

Flexibilidade
Alguém já disse que tocamos trompete tão bem quanto somos capazes de
executar a flexibilidade com facilidade. Claude Gordon falou de como a língua
tem um papel fundamental na prática do trompete. Exercícios de flexibilidade
são para praticar o nível da língua para produção de cada nota. A característica
principal desses exercícios é a ênfase das ligaduras entre notas da mesma série
harmônica (mesma digitação) usando as sete combinações dos pistões.

Exercitar-se praticando rotinas de flexibilidade desenvolve fluência por


todos os registros do instrumento, melhora a resposta, cria a capacidade de tocar
em dinâmicas suaves e, dentre outras coisas, confere uma qualidade sonora
"quente e delicada".

Ao praticar exercícios de flexibilidade, procure ouvir um “click” entre uma


nota e outra. As notas deverão saltar do trompete! Quando isso acontece pode-se
detectar um “pop” entre as notas.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

É essencial usar metrônomo em exercícios de flexibilidade, assim como


em exercícios técnicos para, dentre outras coisas, monitorar o progresso.

Use Advanced Lip Flexibilities de Charles Colin, 27 Groups of


Exercises de Earl Iron, Tongue Level Exercises de Claude Gordon, Lip
Flexibilities de Walter Smith, Daily Drills de Max Schlossberg e porções do
Arban's Complete Method.

Articulação
A língua é usada na articulação como o é na fala – para fazer óbvio o
significado da frase.
Certamente escolas diferentes abordam as articulações de maneiras
diferentes. A visão que se segue é oriunda principalmente da escola francesa.

Sílaba dA - Pensar em instrumentos de "cordas" (violino)

Sílaba dA (suave e curto) - Não é propriamente uma


acentuação, antes tem a propriedade de diminuir o valor da
nota

Sílaba tAH! - Firme!

Sílaba TA - Mais agressiva, curtíssima (diminuir 3/4 do valor)

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Sílaba tAm - Como um sino de capela

A nomenclatura usada para certos tipos de articulação pode trazer uma


impressão distorcida da verdadeira natureza desse processo. O peso inerente nas
palavras “ataque” e “golpe (de língua)” pode conduzir a mente do estudante para
produzir um impulso violento como se buscasse uma pancada com sua língua.
Embora um início impetuoso, decidido e súbito seja muitas vezes necessário, há
um número de maneiras diferentes de iniciar uma nota no trompete. O estudo
das articulações é de crucial importância para o trompetista.
Têm-se geralmente a impressão que o início da nota determina sua
projeção. Acaba-se dedicando quase que exclusiva atenção ao começo da nota
em detrimento de outros aspectos igualmente importantes. Quanto à projeção,
particularmente, há que se entender que o final da nota está muito mais
relacionado.
De importância ainda maior que o acento, o legato é técnica básica. O
trompetista que golpeia toda e qualquer nota, não extrai do seu instrumento a
beleza sonora que lhe é peculiar.

Controle de ar

"Controle adequado do ar é 98% do tocar bem o trompete"

Herbert L. Clarke

Quase todos bons trompetistas enfatizam a importância da respiração


profunda e do controle de ar. Os executores deste instrumento estão cientes
deste princípio essencial para tocar o trompete, mas a maioria deles o trata

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

levianamente. Os exercícios seguintes foram tirados do Iron's Method on Flexibility


objetivam testar os hábitos de respiração do trompetista.

Controle da embocadura
Controle adequado da abertura e mobilidade da embocadura é algo que
deve ser estudado. A embocadura está mais aberta quando descemos ao grave
que quando subimos ao registro agudo. De igual modo, a abertura é maior
quando tocamos mais forte. Tocando agudo e pianos têm-se a formação mais
fechada, em oposição a grave e forte, onde temos a maior abertura.
Se, por exemplo, ao exercitarmos no registro agudo usamos apenas um
som forte, não há benefício algum na compreensão mobilidade e do controle. Ao
estudar o registro agudo, não coloque um crescendo todas as vezes que ascender.
Varie as dinâmicas, como sugerido nos exercícios de Max Schlossberg. De
qualquer sorte, não aceite um som mirrado em nenhuma região, ainda que
tocando baixinho. Exercite também Agudo/Piano – Grave/Forte.

Transposição
Tenha cuidado (principalmente tocando em orquestra) em observar se a
partitura que recebeu está escrita para trompete do tom daquele que você possui.

Supondo que você tenha um trompete em Bb (si bemol) e recebeu


partitura para trompete (ou outro instrumento) em

C - Dó
1. Mude a armadura da clave um tom acima – a idéia é somar dois sustenidos
ou retirar dois bemóis (‘regra da compensação’ - no caso de um bemol,
retira-o e adiciona-se um sustenido, claro).
2. Pense nas notas um tom acima.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

É nessa transposição que mais devemos nos exercitar. É muito comum


termos de tocar partituras escritas para instrumentos não transpositores.
D – Ré
1. Mude a armadura da clave uma terça maior acima – some quatro
sustenidos ou retire quatro bemóis (tendo três bemóis, retira-os e adiciona-
se um sustenido. Com dois, adiciona-se dois e assim por diante).
2. Toque as notas uma terça maior acima. Veja que o espaço vira linha e vice-
versa.
A – Lá
1. A armadura da clave deve ser transposta meio tom abaixo. Com sustenidos,
X se torna Xb (Exemplo A se torna Ab, B - Bb). Pense para bemóis a seguinte
regra: 5 menos o número de bemóis é igual ao número de sustenidos.
2. No caso de sustenidos, as notas não precisam ser movidas - leia como está
escrito. Com bemóis. Leia as notas meio tom abaixo (apenas pense uma ‘nota’
abaixo e a armadura da clave dá conta de tudo).
Eb – Mi bemol
Caso vá executar uma partitura para trompete Eb (ou sax alto), esse é o
procedimento.
1. Transponha a armadura para uma quarta justa acima. Some um bemol ou
retire um sustenido.
2. Leia as notas uma quarta justa acima. Lembre-se que espaço vira linha e
vice-versa.
E – Mi
1. Transponha uma quarta aumentada. Some seis sustenidos ou retire seis
bemóis (lembre-se da ‘regra da compensação’).
2. Leia uma quarta aumentada. Pense quatro ‘notas’ acima e a armadura de
clave cuida do resto. Espaço vira linha e vice-versa.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

F – Fá
1. Mude a armadura uma quinta justa acima. Some um sustenido ou retire um
bemol.
2. Leia uma quinta justa acima. Espaço permanece espaço e linha permanece
linha.

Etudes
Etudes não são propriamente exercícios. Podem ser considerados como
composições para o trompete solo ou aplicações musicais visando o
aprimoramento técnico e aperfeiçoamento do executante. Etudes é uma excelente
fonte de estudos para o trompetista principalmente porque são músicas escritas
especificamente para o trompete atentando nas peculiaridades do instrumento.
Dos Etudes é possível saber que nível técnico é exigido para o executante do
trompete. No repertório trompetístico são encontradas dificuldades específicas
que são tratadas musicalmente nos Etudes. Deste modo, eles também podem ser
considerados como uma preparação para o repertório característico do trompete.
Os Etudes ainda nos leva um pouco além. Há certas dificuldades
características na execução do trompete que muitas vezes são evitadas por muitos
compositores. Essas dificuldades são deliberadamente tratadas nos Etudes e
constituem um desafio para expandir as limitações técnicas do trompetista.
Alguém que se exercita com esse material terá pouca ou nenhuma dificuldade nas
peças típicas do trompete.

DIX ETUDES de Sabarich, 30 Top Tones for the Trumpeter de


Walter Smith, 36 Etudes e Etudes Transcendantes de Theo Charlier, 34

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Studies de BRANDT, 100 Etudes de Sachse estão entre os melhores livros de


Etudes.

Excertos

Dinâmicas Extremas
Todo trompetista ambicioso também se exercita em dinâmicas extremas.
Muitas vezes somos solicitados em algum contexto musical a mostrar todo o
poder do trompete. Ao se exercitar para esse fim, a estrita observação dos
períodos de descanso é um fator sine qua non para o progresso.
Vários métodos recomendam um tipo de exercício com notas longas em
um registro médio onde executante começa pianíssimo e cresce ao fortíssimo
decaindo novamente ao sussurro. Por trás desse exercício está o tipo de
mobilidade e controle da abertura da embocadura que se deve entender ao variar
a intensidade do som produzido. A embocadura estará mais aberta no grave e em
momentos que tocamos mais forte. Veja que essa variação é mínima e não
corresponde de maneira nenhuma ao shift – mudança de posição do bocal para
mudar dinâmica ou extensão. O shift, ou seja, o deslocamento do bocal, é
altamente desaconselhável!
Ao realizar, cuidado na afinação é um ponto a considerar. Nenhum
exagero ao realizar, claro.
Um excelente exercício é tocar notas muito baixinho, pianíssimo.
Começando apenas com ar, tente um som com um piano extremo. Isso exercitará
o controle da embocadura, o fluxo contínuo da coluna de ar e a pronta resposta
dos lábios.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Improvisação
O primeiro grande benefício do estudo da improvisação é que os
exercícios de escalas, arpejos, intervalos, frases, licks, patterns etc. dedicados à
fluência nesse campo, devem ser praticados em todos os tons. O primeiro passo
importante é, portanto, aprender as 12 escalas maiores – aí estão lançadas as
bases para qualquer estudo de improvisação. Conheça as escalas não apenas no
padrão ‘escadinha dó-ré-mi’. Se ainda não têm essa fluência, essa deve ser sua
obsessão! Ao fazê-lo, estude também as três escalas menores – natural ou pura,
harmônica e melódica. Exercite-se com o Clarke também usando essas escalas.
Conheça e pratique ainda as escalas simétricas – cromática, hexafônica (tons
inteiros) e a diminuta.
Ademais, músicos de jazz costumam ouvir e analisar a maneira que nomes
como Clifford Brown, Woody Shaw, Freddie Hubbard e Blue Mitchell tocam.
Ouvir é o hábito mais saudável e a prática de todo bom músico.
A improvisação não campo restrito do jazz. É muito comum na música
brasileira, notadamente a instrumental, que um chorus seja aberto para
improvisação dos músicos. Esteja preparado com uma bagagem que inclui
conhecimento de harmonia, contextualização de estilo, fluência e criatividade na
execução de seu instrumento.

IMPORTANTE: Lembre-se que o alvo final de toda a habilidade e técnica é


fazer MÚSICA! Sem isso, todos os esforços são vãos. A interação entre o
executante e a audiência deve ser o resultado final da nossa prática.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

O Registro Agudo

“Se os lábios permanecem flexíveis e a som não é forçado, será possível tocar
facilmente qualquer nota, não importa em que registro”

Herbert L. Clarke

Bem, de início tenho que dizer que ‘chegar’ a uma nota aguda não significa
‘tocar musicalmente’ no agudo. Já ouvi que Maynard Ferguson se exercitou na
região aguda tocando o Arban uma oitava acima. O certo é que, nessa região,
praticar articulações, trilos, vibrato, fraseado e tocar musicalmente façam Maynard
ou Bill Chase diferentes!

Veja o que Maynard Ferguson falou sobre esse assunto:

“Ao chegar ao registro agudo, você deve ser capaz de tocar romântica e
musicalmente – em certas ocasiões, até mesmo pianissimo. Sonoro não significa
sem beleza. Luciano Pavarotti, por exemplo, está algumas vezes em sua maior
beleza musical quando cantando fortissimo. Algumas vezes instrumentistas que
têm a habilidade de tocar no registro extremamente agudo, esquecem que se não
tocarem emocionalmente, não dominam esse registro.” [2001 Maher
Publications, Inc - Breathing Fun Into Jazz]

Sobre a prática no registro agudo não há novidades: temos que exercitar.

“Tocar consistentemente na região aguda tem muito a ver com a prática. Para
tocar agudo e manter a flexibilidade para tocar nos outros registros, o que é
necessário para trabalhos de estúdio, você tem que praticar. Eu gasto um mínimo
de três horas por dia” Charley Davis

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Uma questão fundamental enquanto praticamos nos registros extremos é


dar um descanso adequado aos lábios para que o tecido seja restaurado.

Há basicamente três tipos de exercícios para o agudo. Esses três diferentes


ângulos de abordagem possibilitam a facilidade para tocar em toda tessitura do
trompete.

Ganhando o Feeling

Exercícios onde os agudos são realizados piano. Primeiro toca-se uma


oitava abaixo para ouvir a afinação. Em seguida faz-se a oitava superior
suavemente com pequena abertura e usando pouco ar. Mais tarde pode-se
colocar um crescendo para que o som ganhe mais ‘corpo’.

[figura exemplo]

Esse exercício deve ser realizado do modo correto.

Faça-o piano

Não use ‘força bruta’. Não force.

Não insista na mesma nota mais que três vezes, caso não consiga na primeira
tentativa.

Use a digitação indicada.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Descanse entre os exercícios.

Ganhando Potência
Exercícios que se edifica até a nota aguda, com alguma preparação.

[figura exemplo]

Exercícios desse tipo são os básicos para desenvolver potência e som no registro
agudo.

Grande respiração e peito erguido.

Ao chegar ao agudo, sopre confiantemente, sem medo.

Pense TIH (não txi) nas notas agudas.

Descanse entre os exercícios tanto quanto tocou.

Ganhando Precisão e Confiança


Exercícios geralmente em duas oitavas que não se edifica, que se vai ao
agudo sem preparação.

[figura exemplo]

Há vezes que precisamos tocar agudo sem preparação, começando


diretamente nessa região. Exercícios desse tipo exercitam para esse tipo de
preparação.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Toque a primeira nota para ouvir a afinação.

Respire e toque a oitava superior confiantemente.

Não hesite, não pense muito. Confiantemente ataque a oitava superior.

Descanse.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Rotinas Típicas

“Elimine o ego, eliminando assim o medo e a frustração, o falso orgulho e a falsa


humildade, os quais podem cegar para as verdadeiras habilidades”
Vincent Cichowicz

William Vacchiano falou certa vez que a maioria dos músicos de sucesso,
estabeleceu rotinas de estudo para si e complementou “repetição é a mãe da
perfeição”. Embora a perfeição é assunto distante do ser humano, seu conselho é
essencial para o progresso de qualquer músico. Armando Ghitalla reconheceu
que a maior tarefa de um trompetista e manter-se absolutamente forma
Eis algumas rotinas típicas:

Rotina 1 - Wynton Marsalis

Notas Longas
Praticar notas longas de 15 a 20 minutos suavemente do G na segunda
linha ao G grave.

Max Schlossberg6
Gastar de 30 a 45 minutos nas páginas 5 e 6 do Max Schlossberg usando
várias dinâmicas e ritmos.
Tocar tudo ligado, vencendo os intervalos com uma sonoridade regular e
encorpada para cada nota.
Para fortalecer os lábios pratique os exercícios 59 e 60.

6
Publicação da M. Baron

70
Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Technical Studies de H. L. Clarke


Fazer o segundo estudo em tons maiores e menores. Use um metrônomo
e desenvolva velocidade. Articule em alguns (staccato simples, staccato duplo e
articulação K), faça outros ligados. Vá um pouco além do exercício 32

Etudes Transcendantes de Theo Charlier (para trompetistas avançados) e


Arban (para os não avançados)
Utilizar por 1 hora com articulações duplas e triplas

Advanced Lip Flexibilities de Charles Colin


Estudar um pouco mais de ligaduras. Não muito - para evitar fadiga

Arban
Alguns phrasing exercises

Characteristic Studies do Arban ou Etudes do Charlier ou Schlossberg

Faça sem parar inicialmente. Depois volte para praticar os trechos que
você encontrou dificuldade. Toque tudo, não importa quão trivial pareça, com
dinâmica, som e expressão musical.

Rotina 2

Technical Studies do Clarke

Estudo 1

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Exercícios 1-7 – Ligado – 8 vezes


Exercícios 8-12 – Staccato simples – 4 vezes
Exercícios 13-19 – Articulação K – 4 vezes
Exercícios 20-25 – Ligado – 8 vezes

Continue o padrão subindo tanto quando puder, 2 vezes cada

Daily Drills de Max Schlossberg

Exercício 25

Muito lentamente
Segure a última nota até o ar se acabar e então “esprema” um pouco mais.
Continue o padrão até o Dó pedal (no mínimo)

Lip Flexibilities de Charles Colin


Exercícios 3, 9, 14 e 21.

Practical Studies de Goldman


Exercícios 1 ao 4 com staccato simples e o 4 com staccato duplo

Characteristic Studies do Clarke


Estudo 3
Sotto voce (suavemente)
Cada frase várias vezes intercalando descanso
Descanse alguns minutos e faça o estudo inteiro

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Rotina 3

Technical Studies de H. L. Clarke


Sexto Estudo
Exercícios 124 e 125 – Staccato simples
Exercícios 126 e 127 – Articulação K

Systematic Approach de Claude Gordon


Lição 8 – Parte 1
Segure a última nota até o ar se acabar e então “esprema” um pouco mais.

Lip Flexibility de Walter Smith –


Exercícios 1, 2, 9 e 10.

Articulação
Semicolcheias – 1 minuto de staccato simples, = 132 – Respire quando
necessário.
Semicolcheias – 1 minuto de articulação K, = 104.

Arban’s Complete Method


Páginas. 176, 177. staccato simples

Arban’s Complete Method


Um pouco de escalas e arpejos.

Rotina 4

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Daily Drills de Max Schlossberg


Exercício 82
Muito lentamente
Segure a última nota até o ar se acabar e então “esprema” um pouco mais.
Continue o padrão até o Dó pedal

Tongue Level Exercises de Claude Gordon –


Part 111 – 3, 8 e 10.

Patterns for Improvisation de Oliver Nelson


Patterns 49, 50, 51, 52, 53 e 56
Faça staccato simples, = 120

36 Etudes de Charlier
Estudo 25
Três vezes cada seção. Estude do final para o começo. Conclua tocando o
estudo completo

100 Etudes de Sachse – (Preferencialmente com trompete em C)


Estudo 72
Fazer em Ré, Mi bemol e Mi

IMPORTANTE: Passar pelos exercícios ou estudos não desenvolverá as suas


habilidades. Você deve saber o que está tentando alcançar e como alcançará isso.
Tenha alvos e planeje como os alcançará.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

10 Dicas Selecionadas de Rafael Mendez

1- Busque conhecimento. Reconheça quando não souber e aproveite cada


oportunidade para aprender.
2- Busque crítica e nunca se envergonhe de perguntar.
3- Escolha boa companhia: forme uniões sabiamente. Evite aqueles que
desejam minar tua determinação. Busque aqueles que estimulam teus melhores
esforços.
4- Mantenha teu alvo elevado: saiba que o prazer na música está em
proporção direta com a habilidade. Como um girassol procurando o sol, objetive
alta qualidade.
5- Vença dificuldades: reconheça para quê servem as dificuldades - pedras
no caminho para testar tua vontade. Uma vez superadas, elas estimularão mais
progresso.
6- Tenha paciência: mantenha-se fiel aos teus princípios. Saiba que vai
atingir o alvo, não importa qual longo seja o caminho, seja lá quais forem as
dificuldades.
7- Tenha coragem: fortifique-se com uma resolução firme. Uma
persistência resoluta vai te sustentar quando faltar força.
8-Tenha fé: saiba que o sucesso está dentro de você. Firmeza de propósito
e perseverança são pré-requisitos para o sucesso. Lance fora a dúvida e acredite
em você.
9- AO TRABALHO! Oportunidades estão diante de você; retire o
máximo delas.
10- Mostre ao mundo que você pode.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

12 Regras Para a Prática Eficaz – Wynton Marsalis

1- Busque o melhor professor particular que poder

2- Escreva e desenvolva uma tabela para a prática regular

3- Estabeleça alvos realistas

4- Quando praticando, concentre-se

5- Relaxe e pratique lentamente

6- Pratique o que não consegue tocar (as partes difíceis)

7- Sempre toque com o máximo de expressão

8- Não seja rígido consigo mesmo

9- Não se exiba com ostentação

10- Pense por si próprio (não confie em métodos)

11- Seja otimista – “Música lava a poeira do dia-a-dia”

12- Procure por relações entre sua música e outras coisas

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Testando um Trompete

Como testar um trompete? Essa é uma pergunta recorrente - Há que se


testar a qualidade do som, resposta, entonação (afinação) e resistência.

Veja algumas dicas que serão úteis:

1. Teste o trompete com, pelo menos, um amigo confiável. É interessante


OUVIR e COMPARAR. O som é diferente no lado da audiência.
2. Teste o trompete em diferentes lugares (inclusive onde será geralmente
usado). Alguns trompetes soam melhor em diferentes ambientes.
3. Leve consigo:
a. O trompete antigo (caso já tenha um) - para fazer comparações
b. Um afinador
c. Uma música com a qual esteja habituado (e do estilo que
comumente tocará neste trompete)

Estado visual e condição geral

Faça uma inspeção minuciosa:


9 Há amassados, afundamentos, batidas, riscos ou problemas de
acabamento?

9 Como é a resposta das válvulas? (lubrifique, se necessário)

9 As válvulas giram? Há excesso de frouxidão?

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

9 Os capelotes, chaves d'água e bombas são móveis e funcionais?

9 Há vazamentos? [retire as bombas (uma por vez) das válvulas, pressione o


pistão correspondente, coloque o dedo na saída de ar e sopre pelo leadpipe
para verificar].

9 Aproveite ao tirar a bomba correspondente da segunda válvula para


verificar o alinhamento desta quando pressionada.

9 Verifique se as válvulas estão seladas, retirando as bombas


correspondentes até a metade e, então, pressionando o pistão
correspondente. Se há um "poft", está OK.

9 Retire a bomba de afinação geral e veja se há ferrugem, corrosão ou


partículas estranhas (sujeira) no interior do leadpipe.

Tocando no trompete

9 Toque notas longas no registro médio. Encontre o "centro" da nota (lugar


onde a ressonância é ótima) com pequenos bends. Toque bem suave.

9 Toque escalas vagarosamente indo para o registro agudo. Há uniformidade


de som em toda extensão? Articule, faça ligaduras (exercícios de
flexibilidade), use shakes. Toque piano, toque forte. Como é a resposta?

9 Verifique a afinação tocando intervalos de oitavas no registro médio.


Toque a escala de Si (que é geralmente desafinada) usando um afinador.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Faça os procedimentos acima acompanhado por um amigo que conheça bem


o trompete. Peça para ouvir em diferentes lugares da sala e faça o mesmo.
Alterne tocando com o trompete seu antigo. Se possível, teste muitos trompetes.

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

Escolhendo um Bocal

Bocais tem sido o assunto mais discutido por trompetistas e,


paradoxalmente, o alvo de mitos e incompreensões. Que bocal escolher? Existe
um bocal para agudos? É melhor um bocal grande ou pequeno, raso ou
profundo? Como deve ser o furo?
Músicos de orquestra tendem a usar bocais maiores e de maior
profundidade que trompetistas de música popular. O tipo de som desejado para
cada uma dessas atividades bem como a demanda sobre os trompetistas é o fator
importante para escolha. Bocais maiores resultam em um som mais escuro (Ouça
a gravação de Charles Schlueter no CD Virtuoso Trumpet de Intrada - Honegger).
Embora taças mais rasas seja a primeira escolha de líderes de naipe em big bands,
não significa que esse seja o segredo de tocar agudo. O primeiro ponto é que não
existe o bocal mágico!
O trompetista brasileiro geralmente se envolve em tarefas variadas,
podendo tocar numa gravação em estúdio à tarde, num grupo casamento no
começo da noite, em um concerto mais tarde e numa jam session antes de dormir.
Não é aconselhável trocar de bocal para diferentes estilos. Qual é mais adaptável?
O que funciona para um trompetista como milagre é um desastre para outro. A
decisão pelo bocal mais adequado para cada músico é tomada por ele próprio e
as variações não são tão simples como grandes versus pequenos.
By Ron Romm, trumpeter, The Canadian Brass, 1998

Borda
Existem no mercado bordas finas, grossas, achatadas, arredondadas, com
quinas, ovaladas e muito mais. Como as diferentes bordas influem no som
produzido por determinado bocal e na maneira que tocamos?

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Abdalan – RASCUNHO do livro (não divulgar)

A borda está muito relacionada aos ataques. Quanto mais fina a borda
mais “afiado” o ataque. A questão que bordas muito finas minam a resistência do
trompetista e podem até mesmo ferir os lábios trazendo sérios danos mais tarde.
Isso tudo dificultará a execução de passagens delicadas e suaves. A situação se
intensifica quando há quinas internas ou externas na borda.
Bordas mais grossas são mais convenientes para saúde e conforto dos
lábios. Talvez seja ao tamanho da borda que Freddie Hubbard se refere ao
recomendar “bocais grandes”.
Timofey Dokzhitser, played on a 7EW

Taça etc.

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